Melissa
Minha
cabeça está girando. Náuseas me embrulhando o estômago. Liam foi levado
imediatamente para a sala de cirurgia. Ele levou um tiro no peito. Oh meu Deus,
ele levou uma bala por mim. Por que fez
isso, baby? Eu não posso perder você. Por
favor, Deus, não o leve de mim. Eu rogo silenciosamente, enquanto Sara me
embala em seu ombro. Nós estávamos apenas começando nossa vida juntos. Isso não
é justo. Olho em volta. Greg e os outros seguranças chegaram com os caras pouco
antes da ambulância. O pânico, o horror tomou conta de todos. Seus companheiros
choraram, gritaram. Rosnaram palavrões injuriados. Até a cadela da Nat se
desesperou. Liam estava caído, parecendo sem vida nos meus braços. Uma poça de
sangue sob nós. Não me permitiram vir junto na ambulância porque seu estado era
muito grave e eles precisavam tentar reanima-lo. Eu soluço baixinho, apenas um
leve arquejar. Já não tenho mais forças para gritar. Toda a energia foi drenada
do meu corpo tendo que ver meu amor desfalecer em meus braços sem poder fazer nada.
O pior sentimento do mundo.
_
Senhores. _ uma voz firme, porém, pesarosa me fez erguer a cabeça do ombro de
Sara. Era um dos médicos que o atenderam há pouco. Ele tinha uma expressão
grave, definitiva. _ nós estamos fazendo tudo ao nosso alcance... Mas, receio
que devam se preparar para...
_ Não! Não! _ eu grito. Uma dor lancinante me rasgando por dentro. _ Liam... Oh meu Deus, não... _ Sara solta um gemido agoniado me apertando mais contra seu peito. Os caras gritam, socam as paredes, o desespero toma conta da sala de espera. Eu fecho meus olhos com força, tentando bloquear o que o médico disse. Não! Ele está equivocado. Liam não vai... Não, Deus. Não! Eu entro em estado de negação. Mas, meu intestino revira e eu reabro os olhos quando ouço uma voz familiar. Odiosamente familiar.
_
Eu acabei de saber. Como está o nosso rock star? _ Chris pergunta, zero emoção
em seu tom. Giro a minha cabeça em sua direção. Selena está ao lado dele, seus
olhos assustados e vermelhos, lágrimas escorrendo em suas faces. Como ele ousa
vir aqui? Eu pensei que não tivesse mais forças, mas, eu estava errada. Eu me
desvencilho dos braços da minha irmã e me coloco de pé. Fúria cega, ódio mortal
guiando meus passos até o homem que, tenho certeza, é o responsável por essa
tragédia. Eu não sei como, mas, sou rápida. Fecho meu punho direito e concentro
toda a força no meu braço. Ele não vê isso chegando e eu acerto um soco potente
em cheio em seu nariz. Ele grunhe, cambaleando para trás. Minha mão dói muito,
mas, nada se compara à dor estraçalhando meu coração.
_
Assassino! Assassino! _ berro descontrolada. Sinto braços fortes me puxarem com
força. Eu esperneio, tentando atingir o homem odioso com chutes. _ assassino!
Eu vou acabar com você! Eu sei quem você é! _ os olhos dourados me encaram
frios. Um filete de sangue desce de uma de suas narinas. Ele limpa e rosna:
_
Eu vou te processar, sua vadia louca! _ Collin, Sean e Paul fecham-no e batem
seu corpo rudemente contra a parede, rosnando palavrões. Ele geme de dor.
_
Processe, porra! _ eu grito, completamente fora de mim. _ eu vou desmascarar
você! Está me ouvindo? Vou dedicar cada minuto da minha vida a acabar com a
sua! Você está acabado! Acabado! Maldito! Maldito! Você o levou de mim... _ Minha
voz falha no final e eu desabo num choro convulsivo, tremendo, minhas pernas
fraquejando. Os braços à minha volta me firmam.
_
Greg! Leve esse lixo para fora daqui, porra! _ Elijah rosna sobre o meu ombro.
Era ele me segurando. _ Deus, querida. Eu ainda não posso acreditar nisso,
caralho! _ ele grunhe, o som rasgado, atormentado e me vira. Eu o abraço com
força. Eu choro mais. Eu grito, uma dor incomensurável dilacerando-me por
dentro. Ele chora também. Nós dois estamos tremendo, nossos corpos dando
solavancos pelos soluços. Eu apenas ouço Chris berrando ameaças quando é
arrastado pelos seguranças.
