sábado, 19 de abril de 2014

SÉRIE SANTUÁRIO 01 - A HISTÓRIA DE NÓS DOIS - Capítulo 05


Capítulo 5
  
Uma semana depois...
             A chuva fina e constante era um bem vindo alívio ao sufocante calor, bem como ajudava a complicar ainda mais, o já caótico transito da cidade de São Paulo.
           
Caetano, que conduzia o segundo carro, de uma “invisível” escolta, e tinha os homens de sua equipe no carro da frente e no que vinha logo atrás deles, tentava em vão manter o foco no trajeto previamente determinado, porém, sua atenção estava na mulher sentada ao seu lado, que estava imersa num surpreendente silêncio.
            Depois de muita discussão e ponderação, ele e sua equipe, decidiram que a melhor opção para Marina, agora uma secular, seria a segurança de estar incógnita, numa cidade do tamanho de São Paulo. Todos concordaram que a nova aparência facilitava a missão. Então após uma semana de contatos e muito trabalho, todos os detalhes revistos a exaustão, a conduziam nesse momento para sua nova casa.
            Haviam se cercado de todas as garantias de que ela estaria segura. Conseguiram-lhe um lugar para morar e um emprego.
Então porque ele se sentia péssimo?  Perguntava a si mesmo, enquanto mais uma vez, seu olhar a procurava.
            - Merda! – praguejou.
Percebeu que o fizera em voz ata quando ela olhou pra ele.
- O trânsito está uma m.. droga. – resmungou.
  Quando ela aceitou sua frágil explicação e voltou a contemplar, os pingos de chuva que caíam monotonamente sobre o para brisas, disse a si mesmo que já tinha tido o suficiente. Ignorando todos os protocolos de segurança, estacionou o carro.
            - Então, vai falar ou vou precisar arrancar a verdade de você?
            - Falar o que? Enlouqueceu? – o som do rádio os interrompeu.
A equipe estava tão alarmada quanto ela.
Caetano não explicou a atitude, somente pediu que os esperassem.  
            - O que está errado? - Caetano perguntou visivelmente irritado.
            - Você não acha um despropósito essa escolta?
Ela tentava desviar o assunto.
- Não tem sentido três carros, um de vocês já era suficiente, na verdade eu poderia ir de ônibus.
            - Foi o que eu disse a eles, mas os caras fazem questão de se despedir. Não vi porque impedir, mas se isso a incomoda, posso dispensá-los.
            Nina deixou escapar um suspiro frustrado. Não queria parecer ingrata, mas era justamente a imagem que estava passando.
            - Somente a apresentei a eles porque você exigiu.
Se referiu as pessoas que tinham custeado sua segurança e que prontamente a empregaram.
            - Eu sei.- Ela retrucou.
            - Então o quê? – Perguntou exasperado.
            O homem era uma contradição!
Primeiro, a havia tratado como uma praga indesejável. Depois havia sido terno e doce no pior momento de sua vida, para logo em seguida agir como se ela fosse portadora de uma doença altamente contagiosa. E agora parecia se importar com seus sentimentos, não era a toa que havia escolhido o mosteiro. As pessoas, em particular os homens, eram muito complicadas.
            - Não sairemos daqui enquanto não me disser o que está errado.
            - Estou com medo. –  confessou.
Evitou o olhar dele, sentia-se incomodamente infantil com a confissão.
            - Medo? – o tom descrente dele mexeu com os brios dela.
            - É Pedro, medo, você conhece esse sentimento? – disse o encarando.
            - Eu não... - ela o interrompeu
            - Eu cresci num orfanato, cercada de crianças iguais a mim. Éramos a família uns dos outros, e tínhamos as irmãs que cuidavam de nós. Por mais difícil que tenha sido não ter pai, mãe e irmãos, tínhamos pessoas que se preocupavam conosco e nos garantiam que teríamos comida, roupa e um teto. Quando entrei para a vida religiosa, as irmãs se tornaram minha família, e por mais dura que tenha sido minha realidade, eu sabia que nunca me faltaria comida, roupa e um teto. Sabia que se eu ficasse doente, tinha quem cuidasse de mim. Agora é diferente, pela primeira vez na vida estou realmente por minha conta, entende?
            - Esse é o sonho de todo adolescente Nina. – ele brincou tentando descontrair a tensão.
            - Só que se tudo der errado, o adolescente tem para onde voltar.
            O restante da frase ficou suspenso entre eles, aumentando ainda mais, a já insuportável tensão presente desde que haviam saído da reunião com os mantenedores de sua segurança.
            Caetano apertou com força o volante do carro. Tinha vontade de bater em alguma coisa. Como aquela mulher podia duvidar da própria força?
