CAPÍTULO
UM
Melissa
Minha
cabeça está girando. Náuseas me embrulhando o estômago. Liam foi levado
imediatamente para a sala de cirurgia. Ele levou um tiro no peito. Oh meu Deus,
ele levou uma bala por mim. Por que fez
isso, baby? Eu não posso perder você. Por
favor, Deus, não o leve de mim. Nós estávamos apenas começando nossa vida
juntos. Olho em volta. Greg e os outros seguranças chegaram com os caras pouco
antes da ambulância. O pânico, o horror tomou conta de todos. Seus companheiros
choraram, gritaram. Rosnaram palavrões injuriados. Liam estava caído, parecendo
sem vida nos meus braços. Uma poça de sangue sob nós. Não me permitiram vir
junto na ambulância porque seu estado era muito grave e eles precisavam tentar
reanima-lo. Eu soluço baixinho, apenas um leve arquejar. Já não tenho mais
forças para gritar. Toda a energia foi drenada do meu corpo tendo que ver meu
amor desfalecer em meus braços sem poder fazer nada. O pior sentimento do
mundo.
_
Senhores. _ uma voz pesarosa me fez erguer a cabeça do ombro de Sara. Era um
dos médicos que o atenderam há pouco. Ele tinha uma expressão grave,
definitiva. _ nós fizemos tudo ao nosso alcance... Mas...
_
Não! Não! _ eu grito. Uma dor lancinante me rasgando por dentro. _ Liam... Oh
meu Deus, não... _ Sara solta um gemido agoniado me apertando mais contra seu
peito. Os caras gritam, socam as paredes, o desespero toma conta da sala de
espera. Eu fecho meus olhos com força, tentando bloquear o que o médico disse,
mas, os reabro quando ouço outra voz.
_
Eu acabei de saber. Como está o nosso rock star? _ Chris pergunta, zero emoção
em seu tom. Giro a minha cabeça em sua direção. Selena está do lado dele, seus
olhos assustados e vermelhos, lágrimas escorrendo em suas faces. Eu pensei que
não tivesse mais forças, mas, eu estava errada. Eu me desvencilho dos braços da
minha irmã e me coloco de pé, fúria cega, ódio mortal guiando meus passos até o
homem que, tenho certeza, é o responsável por essa tragédia. Eu não sei como,
mas, sou rápida. Fecho meu punho direito e concentro toda a força no meu braço.
Ele não vê isso chegando e eu acerto um soco potente em cheio em seu nariz. Ele
grunhe, cambaleando para trás. Minha mão dói, mas, nada se compara à dor no meu
coração.
_
Assassino! Assassino! _ berro descontrolada. Sinto braços fortes me puxarem com
força. Eu esperneio, tentando atingir o homem odioso com chutes. _ assassino!
Eu vou acabar com você! Eu sei quem você é! _ os olhos dourados me encaram
frios. Um filete de sangue desce de uma de suas narinas. Ele limpa e rosna:
_
Eu vou te processar, sua vadia louca! _ Collin, Sean e Paul fecham-no,
empurrando-o rudemente contra a parede. Ele geme de dor.
_
Processe, porra! _ eu grito, completamente fora de mim. _ eu vou desmascarar
você! Está me ouvindo? Vou dedicar cada minuto da minha vida a acabar com a sua!
Você está acabado! Acabado! Maldito! Maldito! Você o levou de mim! _ eu choro,
tremendo, minhas pernas fraquejando. Os braços à minha volta me firmam.
_
Greg! Leve esse lixo para fora daqui, porra! _ Elijah rosna sobre o meu ombro.
Era ele me segurando. _ Deus, querida. Eu ainda não posso acreditar nisso,
caralho! _ ele grunhe, o som rasgado, atormentado e me vira. Eu o abraço com
força. Eu choro. Eu grito. Ele chora também. Nós dois estamos tremendo, nossos
corpos dando solavancos pelos soluços. Eu apenas ouço Chris berrando ameaças
quando é arrastado pelos seguranças.
