Patrícia Alencar Rochetty.
Minha pele
arrepia com suas promessas e meus seios doem, por trás do meu sutiã branco. O
desejo de deixar a toalha cair quando ele abrir esta porta e oferecer-me a ele
é gigante, mas, isso são apenas os impulsos combinados dos meus hormônios com o
Sr. G, que me dão ideias. Meu lado racional, por sua vez, está dizendo para
fugir dele, assim que a porta for aberta.
− Claro que isso já
aconteceu muitas vezes! Inclusive, na semana passada, fiz isso em um
restaurante, contando com a possibilidade de que o garçom mais lindo do local
iria salvar-me! Não sei se você sabe, mas, tenho esse fetiche, planejar
situações em que o homem objeto dos meus desejos venha salvar-me.
− Então, quer
dizer que eu sou objeto de seus desejos, Patrícia? E o que eles fazem depois
que salvam a mocinha trancada no banheiro?
Um líquido
viscoso quente, misturado à pulsação deliciosa de minha ilustre vagina, desliza
por entre minhas pernas. Ele só pode estar louco que vou dizer tudo o que
gostaria que ele fizesse comigo em tal situação! Além do que, nem mortinha vou
admitir que sim, ele é totalmente “O” objeto de meus desejos!
A verdade é que
estou louca para me sentar na pia, espalhar minhas coxas e dar vazão ao imenso
tesão que estou sentido! É um absurdo o grau de excitação que estou sentindo!
Também sou tomada pelo horror e surpresa pela maneira como respondo a ele! Não
vou negar que tal reação, com certeza, trata-se de uma entrega em que minhas
armaduras não são capazes de bloquear e, sim, isto me faz feliz, mas, esse joguinho dele eu também sei jogar!
Se pensa que vou facilitar para ele, ainda não conhece Patrícia Alencar Rochetty.
− Não sei se você
está ciente, mas, no caso de hoje, o príncipe aparentemente designado para mim,
seria o seu amigo Fernando e não você... Mas, vou responder-lhe mesmo assim. Eu
digo-lhes, com toda a graça, obrigada e eles seguem seu rumo. Não sei se seria
o caso do seu amigo, que, cá entre nós, está mais para príncipe do que para
sapo – graças a Deus, consigo ser enfática nas palavras, não deixando que ele
perceba o quanto estou excitada com essa brincadeira. Desde menina, aprendi a
controlar minha respiração para acalmar os nervos, em situações diversas, como
quando me chamavam de gordinha até em situações de negócios, quando um cliente
me irrita.
− Brincadeira sem
graça esta! Primeiro porque tendo a mim, deveria entender que não existe sequer
a menor possibilidade de eu permitir que outro príncipe aproxime-se de você.
Segundo porque, nas minhas brincadeiras, eu sempre mudo o jogo e inverto os
papéis, passando a ser aquele que dita as regras, pois, sob meu comando, uma
menina pode realmente conhecer um mundo encantado do prazer e da plenitude
carnal − suas palavras saíram roucas e sugestivas como promessas eróticas – E,
deixo-lhe claro que, antes deste final de semana acabar, vou provar tudo isso a
você, mas, para tanto, preciso que, primeiro, você consiga passar-me a chave da
porta.
Desta vez, mesmo
com o hábito de muitos anos, não tenho tanto controle ao responder, após essas
suas promessas, com a voz tão nítida quanto antes e o som sai da minha garganta
ofegante.
− Você aposta
alto e se tem em alta conta, porém, na verdade, pode surpreender-se com minha
convicção em manter as minhas regras... – percebo que ainda nem tentei tirar a
chave, com a devida atenção, da porta. Acho que é porque estou gostando desta
brincadeirinha.