            - Você pode até estar com medo, mas sei que enfrentará cada dia com a mesma dignidade e coragem com que enfrentou o cardeal.
            Marina não pode fazer nada mais que olhar para ele, surpresa pelo que as palavras dele revelavam. Intrínseca em cada uma delas estava respeito e admiração. Ela o presenteou com que pareceu a ele o remendo de um sorriso.
            - Obrigada, por tudo. – disse por fim.
            Merda! – Caetano praguejou mentalmente.
Queria beijá-la profunda e intensamente. Até que o brilho curioso e divertido, retornasse a aqueles incomuns olhos cor de avelã. Não podia e nem devia tocar nela. Olhou para frente, pois se continuasse olhando para aquele par de olhos, não responderia por si e foi quando enfim enxergou a placa de proibido estacionar.
            Vinte minutos depois, um Caetano que parecia estar ainda mais irritado, se isso era possível, conduziu o automóvel através dos portões do que poderia ser um condomínio fechado, porém se as casas em diferentes cores e formas não fossem indicativo do contrário, a enorme placa, com os dizeres “Vila Novo Horizonte” esclarecia totalmente a questão.
            Marina, deliciosamente surpresa, viu a paisagem extremamente urbana e fria da metrópole, transformar-se com ares de cidade de interior.
Cercado por arranha-céus de vidros escuros e espelhados, o pequeno bairro sobrevivia valente.
Desceu do carro, sem esperar pelo homem emburrado ao seu lado, e varreu com os olhos a simpática desordem de casas térreas e alguns sobrados. Todas possuíam muros baixos. Para seu deleite, enxergou pequenos jardins, nos quais, as flores agradecidas, recebiam com alegria a chuva fina que caía.
Contemplou a grande casa, com dois andares, diante da qual haviam estacionado. Uma construção antiga, repleta de detalhes como as casas costumavam ser quando o mundo era mais acolhedor.
Uma placa de ferro fundido, vazada desenhava o nome: Pensão Recomeço, o que provocou o sorriso involuntário dela.
            - Vila Novo Horizonte, pensão Recomeço. Vou interpretar isso como bom sinal. – disse com bom humor.
O sorriso dela teve  o efeito de um soco em seu estômago.
O que acontece comigo?  Perguntou-se ainda confuso, pelo sentimento de perda, a seu ver, totalmente ridículo, que experimentava.
            - Aonde estão os rapazes?
Marina perguntou se dando conta pela primeira vez que os carros da escolta não entraram na vila.
            - Lá dentro. – ele ignorou o espanto estampado no rosto de Marina e a conduziu para o interior da pensão.
E como ele havia dito, acomodados em um dos ambientes da acolhedora sala de estar, estavam os cinco homens.
            - Mas como...
Eles não haviam passado por eles, como podiam estar ali? Marina se perguntava estupefata.
O sorriso arrogante estampado igualmente nos seis rostos, dizia claramente que ela nunca descobriria como fizeram aquilo.
O momento foi interrompido pela chegada da simpática e exuberante Amélia. A  mulher que aparentava estar próxima dos cinqüenta anos, demonstrava em seu andar e falar, que sentia-se completamente a vontade com sua idade e seu corpo voluptuoso.
            A empatia entre elas foi imediata, assim como a compreensão de que ela, não fora a primeira pessoa e nem seria a última, que aquele grupo de homens ajudava a reescrever sua história e então o nome da pensão ganhou um sentido ainda mais significativo. Para recebê-la sem levantar suspeitas ou atenção indesejada, a dona da pensão inventou uma dedetização de emergência que manteria o local vazio até a manhã seguinte.
            Com o coração apertado, ela se despediu dos cinco homens que a haviam protegido e tratado com respeito e gentileza desde que os havia conhecido:  João, Marcos, André, Matheus  e Bartolomeu. (sim tinha um Bartolomeu).
Eles se despediram com um apertado abraço e um carinhoso beijo na face. Quanto se preparava para se despedir de Pedro, eles a surpreenderam com um delicado presente. Um baú de vime, recheado de cremes, maquiagens, pulseiras, brincos e tiaras para o cabelo.
            - São coisas que as mulheres precisam e que não faziam parte de sua mala. – João esclareceu.  
Tocada, ela agradeceu novamente.
            Com o coração na mão viu Pedro carregar sua mala escada acima, em direção ao quarto indicado por Amélia. Respirou fundo e seguiu atrás dele para dar inicio a nova etapa de sua vida.
O quarto foi mais uma agradável surpresa para ela. Era amplo, charmoso e aconchegante. O edredom florido sobre a cama de casal e a delicada toalha branca que cobria uma pequena mesa redonda, sobre a qual estava um delicado vaso de flores, a fez perceber que tudo fora preparado para ela.
