domingo, 8 de março de 2015

Sr. G - Capítulo 15 - 1ª Parte


Patty...

Tive uma noite sem sonhos, dormindo feito uma pedra, mas, o frio na barriga e a sensação de descer uma montanha russa invadem-me assim que coloco o pé fora da cama. Seguindo meu ritual, ligo minha música “Xô Preguiça”, All That She Wants (http://www.vagalume.com.br/ace-of-base/all-that-she-wants-traducao.html) e começo a me preparar, dançando e rebolando, animada e receosa, ao mesmo tempo, com essa sensação estranha. Estou pronta para mais um dia de trabalho e, também, feliz por ter dois dias com os bambinos, na praia. Esta será a primeira vez que estaremos juntos, no litoral.

− Será que vou conseguir não morder as dobrinhas da Belinha? – pergunto a mim mesma, em voz alta, imaginando-a toda suja de areia, parecendo uma coxinha empanada – Bem, que venha esse final de semana e que seja bom – digo, em dúvida.

Tomando café, na mesinha da cozinha, aproveito para ver se meu amigo fujão deixou alguma mensagem, ontem, depois que eu dormi. Não dá outra, lá está ela. Batendo palminhas, abro a mensagem.

Dom Leon:> Menina da pinta charmosa, minha conexão com a internet é movida a manivela e, quando chove, em minha região, acabo ficando incomunicável... desculpe-me por minha ausência abrupta, ontem. Ao mesmo tempo em que estou consternado por ter que ficar três dias sem comunicação com você, estou feliz por saber que estará descansando, ao lado de pessoas queridas. Cuide-se! Beijo grande.

P.S.: A vida presenteia-nos com coincidências que a nossa razão, às vezes, não é capaz de enxergar. Siga sempre o que seu corpo e coração mandarem. Sinta as emoções do momento.

− Bruxo!!! – grito, assim que termino de ler sua observação – Esse homem é foda! Como é que ele manda uma mensagem desta, sem saber o que está reservado para mim, neste final de semana, como o fato de ter que conhecer mais um dos amigos do Marco e, ao mesmo tempo, a possibilidade de encontrar com o Carlos Tavares Júnior?  − caraca, tudo isso está mexendo com meus sentidos!

Se eu já estava sentindo frios na minha espinha, desde que acordei, a cada cinco minutos, imagina, agora, quando me lembrar da mensagem dele, durante o dia todo!

Ainda visualizando o mural do face, vejo outra mensagem de uma amiga, que me chama a atenção e vai apontando na mesma direção do “conselho” do mago Leôncio...

Josi Josi:> Compromisso é permitir que o outro entre na nossa vida. É sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. Compromisso não é “falta” de liberdade. Compromisso é o “exercício” da liberdade de estar com alguém.

− O que o facebook virou? Algum livrinho de meditação e reflexão? Cada postagem que você rolar trará uma mensagem que serve como respostas às suas duvidas? – fecho a tela, sem querer ler mais nada – Acorda, Alice, vamos trabalhar! – resmungo, sozinha.

Atrapalhada como um elefante andando, delicadamente, de salto alto, pego minha mala, toda desengonçada, por causa do peso e do tamanho dela.

− Para que levar tanta coisa? – ralho comigo.

Depois de um malabarismo com a mala, segurando-a, desajeitadamente, junto com a bolsa, a chave do carro e a chave de casa, percebo que meu sacrifício foi inútil e desnecessário, pois a mala tem rodinhas... estou tão avoada, que acabei esquecendo desse detalhe e sofri à toa.

Preparada e independente como sempre, passo no posto, abasteço o carro e peço ao frentista para me ajudar a calibrar os pneus, apenas porque não quero correr o risco de sujar as mãos de graxa, senão, teria feito como sempre, sozinha, pois acreditem, sei até trocar pneu de carro. Além disso, hoje, coloquei uma saia lápis e, se me abaixar, darei um show digno de cena de filme pornô, cujo nome  seria: Garota sexy que enche os pneus de cócoras...

Decido ir com meu carro para Ilha Bela, por diversos motivos. Primeiro, porque gosto da minha independência, pois, se algum lugar não me agradar, posso seguir meu rumo, sem precisar de ninguém. Já passei por diversas situações em que senti, na pele, efeitos do que o fato de estar de carona pode ocasionar. Segundo, por causa de a Babby ser muito mais exagerada do que eu e, apesar de eles terem um carro enorme, ela consegue entulhar até o porta-luvas de coisas que as crianças possam precisar. Terceiro, por detestar incomodar os outros que, também, por estarem dando carona, ficam obrigados a estabelecer alguns horários para posicionar o caroneiro quanto ao itinerário. E, finalmente, porque adoro dirigir, principalmente na estrada.