_
Doutor! Corra! Código azul! Código azul![1] _
ouço uma voz alterada e levanto minha cabeça do peito de Elijah.
_
O que é? Que porra é essa de código azul? _ Collin, pergunta com raiva. O
médico franze o cenho como se não pudesse acreditar e nos dá um olhar...
Esperançoso? Ele se vira rápido e grita sobre o ombro:
_
Um milagre! Ele está voltando! Ainda está lutando!
Ele está voltando. Ele ainda está
lutando. Eu deixo as palavras afundarem em meu cérebro. Meu
coração se agarrando a um fio de esperança. Qualquer pequeno fio...
_
Oh meu Deus! Então, ele não está... _ eu sussurro. Elijah segura meu rosto me
obrigando a olhá-lo. Ele está uma bagunça. Os olhos inchados e vermelhos.
_
Jesus! Não! Você ouviu o médico. _ me diz ferozmente. _ ele não está morto.
Está me ouvindo, Mel? Liam está lutando. Ele está... _ sua voz some e me abraça
apertado outra vez. Sinto mais corpos chegando perto, braços se jogando ao
nosso redor. Ficamos assim, abraçados, unindo nossas forças, cada um fazendo
suas orações silenciosas para Liam conseguir sair dessa. Eu estou zonza, mas,
tudo que importa nesse momento é ele. Lute, baby. Continue lutando, meu amor.
Ficamos
assim por um tempo e começo a sentir falta de ar, presa no meio deles. A
tontura aumentando.
_
Eu vou vomitar! _ digo, quando uma náusea gigante sobe à minha garganta. _
afastem-se! Eu vou... _ não consigo terminar. Eu me dobro, vômito esguichando
para todos os lados. Minhas botas ficam cobertas da pasta gosmenta. Oh, Deus.
Eu gemo, minhas pernas fraquejando. Elijah me segura antes que eu caia de cara
no vômito. Estou tão fraca de repente. Ele me levanta nos braços. Meus olhos
rodam antes de fecharem.
Eu
abro os olhos, me sentindo em outra dimensão. Confusão me toma quando o teto
branco e estranho me saúda. Então, o rosto preocupado do meu pai entra em foco
do lado da minha cabeceira. Estou deitada em uma cama. Me mexo devagar.
_
Papai... _ eu gemo e as memórias aterrorizantes dessa madrugada voltam na minha
cabeça. _ Liam...
_
Shh. _ ele acaricia meu rosto, seus olhos castanhos marejados. _ eu vim o mais
rápido que consegui, querida. _ murmura. Ele estava em um evento em São Paulo.
_ como se sente? Você nos assustou muito.
_
Liam? Onde ele está? _ clamo, tentando me levantar da cama. Percebo que minhas
roupas foram trocadas. Não uso mais a camiseta branca ensopada com o sangue de
Liam. _ me leve até ele, papai...
_
Fique calma, querida. _ ele pede, seu tom amoroso conseguindo acalmar um pouco
meu coração. _ Liam já saiu da sala de cirurgia. Ele está vivo, querida. Seu
marido está vivo.
Oh,
meu Deus. Fecho os olhos, deixando o alívio me inundar. Eu soluço quando
lágrimas de agradecimento rasgam-me de dentro para fora.
_
Graças a Deus. _ exalo. _ obrigado, meu Deus. _ sussurro. Nunca vou encontrar
palavras para agradecer o suficiente. Liam não se foi. Ele não me deixou. _ o
que aconteceu comigo? Por que estou nessa cama? _ minha voz é trêmula,
emocionada.
_
Você vomitou e desmaiou, maninha. _ Sara entrou no meu campo de visão. Ela
estava em outra roupa também. _ eu fui à sua casa e busquei roupas limpas para você.
_
Há quanto tempo estou aqui? Chay... Você disse a ele? Oh, meu lindo bebê. _
coaxo, me sentando com ajuda deles. _ eu preciso vê-lo. Eu preciso do meu filho
perto de mim. Traga-o para mim, Sara. _ mais lágrimas ardem nos meus olhos
quando lembro do meu pequeno. Nós quase perdemos o Liam. Quase ficamos sem a
família que estamos construindo. Nós quase ficamos sozinhos outra vez.
_
Você ficou apagada por seis horas, querida. _ Sara informa, sua expressão
terna. _ eles tiveram que te sedar. Você estava tendo um ataque de pânico. E
Chay virá mais tarde. Fique tranquila. Ele não sabe de toda a gravidade, mas...
_
Mas, o quê? _ peço.
