Capítulo Nove
Madison
Aquele beijo do Noah ontem à noite, mexeu com algo desconhecido dentro
de mim. Mal preguei os olhos com um sorriso bobo nos lábios, lembrando de todos
os detalhes dos nossos arroubos adolescentes. Primeiro em sua casa, jogou-me na
parede, literalmente, e fez com que eu tivesse um dos maiores orgasmos da minha
vida. E agora no carro, um beijo para fazer qualquer mocinha, sentir-se quente.
Acho que nunca estive tão adiantada para alguma coisa, muito menos para
o trabalho. Mas, ansiedade me define no momento. Escolho minha roupa
cuidadosamente, uma saia lápis preta de couro abaixo do joelho, uma fenda que
inicia no meio da coxa direita e vai até o final do cumprimento, com um zíper
para controlar o grau de sensualidade. Uma blusa preta de alças, decote
pronunciado em renda rosa e meu tailleur, que claro, faz parte do uniforme que
devo usar.
Dispensei as botas e fiquei com um scarpin
preto com rosa. E com meus cabelos soltos ao vento, vou de encontro ao meu
trabalho. Eu sei o que estão pensando, “Ela fez tudo isso por causa dele”. Bom,
eu não tenho culpa se no meu trabalho, há um juiz lindo e loiro dando sopa.
Chamo um táxi na intenção de chegar fresquinha, bela e ruiva no gabinete.
Entro no escritório e tudo está em silêncio, Robbie e muitos dos
funcionários, ainda não chegaram, até porque estou quase uma hora adiantada.
Vou para minha sala, deixo minhas coisas e dirijo-me para sala do Noah para
organizar sua mesa. Um arrepio percorre meu corpo. Viro-me e vejo aquele homem
abrindo seu terno, com um sorriso de canto ameaçador.
— Bom dia, excelência – falo em um sussurro.
Noah vem em minha direção, sério e sem dizer palavra alguma, assalta
minha boca, em um beijo arrebatador. Passa um braço pela minha cintura e
puxa-me para si. A outra mão passeia até chegar na minha nuca e ele puxa meus
cabelos para ditar o ritmo. Esse homem tem um charme devastador, uma cara de
anjo e seu beijo é puro pecado.
Quando separa seus lábios dos meus, encara-me com aquele olhar poderoso.
— Bom dia, senhorita Harver.
— Esse é um jeito muito bom de começar o dia – sorrio.
Noah olha-me de cima a baixo.
— Conheço um jeito melhor.
Ele me pega pela cintura e coloca-me em cima da sua mesa, puxa minha
saia para cima e se coloca entre as minhas pernas. Suas mãos parecem ter vida
própria e colocam minha blusa para baixo, fazendo com que meus seios fiquem
expostos. Sua boca viaja pelo meu pescoço, parando em meus mamilos, enquanto
sugava um, beliscava o outro.
— Noah... – sussurro em seu ouvido. E como se tivesse acionado um
interruptor, ele fica ainda mais faminto. Desce-me da mesa e vira-me.
— Coloca as mãos na mesa – coloco-as sem perguntas. Ele sobe minha saia,
deixando minha pele exposta. Acaricia minha bunda, contorna minha calcinha com
os dedos e me dá um tapa forte — Sua pele branca fica linda com a marca da minha
mão. E essa sua bunda... – Noah aproxima-se e fala em meu ouvido — Sua bunda é
perfeita, tanto que dá vontade de come-la.
Um calafrio de antecipação passa por mim. Um misto de sensações,
titubeiam pelo meu corpo, com a declaração desse homem. Antes que os
pensamentos coerentes tomassem conta da minha mente, ele volta a virar-me de
frente para ele e beija-me, longa e ternamente. Meu coração dá um salto triplo
carpado e a imagem de sua namorada surge em minha cabeça. Obrigada, realidade.
Sempre uma cadela comigo.
Noah olha-me com preocupação, já se afastando.
— Algum problema, Madison?
— Alguém pode chegar e nos pegar assim – balanço a cabeça. Falo
arrumando a blusa e descendo a saia.
— Verdade – ele passa a mão no cabelo — Venho lutando com meu autocontrole
há muito tempo, quando se trata de você.