    O dia passa mais rápido do que imagino e, agora, estou aqui, na frente do prédio da família “Doriana”, esperando terminarem de carregar o carro. Os dois pequenos estão dormindo, nas respectivas cadeirinhas, no banco de trás do carro. Já discuti com o casal quando informei que iria com meu carro e eles quiseram convencer-me a ir com eles. Expliquei-lhes meus motivos e deixei claro que iria sozinha mesmo.

Todos a postos, em seus devidos carros, sigo-os, feliz e cantando, partindo de São Paulo pela Rodovia Ayrton Senna / Carvalho Pinto. Fala Sério, só o nome da estrada já diz onde vou parar este final de semana... rio sozinha, animada com meus hormônios aflorados. Descemos a serra Mogi-Bertioga e seguimos pela Rodovia Rio-Santos, sentido Norte. Para alguns, o horário de verão é um porre, mas, para mim, é tudo de bom! Adoro o fato de o dia escurecer mais tarde e, ao viajar após o expediente, poder ver toda a paisagem da serra, conforme o carro desce... é lindo de se apreciar!

Conforme o dia vai passando, tomo a decisão de não fazer planos para este final de semana e não levantar todas as minhas barreiras. Portanto, estou indo de coração aberto, porque não deve ter sido à toa que me apareceram aquelas mensagens, de manhã, justamente quando sentia o turbilhão de sensações, na barriga, que se prolongou até agora. Chego à conclusão de que deve haver um significado importante nisso tudo o que o Sr. Destino está preparando para mim.

Flash...

Fala sério! Isso não foi um flash! Ou foi?!?!

Putz, mais um para a minha coleção!!! Adoro ser fotografada, mas, não assim, quando a ocasião não é para, definitivamente, trazer-me sorte! E isso aconteceu só porque me perdi nesses pensamentos doidos e, ao tentar alcançar o carro do Marco, passei do limite de velocidade permitido e a conclusão é mais uma multa! Além do que, pode ser, também, mais uma dica do Sr. Destino, mas, desta vez, para me mostrar que ele prefere cautela e não empolgação.

Comporto-me como uma motorista prudente pelo resto da viagem, respeitando todos os códigos de trânsito e velocidade permitida, mesmo admirando a paisagem de todas as praias por que passamos, desde Caraguatatuba  até São Sebastião, onde vamos pegar a balsa que dá acesso à maior ilha marítima do Brasil.

Sempre soube que Ilhabela é um dos maiores redutos de velejadores do País e que seus campeonatos de vela sempre ocorrem em Julho, porém pelo que a Babby contou-me, neste ano, o período foi adiado devido à Copa do Mundo de Futebol. E é só por este motivo que estou aqui, agora, louca para assistir uma das principais competições do iatismo brasileiro, com barcos de todas as classes disputando as regatas, no Canal de São Sebastião, que separa as duas cidades. Diante de toda a beleza e excitação por ter chegado, fico admirada ao saber que a região comporta um gigantesco porto petrolífero, o que leio em um folheto que um rapaz entrega na fila extensa que aguarda para entrar na balsa que dá acesso a ilha.

Com os carros parados, a Babby vem até a janela do meu carro perguntar se está tudo bem.

− Amiga, que bom que correu tudo bem durante a viagem. Sei que você deve estar exausta – ela faz uma pausa e, ao ver seus olhos brilhando, já sei que vem algum pedido –, mas, enquanto estávamos na estrada, recebemos a ligação do amigo do Marco, que está esperando a gente para um jantar, na casa de um amigo dele. Ele convidou-nos a todos, mas, se estiver muito cansada, entenderei e ficarei com você – bandida, penso comigo, ela quer mais é que eu aceite!

− Barbarela, preciso de duas vezes mais os quilômetros que rodamos para começar a pensar em ficar cansada! Vamos logo a esse tal jantar.

− Esta é a minha amiga – vibra com a minha resposta − Esse jantar vai ser muito legal, você verá! – sei bem o que ela quer que eu veja... – Tenho certeza de que, desta vez, não me dirá que o amigo do Marco tem qualquer tipo de defeito! Prepare o coração, porque ele vai acelerar.