_
Os noticiários estão falando sobre o Liam desde as primeiras horas da manhã. A
notícia ganhou o mundo. Há um amontoado de fãs, vigilantes na frente do
hospital. Há fãs até na frente da sua casa em Malibu.
Isso
me deixou muito tocada. O apoio dos fãs. Nós vamos precisar deles quando tudo
ficar ainda mais conturbado nos próximos dias. Eu vou cumprir o que falei para
aquele maldito assassino estuprador. Assim que o Liam se recuperar vamos com
tudo para cima dele. A porta se abre nesse momento e os caras entram. Eles
ainda vestem as mesmas roupas, seus rostos aparentam cansaço.
_
Você está melhor? _ Elijah pergunta, parando na minha frente. Os caras me
oferecem sorrisos pesarosos.
_
Sim, estou me sentindo melhor. Eu quero ver o Liam. _ Anuncio. Eles se
entreolham. O que está acontecendo aqui? O que eu perdi? _ o que foi? Por que
todos estão me olhando assim? Ele está bem, não é? Por favor, me digam, droga!
Liam está bem?
_
Querida se acalme, não é bom para seu estado. _ meu pai diz, me puxando e
beijando meus cabelos suavemente.
_
Que estado, pai?
_
Você está grávida, baby. _ Collin diz, com um sorriso orgulhoso se abrindo no
rosto. Meu coração começa a correr rápido. Oh, Deus. Oh, meu Deus! Eu estou
grávida? Minha Nossa Senhora! Como isso é possível? Ok, essa foi uma pergunta
estúpida. Liam e eu transamos sem preservativos já no segundo dia... Meu
anticoncepcional falhou em algum momento. Uau! Só, uau! Uma alegria imensa
borbulha dentro de mim. Minhas entranhas entorpecem. Está explicado todo o meu
mal-estar. Um filho do Liam. Meu lindo menino intenso e apressado... Fecho os
olhos imaginando sua reação, seus incríveis olhos azuis quando lhe der a
notícia. Nosso primeiro bebê Stone já está aqui dentro de mim. Eu sorrio em
meio a mais lágrimas e toco a minha barriga. Nosso bebê.
_
Não a chame assim, idiota. _ Sean o censura. _ o Stone vai cortar suas bolas
quando levantar daquela cama.
Collin
ri mais amplo, me oferecendo sua piscada travessa.
_
Você sabe o que isso significa, querida? _ Elijah pergunta, um riso brincando
em sua boca. Liam deve estar mesmo bem, pois, eles parecem mais relaxados.
_
O quê? _ pergunto ainda tentando me acostumar à notícia e ao fato de que serei
uma manteiga derretida pelos próximos nove, ou oito meses. Se puderam detectar
uma gravidez pelo exame de sangue, devo estar com três ou quatro semanas.
Caramba! Isso foi muito rápido.
_
Que vamos ser tios, doce Mel. _ Paul fala, sorrindo também.
_
E que vamos, certamente corromper esse pequeno príncipe ou princesa do rock. _
Elijah torna a falar. Eles todos riem e entoam um year.
Eu
me permito rir também. Meu peito muito mais leve.
_
E vamos cuidar de você também, enquanto nosso parceiro está impossibilitado. _
Paul retoma.
_
Até porque, se não o fizermos o Stone vai chutar nossas bundas. _ Collin
resmunga. Eles riem, concordando.
_
Isso mesmo, porque não tenha nenhuma dúvida, querida. _ Sean diz. _ Liam vai se
levantar rapidamente. Ele é muito ciumento para deixar sua mulher por nossa
conta muito tempo.
Todos
nós rimos. Nossos corações mais leves, mas, ainda receosos. Dá para sentir a
tensão e o medo ainda pairando no ar. Isso só irá embora quando o meu lindo
superstar voltar definitivamente para nós.
_
Rapazes. _ chamo, minha voz embargando. _ eu amo a forma como cuidaram e estão
cuidando de mim. Amo que vocês amem o meu marido. _ eles estão todos sem jeito
com toda a emoção na minha voz. _ eu amo vocês, queridos. É isso. Eu amo cada
um de vocês.
Silêncio.
Eles se entreolham, pigarreiam.
_
Jesus, mulher! Você é definitivamente uma ameaça para roqueiros fodões. _
Elijah, resmunga. Os outros o seguem.
_
O Stone nunca teve a menor chance. _ Collin ri e logo todos nós estamos rindo,
inclusive Sara, que estava introspectiva desde nosso ataque.
Eles
se aproximam e me abraçam. Eu beijo cada um no rosto.