            Caetano observava em silencio, a vistoria repleta de emoção que Marina fazia em seu quarto. Desde que pensaram em trazê-la para São Paulo a pensão de Amélia havia parecido perfeita. Pois ali, teria seu espaço e sua privacidade, mas estaria cercada de pessoas, como sempre acontecera em sua vida. A solidão não era para ela, não sabia como, mas tinha certeza sobre esse fato.  
Nos dias que sucederam a fatídica visita do cardeal, negou-se a ficar deprimida. Nada o surpreendera mais, que a divertida reação dela à pergunta indiscreta de Matheus, que no segundo dia, após a expulsão, perguntou o que o cardeal quisera dizer, com comportamento inadequado, para uma religiosa da diligente ordem que a recebera.
Descontraída, com uma expressão faceira e livre da obrigação da imagem da freira perfeita, narrou para uma audiência incrédula, como fazia para chegar despercebida ao mosteiro, quando se atrasava para as celebrações. Intentos que quase nunca davam certo, como pular o muro ou andar sorrateiramente pelos corredores, pois estabanada, caía, se machucava, esbarrava em alguma imagem ou peça sacra. Fez seus homens rirem a valer, ao narrar sua aventura, quando levou a quarenta crianças carentes do sertão nordestino para conhecer o mar.
A imagem dela, vestida de hábito em uma praia já seria divertida por si só. Somar a isso, a cena dela correndo ensandecida, atrás dos mais levados, fez seus homens e ele gargalharem.
            Sem conseguir evitar, seus olhos percorreram o corpo que há uma semana lhe tirava o sono. Usando um vestido verde escuro na altura dos joelhos, ela parecia deliciosa.
Ele engoliu em seco ao recordar o quão macio e quente aquele corpo lhe parecera quando a abraçara no rio. Tentou olhar para algum móvel, mas teimosos, seus olhos vagaram novamente por ela.
Sendo justo, passado o choque da nova aparência, seus homens voltaram a tratá-la de maneira fraterna, não identificara nenhuma intenção física nas atitudes deles.
Ele ao contrário, queimava por ela.
Desejava essa mulher de uma maneira nunca experimentada.
            - Então... é isso.
Marina tomou a iniciativa da despedida.
Manteve uma distância segura, pois a proximidade dele despertava sensações desconhecidas em seu corpo.  
- O presente... foi muita delicadeza da  parte de vocês.
            - O presente é deles, não meu. – Disse ao se aproximar.
A razão o mandava se afastar, ir embora, antes que cometesse um grande erro.
            - Oh... – disse constrangida pela gafe.
Ao sentir o toque da mão dele em seu rosto, sentiu o corpo incendiar.
A reação física tão inapropriada a fez se sentir constrangida.
            - Olha para mim, Marina. – pediu e com delicadeza ergueu o queixo dela.
A visão daquela boca de lábios cheios fez seu sangue correr ainda mais rápido.
- Se precisar de ajuda, se pressentir que corre algum risco, me prometa que ira ligar para o número que está no cartão que o Álvaro te deu.
Um número de telefone era a única informação impressa no cartão.
Era assim que eles agiam. Sem um nome ou endereço, porém, bastaria uma ligação para o irmão entrar em ação e garantir a segurança dela. .
            - Nunca mais o verei não é verdade? – Ela perguntou.
            Sem entender o porquê, sentia seu coração diminuir, toda vez que pensava sobre isso.
            - Verdade. - Respondeu enquanto deslizava o polegar preguiçosamente pelos lábios tentadores.
            - Você vai me beijar? – perguntou surpresa pelo quanto desejava aquilo.
            Ele sorriu diante da pergunta sincera.
            - Quero muito isso. Esse será meu presente para você, assim terá algo bom para lembrar, toda vez que o desânimo ou medo tentarem derrubar você.
            - Precisa saber, nunca fui beijada.
A  confissão inocente fez surgir um indomável desejo de posse dentro dele.
            - O que torna meu presente ainda mais especial. Mas preciso saber se você quer isso.  
            - Quero muito que seja o primeiro homem a me beijar.
            - Seja feita a sua vontade, doce Nina.- A voz era sedução pura.
            Marina sentiu os lábios quentes sobre os seus, fechou os olhos e deliciada  e suspirou. O beijo era terno, quase inocente.
            - Se participar ficará ainda melhor.
Caetano comentou divertido pela timidez dela.
            Sem tirar os olhos dos dele, depositou ambas as mãos no peito em que seu corpo já repousara, ficou nas pontas dos pés, como nos romances antigos e dessa vez, quando os lábios se tocaram, o mundo explodiu em volta deles.