A sua afirmação deixa-me feliz e culpada. Vou para minha sala ajeitar-me
para iniciar o dia de trabalho. Peguei o costume de passar em cada sala para
desejar um bom dia para todos, fiz amizades com muitos e despertei a ira de
outras, que provavelmente queriam sentar na cadeira da Harriet ou no colo do
juiz. Vai saber. Providencio o café para Noah e entrego-lhe os papéis que
ficaram comigo ontem. Chamo a atenção dele para uma marcação.
— Você tem que vir aqui me mostrar – fico parada o olhando, pensando se
devo ir ou não. Aquele sorriso perverso aparece novamente — Eu não vou te
agarrar, senhorita Harver. A não ser que você queira, daí, terá que me pedir.
Reviro os olhos e vou até ele.
— Está vendo a disparidade entre essas duas informações?
— Como deixamos passar? Isso faz toda diferença – ele fala concentrado
nas anotações e passando a mão pela minha perna.
— Deve ser a hora que você estava tentando me comer – falo séria.
Noah cai na risada.
— Para começo de conversa, você é muito apetitosa e por fim, você gostou
daquilo, mais que eu.
— Convencido – reviro os olhos.
— Sou apenas modesto – responde ele.
Afasto-me e ele me dá um tapa na bunda. Coloco uma das mãos na cintura.
— Nunca te ensinaram que não se deve colocar a mão na comida. Agora terá
que comer – sem cerimônia, Noah levanta-se e se aproxima. Apresso meu passo
para minha sala e falo de longe — Era brincadeira.
— Nunca te ensinaram que não deve brincar com coisa séria? – Ouço antes
de fechar a porta.
A manhã passa voando. Quando penso em sair para almoçar, a porta da
minha sala abre-se e Noah entra.
— Quer almoçar comigo?
— Depende – cruzo os braços.
— Depende do que, Madison? – ele recosta-se no batente da porta.
— Depende se é um almoço de verdade ou só uma desculpa para ficar me
alisando. Posso te processar por assédio, sabia?
— Você não me processaria.
— Tem certeza – falo sorrindo.
— Se você me acusar de assédio, não poderei te tocar mais. E como nós
dois bem sabemos, você adora meus toques.
— Quem disse esse absurdo? – finjo indignação.
Enquanto ele caminha de volta para sua sala, fala:
— Seu orgasmo, e seus gemidos – engasgo-me e ele continua — Antes de
sair, reserve uma mesa privada para dois no Di´Napole.
Disco rapidamente e não tenho problemas em reservar a mesa, porque o
juiz Lancaster é uma autoridade muito bem quista pela sociedade. Aff! Para que
tanta perfeição em uma pessoa só? As pessoas falam que ninguém é perfeito, na
minha visão ele é, só que perfeição enjoa. Ah sim, a mesa não é privada, fica
no centro do salão.
Fomos em direção a garagem da Corte e entramos em seu possante
esportivo, um Porsche. Falo sem
pensar :
— Meu sonho sempre foi ter um carro assim.
— Pelo tanto de mulheres desesperadas que existem no mundo, você não
conseguiu comprar um desses ainda? Então, está cobrando barato demais – o
idiota ri.
— Eu não costumo cobrar. Elas que insistem em me gratificar – falo sem
graça.
— Desculpa, Madison. Eu não consigo entender o que realmente você faz.
Para mim, você é uma espécie de terapeuta do amor, que ajuda essas loucas
encalhadas a conquistarem homens, como naquele filme do Will Smith.
— Não é bem assim – respondo.
— Lembro-me daquela menina do Secret
Garden, aquela que casou com o escroto do Isaac. Todos sabem que foi a
responsável por isso. Porra, eu te vi no casamento deles, ouvi ela te
agradecendo em público.
A palavra charlatã vem ao meu encontro e já me arrependi de ter aceitado
vir com ele. Respiro fundo e respondo:
— Nicki amou Isaac desde o momento em que colocou os olhos nele. O
problema é que o cara era um egoísta de marca maior, trazia as dondocas da hight society para o clube, com a
intenção de mostrar para Nicki que ele podia tudo. E ela sofria, muito. Isso
partiu meu coração e tentei ajuda-la da minha maneira. Ela tinha que entender
que não precisava dele para ser feliz, que migalhas não devem satisfazer,
jamais se rebaixar para tentar ser o que o outro quer e que mulher forte, é
mulher que tem amor próprio.