_
Os avós do Liam chegarão daqui a pouco. _ Elijah informa. _ eu arranjei tudo
para pegarem o primeiro voo disponível para cá. _ eu sinto uma pontada de
tristeza por conhecê-los assim. Liam havia planejado passarmos o primeiro
feriado com seus avós em Seattle.
_
Eles podem ficar na minha casa se quiserem, Elijah. _ ofereço. Ele acena com a
cabeça. Viro-me para Sara. _ maninha, me leve até ele, por favor? _ ela limpa
seus olhos e funga, me ajudando a descer.
_
Eu vou dar uma passada na sua casa para ver meu neto, querida. _ meu pai avisa
e me beija na testa. _ volto mais tarde. Fique bem. Eu te amo, minha menina. _
sussurra só para mim.
_
Também te amo, pai. _ murmuro, beijando-o no rosto. Ele dá um beijo em Sara e sai
em seguida.
_
Você está bem, Sara? _ Elijah pergunta às nossas costas quando já estamos na
porta.
_
Sim, estou. _ ela responde, seu tom surpreendentemente brando. Ela tem
escoriações nos joelhos e mãos, mas, graças a Deus está bem. _ hum, obrigada
por perguntar. Obrigada a todos vocês, caras, pelo carinho e cuidado com a minha
irmã.
Os
outros acenam e Elijah também antes de andar até estar em nossa frente. Os
olhos verdes cravam em minha irmã.
_
Seu voo é hoje?
_
Sim, seria hoje. _ ela responde ainda com voz suave. _ mas, vou ter que adiar.
_ ele parece gostar da notícia. Seus olhos brilham satisfeitos. _ não posso
deixar a Mel sozinha agora.
_
Você está certa, querida. _ ele assente, seu tom livre de provocação também.
Sara
acena e saímos pelo corredor. Ela me ampara para entrarmos em um elevador.
Paramos no andar do Centro de Terapia Intensiva. Eu aperto a mão de Sara, o
medo me invadindo outra vez.
_
Ele está na unidade semi-intensiva, Mel. _ me diz, quando paramos diante de um
quarto. _ Liam vai ficar bem, maninha. _ aceno, reunindo minhas forças. _ mas,
ele ainda precisa de cuidados especiais pelos próximos dias. Perdeu muito
sangue e foi preciso uma transfusão. Elijah ajudou com isso. Eles têm o mesmo
tipo sanguíneo. _ lágrimas me vêm aos olhos. Eles têm mesmo uma forte ligação.
_ a bala se alojou muito próximo ao coração. _ ela acaricia meu rosto. _ foi um
cirurgia muito delicada, mas, ele resistiu, querida. _ sorri suavemente. _ esse
homem queria muito voltar para você.
Eu
assinto, meu peito tomado de angústia por tudo que ele passou por mim. Por tudo
que ainda está passando. Um movimento atrás de Sara chama a minha atenção. Greg
e outro dois seguranças estão andando pelo corredor, fazendo algum tipo de
ronda, seus rostos muito sérios. Jess está encostada à parede. Ela ainda está
na mesma roupa do show, mas seu rosto está uma droga. Sua maquiagem escorreu e
seus olhos estão inchados e vermelhos.
_
Mel... _ ela chama fracamente, se aproximando. _ eu, eu quero pedir desculpas.
_ eu continuo a olhando fixamente. _ eu não devia ter falado todas aquelas
coisas para você ontem. Espero que possa me desculpar. Eu...
_
Não, você não devia ter falado nada para mim. _ eu digo baixo, meus olhos
analisando-a atentamente. _ não é da sua conta a minha relação com o meu
marido. _ ela se encolhe um pouco com meu tom. É isso aí. Essa é a nova Mel.
Não vou mais engolir merda de ninguém, caralho. _ agora se me der licença, eu
preciso vê-lo.
_
Certo. _ ela acena sem graça. _ eu soltei comunicados nas páginas da banda nas
redes sociais e enviei também para os principais jornais. _ sua voz está
trêmula. _ ele vai sair dessa você vai ver. _ eu aceno apenas. Essa garota
ainda é uma incógnita para mim. _ se você quiser falar com a imprensa
brasileira, eu estarei aqui para orientá-la. _ ouço Sara bufando levemente.
Jess sorri fracamente e acrescenta: _ e, parabéns pelo bebê.
_
Obrigada. _ respondo já lhe virando as costas.