_
Doutor! Corra! Código azul! Código azul![1] _
ouço uma voz alterada e levanto minha cabeça do peito de Elijah.
_
O que é? Que porra é essa de código azul? _ Collin, pergunta com raiva. O
médico franze o cenho como se não pudesse acreditar e nos dá um olhar...
Esperançoso? Ele se vira rápido e grita sobre o ombro:
_
Ele está voltando! Ainda está lutando!
Ele está voltando. Ele ainda está
lutando. Eu deixo as palavras afundarem em meu cérebro. Meu
coração se agarrando a um fio de esperança. Qualquer pequeno fio...
_
Oh meu Deus! Então, ele não está... _ eu sussurro. Elijah segura meu rosto me
obrigando a olhá-lo. Ele está uma bagunça. Os olhos inchados e vermelhos.
_
Jesus! Ele não está morto. _ me diz ferozmente. _ ele não está morto. Está me
ouvindo, Mel? Liam está lutando, querida. Ele está... _ sua voz some e me
abraça apertado outra vez. Sinto mais corpos chegando perto, braços se jogando
ao nosso redor. Ficamos assim, abraçados, unindo nossas forças, cada um fazendo
suas orações silenciosas para Liam conseguir sair dessa. Lute, baby. Continue lutando, meu amor.
_
Eu vou vomitar! _ digo, quando uma náusea súbita sobe à minha garganta. _
afastem-se! Eu vou... _ não consigo terminar. Eu me dobro, vômito esguichando
para todos os lados. Minhas botas ficam cobertas da pasta gosmenta. Oh, Deus.
Eu gemo, Elijah me segura antes que eu caia de cara no vômito. Estou tão fraca
de repente. Ele me levanta nos braços. Meus olhos rodam antes de fecharem.
Abro
os olhos devagar. A claridade me cega por um momento, então, o rosto preocupado
do meu pai entra em foco do lado da minha cabeceira.
_
Papai... _ eu gemo, as memórias aterrorizantes voltando na minha cabeça. _
Liam...
_
Shh. _ ele acaricia meu rosto, seus olhos castanhos marejados. _ eu vim o mais
rápido que consegui, querida. _ murmura. Ele estava em um evento em São Paulo.
_ como se sente? Você nos assustou muito.
_
Liam? Onde ele está? _ clamo, tentando me levantar da cama. Percebo que minhas
roupas foram trocadas. Não uso mais a camiseta branca ensopada com o sangue de
Liam. _ me leve até ele, papai...
_
Fique calma, querida. _ ele pede, seu tom amoroso conseguindo acalmar um pouco
meu coração. _ Liam já saiu da sala de cirurgia. Ele está vivo, querida. Seu
marido está vivo.
Oh,
meu Deus. Fecho os olhos, o alívio me inunda.
_
Graças a Deus. _ exalo. _ obrigado, meu Deus. _ sussurro. _ o que aconteceu
comigo? Por que estou nessa cama?
_
Você vomitou e desmaiou, maninha. _ Sara entrou no meu campo de visão. Ela
estava em outra roupa também. _ eu fui em casa e busquei roupas limpas para
você.
_
Há quanto tempo estou aqui? Chay... Você disse à ele? Oh, meu lindo bebê. _
coaxo, me sentando com ajuda deles. _ eu preciso vê-lo. Traga-o para mim, Sara.
_ lágrimas ardem nos meus olhos quando lembro do meu pequeno. Nós quase
perdemos o Liam. Nós quase ficamos sozinhos outra vez.
_
Você ficou apagada por seis horas, querida. _ Sara informa, sua expressão
terna. _ eles tiveram que te sedar. Você estava tendo um ataque de pânico. E
Chay virá mais tarde. Fique tranquila. Ele não sabe de toda a gravidade, mas...
_
Mas, o quê? _ peço.