− Talvez. Numa
coisa você tem razão, tenho plena confiança no meu desempenho, mas, diferente
do que possa pensar, não imponho minhas regras a nenhuma menina, apenas sou bem
convincente em fazê-las mudarem de ideia, prefiro tudo consensual. Acredito no
prazer para os dois envolvidos na brincadeira sempre. Portanto, seja quais forem
suas regras, estas serão respeitadas por mim, assim que abrir a porta, mas,
reservo-me o direito de não desistir de tentar ser eu a ditá-las, usando de
prazerosa e sensual persuasão, as quais vou mostrar-lhe, pequena.
Ai! Agora que encharquei de vez! Na hora,
lembro-me de uma amiga, chamada Valeria, que, quando quer se referir ao fato de
ela ou alguma menina ficar molhada de tesão, diz que fez “ploft”... porque eu,
neste momento, estou ploft, ploft, ploft... mil vezes ploft.... Putz, garanhão,
pode chamar-me de pequena, transportar-me para seu mundo encantado e fazer-me gigante,
penso comigo! Sem perceber, apenas sussurro:
− Combinado... –
claro que num tom que não seja possível que ele ouça.
− Mas, antes de
fazer nossa brincadeira durar a noite toda, passe-me a chave, porque ainda
temos que dar atenção aos seus sobrinhos pequenos, que já devem estar sentido
sua falta.
Chuto-me,
mentalmente, agora me sentindo literalmente pequena por ter me esquecido disso
tudo por causa dessa névoa de erotismo. Sem chance de eu não atender a esse
pedido razoável dele, depois de agir como uma vadia, louca para transar com
ele. Arranco, com toda a força, a chave e passo-a por baixo da porta.
Mal acabo de
fazer isso, ele, em segundos, abre a porta e eu estremeço ao ver seus olhos de
águia escaneando meu corpo enrolado na toalha. Com apenas um passo, ele
envolve-me em seus braços.
− Alguma vez, um
príncipe disse a você que é a menina mais deliciosa de todos os reinos – as palavras
sussurradas em meus ouvidos são substituídas por seus lábios, que deslizam até
chegarem à minha boca.
Recebo o beijo
mais cheio de promessas e fome de toda a minha vida. Bem, minha resposta não
fica nem um pouco menos intensa, devo admitir. Nós praticamente sugamos um ao
outro com nossas bocas, como se quiséssemos extrair e dar todo o prazer do
mundo um ao outro. Após o que, para mim, parecem horas, ele sussurra:
− Deliciosa
brincadeira espera por nós dois. Estou aguardando, ansioso, por sua decisão
para poder começar.
Suas mãos bobas tateiam
por todo o meu corpo e eu dou um meio sorriso, ainda incerta. Tirando forças de
não sei de onde, para escapar desse clima quente e insano, endireito meus
ombros moles e, delicadamente, tiro suas mãos que agarram minha toalha e digo:
− Espere-me com
seus convidados, pois preciso vestir-me.
Carlos Tavares Junior...
Ela vai ser
minha!
Eu até poderia
ter seguido com o nosso jogo de prazer, absorto naquele seu perfume que está,
agora, impregnado em minha pele. Mas, sua clara postura de desejo não foi mais
forte que a doce fragilidade que ostentou por ter se sentido desamparada e
desprotegida enquanto ficou presa. E foi justamente isso que me deu forças para
recuperar minha lucidez, antes de fazer o que meu pau mandava, isto é, fodê-la
duro e forte, fazê-la gritar até estourar seus miolos. Eu teria sido seria um
bastardo e desalmado ao me aproveitar dessa sua vulnerabilidade. Quero-a muito,
em meus braços e entregue a mim, mas, do jeito que tem que ser... No momento
certo... Ela já fugiu várias vezes e, se tivesse acontecido algo a mais, agora,
ela faria como todas as outras vezes e fugiria novamente.
Porra! Isso vai
ser mais complicado do que pensei, mesmo que eu adore um desafio e ela seja tudo
o que sempre quis pra mim. Como assim? Que pensamento foi esse agora? Que
história é essa de ela ser tudo o que sempre quis para mim? Acho que minha
frustração sexual está deixando minha mente atrapalhada na hora de ordenar meus
pensamentos...
