CAPÍTULO DOIS
Cassandra
Depois daquela sessão de tortura na sala
de reuniões, havia uma semana que Jayden não dava o ar da graça no escritório da
Paraíso Arquitetura. Os jornais informavam que ele esteve em Ardócia para o
casamento do irmão Dominic. Dom e Helena eram o casal do momento.
Sempre eram flagrados em situações, digamos embaraçosas, mas a imprensa os amava. Tudo que faziam virava notícia. Oh! Deus! Jayden era um príncipe agora. Se o abismo entre nós já era enorme, tornou-se intransponível.
Sempre eram flagrados em situações, digamos embaraçosas, mas a imprensa os amava. Tudo que faziam virava notícia. Oh! Deus! Jayden era um príncipe agora. Se o abismo entre nós já era enorme, tornou-se intransponível.
O gerente executivo da King’s Corporation assumiu o trabalho no
resort de Angra desde então. Entretanto, minha situação continuava indefinida,
pois voltei no dia seguinte ao nosso reencontro desastroso, mas ninguém me
deixou retomar minhas funções. Ordens do cretino. Acabei pensando melhor e não
vou fugir com o rabo entre as pernas só porque sua alteza não quer me ver. Foda-se ele! Ficarei bem aqui. Os
incomodados que se mudem. Me recuso a levar um pé no traseiro de novo.
Sei que vai tentar de todas as formas me mandar
embora, mas não vai ser tão fácil. Não dessa vez. Apesar de ter visto a
aprovação do meu projeto nos olhos escuros, sei que dificilmente me aceitaria
em sua equipe. Não depois de tudo. Meu passado me incrimina. Ele pensa que fui
plantada na sua empresa e em sua vida para espioná-lo. Por isso me usou e jogou
fora como um monte de lixo. Fui tão estúpida ao acreditar cegamente em tudo que
meu meio irmão Mark me dizia. Inclusive quando disse que me amava e que
seríamos uma família finalmente. Sou fruto do caso de Albert Springs, famoso
empresário do ramo da hotelaria com a camareira de um de seus hotéis. Tive minha
vida, meus estudos custeados pelo dinheiro de um pai que jamais conheci. Albert
morreu quando eu era ainda adolescente. Só então fiquei sabendo que tinha um
irmão. Mark não me aceitou no início. Destilava seu ódio sempre que me
encontrava. Odiava principalmente minha mãe, Samantha. Vadia interesseira era a expressão preferida dele quando se referia
à ela. Como, se minha mãe nunca reivindicou nada para si? Apenas aceitou o
dinheiro para cuidar de mim. Isso se chama justiça. Mas não era assim que meu
irmão via as coisas. Aos vinte e um anos me formei com louvor em arquitetura,
mas a doença de minha mãe acabou tirando todo o brilho pela conquista. Uma
doença degenerativa. Não havia cura, apenas tratamento paliativo, disseram os
médicos. O tratamento era muito caro. Não havendo a quem recorrer procurei por
Mark desesperada e pela primeira vez na vida ele me recebeu bem. Bem demais
para ser verdade, no entanto, não estava em condições de julgar isso adequadamente
na época. Mark passou a custear o tratamento. Passou a demonstrar mais afeto e
preocupação conosco, principalmente comigo. Mais tarde eu finalmente entenderia
o porquê da mudança. Mark descobriu que eu havia saído da universidade direto
para a maior empresa de engenharia do Reino Unido, a King’s Corporation, do bilionário Jayden King. Suas aquisições
estavam se ampliando com a construção e restauração de resorts por toda a
Europa. Jayden também era seu concorrente direto em um negócio de milhões de
dólares.
Fui friamente manipulada e traída pelos
dois homens que amei. Nunca tive forças para resistir às investidas de Jayden
desde o momento em que colocou aqueles olhos escuros sombrios e hipnóticos
sobre mim. Ele sempre me subjugou só som o olhar. Ordenava-me e eu fazia. Fiz
tudo. Dei-me completamente àquele homem e ele pisou-me como a um inseto.
Meu celular tocou, tirando-me da
introspecção. Abri um pequeno sorriso ao ver o nome na tela. Era Vitor, meu
namorado. Sim, eu estou tentando seguir em frente. Ainda é bem recente. Estamos
juntos há apenas dois meses. Fiquei um bom tempo sem querer me envolver com
ninguém. Havia criado nojo, ódio de todos os homens que se aproximavam de mim,
mas ele soube me conquistar aos poucos. É um arquiteto renomado, além de filho
único de Alfredo Magalhães. As mulheres faziam fila atrás dele, mas escolheu a
mim e isso minou minha resistência. No entanto, ainda não me entreguei à ele.
