sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sr. G - Capítulo 24 - 2ª Parte


Carlos Tavares Junior...


Simplesmente não posso acreditar no que está acontecendo!!! O que foi isto? Não consigo nem concatenar as ideias para compreender o que foi que ocorreu. Como, de uma noite maravilhosa, passei a viver este circo de horrores! Sinto como se ela tivesse pego meu coração em suas mãos e o esmagado, partindo-o em pedacinhos!

Não posso crer que a MINHA menina veja-me apenas como um objeto sexual que pode ser descartado a qualquer momento, sem qualquer consideração! Meu Deus, o que nós estamos vivendo juntos é muito mais do que sexo! Obviamente o sexo é duro, forte e incrivelmente maravilhoso, mas, o sentimento que nos une é que possibilita isso e não apenas o sexo por si só! 

Com toda a minha reticência em me envolver com uma menina, permiti que ela tomasse conta do meu ser, invadisse meu domínio e se tornasse dona do meu coração, com todo o seu jeito faceiro, moleque e sua sensualidade gritante! Ela conquistou-me completamente, sem faltar nada! Não deixou espaço nenhum em que não estivesse a reinar, como a rainha que é. E, agora, sem mais nem menos, ela diz que isso tudo não tem significado algum?!?!? O que é tudo isto?

Balanço minha cabeça, ainda atordoado e só sabendo que isso tudo dói! Como dói! É irônico que, sendo sempre eu a colocar tantos obstáculos em ter um envolvimento com alguém, para evitar machucar a pessoa por não poder dedicar-me a ela, estar, agora, do outro lado! Sim, a pessoa não querer envolver-se comigo! Seria cômico se não fosse trágico! Sinto-me numa dessas tragédias gregas, em que tudo é exagerado, porque todos os sentimentos que tenho, agora, garanto, são todos muito exacerbados, não são nada brandos. 

Vivi por anos, relacionamentos não convencionais, nos quais o compromisso era apenas durante os encontros sexuais e sem haver um envolvimento emocional, apenas satisfazendo meus fetiches e de quem se relacionava comigo. Mesmo quando morei com uma menina, eu resguardei-me emocionalmente. Agora, tenho sentimentos que nunca quis explorar e nunca me permiti, o que, uma vez mais, prova para mim que o amor é complicado demais! Com ela, desde que a conheci, foi tudo diferente, algo mais puro e verdadeiro, comigo querendo transformá-la na deusa mais esplendorosa de todas. Claro que tive as fantasias sexuais mais audaciosas e mirabolantes conosco juntos, porém, tudo estava acontecendo sem imposições, onde a emoção, o carinho e a conquista eram mais importantes. Tudo de sexualmente não convencional que vivemos juntos foi explorado em uma aura de magia, tudo aflorando intensamente e, por esse motivo, não consigo acreditar que ela vê tudo como algo apenas carnal e não como uma entrega de duas pessoas! 

De minha parte, tudo foi verdadeiro, estimulante e revigorante. Ela penetrou em meus sentidos e levou-me ao êxtase.

Sempre soube quais poderiam ser as consequências de minhas tentativas para conquistá-la, que eu poderia ter sucesso ou não. Mas, independentemente disso, ficar com ela passou a ser necessário, então, investi tudo o que podia de mim nesse relacionamento, sem considerar outra alternativa que não fosse fazê-la minha ao final. Pensei que, conquistando cada pedacinho do seu ser, até ser minha por inteiro, de corpo e alma, poderíamos ter um futuro juntos. Abri totalmente meu coração apenas para esse resultado. 

Sinto meu celular vibrar, pois havia retirado o som ao iniciar esta noite de sábado com ela, não querendo ser interrompido por ninguém. Não quero saber de nada, neste momento, mas, sei que o Nandão está empenhado na investigação do problema da cerveja bock e dei-lhe liberdade para me mandar mensagens caso fosse necessário. Por mais anestesiado que esteja, forço-me a verificar. Qual não é minha estupefação ao ver que é uma mensagem dela! Não acredito que ela teve a cara de pau de mal terminar comigo e já procurar outro! Sei que eu sou o Dom Leon, mas, ela não sabe, portanto, ele é outro, sim, o qual vou destruir, sem dó nem piedade.