— Isso soa mais como vingança pessoal – Noah fala perdido em pensamentos.
Eu sei que ele tem conhecimento da minha história, se mandou investigar, deve
saber que fui uma trouxa traída, a ovelha negra da família e expulsa de uma
cidade. Por algum motivo, sinto-me pequena, uma farsa, charlatã... — Lembro que
ela saiu com o Ben, algumas vezes. Achei que fazia parte do plano de ciúmes –
ele continua nesse raciocínio. Esse almoço será uma merda.
Respondo com veemência:
— Nicki saiu com Ben, porque quis sair. Ele jamais faria parte de algum
plano meu. Só que Isaac fez questão de destruir a autoestima dela e sair com
Benjamin a deixou mais confiante de si. Isso não teve nada haver comigo, eu
queria matar os dois quando soube.
Chegamos ao restaurante para comer, mas para mim, o almoço já tinha
terminado há muito tempo. Sentamos à mesa reservada e ele olha para mim.
— O que aconteceu com a privacidade que pedi?
Dou de ombros e falo sem olhar para ele.
— Não foi possível.
— Voltando ao assunto, você é uma militante do movimento feminista, mas
se contrapõe quando fala em príncipes encantados.
— Ai, ai... – enquanto arrumo o guardanapo em meu colo, respondo — Eu
não sou militante de movimento nenhum – arrumo meu cabelo — Você prefere uma
mulher segura, com atitude ou uma bonita, toda cheia de neuras, carente?
— Não há nada mais sexy do que uma mulher com atitude.
— Viu? – faço um gesto com a mão — É isso aí, é justamente aí que entro.
Ajudo-as florescer essa fortaleza que há dentro delas. Somente isso.
O garçom se aproxima da mesa e nos entrega o cardápio. Noah o olha
balançando a cabeça. Eu daria tudo para saber seus pensamentos.
— Estou tentando entender... – ele volta a falar perdido em seus
pensamentos.
Pedimos nossos pratos, ele uma bela massa cheia de molho e carnes e eu
uma salada. Minha fome acabou no momento que começamos esse assunto novamente.
Ele olha para mim com uma sobrancelha arqueada.
— Só comerá isso? – aceno que sim. Não vou falar que toda essa conversa
tirou minha fome. Preparo-me para outra bateria de perguntas do gostosão e do
nada, ele vai por outro caminho — E sua família, por que vocês são distantes?
Agora minha fome esvaiu de vez. Levanto meu rosto e dou de cara com
aquele olhar penetrante, esperando por uma resposta. Hoje é o dia.
— Como você deve saber, minha família deserdou-me por não ser compatível
com a prole. Tipo o Patinho Feio.
— Por que? – que insistente!
— Eu como muitas, fui criada em um lugar onde o casamento é o maior
acontecimento na vida de uma mulher. Segundo a tradição, temos que passar anos
aperfeiçoando a técnica da esposa perfeita. Meu aperfeiçoamento foi até o dia
em que encontrei meu ex noivo com a cadela da prima dele na cama – olho-o e
falo com deboche — Mas isso você já deve saber. As pessoas me culpavam por eu
não ter sido boa o suficiente para levar o casamento adiante, outras diziam que
mulher que é mulher, aguenta calada. Então, surtei e as pessoas não aceitaram
muito bem. Fui a uma reunião onde as fofoqueiras estavam reunidas para rezar,
falei algumas verdades e saí. Depois soltei a verdade na casa dos meus pais,
que não gostaram nem um pouquinho e me deserdaram.
— Que tipo de verdade faria uma família excluir um de seus membros? – a
curiosidade não tem fim.
A nossa comida é servida.
— Na verdade, meus pais são do tipo de pessoas que se preocupam demais
com o que os outros irão dizer. Com as verdades que disse as tiazinhas do clube
da fofoca, despertou a ira da minha mãe, que não estava sendo aceita por ter
uma filha “virada”.
— Sinto muito, Madison – ele sorri e vejo compaixão em seus olhos — Eles
não sabem o que perderam.
— Dispenso sua pena. Aliás, dispenso a compaixão de todos.