Eu
entro no quarto e meus olhos o buscam imediatamente. Desinfeto minhas mãos com
o álcool gel que está sobre uma mesinha. Olho seu corpo grande inerte sobre o
leito. Me aproximo, minha visão já turva. Ele está entubado. Dói muito vê-lo
aqui, preso à uma cama. Ele é tão cheio de energia. As imagens lindas do show
ainda estão frescas na minha mente. Tão
injusto, baby. Um soluço me escapa, enquanto o olho ainda sem acreditar no
que está à minha frente. A princípio nem parece que está respirando, mas, me
forço a perceber o leve subir do seu peito. Seu rosto lindo está tão pálido.
Corta meu coração saber que está assim por minha causa. Eu não pensei que
alguém faria o que Liam fez na vida real. Eu só tinha visto isso em filmes ou
romances...
_
Baby... _ chamo baixinho, tocando seu rosto. Sua pele está tão fria. _ eu estou
aqui, meu amor. _ me inclino para sussurrar em seu ouvido. _ eu só saio daqui
com você do meu lado, está me ouvindo, superstar? _ eu tento sorrir, lágrimas
banhando minhas faces. _ seus fãs estão lá fora também, baby. Estão todos
rezando, pedindo seu rock star de volta. _ acaricio sua face. _ você precisa
voltar logo, amor. Nós precisamos de você. _ eu engasgo, puxando uma respiração
profunda. _ eu não posso ficar sem você. Não posso. _ gemo. _ nossos filhos
precisam do pai junto deles. _ eu sorrio, levando minha mão livre para meu
ventre. _ sim, nossos filhos, querido. Nosso primeiro Stone está aqui no meu
ventre, baby. Sim, você com toda a sua intensidade... Toda pressa... Toda
paixão... _ soluço baixinho, meus olhos presos no rosto pacificamente
adormecido. _ tão bonito, baby. Você é tão lindo, superstar. Você me mostrou
que o seu amor por mim é muito maior do que eu sequer supunha. _ continuo
deslizando os dedos em sua face fria. _ você precisa sair dessa cama logo, está
me ouvindo? Eu preciso te mostrar todos os dias como o meu amor por você é
imenso também. Você vai fazer isso para
mim, meu amor? Hum? Você vai fazer para mim, baby?
Ele
não fez. Liam não voltou para nós por duas semanas. Ele estava em coma
induzido. Sara esqueceu-se de mencionar esse detalhe para mim. No entanto, os
médicos garantiram que era apenas por precaução porque seu corpo estava muito
fraco e precisava de repouso absoluto para se recuperar. Eu me apego a isso
todos os dias. Passo a maior parte do tempo com ele, na esperança de que quando
acordar estarei do seu lado. Todos os dias Greg me leva para casa para passar
um tempo com meu pequeno. Meu pai e a Sara estão dormindo na minha casa. No
período da tarde Chay vem comigo para o hospital e ficamos os dois falando com Liam.
Eu ainda não contei ao meu pequeno que estou grávida. Chay é muito ciumento
comigo. Quero prepara-lo primeiro. Garantir que esse bebê não é uma ameaça. Há
três dias Liam está sem o tubo e não está mais no estado de sono induzido. Seu
aspecto debilitado melhorou muito. Sua pele está quente ao toque. Sua
respiração mais forte e constante. Ele está voltando para nós. Eu sei que está.
Os
avós de Liam também têm sido presença assídua na cabeceira do seu leito. Conhecê-los
foi uma montanha russa de emoções. O medo de ser julgada pela nossa diferença
de idade. O fato de seu neto ter se jogado na frente de uma bala por mim. Mas,
tudo isso caiu por terra quando o casal simpático entrou no quarto com Elijah e
os caras. Joshua e Norah Stone me deram um sorriso afetuoso e me abraçaram sem
titubear. Choramos abraçados por algum tempo, sem palavras. Depois disso, eles
fizeram questão de me deixar saber que aprovam nosso casamento e tudo que
importa para eles é a felicidade de Liam. Eles são especiais. Posso ver que
Liam teve muito amor da parte deles enquanto crescia. Isso deve tê-lo
confortado, uma vez que da parte da família de seu pai, nunca foi tratado com
respeito, muito menos amor.
Rodrigo
esteve aqui várias vezes. Ele parecia realmente preocupado com o irmão. Mas, o
que me chocou profundamente foi Lúcia ter a cara de pau de aparecer por aqui
também. Eu não a deixei ver o Liam. Eles nunca foram próximos. Ela o odiou a
vida toda. Chega de hipocrisia. Aposto que quer parecer bem para a imprensa.