Retorno à festa,
satisfeito por ter ao menos uma esperança de continuar nossa brincadeira, mais
tarde, no meu quarto do anexo dos fundos, que já está devidamente preparado
para recebê-la.
Percebo
exatamente quando ela chega, mas, claro, ignora-me e vai direto em direção aos
seus amigos. Fico entretido, entre um assunto e outro, com alguns convidados, mas,
sem deixar de segui-la o tempo todo, analisando seu comportamento. Incomoda-me
o fato de o Nandão mostrar-se muito simpático com ela. Ele faz questão de me
provocar, testando meus limites. Minha concentração não se desvia dela um só
minuto, atentando para cada nuance de seu comportamento, sua linguagem
corporal, palavras, gestos infantis quando brinca com as crianças, com as quais
mostra-se estar super à vontade. Nossos olhos encontram-se o tempo todo e
consigo ver a janela de sua alma desejosa, o que mantém meus batimentos
cardíacos fortes e rápidos, em meu peito, assim como as veias saltadas, em meu
pescoço. Tal reação faz-me ter certeza de que ela pode ser um inimigo respeitável,
com o qual não posso ficar desprevenido, porque, uma vez que se cai dentro do
buraco negro da paixão, é inevitável não agir com a razão.
Chacoalho a
cabeça, tentando dispersar esses pensamentos relacionados à atração
sentimental, pois meu lance, como sempre, é físico. Já estive, um dia, envolvido
em sentimentos amorosos, mesmo que tenham sido paternais, e, garanto, a
experiência não foi nada boa.
Provocante, ela
desafia-me a cada minuto, empinando sua linda bunda redonda, quando apanha algo
no chão e olha para mim, como se a dizer: “isso pode ser seu, mas, ainda
não neste momento... Lambe os dedos, conforme vai comendo um pedaço
de carne, encara-me, como a demonstrar: “posso fazer o mesmo por você,
mas, vai ter que implorar”.
Não precisa emitir qualquer palavra, apenas seu olhar conversa com o
meu, numa inebriante mensagem corporal. Ela tem consciência de sua sensualidade
e não é hipócrita quanto a isso, usa-a descaradamente para me manter preso a
ela. E tem absoluto sucesso.
Cativante, ela
solta seu cabelo, amarrado em um coque desgrenhado, olha para mim como se
estivesse vendo o fundo da minha alma, com seus olhos com brilho dourado em
volta da sua íris, escancara um sorriso ordinário, enquanto amarra o elástico
em um rabo de cavalo e insinua: “estou pronta para que você o
puxe até me fazer gozar”.
Não me lembro de
nenhuma outra mulher provocar-me tanto, lançando-me numa verdadeira batalha e
duelo entre a razão e o coração. Ela não abandona seu jogo, em nenhum momento,
nem quando me vê conversando com algumas amigas, no decorrer da festa. Isto a motiva ainda mais a querer desafiar-me,
a ponto de até tentar limpar uma sujeira imaginária no ombro do Nandão, o que,
se for uma estratégia dela para me deixar com ciúmes, atingiu o alvo, pois fico
louco com isso! Não quero que ela toque mais nenhum outro homem.
Essa mulher tem o
poder de destruir meus nervos, bagunçar os meus sentidos, tornando-me até um
necessitado indigente de sua atenção. Ao mesmo tempo, percebo a fúria e o
vermelho que toma conta de suas bochechas, quando uma amiga de foda, de alguns
anos, abraça-me, um pouco mais atrevida, e sussurrando em meu ouvido:
− Carlos, estou
sem teto e adoraria abrigar-me em seus lençóis esta noite.