Como a minha salada o mais rápido que posso. Toda essa conversa me
deixou enjoada e com vontade de ir para casa me esconder. Sinto falta da minha
família, principalmente do meu pai. Muitas vezes já me culpei por tudo o que
aconteceu, pensei outras tantas em pedir perdão. Esse vazio dói tanto.
— Madison? – Noah está me olhando com preocupação — Eu não queria que
você ficasse mal. Desculpa por tocar nesse assunto, mas é que você é diferente
de tudo o que conheci. Tenho curiosidades a seu respeito.
Sorrio sem graça.
— Tudo bem. Acho que temos que nos apressar, você tem uma reunião
marcada com os advogados do caso Lester daqui a pouco.
Comemos em silêncio e assim que possível saímos do restaurante. Assim
que ele estacionou na garagem, vira-se para mim.
— Eu sei que família é um assunto delicado para você e mais uma vez peço
desculpas. Mas você me chama a atenção de várias formas e queria saber um pouco
mais. Você sempre pareceu inatingível, forte – ele passa a mão pelo meu rosto e
me dá um selinho nos lábios — Você é uma força da natureza, Madison.
Aquele gesto e aquelas palavras, acabaram comigo. Eu preciso manter
distância desse homem. Eu preciso, mas não quero. Repito várias vezes para mim
que ele é comprometido e ainda assim, basta olha-lo e já o desejo novamente.
Ardentemente. Merda!
Volto para minha sala e passo o resto da tarde em frente ao computador.
Tentei ocupar minha cabeça, até com coisas de outro departamento, fiz tudo o
que podia fazer, até colocar selo em cartas. Assim que o relógio apontou cinco
horas, fui até Robbie.
— Poderia me fazer um favor?
— Claro que sim.
— E-eu.. – fiz cara de coitada e comecei minha jogada — Não estou muito
bem. Poderia fechar o gabinete para mim?
— Não precisava nem pedir, Mad. Mas você ficará bem? Quer que eu chame
alguém – Robbie fala com preocupação.
— Só preciso descansar – falo já saindo. Minha consciência pesou por
mentir a ela. O pior é que estou mal mesmo. Falar da minha família dói muito.
Saio dali com lágrimas nos olhos e vou direto para o clube. Quando estou
chegando, vejo novamente aquela menina da casa amarela sentada na rua, olhando
para o nada. Ela daria uma excelente modelo, não é todo dia que rostos como
aquele aparece. E como da primeira vez, um senhor a chama e ela vai. Entro no
clube e vou para o vestiário, troco de roupa, vou conferir as geladeiras e o
estoque.
— Mad, a senhora Lamarque está te chamando – uma das meninas fala.
Aceno e vou ao encontro de Rebecka. Bato na porta do escritório e entro.
— Queria falar comigo, Becka?
Muitas vezes Rebecka Lamarque me surpreende com a sua beleza. Ela é mais
ou menos da minha altura, cabelos longos, super liso e preto. Seus olhos são
verdes, quase cinza. Seu corpo é bem tornado, curvas exuberantes e sua elegância
é fora do sério.
— Queria não. Quero! Sente-se. Como estão indo as coisas no gabinete do
juiz Noah Lancaster?
— Está tudo tranquilo, me adaptei bem as pessoas e ao ambiente de
trabalho...
— Me ofendeu agora – ela adota uma postura ereta e fica séria — Achei
que éramos amigas, Madison.
— E somos... – isso fez meu coração apertar.
— O que está acontecendo entre você e Noah? – ela fala enquanto se
levanta, dá a volta na mesa e escora-se nela, de frente para mim
— Nada – faço minha melhor cara de paisagem — Por que?
— Vocês dois acham que enganam quem? Por que Noah tem frequentado o
clube todos os dias? Por que ele anda com aquele sorriso bobo no rosto? Por que
você anda sorrindo? Você nunca sorri. Coincidência?
— Sim, é coincidência. Sobre o juiz vir para cá todos os dias, bom, ele
tem Carly em casa, deve estar fugindo da patroa. Se me der licença, tenho que
terminar de conferir o estoque da cervejaria – saio e fecho a porta, ouvindo o
riso dela.
Lá para as tantas da noite, vejo Noah chegar com Christopher e vão
direto para a sala privada. Fico um pouquinho desapontada, já estava me
acostumando com a ideia deles sentarem aqui no bar para servi-los. Ramon vem
para a frente.
