Capítulo 5
Uma semana depois...
A chuva fina e constante era um bem
vindo alívio ao sufocante calor, bem como ajudava a complicar ainda mais, o já
caótico transito da cidade de São Paulo.
Caetano, que conduzia o segundo carro, de uma “invisível” escolta, e tinha os homens de sua equipe no carro da frente e no que vinha logo atrás deles, tentava em vão manter o foco no trajeto previamente determinado, porém, sua atenção estava na mulher sentada ao seu lado, que estava imersa num surpreendente silêncio.
Depois de muita discussão e
ponderação, ele e sua equipe, decidiram que a melhor opção para Marina, agora
uma secular, seria a segurança de estar incógnita, numa cidade do tamanho de
São Paulo. Todos concordaram que a nova aparência facilitava a missão. Então
após uma semana de contatos e muito trabalho, todos os detalhes revistos a
exaustão, a conduziam nesse momento para sua nova casa.
Haviam se cercado de todas as
garantias de que ela estaria segura. Conseguiram-lhe um lugar para morar e um
emprego.
Então
porque ele se sentia péssimo? Perguntava
a si mesmo, enquanto mais uma vez, seu olhar a procurava.
- Merda! – praguejou.
Percebeu
que o fizera em voz ata quando ela olhou pra ele.
-
O trânsito está uma m.. droga. – resmungou.
Quando
ela aceitou sua frágil explicação e voltou a contemplar, os pingos de chuva que
caíam monotonamente sobre o para brisas, disse a si mesmo que já tinha tido o
suficiente. Ignorando todos os protocolos de segurança, estacionou o carro.
- Então, vai falar ou vou precisar
arrancar a verdade de você?
- Falar o que? Enlouqueceu? – o som
do rádio os interrompeu.
A
equipe estava tão alarmada quanto ela.
Caetano
não explicou a atitude, somente pediu que os esperassem.
- O que está errado? - Caetano
perguntou visivelmente irritado.
- Você não acha um despropósito essa
escolta?
Ela
tentava desviar o assunto.
-
Não tem sentido três carros, um de vocês já era suficiente, na verdade eu
poderia ir de ônibus.
- Foi o que eu disse a eles, mas os
caras fazem questão de se despedir. Não vi porque impedir, mas se isso a
incomoda, posso dispensá-los.
Nina deixou escapar um suspiro
frustrado. Não queria parecer ingrata, mas era justamente a imagem que estava
passando.
- Somente a apresentei a eles porque
você exigiu.
Se
referiu as pessoas que tinham custeado sua segurança e que prontamente a
empregaram.
- Eu sei.- Ela retrucou.
- Então o quê? – Perguntou
exasperado.
O homem era uma contradição!
Primeiro,
a havia tratado como uma praga indesejável. Depois havia sido terno e doce no
pior momento de sua vida, para logo em seguida agir como se ela fosse portadora
de uma doença altamente contagiosa. E agora parecia se importar com seus
sentimentos, não era a toa que havia escolhido o mosteiro. As pessoas, em
particular os homens, eram muito complicadas.
- Não sairemos daqui enquanto não me
disser o que está errado.
- Estou com medo. – confessou.
Evitou
o olhar dele, sentia-se incomodamente infantil com a confissão.
- Medo? – o tom descrente dele mexeu
com os brios dela.
- É Pedro, medo, você conhece esse
sentimento? – disse o encarando.
- Eu não... - ela o interrompeu
- Eu cresci num orfanato, cercada de
crianças iguais a mim. Éramos a família uns dos outros, e tínhamos as irmãs que
cuidavam de nós. Por mais difícil que tenha sido não ter pai, mãe e irmãos,
tínhamos pessoas que se preocupavam conosco e nos garantiam que teríamos
comida, roupa e um teto. Quando entrei para a vida religiosa, as irmãs se
tornaram minha família, e por mais dura que tenha sido minha realidade, eu sabia
que nunca me faltaria comida, roupa e um teto. Sabia que se eu ficasse doente,
tinha quem cuidasse de mim. Agora é diferente, pela primeira vez na vida estou
realmente por minha conta, entende?
- Esse é o sonho de todo adolescente
Nina. – ele brincou tentando descontrair a tensão.
- Só que se tudo der errado, o
adolescente tem para onde voltar.
O restante da frase ficou suspenso
entre eles, aumentando ainda mais, a já insuportável tensão presente desde que
haviam saído da reunião com os mantenedores de sua segurança.
Caetano apertou com força o volante
do carro. Tinha vontade de bater em alguma coisa. Como aquela mulher podia
duvidar da própria força?
- Você pode até estar com medo, mas
sei que enfrentará cada dia com a mesma dignidade e coragem com que enfrentou o
cardeal.
