quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Príncipe da Perdição - Capítulo 02

CATULO DOIS
 Cassandra
Depois daquela sessão de tortura na sala de reuniões, havia uma semana que Jayden não dava o ar da graça no escritório da Paraíso Arquitetura. Os jornais informavam que ele esteve em Ardócia para o casamento do irmão Dominic. Dom e Helena eram o casal do momento.
Sempre eram flagrados em situações, digamos embaraçosas, mas a imprensa os amava.  Tudo que faziam virava notícia. Oh! Deus! Jayden era um príncipe agora. Se o abismo entre nós já era enorme, tornou-se intransponível.
O gerente executivo da King’s Corporation assumiu o trabalho no resort de Angra desde então. Entretanto, minha situação continuava indefinida, pois voltei no dia seguinte ao nosso reencontro desastroso, mas ninguém me deixou retomar minhas funções. Ordens do cretino. Acabei pensando melhor e não vou fugir com o rabo entre as pernas só porque sua alteza não quer me ver. Foda-se ele! Ficarei bem aqui. Os incomodados que se mudem. Me recuso a levar um pé no traseiro de novo.
Sei que vai tentar de todas as formas me mandar embora, mas não vai ser tão fácil. Não dessa vez. Apesar de ter visto a aprovação do meu projeto nos olhos escuros, sei que dificilmente me aceitaria em sua equipe. Não depois de tudo. Meu passado me incrimina. Ele pensa que fui plantada na sua empresa e em sua vida para espioná-lo. Por isso me usou e jogou fora como um monte de lixo. Fui tão estúpida ao acreditar cegamente em tudo que meu meio irmão Mark me dizia. Inclusive quando disse que me amava e que seríamos uma família finalmente. Sou fruto do caso de Albert Springs, famoso empresário do ramo da hotelaria com a camareira de um de seus hotéis. Tive minha vida, meus estudos custeados pelo dinheiro de um pai que jamais conheci. Albert morreu quando eu era ainda adolescente. Só então fiquei sabendo que tinha um irmão. Mark não me aceitou no início. Destilava seu ódio sempre que me encontrava. Odiava principalmente minha mãe, Samantha. Vadia interesseira era a expressão preferida dele quando se referia à ela. Como, se minha mãe nunca reivindicou nada para si? Apenas aceitou o dinheiro para cuidar de mim. Isso se chama justiça. Mas não era assim que meu irmão via as coisas. Aos vinte e um anos me formei com louvor em arquitetura, mas a doença de minha mãe acabou tirando todo o brilho pela conquista. Uma doença degenerativa. Não havia cura, apenas tratamento paliativo, disseram os médicos. O tratamento era muito caro. Não havendo a quem recorrer procurei por Mark desesperada e pela primeira vez na vida ele me recebeu bem. Bem demais para ser verdade, no entanto, não estava em condições de julgar isso adequadamente na época. Mark passou a custear o tratamento. Passou a demonstrar mais afeto e preocupação conosco, principalmente comigo. Mais tarde eu finalmente entenderia o porquê da mudança. Mark descobriu que eu havia saído da universidade direto para a maior empresa de engenharia do Reino Unido, a King’s Corporation, do bilionário Jayden King. Suas aquisições estavam se ampliando com a construção e restauração de resorts por toda a Europa. Jayden também era seu concorrente direto em um negócio de milhões de dólares.
Fui friamente manipulada e traída pelos dois homens que amei. Nunca tive forças para resistir às investidas de Jayden desde o momento em que colocou aqueles olhos escuros sombrios e hipnóticos sobre mim. Ele sempre me subjugou só som o olhar. Ordenava-me e eu fazia. Fiz tudo. Dei-me completamente àquele homem e ele pisou-me como a um inseto.
Meu celular tocou, tirando-me da introspecção. Abri um pequeno sorriso ao ver o nome na tela. Era Vitor, meu namorado. Sim, eu estou tentando seguir em frente. Ainda é bem recente. Estamos juntos há apenas dois meses. Fiquei um bom tempo sem querer me envolver com ninguém. Havia criado nojo, ódio de todos os homens que se aproximavam de mim, mas ele soube me conquistar aos poucos. É um arquiteto renomado, além de filho único de Alfredo Magalhães. As mulheres faziam fila atrás dele, mas escolheu a mim e isso minou minha resistência. No entanto, ainda não me entreguei à ele. Não fizemos sexo para ser mais clara. Não me sinto pronta. Levei uma rasteira brutal na primeira vez que amei. Agora quero ir mais devagar.
- O cretino já chegou, amor? - sua voz firme soou do outro lado da linha.