− Sua santa casamenteira, presta atenção! Sou como a mulher do Saci... se levar um pé na bunda, quem cai é ele! Então, que venha mais um candidato para tentar desencalhar esta baleia jubarte aqui – disparo, gargalhando, junto com ela.

Os carros começam a se movimentar, na fila e, assim que a balsa chega, ela corre para o seu carro, que está à frente do meu. Supreendentemente, meu celular apita, avisando da chegada de uma mensagem. Olho para a tela e eis que vejo um recadinho do meu amigo. Aproveito nova parada e leio.

Dom Leon:> Pequena, que seu final de semana seja movido a grandes emoções! Não encare a espera como um problema, o tempo não para enquanto você decide o melhor momento de ser feliz. Se for para esperar a hora certa chegar, que seja vivendo intensamente. Cuide-se!

Respondo, para variar, sem pensar.

Patrícia Alencar Rochetty:> Meu querido amigo, acabei de chegar e estou aguardando a balsa para poder chegar ao outro lado. Vou tentar seguir seus conselhos, mas, a única coisa que me deixa surpresa é que entendi, nas entrelinhas, que você está entregando-me, de bandeja, para qualquer galã que cruze meu caminho... Kkkkkkk... Isso é que é desprezar, elegantemente, uma mulher, hein?

Visualizado 20:22

Sou ousada mesmo! Também, quem manda ficar enviando mensagens para eu transar com o primeiro cara que me excitar?

Dom Leon:> Sempre provocadora! Quando me conhecer, vou mostrar-lhe o quanto adoro educar uma língua desafiadora. Aproveite, com moderação, e preste atenção no trânsito! Pelo que escreveu, está na fila, então, comporte-se como uma motorista prudente.

Mandão, vou mostrar para você o que minha língua pode fazer.

Patrícia Alencar Rochetty:> Promessas!?!? Bem, na verdade, vou seguir seu conselho e mostrar para o primeiro que me aparecer pela frente o que minha língua é capaz de fazer. Se você dispensa, abre concorrência...

Os carros começam a andar, novamente, e não consigo ler sua mensagem. Subo, na balsa, com toda a emoção do mundo. Ao estacionar, sei que o tempo de travessia é de quinze minutos. Desligo o carro e leio sua mensagem, que diz:

Dom Leon: Veremos como as promessas serão pagas, no seu devido momento. E não entreguei você, de mão beijada, para ninguém, apenas lhe aconselhei a viver o momento intensamente. Agora, preste atenção no trânsito! Não vou mais responder suas mensagens. Cuide-se.

− Intrigante, isto sim é o que o senhor é!!  − também não vou responder...

Desço do carro para dar um cheiro nas crianças que, assim que me veem, ficam animadas com a minha aparição surpresa, ambos estendendo-me os bracinhos, querendo descer do carro. Olho para os pais, pedindo autorização apenas com o olhar, sendo advertida que não, no mesmo momento.

− A dinda vai entrar um pouquinho com vocês, no carro – digo, assim que abro a porta – O que vamos fazer neste final de semana? – eles ficam olhando para mim, claramente esperando que eu fale algo – Vamos fazer coxinhas de bebês e de tia Patty, na areia.

− Telo choxinha – a pequena pede.

− A tia Patty vai encontrar uma bem gostosa, amanhã, para você Bela, nem que ande a ilha toda para encontrar, né, tia Patty? – a Babby adverte-me.

− Vou, sim, mamãe – xingo-me, mentalmente, por ser tão desligada.

− E você, Biel, o que vai pedir para a tia Patty encontrar, na ilha, amanhã? – o pai fala, divertido, querendo torturar-me.

− Vou com ela comprar a coxinha – esse menino é um lord! Além de falar direitinho para os seus quase três aninhos, ainda por cima é gentil! Aperto-o, instantaneamente.

− Amiga, tem certeza de que não prefere ir para o hotel? – conheço essa cara e sei qual é a resposta que ela merece, mas, não vou estragar o início do final de semana.

− Por mim, sem problemas! Tirando a roupa que estou trajando, que não acho apropriada para um encontro com seus amigos, numa ilha, de resto, está tudo bem para mim. A única coisa que penso é nas crianças! Será que elas não estão cansadas? – jogo a bomba nas mãos dela, louca para ela repensar. No fundo, acho que estou com receio de ir a esse encontro.