Coloco o celular novamente no meu bolso e ralho com o aparelho, que parece ter culpa por tudo o que estou sentindo. 

– Procure outro idiota para conversar, chega de joguinho de conquista! Seu tempo acabou, menina quimera!

Saio perdido do prédio insensível a qualquer imagem à minha frente. Gotas d’água começam a cair, como se os deuses sentissem minha dor e mandassem uma espécie de ajuda, tentando fazer com que cada gota pudesse lavar a minha alma. A cada passo que dou para alcançar o carro, deixo que a água fria penetre em meu ser, que ferve machucado. Os sons que começam a ribombar do céu trazem-me à realidade.

− Patrícia Alencar Rochetty, você não foi capaz de voar ao meu lado... e sabe por quê? Quando voamos de asas-deltas, precisamos estar munidos de brevê e de equipamentos adequados, além de sentir segurança em nosso parceiro de voo, confiando nele. Porém, apesar de estes aspectos serem indispensáveis e muito importantes, de nada valerão para se ter bom voo se não houver o principal, que é uma coisa com a qual a natureza presenteia-nos... o vento! Eu consegui perceber que assim é o amor, minha menina! Ele leva-nos a voar e supre-nos com os equipamentos, porém, você só o sente quando você permite-se deixar levar completamente por ele. Foi o que fiz com você, mas, da maneira mais dolorosa possível, estou percebendo que o mesmo não aconteceu contigo... 

Fecho a porta do carro e encosto o rosto no volante. O sinal de mensagem apita novamente. 

Resolvo olhar a mensagem para ver até onde a crueldade dela vai e, confesso, fiquei surpreendentemente preocupado com o que li.

Patrícia Alencar Rochetty:> Dom Leon, socorro! Por favor, fale comigo! Fale, agora! Fale qualquer coisa! Não me deixe sucumbir ao terror que quer se apoderar de mim! Dom Leon, ajude-me...

Mas, o que é isso? Por que ela está pedindo socorro? É certo que ela mal falou qualquer coisa e estava como que ensandecida, apenas respondendo com gestos ao que eu perguntava, mas, daí a mostrar tal desespero não faz sentido!

Patrícia Alencar Rochetty:> Por favor, Dom Leon, se você não falar comigo, não conseguirei evitar lembrar de tudo que tentei sufocar durante toda a minha vida. Eu não quero lembrar-me... fale comigo...

Seu pedido toca meu coração, mesmo ela já o tendo despedaçado. Não consigo negar seu apelo. Mesmo minha razão querendo mandá-la para o inferno, meu coração comanda meus sentidos, fazendo-me querer ampará-la. Agora estou entendendo quando dizem que o amor faz dessas coisas, leva-nos a sempre querer cuidar da pessoa por quem o sentimos, mesmo quando ela nos fere... 

Dom Leon:> Estou aqui, menina. O que está havendo? Fale comigo.

Tenho vontade de arremessar o celular e arrebentá-lo na parede, mas, devo admitir que tal ato impensado traria muito mais dor de cabeça para mim, do que simplesmente lhe dar uma resposta ou manter-me em silêncio.

Patrícia Alencar Rochetty:> Eu fiz com que ele saísse da minha vida, com muita dor e raiva...

Muita dor mesmo! Bato no volante, com raiva de mim, não pelo fato de não querer ser minha namorada, mas, por não me permitir ficar com ela, expulsando-me de sua vida. 

Dom Leon:> Como assim, Patrícia?

Sou cego, indo contra tudo o que sempre acreditei, isto é, forçando a barra para ter um cantinho, de qualquer maneira que seja, na vida de alguém, mesmo ela não sabendo que sou eu. Isso parece tão patético... Não fiz isto nem pelo meu pai, nem pela mulher a quem eu chamava de mãe! Mas, por essa menina...

Patrícia Alencar Rochetty:> Sabe o que significa namoro, Dom Leon? Significa que você assume o compromisso de conhecer uma pessoa para amá-la. Entendeu, Dom Leon? Quando não se quer ter esse tipo de amor na vida, não se deve namorar, não é?

