Capítulo 11 - A canção do
coração e Um passeio Especial
Uma semana mais tarde
O som da melodia inédita e ainda inacabada preenchia o pequeno
estúdio. A beleza e altivez dos acordes do violoncelo dando vida à música de
sonoridade e intensidade surpreendentes.
Completamente entregue àquele momento mágico, Eva sentia as notas
ressoarem por cada centímetro do seu corpo. A música fluía em uma em ondas de
emoção e sentimentos. Ora vibrante e repleta de um carisma irresistível. Ora
misteriosa e sedutora. A melodia ganhava nuances únicos. Ela conseguia sentir
com uma clareza extraordinária, cada sentimento da composição que seu coração
criava. A suavidade do carinho ganhou as cordas do violoncelo para no momento
seguinte a harmonia explodir com uma força de uma emoção sensual e
arrebatadora. A Paixão.
Com lágrimas em seus olhos, emocionada e comovida, fez uma pausa
para anotar a última sequência de notas. Contemplou a música composta por suas
emoções. Inspirou profundamente e no topo das anotações, escreveu o nome da
peça que seu coração dizia ser a composição de sua vida. Theo.
Não era uma composição criada para ele. Era sobre ele. Revelava
através das notas e acordes como seu coração o reconhecia.
Como era possível sentir saudades de algo que ainda não tinha
vivido? Perguntou-se pela enésima vez nos últimos sete dias. Porque sentia
tanta falta de alguém com quem convivera somente por algumas horas? E por que,
em nome de Deus, sentia como se o conhecesse por toda a vida? Como era possível
sentir essa conexão profunda? Esse querer bem? Esse conhecer? Essa intimidade?
As perguntas se sucediam em sua mente desde que saíra da pick-up
C-10 em frente à casa de Laura há uma semana. Passou aquela madrugada e parte
da manhã seguinte, sentada no chão do banheiro da suíte, acompanhando a amiga,
que sofria as consequências de ingerir vinho, champanhe e whisky na tentativa
de amortizar a dor. Pela manhã, conseguiu convencê-la a ir a um pronto socorro.
Onde passaram parte do dia. À noite a acompanhara a missa celebrada em memória
da morte de Yves, que contou com a presença de amigos e admiradores do
coreógrafo.
Durante todo tempo, apesar de estar preocupada com o bem-estar
físico e emocional de Laura, sua mente e coração estiveram com Theodoro
Emiliano Santini. Nos poucos momentos que partilharam juntos e naquela melodia
que parecia nascer dentro dela desde o beijo no coreto do jardim da luz. Todas
as vezes em que se beijaram ela ouvia nitidamente a música que na qual estava
trabalhando.
Todas as vezes em que se beijaram...
Cada vez em que as mãos ou os lábios dele tocaram sua pele, seu
corpo explodiu de prazer e necessidade. De uma maneira insana e totalmente
absurda, experimentava a sensação de que estar com ele era o certo.
Eva suspirou. Mais uma vez contemplou as sequências de notas e
sentiu o coração arder ao se dar conta de que a música revelava em cada nota,
muito mais do que imaginava.
Cerrou os olhos e permitiu que a canção fluísse por seu sangue,
artérias e ganhasse caminho livre por todo o seu corpo. Com todas as emoções à
flor da pele, recomeçou a tocar.
As notas do violoncelo viajaram através do pequeno estúdio,
preenchendo o ambiente com sentimentos e emoções que somente ali, naquele
pequeno e sagrado espaço, ela se permitia liberar. Eva se entregou aos acordes
e mais uma vez a música falou por ela. Revelou o que sua mente racional e seu
coração já ferido e amedrontado não permitiam revelar.
Quando, muitos minutos depois, o cello silenciou, ela tinha um
amplo sorriso nos lábios. Consultou as anotações, fez algumas correções e
acrescentou a nova sequencia de notas que nasceu enquanto tocara. Os olhos se
voltaram para o cabeçalho, onde colocara o nome dele. Em um impulso guiado por
seus sentimentos, acrescentou seu nome.