_
Os noticiários estão falando sobre o Liam desde as primeiras horas da manhã. A
notícia ganhou o mundo. Há um amontoado de fãs, vigilantes na frente do
hospital. Há fãs até na frente da sua casa em Malibu.
Isso
me deixou mais tocada. O apoio dos fãs. Nós vamos precisar deles quando tudo
ficar ainda mais conturbado nos próximos dias. Eu vou cumprir o que falei para
aquele maldito assassino estuprador. Assim que o Liam se recuperar vamos com
tudo para cima dele. A porta se abre e os caras entram. Eles ainda vestem as
mesmas roupas, seus rostos cansados.
_
Você está melhor? _ Elijah pergunta, parando na minha frente. Os caras me
oferecem sorrisos pesarosos.
_
Sim, estou me sentindo melhor. Eu quero ver o Liam. _ Anuncio. Eles se
entreolham. O que está acontecendo aqui? O que eu perdi? _ o que foi? Por que
todos estão me olhando assim? Ele está bem, não é? Por favor, me digam, droga!
Liam está bem?
_
Querida se acalme, não é bom para seu estado. _ meu pai diz, me puxando e
beijando meus cabelos suavemente.
_
Que estado, pai?
_
Você está grávida, baby. _ Collin diz, com um sorriso orgulhoso se abrindo no
rosto. Meu coração começa a correr rápido. Oh, Deus. Oh, meu Deus! Eu estou
grávida? Uma alegria imensa borbulha dentro de mim. Está explicado todo o meu
mal-estar. Um filho do Liam. Meu lindo menino intenso e apressado. Fecho os
olhos imaginando seus incríveis olhos azuis quando eu lhe der a notícia. Nosso
primeiro bebê Stone já está aqui dentro de mim. Eu sorrio em meio a mais
lágrimas e toco minha barriga.
_
Não a chame assim, idiota. _ Sean o censura. _ o Stone vai cortar suas bolas
quando levantar daquela cama.
Collin
ri mais amplo, me oferecendo sua piscada travessa.
_
Você sabe o que isso significa, querida? _ Elijah pergunta, um riso brincando
em sua boca. Liam deve estar mesmo bem, pois, eles parecem mais relaxados.
_
O quê? _ pergunto ainda tentando me acostumar à notícia e ao fato de que serei
uma manteiga derretida pelos próximo nove, ou oito meses. Se eles puderam
detectar uma gravidez pelo exame de sangue, devo estar com três ou quatro
semanas.
_
Que vamos ser tios, doce Mel. _ Paul fala, sorrindo também.
_
E que vamos, certamente corromper esse pequeno príncipe ou princesa do rock. _
Elijah torna a falar. Eles todos entoam um year.
Eu
rio mais. Meu peito mais leve.
_
E vamos cuidar de você também, enquanto nosso parceiro está impossibilitado. _
Paul retoma.
_
Até porque se não o fizermos o Stone vai chutas nossas bundas. _ Collin
resmunga. Eles riem.
_
Isso mesmo, porque não tenha nenhuma dúvida, querida. _ Sean diz. _ Liam vai se
levantar rapidamente. Ele é muito ciumento para deixar sua mulher por nossa
conta muito tempo.
Todos
nós rimos. Nossos corações mais leves, mas, ainda receosos. Dá para sentir a
tensão e o medo ainda pairando no ar. Isso só irá embora quando o meu lindo
superstar voltar definitivamente para nós.
_
Rapazes. _ chamo, minha voz embargando. _ eu amo a forma como cuidaram e estão
cuidando de mim. Amo que vocês amem o meu marido. _ eles estão todos sem jeito
com toda a emoção na minha voz. _ eu amo vocês, queridos. É isso. Eu amo cada
um de vocês.
Silêncio.
Eles se entreolham, pigarreiam.
_
Jesus, mulher! Você é definitivamente uma ameaça para roqueiros fodões. _
Elijah, resmunga. Os outros o seguem.
