quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Príncipe da Perdição - Capítulo 04



CAPÍTULO QUATRO
Rio de Janeiro, Brasil, dias atuais...
Cassandra
_ Responda, porra! Eles são meus? _ Jayden repetiu, seu maxilar tenso, seus olhos de aço me fazendo sentir um frio na espinha. Fechei meus olhos e gemi de desgosto. Eu não posso mais esconder. Tenho que dizer ou ele vai descobrir da maneira dele, porque seus olhos estão me dizendo que quer minha cabeça. Vítor e sua boca grande, pensando que estava me ajudando acabou de jogar esse cretino de volta na minha vida, permanentemente.
_ Sim, eles são seus. _ meu tom foi cansado, derrotado. Algo brilhou nos olhos dele, então seus lábios se torceram num riso de desprezo e escárnio.
_ Tem certeza? Afinal você não esteve só comigo. _ os olhos escuros atiravam lascas de gelo em minha direção. _ abriu as malditas pernas para o meu pior inimigo. _ seu tom era mortalmente calmo. _ quero ver os bebês. Agora. _ acrescentou entre dentes.
_ Cass, meu Deus! _ a voz de Vítor me fez virar em sua direção. Eu havia me esquecido completamente dele, embora ainda segurasse minha mão. _ eu sinto muito... _ seus olhos azuis pálidos pousaram em mim, pesarosos. _ eu pensei que... Pensei...
_ Tudo bem, Vítor. _ o tranquilizei, levando a mão livre a seu rosto. _ você não tem culpa. _ Jayden bufou impaciente. _ tenho minha consciência tranquila. Mas se tiver dúvidas isso pode ser provado facilmente através de um exame de DNA. _ cuspi voltando a encará-lo, os olhos negros estreitaram em mim com um toque de surpresa.
_ Está disposta a fazer o exame? _ seu tom era realmente surpreso.
_ Não tenho nada a temer. _ afirmei entre dentes. _ nunca tive. _ seus lábios torceram no conhecido riso cínico.
_ Veremos, Cassandra Miller. Veremos. _ disse pegando seu terno e começando a vesti-lo com gestos elegantes. Meus olhos masoquistas não conseguiram se afastar de sua figura imponente, dominante. Jayden era desses homens que domina um ambiente apenas entrando nele. Seu olhar escuro e intenso dá comandos sem palavras. Ele atrai todos à sua volta para si como um astro-rei. Foi assim comigo desde o início. Nossos olhares se trancaram por um instante fugaz, mas o suficiente para saber que tê-lo por perto, tê-lo de volta na minha vida seria uma verdadeira prova de fogo, porque apesar da forma cruel com que me usou e chutou para fora de sua vida não posso ser hipócrita e dizer que não sinto mais nada por ele. Não quando meu corpo ainda treme com seu olhar. É revoltante, eu sei. Achei, na minha ingenuidade que tinha esquecido. Acreditem-me, quero chutar minha canela por permitir que esse bastardo ainda me afete. Mas encontra-lo tão repetinamente trouxe lembranças que já não estou conseguindo relegar ao fundo da mente. Lembranças do nosso breve relacionamento. Um mês. Durou apenas um mês, mas a intensidade do que vivemos me marcou para toda a vida. Era como se nos conhecêssemos há anos. Como se nunca fôssemos nos separar. Era assim que me sentia. Dele. Completamente dele. Lembranças de como era estar em seus braços me engolfaram. Lembranças espantosamente nítidas dele tomando o meu corpo, dentro de mim, me fazendo chorar de prazer. Eu o amei de uma forma tão devastadora como nunca mais vou ser capaz de amar ninguém. Um gemido involuntário escapou da minha garganta. Seus lábios se curvaram levemente nos cantos e uma sobrancelha subiu num gesto zombador, insolente. Pisquei, obrigando-me a desviar o olhar. _ vamos? _ praticamente rosnou, seu tom foi seco, impaciente, como se olhar para mim fosse um sacrifício, algo desagradável para ele. Meu coração doeu. Sim, doeu. Não consigo controlar isso, ok?