O coração queimou em seu peito, ao contemplar o tema da melodia:
Theo e Eva.
Cristo! Ela rogou em pensamento.
Se as poucas horas que tiveram fizera isso com ela. O que teria
acontecido se se permitisse passar os próximos três meses em seus braços? Como
conseguiria ir embora?
A mente dizia ter feito à coisa certa. Mesmo que seu coração
bradasse que esse homem era o seu destino. Theo era o homem certo na hora
errada.
Eva já se posicionou para voltar a tocar, quando a campainha, que
possuía uma extensão no estúdio, tocou. Ela sorriu.
- Já vou Laura – disse ao sair do estúdio.
Laura falara a semana inteira sobre saírem no sábado à noite para
compensar o final de semana anterior, perdido entre lágrimas, álcool e vômito,
como a amiga mesmo dissera. E apesar de ela ter dito que preferiria passar a
noite de sábado, compondo eu seu apartamento, era óbvio que a “louca” não se
convencera.
O sorriso se transformou em surpresa ao abrir a porta. Parado no
corredor, trajando um impecável terno sem gravata, segurando uma caixa que
parecia conter refeição para viagem e com um galante sorriso nos lábios, estava
Heitor Avelar.
- Boa noite – Heitor a cumprimentou galante.
Pelos deuses da música clássica! Heitor exclamou em pensamento.
A violoncelista vestia shorts e camiseta. E que pernas a mulher
possuía! Teve de fazer um baita esforço para não babar.
Eva não respondeu o cumprimento. Em vez disso, cruzou os braços,
apoiou o corpo no batente da porta e o encarou com uma expressão que perguntava
claramente o que o sujeito fazia parado à sua porta.
- Estou aqui em missão de paz – Heitor anunciou – Até trouxe o jantar!
– comunicou mostrando a caixa. Na outra mão trazia uma caixa de vinho.
Conhecia a musicista a tempo suficiente para saber que ela não o
perdoaria com facilidade. Tampouco era idiota a ponto de insistir em uma rusga
com um membro de uma das famílias que mais contribuía com museus e teatros no
país. Uma ligação de Theo Santini e sua carreira seria esmagada. E quanto
a Eva, ele era um homem paciente. Esperaria o ricaço se cansar de brincar de
casa grande e senzala, para investir na mulata de deliciosas curvas. Se antes
suspeitava que a musicista possuísse um corpo de passista de escola de samba,
agora já não tinha dúvida alguma.
Eva continuou em silêncio.
- Sei que agi como um idiota na semana passada. Estou aqui para
pedir desculpas e me redimir – anunciou com uma expressão culpada em sua face.
A mulher era esperta. Mas ele sabia quais cartas jogar. Pensou
determinado.
- Não é para mim que deve desculpas Heitor. E sabe disso – Eva
ponderou.
- Devo desculpas aos dois. E se me permitir entrar, pedirei desculpas
a ele.
- Acha que o Theo está aqui? – perguntou surpresa.
- E onde mais ele estaria em uma noite de sábado senão com você?
Vocês estão envolvidos não estão? Desculpe-me, não é da minha conta.
- Não. Não é – Eva não baixou a guarda.
Heitor não desviou o olhar do dela em nenhum momento.
- Nos conhecemos há anos. Temos uma parceria excelente. Não quero
jogar tudo isso fora – disse encarando a violoncelista – Daqui a alguns meses,
você estará do outro lado do oceano, não quero que um fato isolado seja a
lembrança que levará de mim.
Eva respirou fundo.
Conhecia Heitor há anos e até aquela noite na pinacoteca nunca
tivera qualquer problema com ele. A parceria na música era excelente. A
convivência na amizade também era tranquila. Heitor era um galinha, mas até uma
semana atrás, sempre respeitara o limite da amizade.
- Seu comportamento na Pinacoteca foi arrogante e grosseiro. E
acreditar que elogios e galanteios baratos irão me colocar na sua lista de
conquistas é no mínimo ultrajante.