Marina não pode fazer nada mais que
olhar para ele, surpresa pelo que as palavras dele revelavam. Intrínseca em
cada uma delas estava respeito e admiração. Ela o presenteou com que pareceu a
ele o remendo de um sorriso.
- Obrigada, por tudo. – disse por
fim.
Merda! – Caetano praguejou
mentalmente.
Queria
beijá-la profunda e intensamente. Até que o brilho curioso e divertido, retornasse
a aqueles incomuns olhos cor de avelã. Não podia e nem devia tocar nela. Olhou
para frente, pois se continuasse olhando para aquele par de olhos, não
responderia por si e foi quando enfim enxergou a placa de proibido estacionar.
Vinte minutos depois, um Caetano que
parecia estar ainda mais irritado, se isso era possível, conduziu o automóvel
através dos portões do que poderia ser um condomínio fechado, porém se as casas
em diferentes cores e formas não fossem indicativo do contrário, a enorme placa,
com os dizeres “Vila Novo Horizonte” esclarecia totalmente a questão.
Marina, deliciosamente surpresa, viu
a paisagem extremamente urbana e fria da metrópole, transformar-se com ares de
cidade de interior.
Cercado
por arranha-céus de vidros escuros e espelhados, o pequeno bairro sobrevivia
valente.
Desceu
do carro, sem esperar pelo homem emburrado ao seu lado, e varreu com os olhos a
simpática desordem de casas térreas e alguns sobrados. Todas possuíam muros
baixos. Para seu deleite, enxergou pequenos jardins, nos quais, as flores
agradecidas, recebiam com alegria a chuva fina que caía.
Contemplou
a grande casa, com dois andares, diante da qual haviam estacionado. Uma
construção antiga, repleta de detalhes como as casas costumavam ser quando o
mundo era mais acolhedor.
Uma
placa de ferro fundido, vazada desenhava o nome: Pensão Recomeço, o que
provocou o sorriso involuntário dela.
- Vila Novo Horizonte, pensão
Recomeço. Vou interpretar isso como bom sinal. – disse com bom humor.
O
sorriso dela teve o efeito de um soco em
seu estômago.
O
que acontece comigo? Perguntou-se ainda
confuso, pelo sentimento de perda, a seu ver, totalmente ridículo, que
experimentava.
- Aonde estão os rapazes?
Marina
perguntou se dando conta pela primeira vez que os carros da escolta não
entraram na vila.
- Lá dentro. – ele ignorou o espanto
estampado no rosto de Marina e a conduziu para o interior da pensão.
E
como ele havia dito, acomodados em um dos ambientes da acolhedora sala de estar,
estavam os cinco homens.
- Mas como...
Eles
não haviam passado por eles, como podiam estar ali? Marina se perguntava
estupefata.
O
sorriso arrogante estampado igualmente nos seis rostos, dizia claramente que
ela nunca descobriria como fizeram aquilo.
O
momento foi interrompido pela chegada da simpática e exuberante Amélia. A mulher que aparentava estar próxima dos
cinqüenta anos, demonstrava em seu andar e falar, que sentia-se completamente a
vontade com sua idade e seu corpo voluptuoso.
A empatia entre elas foi imediata,
assim como a compreensão de que ela, não fora a primeira pessoa e nem seria a
última, que aquele grupo de homens ajudava a reescrever sua história e então o
nome da pensão ganhou um sentido ainda mais significativo. Para recebê-la sem
levantar suspeitas ou atenção indesejada, a dona da pensão inventou uma
dedetização de emergência que manteria o local vazio até a manhã seguinte.
Com o coração apertado, ela se
despediu dos cinco homens que a haviam protegido e tratado com respeito e
gentileza desde que os havia conhecido:
João, Marcos, André, Matheus e
Bartolomeu. (sim tinha um Bartolomeu).
Eles
se despediram com um apertado abraço e um carinhoso beijo na face. Quanto se
preparava para se despedir de Pedro, eles a surpreenderam com um delicado
presente. Um baú de vime, recheado de cremes, maquiagens, pulseiras, brincos e
tiaras para o cabelo.
- São coisas que as mulheres precisam
e que não faziam parte de sua mala. – João esclareceu.
Tocada,
ela agradeceu novamente.
Com o coração na mão viu Pedro
carregar sua mala escada acima, em direção ao quarto indicado por Amélia. Respirou
fundo e seguiu atrás dele para dar inicio a nova etapa de sua vida.
O
quarto foi mais uma agradável surpresa para ela. Era amplo, charmoso e
aconchegante. O edredom florido sobre a cama de casal e a delicada toalha
branca que cobria uma pequena mesa redonda, sobre a qual estava um delicado
vaso de flores, a fez perceber que tudo fora preparado para ela.
