Capítulo Vinte e Um
Zachary
Minha
noite de sono foi tranquila, levantei de bom humor como não acontecia há muito
tempo. Acordei disposto a dar uma chance a essa coisa com a Letícia, seja lá o
que for. Só de pensar nela, sorrio. Sentei a mesa para tomar café e Mag entra
com pastas em seus braços.
— Bom dia, Mag. Já tomou café?
— Ainda não.
— Eu não sei se devo contar senhor. — Agora ela ganhou toda minha
atenção.
— Tome seu café e vamos para o meu escritório. Você vai me contar seja o
que for. — Entramos no escritório, fecho a porta e a sento no sofá a minha frente.
— Diga-me tudo do assunto que for Mag.
— É sobre a senhorita Letícia. — Pego uma cadeira e sento rosto a rosto
com ela.
— Conta de uma vez.
— Eu sei que King contou o que tinha naqueles relatórios, mas não posso
omitir alguns detalhes que ele deixou de fora, como a visita do senhor Liam
Larkin. Fiquei curiosa com os relatórios que o King recebia do Luck todos os
dias e quando li que o senhor Larkin esteve lá, pedi a um amigo detetive para
investigar o ex-marido dela. Quando recebi os relatórios, fiquei chocada com o
que tinha lá, depoimentos de vizinhos e familiares dele, o que ela tinha feito
para causar a separação. — Alguma coisa estava me dizendo que isso não era bom.
Minha voz saiu em um sussurro.
— E onde estão esses documentos, Mag? — Ela me entrega uma pasta.
— O profissionalismo dela é incontestável, mas ela não é o anjo que
aparenta ser. Meu santo nunca bateu com o dela, mas achava que era por cautela.
Hoje, tive a certeza de que ela não é uma pessoa boa, é falsa e dissimulada. —
Mag coloca sua mão sobre a minha — Eu me preocupo com você, Zach.
— Obrigado, Mag. Agora vamos trabalhar.
Volto para o quarto, tranco a pasta no cofre. Coloco um terno e vou para
o escritório. Se a Letícia é uma mau caráter como Mag insinuou, King me deve
explicações do porque esse protecionismo para cima dela. Alguma coisa não se
encaixa, eu vi sinceridade nos olhos da Letícia, será que ela era tão boa atriz
assim, a ponto de me enganar?
Passei o dia no escritório debruçado sobre a documentação da obra da Paradise. A todo o momento me pegava
pensando no que Mag havia me contado e cada vez tenho mais certeza de que não
estava errado em relação a Letícia. Ela não é diferente das outras...
Quando voltei para casa dei ordens para ninguém me incomodar e me
tranquei no quarto com uma garrafa de whisky. Pego a pasta, encho um copo,
sento na poltrona e a giro para ficar de frente para a cidade. Seja o que tiver
aqui dentro, sei que ela pagará muito caro por posar de boa moça para mim. Primeiro
olho o selo de autenticação, como todo bom escritório de investigação deve ter.
Depois abro a pasta e na primeira página tem a foto com o nome do ex-marido, João Paulo Azevedo, 33 anos, casado, dois
filhos.
Precisei encher outro copo para continuar. As próximas páginas contavam
sobre o relacionamento deles. Segundo diz aqui, Letícia sempre foi uma mulher
empenhada no trabalho, mas gostava de gastar demais, seu marido trabalhava
somente para pagar suas contas. Ela ganhou um carro de aniversário e dias
depois o vendeu sem avisar o cara.
O pobre coitado foi enrolado direitinho pela safada. Ele a pegou com um
amante na própria cama e ainda a perdoou. Idiota. Ela não se conformou e
continuou sua vida devassa paralelamente, até o dia em que ele se cansou e saiu
de casa sem dar satisfações, deixando tudo para trás. Dias depois a mãe dele
aparece para ver como ela está e vê a casa arruinada, ela destruiu até a
televisão que não estava paga ainda.