− Uma pena –
respondo-lhe −, eles já estão ocupados envolvendo uma amiga, entretanto, não me
esquecerei deste pedido, pequena! – pego-me dando despachando a menina, sem ao
menos ter certeza se Patrícia vai aceitar ou não passar a noite comigo e, de
repente, fico enfurecido ao ter consciência disso! O que é isso, Carlos? Quando
foi que rejeitou uma bela menina? Nunca!!! Minhas noites, depois de grandes
festas, sempre acabaram numa boa boemia prazerosa de sons de gemidos emitidos
pelas minhas meninas. Sempre persegui isso, como o sonhador que procura o pote
no fim do arco-íris, porém agora, estou aqui, apenas querendo ter a
oportunidade de, novamente, chegar perto dela e levá-la junto comigo.
É notório o seu desconforto ao me ver
conversando com a Luiza, mal sabendo ela que dispensei uma grande foda por ela.
Mas, o desastre eminente começa a ser prenunciado no momento em que o DJ, que
está fazendo a animação da festa, coloca uma sessão de musicas românticas. O
primeiro indício é quando percebo, de longe que o Marco e a Bárbara pegam as
crianças no colo e caminham em minha direção, depois de falar com o Nandão e
com ela, deixando-os sozinhos, pois, para o casal, ele é o verdadeiro candidato
a “príncipe encantado”.
− Carlos, estamos
contentes com o convite de nos hospedarmos aqui. A festa está bem animada e
decidimos ficar, portanto, vamos colocar as crianças para descansar. Eles estão
exaustos. Também quero aproveitar e agradecer a gentileza de contratar uma babá
para as crianças – o Marco diz, mas, no fundo, percebo, sua desconfiança pela
minha gentileza excessiva.
− Não foi
gentileza, o Nandão contou-me a respeito da grande amizade que tem por você e
só quis proporcionar um ambiente agradável para vocês todos. Quanto aos
cuidados e preocupações, agradeça à minha secretária, que foi quem
verdadeiramente cuidou de tudo para que meus hóspedes sintam-se à vontade.
Estou feliz por aceitaram o convite.
− Na verdade, ainda
não decidimos se vamos passar a noite aqui. O que o Marcos quis dizer é que
vamos ficar um pouco mais e aproveitar esta festa deliciosa. Vamos colocar as
crianças para dormir e, logo, voltamos – a Bárbara olha na direção da minha
quimera e mostra-me o que eu, definitivamente, não queria ver – Acho que a
noite será divertida, pois a Patrícia é muito animada para festas – ela comenta,
divertida, e eu nem sei o que respondo a eles, pois meus instintos dominadores
surtam com a visão da mão do Nandão na cintura dela, conduzindo-a, ao som da música.
Sempre tive um relacionamento
de camaradagem com o Nandão e somos amigos desde sempre, mas, não hesitarei em
enfiar um murro na cara dele caso mexa aquela mão grande um só milímetro. Meus
olhos estão concentrados em sua mão e, quando nossos olhos encontram-se, ele
pisca para mim, provocando-me com seu olhar zombador. A melodia explode e o
fanfarrão debruça-a para traz, para que nossos olhos possam encontrar-se
também. Ela continua a me provocar, olhando diretamente para mim, e balançando
seu quadril que quase roça nos do Nandão. Ao voltar à posição vertical,
abraça-o pelo pescoço e começa a dançar de maneira insinuante, que pode tirar
até um santo dos eixos. Ele volta a olhar para minha cara assassina e fita-me,
como se a mandar uma mensagem. Conheço esse jogo dele, ele quer desfrutar dela
junto comigo, mas, se tem uma coisa que nunca fiz, mesmo ele insistindo, no
decorrer dos anos, é compartilhar o que é meu. E, no que diz respeito à
Patrícia, decididamente, não há qualquer nem mais remota possibilidade de isso
acontecer mesmo, porque ela é irrevogavelmente só minha, o que ficará bastante
claro para ela e para quem quer que queira aproximar-se dela, o mais rápido do
que até eu mesmo possa imaginar, porque sou tomado por uma fúria tão grande,
que nada nem ninguém pode aplacar e trazer-me à razão enquanto não fizer isso.