− Elas estão bem e não estamos planejando ficar muito, no jantar de boas vindas. Aliás, Marco, que gentileza do Luiz Fernando convidar-nos e, ainda por cima, dizer que preparou um jantar especial para as crianças!

Senhor dos Homens Prevenidos! O cara cuidou de tudo! Sr. G, amigo, quem vai dar-lhe fisgadas, agora, sou eu! Acorda para a vida, menino! Se rolar uma química, vamos fazer arrebentar a boca do balão ainda nesta madrugada! – penso comigo, ficando animada com o tal Luiz Fernando.

− Verdade, ele foi bem legal! Até tentei dar uma desculpa, mas, o cara foi impecável. Bom, meninas, a animação e a festa vão começar! A balsa já está chegando.

Dou um cheiro nas crianças, para descer do carro, mas, o circo de choradeira forma-se. Os pais tentam acalmá-las, dizendo que já vamos estar todos juntos, mas, as crianças não querem saber, elas querem que eu fique no carro delas. Animada com a possibilidade de dirigir a nova Land Rover do Marco, dou a minha sugestão.

− Vamos lá, Marco, libera a chave do carro e deixe-me levá-lo com as crianças. Você leva o meu carro e eu dirijo o seu...

Mesmo a contragosto vejo, pelo retrovisor, que ele cede diante do olhar da sua sereia alada.

− Dinda, o carro é todo seu, mas, fica sabendo que a senhorita vai seguir-me.

Jogo a chave do meu carro para ele, toda animada.

Sentando diante do volante do imponente carro, sigo o fluxo dos veículos quando a balsa aporta, no trecho central da barra Velha, depois seguindo o Dr. Delicia pela única avenida que corta a ilha, de norte a sul. Vamos animadas, cantando com as crianças músicas infantis e a diversão é geral. Atenta às paisagens e ao comércio local, percebo que chegamos, logo, a uma mansão, onde vários carros já estão estacionados.

Minha diversão é tão grande ao identificar o meu carro popular sendo estacionado, pelo Marco, ao lado de BMWs, Porsches, Camaros, Ferraris e sei lá mais que marcas de outros carros que estão ali, que, automaticamente, disparo a ensinar uma música para as crianças cantarem...

− Vamos lá, meninos, aprendam uma música que a tia Patty vai ensinar e que vamos cantar quando pararmos ao lado do papai.

Estacionei o calhambeque, bip, bip... quero buzinar meu calhambeque... bi, bi...

Eu e a Babby disparamos a gargalhar quando eles repetem o refrão, cantando bi... bi... bi...

Estaciono o carro e meus sentidos começam a disparar um alarme que nunca mais havia feito parte da minha vida. O cúmulo do luxo é a definição adequada para a mansão, com vista para o mar, que vejo à minha frente. Esse tipo de coisa nunca me fascinou, sempre fui simples e prefiro as coisas assim. E eis que, enquanto admiro tudo isso, o que eu mais temo acontece, antes mesmo de eu cogitar a ideia de inventar uma desculpa e fugir dali.

Uma voz, feito um trovão, vem ao nosso encontro, saudando a todos, assim que estamos tirando as crianças das cadeirinhas.

− Que bom que chegaram, estávamos ansiosos aguardando-os.

Um arrepio percorre minha espinha, minhas pernas fraquejam, os movimentos que estou fazendo para abrir o cinto de segurança do Gabriel hesitam, por um instante, com a tremedeira das minhas mãos. O ser dormente, dentro de mim, dá uma fisgada de satisfação. Os meus sentidos sinalizam que, se eu virar-me para ver o dono dessa voz, que marcou a minha vida, nunca mais serei a mesma, assim como uma casa mal assombrada pelo proprietário morto ansiando por uma alma. Não consigo mexer-me e o Gabriel, com sua alegre pressa de sair da cadeira, desperta-me do transe que tomou conta do meu corpo, neste momento.

Crio forças jamais imagináveis existentes em meu corpo e pego-o em meu colo. Meus olhos ainda não querem desviar-se do pequeno bambino. Pelos movimentos de todos, à minha volta, percebo que são dois homens cumprimentando e fazendo suas apresentações.

− Marco, deixa eu apresentar-lhe nosso anfitrião – diz uma voz rouca masculina.