Heitor não conseguiu conter o sorriso diante da sinceridade da
musicista.
- Adoro sua sinceridade Eva. Nunca tem medo de dizer o que pensa
sobre meu comportamento errante.
Ela também sorriu.
Isso era verdade. Sempre foi sincera sobre o que pensava a
respeito do comportamento de Heitor em relação às mulheres.
- Então? Amigos novamente? – Heitor perguntou.
Quais eram suas opções para aquela noite de sábado? Ficar pensando
em Theo e em como o destino brincara com ela, colocando em sua vida um homem
que não poderia se permitir querer? Ou um jantar agradável com Heitor? Ele
parecia realmente arrependido do breve momento de insanidade.
O sorriso dela se ampliou. Um sorriso franco e verdadeiro.
O sorriso dela sempre o encantara.
- Apenas amigos – ela enfatizou.
- Apenas amigos – ele concordou.
Ela deu um passo para o lado, permitindo o acesso dele ao interior
do apartamento.
- Eu cuido da comida e você da mesa, que tal? – Heitor sugeriu
parado em meio à sala de estar.
- E você também irá lavar a louça – ela decretou.
- Feito – ele concordou.
Eva Martins, você ainda estará em minha cama. Ele pensou com um
sorriso falsamente inocente no rosto.
Os primeiros instantes foram incômodos. Porém dez minutos depois,
sentados à mesa de jantar, brindaram a amizade e conversavam animadamente sobre
música, composições e os projetos para o futuro profissional de cada um. Eva
não ficou surpresa ao ouvir que Heitor também tinha planos de ir para Europa.
Era o caminho natural, ir para onde a música clássica era mais forte. Por outro
lado, a concorrência por lá, era muito mais feroz.
Estavam quase terminando o jantar, quando Laura chegou, se juntou
a eles e aceitou somente uma taça de vinho. Após terminarem o jantar e toda a
louça estar lavada, enxugada e devidamente guardada, Laura tentou convencê-la a
sair. Heitor, animado, apoiou a ideia. Mas Eva tinha outros planos. O coração
pedia para voltar ao estúdio e terminar a composição que já conhecia em sua
mente. E ainda existia a pequena, mas provável, chance de esbarrar com Theo
enquanto perambulassem pela noite paulistana. Não estava preparada para vê-lo
com uma mulher.
Uma hora depois. Heitor e Laura deixaram seu apartamento com
destino a uma boate da moda. Um ambiente sofisticado, frequentado pela “nata”
da sociedade de São Paulo.
Com coração um pouco dolorido, porém tranquilo, ela voltou ao
estúdio e se entregou à música que conhecia em seu mente, vibrava por seu corpo
e preenchia seu coração.
Em Ubatuba...
As ondas quebravam no mar em uma cadência quase hipnótica e a
espuma branca deslizava suave até quase a faixa de areia. O movimento lembrava
uma melodia, forte, impactante e ao mesmo tempo delicada. A lua cheia, com sua
altivez e brilho prateado, regia o concerto dos sons noturnos, tendo as
estrelas como expectadoras.
Sentado na areia da praia, Theo olhava em direção ao mar, mas não
enxerga o espetáculo da natureza. Assim como também não ouvia a música e a
animada conversa do luau que acontecia somente há alguns metros.
- Merda! - praguejou em voz baixa.
Sua semana fora uma merda. No trabalho, a mudança da estação, como
sempre acontecia, fragilizava as mudas e dificultava o plantio das flores. O
fornecedor da terra com nutrientes especiais que utilizava atrasou a entrega, o
que alterou seu cronograma de trabalho. Sua sobrinha pegara uma gripe forte e
ficara de cama. Até mesmo o sexo fora insatisfatório... Saíra com Alexia duas
noites aquela semana. Jantaram em restaurantes sofisticados e esticaram a noite
em um hotel de classe. Porém seu corpo não se sentiu satisfeito ou relaxado.