— Eles querem as meninas da massagem completa.
— Sério? – que decepção — Vou providenciar, Ramon.
Sei a preferência de cada um deles por aqui. Encontro as meninas e elas
ficam mais que eufóricas em servi-los. Sebosas. Volto para o bar com um mau
humor de cão. Logo, Ben senta-se a minha frente e falo com ironia:
— Não vai para sala privada, receber massagens com seus amiguinhos?
— Calma, mulher. Por que a raiva? – ele pergunta rindo.
— Não estou com raiva – respondo com grosseria.
— Então por que você está destruindo o gelo?
Na hora, me dou conta de que estou batendo com o picador de gelo, em um
gelo que já é picado. Jogo aquilo dentro da pia com mais força do que deveria
ele rebate no alumínio e volta na minha mão, cortando-a.
— Merda! Merda! Merda!
Ramon e Benjamin se colocam ao meu lado. Ramon alcança uma toalha para
enrolar na ferida, Ben me pega pelo braço e leva-me até a merda da sala
privada.
— Fica aqui que vou buscar um kit
de primeiros socorros.
A sala privada tem isolamento acústico e vários ambientes dentro dela. É
um lugar esplendoroso com sofás de couro preto, com um bar no canto repleto de
bebidas, banquetas vermelhas para contrastar com a predominância do preto.
Ouço gemidos vindo de um daqueles ambientes e fico curiosa. Caminho com
cuidado para não ser vista, até chegar em frente a um daqueles ambientes.
Dentro, vejo uma cama e nela Chris está deitado nu e a menina, também nua, está
alisando seu pau. Eu não sabia que a Rebecka permitia isso aqui dentro e muito
menos que o pau do Chris era desse tamanho. Chocada! Eu sei que eles costumam
pegar garotas e levar a um dos quartos. Às vezes me esqueço que esses caras são
quase donos disso aqui.
Um pensamento passa por mim, Noah está fazendo a mesma coisa em outra
sala. Meu estômago embrulha e no momento que viro para sair dali, trombo em
Ben, que deixa a caixa cair no chão, fazendo um barulho enorme e a toalha que
estava enrolada na minha mão cai também. Logo, Chris aparece de toalha em uma
porta e Noah só de calça em outra. Aquilo mexeu comigo, mais do que deveria.
Olho suplicante para Ben e falo:
— Me tira daqui, por favor.
Ele pega a toalha que está na mão da menina que está atendendo Noah.
— Enrola sua mão aqui, rápido.
— Não mesmo. Eu não vou colocar isso todo sujo de pau na minha mão –
estou revoltava. Era só o que faltava, usar uma toalha suja de pica untada na
minha mão. Já estava indo em direção a porta.
— Isso não para de vazar sangue, Madison. Vamos para o hospital – ele
aparece desdobrando uma toalha e coloca-a na minha mão.
Noah e Chris aproximam-se e perguntam o que aconteceu e dou um passo
para atrás. Benjamin por graça divina entende que tenho que sair dali e puxa-me
com ele. Assim que saio do clube respiro e a dor da mão, vem para clarear meus
pensamentos de Noah.
— O que está acontecendo, Madison? – pergunta Ben.
— Estou com a mão cortada e isso dói – respondo olhando para fora.
Nesse momento, o telefone toca e Ben atendo pelo sistema do carro.
— Fala, Becka.
— Ben, como está a Madison? – Rebecka pergunta.
— Ela está bem. Só acho que está saindo sangue demais.
Ouvimos vozes ao fundo, queriam saber para onde Ben estava me levando.
Rebecka volta a falar conosco:
— Para onde você está a levando, Benjamin?
Olho para ele apreensiva.
— Becka, chegamos no hospital. Assim que ela for atendida, retorno a
ligação – antes que ela pudesse responder, ele desliga e volta-se para mim — O
que está acontecendo, Madison?
Ele estaciona o carro e saímos em direção a emergência e eu dando graças
à Deus. Olho minha roupa e fico assustada com o sangue nela, o corte não foi
tão fundo assim, foi? Uma enfermeira logo me encaminha para um médico e em
seguida para a sala de sutura. Resultado, rompi uma veia, levei cinco pontos e
ganhei uma mão enfaixada.
