sexta-feira, 20 de março de 2015

Sr. G - Capítulo 16 - 2ª Parte


Patrícia Alencar Rochetty.

Minha pele arrepia com suas promessas e meus seios doem, por trás do meu sutiã branco. O desejo de deixar a toalha cair quando ele abrir esta porta e oferecer-me a ele é gigante, mas, isso são apenas os impulsos combinados dos meus hormônios com o Sr. G, que me dão ideias. Meu lado racional, por sua vez, está dizendo para fugir dele, assim que a porta for aberta.

− Claro que isso já aconteceu muitas vezes! Inclusive, na semana passada, fiz isso em um restaurante, contando com a possibilidade de que o garçom mais lindo do local iria salvar-me! Não sei se você sabe, mas, tenho esse fetiche, planejar situações em que o homem objeto dos meus desejos venha salvar-me.

− Então, quer dizer que eu sou objeto de seus desejos, Patrícia? E o que eles fazem depois que salvam a mocinha trancada no banheiro?

Um líquido viscoso quente, misturado à pulsação deliciosa de minha ilustre vagina, desliza por entre minhas pernas. Ele só pode estar louco que vou dizer tudo o que gostaria que ele fizesse comigo em tal situação! Além do que, nem mortinha vou admitir que sim, ele é totalmente “O” objeto de meus desejos!

A verdade é que estou louca para me sentar na pia, espalhar minhas coxas e dar vazão ao imenso tesão que estou sentido! É um absurdo o grau de excitação que estou sentindo! Também sou tomada pelo horror e surpresa pela maneira como respondo a ele! Não vou negar que tal reação, com certeza, trata-se de uma entrega em que minhas armaduras não são capazes de bloquear e, sim, isto me faz feliz,  mas, esse joguinho dele eu também sei jogar! Se pensa que vou facilitar para ele, ainda não conhece Patrícia Alencar Rochetty.

− Não sei se você está ciente, mas, no caso de hoje, o príncipe aparentemente designado para mim, seria o seu amigo Fernando e não você... Mas, vou responder-lhe mesmo assim. Eu digo-lhes, com toda a graça, obrigada e eles seguem seu rumo. Não sei se seria o caso do seu amigo, que, cá entre nós, está mais para príncipe do que para sapo – graças a Deus, consigo ser enfática nas palavras, não deixando que ele perceba o quanto estou excitada com essa brincadeira. Desde menina, aprendi a controlar minha respiração para acalmar os nervos, em situações diversas, como quando me chamavam de gordinha até em situações de negócios, quando um cliente me irrita.

− Brincadeira sem graça esta! Primeiro porque tendo a mim, deveria entender que não existe sequer a menor possibilidade de eu permitir que outro príncipe aproxime-se de você. Segundo porque, nas minhas brincadeiras, eu sempre mudo o jogo e inverto os papéis, passando a ser aquele que dita as regras, pois, sob meu comando, uma menina pode realmente conhecer um mundo encantado do prazer e da plenitude carnal − suas palavras saíram roucas e sugestivas como promessas eróticas – E, deixo-lhe claro que, antes deste final de semana acabar, vou provar tudo isso a você, mas, para tanto, preciso que, primeiro, você consiga passar-me a chave da porta.

Desta vez, mesmo com o hábito de muitos anos, não tenho tanto controle ao responder, após essas suas promessas, com a voz tão nítida quanto antes e o som sai da minha garganta ofegante.

− Você aposta alto e se tem em alta conta, porém, na verdade, pode surpreender-se com minha convicção em manter as minhas regras... – percebo que ainda nem tentei tirar a chave, com a devida atenção, da porta. Acho que é porque estou gostando desta brincadeirinha.

− Talvez. Numa coisa você tem razão, tenho plena confiança no meu desempenho, mas, diferente do que possa pensar, não imponho minhas regras a nenhuma menina, apenas sou bem convincente em fazê-las mudarem de ideia, prefiro tudo consensual. Acredito no prazer para os dois envolvidos na brincadeira sempre. Portanto, seja quais forem suas regras, estas serão respeitadas por mim, assim que abrir a porta, mas, reservo-me o direito de não desistir de tentar ser eu a ditá-las, usando de prazerosa e sensual persuasão, as quais vou mostrar-lhe, pequena.