Caminho em direção a eles e, inescrupulosamente,
puxo-a para meus braços, sem dar chance para que o Nandão faça qualquer
reivindicação ou fale qualquer coisa. Percebendo o estado em que me encontro,
entende o meu recado e afasta-se. Nesse momento, começa uma música (http://www.vagalume.com.br/joe-cocker/up-where-we-belong-traducao.html) e trago-a, de
maneira firme e dura, mais para junto de mim, de maneira a não deixar nenhum
espaço entre nossos corpos.
− Você não po...
– Posso, quero e vou! Por isso,
nem a deixo continuar e tomo-a com beijos alucinantes, sentindo sua boca
saborosa, que é exatamente como me lembro, em meus sonhos. Seu sabor, aliado à sua
excitação, que se revela por seus pelos arrepiados sob minhas mãos conforme
seguro-a por seus braços, que tentam debater-se para se livrar de mim, mostram que
está tomada por desejos que abalam o corpo junto ao meu.
Minha ousadia não me causa
arrependimento algum, principalmente conforme sinto que ela clama por mais
atrevimento. Mesmo ainda tentando resistir a mim, ela deixa-me confuso com a
maneira com que seu corpo responde a mim. Aliás, acho que até ela mesma está
confusa, como se sua reação a estivesse surpreendendo como a minha vem
surpreendendo a mim. Conforme a música vai evoluindo, nossos corpos buscam-se, dançam
e estimulam-se e nossos corações pulsam na mesma sintonia. Sinto isso,
nitidamente, quando enlaço seu pescoço com uma das minhas mãos. Com uma
expressão de desprotegida, a atrevida permite que minha outra mão deslize por
seu corpo.
− Hoje, você pertence a mim –
consigo rosnar as palavras para ela, depois de engolir, em seco, todas as suas
provocações desta noite.
− Não!!!
− Sim!!! – sinto exalar, de meus
poros, o angustiante desejo de domínio, o que é uma coisa inusitada em mim e
que sempre julguei algo pré-histórico.
− Não fui, não sou e não serei seu
brinquedinho de uma noite! Você manda nos seus funcionários, não em mim – percebo,
em cada palavra que profere, através de seus olhos, seus medos e receios mais
secretos, e esse seu jeito arredio é maravilhoso e encantador. É inesgotável a
sua persistência em me dizer não, quando quer, na verdade, dizer-me sim.
Patrícia Alencar Rochetty...
Imagina se vou deixar o Carlos acreditar
que pode mandar em mim!! Nem mortinha!! Quem tem o controle, aqui, sou eu. Ou
não? Assim como as nuvens desfilam, engatinhando, sem pernas e sem chão, sob o
céu, encharcadas das águas de um mar salgado, sem nunca tocá-lo, e ainda ser
doce... Eu, por outro lado, estou aqui, tentando engatinhar, querendo dar os
primeiros passos, sem querer ousar usar o andador que me está sendo oferecido.
Este homem vai contra tudo que abomino num ser humano, ele é mandão,
autoritário e só sabe ditar as regras e comandar todas as minhas terminações
nervosas. Senhora dos hormônios desmiolados, socorra-me...