_ Eu vou com você, Cass. _ Vítor afirmou apertando minha mão. Puta merda! Eu havia esquecido dele de novo.
_ Eu acho que não, parceiro. _ Jayden pousou os olhos duros nele. _ você não está convidado para nossa pequena reunião. _ desviou o olhar para mim e cerrou os dentes. _ dispense seu cão de guarda, Cassie. Isso é entre você e eu. _ a forma como disse as últimas palavras me fez tremer. Sua ira estava sendo contida sob a superfície, mas o conheço suficiente para saber que estava por um fio.
_ Vítor, eu vou ficar bem. _ assegurei. Claro que não era verdade, mas não posso demonstrar fraqueza para Jayden. Não mais. _ ligo para você depois. _ seu semblante era preocupado, mas assentiu e inclinou-se na minha direção, depositando um beijo suave em meus lábios. Jayden deu um misto de rosnado e grunhido. Me afastei de Vítor. Os olhos escuros me perfuravam com desprezo óbvio.  Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo. Suas narinas dilatadas, o maxilar apertado. Tive receio pela integridade física de Vítor quando Jayden falou:
_ Caia. Fora. _ cuspiu.
_ Eu vou, mas porque essa é vontade dela, seu imbecil arrogante. _ Vítor revidou. Ele estava fervendo também. Apertei sua mão e ele me olhou.
_ Vá, eu ligo depois, prometo. _ afirmei, ele acariciou meu rosto delicadamente, beijou minha mão e se dirigiu à porta.
_ Ah, eu já ia esquecendo. Que indelicadeza a minha. Obrigado pelas informações. _ a voz de Jayden pingava sarcasmo e Vítor estacou voltando-se devagar. _ outra coisa. Responda-me, costuma cuidar bem do que é seu?
_ Que pergunta idiota é essa? _ Vítor franziu o cenho confuso e claramente irritado. Ele não conhece Jayden. Não sabe que adora esse jogo de cercar a presa, os inimigos ou qualquer coisa que atravesse o seu caminho. Um predador nato. A risada baixa insinuante, provocadora e debochada encheu meus ouvidos.
_ Apenas mantenha isso em mente, parceiro. _ seus olhos pousaram em mim de novo, desceram descaradamente até meus seios. Eles arrepiaram e eu me encolhi de humilhação. Seu olhar negro, perigoso encontrou o meu de novo, havia um brilho selvagem neles. Eu conheço esse olhar. Desejo. Puta que pariu! Ele ainda me deseja e ver isso lá no fundo da íris escura me atingiu em cheio, me atordoou. As sensações mais loucas, absurdas, carnais e que eu, definitivamente não quero sentir invadiram meu corpo. Puta merda! Pisquei, lutando para não arquejar sob seu olhar indecente. _ você com certeza vai precisar. _ completou e voltou a encarar Vítor, sua postura mudando imediatamente para uma de combate, luta. Eu não estou gostando do rumo dessa conversa.
_ Não gosto das suas insinuações e menos ainda da forma como olha para minha namorada, King. _ Vítor cerrou os dentes e deu passos em nossa direção de novo. Oh! Merda! Eu realmente não estou gostando disso.
_ Saia. _ Jayden repetiu com desprezo. _ ainda não percebeu que está sobrando aqui?