Cadela. O resultado do nosso confronto foi a bruxa velha ir à imprensa no dia
seguinte jogando calúnias sobre meu relacionamento com o Liam há dez anos.
Lúcia afirmou que sempre tivemos um caso nas costas de Raul e que por isso os
irmãos não se davam bem. Ela jogou toda a culpa em mim, dizendo que seduzi o
Liam e o afastei de seu adorado irmão. Eu quis vomitar quando Jess me mostrou o
artigo publicado em um site de fofoca. Eu tenho buscado forças no meu íntimo
para ser a mulher forte que preciso ser.
As
redes sociais enlouqueceram com os fãs de Selena destilando seu veneno contra
mim. Ela e o estuprador do seu irmão voltaram para LA no dia seguinte ao nosso
ataque. Estou sendo achincalhada brutalmente outra vez. Jess entrou em contato
com o site que publicou as calúnias de Lúcia e ameaçou processá-los. O texto
foi retirado, mas, o veneno já havia sido destilado. Aos olhos de boa parte da
imprensa sou uma vadia experiente que seduziu Liam ainda jovem. Isso incomoda,
mas, nada tem importância agora. Eu só preciso do meu marido bem. Não me
importa se serei perseguida e taxada como uma vagabunda pela mídia pelo resto
da vida. Nada disso importa se eu tiver o meu amor vivo. Se eu puder olhar em
seu rosto lindo e olhos incríveis a cada manhã, serei feliz. O resto é o resto.
Eu tenho prometido a mim a mesma que serei forte de agora em diante. Chega de
tanta passividade. Dou-me discursos mentais a cada insulto que vejo e ergo a
minha cabeça. Estarei do lado do meu marido e foda-se a opinião pública.
Para
meu consolo, os fãs da banda não cansam de nos defender, me defender nas redes
sociais. Eles descobriram qual é a janela do apartamento do Liam e estão
acampados lá embaixo. Os caras aparecem na sacada de vez em quando para
deixa-los saber que apreciam sua vigília e fidelidade. Ontem foi a primeira vez
que ousei mostrar a minha cara na sacada e lágrimas me assaltaram com o que vi.
Cartazes, flores. Pôsteres do Liam sozinho. Dele com a banda. Os cartazes
tinham quase o mesmo padrão. Força,
Stone! Nós te amamos, Liam! Fique bom logo! E havia também aqueles que me
fizeram me sentir mais forte: força, Mel!
Nós estamos com você! Elijah manteve um braço me apoiando, enquanto eu
acenava timidamente para os fãs. Os caras têm estado todo o tempo próximo a mim
e ao Chay. Eles querem cuidar de nós para o Liam e isso tem sido importante. O
apoio deles está sendo crucial. Eu os amo por isso.
Liam
Eu
acordo e me viro na cama, buscando a Mel. Seu lado está vazio. Nós estamos em
LA há uma semana. Meus avós estão aqui. Os caras estão aqui. A casa está cheia
e barulhenta. Eu rio, me levantando da cama.
_
Mel? Baby? _ chamo, indo para o banheiro. Ela não está aqui. Já deve ter descido
para dar o café da manhã do homenzinho. Faço minha higiene e me visto, descendo
rapidamente a escada. A sala está vazia. Para onde foi todo mundo? Ouço vozes
na área externa. Me encaminho para lá. Os caras estão à beira da piscina. Eles
estão estranhamente calados. Cada um toma sua cerveja parecendo mergulhado em
seus pensamentos. _ ei, idiotas? _ provoco. Nada. Eles nem mesmo reconhecem a
minha presença. Bastardos! _ alguém sabe da minha mulher? _ nenhuma resposta
ainda. Ando e paro na frente de Elijah. _ ei, cara, que porra é essa? Por que
estão me ignorando, cacete? _ ele vira a cabeça e olha em direção à praia. Dá
um suspiro um tanto triste e toma um gole da sua cerveja. Eu sigo seu olhar e
avisto uma figura solitária andando na areia. Eu reconheço a silhueta. Mel. _
tudo bem, continuem com essa brincadeira sem graça de vocês. _ bufo e vou em
direção aos degraus que dão acesso à praia.