Caetano observava em silencio, a
vistoria repleta de emoção que Marina fazia em seu quarto. Desde que pensaram
em trazê-la para São Paulo a pensão de Amélia havia parecido perfeita. Pois
ali, teria seu espaço e sua privacidade, mas estaria cercada de pessoas, como
sempre acontecera em sua vida. A solidão não era para ela, não sabia como, mas
tinha certeza sobre esse fato.
Nos
dias que sucederam a fatídica visita do cardeal, negou-se a ficar deprimida. Nada
o surpreendera mais, que a divertida reação dela à pergunta
indiscreta de Matheus, que no segundo dia, após a expulsão, perguntou o que o
cardeal quisera dizer, com comportamento inadequado, para uma religiosa da
diligente ordem que a recebera.
Descontraída,
com uma expressão faceira e livre da obrigação da imagem da freira perfeita, narrou
para uma audiência incrédula, como fazia para chegar despercebida ao mosteiro,
quando se atrasava para as celebrações. Intentos que quase nunca davam certo,
como pular o muro ou andar sorrateiramente pelos corredores, pois estabanada,
caía, se machucava, esbarrava em alguma imagem ou peça sacra. Fez seus homens
rirem a valer, ao narrar sua aventura, quando levou a quarenta crianças
carentes do sertão nordestino para conhecer o mar.
A
imagem dela, vestida de hábito em uma praia já seria divertida por si só. Somar
a isso, a cena dela correndo ensandecida, atrás dos mais levados, fez seus
homens e ele gargalharem.
Sem conseguir evitar, seus olhos
percorreram o corpo que há uma semana lhe tirava o sono. Usando um vestido
verde escuro na altura dos joelhos, ela parecia deliciosa.
Ele
engoliu em seco ao recordar o quão macio e quente aquele corpo lhe parecera
quando a abraçara no rio. Tentou olhar para algum móvel, mas teimosos, seus
olhos vagaram novamente por ela.
Sendo
justo, passado o choque da nova aparência, seus homens voltaram a tratá-la de
maneira fraterna, não identificara nenhuma intenção física nas atitudes deles.
Ele
ao contrário, queimava por ela.
Desejava
essa mulher de uma maneira nunca experimentada.
- Então... é isso.
Marina
tomou a iniciativa da despedida.
Manteve
uma distância segura, pois a proximidade dele despertava sensações
desconhecidas em seu corpo.
-
O presente... foi muita delicadeza da parte de vocês.
- O presente é deles, não meu. – Disse
ao se aproximar.
A
razão o mandava se afastar, ir embora, antes que cometesse um grande erro.
- Oh... – disse constrangida pela
gafe.
Ao
sentir o toque da mão dele em seu rosto, sentiu o corpo incendiar.
A
reação física tão inapropriada a fez se sentir constrangida.
- Olha para mim, Marina. – pediu e
com delicadeza ergueu o queixo dela.
A
visão daquela boca de lábios cheios fez seu sangue correr ainda mais rápido.
-
Se precisar de ajuda, se pressentir que corre algum risco, me prometa que ira
ligar para o número que está no cartão que o Álvaro te deu.
Um
número de telefone era a única informação impressa no cartão.
Era
assim que eles agiam. Sem um nome ou endereço, porém, bastaria uma ligação para
o irmão entrar em ação e garantir a segurança dela. .
- Nunca mais o verei não é verdade?
– Ela perguntou.
Sem
entender o porquê, sentia seu coração diminuir, toda vez que pensava sobre
isso.
- Verdade. - Respondeu enquanto
deslizava o polegar preguiçosamente pelos lábios tentadores.
- Você vai me beijar? – perguntou
surpresa pelo quanto desejava aquilo.
Ele sorriu diante da pergunta
sincera.
- Quero muito isso. Esse será meu
presente para você, assim terá algo bom para lembrar, toda vez que o desânimo
ou medo tentarem derrubar você.
- Precisa saber, nunca fui beijada.
A
confissão inocente fez surgir um
indomável desejo de posse dentro dele.
- O que torna meu presente ainda
mais especial. Mas preciso saber se você quer isso.
- Quero muito que seja o primeiro
homem a me beijar.
- Seja feita a sua vontade, doce
Nina.- A voz era sedução pura.
Marina sentiu os lábios quentes
sobre os seus, fechou os olhos e deliciada
e suspirou. O beijo era terno, quase inocente.
- Se participar ficará ainda melhor.
Caetano
comentou divertido pela timidez dela.
Sem tirar os olhos dos dele,
depositou ambas as mãos no peito em que seu corpo já repousara, ficou nas
pontas dos pés, como nos romances antigos e dessa vez, quando os lábios se
tocaram, o mundo explodiu em volta deles.