_
O Stone nunca teve a menor chance. _ Collin ri, logo todos nós estamos rindo,
inclusive Sara, que estava introspectiva desde nosso ataque.
Eles
se aproximam e me abraçam. Eu beijo cada um no rosto.
_
Os avós do Liam chegarão daqui a pouco. _ Elijah informa. _ eu arranjei tudo
para pegarem o primeiro voo disponível para cá. _ eu sinto uma pontada de
tristeza por conhecê-los assim. Liam havia planejado passarmos o primeiro
feriado com seus avós em Seattle.
_
Eles podem ficam na minha casa se quiserem, Elijah. _ ofereço. Ele acena com a
cabeça. Viro-me para Sara. _ Maninha, me leva até o Liam? _ ela limpa seus
olhos e funga, me ajudando a descer.
_
Eu vou dar uma passada na sua casa para ver meu neto, querida. _ meu pai avisa
e me beija na testa. _ volto mais tarde. Fique bem. Eu te amo, minha menina. _
sussurra só para mim.
_
Também te amo, pai. _ murmuro, beijando-o no rosto. Ele sai em seguida.
_
Você está bem, Sara? _ Elijah pergunta às nossas costas quando já estamos na
porta.
_
Sim, estou. _ ela responde, seu tom surpreendentemente brando. Ela tem escoriações
nos joelhos e mãos, mas, graças a Deus está bem. _ hum, obrigada por perguntar.
Obrigada a todos vocês, caras, pelo carinho e cuidado com a minha irmã.
Os
outros acenam e Elijah também antes de andar até estar em nossa frente. Os
olhos verdes cravam em minha irmã.
_
Seu voo é hoje?
_
Sim, seria hoje. _ ela responde ainda com voz suave. _ mas, vou ter que adiar.
_ ele parece gostar da notícia. Seus olhos brilham satisfeitos. _ não posso
deixar a Mel sozinha agora.
_
Você está certa, querida. _ ele assente, seu tom livre de provocação também.
Sara
acena e saímos pelo corredor. Ela me ampara para entrarmos em um elevador. Paramos
no andar do Centro de Terapia Intensiva. Eu aperto a mão de Sara, o medo me
invadindo outra vez.
_
Ele está na unidade semi-intensiva, Mel. _ me diz, quando paramos diante de um
quarto. _ Liam vai ficar bem, maninha. _ aceno, reunindo minhas forças. _ mas,
ele ainda precisa de cuidados pelos próximos dias. Perdeu muito sangue e foi
preciso uma transfusão. Elijah ajudou com isso. Eles têm o mesmo tipo
sanguíneo. _ lágrimas me vem aos olhos. Eles têm mesmo uma forte ligação. _ a
bala se alojou muito próximo ao coração. _ ela acaricia meu rosto. _ foi um
cirurgia muito delicada, mas, ele resistiu, querida. _ sorri suavemente. _ esse
homem queria muito voltar para você.
Eu
assinto, meu peito tomado de angústia por tudo que ele passou por mim. Por tudo
que ainda está passando. Um movimento atrás de Sara chama a minha atenção. Jess
está encostada à parede. Ela ainda está na mesma roupa do show, mas seu rosto
está uma droga. Sua maquiagem escorreu e seus olhos estão inchados e vermelhos.
_
Mel... _ ela chama fracamente, se aproximando. _ eu, eu quero pedir desculpas.
_ eu continuo a olhando fixamente. _ eu não devia ter falado todas aquelas
coisas para você ontem. Espero que possa me desculpar. Eu...
_
Não, você não devia ter falado nada para mim. _ eu digo baixo, meus olhos
analisando-a atentamente. _ não é da sua conta a minha relação com o meu marido.
_ ela se encolhe um pouco com meu tom. É isso aí. Essa é a nova Mel. Não vou
mais engolir merda de ninguém, caralho. _ agora se me der licença, eu preciso
vê-lo.