Caramba! Essa batalha entre meu
corpo e meus medos estão fazendo com que eu fique totalmente confusa e sem
saber o que fazer! Não vou ser hipócrita e fingir que não estou louca para me
jogar nessa transa desvairada e quente com o Carlos, mas, este homem está
atropelando qualquer coisa que fique entre mim e ele, fazendo com que eu oscile
entre o ódio e o desejo, em questão de segundos! Após essa sua atitude pré-histórica,
em que só faltou ele urrar bem alto, bater no peito e gritar “Uga Uga”, fico
desnorteada, sem ter a menor ideia de como agir, diante de sua postura
possessiva e autoritária! Minha raiva é tanta que até parece que vou perder o
fôlego! Abro os olhos e percebo que ainda estou respirando, que o mundo não
parou e que, inclusive, as mãos mágicas dele serpenteiam pelo meu corpo, com
maestria, como músicos que produzem as notas musicais de meu corpo, a me dizerem:
Dó (é o que meus sentidos têm por minhas
tentativas de resistir a ele)
Ré (é o que minhas muralhas dizer para
meu corpo fazer, isto é, recuar e fugir)
Mi (engana que eu gosto, que nem morta
vou conseguir isso, com essas mãos)
Fa (ça, então, com que eu flutue)
Sol (é quão quente será nosso sexo)
La (na cama dele)
Si (nto que estou completamente perdida)
Vamos parar com essa bagunça de
notas musicais, pois já me convenci de que ele sabe os ritmos que meu corpo gosta,
como me fazer produzir os sons de desejos e os sons inigualáveis, inusitados e
fantásticos da satisfação sexual, o que ficou mais do que provado na noite que
passamos juntos.
Nem sei se dançamos duas ou três músicas
nem, tampouco se executamos algum passo de dança, porque o que nos move é o
balanço incansável de nossos corpos que se exploram. Se alguém estiver
prestando atenção a nós, certamente dirá que estamos dando um show pornográfico,
mas, não estou nem aí... Aliás, não estou nem aqui porque, neste momento, estou
em órbita, juntamente com o Sr. G, louca
para reencontrar a pistola das galáxias.
− Por que fugiu de mim?
Lá vem ele com esse assunto de
fuga! Será que não percebe que eu estava voando com o vento e caminhando entre
as nuvens? Tem que me puxar pela cordinha? Viu só, Sr. G, ele puxa a cordinha
igual a mim quando puxo a cordinha do absorvente interno, a diferença é que eu
puxo para a higiene e ele puxa para mostrar que eu e você somos uns bobos que
se rendem a ele.
− Por que você acha que fugi? Pelo
que me consta, eu não morava lá e, uma hora, eu teria que ir embora! E, vamos
combinar, o galo da sua casa é muito chato! Ele praticamente me expulsou com o
seu cocoricó. Cheguei até a pensar que é um trato de vocês dois para fazerem
suas transas irem embora logo...
− Bem, para provar que não é nada
disso, assim que eu descobrir qual deles fez isso, farei com que ele vire canja
– ele brinca com o assunto ou, melhor, eu quero acreditar que isso só pode ser
uma brincadeira.
− Você não faria isso...
− Faria, sim, se foi esse infeliz
que te levou para longe de mim! Na verdade, por enquanto, pode considerar-se feliz,
não vou saber identificar qual deles fez isso!
− Coitadinho!
− Coitadinho de mim, que fiquei
dias procurando por você – ele procurou-me? Conta outra, né? Ah, nem vou ficar
remoendo isto, agora! A única coisa que me interessa é provar a esse ordinário
do Sr. G que a cisma dele com o cara é pura ilusão.
− E, agora, que me encontrou? – a insinuação
na pergunta não passa despercebida por ele, cuja reação é colar seu corpo mais
ao meu, fazendo com que, imediatamente, meus seios quase furem o tecido de
minha camiseta.
Com voz rouca e dura, ele diz:
− Agora, que te encontrei, vou
descobrir cada pinta escondida no seu corpo – provocante, ele endossa as
palavras, soprando no meu ouvido e deslizando suas mãos dos meus ombros até a
base de minha coluna – Quero fazer inventar mil maneiras de fazer você gritar
meu nome, em êxtase. E, quando acordar, quero tê-la em meus braços, sem fugas.
E vou começar a fazer tudo isso, por nós dois, hoje à noite! Não adianta,
Patrícia, você não tem como escapar!