Não fizemos sexo para ser mais clara. Não me sinto pronta. Levei uma rasteira
brutal na primeira vez que amei. Agora quero ir mais devagar.
- O cretino já chegou, amor? - sua voz
firme soou do outro lado da linha.
_ Ainda não. Deixe que resolvo isso,
Vitor. _ ele havia ficado possesso quando alguém contou à ele da sabatina a que
fui submetida na sala de reuniões. _ ele vai ter que me ouvir.
_ Não vou deixar você sozinha com ele de
novo, Cass. _ afirmou veemente. _ já estou indo para sua sala. Assim que o
imbecil chegar vamos enfrentá-lo juntos. _ porque os homens tem que ser tão
teimosos e mandões? Acabei concordando e desliguei em seguida. Suspirei,
levantando-me da cadeira, sentindo-me subitamente sufocada na sala pequena em
que me jogaram. Maldito! Isso não ficaria assim. O todo poderoso teria uma surpresa quando
chegasse. Esfreguei meus olhos e tomei mais um copo de café. Era o segundo da
manhã e o expediente estava apenas no início. Samuel quase não me deixou dormir
ontem. Meu pequeno pegou um resfriado e esteve com febre a noite inteira. Se
bem conheço os gêmeos, se não cuidasse de Samuel adequadamente logo Lucas
também cairia doente. Era sempre assim, quando um sentia um mal estar, o outro
não tardava a sentir também. Meus filhos são tudo na minha vida. Foram eles que
me deram forças para continuar depois da morte da minha mãe há um ano. Tive que
sair de Londres depois disso. Aceitei o convite do meu tio James que era casado
com uma brasileira e vivia há muito tempo no Rio. Mas agora ele está aqui também. Um golpe muito
perverso do destino nos colocar frente a frente de novo, fazendo-me lembrar de
tudo que lutei tão ferozmente para esquecer, apagar da memória. Sua beleza
morena, seu charme primitivo, indomável, seu cheiro, seu gosto, o prazer
entorpecente, viciante, a forma como tocava, tomava, dominava meu corpo como se
fosse o dono. Só ele.
Minutos depois fui informada que Jayden já
se encontrava em seu escritório. Me anunciei e o cretino me deixou esperando
por uma hora. Uma hora! Então Vitor perdeu a paciência e invadiu a sala. Meu coração
saltou descompassado quando o avistei em pé, virado para as janelas, parecendo
perdido em pensamentos. O rosto moreno virou na nossa direção e meu corpo todo
estremeceu quando nossos olhares se cruzaram. Algo brilhou no fundo da íris
escura. Suas narinas dilataram sutilmente e seus olhos desceram pelo meu corpo
sem pressa. Arfei. Vitor puxou-me pela mão todo o caminho até a mesa de Jayden.
_ Que história é essa de humilhar a minha
namorada na frente de toda a sua equipe,
King? _ Vitor ironizou seu sobrenome.
Uma sobrancelha negra subiu em clara
confusão, mas aos poucos sua expressão retornou ao sarcasmo de sempre. Seus
olhos se fixaram nas nossas mãos unidas. Franziu um pouco o cenho e seus lábios
torceram num meio riso. Quando os olhos escuros fitaram Vitor havia um brilho
letal neles.
_ Primeiro, quem é você, amigo? E o que
diabos pensa que está fazendo invadindo meu escritório dessa forma? _ Jayden
rosnou, enfiando as mãos nos bolsos. Ele faz isso quando está muito irritado. É
uma forma de tentar conter a ira. Havia me confessado.
_ Sou Vitor Magalhães. _ vi quando o
reconhecimento tomou o rosto de Jayden. _ e namorado de Cass. _ os olhos
escuros inflamaram com as últimas palavras de Vitor. _ ela não vai sair daqui,
está ouvindo? Cass é maior aposta desta firma. Meu pai a respeita como a um
filha. Se ele ficar sabendo que quer jogá-la fora, o negócio será desfeito pode
ter certeza. _ Jayden inalou o ar bruscamente, seu maxilar tenso.
_ É isso que quer, srtª Miller? _ os olhos
negros pousaram em mim irônicos, cruéis, diabólicos. _ ficar comigo? Tem
certeza que está preparada para isso? _ sua voz foi um tom mais baixo e não
consegui evitar estremecer de novo. Seus olhos estreitaram sutilmente.
_ S-sim. Não vou fugir. _ afirmei o mais
convincente possível. Sua boca se curvou num riso completo agora. Um riso
enigmático. Os dentes brancos destacando no rosto moreno. Um riso de lobo
prestes a devorar o cordeiro.
_ O cargo continuará sendo seu. Na verdade
eu iria mesmo atrás de você. _ revelou e meus olhos se arregalaram estupefatos.