− Prazer e bem vindos – ouço a voz dizer, simpaticamente – Sou Carlos Tavares Júnior e fiquei feliz quando o Nandão disse que um grande amigo estaria prestigiando-nos, hoje, junto com sua família.

Aperto o Gabriel, em meu colo, assim que ouço o nome que temi ouvir. O que há de errado comigo? Normalmente, sou segura de mim! Vozes ecoam, por segundos ou minutos, não sei, porque nem percebo o tempo correr, até que ouço a porta do carro ser fechada e o som de uma voz, como uma brisa, sussurrar, próxima ao meu ouvido.

− Bem vinda, Patrícia Alencar Rochetty – assim como da primeira vez em que o vi, estou enraizada no chão, feito uma árvore decorativa em um cenário.

Tão louco quanto real, não consigo piscar nem me impedir de reagir com bestialidade sexual.

– Sinto muito prazer em revê-la.

− Hum... com prazer, é mais caro! –  putz! Que fora! Olha só o que falo e faço todo mundo ficar olhando para minha cara! A Babby vai matar-me pela cara que faz! Também, não é de se admirar que responda tão prontamente! Duvido que haja uma mulher viva, na Terra, que não fique com a língua solta diante de tanta beleza! Seus cabelos desgrenhadamente desarrumados despertam memórias adormecidas, em minha cabeça... ora, minha vida sexual, antes e depois dele, sempre foi a mesma, mas, o momento mais intenso e exaltado dela foi vivido com ele! Momento este que fiz de tudo para esquecer, mas, que volta, agora, como um foguete. Seu sorriso, com os dentes mais brancos que já vi, está estampado em seu rosto receptivo, dando-me boas vindas, fazendo-o parecer um anjo com auréola, mas, que minha razão diz para ter cuidado, pois o diabo também veste Prada.

Assim como nos meus sonhos, as sobrancelhas dele estão curvadas, como se mostrando que sua mão estendida espera apenas que eu a toque.  Meus olhos estão hipnotizados pelo brilho de aço do azul dos seus, que me fitam, endiabrados, do mesmo modo que um espelho reflete luz e magia. Os músculos das maçãs de seu rosto estão tremendo, assim como a minha mão ao tocar a sua, forte e grande. Seu aperto não é impessoal, é íntimo e acolhedor, a ponto de eu sentir minhas calcinhas umedecerem... e cada vez mais, o cretino do Sr. G pulsa, atrevidamente, com a aspereza do toque das mãos dele, mostrando-me que meu corpo está totalmente em sintonia com os termos dele. 

Um ar de satisfação e cinismo cobrem suas feições, quando replica.

− Mesmo? Quanto a mais seria? Pois estou disposto a pagar o que for necessário...

Ele vira para o Gabriel, em meu colo, e muda de assunto.

− Belo garoto – ele passa a mão no cabelo do bambino.

− Esse é o nosso príncipe – diz a Babby ao homem que está dizendo, aos meus sentidos, que ele pega o que quer, como quer e na hora que quer, sem nem mesmo pedir licença.

Ele não mudou muito, desde quando o vi, pela última vez. Está apenas um pouco mais másculo e viril, talvez, mais maduro. Meus anjos internos gritam aos céus enquanto minhas safadinhas internas debandam para o inferno.

Sua boca carnuda, que diz para a Babby e para o Marco que mandou preparar um lanche especial para as crianças, é um banquete sensual, junto com o sorriso perverso que consigo vislumbrar e que, prontamente, me faz fantasiar com ele a me pedir um sexo quente e sem regras.

Ele está tão próximo de mim que, apesar de eu fingir brincar com o Gabriel, não consigo deixar de sentir a fragrância que seu corpo exala, gritando masculinidade e testosterona. Disfarço minha comoção, tentando não demonstrar simpatia alguma ao que sei que ele está tentando fazer...  que é deixar-me completamente chocada com as reações que me golpeiam, sem compaixão, como se o tempo tivesse parado e sua vingança por nosso último encontro fosse esta punição que meu corpo está a me aplicar.

 O Sr. G, empolgado e ordinário, claro que dá o ar de sua graça, neste reencontro, e não consigo disfarçar, para mim mesma, o quanto senti falta do calor desse homem. Assustada com meus pensamentos delirantes, afasto-me, um pouco, soltando o ar que está preso em meus pulmões, há não sei quanto tempo. Entrego o Gabriel para o Marco, alegando que o menino cresceu e está um pouco pesado e tento recuperar um pouco de sanidade.



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