  Ai! Agora que encharquei de vez! Na hora, lembro-me de uma amiga, chamada Valeria, que, quando quer se referir ao fato de ela ou alguma menina ficar molhada de tesão, diz que fez “ploft”... porque eu, neste momento, estou ploft, ploft, ploft... mil vezes ploft.... Putz, garanhão, pode chamar-me de pequena, transportar-me para seu mundo encantado e fazer-me gigante, penso comigo! Sem perceber, apenas sussurro:

− Combinado... – claro que num tom que não seja possível que ele ouça.

− Mas, antes de fazer nossa brincadeira durar a noite toda, passe-me a chave, porque ainda temos que dar atenção aos seus sobrinhos pequenos, que já devem estar sentido sua falta.

Chuto-me, mentalmente, agora me sentindo literalmente pequena por ter me esquecido disso tudo por causa dessa névoa de erotismo. Sem chance de eu não atender a esse pedido razoável dele, depois de agir como uma vadia, louca para transar com ele. Arranco, com toda a força, a chave e passo-a por baixo da porta.

Mal acabo de fazer isso, ele, em segundos, abre a porta e eu estremeço ao ver seus olhos de águia escaneando meu corpo enrolado na toalha. Com apenas um passo, ele envolve-me em seus braços.

− Alguma vez, um príncipe disse a você que é a menina mais deliciosa de todos os reinos – as palavras sussurradas em meus ouvidos são substituídas por seus lábios, que deslizam até chegarem à minha boca.

Recebo o beijo mais cheio de promessas e fome de toda a minha vida. Bem, minha resposta não fica nem um pouco menos intensa, devo admitir. Nós praticamente sugamos um ao outro com nossas bocas, como se quiséssemos extrair e dar todo o prazer do mundo um ao outro. Após o que, para mim, parecem horas, ele sussurra:

− Deliciosa brincadeira espera por nós dois. Estou aguardando, ansioso, por sua decisão para poder começar.

Suas mãos bobas tateiam por todo o meu corpo e eu dou um meio sorriso, ainda incerta. Tirando forças de não sei de onde, para escapar desse clima quente e insano, endireito meus ombros moles e, delicadamente, tiro suas mãos que agarram minha toalha e digo:

− Espere-me com seus convidados, pois preciso vestir-me.

Carlos Tavares Junior...

Ela vai ser minha!

Eu até poderia ter seguido com o nosso jogo de prazer, absorto naquele seu perfume que está, agora, impregnado em minha pele. Mas, sua clara postura de desejo não foi mais forte que a doce fragilidade que ostentou por ter se sentido desamparada e desprotegida enquanto ficou presa. E foi justamente isso que me deu forças para recuperar minha lucidez, antes de fazer o que meu pau mandava, isto é, fodê-la duro e forte, fazê-la gritar até estourar seus miolos. Eu teria sido seria um bastardo e desalmado ao me aproveitar dessa sua vulnerabilidade. Quero-a muito, em meus braços e entregue a mim, mas, do jeito que tem que ser... No momento certo... Ela já fugiu várias vezes e, se tivesse acontecido algo a mais, agora, ela faria como todas as outras vezes e fugiria novamente.

Porra! Isso vai ser mais complicado do que pensei, mesmo que eu adore um desafio e ela seja tudo o que sempre quis pra mim. Como assim? Que pensamento foi esse agora? Que história é essa de ela ser tudo o que sempre quis para mim? Acho que minha frustração sexual está deixando minha mente atrapalhada na hora de ordenar meus pensamentos...

Retorno à festa, satisfeito por ter ao menos uma esperança de continuar nossa brincadeira, mais tarde, no meu quarto do anexo dos fundos, que já está devidamente preparado para recebê-la.

Percebo exatamente quando ela chega, mas, claro, ignora-me e vai direto em direção aos seus amigos. Fico entretido, entre um assunto e outro, com alguns convidados, mas, sem deixar de segui-la o tempo todo, analisando seu comportamento. Incomoda-me o fato de o Nandão mostrar-se muito simpático com ela. Ele faz questão de me provocar, testando meus limites. Minha concentração não se desvia dela um só minuto, atentando para cada nuance de seu comportamento, sua linguagem corporal, palavras, gestos infantis quando brinca com as crianças, com as quais mostra-se estar super à vontade. Nossos olhos encontram-se o tempo todo e consigo ver a janela de sua alma desejosa, o que mantém meus batimentos cardíacos fortes e rápidos, em meu peito, assim como as veias saltadas, em meu pescoço. Tal reação faz-me ter certeza de que ela pode ser um inimigo respeitável, com o qual não posso ficar desprevenido, porque, uma vez que se cai dentro do buraco negro da paixão, é inevitável não agir com a razão. 

