sexta-feira, 13 de março de 2015

Sr. G - Capítulo 15 - 2ª Parte


Carlos Tavares Junior...

A partir do momento em que recebi a mensagem dela, dizendo que estaria no mesmo evento que eu, tentei dar sentido a todas as emoções tumultuadas e fiz o tempo correr contra o relógio, para fazer deste momento o mais especial possível. Não medi esforços nem deixei de colocar todos à minha volta em polvorosa, com os diversos afazeres que passei para cada um.
Até ontem à noite, eu estaria hospedado, a partir de amanhã, no DPNY Beach Hotel, reservado para mim pela empresa, mas, a oportunidade de desfrutar de momentos ao seu lado fez todos os meus planos mudarem.

Quando liguei para o Nandão e expliquei para ele que estaria descendo a serra, na sexta e não no sábado, acabei explicando meus motivos e, comparando os fatos e coincidências, chegamos à conclusão, quando ele mencionou que precisaria do veleiro da empresa para levar uns amigos para um passeio, de que estávamos falando das mesmas pessoas. Daí em diante, realizar o desejo de tê-la ao meu lado, o final de semana inteiro, virou questão de honra e, detalhista como sou, comecei a mover todas as peças da engrenagem para conseguir isso. 

− Boneca, definitivamente, você deve-me o seu loló! – ele diz, depois de me deixar possesso, ao me contar que a esposa do seu amigo Marco disse que levaria a sócia para o passeio com eles. A irritação que sinto ao imaginá-los, juntos, velejando, faz meu sangue ferver e, por um momento, agradeço por ela ter mencionado o que faria, no final de semana, pois, caso isso não tivesse acontecido, esse Dom Miau estaria dominando a minha quimera e, confesso, a mera possibilidade disso ocorrer mexe com meus sentidos.

− Quando descobrisse que você ousou tocar no que é meu, quem ficaria sem nenhuma prega no loló seria você, Dom Miau! – ralho com ele.

− Vamos lá, boneca, essa gatinha manhosa está cruzando o meu destino a todo o momento! Quem está querendo algo que o destino quer presentear-me é você – o infeliz zomba de mim.

Sem muitas palavras para brincadeiras que, com certeza, teria que aguentar, com toda a razão, pedi a ele mais um grande favor. Que me ajudasse com meu plano de convencer a todos a passarem o final de semana, em uma casa que, até aquele momento, não sabia como conseguiria. Essa era a única maneira de tê-la próxima a mim, por mais tempo possível.

Assim, fui passando para ele, no decorrer do dia, as coordenadas de como deveria proceder com seus amigos. Minha secretária conseguiu alugar uma bela casa de frente para o mar, com oito suítes e, pelas fotos que ela enviou para meu e-mail, não tive dúvidas quanto a bater o martelo ao constatar que, nos fundos da casa, havia um anexo com uma suíte máster. Na parte da tarde, já estava tudo resolvido, conforme orientei minha secretária, que é eficiente como o inferno. Uma casa com serviço de hotelaria completo, desde camareira até cozinheiro. Vou ter que pagar um preço alto, pois o Nandão soube reivindicar certinho seus favores, pedindo-me que fizesse, esta noite, uma festa para receber alguns amigos. Com isso, eu não contava, mas, diante dos fatos, não recusei, além do que, isto fará com que meu plano pareça mais real.

Por diversas vezes, questionei-me se deveria ser tão feroz como tenho sido em minha decisão de tê-la próxima de mim, mas, agora, vendo-a à minha frente, deixo de ter qualquer dúvida e sei que estou fazendo o certo. Respiro fundo, capturando sua essência, como a doçura da baunilha misturada com seu ardido e exótico cheiro de mulher. Percebo a contradição de seu corpo, pois ela olha para mim como se dissesse toque-me, mas, não me deseje eternamente; tome a mim, por este pouco tempo, mas, libere-me para ser feliz... minhas bolas doem e minha vontade é de puxá-la para meus braços e dizer que ela vai ser minha, toda minha e definitivamente minha!

Nunca esperei ficar tão atraído por uma mulher desta forma! Não sou hipócrita e sempre soube das minhas habilidades excepcionais com as mulheres, mas, no que diz respeito ao meu fascínio por elas, posso afirmar, com certeza, que nunca chegou a tamanha intensidade, como um desejo tão poderoso que chega a me causar dor!