Salto
de dois em dois e tiro minhas sandálias antes de pisar na areia fofa. A brisa
suave da manhã bate no meu peito. Eu amo isso aqui. Eu amo mais ainda que a
minha mulher esteja aqui comigo agora. Meus olhos permanecem na sua figura. Ela
para de andar e pega um graveto sobre a areia. Caminha graciosamente em direção
ao mar. Usa um vestido leve, o vento o faz tremular. Porra, tão linda. Eu
desacelero meus passos para beber da sua figura linda por algum tempo antes que
perceba a minha presença. Ela parece... Diferente. Seu corpo ganhou mais
curvas. Eu não percebi isso ontem, ou hoje de manhã quando fizemos amor. Ela
parece tão absorta. Se inclina na areia molhada próxima às ondas quebrando e
desenha algo no chão. Eu rio com a cena. Parece uma adolescente desenhando na
areia. Me aproximo mais. Ela toca algo em seu pescoço e fecha os olhos
inclinando a cabeça para trás.
_
Mel? _ chamo, meu cenho franzindo porque ela parece triste. Um pequeno soluço
estremece seu corpo. Me aproximo mais, intrigado e preocupado. _ amor, você
está chorando? Por que, baby? _ eu pergunto angustiado, mas, ela não nota a
minha presença. Nem mesmo mexe a cabeça. Só fica lá. Seu rosto bonito sendo
banhado de lágrimas.
_
Eu sinto a sua falta todos os dias, baby. _ sua voz é grunhido de dor. Ela olha
para o desenho na areia e meus olhos seguem os dela. Meu peito aquece. Ela fez
um coração com nossos nomes dentro. _ eu amo você, superstar. Sempre vou amar,
baby. Sempre.
_
Mel, você está me assustando pra cacete. _ digo, tentando sorrir. Isso também é
uma brincadeira? Todos resolveram fazer pegadinha comigo hoje? Então, ouço
vozes, gritinhos infantis e meus olhos vão para a areia há poucos passos de
nós. Chay está fazendo castelos.
_
Chay? Hei, homenzinho. _ sorrio, chamando-o. Wow! Ele cresceu muito. Como pode
em apenas uma semana? Ele não levanta a cabeça, continua concentrado na tarefa.
Um enorme cão labrador marrom corre ao redor. Eu não me lembro dele. Cacete,
essa manhã está estranha pra caralho. Sou surpreendido outra vez quando percebo
perninhas rechonchudas parando do lado do Chay. Eu junto as sobrancelhas em
confusão olhando o menino loiro de mais ou menos uns dois anos que se senta em
cima do castelo do Chay, desfazendo-o completamente. Chay o repreende:
_
Liam! Você é tão bagunceiro. _ Liam?
Por que o bebê tem o meu nome? Me pergunto, e, em seguida Chay o pega pelo
braço e os dois ficam de frente para mim. Meu coração salta com força,
golpeando violentamente no peito. Cristo! Ele é... Ele é meu filho. Seus
olhinhos azuis se fixam em mim e sorri, acenando. Oh, Deus, eu tive um filho? Confusão
assume o lugar da alegria. Por que não me lembro de nada disso? Volto minha
atenção para a Mel. Ela ainda está perdida em sua própria angústia.
_
Mel, baby, nós tivemos um filho? _ minha voz treme. _ por que você não me falou
sobre isso? O que houve? Cristo! Olhe para mim! _ exaspero-me. Ela enfim, se
vira na minha direção e a expressão em seu olhar me faz fraco. Me mata ver a
dor em seu lindos olhos amendoados. _ o que houve, amor? Por que sinto como se
não a visse em um longo tempo? E por que está tão triste? _ ela segura mais
firmemente a coisa em seu pescoço e eu vejo que é um colar. Ela aperta o
pingente com força, então, o solta e a minha confusão fica completa. É a minha
aliança em seu cordão. _ Deus, você quer me explicar o que está acontecendo?
Por que a minha aliança está aí em seu pescoço, baby?
_
Você me deixou, Liam. _ ela diz, sua voz quebrada. _ você nos deixou. Você
partiu... _ lágrimas escorrem pelas suas faces. Meu peito dói muito.
_
Não, baby. _ encurto a distância entre nós, tentando puxá-la para os meus
braços, mas, por alguma razão estranha pra cacete eu não consigo segurá-la. _
eu não deixei você, amor. Nunca, baby. Nunca.
_
Sim, você deixou. _ ela sussurra e se vira, começando a caminhar para longe de
mim. Pânico me enche.
_
Não! Mel! Baby! _ grito, a dor se tornando aguda no meu peito. Porra, é uma dor
quase física. Eu levo a mão ao peito. _ eu não deixei você, amor! Mel? Baby! _
grito com mais força e tudo escurece.
Eu
ouço vozes distantes...
_
Oh, meu Deus! Ele está voltando! Baby... _ é a voz suave e chorosa da Mel.