_ Mudei de ideia. Vou com você, Cass. _ disse, mas seus olhos não me fitavam. Os dois homens pareciam prestes a voarem um no outro como cães selvagens. Puta que pariu! O que há com Jayden? Qual o sentido em provocar meu namorado? Cretino sem noção! Bufei, revirando os olhos e fui até Vítor. Ele era quase tão alto quanto Jayden, mas era bem mais magro, digo menos forte, por que Jayden não tinha um só grama de gordura, era tudo músculo. Ok. Eu divaguei. Mas não podem me culpar. É a pura verdade. O corpo dele chega a ser ridículo de tão bonito e esculpido. Foco, Cassie. Foco! Recriminei-me e contive os avanços de Vítor. Passei a falar com ele em Português. Eu já falava e compreendia muito bem, por causa do convívio com minha tia, mas estou fazendo um curso desde quando cheguei no ano passado e isso me ajudou muito. Garanti a ele que ficaria bem e que não desse tanto poder de munição ao cretino. Jayden só queria tirá-lo do sério. Vítor não pareceu muito convencido. Seus olhos me fitavam agora com um receio, um medo que não estava lá antes. Me senti culpada. Ele com certeza percebeu minhas reações à presença de Jayden. Vítor é um bom homem, não quero, não posso magoá-lo. Voltei a garantir que ficaria bem e ele finalmente deixou a sala.
_ Por que será que não é nenhuma surpresa encontra-la fodendo com o chefe? _ seu desprezo e irritação era evidente em seu tom. Virei-me para ele, meu sangue fervendo.
_ Não é da sua conta com quem eu... Com que eu... _ oh! Merda! Eu não consigo pronunciar isso.
_ Com quem você fode, trepa, transa, abre as pernas? _ completou dando um riso odioso. Eu quero matar esse cretino bem lentamente. Meu rosto incendiou com suas palavras chulas.
_ S-sim, é isso mesmo. _ empinei o queixo, cerrando meus punhos.
_ É aí que se engana, querida. Se está falando a verdade, se os bebês são mesmo meus as coisas serão diferentes. _ seu tom me deu calafrios. _ muito diferentes. Agora me leve até eles. Já perdi tempo demais com coisas insignificantes. Você não me interessa em absolutamente, Cassie. _ seu tom foi duro, como se eu o tivesse irritado profundamente. _ vamos! _ rosnou e saiu na minha frente. Abriu a porta fazendo um gesto cínico de falsa educação para eu passar, mas não se afastou muito. Tive que passar roçando nele e seu maldito cheiro me invadiu os sentidos. Ouvi-o sugar o ar quase inaudível, mas ouvi. Meu corpo estremeceu, porque tive a impressão de que ele havia... Me cheirado? Não dei um segundo pensamento a isso, passei para fora da sala, tentando manter a compostura na frente de Hanna e de mais dois homens sentados nos amplos estofados. Jayden não disse nada a ninguém, apenas passou por mim com seus passos de felino. Ele tinha uma forma de andar que era ao mesmo tempo elegante, arrogante, insolente, como se não se importasse com a opinião do resto do mundo sobre ele. Era exatamente isso. Ela se achava o rei. Era uma puta ironia que ele realmente fosse um príncipe. Voltei à minha sala e peguei minha bolsa, ele segurava as portas do elevador com cara de poucos amigos. Ele não podia pelo menos fingir que era civilizado? Por que estava tão zangado? Não me olhou mais. Sacou o celular e latiu ordens para seu motorista trazer o carro para frente do prédio. A firma se localizava no centro da Lapa, na Av. Mem de Sá. Era um prédio histórico, que passou por uma restauração recente. Era apenas uma das muitas empresas que a família de Vítor possuía no Rio. Ao contrário do que o bastardo insinuou não estou com ele pelas suas posses, mas porque me tratou como gente, com respeito. Não demorou muito e estávamos estacionando em frente ao meu prédio. Numa rua estreita. Ele finalmente me olhou e eu tremi sob o poder desse olhar. Ele estava dizendo sem palavras que me faria pagar por ter escondido os filhos dele. Suspirei me sentindo drenada, cansada. Saí logo que o motorista abriu a porta. O porteiro ficou boquiaberto quando passamos pela recepção. Jayden nos meus calcanhares. Era um prédio modesto. Não costumamos receber visitas de bilionários e príncipes. Não posso bancar outro lugar. Embora tenha um pai rico, a ideia de reivindicar algo para Mark me dá calafrios. Depois que fui jogada fora por Jayden me vi obrigada a procurar por meu meio irmão. Ele riu da minha cara. Disse-me coisas horríveis que prefiro nunca mais lembrar e me escorraçou também. Por uma ironia fodida do destino ele usou as mesmas palavras de Jayden não quero pôr os meus olhos em cima de você nunca mais. As memórias daquele período têm voltado com força total. Não falamos uma única palavra enquanto tomávamos o elevador para o sexto andar onde ficava meu apartamento, mas eu podia sentir a fúria emanando dele.