Caetano não esperava a feroz reação de seu corpo. Quando ela timidamente começou a explorar seus lábios, teve de exercer toda sua força de vontade, para não arrastá-la para a convidativa cama e mergulhar dentro do corpo macio e quente que o estava enlouquecendo à dias. Quando ela não somente deu acesso a sua língua, mas invadiu sua boca com a dela, perdeu o controle. O cheiro, o sabor, o tato sobre a pele suave e quente o fizeram perder-se e quando deu por si, estavam contra o guarda roupas, com as pernas dela envolta em sua cintura.
            Nina sabia que devia sentir-se envergonhada, que devia ser indecente o que acontecia entre eles, mas não se sentia assim. Em um lugar profundamente arraigado em seu coração, estava à certeza que se descobrir mulher através das carícias desse homem, era a coisa certa. Permitindo-se um pouco de pieguice, era seu destino. Pedro a fazia sentir que nascera para estar com ele.
            - Doce Nina. – ele sussurrou rouco, capturando os gemidos dela com seus beijos.
Tomado pelo desejo desesperado de senti-la inteira, baixou as alças largas do vestido e extasiado contemplou o sutiã branco e simples, como se tivesse revelado a peça de lingerie mais sexy do mudo.
Os olhos encontraram os dela, que o miravam com um misto de surpresa, curiosidade e excitação. Sem desviar os olhos, abriu o providencial fecho dianteiro da peça intima e ela ofegou em antecipação. A visão dos seios cheios, com mamilos escuros que o faziam pensar em chocolate com castanhas do Pará, provocou-lhe um gemido rouco e estrangulado. Quando tocou em um deles ela arqueou o corpo de encontro a sua mais do que dolorosa ereção.
A  reação de Marina quase o fez perder de vez o controle.
            - Precisamos parar Nina.
Sussurrou ao mesmo tempo em que sua mão livre erguia o vestido de forma desajeitada.
- Isso é um erro. – Disse mais para si mesmo, para em seguida beijá-la com sofreguidão. – Confia em mim? – murmurou a pergunta em seu ouvido.
            - Confio. – A reposta dada sem vacilar reforçou a determinação dele.
O resquício de bom senso que sobrava o advertia que, por mais receptiva e acolhedora que ela se mostrasse, ainda não estava preparada para a entrega total ao sexo, mas desejava ardentemente ser o primeiro homem que a levaria as estrelas.
            Mariana ofegou surpresa ao sentir a mão de Pedro acariciar o centro de sua feminilidade.
            - Shiii, confie em mim Nina e relaxe – pediu num tom hipnótico e sedutor.
Ela fechou os olhos e entregou-se as sensações que os movimentos circulares produziam em seu corpo.
Caetano observou cada detalhe da reação dela. Os gemidos de prazer, os suspiros gostosamente femininos. A forma como ela segurava seus ombros e como seu corpo aprendia os movimentos que aumentavam seu prazer. Leu as mensagens enviadas pelo corpo feminino, percebeu que o auge estava perto. Quando o corpo dela foi sacudido pelo intenso clímax, ele abafou seus gritos com um profundo e longo beijo, enquanto experimentava uma primitiva sensação de orgulho.
            - Pedro – Marina murmurou languida.
            Caetano sentiu como se o tivessem jogado em um rio congelado.
Para ele, ouvir outro nome que não o seu, era quase um acontecimento cotidiano. Na realidade, não recordava qual a última vez, que transara com uma mulher que sabia seu nome verdadeiro. Isso nunca tivera a menor importância, até aquele momento.
De uma maneira irracional, desejava ouvir seu nome ser pronunciado daquela maneira doce e apaixonada.
            - E uma mulher doce e apaixonada Nina. O homem que escolher será um homem de sorte. –  Disse sincero.
Acariciou a face dela e a beijou novamente. Dessa vez, de forma carinhosa, quase reverencial.
            Marina não precisou de um manual para entender que o momento de paixão terminara.
            - Adeus doce Nina. – disse após ajudá-la a se recompor.
            - Adeus. – Ela observou ele deixar o quarto sem olhar para trás.
            Ainda sob o efeito devastador dos beijos e carícias, ela se perguntava como poderia deixar outro homem tocá-la depois do que haviam compartilhado.
            Sentada na beirada da cama, não viu o tempo passar, até que Amélia bateu na porta do quarto e a convidou para jantar num restaurante do bairro, já que com pensão vazia não valia a pena cozinhar.
Enquanto se aprontava, se deu conta de algo e sorriu.
Ele conseguira seu intento, pois desde que Pedro deixara o quarto, ela não tinha dedicado um pensamento sequer a suas inseguranças e medos. Estivera ocupada demais revivendo cada toque e cada beijo.
Sorrindo feito uma criança, foi ao encontro de sua nova amiga e senhoria.  


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