Pela primeira vez em sua vida, o sexo pelo sexo, não fora suficiente. O que era
uma merda, para dizer o mínimo.
Mas o que o estava matando, era essa vontade gigante de estar com
a Eva...
Eva e sua voz melodiosa, com seu sorriso amplo, tentadores olhos
cor de whisky, pele cor de chocolate derretido e aroma de morangos silvestres
recém colhidos. Como alguém com quem esteve uma única vez conseguira se
esgueirar sob sua pele daquela maneira? Perguntou-se.
- E nós nem fizemos sexo – resmungou para si mesmo.
Uma garrafa de cerveja long neck surgiu em seu campo de visão.
Aceitou a oferta muda de Bas, que em seguida sentou ao seu lado. Não perguntou
ou disse qualquer coisa. Tomou um gole da cerveja e contemplou o mar de
Ubatuba.
Permaneceram em um silêncio fraterno enquanto escutavam o
majestoso som do mar e os ruídos animados do luau.
Devia uma ao homem por praticamente tê-lo arrastado para aquela
viagem. Theo reconheceu. No dia anterior, Sebastian apareceu em seu trabalho e
avisou que no sábado pela manhã tinham um compromisso. Após meses de ausência,
voltariam a viajar com o moto clube Águias do Asfalto, que era dirigido pelos
amigos de longa data Marco Ladeia e Pedro Amorim. Dessa vez o grupo teria
como destino o resort Itamambuca, em Ubatuba. Conhecia Marco Ladeia e
Pedro Amorim, que dirigiam o moto clube Águias do Asfalto, desde o colégio. Os
caras eram super exigentes e cuidadosos com as inscrições no moto clube.
Ele protestou quanto à possibilidade de viajar. Afinal tinha
trabalho atrasado e estava preocupado com sua sobrinha. Não estava com humor
para viagens. Bas não deu a mínima para os seus argumentos ou seu mau humor. E
esclareceu que não estava perguntando se ele gostaria ou não de viajar com o
moto clube no final de semana. Estava apenas comunicando que no dia seguinte
estariam sobre suas motos, com destino a Ubatuba, mesmo que fosse necessário
arrastar o paisagista até sua Harley e amarrá-lo.
Há muito tempo não usava a moto. E para seu prazer, o motor da
senhora Davidson, ronronou como um felino, poderoso e confiante. Estar
novamente na estrada sobre sua moto, sentindo o vento bater em seu rosto e
experimentando aquela sensação de liberdade foi genial. Admitiu.
A viagem teria sido perfeita, se ele não tivesse pensado em Eva
todo o tempo. Não chegara a perguntar se ela gostava de motos. Mas enquanto
conduzia sua Harley pela rodovia, imaginava como a musicista ficaria montando
sua Harley, usando calça justa, jaqueta e botas. Ou melhor, como seria conduzir
a moto com ela em sua garupa, agarrada a seu corpo.
Merda! Resmungou em pensamento.
Apesar de estar sem viajar com o moto clube há meses, Theo
identificou poucas caras novas. Uma delas descobriu se chamar Bárbara Nucci. A
beldade estava em sua primeira viagem com o grupo e deixara os demais homens
loucos com a novidade. Theo tomou um gole de cerveja e balançou a cabeça
divertido, ao recordar, como os caras cercavam a gata de longos cabelos
escuros. A mulher era bonita e tinha um corpo de matar. Marco estava claramente
marcando território. Poderia estar enganado, mas ali tinha mais que tesão. O
juiz Marco Ladeia não se exporia, como havia feito uma hora antes, quase saindo
no braço com o idiota do Alexandre, por tesão. Torcia pelo cara. A vida fora
dura para ele nos últimos tempos.
Um deles tinha que se dar bem, pensou com ironia.
Pedro andava estranho nos últimos tempos. Apesar de sempre se
encontrarem para uma cerveja, fazia algum tempo que não o via acompanhado de
uma mulher. Sebastian ainda estava “enlutado” com o término de seu
relacionamento com a mutante que era uma mistura cobra e vaca. E ele... Bom...