Apressei os passos à frente de Jayden quando o elevador parou, sentindo o tempo todo o olhar dele em minhas costas. Parei na frente da porta e o olhei temerosa, até agora meus bebês foram só meus. De repente Jayden caía de paraquedas nas nossas vidas. Meu peito doeu com expressão de aço no rosto moreno, dizendo-me que nada mais seria como antes. Ele levantou uma sobrancelha e bufou, me encarando com impaciência, totalmente insensível a meu conflito interno.
Suspirei e enfiei a chave abrindo a porta. Girei a maçaneta. Jayden adentrou a pequena sala logo que me afastei lhe dando passagem, sua atenção foi captada para o cercadinho em frente da tv. Lucas e Samuel estavam brincando entretidos. Meu cenho franziu, pois não havia sinal de Maria, a jovem que cuida deles. Então ouvi gemidos. Minha nossa! De onde vinha aquilo? Parecia que havia um casal transando dentro do meu quarto. Avancei pelo corredor, sem conseguir acreditar que ela teve essa coragem. Gelei quando escancarei a porta. Fiquei muda. Um homem bombeava duro em Maria por trás. Ela estava de quatro na cama. Na minha cama! Ele gozou num barulho feio, jogando a cabeça para trás. Oh! Meu Deus! Esse é o marido da simpática senhora do 512!
_ Mas que porra é essa? _ a voz dura e irritada de Jayden soou bem atrás de mim. Os dois se assustaram e o homem saiu de cima de Maria, que pulou da cama catando suas roupas, seu rosto se tingindo de vermelho. O homem fez o mesmo. A situação seria cômica se não fosse trágica. Ela deixou meus filhos sozinhos para transar com um homem casado! Isso era inaceitável de todas as formas. _ essa é a babá que cuida dos meninos? Uma vadia que não consegue manter as pernas fechadas? _ me virei assustada e meu queixo foi no chão, porque ele carregava os dois um em cada braço. Eu não estava preparada para ver essa cena e meu coração tolo perdeu uma batida. Eles ficavam perfeitos assim, os três. Obriguei-me a desviar o olhar, um nó gigantesco se formando na minha garganta. _ os dois. Fora. Agora. _ seu tom foi gelado, cheio de desprezo. Se há uma pessoa em todo o mundo que consegue fazer com que alguém se sinta menos que uma sujeira, esse é Jayden e ele faz isso, geralmente sem precisar falar. Os dois sem noção se vestiram apressados. O homem passou por nós sem nos encarar e Maria ainda tentou balbuciar um pedido de desculpas, mas desistiu quando encarou Jayden. Os dois saíram e um silêncio pesaroso se instalou entre nós. Arrisquei olhar para eles de novo. A imagem era linda demais para ignorar. Lágrimas inconvenientes se formaram em meus olhos, não consegui evitar, pisquei para contê-las.