_ seu projeto é perfeito srtª Miller. Sou um profissional acima de tudo. Peço
desculpas pela forma como a pressionei diante da equipe. Aquilo foi realmente
abusivo. _ meu queixo caiu. Ele estava me pedindo desculpas? Jayden King,
pedindo desculpas? Ele bateu com a cabeça? Seus olhos se fixaram na minha mão
que Vitor ainda segurava e subiram de novo para me encarar. Um brilho perigoso,
desafiador se instalando lá. _ no entanto, não pedirei desculpas por todo o
resto. _ murmurou e arquejei. Meu coração enlouquecendo de novo. Oh! Merda! O
cretino quer me complicar.
_ Houve mais, amor? _ Vitor virou o rosto
para mim, os olhos muito atentos. Mas agora havia uma centelha de desconfiança
lá. Foda-se! Maldito Jayden King! _ diga-me, Cass.
A risada baixa, jocosa de Jayden me fez
encará-lo de novo.
_ É, diga à ele, Cass._ ironizou a forma carinhosa com que Vitor me chamava. Meu
corpo foi tomado por calafrios. Me mantive calada sob seu escrutínio
desconfortável. Ele ampliou o riso. _ você não vai dizer, não é? Claro que não.
_ pausou significativamente, os olhos negros me consumindo. _ então eu mesmo
direi a esse imbecil desatento. _ Vitor se retesou com a ofensa e eu me
preparei para o pior porque o cretino estava me ferrando. _ Cass me beijou como se o mundo fosse
acabar. Pegamos fogo em plena sala de reunião, parceiro. _ odiei a forma insinuante como pronunciou parceiro. Seus olhos se desviaram para
Vitor, uma expressão dura tomando o rosto bonito. Antes que pudesse retê-las as
palavras deixaram minha boca:
_ Você me beijou, seu cretino! Você! _
disse entre dentes. Vitor fez um som de desagrado. Não tive coragem de
encará-lo. Eu queria me enfiar em algum buraco bem fundo.
_ Você correspondeu, querida, dá no mesmo.
_ Jayden rebateu, dando de ombros.
_ Ouça seu bastardo arrogante. _ Vitor
tremia de raiva agora. _ você nunca mais vai tocar nela! Você vai respeitá-la
como merece. Está me ouvindo? _ disse, seu tom subindo. _ ela já viveu muita
merda com um idiota do seu passado que a engravidou e a tratou feito lixo. _
meu sangue gelou nas veias. Oh! Meu Deus! O que ele estava fazendo? Preciso
pará-lo.
_ Vitor...
_ Cass é mãe solteira. É uma mulher
batalhadora que cria duas crianças sozinha. É uma excelente profissional e vai
trata-la com respeito daqui para a frente, ou vou processá-lo._ a voz furiosa
de Vitor arrancou um gemido dos meus lábios.
_ Você tem dois filhos!? _ Jayden injetou
os olhos escuros nos meus, perfurando-me como lasers. A expressão chocada
momentaneamente.
_ Dois garotos. São gêmeos. _ Vitor
acrescentou ainda, convicto de que estava me defendendo. Gemi de novo. _ tem um
ano e três meses. Muito pequenos ainda. Portanto, procure as suas vadias para
se divertir e deixe a minha namorada em paz, ok? _ Os olhos de Jayden ficaram
ainda mais chocados com a menção da idade dos meus filhos. Então, uma suspeita
foi percebida claramente na sua expressão.
_ Um ano e três meses? _ murmurou entre
dentes e eu podia ouvir as engrenagens de seu cérebro privilegiado fazendo as
contas. _ eles são meus? _ rosnou. _ Porque se forem e você me escondeu isso
todo o maldito tempo, vai me pagar por cada dia que me manteve distante deles,
sua ordinária! _ ele berrou a última parte. Puta que pariu! Ferrou!
Londres,
Inglaterra, dois anos antes...
Havia caído uma chuva torrencial, mas o
sol já se abria de novo quando desci do ônibus e atravessei a faixa de
pedestres. Andei fascinada, meu foco estava no próximo edifício. A imponente e
moderna construção da King’s Corporation.
Era meu primeiro dia na maior empresa de engenharia do Reino Unido. Não
podia acreditar na minha sorte ao ser selecionada em primeiro lugar para um
estágio remunerado. Meu coração já batia descompassado só pela possibilidade de
ver de perto o famoso engenheiro Jayden King. Ele era tão jovem e já tinha o
mundo a seus pés. Andei extasiada, me aproximando da frente, admirando a
fachada toda de vidro e ferro forjado. As letras grandes de bronze davam uma
elegância e certa arrogância a um observador mais atento. Desde pequena sou
apaixonada por fachadas. Elas dizem muito da personalidade de seus donos e esta
coincidia com o que o imprensa dizia dele, um
gênio indomável. Obriguei-me a dar mais um passo e desci rápido para a
calçada de concreto que dava entrada ao estacionamento.