_ Ainda não. Deixe que resolvo isso, Vitor. _ ele havia ficado possesso quando alguém contou à ele da sabatina a que fui submetida na sala de reuniões. _ ele vai ter que me ouvir.
_ Não vou deixar você sozinha com ele de novo, Cass. _ afirmou veemente. _ já estou indo para sua sala. Assim que o imbecil chegar vamos enfrentá-lo juntos. _ porque os homens tem que ser tão teimosos e mandões? Acabei concordando e desliguei em seguida. Suspirei, levantando-me da cadeira, sentindo-me subitamente sufocada na sala pequena em que me jogaram. Maldito! Isso não ficaria assim.  O todo poderoso teria uma surpresa quando chegasse. Esfreguei meus olhos e tomei mais um copo de café. Era o segundo da manhã e o expediente estava apenas no início. Samuel quase não me deixou dormir ontem. Meu pequeno pegou um resfriado e esteve com febre a noite inteira. Se bem conheço os gêmeos, se não cuidasse de Samuel adequadamente logo Lucas também cairia doente. Era sempre assim, quando um sentia um mal estar, o outro não tardava a sentir também. Meus filhos são tudo na minha vida. Foram eles que me deram forças para continuar depois da morte da minha mãe há um ano. Tive que sair de Londres depois disso. Aceitei o convite do meu tio James que era casado com uma brasileira e vivia há muito tempo no Rio. Mas agora ele está aqui também. Um golpe muito perverso do destino nos colocar frente a frente de novo, fazendo-me lembrar de tudo que lutei tão ferozmente para esquecer, apagar da memória. Sua beleza morena, seu charme primitivo, indomável, seu cheiro, seu gosto, o prazer entorpecente, viciante, a forma como tocava, tomava, dominava meu corpo como se fosse o dono. Só ele.
Minutos depois fui informada que Jayden já se encontrava em seu escritório. Me anunciei e o cretino me deixou esperando por uma hora. Uma hora! Então Vitor perdeu a paciência e invadiu a sala. Meu coração saltou descompassado quando o avistei em pé, virado para as janelas, parecendo perdido em pensamentos. O rosto moreno virou na nossa direção e meu corpo todo estremeceu quando nossos olhares se cruzaram. Algo brilhou no fundo da íris escura. Suas narinas dilataram sutilmente e seus olhos desceram pelo meu corpo sem pressa. Arfei. Vitor puxou-me pela mão todo o caminho até a mesa de Jayden.
_ Que história é essa de humilhar a minha namorada na frente de toda a sua equipe, King? _ Vitor ironizou seu sobrenome.
Uma sobrancelha negra subiu em clara confusão, mas aos poucos sua expressão retornou ao sarcasmo de sempre. Seus olhos se fixaram nas nossas mãos unidas. Franziu um pouco o cenho e seus lábios torceram num meio riso. Quando os olhos escuros fitaram Vitor havia um brilho letal neles.
_ Primeiro, quem é você, amigo? E o que diabos pensa que está fazendo invadindo meu escritório dessa forma? _ Jayden rosnou, enfiando as mãos nos bolsos. Ele faz isso quando está muito irritado. É uma forma de tentar conter a ira. Havia me confessado.
_ Sou Vitor Magalhães. _ vi quando o reconhecimento tomou o rosto de Jayden. _ e namorado de Cass. _ os olhos escuros inflamaram com as últimas palavras de Vitor. _ ela não vai sair daqui, está ouvindo? Cass é maior aposta desta firma. Meu pai a respeita como a um filha. Se ele ficar sabendo que quer jogá-la fora, o negócio será desfeito pode ter certeza. _ Jayden inalou o ar bruscamente, seu maxilar tenso.
_ É isso que quer, srtª Miller? _ os olhos negros pousaram em mim irônicos, cruéis, diabólicos. _ ficar comigo? Tem certeza que está preparada para isso? _ sua voz foi um tom mais baixo e não consegui evitar estremecer de novo. Seus olhos estreitaram sutilmente.
_ S-sim. Não vou fugir. _ afirmei o mais convincente possível. Sua boca se curvou num riso completo agora. Um riso enigmático. Os dentes brancos destacando no rosto moreno. Um riso de lobo prestes a devorar o cordeiro.