_
Certo. _ ela acena sem graça. _ parabéns pelo bebê. _ diz sem emoção.
_
Obrigada. _ respondo já virando-lhe as costas.
Eu
entro no quarto e meus olhos o buscam imediatamente. Desinfeto minhas mãos com
o álcool gel que está sobre uma mesinha. Olho seu corpo grande inerte sobre o
leito. Me aproximo, minha visão já turva. Ele está entubado. Dói muito vê-lo
aqui, preso à uma cama. A princípio nem parece que está respirando, mas, me
forço a perceber o leve subir do seu peito Seu rosto lindo está tão pálido. Corta
meu coração saber que está assim por minha causa. Eu não pensei que alguém
faria o que Liam fez na vida real. Eu só tinha visto isso em filmes ou
romances...
_
Baby... _ chamo baixinho, tocando seu rosto. Sua pele está tão fria. _ eu estou
aqui, meu amor. _ me inclino para sussurrar em seu ouvido. _ eu só saio daqui
com você do meu lado, está me ouvindo superstar? _ eu rio, lágrimas banhando
minhas faces. _ seus fãs estão lá fora também, baby. Estão todos rezando,
pedindo seu rock star de volta. _ acaricio sua face. _ você precisa voltar,
amor. Nós precisamos de você. _ eu engasgo, puxando uma respiração profunda. _
eu não posso ficar sem você. Não posso. _ gemo. _ nossos filhos precisam do pai
junto deles. _ eu sorrio, levando minha mão livre para meu ventre. _ sim,
nossos filhos, querido. Nosso primeiro Stone está aqui no meu ventre, baby.
Sim, você com toda a sua intensidade... Toda pressa... Toda paixão... _ soluço
baixinho, meus olhos presos no rosto pacificamente adormecido. _ tão bonito,
baby. Você é tão lindo, superstar. Você me mostrou que o seu amor por mim é
muito maior do que eu sequer supunha. _ continuo deslizando os dedos em sua
face fria. _ você precisa sair dessa cama logo, está me ouvindo? Eu preciso te
mostrar todos os dias como o meu amor por você é imenso também. Você vai fazer isso para mim, meu amor? Hum?
Você vai fazer para mim, baby?
Liam
Eu
acordo e me viro na cama, buscando a Mel. Seu lado está vazio. Nós estamos em
LA há uma semana. Meus avós estão aqui. Os caras estão aqui. A casa está cheia
e barulhenta. Eu rio, me levantando da cama.
_
Mel? Baby? _ chamo, indo para o banheiro. Ela não está aqui. Já deve ter
descido par dar o café da manhã do homenzinho. Faço minha higiene e me visto,
descendo rapidamente a escada. A sala está vazia. Para onde foi todo mundo?
Ouço vozes na área externa. Me encaminho para lá. Os caras estão à beira da
piscina. Eles estão estranhamente calados. Cada um toma sua cerveja parecendo
mergulhado em seus pensamentos. _ ei, idiotas? _ provoco. Nada. Eles nem mesmo
reconhecem a minha presença. Bastardos! _ alguém sabe da minha mulher? _
nenhuma resposta ainda. Ando e paro na frente de Elijah. _ ei, cara, que porra
é essa? Por que estão me ignorando, cacete? _ ele vira a cabeça e olha em
direção à praia. Dá um suspiro um tanto triste e toma um gole da sua cerveja.
Eu sigo seu olhar e avisto uma figura solitária andando ao longe. Eu reconheço
a silhueta. Mel. _ tudo bem, continuem com essa brincadeira sem graça de vocês.
_ bufo e vou em direção aos degraus que dão acesso à praia.
Salto
de dois em dois e tiro minhas sandálias antes de pisar na areia fofa. A brisa
suave da manhã bate no meu peito. Eu amo isso aqui. Eu amo mais ainda que a
minha mulher está aqui comigo agora. Meus olhos permanecem nela. Ela para de
andar e pega um graveto sobre a areia. Caminha graciosamente em direção ao mar.