_ Você estava dizendo a verdade. _ sussurrou, seus olhos encantados, passeando entre Lucas e Samuel. Um sorriso se abriu em seu rosto. Um riso lindo, livre do cinismo corriqueiro. Minha respiração falhou. Ele era tão bonito. Era doloroso olhar para ele com nossos filhos nos braços. Eu sonhei com isso por um ano inteiro. Eu acalentei esperanças tolas de que ele fosse buscar a mim e aos meninos em algum momento. Que me pediria perdão e que ficaríamos juntos. Mas isso nunca aconteceu e eu me forcei a jogar tudo para o fundo da mente. Até agora. _ eles são a minha cara. _ sorriu mais amplo. _ exceto pelos olhos incríveis que puxaram a você. _ acrescentou e meu coração saltou loucamente. Sim, não me linchem por isso. Esse homem foi uma parte importante na minha vida. Ele foi meu mundo por um tempo. Um tempo breve demais, mas me marcou de forma irreversível. Sua expressão não se alterou. Ele não percebeu que elogiou meus olhos indiretamente. Deu-me as costas e eu o segui admirando seus ombros largos, seu corpo poderoso. O destino era realmente cruel, trazê-lo para perto de novo, quando não posso tê-lo mais. Não com tanto engano e mágoas do passado.
Jayden
Eu não estava preparado para essa sensação intensa, esmagadora de orgulho e possessividade que me invadiu quando avistei as duas cabecinhas escuras dentro desses cercados próprios para crianças da idade deles. Tudo sumiu da minha mente. A fúria enorme que me tomou desde o momento em que o babaca almofadinha deixou escapar que Cassie tinha dois filhos. Meu coração bateu frenteticamente, enquanto minhas pernas me levavam até eles. Percebi que Cassie sumiu num corredor estreito, mas meus olhos ainda estavam presos neles. Devem ter ouvido algo ou simplesmente sentido a minha presença, porque as cabecinhas se levantaram e dois pares de olhos muito azuis me saudaram. Meu peito doeu. Oh, meu Deus! Eles tinham os olhos dela. Os incríveis olhos dela. Eles eram as coisinhas mais perfeitas que já vi na minha vida. E eles eram meus. Santa Mãe! Eles são meus! Porra! Eles são meus! Repeti para mim mesmo e não contive um riso. Eu amo meus sobrinhos com todo o meu coração, mas isso que está se espalhando dentro de mim agora é diferente. É algo maior. Como sei que são meus? Eu sinto em cada fibra do meu ser. Além disso, eles são a minha cara. Aproximei-me mais. Meu riso abobalhado se ampliando. Um deles sorriu para mim, um som lindo, rico. Logo o outro acompanhou o irmão abrindo um risinho também. Pronto. Eles me ganharam. Sou oficialmente o bastardo mais feliz da face da terra nesse momento.  Meus olhos arderam com o que parecia ser lágrimas. Eu nunca choro. Ok. Quase nunca. Há mais de um mês eu chorei quando meu irmão Dom foi sequestrado por uma louca. Foi realmente tenso. Não chorei na frente deles, no entanto. Claro que não. Isso deixei para o maricas do Leon. Os corpinhos rechonchudos se levantaram se apoiando nas fibras laterais do cercado. Minhas mãos foram em volta deles num reflexo natural e os peguei. Os pequenos vieram balbuciando. Eles apontavam para o corredor e eu entendi que chamavam pela mãe. Os olhei maravilhado levantando com eles. Eram lindos, robustos, pareciam saudáveis, mas um deles estava meio quente, febril.