_ O cargo continuará sendo seu. Na verdade eu iria mesmo atrás de você. _ revelou e meus olhos se arregalaram estupefatos. _ seu projeto é perfeito srtª Miller. Sou um profissional acima de tudo. Peço desculpas pela forma como a pressionei diante da equipe. Aquilo foi realmente abusivo. _ meu queixo caiu. Ele estava me pedindo desculpas? Jayden King, pedindo desculpas? Ele bateu com a cabeça? Seus olhos se fixaram na minha mão que Vitor ainda segurava e subiram de novo para me encarar. Um brilho perigoso, desafiador se instalando lá. _ no entanto, não pedirei desculpas por todo o resto. _ murmurou e arquejei. Meu coração enlouquecendo de novo. Oh! Merda! O cretino quer me complicar.
_ Houve mais, amor? _ Vitor virou o rosto para mim, os olhos muito atentos. Mas agora havia uma centelha de desconfiança lá. Foda-se! Maldito Jayden King! _ diga-me, Cass.
A risada baixa, jocosa de Jayden me fez encará-lo de novo.
_ É, diga à ele, Cass._ ironizou a forma carinhosa com que Vitor me chamava. Meu corpo foi tomado por calafrios. Me mantive calada sob seu escrutínio desconfortável. Ele ampliou o riso. _ você não vai dizer, não é? Claro que não. _ pausou significativamente, os olhos negros me consumindo. _ então eu mesmo direi a esse imbecil desatento. _ Vitor se retesou com a ofensa e eu me preparei para o pior porque o cretino estava me ferrando. _ Cass me beijou como se o mundo fosse acabar. Pegamos fogo em plena sala de reunião, parceiro. _ odiei a forma insinuante como pronunciou parceiro. Seus olhos se desviaram para Vitor, uma expressão dura tomando o rosto bonito. Antes que pudesse retê-las as palavras deixaram minha boca:
_ Você me beijou, seu cretino! Você! _ disse entre dentes. Vitor fez um som de desagrado. Não tive coragem de encará-lo. Eu queria me enfiar em algum buraco bem fundo.
_ Você correspondeu, querida, dá no mesmo. _ Jayden rebateu, dando de ombros.
_ Ouça seu bastardo arrogante. _ Vitor tremia de raiva agora. _ você nunca mais vai tocar nela! Você vai respeitá-la como merece. Está me ouvindo? _ disse, seu tom subindo. _ ela já viveu muita merda com um idiota do seu passado que a engravidou e a tratou feito lixo. _ meu sangue gelou nas veias. Oh! Meu Deus! O que ele estava fazendo? Preciso pará-lo.
_ Vitor...
_ Cass é mãe solteira. É uma mulher batalhadora que cria duas crianças sozinha. É uma excelente profissional e vai trata-la com respeito daqui para a frente, ou vou processá-lo._ a voz furiosa de Vitor arrancou um gemido dos meus lábios.
_ Você tem dois filhos!? _ Jayden injetou os olhos escuros nos meus, perfurando-me como lasers. A expressão chocada momentaneamente.
_ Dois garotos. São gêmeos. _ Vitor acrescentou ainda, convicto de que estava me defendendo. Gemi de novo. _ tem um ano e três meses. Muito pequenos ainda. Portanto, procure as suas vadias para se divertir e deixe a minha namorada em paz, ok? _ Os olhos de Jayden ficaram ainda mais chocados com a menção da idade dos meus filhos. Então, uma suspeita foi percebida claramente na sua expressão.
_ Um ano e três meses? _ murmurou entre dentes e eu podia ouvir as engrenagens de seu cérebro privilegiado fazendo as contas. _ eles são meus? _ rosnou. _ Porque se forem e você me escondeu isso todo o maldito tempo, vai me pagar por cada dia que me manteve distante deles, sua ordinária! _ ele berrou a última parte. Puta que pariu! Ferrou!
Londres, Inglaterra, dois anos antes...
Havia caído uma chuva torrencial, mas o sol já se abria de novo quando desci do ônibus e atravessei a faixa de pedestres. Andei fascinada, meu foco estava no próximo edifício. A imponente e moderna construção da King’s Corporation. Era meu primeiro dia na maior empresa de engenharia do Reino Unido. Não podia acreditar na minha sorte ao ser selecionada em primeiro lugar para um estágio remunerado. Meu coração já batia descompassado só pela possibilidade de ver de perto o famoso engenheiro Jayden King. Ele era tão jovem e já tinha o mundo a seus pés. Andei extasiada, me aproximando da frente, admirando a fachada toda de vidro e ferro forjado. As letras grandes de bronze davam uma elegância e certa arrogância a um observador mais atento. Desde pequena sou apaixonada por fachadas. Elas dizem muito da personalidade de seus donos e esta coincidia com o que o imprensa dizia dele, um gênio indomável. Obriguei-me a dar mais um passo e desci rápido para a calçada de concreto que dava entrada ao estacionamento.