Chacoalho a cabeça, tentando dispersar esses pensamentos relacionados à atração sentimental, pois meu lance, como sempre, é físico. Já estive, um dia, envolvido em sentimentos amorosos, mesmo que tenham sido paternais, e, garanto, a experiência não foi nada boa.

Provocante, ela desafia-me a cada minuto, empinando sua linda bunda redonda, quando apanha algo no chão e olha para mim, como se a dizer: “isso pode ser seu, mas, ainda não neste momento... Lambe os dedos, conforme vai comendo um pedaço de carne, encara-me, como a demonstrar: “posso fazer o mesmo por você, mas, vai ter que implorar”.  Não precisa emitir qualquer palavra, apenas seu olhar conversa com o meu, numa inebriante mensagem corporal. Ela tem consciência de sua sensualidade e não é hipócrita quanto a isso, usa-a descaradamente para me manter preso a ela. E tem absoluto sucesso.

Cativante, ela solta seu cabelo, amarrado em um coque desgrenhado, olha para mim como se estivesse vendo o fundo da minha alma, com seus olhos com brilho dourado em volta da sua íris, escancara um sorriso ordinário, enquanto amarra o elástico em um rabo de cavalo e insinua: “estou pronta para que você o puxe até me fazer gozar”. 

Não me lembro de nenhuma outra mulher provocar-me tanto, lançando-me numa verdadeira batalha e duelo entre a razão e o coração. Ela não abandona seu jogo, em nenhum momento, nem quando me vê conversando com algumas amigas, no decorrer da festa.  Isto a motiva ainda mais a querer desafiar-me, a ponto de até tentar limpar uma sujeira imaginária no ombro do Nandão, o que, se for uma estratégia dela para me deixar com ciúmes, atingiu o alvo, pois fico louco com isso! Não quero que ela toque mais nenhum outro homem.

Essa mulher tem o poder de destruir meus nervos, bagunçar os meus sentidos, tornando-me até um necessitado indigente de sua atenção. Ao mesmo tempo, percebo a fúria e o vermelho que toma conta de suas bochechas, quando uma amiga de foda, de alguns anos, abraça-me, um pouco mais atrevida, e sussurrando em meu ouvido:

− Carlos, estou sem teto e adoraria abrigar-me em seus lençóis esta noite.

− Uma pena – respondo-lhe −, eles já estão ocupados envolvendo uma amiga, entretanto, não me esquecerei deste pedido, pequena! – pego-me dando despachando a menina, sem ao menos ter certeza se Patrícia vai aceitar ou não passar a noite comigo e, de repente, fico enfurecido ao ter consciência disso! O que é isso, Carlos? Quando foi que rejeitou uma bela menina? Nunca!!! Minhas noites, depois de grandes festas, sempre acabaram numa boa boemia prazerosa de sons de gemidos emitidos pelas minhas meninas. Sempre persegui isso, como o sonhador que procura o pote no fim do arco-íris, porém agora, estou aqui, apenas querendo ter a oportunidade de, novamente, chegar perto dela e levá-la junto comigo.

 É notório o seu desconforto ao me ver conversando com a Luiza, mal sabendo ela que dispensei uma grande foda por ela. Mas, o desastre eminente começa a ser prenunciado no momento em que o DJ, que está fazendo a animação da festa, coloca uma sessão de musicas românticas. O primeiro indício é quando percebo, de longe que o Marco e a Bárbara pegam as crianças no colo e caminham em minha direção, depois de falar com o Nandão e com ela, deixando-os sozinhos, pois, para o casal, ele é o verdadeiro candidato a “príncipe encantado”.

− Carlos, estamos contentes com o convite de nos hospedarmos aqui. A festa está bem animada e decidimos ficar, portanto, vamos colocar as crianças para descansar. Eles estão exaustos. Também quero aproveitar e agradecer a gentileza de contratar uma babá para as crianças – o Marco diz, mas, no fundo, percebo, sua desconfiança pela minha gentileza excessiva.