Não consigo compreender suas ideias desencontradas, só que ela parece ter horror ao amor. Bah, que ironia! Ela falando isso justamente para quem já a está amando... mas, vou aproveitar para tentar entender um pouco do que se passa na cabeça dessa minha menina que, desgraçadamente, não me quer.

Dom Leon:> Por que você tem dificuldade em acreditar no amor? 

Fala criatura, isto já esta me levando ao limite! Respiro fundo, perdido no silêncio do carro fechado, com os vidros embaçados como a minha mente. A chuva torrente cai sobre a lataria do carro, levo a minha mão a ignição, querendo sumir da sua vida e nunca mais retornar... O irônico é que tenho que me obrigar a ter forças para girar a chave, mas, minha mão recusa-se e não responde aos meus comandos. Então, leio mais uma mensagem dela.

Patrícia Alencar Rochetty:> Eu não tenho qualquer dúvida de que o amor exista e, de fato, acredito que é possível que duas pessoas amem uma a outra e que vivam felizes juntas. Meus melhores amigos são assim!

As ideias dela estão confundindo-me! De repente, vejo que o que pensei que fosse uma estranha, agora, parece uma menina perdida ou louca. 

Dom Leon:> Então, por que é tão resistente a esse sentimento?

Patrícia Alencar Rochetty:> Vamos separar bem as coisas! Eu amo minha família, meus amigos e, principalmente, meus dois pequeninos e não resisto nem um pouco ao amor que sinto por eles!

Vou parar de responder. Onde é que o pedido de socorro entra nesta história sem sentido? Ela que vá procurar outro desavisado para enlouquecer! Cansei... Mando a última mensagem, claro que não é para protelar a conversa, apenas para encerrá-la... Meus dedos digitam sem parar. 

Dom Leon:> Está bem, pequena escorregadia! Vamos direto ao ponto, senão, você só vai ficar esquivando-se de responder. O que você sente por esse cara com quem está saindo no momento?

Meu coração aperta! Tenho medo da sua resposta. 

Patrícia Alencar Rochetty:> Estava saindo! Claro que muito tesão! Eu já deixei isso bem claro, não?

Ela confirma aquilo que me disse mais cedo e, como um último gesto de desespero para saber mais, insisto na pergunta.

Dom Leon:> Só isso? Pelo que você vem contando para mim, ele tem abalado suas estruturas emocionais e, por isso, você quer parar de sair com ele, porque tem receio que seja muito mais do que apenas tesão.

Patrícia Alencar Rochetty:> Olha, não estou vendo objetividade nenhuma na sua pergunta...

Ah, agora desisto mesmo! Cansei de brincar de esconde-esconde... Já estou fodido mesmo, ela não me quer, então, não tendo mais nada a perder, resolvo apostar minhas últimas fichas, colocando-a contra a parede “objetivamente”, como ela ironizou que eu não estava fazendo. 

Dom Leon:> Não me decepcione, agora, menina da pinta bonita! Se você não quer responder, tudo bem, mas, não finja que não sabe o que estou perguntando! Inteligência eu sei que não lhe falta. Ou você quer que eu ajude-a, dizendo claramente o que a torna essa pessoa aterrorizada, ou vou ter que deixá-la resolver isso sozinha!

Patrícia Alencar Rochetty:> Ok. Sim, sim e mil vezes sim. Sinto muito mais do que tesão por ele. Satisfeito?

Alívio misturado a um ar de satisfação invadem meu ser e fico irritado com a sua petulância. 

Dom Leon:> Quem deveria estar ou não satisfeita seria você. Mas, pelo que você diz, interromper seus interlúdios sexuais com ele não está trazendo satisfação para você...

Patrícia Alencar Rochetty:> Oh, acredite-me que ele tem competência para satisfazer até uma virgem vestal! Mas, ele quer mais do que apenas sexo...

Dom Leon:> Mas, você não me disse que ele só queria sexo?

Patrícia Alencar Rochetty:> Queria, caro Dom Leon, QUERIA... mas acabou de vir com uma conversa para eu ser namorada dele! Ele pareceu querer ver até onde isso poderia ir... queria arriscar um relacionamento mais sério, pois me chamou de sua namorada.

Dom Leon:> E...