Tomei o corredor e quase tropeço com Cassie que estava como congelada. Então, a cena surgiu diante de mim. Homem de meia idade comendo uma garota de no máximo vinte anos. Meu sangue ferveu e eu os escurracei. A raiva ameaçou me invadir de novo. Como Cassie tinha coragem de deixar meus filhos aos cuidados de uma maldita vadia que mal havia saído da adolescência?  Os dois finalmente caíram fora e eu não conseguia parar de olhar os pequenos rechonchudos em meus braços. Sorri, adorando que não me estranharam. Vieram comigo como se isso fosse natural, como se já fosse parte da rotina deles. Crianças pequenas podem estranhar quando pessoas ou hábitos novos são introduzidos em seu mundinho. Mas não meus filhos. Não eles. Desviei os olhos de relance na direção de Cassie e ela estava piscando, seus grandes olhos lacrimosos. Uma expressão melancólica no rosto bonito. Era doloroso olhar para ela. Tê-la tão perto, sabendo que não era mais minha. Quando passou roçando o corpo no meu na saída da minha sala, foi necessário lançar mão de todo o meu controle para não agarrá-la e batê-la contra a porta, beijá-la. Eu estava enlouquecido de tesão desde o nosso beijo na semana passada. A porra da modelo que convidei para jantar tinha uma voz insuportável. Mandei-a embora antes mesmo de terminarmos de comer. E assim aconteceu com todas as outras que tentei sair depois. Sempre tinha algum defeito e as mandava embora. Maldita vadia! Odeio sentir isso! Odeio que me afete dessa forma. Quero desprezá-la. Só isso. Mas quando olhos em seus olhos como agora tudo que eu senti por ela um dia ameaça voltar com uma força que me descontrola. Ela sempre teve a porra do poder! Ela sempre me controlou. Ela que me dominava. Merda! Merda! Me obriguei a girar nos calcanhares e sair do quarto, que de repente parecia me sufocar.
Sentei-me no tapete com eles no colo. Eu não queria soltá-los nunca mais. Minha vida passou diante de mim como um filme em preto e branco. Todo o sofrimento nos orfanatos, lares adotivos, onde jamais me senti bem vindo ou amado. Uma ideia fixa se formou em minha mente. Os protegerei com minha própria vida. Eles nunca passariam pelo que passei. Nunca. Olhei os corpinhos que começaram a dar sinais de impaciência. O que parecia febril estendeu os bracinhos na direção de Cassie.
_ Oh, meu amor. _ ela o pegou prontamente e sentou-se na ponta do pequeno sofá. O apartamento parecia um ovo. Muito pequeno e abafado. _ está melhorzinho? Fale para a mamãe. _ o beijou na bochecha rechonchuda e ele se derreteu todo, gargalhando alto. Logo, o que estava no meu colo se rebelou pela mãe também. Ela levantou a cabeça, os olhos cheios de amor, doces. _ me dê esse ciumento. _ disse rindo lindamente. Eu entreguei o bebê. Meus olhos não conseguiram sair deles. Três pares de olhos idênticos. Olhos azuis que foram a minha perdição um dia. Grunhi e me levantei acomodando-me no outro pequeno sofá em frente à eles. Preciso retomar o foco, porra! Não posso ficar aqui babando por ela, uma mulher que me traiu. Ela me traiu, porra! Entendeu, bastardo? Ela. Traiu. Você!
_ Você não vai nos apresentar? _ meu tom foi duro. Essa cara de anjo dela não me afeta mais. Controle de volta. Eu controlo a porra do meu pau, não o contrário. No entanto, o infeliz estava dolorosamente duro desde quando ela entrou no meu escritório. Eu salivei com a visão dela. Meus olhos passearam esfomeados pelas novas curvas que não saíram da minha cabeça toda a maldita semana. Pare aí, imbecil! Chutei-me mentalmente.
_ Este é Lucas. _ disse num tom meio nervoso, apontando para o ciumento. _ e este é Samuel. _ seus lábios se fecharam e meu coração deu um salto de surpresa. Ela deu meu segundo nome a um deles? Isso foi... Eu não consigo encontrar palavras no momento. Caralho! Por que ela fez isso?
_ Por que colocou meu segundo nome em um deles se me detesta a ponto de escondê-los de mim? _ quis saber usando um tom frio que nada revelava do meu conflito interno.
_ É um nome bonito. _ ela disse dando de ombros. _ não vamos nos debruçar e fazer uma análise profunda sobre isso, Jayden.
_ Quero meus filhos comigo. _ despejei simplesmente. Era a mais pura verdade. Eu não vou mais ficar sem eles.