− Não foi gentileza, o Nandão contou-me a respeito da grande amizade que tem por você e só quis proporcionar um ambiente agradável para vocês todos. Quanto aos cuidados e preocupações, agradeça à minha secretária, que foi quem verdadeiramente cuidou de tudo para que meus hóspedes sintam-se à vontade. Estou feliz por aceitaram o convite.

− Na verdade, ainda não decidimos se vamos passar a noite aqui. O que o Marcos quis dizer é que vamos ficar um pouco mais e aproveitar esta festa deliciosa. Vamos colocar as crianças para dormir e, logo, voltamos – a Bárbara olha na direção da minha quimera e mostra-me o que eu, definitivamente, não queria ver – Acho que a noite será divertida, pois a Patrícia é muito animada para festas – ela comenta, divertida, e eu nem sei o que respondo a eles, pois meus instintos dominadores surtam com a visão da mão do Nandão na cintura dela, conduzindo-a, ao som da música.

Sempre tive um relacionamento de camaradagem com o Nandão e somos amigos desde sempre, mas, não hesitarei em enfiar um murro na cara dele caso mexa aquela mão grande um só milímetro. Meus olhos estão concentrados em sua mão e, quando nossos olhos encontram-se, ele pisca para mim, provocando-me com seu olhar zombador. A melodia explode e o fanfarrão debruça-a para traz, para que nossos olhos possam encontrar-se também. Ela continua a me provocar, olhando diretamente para mim, e balançando seu quadril que quase roça nos do Nandão. Ao voltar à posição vertical, abraça-o pelo pescoço e começa a dançar de maneira insinuante, que pode tirar até um santo dos eixos. Ele volta a olhar para minha cara assassina e fita-me, como se a mandar uma mensagem. Conheço esse jogo dele, ele quer desfrutar dela junto comigo, mas, se tem uma coisa que nunca fiz, mesmo ele insistindo, no decorrer dos anos, é compartilhar o que é meu. E, no que diz respeito à Patrícia, decididamente, não há qualquer nem mais remota possibilidade de isso acontecer mesmo, porque ela é irrevogavelmente só minha, o que ficará bastante claro para ela e para quem quer que queira aproximar-se dela, o mais rápido do que até eu mesmo possa imaginar, porque sou tomado por uma fúria tão grande, que nada nem ninguém pode aplacar e trazer-me à razão enquanto não fizer isso.

Caminho em direção a eles e, inescrupulosamente, puxo-a para meus braços, sem dar chance para que o Nandão faça qualquer reivindicação ou fale qualquer coisa. Percebendo o estado em que me encontro, entende o meu recado e afasta-se. Nesse momento, começa uma música (http://www.vagalume.com.br/joe-cocker/up-where-we-belong-traducao.html) e trago-a, de maneira firme e dura, mais para junto de mim, de maneira a não deixar nenhum espaço entre nossos corpos.

− Você não po...

– Posso, quero e vou! Por isso, nem a deixo continuar e tomo-a com beijos alucinantes, sentindo sua boca saborosa, que é exatamente como me lembro, em meus sonhos. Seu sabor, aliado à sua excitação, que se revela por seus pelos arrepiados sob minhas mãos conforme seguro-a por seus braços, que tentam debater-se para se livrar de mim, mostram que está tomada por desejos que abalam o corpo junto ao meu.

Minha ousadia não me causa arrependimento algum, principalmente conforme sinto que ela clama por mais atrevimento. Mesmo ainda tentando resistir a mim, ela deixa-me confuso com a maneira com que seu corpo responde a mim. Aliás, acho que até ela mesma está confusa, como se sua reação a estivesse surpreendendo como a minha vem surpreendendo a mim. Conforme a música vai evoluindo, nossos corpos buscam-se, dançam e estimulam-se e nossos corações pulsam na mesma sintonia. Sinto isso, nitidamente, quando enlaço seu pescoço com uma das minhas mãos. Com uma expressão de desprotegida, a atrevida permite que minha outra mão deslize por seu corpo.

− Hoje, você pertence a mim – consigo rosnar as palavras para ela, depois de engolir, em seco, todas as suas provocações desta noite.

− Não!!!

− Sim!!! – sinto exalar, de meus poros, o angustiante desejo de domínio, o que é uma coisa inusitada em mim e que sempre julguei algo pré-histórico.

