quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Série Rock I'm Rio 2/4 - Irresistível - Capítulo 01


Melissa

Minha cabeça está girando. Náuseas me embrulhando o estômago. Liam foi levado imediatamente para a sala de cirurgia. Ele levou um tiro no peito. Oh meu Deus, ele levou uma bala por mim. Por que fez isso, baby? Eu não posso perder você. Por favor, Deus, não o leve de mim. Eu rogo silenciosamente, enquanto Sara me embala em seu ombro. Nós estávamos apenas começando nossa vida juntos. Isso não é justo. Olho em volta. Greg e os outros seguranças chegaram com os caras pouco antes da ambulância. O pânico, o horror tomou conta de todos. Seus companheiros choraram, gritaram. Rosnaram palavrões injuriados. Até a cadela da Nat se desesperou. Liam estava caído, parecendo sem vida nos meus braços. Uma poça de sangue sob nós. Não me permitiram vir junto na ambulância porque seu estado era muito grave e eles precisavam tentar reanima-lo. Eu soluço baixinho, apenas um leve arquejar. Já não tenho mais forças para gritar. Toda a energia foi drenada do meu corpo tendo que ver meu amor desfalecer em meus braços sem poder fazer nada. O pior sentimento do mundo.


_ Senhores. _ uma voz firme, porém, pesarosa me fez erguer a cabeça do ombro de Sara. Era um dos médicos que o atenderam há pouco. Ele tinha uma expressão grave, definitiva. _ nós estamos fazendo tudo ao nosso alcance... Mas, receio que devam se preparar para...

_ Não! Não! _ eu grito. Uma dor lancinante me rasgando por dentro. _ Liam... Oh meu Deus, não... _ Sara solta um gemido agoniado me apertando mais contra seu peito. Os caras gritam, socam as paredes, o desespero toma conta da sala de espera. Eu fecho meus olhos com força, tentando bloquear o que o médico disse. Não! Ele está equivocado. Liam não vai... Não, Deus. Não! Eu entro em estado de negação.  Mas, meu intestino revira e eu reabro os olhos quando ouço uma voz familiar. Odiosamente familiar.

_ Eu acabei de saber. Como está o nosso rock star? _ Chris pergunta, zero emoção em seu tom. Giro a minha cabeça em sua direção. Selena está ao lado dele, seus olhos assustados e vermelhos, lágrimas escorrendo em suas faces. Como ele ousa vir aqui? Eu pensei que não tivesse mais forças, mas, eu estava errada. Eu me desvencilho dos braços da minha irmã e me coloco de pé. Fúria cega, ódio mortal guiando meus passos até o homem que, tenho certeza, é o responsável por essa tragédia. Eu não sei como, mas, sou rápida. Fecho meu punho direito e concentro toda a força no meu braço. Ele não vê isso chegando e eu acerto um soco potente em cheio em seu nariz. Ele grunhe, cambaleando para trás. Minha mão dói muito, mas, nada se compara à dor estraçalhando meu coração.

_ Assassino! Assassino! _ berro descontrolada. Sinto braços fortes me puxarem com força. Eu esperneio, tentando atingir o homem odioso com chutes. _ assassino! Eu vou acabar com você! Eu sei quem você é! _ os olhos dourados me encaram frios. Um filete de sangue desce de uma de suas narinas. Ele limpa e rosna:

_ Eu vou te processar, sua vadia louca! _ Collin, Sean e Paul fecham-no e batem seu corpo rudemente contra a parede, rosnando palavrões.  Ele geme de dor.

_ Processe, porra! _ eu grito, completamente fora de mim. _ eu vou desmascarar você! Está me ouvindo? Vou dedicar cada minuto da minha vida a acabar com a sua! Você está acabado! Acabado! Maldito! Maldito! Você o levou de mim... _ Minha voz falha no final e eu desabo num choro convulsivo, tremendo, minhas pernas fraquejando. Os braços à minha volta me firmam.

_ Greg! Leve esse lixo para fora daqui, porra! _ Elijah rosna sobre o meu ombro. Era ele me segurando. _ Deus, querida. Eu ainda não posso acreditar nisso, caralho! _ ele grunhe, o som rasgado, atormentado e me vira. Eu o abraço com força. Eu choro mais. Eu grito, uma dor incomensurável dilacerando-me por dentro. Ele chora também. Nós dois estamos tremendo, nossos corpos dando solavancos pelos soluços. Eu apenas ouço Chris berrando ameaças quando é arrastado pelos seguranças.

_ Doutor! Corra! Código azul! Código azul![1] _ ouço uma voz alterada e levanto minha cabeça do peito de Elijah.

_ O que é? Que porra é essa de código azul? _ Collin, pergunta com raiva. O médico franze o cenho como se não pudesse acreditar e nos dá um olhar... Esperançoso? Ele se vira rápido e grita sobre o ombro:

_ Um milagre! Ele está voltando! Ainda está lutando!

Ele está voltando. Ele ainda está lutando. Eu deixo as palavras afundarem em meu cérebro. Meu coração se agarrando a um fio de esperança. Qualquer pequeno fio...

_ Oh meu Deus! Então, ele não está... _ eu sussurro. Elijah segura meu rosto me obrigando a olhá-lo. Ele está uma bagunça. Os olhos inchados e vermelhos.