_ Saia da frente, sua louca! _ uma voz profunda
e enfurecida me parou, mas não tão rápido e o motoqueiro fez malabarismo para
desviar de mim. Gritei quando o guidão passou lateralmente com força contra
minha barriga. Um impacto doloroso, tentei me equilibrar, mas caí de bunda no
chão. Minha bolsa e pasta escaparam das minhas mãos se abrindo e esparramando
boa parte do conteúdo no chão ainda molhado. Levei as mãos à barriga,
massageando-a. Fiquei sem ar por alguns segundos. Ajeitei meus óculos e me
ajoelhei começando a catar meus pertences. _ você está bem? Merda! Por que se
jogou na frente da minha moto desse jeito? _ mãos grandes e ásperas seguraram
meus cotovelos, obrigando-me a erguer o rosto para o sujeito grosseiro que
tinha me atropelado. Dei de cara com um peito musculoso numa camiseta branca sob
uma jaqueta preta de couro bem surrada. Engoli em seco sendo assaltada pela
virilidade crua desse homem. Uma força primitiva emanava dele. Fui subindo o
olhar ainda sem conseguir formar nenhuma frase. Ele tinha um cheiro embriagador.
Inalei ruidosamente. Meu corpo todo estremecendo com seu toque, sua
proximidade. Ele fez o mesmo som. Quando meus olhos chegaram ao rosto deparei-me
com um capacete de viseira escura. Pisquei atordoada, suas mãos afrouxaram em
meus cotovelos e sua voz foi mais suave quando falou de novo: - está machucada?
_ N-não. E-estou bem. _ gaguejei. Odeio
isso. Mas acontece quando fico nervosa. _ desculpe, estava distraída. Tenho uma
entrevista muito importante dentro de trinta minutos e agora minhas coisas estão
imundas, arruinadas. _ lamentei terminando de recolher os papéis enlameados. Meu
projeto e as anotações estavam quase arruinados. _ Não posso me apresentar para
o senhor King toda suja e olha só o estado das minhas anotações? _ ele
elevou-se diante de mim e ergui minha cabeça de novo para olhá-lo. Pernas
longas e musculosas numa calça jeans surrada me saudaram. Ele fez um som
abafado. Não consegui identificar bem o que foi. Pareceu-me um... Gemido?
Continuei lá, ajoelhada. Apesar de não ver seu rosto, seus olhos, podia sentir
uma energia estranha pulsando entre nós.
_ Tem uma entrevista com o senhor King? _
sua voz teve uma conotação diferente, agora. Parecia tensa, grossa, rouca. Sua
cabeça pendeu para o lado direito e senti de novo o desconforto de saber que me
analisava por trás da viseira. _ quem é você? _ a pergunta foi apenas um
sussurro e meus seios se arrepiaram. Puta merda! Como apenas uma voz pode me
excitar assim? Isso nunca me aconteceu. Minha respiração acelerou como se
tivesse subindo uns lances de escada. Ajeitei o casaco sobre o vestido escondendo
meus mamilos eriçados e me forcei a responder:
_ C-Cassandra. Cassandra Miller. _ disse
estendendo a mão para ele. O mal educado não a pegou. _ você o conhece?
Trabalha nesse edifício? _ quis saber deixando minha mão cair. Ele era um
grosseiro.
_ Algo como isso. _ disse e virou-me as
costas voltando para sua moto, dando-me a visão de um traseiro duro, musculoso
e suas costas largas. Fiquei lá como que hipnotizada sem conseguir desgrudar os
olhos da figura misteriosa até ouvir o ronronar do motor. Sua cabeça ainda
virou na minha direção um instante tenso, mas depois acelerou e sumiu no
estacionamento subterrâneo. Fiquei lá tentando me recompor. Que homem era
aquele? Devia ter pedido para tirar o capacete. Uma pena não ter visto seu
rosto. Tenho a impressão de que era tão deslumbrante quanto seu corpo grande,
forte, musculoso. Cassie, acorde. Você está prestes a conhecer uma das mentes
mais brilhantes da engenharia contemporânea. Jayden King. Oh! Meu Deus! Jayden
King!
Trinta minutos depois lá estava eu sentada
na grande sala de reuniões, diante do gerente de RH e do sócio e
vice-presidente do senhor King, Carl Turner. Era bem jovem também. Os dois
deviam ter a mesma idade. Os olhos cinza dele me analisaram dos pés à cabeça
quando entrei na sala. Me senti desconfortável pela forma como me olhou. Foi
inevitável não me decepcionar porque minhas esperanças tolas de ver o grande
Jayden King foram frustradas logo que me sentei e o senhor Turner se apresentou
e ao homem à sua direita, informando que conduziriam a entrevista. Respondia a
segunda pergunta quando ouvi a porta se abrir. Eu estava de costas não vi quem
era, mas os olhares dos homens à minha frente eram atônitos.