− Não fui, não sou e não serei seu brinquedinho de uma noite! Você manda nos seus funcionários, não em mim – percebo, em cada palavra que profere, através de seus olhos, seus medos e receios mais secretos, e esse seu jeito arredio é maravilhoso e encantador. É inesgotável a sua persistência em me dizer não, quando quer, na verdade, dizer-me sim.

Patrícia Alencar Rochetty...

Imagina se vou deixar o Carlos acreditar que pode mandar em mim!! Nem mortinha!! Quem tem o controle, aqui, sou eu. Ou não? Assim como as nuvens desfilam, engatinhando, sem pernas e sem chão, sob o céu, encharcadas das águas de um mar salgado, sem nunca tocá-lo, e ainda ser doce... Eu, por outro lado, estou aqui, tentando engatinhar, querendo dar os primeiros passos, sem querer ousar usar o andador que me está sendo oferecido. Este homem vai contra tudo que abomino num ser humano, ele é mandão, autoritário e só sabe ditar as regras e comandar todas as minhas terminações nervosas. Senhora dos hormônios desmiolados, socorra-me...

Caramba! Essa batalha entre meu corpo e meus medos estão fazendo com que eu fique totalmente confusa e sem saber o que fazer! Não vou ser hipócrita e fingir que não estou louca para me jogar nessa transa desvairada e quente com o Carlos, mas, este homem está atropelando qualquer coisa que fique entre mim e ele, fazendo com que eu oscile entre o ódio e o desejo, em questão de segundos! Após essa sua atitude pré-histórica, em que só faltou ele urrar bem alto, bater no peito e gritar “Uga Uga”, fico desnorteada, sem ter a menor ideia de como agir, diante de sua postura possessiva e autoritária! Minha raiva é tanta que até parece que vou perder o fôlego! Abro os olhos e percebo que ainda estou respirando, que o mundo não parou e que, inclusive, as mãos mágicas dele serpenteiam pelo meu corpo, com maestria, como músicos que produzem as notas musicais de meu corpo, a me dizerem:
                                                                                              
(é o que meus sentidos têm por minhas tentativas de resistir a ele)
(é o que minhas muralhas dizer para meu corpo fazer, isto é, recuar e fugir)
Mi (engana que eu gosto, que nem morta vou conseguir isso, com essas mãos)
Fa (ça, então, com que eu flutue)
Sol (é quão quente será nosso sexo)
La (na cama dele)
Si (nto que estou completamente perdida)

Vamos parar com essa bagunça de notas musicais, pois já me convenci de que ele sabe os ritmos que meu corpo gosta, como me fazer produzir os sons de desejos e os sons inigualáveis, inusitados e fantásticos da satisfação sexual, o que ficou mais do que provado na noite que passamos juntos.

Nem sei se dançamos duas ou três músicas nem, tampouco se executamos algum passo de dança, porque o que nos move é o balanço incansável de nossos corpos que se exploram. Se alguém estiver prestando atenção a nós, certamente dirá que estamos dando um show pornográfico, mas, não estou nem aí... Aliás, não estou nem aqui porque, neste momento, estou em órbita, juntamente com o Sr. G,  louca para reencontrar a pistola das galáxias.

− Por que fugiu de mim?

Lá vem ele com esse assunto de fuga! Será que não percebe que eu estava voando com o vento e caminhando entre as nuvens? Tem que me puxar pela cordinha? Viu só, Sr. G, ele puxa a cordinha igual a mim quando puxo a cordinha do absorvente interno, a diferença é que eu puxo para a higiene e ele puxa para mostrar que eu e você somos uns bobos que se rendem a ele.

− Por que você acha que fugi? Pelo que me consta, eu não morava lá e, uma hora, eu teria que ir embora! E, vamos combinar, o galo da sua casa é muito chato! Ele praticamente me expulsou com o seu cocoricó. Cheguei até a pensar que é um trato de vocês dois para fazerem suas transas irem embora logo...

− Bem, para provar que não é nada disso, assim que eu descobrir qual deles fez isso, farei com que ele vire canja – ele brinca com o assunto ou, melhor, eu quero acreditar que isso só pode ser uma brincadeira.

− Você não faria isso...

− Faria, sim, se foi esse infeliz que te levou para longe de mim! Na verdade, por enquanto, pode considerar-se feliz, não vou saber identificar qual deles fez isso!

− Coitadinho!