Patrícia Alencar Rochetty:> E o quê, homem? Que droga! O que você quer que eu diga?!? Que eu também tenho consciência de que o que sinto por ele é absolutamente muuuuuito mais do que sexo? Que ele vem conquistando não apenas meu coração, mas, também, minha alma?!?! Se é isso que você quer que eu responda, fique satisfeito, está respondido! Está feliz agora?

Sua resposta faz com que meu coração até pareça parar de bater por alguns instantes! Minha emoção é tão grande que tenho a impressão de que vou sufocar e tenho vontade de gritar aos quatro cantos do mundo que minha menina não me vê apenas como um “boy magia”... Até dou murros no ar, numa representação de vitória. Até que eu leio a próxima mensagem que entra. A chuva que antes parecia cair para lavar a alma, agora parece derramar apenas gotas de bênçãos. Raios e trovões param. O sinal do meu celular falha, os vidros do carro permanecem embaçados por causa da minha respiração, que acelera os batimentos do meu coração.

Patrícia Alencar Rochetty:> E sabe o que isso significa, Sr. Dom? Que eu caí fora desse relacionamento. Acabou de acontecer! Entenda, apesar de estar doendo muito, muito mesmo, eu NÃO quero, NÃO vou e tenho raiva de quem quer que eu queira querer ter um relacionamento AMOROSO! Fui clara?

Novamente sinto um baque no meu coração, só que, agora, de medo, muito medo de que ela realmente mantenha a convicção de não querer mais nada comigo, mesmo admitindo sentir algo forte por mim. Isto faz com que eu sinta uma dor que eu nunca experimentei antes. Parece que uma mão aperta, com força, meu coração, ao pensar na possibilidade de ela não estar mais presente na minha vida. Desesperado, quase que me atrapalho e denuncio-me com a próxima mensagem que lhe envio.

Dom Leon:> Patrícia, sua veemência é tão forte, que até parece que você tem algum trauma nesse sentido!! Se sente isso pelo cara e ele está disposto a se arriscar a tentar ir mais além, qual é o problema? Faça-me entender, porque é absolutamente incompreensível uma pessoa querer fugir de um relacionamento em que ambos estão envolvidos um com o outro! Do que você tem medo, menina?

O celular sinaliza que a mensagem não foi, insisto várias vezes e nada. Desligo e ligo o celular até conseguir, finalmente, enviar a mensagem. 

Aguardo a resposta dela, com muita impaciência e ansiedade, pois tal resposta poderá significar a chave para a compreensão de seu comportamento arredio, seu desejo de menosprezar o que temos. O tempo vai passando e nada. Parece que ela simplesmente deixou-me “falando sozinho”.

Apenas o barulho da chuva caindo na lataria se faz presente, meu desejo de girar a chave na ignição e partir é menor do que o desejo de sair do carro e invadir seu apartamento e puxá-la para meus braços e provar que ela é minha.

Dom Leon:> Patrícia? Você está aí? Está bem?

Patrícia Alencar Rochetty:> Oi. Sim. Não.

Dom Leon:> O que está acontecendo, menina? Fale comigo!

Queria voltar para o lado dela, neste momento, pegá-la em meus braços, segurar seu queixo, olhar firmemente em seus olhos e dizer-lhe que o que quer que esteja atormentando-a, eu vou resolver. Eu não descansarei enquanto não puder ver seu sorriso malicioso e sua expressão de moleca. Vejo que ela está digitando algo e sinto um arrepio de medo quanto ao que vou ler.

Patrícia Alencar Rochetty:> Você acertou. Parabéns pela perspicácia!

Dom Leon:> Você está falando do que, agora, minha menina?

Patrícia Alencar Rochetty:> Que sim, existe um trauma...

Agora, sim, meu coração doeu ao constatar que houve algo que foi tão dolorido para minha quimera, a ponto de torná-la tão avessa a um relacionamento mais sério com alguém. Minha imaginação viaja na velocidade da luz, criando mil cenários em que minha menina poderia ter sido tão magoada e marcada!

Dom Leon:> Quem sabe se você falar sobre isso, vá fazer-lhe bem. Eu ficaria muito honrado se você compartilhasse mais essa peça do quebra-cabeça que é você, minha gorilinha da fita vermelha.