_ Eu assumo daqui. _ meu coração disparou
ao ouvir a voz profunda às minhas costas. Eu reconheço esse timbre. Antes que
me virasse seu dono entrou no meu campo de visão e tudo o mais que estava no
meu cérebro fugiu. Esse era... Puta que pariu! Esse era Jayden King! Ele usava
um terno escuro sobre uma camisa imaculadamente branca. O peito muito amplo. Franzi
o cenho para a familiaridade daquele peitoral. Então a realidade me atingiu
como um raio. Era ele lá embaixo, no estacionamento! Nossos olhos finalmente se
encontraram e perdi o fôlego. Puta merda! Ele era muito... As palavras ainda
não conseguiam se formar na minha mente. Os olhos negros e intensos flamejaram
nos meus, impedindo-me de piscar ou desviar o olhar. Meu coração batia
loucamente contra as costelas. Puta merda! Ele era muito! Meu astro de cinema
favorito ficava no chinelo perto desse homem imponente.
_ Oh! Meu Deus! _ eu disse isso em voz
alta? Sim, eu disse. Alguém por favor me dê um tiro! Quase gemi ao deixar
transparecer meu completo atordoamento, encantamento por ele. Os cantos da boca
bem feita subiram num arremedo de sorriso e seus olhos brilharam mais,
incendiados agora. Puta que pariu! A sala ficou de repente muito abafada. Fazia
calor. O que era estranho, pois momentos antes meus ossos quase congelaram
quando entrei. Era ele. Meu corpo reagiu ao dele, mesmo sem ver seu rosto lá
embaixo. Não consegui sustentar seu olhar e abaixei o meu para minhas mãos que
cruzei num gesto nervoso sobre me colo. Meu vestido de linho azul estava meio
salpicado de pingos de lama na barra. Definitivamente não acordei com o pé
direito hoje.
_ Jay, você nunca... _ Carl ia falar algo,
mas ele o cortou.
_ Vou conduzir a entrevista com a srtª
Miller. _ afirmou, seu tom contundente, a voz profunda fazendo coisas
engraçadas no meu ventre. Parecia haver uma reunião de borboletas lá dentro. Ousei
levantar os olhos de novo. Ele ainda me olhava. Arfei levemente. Vi os homens
se levantarem pela minha visão periférica. Deixaram a sala em instantes e ele
ainda continuava lá me encarando. Seu rosto moreno e pecaminosamente bonito me
tirando toda a capacidade de raciocinar com clareza. Ele era muito mais bonito
pessoalmente. _ você está bem mesmo? Não tive como desviar totalmente. Sempre
anda distraída nas ruas, srtª Miller?
_ Estou bem. _ alisei uma ruga imaginária
na minha saia. _ e eu estava na calçada, não na rua. _ disse levantando meu
queixo. Ele era muito intimidante. Seu olhar perfurava-me com uma intensidade
desconcertante. Nunca me olharam assim. Meu corpo tremia, uma onda de calor se
espalhando pela minha pele, deixando os pelos eriçados. Meus mamilos ficaram
túrgidos. Oh! Merda! Ele fez de novo. Isso não era muito adequado para uma
entrevista profissional. Remexi-me na cadeira. Seus olhos estreitaram um pouco
e ameaçou sorrir de novo. Ele sabia o que estava acontecendo comigo? Uma
sobrancelha negra e arrogante se elevou me dizendo que sim, ele sabia. Abaixei
meus olhos novamente. Puta que pariu! O que é isso? Por que ele tem esse efeito
estranho e aterrador sobre meu corpo?
_ Olhe para mim, srtª Miller. _ seu tom
foi um tanto brusco. Levantei o rosto. _ você me intrigou. _ disse começando a
andar para trás da mesa. Ajustou o terno com gestos lentos e acomodou-se à
minha frente. _ diga-me: é ruiva natural?
Hein? Minha confusão deve ter sido óbvia,
porque ele curvou os lábios num riso um tanto cínico.
_ Desculpe?
_ Responda à pergunta. _ seus olhos se
tornaram duros. Havia algo perigoso no fundo da íris negra. _ tem pelos
pubianos ruivos também? _ engasguei com sua pergunta. Que tipo de entrevista é
essa?
_ Com todo respeito, isso não é da sua
conta, s-senhor. _ Debruçou-se sobre a mesa na minha direção e minha respiração
travou. Puta que pariu!
Jayden
Estudei-a de perto por alguns instantes.
Quando a vi atravessar a frente da minha moto lá embaixo me pareceu sem graça.