− Coitadinho de mim, que fiquei dias procurando por você – ele procurou-me? Conta outra, né? Ah, nem vou ficar remoendo isto, agora! A única coisa que me interessa é provar a esse ordinário do Sr. G que a cisma dele com o cara é pura ilusão.

− E, agora, que me encontrou? – a insinuação na pergunta não passa despercebida por ele, cuja reação é colar seu corpo mais ao meu, fazendo com que, imediatamente, meus seios quase furem o tecido de minha camiseta.

Com voz rouca e dura, ele diz:

− Agora, que te encontrei, vou descobrir cada pinta escondida no seu corpo – provocante, ele endossa as palavras, soprando no meu ouvido e deslizando suas mãos dos meus ombros até a base de minha coluna – Quero fazer inventar mil maneiras de fazer você gritar meu nome, em êxtase. E, quando acordar, quero tê-la em meus braços, sem fugas. E vou começar a fazer tudo isso, por nós dois, hoje à noite! Não adianta, Patrícia, você não tem como escapar!

− Seguro de si, você, hein? – sussurro, queimando de desejo. Meu olhar não consegue desviar de sua boca. Percebo que minha respiração seguinte sai com muito esforço, obstruída pelo desejo e pela força que estou fazendo para emitir uma recusa. Se eu seguir por esse caminho com ele, pode ser que eu novamente caia. Tento cravar as unhas nas palmas das minhas mão para voltar a mim mesma e conseguir resgatar alguma sanidade, recorrendo às minhas barreiras, construídas durante todos estes anos.

Ele percebe que me contraio um pouco e, franzindo sua testa, desliza um dedo por minha face direita, em direção ao meu olho, obviamente, para fazer um carinho. Hipnotizada pelo predador que ele é, levo alguns segundos  para perceber suas verdadeiras intenções e reagir.

— Por que cismou comigo? Você teve tanto tempo para me encontrar e não o fez. Não precisa, agora, fazer-me carinho, já que sua única intenção com relação a mim é a de me levar para a cama! — meu lado sentimental precisa saber o porquê, mesmo sabendo que, nesta situação, não existe um culpado.

Seu dedo tira algo, próximo do meu olho.

— Sinto muito, não foi um carinho, mesmo eu tendo a vontade imensa de lhe fazer carinho por todo o seu corpo, mas, você tem um cílio caído na face, só o estou tirando...

Eita! Minha presunção fez com que eu fosse humilhada! Abaixo a cabeça para esconder o vermelho pomarola que, com certeza, invadiu meu rosto. Não preciso nem levantar os olhos para saber que a diversão está estampada no seu sorriso de lado. Como se ele se importasse. Mas, ele não se manifesta e nem sequer fala nada. Com ele, tudo é assim, uma confusão de emoção e drama, comigo sempre com o maior medo de ser apenas o seu brinquedinho da noite em amanhã... Aí, amanhã... Ora, amanhã não vou ter coragem de olhar para o Marco e a Bárbara, depois deste show de sedução que estamos dando. Meus olhos vagam pelo lugar, febrilmente, e eu já vi que estou sendo observada não só por eles, mas, na verdade, estamos sendo observados por uma plateia. 

− Estamos sendo observados – falo, tentando desviar a atenção do meu fora.

− Eu gosto de ser observado. Em todos os aspectos. Principalmente quando tenho, em meus braços, a mulher mais linda da ilha, com a pinta mais charmosa do mundo.

Bufo com a sua ousadia! Agora virei um troféu?

− Foi por isso que me tirou dos braços do seu amigo? Para mostrar a todos o que pode fazer com uma mulher? Esperava mais de você, mas, vejo que todas as suas estradas levam-no somente ao sexo.

Pela sua carranca, isso o afetou. Ele levanta uma das sobrancelhas, num gesto, claro, muito sensual, e surpreende-me.

− Em primeiro lugar, não tirei você dos braços dele, eu tomei você dos braços dele, porque você é minha! Em segundo lugar, há algo de errado em querer fazer sexo com você, uma menina linda, inteligente, gostosa e que me deixa louco de tesão?