_ Saia da frente, sua louca! _ uma voz profunda e enfurecida me parou, mas não tão rápido e o motoqueiro fez malabarismo para desviar de mim. Gritei quando o guidão passou lateralmente com força contra minha barriga. Um impacto doloroso, tentei me equilibrar, mas caí de bunda no chão. Minha bolsa e pasta escaparam das minhas mãos se abrindo e esparramando boa parte do conteúdo no chão ainda molhado. Levei as mãos à barriga, massageando-a. Fiquei sem ar por alguns segundos. Ajeitei meus óculos e me ajoelhei começando a catar meus pertences. _ você está bem? Merda! Por que se jogou na frente da minha moto desse jeito? _ mãos grandes e ásperas seguraram meus cotovelos, obrigando-me a erguer o rosto para o sujeito grosseiro que tinha me atropelado. Dei de cara com um peito musculoso numa camiseta branca sob uma jaqueta preta de couro bem surrada. Engoli em seco sendo assaltada pela virilidade crua desse homem. Uma força primitiva emanava dele. Fui subindo o olhar ainda sem conseguir formar nenhuma frase. Ele tinha um cheiro embriagador. Inalei ruidosamente. Meu corpo todo estremecendo com seu toque, sua proximidade. Ele fez o mesmo som. Quando meus olhos chegaram ao rosto deparei-me com um capacete de viseira escura. Pisquei atordoada, suas mãos afrouxaram em meus cotovelos e sua voz foi mais suave quando falou de novo: - está machucada?
_ N-não. E-estou bem. _ gaguejei. Odeio isso. Mas acontece quando fico nervosa. _ desculpe, estava distraída. Tenho uma entrevista muito importante dentro de trinta minutos e agora minhas coisas estão imundas, arruinadas. _ lamentei terminando de recolher os papéis enlameados. Meu projeto e as anotações estavam quase arruinados. _ Não posso me apresentar para o senhor King toda suja e olha só o estado das minhas anotações? _ ele elevou-se diante de mim e ergui minha cabeça de novo para olhá-lo. Pernas longas e musculosas numa calça jeans surrada me saudaram. Ele fez um som abafado. Não consegui identificar bem o que foi. Pareceu-me um... Gemido? Continuei lá, ajoelhada. Apesar de não ver seu rosto, seus olhos, podia sentir uma energia estranha pulsando entre nós.
_ Tem uma entrevista com o senhor King? _ sua voz teve uma conotação diferente, agora. Parecia tensa, grossa, rouca. Sua cabeça pendeu para o lado direito e senti de novo o desconforto de saber que me analisava por trás da viseira. _ quem é você? _ a pergunta foi apenas um sussurro e meus seios se arrepiaram. Puta merda! Como apenas uma voz pode me excitar assim? Isso nunca me aconteceu. Minha respiração acelerou como se tivesse subindo uns lances de escada. Ajeitei o casaco sobre o vestido escondendo meus mamilos eriçados e me forcei a responder:
_ C-Cassandra. Cassandra Miller. _ disse estendendo a mão para ele. O mal educado não a pegou. _ você o conhece? Trabalha nesse edifício? _ quis saber deixando minha mão cair. Ele era um grosseiro.
_ Algo como isso. _ disse e virou-me as costas voltando para sua moto, dando-me a visão de um traseiro duro, musculoso e suas costas largas. Fiquei lá como que hipnotizada sem conseguir desgrudar os olhos da figura misteriosa até ouvir o ronronar do motor. Sua cabeça ainda virou na minha direção um instante tenso, mas depois acelerou e sumiu no estacionamento subterrâneo. Fiquei lá tentando me recompor. Que homem era aquele? Devia ter pedido para tirar o capacete. Uma pena não ter visto seu rosto. Tenho a impressão de que era tão deslumbrante quanto seu corpo grande, forte, musculoso. Cassie, acorde. Você está prestes a conhecer uma das mentes mais brilhantes da engenharia contemporânea. Jayden King. Oh! Meu Deus! Jayden King!
Trinta minutos depois lá estava eu sentada na grande sala de reuniões, diante do gerente de RH e do sócio e vice-presidente do senhor King, Carl Turner. Era bem jovem também. Os dois deviam ter a mesma idade. Os olhos cinza dele me analisaram dos pés à cabeça quando entrei na sala. Me senti desconfortável pela forma como me olhou. Foi inevitável não me decepcionar porque minhas esperanças tolas de ver o grande Jayden King foram frustradas logo que me sentei e o senhor Turner se apresentou e ao homem à sua direita, informando que conduziriam a entrevista. Respondia a segunda pergunta quando ouvi a porta se abrir. Eu estava de costas não vi quem era, mas os olhares dos homens à minha frente eram atônitos.