Caetano
não esperava a feroz reação de seu corpo. Quando ela timidamente começou a
explorar seus lábios, teve de exercer toda sua força de vontade, para não
arrastá-la para a convidativa cama e mergulhar dentro do corpo macio e quente
que o estava enlouquecendo à dias. Quando ela não somente deu acesso a sua
língua, mas invadiu sua boca com a dela, perdeu o controle. O cheiro, o sabor,
o tato sobre a pele suave e quente o fizeram perder-se e quando deu por si,
estavam contra o guarda roupas, com as pernas dela envolta em sua cintura.
Nina sabia que devia sentir-se
envergonhada, que devia ser indecente o que acontecia entre eles, mas não se
sentia assim. Em um lugar profundamente arraigado em seu coração, estava à
certeza que se descobrir mulher através das carícias desse homem, era a coisa
certa. Permitindo-se um pouco de pieguice, era seu destino. Pedro a fazia
sentir que nascera para estar com ele.
- Doce Nina. – ele sussurrou rouco,
capturando os gemidos dela com seus beijos.
Tomado
pelo desejo desesperado de senti-la inteira, baixou as alças largas do vestido
e extasiado contemplou o sutiã branco e simples, como se tivesse revelado a
peça de lingerie mais sexy do mudo.
Os
olhos encontraram os dela, que o miravam com um misto de surpresa, curiosidade
e excitação. Sem desviar os olhos, abriu o providencial fecho dianteiro da peça
intima e ela ofegou em antecipação. A visão dos seios cheios, com mamilos
escuros que o faziam pensar em chocolate com castanhas do Pará, provocou-lhe um
gemido rouco e estrangulado. Quando tocou em um deles ela arqueou o corpo de
encontro a sua mais do que dolorosa ereção.
A
reação de Marina quase o fez perder de
vez o controle.
- Precisamos parar Nina.
Sussurrou
ao mesmo tempo em que sua mão livre erguia o vestido de forma desajeitada.
-
Isso é um erro. – Disse mais para si mesmo, para em seguida beijá-la com
sofreguidão. – Confia em mim? – murmurou a pergunta em seu ouvido.
- Confio. – A reposta dada sem
vacilar reforçou a determinação dele.
O
resquício de bom senso que sobrava o advertia que, por mais receptiva e
acolhedora que ela se mostrasse, ainda não estava preparada para a entrega
total ao sexo, mas desejava ardentemente ser o primeiro homem que a levaria as
estrelas.
Mariana ofegou surpresa ao sentir a
mão de Pedro acariciar o centro de sua feminilidade.
- Shiii, confie em mim Nina e relaxe
– pediu num tom hipnótico e sedutor.
Ela
fechou os olhos e entregou-se as sensações que os movimentos circulares
produziam em seu corpo.
Caetano
observou cada detalhe da reação dela. Os gemidos de prazer, os suspiros
gostosamente femininos. A forma como ela segurava seus ombros e como seu corpo
aprendia os movimentos que aumentavam seu prazer. Leu as mensagens enviadas
pelo corpo feminino, percebeu que o auge estava perto. Quando o corpo dela foi
sacudido pelo intenso clímax, ele abafou seus gritos com um profundo e longo
beijo, enquanto experimentava uma primitiva sensação de orgulho.
- Pedro – Marina murmurou languida.
Caetano
sentiu como se o tivessem jogado em um rio congelado.
Para
ele, ouvir outro nome que não o seu, era quase um acontecimento cotidiano. Na
realidade, não recordava qual a última vez, que transara com uma mulher que
sabia seu nome verdadeiro. Isso nunca tivera a menor importância, até aquele
momento.
De
uma maneira irracional, desejava ouvir seu nome ser pronunciado daquela maneira
doce e apaixonada.
- E uma mulher doce e apaixonada
Nina. O homem que escolher será um homem de sorte. – Disse sincero.
Acariciou
a face dela e a beijou novamente. Dessa vez, de forma carinhosa, quase
reverencial.
Marina não precisou de um manual
para entender que o momento de paixão terminara.
- Adeus doce Nina. – disse após
ajudá-la a se recompor.
- Adeus. – Ela observou ele deixar o
quarto sem olhar para trás.
Ainda sob o efeito devastador dos
beijos e carícias, ela se perguntava como poderia deixar outro homem tocá-la
depois do que haviam compartilhado.
Sentada na beirada da cama, não viu
o tempo passar, até que Amélia bateu na porta do quarto e a convidou para
jantar num restaurante do bairro, já que com pensão vazia não valia a pena
cozinhar.
Enquanto
se aprontava, se deu conta de algo e sorriu.
Ele
conseguira seu intento, pois desde que Pedro deixara o quarto, ela não tinha
dedicado um pensamento sequer a suas inseguranças e medos. Estivera ocupada
demais revivendo cada toque e cada beijo.
Sorrindo
feito uma criança, foi ao encontro de sua nova amiga e senhoria.
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