Usa um vestido leve, o vento o faz tremular. Porra, tão linda. Eu desacelero
meus passos para beber da sua figura linda por algum tempo antes que perceba a
minha presença. Ela parece... Diferente. Seu corpo ganhou mais curvas. Eu não
percebi isso ontem, ou hoje de manhã quando fizemos amor. Ela parece tão
absorta. Se inclina na areia molhada próxima às ondas quebrando e desenha algo
no chão. Eu rio com a cena. Parece uma adolescente desenhando na areia. Me
aproximo mais. Ela toca algo em seu pescoço e fecha os olhos inclinando a
cabeça para trás.
_
Mel? Baby? _ chamo, meu cenho franzindo porque ela parece triste. Um pequeno
soluço estremece seu corpo. Me aproximo mais, intrigado e preocupado. _ amor,
você está chorando? Por que, baby? _ eu pergunto angustiado, mas, ela não nota
a minha presença. Nem mesmo mexe a cabeça. Só fica lá. Seu rosto bonito sendo
banhado de lágrimas.
_
Eu sinto a sua falta todos os dias, baby. _ sua voz é grunhido de dor. Ela olha
para o desenho na areia e meus olhos seguem os dela. Meu peito aquece. Ela fez
um coração com nossos nomes dentro. _ eu amo você, superstar. Sempre vou amar,
baby. Sempre.
_
Mel, você está me assustando pra cacete. _ digo, tentando sorrir. Isso também é
uma brincadeira? Todos resolveram fazer pegadinha comigo hoje? Então, ouço
vozes, gritinhos infantis e meus olhos vão para a areia há poucos passos de
nós. Chay está fazendo castelos.
_
Chay? Hei, homenzinho. _ sorrio, chamando-o. Cacete! Ele cresceu muito. Como pode
em apenas uma semana? Ele não levanta a cabeça, continua concentrado na tarefa.
Um enorme cachorro labrador marrom corre ao redor. Eu não me lembro dele.
Cacete, essa manhã está estranha pra caralho. Sou surpreendido outra vez quando
percebo perninhas rechonchudas parando do lado do Chay. Eu junto as
sobrancelhas em confusão olhando o menino loiro de mais ou menos uns dois anos
que se senta em cima do castelo do Chay, desfazendo-o completamente. Chay o
repreende:
_
Liam! Você é tão bagunceiro. _ Liam?
Por que o bebê tem o meu nome? Me pergunto, e, em seguida Chay o pega pelo
braço e os dois ficam de frente para mim. Meu coração salta com força,
golpeando violentamente no peito. Cristo! Ele é... Ele é meu filho. Seus olhinhos
azuis se fixam em mim e sorri, acenando. Oh, Deus, eu tive um filho. Confusão
assume o lugar da alegria. Por que não me lembro de nada disso? Volto minha
atenção para a Mel. Ela ainda está perdida em sua própria angústia.
_
Mel, baby. Nós tivemos um filho? _ minha voz treme. _ por que você não me falou
sobre isso? O que houve? Cristo! Olhe para mim! _ exaspero-me. Ela enfim, se vira na minha direção e a expressão em seu
olhar me faz fraco. Me mata ver a dor em seu lindos olhos amendoados. _ o que
houve, amor? Por que sinto como se não a visse em um longo tempo? E por que
está tão triste? _ ela segura mais firmemente a coisa em seu pescoço e eu vejo
que é um colar. Ela aperta o pingente com força, então, o solta e a minha
confusão fica completa. É a minha aliança em seu cordão. _ Deus, você quer me
explicar o que está acontecendo? Por que a minha aliança está aí em seu
pescoço, baby?
_
Você me deixou, Liam. _ ela diz, sua voz quebrada. _ você nos deixou. Você
partiu. _ lágrimas escorrem pelas suas faces. Meu peito dói muito.