_ Eu assumo daqui. _ meu coração disparou ao ouvir a voz profunda às minhas costas. Eu reconheço esse timbre. Antes que me virasse seu dono entrou no meu campo de visão e tudo o mais que estava no meu cérebro fugiu. Esse era... Puta que pariu! Esse era Jayden King! Ele usava um terno escuro sobre uma camisa imaculadamente branca. O peito muito amplo. Franzi o cenho para a familiaridade daquele peitoral. Então a realidade me atingiu como um raio. Era ele lá embaixo, no estacionamento! Nossos olhos finalmente se encontraram e perdi o fôlego. Puta merda! Ele era muito... As palavras ainda não conseguiam se formar na minha mente. Os olhos negros e intensos flamejaram nos meus, impedindo-me de piscar ou desviar o olhar. Meu coração batia loucamente contra as costelas. Puta merda! Ele era muito! Meu astro de cinema favorito ficava no chinelo perto desse homem imponente.
_ Oh! Meu Deus! _ eu disse isso em voz alta? Sim, eu disse. Alguém por favor me dê um tiro! Quase gemi ao deixar transparecer meu completo atordoamento, encantamento por ele. Os cantos da boca bem feita subiram num arremedo de sorriso e seus olhos brilharam mais, incendiados agora. Puta que pariu! A sala ficou de repente muito abafada. Fazia calor. O que era estranho, pois momentos antes meus ossos quase congelaram quando entrei. Era ele. Meu corpo reagiu ao dele, mesmo sem ver seu rosto lá embaixo. Não consegui sustentar seu olhar e abaixei o meu para minhas mãos que cruzei num gesto nervoso sobre me colo. Meu vestido de linho azul estava meio salpicado de pingos de lama na barra. Definitivamente não acordei com o pé direito hoje.
_ Jay, você nunca... _ Carl ia falar algo, mas ele o cortou.
_ Vou conduzir a entrevista com a srtª Miller. _ afirmou, seu tom contundente, a voz profunda fazendo coisas engraçadas no meu ventre. Parecia haver uma reunião de borboletas lá dentro. Ousei levantar os olhos de novo. Ele ainda me olhava. Arfei levemente. Vi os homens se levantarem pela minha visão periférica. Deixaram a sala em instantes e ele ainda continuava lá me encarando. Seu rosto moreno e pecaminosamente bonito me tirando toda a capacidade de raciocinar com clareza. Ele era muito mais bonito pessoalmente. _ você está bem mesmo? Não tive como desviar totalmente. Sempre anda distraída nas ruas, srtª Miller?
_ Estou bem. _ alisei uma ruga imaginária na minha saia. _ e eu estava na calçada, não na rua. _ disse levantando meu queixo. Ele era muito intimidante. Seu olhar perfurava-me com uma intensidade desconcertante. Nunca me olharam assim. Meu corpo tremia, uma onda de calor se espalhando pela minha pele, deixando os pelos eriçados. Meus mamilos ficaram túrgidos. Oh! Merda! Ele fez de novo. Isso não era muito adequado para uma entrevista profissional. Remexi-me na cadeira. Seus olhos estreitaram um pouco e ameaçou sorrir de novo. Ele sabia o que estava acontecendo comigo? Uma sobrancelha negra e arrogante se elevou me dizendo que sim, ele sabia. Abaixei meus olhos novamente. Puta que pariu! O que é isso? Por que ele tem esse efeito estranho e aterrador sobre meu corpo?
_ Olhe para mim, srtª Miller. _ seu tom foi um tanto brusco. Levantei o rosto. _ você me intrigou. _ disse começando a andar para trás da mesa. Ajustou o terno com gestos lentos e acomodou-se à minha frente. _ diga-me: é ruiva natural?
Hein? Minha confusão deve ter sido óbvia, porque ele curvou os lábios num riso um tanto cínico.
_ Desculpe?
_ Responda à pergunta. _ seus olhos se tornaram duros. Havia algo perigoso no fundo da íris negra. _ tem pelos pubianos ruivos também? _ engasguei com sua pergunta. Que tipo de entrevista é essa?
_ Com todo respeito, isso não é da sua conta, s-senhor. _ Debruçou-se sobre a mesa na minha direção e minha respiração travou. Puta que pariu!