− Seguro de si, você, hein? –
sussurro, queimando de desejo. Meu olhar não consegue desviar de sua boca. Percebo
que minha respiração seguinte sai com muito esforço, obstruída pelo desejo e
pela força que estou fazendo para emitir uma recusa. Se eu seguir por esse
caminho com ele, pode ser que eu novamente caia. Tento cravar as unhas nas
palmas das minhas mão para voltar a mim mesma e conseguir resgatar alguma
sanidade, recorrendo às minhas barreiras, construídas durante todos estes anos.
Ele percebe que me contraio um
pouco e, franzindo sua testa, desliza um dedo por minha face direita, em
direção ao meu olho, obviamente, para fazer um carinho. Hipnotizada pelo
predador que ele é, levo alguns segundos
para perceber suas verdadeiras intenções e reagir.
— Por que cismou comigo? Você teve
tanto tempo para me encontrar e não o fez. Não precisa, agora, fazer-me
carinho, já que sua única intenção com relação a mim é a de me levar para a
cama! — meu lado sentimental precisa saber o porquê, mesmo sabendo que, nesta
situação, não existe um culpado.
Seu dedo tira algo, próximo do meu
olho.
— Sinto muito, não foi um carinho,
mesmo eu tendo a vontade imensa de lhe fazer carinho por todo o seu corpo, mas,
você tem um cílio caído na face, só o estou tirando...
Eita! Minha presunção fez com que
eu fosse humilhada! Abaixo a cabeça para esconder o vermelho pomarola que, com
certeza, invadiu meu rosto. Não preciso nem levantar os olhos para saber que a
diversão está estampada no seu sorriso de lado. Como se ele se importasse. Mas,
ele não se manifesta e nem sequer fala nada. Com ele, tudo é assim, uma
confusão de emoção e drama, comigo sempre com o maior medo de ser apenas o seu
brinquedinho da noite em amanhã... Aí, amanhã... Ora, amanhã não vou ter coragem
de olhar para o Marco e a Bárbara, depois deste show de sedução que estamos
dando. Meus olhos vagam pelo lugar, febrilmente, e eu já vi que estou sendo
observada não só por eles, mas, na verdade, estamos sendo observados por uma
plateia.
− Estamos sendo observados – falo,
tentando desviar a atenção do meu fora.
− Eu gosto de ser observado. Em
todos os aspectos. Principalmente quando tenho, em meus braços, a mulher mais
linda da ilha, com a pinta mais charmosa do mundo.
Bufo com a sua ousadia! Agora
virei um troféu?
− Foi por isso que me tirou dos
braços do seu amigo? Para mostrar a todos o que pode fazer com uma mulher?
Esperava mais de você, mas, vejo que todas as suas estradas levam-no somente ao
sexo.
Pela sua carranca, isso o afetou.
Ele levanta uma das sobrancelhas, num gesto, claro, muito sensual, e surpreende-me.
− Em primeiro lugar, não tirei
você dos braços dele, eu tomei você dos braços dele, porque você é minha! Em
segundo lugar, há algo de errado em querer fazer sexo com você, uma menina
linda, inteligente, gostosa e que me deixa louco de tesão?
Não posso acreditar nisso! Ser
direto excita-o? Então, vamos ver até onde... Lentamente, paro a centímetros de
sua boca. Sinto-o prender a respiração, então, expira o ar preso, com cheiro
mentolado junto com desejo do pecado.
Minha língua desliza para fora, lambendo o seu lábio inferior. Ele deixa
escapar um pequeno gemido. Esfrego, disfarçadamente, minha pélvis na sua
evidente excitação... Minha mão repousa sobre os músculos das suas costas,
arranhando-os, sedutoramente, e aperto-os, dizendo:
− Não há nada de errado com o
sexo, principalmente quando os dois querem a mesma coisa, porém, não estou a fim,
hoje, então, todo o seu esforço foi em vão.
− Não é o que seu corpo diz − sua
voz sai frustrada.