Ele estava fudido...
- Ela me chutou – disse sem olhar para o homem sentado em silêncio
ao seu lado e bebeu outro gole de sua cerveja.
Bas continuou em silêncio.
- Disse que não pode se permitir se apaixonar quando está de
partida para viver na Europa – desabafou.
Bas bebeu sua própria cerveja e não disse uma palavra.
- Ela é sensível, vibrante, cheia de entusiasmo, tem um talento
incrível e apesar da alma livre de artista, consegue ser focada e sensata, dá
para acreditar? – perguntou contrariado.
Permaneceram em silêncio por mais alguns minutos.
Uma semana havia se passado e Theo ainda se sentia frustrado.
Levara um baita pé na bunda e não conseguia ficar com raiva ou mesmo ignorar a
atração, ou seja lá o que for que sentia em relação à violoncelista.
- Você vai desistir? Bas perguntou sem olhar em sua direção.
Theo bufou irritado.
- Qual parte do levei um pé na bunda você não ouviu? – retrucou.
- Vou repetir a pergunta. Theo Santini você vai desistir? – Bas
voltou a perguntar, dessa vez o encarando.
- Tenho meu orgulho cara – Theo respondeu contemplando o mar.
- Você perseguiu essa mulher por toda a cidade. Ficou louco por
ela, mesmo sem saber que a mulher da carta da sinfônica era ela. Lembra como
ficava quando recebia as mensagens de texto? Como ficou preocupado quando ela
foi assaltada no metrô?
- Eva não está interessada – Theo contra argumentou.
- A pergunta aqui é: você quer ou não essa mulher na sua vida? Ou
melhor, está preparado para mudança que será ter essa mulher em sua vida?
Theo ficou em silêncio. Não sabia como responder essa pergunta.
Ele simplesmente não sabia.
- Lute por ela. Se você não o fizer, outro fará - Bas o
alertou.
A imagem do violinista beijando a mão de sua dama na apresentação
da Pinacoteca e a comendo com os olhos explodiu em sua mente.
Porra! Gritou em sua mente.
- Eva é uma mulher incrível. Ela é bonita, sensível, sexy e
sensata.
O olhar furioso de Theo interrompeu a frase do botânico.
Bas tinha feito sua própria pesquisa sobre a senhorita Martins. O
que descobrira o surpreendera. Eva era uma mistura única e incomum do
sofisticado com o despojado. Da ambição aliada à ética. Sonhar grande e
realizar, sem esquecer, ou melhor, sem perder o contato com suas raízes.
Nenhum pouco intimidado pelo ciúmes do amigo continuou a falar.
- É um filho da puta sortudo e não se deu conta – Bas retrucou –
Se quer realmente essa mulher, lute por ela.
Theo abriu a boca para contestar o argumento do botânico, porém a
aproximação de Pedro, o silenciou.
- Essa é uma nova técnica para chamar a atenção da mulherada? Se
afastar para instigar o interesse? Pedro perguntou bem humorado apontando na
direção do Luau.
Theo e Bas olharam na direção indicada e constataram que algumas
mulheres realmente olhavam na direção deles.
- Quer se juntar a nós na tentativa de pegar alguém? – Bas
perguntou com ironia divertida.
- Na verdade, achei que o chefe estava por aqui. Viram o Marcão
por aí? - Pedro perguntou.
- A última vez que o vi, seguia atrás da moça nova, a Barbara
Nucci – Theo respondeu.
- Melhor não ir em direção da piscina – Bas respondeu tomando
outro gole de cerveja olhando em direção do mar.
Theo disfarçou o sorriso com um pigarro.
Pedro ficou em silêncio por alguns instantes. Parecia refletir se
o sumiço do líder do moto clube era bom ou ruim. Considerando as implicâncias
futuras, nem mesmo Theo e Bas se arriscavam a um veredito. A bagagem de Marco,
não era para qualquer mulher.