Jayden
Estudei-a de perto por alguns instantes. Quando a vi atravessar a frente da minha moto lá embaixo me pareceu sem graça. Um vestidinho sensato que chegava ao topo dos joelhos. Sapatos meio salto. Eu não daria uma segunda olhada se não fosse por um detalhe: ela era ruiva. Meu pau tem um gosto específico. Ele ama ruivas. Ruivas verdadeiras. Por isso fiz a pergunta. Mas aí ela ficou de joelhos catando suas coisas e meu pau se sacudiu quando vi a cena. Uma ruiva de joelhos é minha maior tara e eu definitivamente tive que ir até ela. Quando me aproximei, senti seu cheiro. Um aroma delicioso de morangos silvestres. Para tornar tudo pior ela levantou a cabeça e grandes olhos azuis me atordoaram. Eles tinham a tonalidade mais incrível que já vi. Ela também reagiu a mim. Mesmo sem ver meu rosto, reagiu. Uma submissa nata. Seus olhos dilataram, suas faces se tingindo de rosa, sua boquinha linda de lábios cheios se entreabriu e eu não consegui segurar um gemido imaginando-a naquela posição enquanto deslizava meu pau até sua garganta.
_ Geralmente não entrevisto estagiários, srtª Miller. _ falei ainda olhando-a de perto. _ abri uma exceção para você, no entanto.
_ Por que, senhor? _ tentou colocar mais confiança no se tom, mas ainda parecia um ratinho encurralado.
_ Você queria uma entrevista comigo, srtª Miller. _ sussurrei e seu rosto se tingiu de rosa de novo. Ela era uma coisinha linda. Uma lufada de ar fresco no meu mundo sombrio. Não usava maquiagem alguma. Os lábios rosados foram molhados pela língua num gesto nervoso e meu pau babou nas calças. Porra! Ela é só uma garota. Como meu corpo experiente pode incendiar dessa forma por ela? Tem 21 anos recém-completados pelo que vi rapidamente em seu currículo. Era uma garota prodígio pelas notas e pelo projeto audacioso que concorreu à bolsa-estágio da King’s. Era difícil conciliar essas informações com a menina tímida ali na minha frente. _ foi isso que me disse lá embaixo.
_ Eu achei que. _ abriu um sorriso nervoso, tímido. Mas isso iluminou seu rosto de anjo. _ eu pensei que o senhor entrevistava pessoalmente os estagiários. A imprensa o chama de indomável e perfeccionista. Deduzi que gostaria de saber quem são as pessoas que entram na sua empresa.
A analisei longamente. Uma resposta inteligente. Nunca pensei por esse lado. Os estagiários me estressam, sempre ávidos, afobados, babando meus sapatos. Prefiro não lidar com eles. Carl é quem faz isso, por isso ficou tão surpreso quando me viu entrar na sala. Mas essa era diferente. A atração, o tesão latente que senti ao vê-la de joelhos, a forma como reagiu a mim, ao meu toque. Tudo nela gritava submissa. Essa manterei por perto. Bem perto. Abri um de meus sorrisos charmosos. Sim, eu tenho. Uso raras vezes, no entanto. Ele foi se espalhando lentamente por minha boca até chegar a meus olhos. Ela resfolegou. 
_ Li rapidamente seu currículo e a carta de referência de seu professor orientador. É muito elogiada. _ me afastei, encostando no espaldar da cadeira, meus olhos ainda presos nela. Tamborilei meus dedos sobre o tampo de madeira polida. _ essa foi uma das razões, pelas quais resolvi vir até aqui. _ ela ficou lá tentando regularizar sua respiração. Seu peito subindo mais devagar agora, mas ainda estava claramente nervosa. _ a outra é que você é ruiva.
_ Não estou conseguindo acompanhar seu raciocínio, senhor. _ seu tom confuso me fez sorrir. Ela era mesmo tão inocente quanto parecia?
_ Gosto das ruivas, srtª Miller. _ sussurrei e ela ruborizou de novo sob meu olhar. Pequenas sardas salpicavam seu nariz delicado. Ela tinha mesmo a porra do rosto de um anjo. Seus grandes olhos azuis atrás dos óculos horrendos que usava eram uma mistura de pureza e pecado. Incitavam a fera dentro de mim. Linda! Eu a quero. Ela é minha. Nunca me envolvi com meu pessoal, mas meu pau esteve duro na última meia hora. Nenhuma mulher teve esse efeito imediato sobre meu corpo. Mesmo depois de ter ido ao banheiro e me masturbado como um louco, o bastardo ainda está duro. _ trabalhará diretamente comigo. Acha que está preparada para isso? _ Não tenho uma sub há três meses quando dispensei a última. A louca começou a sonhar com sinos badalando e tive que dar um basta aos seus devaneios antes do fim do contrato. Mulheres... Torci os lábios cinicamente. A tímida srtª Miller me olhava sem saber o que a atingiu.