_ O que pretende de fato? _ Cassie exigiu saber. Seus olhos eram apreensivos agora. _ acha que pode vir aqui do nada e toma-los de mim? Não creio que o mero depósito de esperma o classifique como um pai.
Cerrei o maxilar e mantive seu olhar preso. Minha vontade é pegá-los e ir embora. Tirá-los dessa pocilga que chama de apartamento. Meus filhos terão o melhor de hoje em diante. Só o melhor.
_ Talvez deva saber que a vadia que me deu a luz me abandonou com muita facilidade. Então, o fato de carregar um bebê no ventre por nove meses também não classifica uma mulher como mãe. _ rosnei de volta. Ela quer mesmo ir por esse lado?
Cassie me olhou em choque. Eu nunca havia falado abertamente sobre a vadia que me colocou no mundo. Odeio dramas. Mas isso só escapou. Merda!
_ Eu... Eu sinto muito. _ balbuciou. Dei uma risada fria meus olhos fulminando-a.
_ Guarde sua piedade. Não preciso dela. _ disse entre dentes.
_Olhe, sei que podemos chegar a um acordo. Se você realmente quiser fazer parte da vida deles, se...
_ Não existe se. _ a cortei friamente. _ quero e vou fazer parte da vida deles._ Analisei-a intensamente outra vez. _ Vamos conversar e descobrir como faremos. _ dei um riso calculadamente debochado e acrescentei. _ só não espere casamento, querida. Isso nunca.
_ Quem disse que quero me casar com você, seu bastardo arrogante? _ cuspiu, seus olhos inflamados. Lindos! A porra da coisa mais linda! Eu preciso transar urgentemente ou vou cometer a besteira de fodê-la e isso realmente vai complicar tudo. _ eu tenho amor próprio. _ se empertigou toda ofendida. Sei. Bufei.
_ Isso não é mais sobre mim ou você, Cassie. _ falei e ela me olhou parecendo concordar. _ Tenho dois filhos e não pretendo ficar longe deles nem mais um dia.
_ E como pretende fazer isso? Importa-se de me dizer, Jayden?_ rosnou, parecendo verdadeiramente chateada.
_ Não fique tão desapontada porque não vou propor casamento, querida. _ provoquei, meu tom frio. _ ainda vai ganhar uma gorda mesada. Não vai precisar trabalhar nunca mais na sua vida. _ ela empalideceu. Seus olhos adquiriram um brilho letal agora.
_ Só me casarei com alguém que eu ame e que me ame de volta. _ disse levantando o queixo em desafio. _ você pode enfiar seu dinheiro... Você sabe onde. _ ela parecia muito puta agora. Ou era apenas um pequeno teatro? Por que não usou os bebês para tirar dinheiro de mim? Isso veio subitamente na minha cabeça. Franzi o cenho. Por que não se aproveitou disso?
_ Sério? _ abri um riso sarcástico. _ Não parece o tipo que acredita em contos de fadas. Podia jurar que seu estilo era mais Bonie e Clyde[1]._ ela empalideceu de novo. Os olhos lacrimejaram, mas piscou e não as deixou cair.
_ Seus irmãos parecem muito felizes com suas mulheres. A imprensa não cansa de alardear que vivem verdadeiros contos de fadas. _ Cassie ousou dizer ignorando claramente minha ironia.  Ela estava mais dura. Estava lutando, duelando comigo como nunca havia feito antes. Eu não pude evitar apreciar isso. Parecia uma leoa segurando seus filhotes. Ok. Tenho que reconhecer que parece ser uma boa mãe. Os meninos eram bem cuidados e a adoravam. As crianças não ficam loucas para ir ao colo de quem as maltrata. Sei disso por experiência própria.