Um vestidinho sensato que chegava ao topo dos joelhos. Sapatos meio salto. Eu
não daria uma segunda olhada se não fosse por um detalhe: ela era ruiva. Meu
pau tem um gosto específico. Ele ama ruivas. Ruivas verdadeiras. Por isso fiz a
pergunta. Mas aí ela ficou de joelhos catando suas coisas e meu pau se sacudiu
quando vi a cena. Uma ruiva de joelhos é minha maior tara e eu definitivamente
tive que ir até ela. Quando me aproximei, senti seu cheiro. Um aroma delicioso
de morangos silvestres. Para tornar tudo pior ela levantou a cabeça e grandes
olhos azuis me atordoaram. Eles tinham a tonalidade mais incrível que já vi. Ela
também reagiu a mim. Mesmo sem ver meu rosto, reagiu. Uma submissa nata. Seus
olhos dilataram, suas faces se tingindo de rosa, sua boquinha linda de lábios
cheios se entreabriu e eu não consegui segurar um gemido imaginando-a naquela
posição enquanto deslizava meu pau até sua garganta.
_ Geralmente não entrevisto estagiários,
srtª Miller. _ falei ainda olhando-a de perto. _ abri uma exceção para você, no
entanto.
_ Por que, senhor? _ tentou colocar mais
confiança no se tom, mas ainda parecia um ratinho encurralado.
_ Você queria uma entrevista comigo, srtª
Miller. _ sussurrei e seu rosto se tingiu de rosa de novo. Ela era uma coisinha
linda. Uma lufada de ar fresco no meu mundo sombrio. Não usava maquiagem
alguma. Os lábios rosados foram molhados pela língua num gesto nervoso e meu
pau babou nas calças. Porra! Ela é só uma garota. Como meu corpo experiente
pode incendiar dessa forma por ela? Tem 21 anos recém-completados pelo que vi
rapidamente em seu currículo. Era uma garota prodígio pelas notas e pelo
projeto audacioso que concorreu à bolsa-estágio da King’s. Era difícil conciliar
essas informações com a menina tímida ali na minha frente. _ foi isso que me
disse lá embaixo.
_ Eu achei que. _ abriu um sorriso
nervoso, tímido. Mas isso iluminou seu rosto de anjo. _ eu pensei que o senhor
entrevistava pessoalmente os estagiários. A imprensa o chama de indomável e
perfeccionista. Deduzi que gostaria de saber quem são as pessoas que entram na
sua empresa.
A analisei longamente. Uma resposta
inteligente. Nunca pensei por esse lado. Os estagiários me estressam, sempre
ávidos, afobados, babando meus sapatos. Prefiro não lidar com eles. Carl é quem
faz isso, por isso ficou tão surpreso quando me viu entrar na sala. Mas essa
era diferente. A atração, o tesão latente que senti ao vê-la de joelhos, a
forma como reagiu a mim, ao meu toque. Tudo nela gritava submissa. Essa
manterei por perto. Bem perto. Abri um de meus sorrisos charmosos. Sim, eu
tenho. Uso raras vezes, no entanto. Ele foi se espalhando lentamente por minha
boca até chegar a meus olhos. Ela resfolegou.
_ Li rapidamente seu currículo e a carta
de referência de seu professor orientador. É muito elogiada. _ me afastei,
encostando no espaldar da cadeira, meus olhos ainda presos nela. Tamborilei
meus dedos sobre o tampo de madeira polida. _ essa foi uma das razões, pelas
quais resolvi vir até aqui. _ ela ficou lá tentando regularizar sua respiração.
Seu peito subindo mais devagar agora, mas ainda estava claramente nervosa. _ a
outra é que você é ruiva.
_ Não estou conseguindo acompanhar seu
raciocínio, senhor. _ seu tom confuso me fez sorrir. Ela era mesmo tão inocente
quanto parecia?
_ Gosto das ruivas, srtª Miller. _
sussurrei e ela ruborizou de novo sob meu olhar. Pequenas sardas salpicavam seu
nariz delicado. Ela tinha mesmo a porra do rosto de um anjo. Seus grandes olhos
azuis atrás dos óculos horrendos que usava eram uma mistura de pureza e pecado.
Incitavam a fera dentro de mim. Linda! Eu a quero. Ela é minha. Nunca me
envolvi com meu pessoal, mas meu pau esteve duro na última meia hora. Nenhuma
mulher teve esse efeito imediato sobre meu corpo. Mesmo depois de ter ido ao
banheiro e me masturbado como um louco, o bastardo ainda está duro. _ trabalhará
diretamente comigo. Acha que está preparada para isso? _ Não tenho uma sub há
três meses quando dispensei a última. A louca começou a sonhar com sinos
badalando e tive que dar um basta aos seus devaneios antes do fim do contrato.