Theo torceu para que a moça de corpo arrasador e longos cabelos
escuros fosse a resposta correta para vida do juiz.
- O Alexandre já se acalmou? – Bas perguntou.
- O Xande é um babaca – Pedro respondeu olhando para o mar –
O Marcão não devia ter entrado na dele. O cara adora provocar. Qualquer hora
dessas, não haverá ninguém para acalmar os ânimos e ele vai descobrir o quanto
pesa a direita de um juiz.
- Um brinde a isso – Bas comentou tomando mais um gole de sua
cerveja.
Pedro riu desanimado.
- O Xande continua bebendo ou já parou por hoje? – Theo perguntou
ao notar o semblante preocupado de Pedro.
- Está entornando uma atrás da outra – Pedro respondeu desanimado.
- Algo me diz que está precisando de ajuda – Bas comentou.
- Esse problema e meu e não de vocês – Pedro comentou tranquilo –
Vieram para cá para relaxar e se divertir. Administrar os problemas é
reponsabilidade minha e do Marcão. Fiquem tranquilos.
- E para o que servem os amigos? – Theo perguntou ao se levantar.
Gesto seguido por Sebastian.
- Devo uma para cada um – Pedro comentou ao caminhar em direção ao
Luau seguido por Theo e Bas.
*********************
Na manhã seguinte, no horário marcado, o grupo estava organizado
para pegar a estrada de volta à São Paulo. Ao chegar à recepção para o
check-out Theo presenciou mais um desentendimento entre Alexandre e Marco.
Novamente coube a Pedro acalmar os ânimos.
Pedro merecia um altar! Theo pensou ao chegar a sua Harley. A
expressão de Marco ao se aproximar do grupo para partida, era a pior possível.
Observou que Bárbara não se aproximou do homem visivelmente irado.
Menina esperta! Disse para si mesmo ao colocar o capacete.
Instantes depois o grupo estava na estrada. O líder do moto clube
optou por retornarem pela mesma rodovia pela qual rodaram até Ubatuba, a Rio –
Santos. O caminho era mais longo, mas o visual valia cada minuto da viagem.
Theo se deixou contagiar pelo prazer de conduzir a Sra. Davidson e
pela paisagem de beleza incomparável. Homem, máquina e natureza, em uma
comunhão tranquila, serena. Sentir o desempenho da máquina, ouvir o ronco do
motor, cruzar distância sobre duas rodas... Limpar a mente e se manter focado
na direção.
Ele e a estrada... Uma relação sem amarras ou complicação, somente
prazer. Tudo o que necessitava...
Sem complicações ou paradas não programadas, chegaram ao ponto de
encontro em São Paulo. Bárbara Nucci buzinou, acenou se despedindo e seguiu sem
olhar na direção do líder do moto clube.
Pelo visto ele não era o único com problemas com o sexo oposto.
Pensou.
Acabara de tirar o capacete quando Marco se aproximou.
- E aí cara, nem conseguimos conversar – Marco cumprimentou o
paisagista.
- Você estava ocupado – Theo comentou divertido – Você dá muito
ibope para o idiota do Xande, desencana cara.
Marco respirou fundo ainda contrariado.
- Falar é mais fácil que fazer – o juiz desabafou – Quer esticar
em um barzinho aqui perto?
- Fica para próxima. Minha sobrinha esteve doente. Vou passar na
casa da Sarah para ver minha princesinha – Theo disse ao recolocar o capacete.
Não avisou Bas, não era preciso. O homem disfarçava bem, mas também estava
preocupado com a pequena Clara.
- Dá um beijo na sua irmã por mim – Marco comentou sincero.
- Não sou juiz e minha família já acredita que sou a ovelha negra.
Se precisar de ajuda para dar uns socos no idiota é só chamar.
Theo não deu tempo para amigo responder. No instante seguinte deu
a partida e seguiu seu caminho. Com um sorriso torto, Marco balançou a cabeça
de um lado para outro, agradecido pelos amigos que conquistara ao longo da
vida. Ele respirou fundo e se seguiu para onde os demais membros do moto clube
o esperavam. Era hora de pedir desculpas e se despedir.