Depois disso ninguém mais soube dela, lógico que não, Letícia tinha que
achar outro infeliz para fazê-lo de otário e arrancar seu dinheiro. Terminei de
examinar a papelada depois de uma hora e meia, esvaziei a garrafa para
conseguir chegar ao final dessa história imunda. Mau caráter não a descreve,
ela é um demônio que por onde passa traz a ruína.
Para aquela puta dos infernos, a Vitrine não passou de um meio de chegar
até os idiotas ricos. Segurou a máscara de boa moça para conseguir agarrar um
rico e roubar, direitinho. Desgraçada! Eu deveria ter confiado mais em meus
instintos. Mas ela não perde por esperar, vou conquista-la, ganhar a porra da
aposta, expô-la para aqueles tarados e desmascara-la na frente de todos. Não a
quero na companhia, não a quero perto de mim e perto de nada do que é meu.
Levanto da poltrona, tonto com tanta informação e jogo meu copo na parede de
ódio por aquela mulher. Como eu pude ser tão idiota?
Agora tenho que acertar contas com King. Saio pelo apartamento à caça
dele e o encontro em seu escritório. Sento-me na cadeira de frente a ele.
— Vamos conversar Kingston. — Ele
me olha.
— Sobre o que? — Jogo a pasta em cima da sua mesa.
— Sobre isso. — Ele pega, abre a pasta e passa algumas folhas.
— Isso aqui não deve ser verdade... — Dou risada.
— Será mesmo? Deixa eu te contar uma coisa, tenho certeza que é verdade.
Eu só quero saber por que você a defende tanto? Ela está saindo com você
também? Sabia que estava defendo uma vagabunda?
— Se há uma coisa que eu conheço na vida, são pessoas boas, de bom
coração. Eu não tenho dúvidas quanto à índole da Letícia, mas duvido de quem
fez esse dossiê, que por sinal, nem profissional é. Outra coisa, eu não vou
permitir que você fale assim dela...
— Você é mais ingênuo do que eu pensei, não está vendo que ela não passa
de uma boa atriz? Safada, golpista, interesseira, não passa de uma vagabunda...
— Seu bastardo de merda, lava sua boca para falar dela, entendeu? — E me
solta novamente na cadeira. — Eu sempre serei leal a você, Zachary.
Independente de qualquer coisa ou situação, eu sempre estarei ao seu lado. Vou
continuar meu trabalho como seu chefe de segurança, mas a partir de hoje Lennon
e Mike serão seus guardas costas permanentes, eu estarei trancado aqui todo o
tempo coordenando tudo.
— King... — Ele pega a pasta e joga de volta para mim.
— O dia que você confiar em mim ou na minha equipe de verdade, nós podemos
conversar novamente. Até lá, serei somente seu funcionário. E não se esqueça de
ligar para essa firma de investigação e pedir seu dinheiro de volta, o serviço
foi muito mal feito. Se me der licença, tenho que verificar alguns documentos.
Ele baixa a cabeça e pega um papel para ler, me ignorando completamente.
Não era essa conversa que eu queria, King é o meu melhor amigo, mas não é justo
ele viver na fantasia de que a Letícia é aquele anjo que ele imagina. Eu confio
minha vida a Kingston, ele é o meu melhor amigo, não é certo que essa
mulherzinha abra esse abismo na minha equipe. Inferno!
— Posso servir o jantar, senhor?
— Não vou comer. Boa noite, Ruth — Vou até o bar e pego uma garrafa de
vodca, vou para o meu quarto, me divertir com a minha amiga vodca, até ela me
dar doces sonhos com lindas mulheres.
——ooOoo——
Os dias se passam e eu tenho um plano perfeitamente confabulado para
conquista-la novamente. Eu soube que ela ficou oito dias na Grécia, teve que
voltar ao Brasil por mais um monte de dias e chegou a Manhattan há dois dias.