Mulheres... Torci os lábios cinicamente. A tímida srtª Miller me olhava sem
saber o que a atingiu.
_ Mas o senhor disse que não se encarrega
diretamente dos estagiários. _ argumentou.
_ Mudei de ideia. _ murmurei. _ quero
você. _ ela corou pela milésima vez e abaixou os olhos e cada vez que fazia
isso, meu pau se sacudia ferozmente. Minha mente já trabalhava imaginando as
muitas maneiras que a faria gozar. E o principal, as muitas maneiras que a dominaria.
Uma imagem dela de mãos e pernas amarradas no meu quarto de jogos tomou meu
cérebro. A pele muito branca toda rosada do açoite do meu chicote. Ela ofegante,
louca para gozar, mas só faria quando eu permitisse. Eu, seu mestre, seu
senhor. _ você é minha, srtª Miller. _ meu tom saiu mais duro do que pretendia
e ela sobressaltou-se, as mãos segurando os braços da cadeira. Seus dedos brancos
pela força que usou. Suas coxas se juntaram discretamente e um gemido quase
inaudível escapou de sua boca. _ digo, você estará na minha equipe. Vou
prepará-la para o meu mundo. _ ela ainda não entendia a implicação dessas
últimas palavras, mas em breve, muito breve entenderia tudo. Meus olhos
queimaram nos seus que estavam muito dilatados, excitados e assustados. Ou talvez
ela já entendesse. O ar creptava entre nós, uma energia densa, quente,
explosiva, éramos como ímãs nos atraindo brutalmente para o outro e só havia um
desfecho possível para esse nível de química, tesão. Teríamos que gastá-la até
não sobrar nenhuma fagulha. É assim que faço. Exploro todo o tesão e depois
passo para a próxima. Não sou adepto de relacionamentos. Não tenho nem tempo
nem saco para aguentar cobranças e mulheres pegajosas. Eu jogo com elas, fodo
duro. Só isso. Nunca foi mais que isso. Nunca será. _ você está dispensada,
srtª Miller. Procure por Hanna, minha assistente. Ela a colocará a par de tudo.
Depois pode ir para casa. _ seu semblante mostrou confusão. _ volte amanhã e
começaremos. _ meus olhos desceram até seu estômago, me recordando que a atingi
ali e quis saber suavizando meu tom. _ você está bem mesmo?
_ Oh, sim, estou bem, senhor. _ abriu um
sorriso mais amplo e meu coração acelerou numa reação que julguei ridícula e
adolescente. Eu não me sinto assim tão vivo desde... Desde nunca. Ignorei meu
coração e sua reação inapropriada. Na verdade, eu o ignoro o tempo todo. A
mídia já chegou a me taxar de coração de
gelo. Ninguém sai de onde saí e chega aonde cheguei sendo uma maldita Madre
Tereza. Levantei-me devagar. Ela fez o mesmo. Seus olhos meio incertos. Deslizou
as mãos sobre a saia do vestido azul que havia achado feio e sem graça lá na
rua, mas agora meus olhos passearam pela silhueta esguia e nada mais era sem
graça nela. Era perfeita. Eu estava fascinado, completamente fascinado e isso
era novo para mim. Não me recordo de já ter sentido esse nível de desejo por
uma mulher. Me dirigi à saída ouvindo seus passos apressados bem atrás de mim.
Abri a porta, ela estacou, nossos corpos se chocando, bem próximos. _ e-eu
tenho. _ murmurou, seu rosto corando de novo. Levantei uma sobrancelha
indagando silenciosamente. Então a compreensão afundou em mim e não contive um
sorriso. Ela estava respondendo a minha pergunta indecente. Meu pau deu um
espasmo me deixando dolorido. Porra!
_ Bom saber, srtª Miller. _ murmurei de
volta e minha mão coçou para desmanchar o rabo de cavalo meio desengonçado que
continha seus gloriosos cachos ruivos. A enfiei no bolso antes que me
precipitasse. Sou um predador. Aprecio um bom jogo e o nosso está apenas
começando. _ muito bom saber.
_ Até amanhã, senhor King. _ sua voz rouca
foi apenas um fio.
_ Até amanhã, srtª Miller. _ me afastei,
dando-lhe passagem. Ela saiu e meus olhos se banquetearam na doce visão de seu
traseiro redondo e empinado. O pacote completo. Ela era a merda do pacote
completo. A olhei até virar à direita no corredor. Dei um longo suspiro e saí
também voltando para minha sala. Eu já estava contando as horas para colocar
meus olhos nela de novo.