Eu não deixei você! Eu não deixei
você, baby! Repito agoniado e me mexo sobre algo
quente. Minhas pernas parecem dormentes. Ainda está tudo escuro e meu peito
continua doendo. Eu sinto a carne, queimando, como se tivesse sido rasgada.
Merda. Nunca senti essa dor antes. Por que está tão escuro, porra? Tento mexer
os olhos e percebo que estão cerrados, as pálpebras pesadas pra caralho.
Imagens confusas povoam minha mente. Luta. Terror. O medo de perdê-la. O meu
desespero ao me jogar na frente da arma. O tiro... Cacete! Eu levei um maldito
tiro! Meu peito dói mais como que para me confirmar isso. Ainda posso sentir a
dor absurda e atordoante da bala atravessando minha pele.
_
Oh, Deus, meu amor... Liam! _ ela fala de novo. Meio sorrindo, meio chorando.
Eu gemo, lutando com todas as minhas forças para abrir os meus malditos olhos.
Solto um grunhido e por fim consigo mover minhas pálpebras. Uma luz me cega e
eu os fecho outra vez. _ abra os olhos, baby. Eu estou aqui. Oh, meu Deus!
Enfermeira! _ ela grita. Um instante depois, ouço mais vozes ao meu redor. Os
caras. Eles estão todos falando ao mesmo tempo. Bastardos sem educação. Ouço
outra voz feminina pedindo para eles deixarem o quarto. Ela quer me examinar. Eu
abro os olhos de novo, lutando para mantê-los abertos. Minha visão está embaçada,
fora de foco. Uma mão muito suave toca meu rosto e eu gemo de prazer e alívio,
reconhecendo o toque da minha mulher. A dor momentaneamente esquecida.
_
Baby... _ não tenho certeza se consegui falar. Acho que foi apenas mais outro
gemido. Minha garganta dói também, porra! Parece que alguém esfregou uma
maldita lixa por dentro muitas vezes. Que merda é essa? Meus olhos focam um
rosto acima do meu. Forço minha visão e o borrão vai cedendo aos poucos. O
rosto lindo e banhado de lágrimas da Mel está bem próximo. Eu gemo outra vez. _
eu... Não... Deixei... Você... _ consigo balbuciar apesar da dor e secura na
minha garganta.
Ela
sorri e cola sua testa na minha, respirando rapidamente.
_
Shh, eu sei, meu amor. _ sussurra, seu hálito doce, seu cheiro gostoso me
embriagando, me acalmando. _ eu sei. _ suas mãos trêmulas deslizam
reverentemente pelo meu rosto. Seus olhos lindos marejados, presos aos meus. _
graças a Deus. Eu tive tanto medo, baby. _ suas lágrimas pingam no meu rosto. _
você não pode me mostrar o que é ser feliz e em seguida me deixar. Eu o proíbo.
Está me ouvindo? _ ela abre o riso trêmulo mais lindo na porra do mundo todo.
Meu coração atordoado e dolorido fica todo mole. Lágrimas se reúnem nos meus
olhos. Sinto-me fraco e forte ao mesmo tempo. Uma mistura louca de sentimentos.
Eu também tive muito medo. Nunca vou esquecer o pavor que tomou conta de mim
quando a vi na mira daquele bandido. _ eu amo você, superstar. _ ela diz antes
de selar seus lábios quentes e macios nos meus. Eu gemo miseravelmente. Ouço
mais vozes no quarto. São os médicos. Mas, eu só posso imaginá-los porque toda
a minha atenção está concentrada nela. _
eu amo você. _ ela repete, murmurando contra meus lábios. É a porra do céu. Eu
não morri. Porra, obrigado, Deus! Merda, desculpe o palavrão.
É isso. Eu só preciso ver o rosto lindo da minha mulher, ouvir algumas palavras piegas e a Terra está de volta ao seu eixo... Fodidamente perfeito. Eu sou cercado em instantes. Os profissionais começam a me examinar. Ela sorri docemente, se afastando um pouco, mas, ainda perto, se recusando a me deixar. Eu te amo, baby. Digo-lhe, com o meu olhar, que também se recusa a deixá-la.
[1] Um ponto primordial no âmbito hospitalar é a
implantação de um time de resposta rápida. Trata-se de uma equipe de clínicos
(enfermeiras, médicos, fisioterapeutas, ascensoristas entre outros) que trazem
cuidados críticos aos pacientes à beira leito ou onde for necessário. Essas
ocorrências normalmente são classificadas em duas chamadas: Código Amarelo para
urgências e Código Azul para emergências – PCR (Parada Cardiorrespiratória).
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