Em menos de uma hora, já estávamos no carro para irmos embora, dei meu
endereço e fechei os olhos. No caminho fingi que estava dormindo para que Ben não
me pressionasse sobre o que está acontecendo. Como vou responder a uma coisa
que nem sei? Eu não sei o que está acontecendo, eu olho aquele juiz dos
infernos e o calor já sobe, aí ele me olha e pelo jeito, sobe fogo lá também.
Resultado, nós dois acabamos nos enroscando até uma das partes, no caso eu,
esteja perto de um orgasmo ou tenha um. Tem como explicar?
Ele para o carro em frente à minha casa e me chama com delicadeza.
— Mad, já chegamos, princesa.
— Obrigada por tudo, Ben – beijo seu rosto — Até amanhã.
Ele entrega-me seu cartão.
— Qualquer coisa e em qualquer horário. Entendeu?
Sorrio. Ele fica ainda mais lindo sério.
— Se eu precisar, prometo que ligarei.
Saio do carro e ele espera que eu entre para partir. Na correria, deixei
minha bolsa, com todas as minhas coisas dentro, lá no clube. Droga! Sem ter o
que fazer e com os medicamentos que o médico me deu começando a fazer efeito,
troco de roupa, deito e apago.
Acordo com alguém batendo da minha porta insistentemente. Levanto sem a
menor vontade, coloco o roupão e vou atender a merda da porta. Abro-a e
encontro Noah, mais lindo do que nunca com um terno azul marinho e camisa
branca. Dou um passo para trás e ele entra.
— Estou atrasada? – pergunto.
— Não. Eu passei aqui mais cedo porque fiquei preocupado – ele emoldura
meu rosto com suas mãos — Está tudo bem? Mal preguei os olhos preocupado com
você e Carly também não parava de incomodar.
Saio de seu toque e vou para o banheiro. Olho-me no espelho e vejo a
beleza das trevas refletida. Entro debaixo do chuveiro, tomando cuidado para
não molhar o curativo. O médico disse que no final das vinte e quatro horas, eu
poderei desfazer-me dele. Levo o tempo que preciso para lavar minha alma e
esfriar meu corpo do seu toque.
Sinto a presença de alguém e olho para trás, encontro Noah sem camisa,
vindo em direção ao box. Ele abre a porta de vidro e fala:
— Deixa-me te lavar, por favor, Madison?
Viro-me e coloco minhas mãos na parede para escorar-me e dou a permissão
que ele precisa. Eu deveria sentir vergonha por estar nua, mas nunca tive
ninguém que se importasse comigo o suficiente, a ponto de molhar suas roupas de
trabalho, só para me lavar.
Noah lava-me em silêncio, apenas acaricia a minha pele, nada sexual. E
eu desfruto do cuidado e carinho de alguém. Assim que termina, beija meu ombro
e estende-me a toalha.
Saio, seco-me e vou para o quarto. Pego minha roupa íntima de algodão,
uma calça jeans e uma camisa azul. Opto por uma rasteirinha e só passo os dedos
pelos cabelos. Gosto do ar de bagunçado que ele fica. Encontro Noah terminando
de abotoar sua camisa.
— Estou pronta.
Ele vem até mim.
— Eu preciso saber como você está, Madison. Ouviu a parte em que eu
disse que não dormi?
— Sim e você seguiu dizendo que a Mortícia
não parou de incomodar – falo com deboche.
Ele passa as mãos pelos cabelos, que até o momento, estavam arrumados.
— Minha relação com a Carly está um inferno...
— Ok. Vamos – levanto a mão machucada na intenção de fazê-lo parar com
aquela balela.
Noah pressiona-me contra a parede.
— Você é meu refúgio. Dá para entender isso? – aceno que sim, ao ver a
sinceridade em seus olhos. Ele toma minha boca em um beijo tranquilo e
delicioso — Você está bem? Acha que pode trabalhar hoje?
— Estou melhor agora.
Ele beija-me mais uma vez e vamos para o trabalho. Durante o trajeto,
ele não deixou de segurar minha mão. Por mais que ele seja arrogante e muitas
vezes estúpido, adoro estar com Noah. Eu sei que tem Carly e não quero ser a
outra, mas tê-lo aqui pertinho, é tão bom. Assim que entramos em sua sala, ele
veste sua toga e fala:
— Tenho o dia cheio de audiências hoje – vou até ele, ajudo-o a fechar a
vestimenta e ele continua — Se você se sentir mal, peça para o motorista do
gabinete leva-la.