− Você tem que entender que sou
madura o suficiente para não ser escrava dos desejos do meu corpo e que minha
mente é quem comanda o que eu quero ou não – afasto-me dele, na esperança de que o corretivo serviu-lhe.
Pretensioso de uma figa! Volto o olhar para a protuberância da sua calça. Isto
está sendo bem divertido, isto é, ver sua cara de cachorro abandonado deixa-me mais
motivada a desafiá-lo, não porque provocar um homem e afastar-me, no mesmo
instante, seja uma coisa que eu ache legal de fazer, mas, por causa da atitude
troglodita dele, sinto-me compelida a fazer isso e muito poderosa ao perceber o
quanto o afeto – Não vai rolar sexo, hoje, garanhão!
− Posso saber por quê?
Agora quer saber por quê? Primeiro
pega-me, joga-me na parede, chama-me de lagartixa, ao me mostrar, a noite
inteira que não passo de mais que um
corpinho sob seu olhar de Don Juan! Depois, apenas me diz que só quer sexo e,
agora, ainda quer saber por quê não quero?
Com um quê de sarcasmo, sorrio para ele.
– Um pênis ereto não é suficiente
para me convencer. Qualquer um é capaz de ficar assim. Você precisa fazer
melhor do que isso, Carlos Tavares Junior.
Agora, quem bufa é ele.
– Precisamos de mais, então?
Caraca, acho que cutuquei a onça
com vara curta pela sua expressão predatória! Parece que ele interpreta o meu
não como se fosse um sim desafiador, pelos brilhos do seus olhos. Dou um passo para
trás, sentindo toda a zona de perigo, mas, já é tarde.
Ele move-se tão rápido, que meu
pequeno passo de formiguinha não é frente sua agilidade de Papa-léguas. A fome com que me toma nos seus braços, com o beijo
mais avassalador de minha vida, quebra todas minhas armas e subtrai todas as
minhas munições, de forma implacável... Acaba não, mundão! Inegavelmente, ele deu-me
o “mais”, conseguiu convencer-me...
− Vem comigo?
− Preciso falar com meus amigos − uma
ruga pequena marca sua testa e tenho a sensação desconfortável de que ele está
pronto para derrubar todas as minhas objeções.
− Não precisa, eles já viram o
suficiente para saber que estará ocupada por esta noite.
− Não funciono assim – um brilho
de dúvida ensombrece seus olhos.
− Como você funciona? Estou louco
para ver – qualquer palavra emitida por ele remete-nos a sexo! Esse homem não é
de Deus!
− Não quis dizer o que sua cabeça
maliciosa está imaginando – ralho, de maneira a me impor − Eu vou falar com a Bárbara.
− Estarei junto – ele faz uma
pausa para que suas ordens sejam absorvidas por mim – Não teremos nossas mãos separadas
nem mesmo por uma bomba nuclear.
Bomba? Eu tenho é fogos de
artifícios sendo explodidos pelo Sr. G, a cada segundo que ele ouve a voz do Carlos.
Não preciso dizer muito à Bárbara sobre a minha decisão de dar um passeio com
Carlos. A promessa dele de não separarmos nossas mãos foram cumpridas, mesmo quando
ele conversa com o Nandão e com o Marco, enquanto falo com a Bárbara, por
segundos. Esta, por códigos, aprova e apoia minha decisão, uma vez que as
palavras não poderiam ser ditas, explicitamente, por ele estar tão próximo.
− Vamos? –despedimo-nos dos nossos
amigos e, com um apenas um aceno de cabeça, concordo. Será que esta sou eu? Que
poder que este homem tem sobre mim?
Rajadas de calor envolvem todas as
partes do meu corpo, conforme ele toca minha cintura, conduzindo-me pelo
caminho que ele toma.
− Posso saber para onde vamos?
− Vamos ficar aqui mesmo.
− Aqui?
− Aqui, num cantinho muito especial
–contorço-me com a menção ao cantinho especial.
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