_
Não, baby. _ encurto a distância entre nós, tentando puxá-la para os meus
braços, mas, por alguma razão estranha pra cacete eu não consigo segurá-la. _
eu não deixei você, amor. Nunca, baby. Nunca.
_
Sim, você deixou. _ ela sussurra e se vira, começando a caminhar para longe de
mim. Pânico me enche.
_
Não! Mel! Baby! _ grito, a dor se tornando aguda no meu peito. Porra, é uma dor
quase física. Eu levo a mão ao peito. _ eu não deixei você, amor! Mel? Baby! _
grito com mais força e tudo escurece.
Eu
ouço vozes ao longe...
_
Oh, meu Deus! Ele está voltando! Baby... _ é a voz suave e chorosa da Mel.
Eu
me mexo sobre algo quente. Minhas pernas parecem dormentes. Ainda está tudo
escuro e meu peito continua doendo. Eu sinto a carne, queimando, como se
tivesse sido rasgada. Merda. Nunca senti essa dor antes. Por que está tão
escuro, porra? Tento mexer os olhos e percebo que estão cerrados, as pálpebras
pesadas pra caralho.
_
Oh, Deus, meu amor... Liam! _ ela fala de novo. Meio sorrindo, meio chorando.
Eu gemo, lutando com todas as minhas forças para abrir os meus malditos olhos.
Solto um grunhido e por fim consigo mover minhas pálpebras. Uma luz me cega e
eu os fecho outra vez. _ abra os olhos, baby. Eu estou aqui. Oh, meu Deus! Enfermeira!
_ ela grita. Um instante depois, ouço mais vozes ao meu redor. Os caras. Eles
estão todos falando ao mesmo tempo. Bastardos sem educação. Eu abro os olhos de
novo, lutando para mantê-los abertos. Minha visão está embaçada, fora de foco.
Uma mão muito suave toca meu rosto e eu gemo de prazer, reconhecendo o toque da
minha mulher. A dor momentaneamente esquecida.
_
Baby... _ não tenho certeza se consegui falar. Acho que foi apenas mais outro
gemido. Minha garganta dói também, porra! Parece que alguém esfregou uma
maldita lixa por dentro muitas vezes. Que merda é essa? Meus olhos focam um
rosto acima do meu. Forço minha visão e o borrão vai cedendo aos poucos. O
rosto lindo, mas, banhado de lágrimas da Mel está bem próximo. Eu gemo outra
vez. _ eu... Não... Deixei... Você... Baby... _ consigo balbuciar apesar da dor
na garganta.
Ela
sorri e cola sua testa na minha, respirando rapidamente.
_
Shh, eu sei, meu amor. _ sussurra, seu hálito doce, seu cheiro gostoso me embriagando,
me acalmando. _ eu sei. _ suas mãos trêmulas deslizam reverentemente pelo meu
rosto. Seus olhos lindos marejados, presos aos meus. _ graças a Deus. Eu tive
tanto medo, baby. _ suas lágrimas pingam no meu rosto. _ você não pode me
mostrar o que é ser feliz e em seguida me deixar. Eu o proíbo. Está me ouvindo?
_ ela abre o riso trêmulo mais lindo na porra do mundo todo. Meu coração
atordoado e dolorido fica todo mole. _ eu amo você, superstar. _ ela diz antes
de selar seus lábios quentes e macios nos meus. É a porra do céu. É isso, eu só
preciso ver o rosto lindo da minha mulher, ouvir algumas palavras piegas e a
Terra está de volta ao seu eixo...
[1] Um ponto primordial no âmbito hospitalar é a
implantação de um time de resposta rápida. Trata-se de uma equipe de clínicos
(enfermeiras, médicos, fisioterapeutas, ascensoristas entre outros) que trazem
cuidados críticos aos pacientes à beira leito ou onde for necessário. Essas
ocorrências normalmente são classificadas em duas chamadas: Código Amarelo para
urgências e Código Azul para emergências – PCR (Parada Cardiorrespiratória).
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