Sua pinta dizendo foda-me é quase que o estopim para a perda da minha sanidade e, se eu não exercer um férreo e poderoso controle, eu a perderei escandalosamente, na frente de qualquer pessoa que estiver por perto para testemunhar. A sua ousadia de instantes foi respondida por mim, fixando seus olhos marcantes, mostrando-lhe que entendi o verdadeiro significado das palavras “com prazer, é mais caro”. Isso parece deixá-la surpresa e assustada... mas, essa minha menina e fera indomável equilibra-se, rapidamente, como a provocadora de sempre que é.

Por todos os santos!!! Estou fodido...

− Vamos entrar. Acredito que as crianças estão loucas para correr neste gramado lindo – ouço a voz e sinto o toque da mão do Nandão em meu ombro, que percebe a bandeira que estou dando e vem ao meu socorro.

− Vamos – concordo, entorpecido, impressionado com minha aparente perda de domínio das habilidades de anfitrião.

Caminhamos em direção à pequena rampa de acesso à casa, quando sinto um delicioso pressentimento de que este evento promete muito mais vitórias do que um campeão pode imaginar. Procurando-a com os olhos, percebo que ela ainda está parada ao lado do carro, um pouco alterada, falando com sua amiga, que está com a linda menina nos braços. Minha vontade é descer a pequena rampa e puxá-la para meus braços, porém, mais uma vez, sou pego de surpresa em uma conversa.

− Bela casa, Carlos! – exclama o Marco.

− Bem confortável – consigo dizer, mas, dentro de mim, sinto-me desconfortável, sem saber o que está acontecendo com a minha quimera, que ainda não deu nenhum passo para a rampa.

Envolvo-me num bate papo com o Nandão e com o Marco, tentando tirar o foco da minha atenção delas, pois meus sentidos insistem em ser curiosos.

Depois de minutos intermináveis, elas juntam-se a nós e eu mantenho meu olhar no dela, tentado descobrir algum sinal do que pode estar acontecendo.

− Marco, a Patrícia está cansada! Nosso dia, hoje, não foi fácil, então, decidimos levar as crianças para o hotel e tomar um banho. Podemos voltar mais tarde – diz a esposa do Marco.

− De jeito nenhum, vocês são meus convidados! – falo, apavorado com a ideia de o meu plano ter dado errado – Reservamos uma suíte para vocês e outra para sua amiga. Fiquem... faço questão – minha voz sai rouca, como uma súplica, ao mesmo tempo em que olho, com intensidade, para ela.

Ela solta sua respiração, de uma maneira que mais me parece uma bufada de contrariedade, bem desconcertante. Suas bochechas estão vermelhas e seus olhos brilham, enquanto ela olha para a amiga, esperando uma resposta negativa.

− Obrigada, Carlos, pela gentileza, mas, acho melhor a gente descansar um pouco no hotel, uma vez que você tem amigos espalhados pela casa. Não queremos dar trabalho.

− Não é trabalho. Além disso, o que faço com a comida especial que pedi para prepararem para as crianças?  Eles estão tão animados brincando – jogo baixo, num momento de desespero.

− Babby, podem ficar. Vou até o hotel e volto mais tarde – diz, derrotada − As crianças já estão animadas e brincando – repete, encarando-me, enquanto faço uma nota mental para comprar um presente para as crianças por, inocentemente, me ajudarem. 

− Imagina! No hotel tem parquinho, também. Eu fico brincando com eles enquanto você toma um banho. Amor, pode ficar, voltamos logo – esposa perfeita, penso comigo, mas, por outro lado, uma amiga empata foda.

− O problema é o banho? Está decidido, vamos buscar sua mala, Patrícia – dou ênfase ao seu nome, não lhe dando chance de responder e puxando-a pela mão.

Ela não faz questão de se controlar e mostra sua irritação ao fuzilar a amiga com os olhos, que a encara, divertida. Se pensou que fugiria de novo, enganou-se, minha quimera.

− Pode largar minha mão.

− Não. Fugitivas têm que ser algemadas! Contente-se por serem as minhas mãos que a estão prendendo – respondo, divertido, gostando de puxá-la, em direção aos carros.

− Do que me chamou?