As duas semanas seguintes foram uma
tortura. Vivi um inferno tentando refrear minha fome por Cassandra Miller. Chegávamos
os dois mais cedo na empresa. Ela preparava meu café e conversávamos antes do
expediente. O que era apenas parte do meu plano de seduzi-la, aos poucos se
tornou uma rotina que eu esperava ansiosamente como um adolescente. Às vezes
ela chegava antes de mim. E era impossível ignorar os disparos do meu coração
ao vê-la. Seus olhos dançavam quando me via entrar no escritório. Nessas vezes
uma xícara de café sem açúcar já me aguardava na minha mesa. Ela foi relaxando
na minha presença. No entanto, ainda ruborizava quando lhe dava meus olhares
famintos. Acho que isso era próprio dela. Cassandra Miller foi também uma grata
surpresa no aspecto profissional. Era astuta, perceptiva e muito metódica. Era
tímida, mas seus apontamentos eram sempre os mais elaborados. Porra! Eu tinha
engenheiros e arquitetos na minha equipe com anos de experiência que não tinham
a metade da sua capacidade e paixão. Ela se doava. Reconheci-me nela.
Praticamente me mudo para o local das obras, pois não abro mão de acompanhar
tudo de perto. A levei em muitas visitas aos canteiros de obras. A doce e
inocente Cassie, como gostava de ser chamada havia se infiltrado sob minha
pele. Me peguei várias vezes repensando meu plano de toma-la como submissa. Ela
era diferente. Inadequada para meu mundo depravado. Algo nela. Algo em seus
grandes olhos azuis me freavam cada vez que tentei ir além, mas há essa força,
essa energia vibrante quando estamos próximos e isso está cada vez mais impossível
de ser ignorado. Eu a quero. Quero tão desenfreadamente que chega a doer. Não
consegui ficar com outra mulher desde que ela apareceu e isso está me matando
porque gosto de sexo. Gosto muito. Tentei entrevistar duas submissas, mas
acabei as mandando embora na terceira pergunta. Tudo que via quando as encarava
era o rosto de anjo e os olhos de um azul incrível. Os mesmos olhos que me
freavam, mas que também me chamavam num nível profundo.
_ Tem um namorado, Cassie? _ minha
pergunta a sobressaltou. Era final do expediente. Estávamos na minha sala
debruçados sobre o projeto para a restauração da ponte do Rio Tâmisa. Sua cabeça
ruiva levantou do arquivo. Seu perfume de morangos me invadia as narinas me
fazendo ter pensamentos muito, muito perversos. Na última hora não consegui
mais me concentrar. Fiquei apenas olhando-a, travando uma luta comigo mesmo. Os
grandes olhos azuis me fitaram por trás das lentes quadradas. Sua boquinha se
entreabriu e ela mordeu o lábio inferior em claro desconforto.
_ Não, senhor. _ levantei uma sobrancelha.
Já havíamos passado da fase das formalidades. Abriu um sorriso tímido. _ não,
Jay. _ corrigiu.
_ Por que não? Você é linda. _ a fitei com
mais intensidade. Ela arfou levemente.
_ Obrigada. _ disse, suas faces
incendiando. Arrumou uma mecha de cabelos imaginária atrás da orelha, num gesto
nervoso.
_ Já viu o Rio Tâmisa? _ ela sorriu mais
amplo, seu rosto se iluminando lindamente.
_ Que pergunta é essa? Claro que já vi.
Nasci em Londres. _ informou.
_ Lá de cima? _ apontei para o teto. _
voando. _ completei e seu rosto mostrou confusão. _ vem, vou leva-la num
passeio. _ levantei-me pegando o terno e estendi a mão para ela. Levantou-se
também, mas ainda parecia incerta. Meus olhos buscaram os dela e os prendi. _
você confia em mim?
_ S-sim. _ murmurou e sua mão tocou a
minha. O primeiro contato intencional em duas semanas. Minha mão grande e
calejada engoliu a dela. Um contato eletrizante. Ela sentiu também, senti seu
corpo estremecer. Sua respiração acelerou. Seus olhos se tornando anuviados,
submissos, clamando por mim, como sempre acontecia quando estávamos assim,
próximos. Meu pau que já estava malditamente duro babou quando seu perfume
gostoso se entranhou em meus sentidos de vez. Aproximei-me devagar, ficando a
centímetros. Levantou o rosto para mim. Nossos olhares travaram e eu soube que
havia chegado a hora. Já tinha esperado muito. Tentei com afinco dizimá-la da
mente. Tirá-la do meu corpo, mas fracassei, miseravelmente. A batalha estava
perdida e só havia um caminho a tomar agora. Eu estava voltando ao plano
inicial. Sou um bastardo por isso, pois tudo nela grita inocência, mas é mais
forte do que eu. Preciso dela, a desejo com uma intensidade imoral. Cassandra
Miller seria introduzida no meu mundo. Ainda hoje.
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