Ela e Lorena estão hospedadas no apartamento do Kevin, três andares abaixo do
meu. Cooper me decepcionou, ninguém emprestaria um apartamento desse para
usufruto de um funcionário, a não ser que esse funcionário lhe dê algo mais que
boa produtividade.
Ethan virá buscá-las para jantarem em um restaurante badalado da cidade
e me convidou. Está na hora de colocar meu plano “Bye Bye Letícia” em ação. Sei que ela gosta do meu corpo, então
escolho uma calça jeans ajustada e uma camisa mais justa na cor lilás. Vou ao
lugar e sou escoltado até a mesa onde eles estavam sentados. Ela sorri quando
me vê, mas logo seu sorriso desaparece.
A boneca Lolo também não está muito feliz em me ver, mesmo assim vou até
ela e a beijo na testa.
— Como vai, boneca Lolo?
— Estou bem e você?
— Vou ficar melhor se a sua amiga me cumprimentar. — Dou meu melhor
olhar para ela e falo no seu ouvido. — Como está, Letícia?
A pele dela se arrepia e a respiração muda. Ela responde em um sussurro.
— Estou bem.
— Vamos pedir de uma vez. Estou faminto.
— Como está sua costela? Eu soube que também machucou sua mão. — Fizemos
o pedido e enquanto esperamos, puxo conversa com Letícia. Ela mostra a mão com
unhas impecáveis pintadas de vermelho.
— Tanto minha costela quanto minha mão, estão ótimos. Obrigada pela
preocupação, senhor O´Brian.
— Zachary ou Zach...
— Prefiro senhor O´Brian. — Observo-a. Ela sabe ser boa atriz, eu também
sei ser um bom ator.
— Eu queria conversar com você sobre o que aconteceu em Abu Dhabi. —
Faço cara de cachorro que caiu da mudança. — Por favor, me dê a oportunidade de
explicar. — Ela me analisa.
— Ok. Só marcar o dia.
— As obras começam segunda-feira, estão ansiosos como eu? — Ethan chama
a gente para a conversa geral.
— Não! — Tanto eu quanto Letícia respondemos juntos. Ethan faz uma
careta.
— Não? — Ele olha para a Lorena que está sorrindo. — Viu esses dois? Não
estão empolgados. Vão à merda. Os dois.
— Eu não estarei presente. Estou em outro projeto e esse merece minha
atenção nessa etapa, mas a Lorena e o Kevin estarão lá.
— Para mim já basta. — Ethan diz e beija a boneca. — Não que você não
seja importante, Letícia. Mas ela é a mulher da minha vida.
As duas ficam claramente emocionadas. Não, a Lorena fica emocionada,
aqueles olhos brilhantes da Letícia são para o dinheiro do Ethan que ela
alcançará através da amiga inocente dela.
— Teremos um casamento em breve? — Falo com ironia.
— Sim. Algum problema? — Ethan não gosta e responde grosseiramente. As
coisas ficaram um pouco tensas. Levanto as mãos em sinal de rendição.
— Não. Nenhum. Fico muito feliz pelos dois.
— Ethan, ainda não se acostumou ao sarcasmo do senhor O´Brian? — Letícia
fala rindo.
— Isso me machucou, princesa.
— Menos, bem menos. Ninguém te machuca, Mister Ego.
Durante todo o jantar não tirei meus olhos de Letícia, a filha da puta
estava linda. Uma saia rodada curtinha branca, uma blusa de renda verde clara e
saltos pretos. Imaginei todas as posições que a colocaria, tiraria toda a sua
roupa e a deixaria somente com os sapatos.
Ela me olha com seu olhar dourado e falsa ingenuidade. Não suporto tamanho
cinismo e quebro o olhar. Há uma parte de mim, lá no fundo, bem lá no fundo que
se nega a acreditar que ela seja a mulher que estava descrita naqueles papéis.
Meu corpo não se controla em sua presença e minha cabeça viaja nas imagens
daquela noite em que a tomei. Merda!