Não posso acreditar nisso! Ser direto excita-o? Então, vamos ver até onde... Lentamente, paro a centímetros de sua boca. Sinto-o prender a respiração, então, expira o ar preso, com cheiro mentolado junto com desejo do pecado.  Minha língua desliza para fora, lambendo o seu lábio inferior. Ele deixa escapar um pequeno gemido. Esfrego, disfarçadamente, minha pélvis na sua evidente excitação... Minha mão repousa sobre os músculos das suas costas, arranhando-os, sedutoramente, e aperto-os, dizendo:

− Não há nada de errado com o sexo, principalmente quando os dois querem a mesma coisa, porém, não estou a fim, hoje, então, todo o seu esforço foi em vão.

− Não é o que seu corpo diz − sua voz sai frustrada.

− Você tem que entender que sou madura o suficiente para não ser escrava dos desejos do meu corpo e que minha mente é quem comanda o que eu quero ou não – afasto-me dele,  na esperança de que o corretivo serviu-lhe. Pretensioso de uma figa! Volto o olhar para a protuberância da sua calça. Isto está sendo bem divertido, isto é, ver sua cara de cachorro abandonado deixa-me mais motivada a desafiá-lo, não porque provocar um homem e afastar-me, no mesmo instante, seja uma coisa que eu ache legal de fazer, mas, por causa da atitude troglodita dele, sinto-me compelida a fazer isso e muito poderosa ao perceber o quanto o afeto – Não vai rolar sexo, hoje, garanhão! 

− Posso saber por quê?

Agora quer saber por quê? Primeiro pega-me, joga-me na parede, chama-me de lagartixa, ao me mostrar, a noite inteira  que não passo de mais que um corpinho sob seu olhar de Don Juan! Depois, apenas me diz que só quer sexo e, agora, ainda quer saber por quê não quero?  Com um quê de sarcasmo, sorrio para ele.

– Um pênis ereto não é suficiente para me convencer. Qualquer um é capaz de ficar assim. Você precisa fazer melhor do que isso, Carlos Tavares Junior.

Agora, quem bufa é ele.

– Precisamos de mais, então?

Caraca, acho que cutuquei a onça com vara curta pela sua expressão predatória! Parece que ele interpreta o meu não como se fosse um sim desafiador, pelos brilhos do seus olhos. Dou um passo para trás, sentindo toda a zona de perigo, mas, já é tarde.

Ele move-se tão rápido, que meu pequeno passo de formiguinha não é frente sua agilidade de Papa-léguas. A fome com que me toma nos seus braços, com o beijo mais avassalador de minha vida, quebra todas minhas armas e subtrai todas as minhas munições, de forma implacável... Acaba não, mundão! Inegavelmente, ele deu-me o “mais”, conseguiu convencer-me...

− Vem comigo?

− Preciso falar com meus amigos − uma ruga pequena marca sua testa e tenho a sensação desconfortável de que ele está pronto para derrubar todas as minhas objeções.

− Não precisa, eles já viram o suficiente para saber que estará ocupada por esta noite.

− Não funciono assim – um brilho de dúvida ensombrece seus olhos.

− Como você funciona? Estou louco para ver – qualquer palavra emitida por ele remete-nos a sexo! Esse homem não é de Deus!

− Não quis dizer o que sua cabeça maliciosa está imaginando – ralho, de maneira a me impor − Eu vou  falar com a Bárbara.

− Estarei junto – ele faz uma pausa para que suas ordens sejam absorvidas por mim – Não teremos nossas mãos separadas nem mesmo por uma bomba nuclear.

Bomba? Eu tenho é fogos de artifícios sendo explodidos pelo Sr. G, a cada segundo que ele ouve a voz do Carlos. Não preciso dizer muito à Bárbara sobre a minha decisão de dar um passeio com Carlos. A promessa dele de não separarmos nossas mãos foram cumpridas, mesmo quando ele conversa com o Nandão e com o Marco, enquanto falo com a Bárbara, por segundos. Esta, por códigos, aprova e apoia minha decisão, uma vez que as palavras não poderiam ser ditas, explicitamente, por ele estar tão próximo.

− Vamos? –despedimo-nos dos nossos amigos e, com um apenas um aceno de cabeça, concordo. Será que esta sou eu? Que poder que este homem tem sobre mim?

Rajadas de calor envolvem todas as partes do meu corpo, conforme ele toca minha cintura, conduzindo-me pelo caminho que ele toma.

− Posso saber para onde vamos?

− Vamos ficar aqui mesmo.

− Aqui?

− Aqui, num cantinho muito especial –contorço-me com a menção ao cantinho especial.


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