_ Eles fazem parte de uma pequena porcentagem. Encontraram mulheres lindas _ alfinetei-a, meu tom gelado, mantendo seu olhar preso. _ lindas não apenas por fora. _ resfolegou, seus olhos abaixando para o tapete. Ela se submeteu. Achava mesmo que era páreo para mim? _ mulheres especiais que merecem o amor e o respeito deles. _ completei mordaz. Seus olhos levantaram magoados.
_ Então o que fará? _ quis saber entre dentes. De repente me ocorreu outra coisa. Onde estava o odioso Mark Springs? Por que ela o deixou? Ou ele a deixou?
_ Onde está Mark Springs, seu amante? _ rosnei. Falar nele me trazia tudo de volta. A dor absurda da traição. _ Deixe-me adivinhar. Ele a abandonou quando viu os bebês e percebeu que não eram dele? _ provoquei, minha voz subindo.
_ Não sei o que pensa que está fazendo, mas é um pouco tarde para vir aqui, se referindo a meus filhos como se tivesse convivido com eles o tempo todo. Você não tem esse direito! _ rosnou. Os meninos a olharam e fizeram um biquinho de choro.
_ Não tive a chance de estar perto deles, tive? _ alterei-me. Essa mulher me tira do sério. Quero esganá-la. _ você os escondeu de mim. Isso foi uma espécie de vingança? Porque se foi, devo dizer que foi muito cruel, mesmo para uma vadia ordinária como você!
Seus olhos inundaram de lágrimas. Recuou com a raiva contida em minhas palavras. Levantou o queixo de novo em claro desafio.
_ Devo lembra-lo que você me humilhou e me expulsou de sua vida? _ disse entre dentes. _ que você...
_ Isso não é mais entre você e eu, Cassie! _ explodi. _ devia ter me dito que ficou grávida. Você teve dois anos para me contar! Dois anos, porra!
Ela aconchegou mais os meninos junto a si.
_ Estive perto de fazer isso muitas vezes, mas tive medo de como me receberia. _ revelou num fio de voz. _ ainda posso ouvir sua voz berrando no meu ouvido que esperava nunca mais colocar os olhos em mim. _ acrescentou e meu peito sofreu um incômodo com a expressão derrotada em seus olhos. Desviei os olhos. Merda fodida! De todas as mulheres no mundo, logo essa maldita golpista...
Obriguei-me a inspirar longamente. Preciso manter a calma. Os meninos estão quase caindo no choro dada a tensão entre nós. Santa Mãe! No espaço de poucas horas minha vida virou de cabeça para baixo. E o pior, Cassandra Miller estaria nela permanentemente de agora em diante.
_ Ok. Cassie. _ usei um tom mais conciliador. Faria isso pelos meus filhos. _ vamos nos acalmar. Os bebês estão prestes a chorar. Depois conversaremos como dois adultos que somos. _ tomei uma respiração alta, passando as mãos pelo meu rosto. _ o que há com Samuel? Parece febril. _ seus olhos mostraram surpresa por eu ter percebido no pouco tempo que o segurei.
_ Ele está meio resfriado, já levei ao pediatra e estou administrando o remédio. _ informou e virou para o pequeno. Seu rosto transformou-se completamente. _ mas já está melhor, não é, meu bebê? Hum? Conta para a mamãe. _ ele se desmanchou de novo. Lucas, o ciumento exigiu atenção mais uma vez. _ e você, meu amor? Cuidou direitinho do maninho como a mamãe pediu? Hum? _ ele gargalhou como se entendesse perfeitamente. Me vi abrindo um riso a contragosto. Meus filhos eram completamente encantados pela mãe. Merda! Eu também. Eu estou provavelmente encrencado. Ela pousou os olhos azuis do caralho em mim. Nossos olhares se prenderam por instantes incontáveis. Corrigindo, estamos os dois encrencados, porque essa energia primitiva, essa tensão sexual crua à nossa volta vai explodir a qualquer momento bem na nossa cara.




[1] Casal de assaltantes de bancos norte americanos.

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