*********
Dez dias depois
Theo estacionou a moto em frente ao conservatório, tirou o
capacete e olhou para a porta pela qual a dama de olhos cor de whisky
sairia a qualquer minuto.
Há quase vinte dias, quando a deixou na casa de Laura Mondrian,
prometera a si mesmo que se manteria longe, mas não conseguiu... Ela estava
sempre presente, mesmo nessa ausência de quase vinte longos dias. E ainda
existia aquela melodia que não abandonava sua mente, instigando, seduzindo,
chamando.
Queria essa mulher em sua vida. Não, corrigiu-se. Precisava da
presença quente e acolhedora de Eva em sua vida. E se existia somente uma
maneira de garantir isso, ele o faria.
“Lute por ela”
A frase que ouvira de Bas na praia de Ubatuba invadiu suas
lembranças, provocando um confiante sorriso que estampou seu rosto.
Ele estava preparado para a guerra. Pensou determinado.
***********
Ela estava no limite e ainda era apenas quarta feira! Eva pensou
organizando os instrumentos da sala de aula.
Estava saindo com quase uma hora de atraso e isso era a parte boa
do seu dia. Desde segunda – feira participava de reuniões sem fim sobre a
desastrosa participação do conservatório em um concorrido e respeitado evento
de música clássica em Gramado, no Rio Grande do Sul. O conservatório participou
com vinte cinco alunos e o grupo principal, do qual ela não fazia parte. Mas
fora escalada para cuidar de uma turma de oito alunos. Mais duas professoras
receberam a incumbência de cuidar dos demais. Três monitoras teriam sido
suficientes para dar conta de vinte e cinco adolescentes com hormônios em
fúria. Isso se duas delas, não os tivessem deixados sozinhos para uma escapada
noturna com músicos locais.
O resultado? Festinha animada no hotel, drogas e claro, para
coroar, sexo.
Por Cristo! Ela já viajara sozinha, várias vezes, cuidando de uma
turma de quase quarenta músicos adolescentes do projeto social no qual
trabalhava e nunca tivera problema. A turma de jovens ricos quase as
enlouqueceu.
Nos últimos dias, participara de reuniões com a diretoria da
escola, pais, psicólogos, orientadores e médicos especializados em dependência
química. Não adiantou argumentar que sua turma estava dormindo placidamente,
enquanto as outras duas faziam a releitura de Sodoma e Gomorra. Foi obrigada a
participar e assistir o triste espetáculo sobre a arte de jogar a culpa no
outro. Ninguém assumia responsabilidade por nada.
Os jovens eram mimados pelo dinheiro dos pais, que imaturos e
egocêntricos, não conseguiam dizer não e impor limite aos adolescentes que
cresceram aprendendo que o dinheiro resolvia tudo. A escola que não reconhecia
o erro de contratar profissionais despreparados para trabalhar com essa
delicada e polêmica faixa etária. E as professoras fujonas, que não assumiam
suas irresponsabilidades, muito menos as consequências.
Com um suspiro cansado, vestiu o casaco, pegou a bolsa, apagou a
luz, fechou a porta da sala seguiu para saída.
- Boa noite Rita – Eva se despediu da recepcionista do período
noturno do conservatório.
- Boa noite para você que tem um bonitão te esperando - a mulher
respondeu bem humorada.
- Eu? Quem? – Eva perguntou olhando em torno da recepção.
Ninguém parecia particularmente interessado nela.
- Aqui não boba. Lá – Rita apontou para o lado de fora – Ele
já perguntou por vocês três vezes.
Eva olhou para direção indicada e experimentou uma sensação
semelhante ao coração explodindo em seu peito.
Parado na rua, usando jeans, camiseta e jaqueta negras, com os
cabelos loiros no charmoso desalinho, estava o seu Theodoro Emiliano Santini.
Nenhum comentário:
Postar um comentário