− De fugitiva! Você tem medo de mim, Patrícia Alencar Rochetty? Porque parece que minha presença mexe com você e, por isso, acaba fugindo sempre que me vê.

− Não sei do que está falando? Será que “não” é uma palavra difícil de ser compreendida e aceita por você?

Paro, ao lado do seu carro, esperando que ela pegue sua mala para, então, mostrar-lhe o quanto os seus “nãos” me provocam e me instigam.

− Aceito muito bem que as fugitivas também possam dizer não, quando não querem algo. Mas, no que diz respeito a você, em todas as vezes que te encontrei, fiquei com a firme convicção de que você sempre me disse sim, apenas preferindo fugir, com medo, ao invés de me dar a chance de aproveitar o que o seu corpo estava desejando e oferecendo-me.

− Seus joguinhos não me interessam, Carlos Tavares Junior – sua voz sai entrecortada.

− Carlos... repete meu nome, minha menina – puxo seu corpo para próximo do meu.

− Não.

−Por quê?

− Você gosta de jogar, né, seu patrocinador? Jogos não me interessam – essa voz rouca vai acabar transformando minhas bolas em pedras − Você está acostumado a querer ser vencedor sempre e eu não sou uma perdedora! Então, solte-me se não quiser perder esse jogo, caindo ao chão, contorcendo-se de dor.

A satisfação de saber o quanto mexo com ela não faz com que eu deixe passar despercebido o que ela cantarola em minha direção. Sua sagacidade sutil estimula-me.

− Pequena, desta vez, você está presa – brinco.

− Virou homem aranha? – pergunta, sussurrando – Não estou sentindo suas teias em volta do meu corpo.

− Não mesmo? Tem certeza? Porque você está mais enrolada do que pode imaginar. Agora, pegue a sua mala, senão sou capaz de lhe dar o banho que você tanto quer, mas, será com a minha língua que, juro, passará por cada pedacinho do seu corpo.

− Promessas! Quem muito anuncia é porque pouco faz! – debocha – E você acha mesmo que me conhece? Se realmente soubesse algo de mim, seria capaz, ao menos, de saber qual é o meu carro, sem ter que esperar que eu fosse até ele...

− O assunto aqui não diz respeito ao seu carro, menina da pinta... – paro de falar, no mesmo momento. Se falo charmosa, ela é bem capaz de descobrir minha identidade virtual.

− Da pinta... – questiona.

− Foda-me! – olho para ela, curioso, vendo que arregala os olhos, surpresa, no mesmo momento em que minhas palavras são proferidas.

− Verdade?!?! Foi com ela que você resolveu fantasiar para distrair minha mente, enquanto me trazia até o carro que cheguei dirigindo? Agora, por ter errado feio qual era o meu carro, quer disfarçar sua gafe? Rápido você, hein?

− Olha, resolvi dedicar meu tempo e a mim a você, neste final de semana, e é assim que você retribui? – assim que falo este desatino, fico preparado para sua resposta furiosa.

− Desculpe-me, mas, está vendo alguma mendiga aqui? Não aceito esmola, meu querido! Pão velho é bom só para farinha de rosca e, nem mesmo esta pode ser reutilizada, porque, depois de servir para empanar uma vez, jamais é reaproveitada para uma segunda empanada!  Se acha que vou ficar aqui, perdendo o meu tempo, está muito enganado! – esse seu ataque de rebeldia faz minhas bolas doerem de desejo.

 Impressionado, não tiro os olhos dela! Rindo, admiro sua língua inteligente e, apenas para mostrar a ela que, desta vez, não adiantará fugir, solto seus braços, levanto as minhas mãos, em sinal de rendição, sem deixar transparecer que, na verdade, estou mesmo é louco para que ela renda-se a mim.

− Engano seu, minha cara... pão velho também faz um pudim que fica durinho e saboroso... – brinco para aliviar os ânimos e para me afastar dela um pouco, pois meu pau chega a babar, na cueca, doendo ao contato com o zíper duro, só por sentir a essência de desejo que exala da sua pele. Mais um segundo segurando-a e sou capaz de puxá-la para meus braços, cravar minha boca em seu pescoço lindo, cujas veias saltam, lascivamente.