— Aceita uma carona, Letícia? Estamos indo para o mesmo lugar. — Na
porta do restaurante soube que a Letícia dormiria sozinha no apartamento do
Cooper, Lorena iria ficar com Ethan.
— Ótimo! — Ela beija a amiga no rosto. — Até amanhã, crianças. Juízo. E
você senhor O´Brian, cuide-se, não esqueci o que aconteceu nas Arabias.
— Cadê o King? — Lennon encosta o carro e Mike abre a porta para nós.
Ela olha para o novo segurança e para mim.
— King agora fica só no QG. E cadê os seus seguranças?
— Hum. É só o Luck e hoje é noite de folga dele.
— Nossa princesa tem tendência de se machucar. Vamos protegê-la. — Passo
o cinto por ela e fecho-o. — Conte-me seus planos para os próximos dias.
— Tenho que assinar alguns papéis da transferência do imóvel que comprei
amanhã pela manhã. E depois de amanhã, na sexta-feira, irei a Thorton Holding Internacional...
— Na Holding? Fazer o que? — Estranho
eu não saber que ela tem compromissos na minha empresa.
— Tenho que assinar alguns papéis da Paradise.
Não sabe o que acontece nas suas empresas, senhor O´Brian?
— Parece que não. — Foi minha vez de olhar para fora. Por que a Mag não
me falou nada? A partir de amanhã as coisas mudarão. Nunca fui relapso com meus
negócios, sempre estive a frente de tudo e não pretendo mudar. — E depois daqui
vai ver um projeto onde?
— Em São Paulo. Ethan vai para o Rio e vou de carona.
Boa oportunidade para ir ao Brasil e dar mais um passo do meu plano. O
carro estaciona na frente do prédio. Mike abre a porta para mim e eu estendo a
mão para ajudar Letícia a sair.
— Também embarco no sábado à noite. Primeiro vou ao Rio de Janeiro para
me instalar na nova casa e depois vou para o Ceará. Por falar em casa nova,
poderia me ajudar a contratar empregados? Ninguém melhor que...
— A casa já conta com um quadro de funcionários que entraram nas
negociações. Sua casa está pronta para recebê-lo.
— Desculpa Letícia. Mas vi todas as minhas despesas e planilhas dos
imóveis e não constava nada a não ser a segunda e última parcela da compra da
casa. — O elevador para no andar dela e eu seguro a porta.
— Você tem que ver isso com o seu financeiro ou com a Mag, é para ela
que mando os e-mails com a documentação e os recibos. Você me deu uma boa
comissão pela compra da casa, que dispensei, cheguei a enviar um e-mail para
sua assistente dizendo que eu iria devolver. Como não houve resposta por parte
de vocês, paguei a empresa que administra os funcionários da casa. — Ela coloca
a mão no meu braço. — Eu tenho toda a documentação em casa. Assim que estiver
no Brasil, ligue-me e levarei tudo até você.
— Obrigado. Podemos conversar amanhã? Comemorar sua casa nova? — Pego
suas mãos e as beijo com real agradecimento. Ela acena que sim.
— Boa noite, senhor O´Brian. — Solto a porta do elevador e vou até a
cobertura.
— Boa noite, Zach. — Assim que saio do elevador a porta do meu apartamento
se abre, King estava à minha espera. — Estava com a Letícia, você não falou
nenhuma merda para ela, falou? Juro por tudo o que é mais sagrado que te...
— Não, King. — Balancei a cabeça. — A Letícia está salva, pelo menos por
enquanto. Sabe se Mag está?
— Não sei. Boa noite.
Desde aquela conversa, eu não tenho mais meu amigo, até nisso aquela
infeliz se meteu. Vou para o meu quarto colocar meus pensamentos em
perspectiva, porque definitivamente há alguma coisa de errado.
Sem sono, volto para o escritório e repasso alguns balanços e realmente
não tinha nada. Estranho, como eu não percebi antes?
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