Patrícia Alencar Rochetty:> Está querendo adestrar esta gorilinha aqui com palavras melosas, é? Garanto-lhe que, com relação a esse assunto, eu precisaria de muito mais do que palavras melosas... nem sempre o mundo é bonito e o amor é belo, como nos romances, Dom Leon. O lado obscuro do amor, este sim, é uma coisa horrível, sombria, tenebrosa e pode levar a crimes bárbaros!

Meus nervos contorcem-se, porque parece que algo muito mais profundo e triste está por trás dessas palavras. 

Dom Leon:> Não estou sentindo que você está apenas sendo retórica, menina! Você está a dizer que você vivenciou esse lado do amor? Amou alguém que lhe fez muito mal? É isso?

Nesse momento, sinto ganas de matar quem feriu a minha quimera! O homem que a deixou assim é digno de ter sua garganta cortada e sua cabeça exposta para quem quiser ver como acabam as pessoas que ferem e machucam os corações daqueles que amam.

Patrícia Alencar Rochetty:> Pode-se dizer que eu fui atingida, sim, por esse tipo de amor. Mas, embora eu tenha sofrido as consequências de toda a tragédia, não aconteceu diretamente comigo! Isso não significa que outras pessoas não tenham sido profundamente afetadas... o mundo tem cantos obscuros e sinistros, meu caro Dom.

Sei que este é um daqueles momentos importantes, mas, extremamente dolorosos, em que algo muito forte e terrível está para ser revelado. Não consigo nem imaginar o que foi, mas, confesso, já sinto dor por ela! Sua dor é a minha dor, então, preparo-me para receber o golpe.

Dom Leon:> Menina linda, você quer contar o que houve para mim? Você já falou a esse respeito com alguém?

Tenho vontade de abrir a porta do carro e correr para abraçá-la e lhe dar colo. Meu lado emocional manda meu lado racional para o inferno e abro a porta do carro, corro até a guarita e o porteiro abre a porta, achando que apenas fui buscar algo no veículo.

Leio sua mensagem enquanto subo as escadas de dois em dois degraus.

Patrícia Alencar Rochetty:> Eu quero contar. Pela primeira vez na vida, quero falar a respeito do assunto, o que já responde sua segunda pergunta quanto a eu já ter falado com alguém antes...mas... Deus... isso dói muito! Desculpe-me, não tenho condições de continuar falando com você agora... é muito para mim! Não consigo respirar...

Abro a porta, esbaforido, porém, suavemente, para não a assustar. Estou encharcado, deixando uma poça d’água a cada passo que dou. A chuva pegou-me em cheio! Fico desesperado quando ouço soluços e um choro tão sentido, que corta meu coração. Estou na sala do apartamento dela e, apesar de querer voltar ao quarto para consolá-la, não poderei dizer que sei o que está acontecendo! O que faço? Não suporto ouvi-la sofrer desse jeito e não fazer nada! D. Leon, acho que chegou a hora de contarmos toda a verdade...

Durante todo o tempo em que ela ficou comigo, trouxe algo valioso para a minha vida que eu não imaginava sentir um dia! Os minutos e horas que passamos juntos fortaleceram cada sentimento e admiração que lhe dedico, por mais contraditória que ela possa parecer para quem não a teve tão próxima como eu. Ela é uma pessoa especial, no melhor sentido da palavra, uma guerreira que nunca se entrega e que, neste momento, inacreditavelmente, mostra o quanto está ferida. Contudo, sua intrepidez faz com que ela ainda lute, bravamente, para se defender de algo que estou obstinado a descobrir o que é, a fim de poder ajudá-la. Apesar de ela despertar sentimentos extremos em mim, fazendo com que eu vá do ódio ao amor e vice-versa, numa fração de segundos, por ter consciência de que sinto por ela, sou capaz de fazer como São Jorge e matar o dragão que a quer engolir.

Caminho para seu quarto decidido em acabar com todos os fantasmas e segredos, mas, quando, finalmente, abro a porta do quarto, quase caio de joelhos ao vê-la sentada, numa posição fetal, chorando muito e balançando seu corpo para frente e para trás, como uma menininha desamparada...


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