_ Mas o senhor disse que não se encarrega diretamente dos estagiários. _ argumentou.
_ Mudei de ideia. _ murmurei. _ quero você. _ ela corou pela milésima vez e abaixou os olhos e cada vez que fazia isso, meu pau se sacudia ferozmente. Minha mente já trabalhava imaginando as muitas maneiras que a faria gozar. E o principal, as muitas maneiras que a dominaria. Uma imagem dela de mãos e pernas amarradas no meu quarto de jogos tomou meu cérebro. A pele muito branca toda rosada do açoite do meu chicote. Ela ofegante, louca para gozar, mas só faria quando eu permitisse. Eu, seu mestre, seu senhor. _ você é minha, srtª Miller. _ meu tom saiu mais duro do que pretendia e ela sobressaltou-se, as mãos segurando os braços da cadeira. Seus dedos brancos pela força que usou. Suas coxas se juntaram discretamente e um gemido quase inaudível escapou de sua boca. _ digo, você estará na minha equipe. Vou prepará-la para o meu mundo. _ ela ainda não entendia a implicação dessas últimas palavras, mas em breve, muito breve entenderia tudo. Meus olhos queimaram nos seus que estavam muito dilatados, excitados e assustados. Ou talvez ela já entendesse. O ar creptava entre nós, uma energia densa, quente, explosiva, éramos como ímãs nos atraindo brutalmente para o outro e só havia um desfecho possível para esse nível de química, tesão. Teríamos que gastá-la até não sobrar nenhuma fagulha. É assim que faço. Exploro todo o tesão e depois passo para a próxima. Não sou adepto de relacionamentos. Não tenho nem tempo nem saco para aguentar cobranças e mulheres pegajosas. Eu jogo com elas, fodo duro. Só isso. Nunca foi mais que isso. Nunca será. _ você está dispensada, srtª Miller. Procure por Hanna, minha assistente. Ela a colocará a par de tudo. Depois pode ir para casa. _ seu semblante mostrou confusão. _ volte amanhã e começaremos. _ meus olhos desceram até seu estômago, me recordando que a atingi ali e quis saber suavizando meu tom. _ você está bem mesmo?
_ Oh, sim, estou bem, senhor. _ abriu um sorriso mais amplo e meu coração acelerou numa reação que julguei ridícula e adolescente. Eu não me sinto assim tão vivo desde... Desde nunca. Ignorei meu coração e sua reação inapropriada. Na verdade, eu o ignoro o tempo todo. A mídia já chegou a me taxar de coração de gelo. Ninguém sai de onde saí e chega aonde cheguei sendo uma maldita Madre Tereza. Levantei-me devagar. Ela fez o mesmo. Seus olhos meio incertos. Deslizou as mãos sobre a saia do vestido azul que havia achado feio e sem graça lá na rua, mas agora meus olhos passearam pela silhueta esguia e nada mais era sem graça nela. Era perfeita. Eu estava fascinado, completamente fascinado e isso era novo para mim. Não me recordo de já ter sentido esse nível de desejo por uma mulher. Me dirigi à saída ouvindo seus passos apressados bem atrás de mim. Abri a porta, ela estacou, nossos corpos se chocando, bem próximos. _ e-eu tenho. _ murmurou, seu rosto corando de novo. Levantei uma sobrancelha indagando silenciosamente. Então a compreensão afundou em mim e não contive um sorriso. Ela estava respondendo a minha pergunta indecente. Meu pau deu um espasmo me deixando dolorido. Porra!
_ Bom saber, srtª Miller. _ murmurei de volta e minha mão coçou para desmanchar o rabo de cavalo meio desengonçado que continha seus gloriosos cachos ruivos. A enfiei no bolso antes que me precipitasse. Sou um predador. Aprecio um bom jogo e o nosso está apenas começando. _ muito bom saber.
_ Até amanhã, senhor King. _ sua voz rouca foi apenas um fio.
_ Até amanhã, srtª Miller. _ me afastei, dando-lhe passagem. Ela saiu e meus olhos se banquetearam na doce visão de seu traseiro redondo e empinado. O pacote completo. Ela era a merda do pacote completo. A olhei até virar à direita no corredor. Dei um longo suspiro e saí também voltando para minha sala. Eu já estava contando as horas para colocar meus olhos nela de novo.