— Ok, senhor juiz – Noah beija-me com desejo. Esse é o tipo de incentivo,
que os trabalhadores deviam ter.
— Até mais tarde, ruiva.
Depois que ele sai, vou para a minha sala iniciar os trabalhos. Vou em
cada sala distribuindo as listas de prioridades, organizo a mesa do juiz, dou
alguns telefonemas e atendo algumas pessoas. Minha mão incomoda, os pontos
estão doendo e preciso de um café. Levanto-me para ir a cafeteria perto da
Corte, passo pela Robbie.
— Estou indo buscar um café. Quer alguma coisa?
— Não, obrigada – ela e seu sorriso luminoso.
Hoje está frio. O ar gelado bate em meu rosto, fazendo minha pele arder.
Entro no lugar, que está quentinho e vou para a fila fazer meu pedido. Fico
atrás de duas mulheres, que estão em uma conversa intensa.
— Ela está saindo com ele. Eu a avisei que sair com o chefe não dá
certo. Ele é casado, nunca vai deixar a esposa para ficar com ela. Até porque,
vamos e convenhamos, nenhum homem ficará com uma mulher que trai – diz a loira
platinada.
— Ele fala para a secretária que está com problemas em casa, que ela é
seu porto seguro para suportar tudo, que dará um fim na relação que está
desgastante. Mas no final, ficará com as duas, o sagrado matrimônio em casa e a
puta do escritório. É o que todo homem sonha – complementa a loira com cabelo
manchado.
Aquilo foi um tapa na minha cara. Minha garganta fecha e tenho
dificuldade para respirar. Tento tirar o cachecol do meu pescoço, mas não
consigo, acho que está amarrado. Saio rapidamente da cafeteria e vou em sentido
ao parque, do outro lado da rua. Respiro fundo algumas vezes, levanto o rosto
para que o ar gelado penetre-me e abafe essa sensação estranha.
Sento em um dos bancos e olho as pessoas que passam por mim. E a
conversa das mulheres na cafeteria volta em minha cabeça, “ele tem o sagrado matrimônio em casa e a puta do escritório...”. Deus,
por mais que eu lutasse para não ser uma puta, acabei enrolada na minha própria
teia. Eu sei o quanto dói ter uma terceira pessoa em um relacionamento. Passei
por isso, fiquei dias na cama tentando entender onde errei. E hoje, estou aqui,
sendo a outra.
Sempre tive nojo de homens assim. Sempre os considerei covardes por
enganarem duas pessoas simultaneamente, o problema é que no meu caso sei que
existe alguém. Defendi que as mulheres não precisam passar por esse tipo de
situação, não há amor que resista a isso. Olho ao meu redor e tenho a impressão
que estão me apontando e rindo, os fantasmas voltam para me atormentar. Fecho
os olhos e balanço a cabeça para organizar os pensamentos. Nunca importei que
apontassem para mim e não vou começar a me importar agora.
Volto para o gabinete, vou deixando tudo encaminhado porque pretendo ir
para casa. Ligo para o restaurante e deixo o almoço do Noah encomendado, passo
algumas coisas para Robbie, aviso-a que não estou bem e mostro a minha mão.
Pego minhas coisas e vou para casa, minha fortaleza.
Assim que chego, tiro a roupa, coloco um agasalho e deito no sofá. Os
beijos e os toques de Noah, invadem minha cabeça. Ainda posso sentir seu
cheiro. As palavras dele, “você é meu
refúgio...” voltam para me atormentar. Eu não quero ser refúgio de alguém
que tenha outra pessoa. Sinceramente, eu nem quero um compromisso, não quero
nada. Quero minha vida devassa novamente, onde saio com quem quero por apenas
uma noite.
É isso mesmo! Chega de pegadas no escritório e em qualquer lugar, chega
de ajudar o chefe no apartamento dele, chega de Noah. Amanhã cedo ligarei para
Harriet para confirmar sua volta e implorar para que ela me mande para outro
lugar, para terminar a merda da minha pena. Adormeço com um sorriso de vitória.
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