− Você pode responder-me uma coisa? – até duas, penso comigo – Por que está fazendo tanta questão de que eu fique aqui? Vi que tem muitas mulheres espalhadas pela sua bela casa. Volte para sua festinha particular, pois a única coisa de que preciso é de um bom banho e de tirar esta roupa de trabalho, com a qual estou vestida desde cedo, pois meu dia foi puxado até o ultimo minuto, antes de pegar a estrada.

− Por que não faria questão de que você ficasse? – devolvo a pergunta como resposta.

Atento para os movimentos de seus ombros, que parecem carregar o peso da tensão sensual no ar... vejo que ela  é incapaz de responder à pergunta assim que ela levanta-os, mostrando sinal de dúvidas.

− Fica – peço, humildemente.

− Só se me prometer que ficará longe de mim! – isso é o que veremos, penso, comigo − A propósito, vivo de dieta e pudim de pão é carboidrato, portanto, está cortado da minha dieta.

Faço apenas um aceno afirmativo como resposta, porque se ela pensa que falarei um “A” prometendo a ela que ficarei afastado, definitivamente, não sabe que honro o que prometo! E,  no que diz respeito aos meus planos com relação a ela, não há qualquer possibilidade de eu passar este final de semana mantendo as mãos longe dela, claro que não!

− Isso é um sim?

Patrícia Alencar Rochetty...

Olhando para ele, procuro todos os possíveis motivos para frustrar o Sr. G, ordinário, que falta falar de tão descompensado que está ao mandar sinais para o meu corpo, que já não me obedece mais... só tenho domínio da minha língua! E olha lá! Parece que até ela quer ter contato com a essa boca gostosa dele.

A distância entre nós não é favorável, porque minha visão panorâmica dele faz meu cérebro entrar em combustão, em fração de segundos! Só sou capaz de perceber sua masculinidade gritante, seu queixo quadrado − não como o do Bob esponja, mas como um traço marcante desse deus da beleza −, o maxilar sedutor, os ombros largos e os braços... Senhor, que braços fortes com veias saltadas são esses?!?! Nem chacoalhando, discretamente, minha cabeça, consigo desviar minha atenção para outras coisas! E a altura dele! Tento tanto disfarçar meu descontrole à sua presença, que meus dentes até doem de tanto que os estou rangendo. Calculo a proporção e distância entre os olhos, altura da testa, simetria entre os dois lados do rosto e até mesmo procuro por manchas de pele, como se isso fosse mostrar algo negativo e má saúde, a indicar maus genes.

Entretanto, nada do que observo nele serve como motivo para uma suposta decepção, que desabone sua beleza! Só tenho consciência de que preciso dar uma resposta para ele e ainda não sei o que dizer... fico ou não fico?

− Fico! – respondo, assim que verifico o volume de suas genitálias, marcadas pelo jeans justo. Acreditem-me que, segundo pesquisas que li, até mesmo as freiras fazem isso, isto é, elas olham para as genitálias dos homens da mesma maneira que faz uma mulher despudorada como eu. Percebo que minha decisão não demorou mais que um segundo depois que notei  o “pacote”, sendo que o Sr. G acabou respondendo rapidinho por mim.

Ao ouvir minha resposta, ele sorri com aqueles lindos dentes brancos, o que me faz imaginar que estou parecendo “pomarola” se levar em consideração o esquentar do meu rosto... Será isto um sinal de que, nesta festa, onde vi várias modelos desfilarem, não há, para ele, mulher melhor do que eu?

Acho que esse foi o meu primeiro sinal verde desde que fugi dele, da primeira vez, depois de lhe sinalizar apenas com o sinal vermelho de “pare” e ficar seduzida pelo sinal amarelo de “atenção”, quando seu corpo fez com que eu lembrasse-me de que apenas mais uma noite poderia ser divertida! A única dúvida diz respeito ao fato de que tenho receio de que ele pense que eu sou até bem interessante e, por isso, ache que poderíamos conhecer um ao outro melhor...

Definitivamente, esta de conhecer melhor não é minha praia! E a maioria dos homens não sabe diferenciar sequer um sorriso verdadeiro de um falso, quanto mais um sorriso com boas de um com más intenções! Apenas um homem em cada trinta sabe ler os sinais femininos e seria justamente ele um desses trinta? Porque, embora eu queira que ele saiba ler que, entre nós dois, só houve e só pode haver sexo, não quero que perceba que meu maior medo é ele saber que foi o único que me fez sentir diferente...


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