As duas semanas seguintes foram uma tortura. Vivi um inferno tentando refrear minha fome por Cassandra Miller. Chegávamos os dois mais cedo na empresa. Ela preparava meu café e conversávamos antes do expediente. O que era apenas parte do meu plano de seduzi-la, aos poucos se tornou uma rotina que eu esperava ansiosamente como um adolescente. Às vezes ela chegava antes de mim. E era impossível ignorar os disparos do meu coração ao vê-la. Seus olhos dançavam quando me via entrar no escritório. Nessas vezes uma xícara de café sem açúcar já me aguardava na minha mesa. Ela foi relaxando na minha presença. No entanto, ainda ruborizava quando lhe dava meus olhares famintos. Acho que isso era próprio dela. Cassandra Miller foi também uma grata surpresa no aspecto profissional. Era astuta, perceptiva e muito metódica. Era tímida, mas seus apontamentos eram sempre os mais elaborados. Porra! Eu tinha engenheiros e arquitetos na minha equipe com anos de experiência que não tinham a metade da sua capacidade e paixão. Ela se doava. Reconheci-me nela. Praticamente me mudo para o local das obras, pois não abro mão de acompanhar tudo de perto. A levei em muitas visitas aos canteiros de obras. A doce e inocente Cassie, como gostava de ser chamada havia se infiltrado sob minha pele. Me peguei várias vezes repensando meu plano de toma-la como submissa. Ela era diferente. Inadequada para meu mundo depravado. Algo nela. Algo em seus grandes olhos azuis me freavam cada vez que tentei ir além, mas há essa força, essa energia vibrante quando estamos próximos e isso está cada vez mais impossível de ser ignorado. Eu a quero. Quero tão desenfreadamente que chega a doer. Não consegui ficar com outra mulher desde que ela apareceu e isso está me matando porque gosto de sexo. Gosto muito. Tentei entrevistar duas submissas, mas acabei as mandando embora na terceira pergunta. Tudo que via quando as encarava era o rosto de anjo e os olhos de um azul incrível. Os mesmos olhos que me freavam, mas que também me chamavam num nível profundo.
_ Tem um namorado, Cassie? _ minha pergunta a sobressaltou. Era final do expediente. Estávamos na minha sala debruçados sobre o projeto para a restauração da ponte do Rio Tâmisa. Sua cabeça ruiva levantou do arquivo. Seu perfume de morangos me invadia as narinas me fazendo ter pensamentos muito, muito perversos. Na última hora não consegui mais me concentrar. Fiquei apenas olhando-a, travando uma luta comigo mesmo. Os grandes olhos azuis me fitaram por trás das lentes quadradas. Sua boquinha se entreabriu e ela mordeu o lábio inferior em claro desconforto.
_ Não, senhor. _ levantei uma sobrancelha. Já havíamos passado da fase das formalidades. Abriu um sorriso tímido. _ não, Jay. _ corrigiu.
_ Por que não? Você é linda. _ a fitei com mais intensidade. Ela arfou levemente.
_ Obrigada. _ disse, suas faces incendiando. Arrumou uma mecha de cabelos imaginária atrás da orelha, num gesto nervoso.
_ Já viu o Rio Tâmisa? _ ela sorriu mais amplo, seu rosto se iluminando lindamente.
_ Que pergunta é essa? Claro que já vi. Nasci em Londres. _ informou.
_ Lá de cima? _ apontei para o teto. _ voando. _ completei e seu rosto mostrou confusão. _ vem, vou leva-la num passeio. _ levantei-me pegando o terno e estendi a mão para ela. Levantou-se também, mas ainda parecia incerta. Meus olhos buscaram os dela e os prendi. _ você confia em mim?
_ S-sim. _ murmurou e sua mão tocou a minha. O primeiro contato intencional em duas semanas. Minha mão grande e calejada engoliu a dela. Um contato eletrizante. Ela sentiu também, senti seu corpo estremecer. Sua respiração acelerou. Seus olhos se tornando anuviados, submissos, clamando por mim, como sempre acontecia quando estávamos assim, próximos. Meu pau que já estava malditamente duro babou quando seu perfume gostoso se entranhou em meus sentidos de vez. Aproximei-me devagar, ficando a centímetros. Levantou o rosto para mim. Nossos olhares travaram e eu soube que havia chegado a hora. Já tinha esperado muito. Tentei com afinco dizimá-la da mente. Tirá-la do meu corpo, mas fracassei, miseravelmente. A batalha estava perdida e só havia um caminho a tomar agora. Eu estava voltando ao plano inicial. Sou um bastardo por isso, pois tudo nela grita inocência, mas é mais forte do que eu. Preciso dela, a desejo com uma intensidade imoral. Cassandra Miller seria introduzida no meu mundo. Ainda hoje.


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