_ Jesus! Não! Você ouviu o médico. _ me diz ferozmente. _ ele não está morto. Está me ouvindo, Mel? Liam está lutando. Ele está... _ sua voz some e me abraça apertado outra vez. Sinto mais corpos chegando perto, braços se jogando ao nosso redor. Ficamos assim, abraçados, unindo nossas forças, cada um fazendo suas orações silenciosas para Liam conseguir sair dessa. Eu estou zonza, mas, tudo que importa nesse momento é ele.  Lute, baby. Continue lutando, meu amor.

Ficamos assim por um tempo e começo a sentir falta de ar, presa no meio deles. A tontura aumentando.

_ Eu vou vomitar! _ digo, quando uma náusea gigante sobe à minha garganta. _ afastem-se! Eu vou... _ não consigo terminar. Eu me dobro, vômito esguichando para todos os lados. Minhas botas ficam cobertas da pasta gosmenta. Oh, Deus. Eu gemo, minhas pernas fraquejando. Elijah me segura antes que eu caia de cara no vômito. Estou tão fraca de repente. Ele me levanta nos braços. Meus olhos rodam antes de fecharem.

Eu abro os olhos, me sentindo em outra dimensão. Confusão me toma quando o teto branco e estranho me saúda. Então, o rosto preocupado do meu pai entra em foco do lado da minha cabeceira. Estou deitada em uma cama. Me mexo devagar.

_ Papai... _ eu gemo e as memórias aterrorizantes dessa madrugada voltam na minha cabeça. _ Liam...

_ Shh. _ ele acaricia meu rosto, seus olhos castanhos marejados. _ eu vim o mais rápido que consegui, querida. _ murmura. Ele estava em um evento em São Paulo. _ como se sente? Você nos assustou muito.

_ Liam? Onde ele está? _ clamo, tentando me levantar da cama. Percebo que minhas roupas foram trocadas. Não uso mais a camiseta branca ensopada com o sangue de Liam. _ me leve até ele, papai...

_ Fique calma, querida. _ ele pede, seu tom amoroso conseguindo acalmar um pouco meu coração. _ Liam já saiu da sala de cirurgia. Ele está vivo, querida. Seu marido está vivo.

Oh, meu Deus. Fecho os olhos, deixando o alívio me inundar. Eu soluço quando lágrimas de agradecimento rasgam-me de dentro para fora.

_ Graças a Deus. _ exalo. _ obrigado, meu Deus. _ sussurro. Nunca vou encontrar palavras para agradecer o suficiente. Liam não se foi. Ele não me deixou. _ o que aconteceu comigo? Por que estou nessa cama? _ minha voz é trêmula, emocionada.

_ Você vomitou e desmaiou, maninha. _ Sara entrou no meu campo de visão. Ela estava em outra roupa também. _ eu fui à  sua casa e busquei roupas limpas para você.

_ Há quanto tempo estou aqui? Chay... Você disse a ele? Oh, meu lindo bebê. _ coaxo, me sentando com ajuda deles. _ eu preciso vê-lo. Eu preciso do meu filho perto de mim. Traga-o para mim, Sara. _ mais lágrimas ardem nos meus olhos quando lembro do meu pequeno. Nós quase perdemos o Liam. Quase ficamos sem a família que estamos construindo. Nós quase ficamos sozinhos outra vez.

_ Você ficou apagada por seis horas, querida. _ Sara informa, sua expressão terna. _ eles tiveram que te sedar. Você estava tendo um ataque de pânico. E Chay virá mais tarde. Fique tranquila. Ele não sabe de toda a gravidade, mas...

_ Mas, o quê? _ peço.

_ Os noticiários estão falando sobre o Liam desde as primeiras horas da manhã. A notícia ganhou o mundo. Há um amontoado de fãs, vigilantes na frente do hospital. Há fãs até na frente da sua casa em Malibu.

Isso me deixou muito tocada. O apoio dos fãs. Nós vamos precisar deles quando tudo ficar ainda mais conturbado nos próximos dias. Eu vou cumprir o que falei para aquele maldito assassino estuprador. Assim que o Liam se recuperar vamos com tudo para cima dele. A porta se abre nesse momento e os caras entram. Eles ainda vestem as mesmas roupas, seus rostos aparentam cansaço.

_ Você está melhor? _ Elijah pergunta, parando na minha frente. Os caras me oferecem sorrisos pesarosos.

_ Sim, estou me sentindo melhor. Eu quero ver o Liam. _ Anuncio. Eles se entreolham. O que está acontecendo aqui? O que eu perdi? _ o que foi? Por que todos estão me olhando assim? Ele está bem, não é? Por favor, me digam, droga! Liam está bem?

_ Querida se acalme, não é bom para seu estado. _ meu pai diz, me puxando e beijando meus cabelos suavemente.

_ Que estado, pai?

_ Você está grávida, baby. _ Collin diz, com um sorriso orgulhoso se abrindo no rosto. Meu coração começa a correr rápido. Oh, Deus. Oh, meu Deus! Eu estou grávida? Minha Nossa Senhora! Como isso é possível? Ok, essa foi uma pergunta estúpida. Liam e eu transamos sem preservativos já no segundo dia... Meu anticoncepcional falhou em algum momento. Uau! Só, uau! Uma alegria imensa borbulha dentro de mim. Minhas entranhas entorpecem. Está explicado todo o meu mal-estar. Um filho do Liam. Meu lindo menino intenso e apressado... Fecho os olhos imaginando sua reação, seus incríveis olhos azuis quando lhe der a notícia. Nosso primeiro bebê Stone já está aqui dentro de mim. Eu sorrio em meio a mais lágrimas e toco a minha barriga. Nosso bebê.

_ Não a chame assim, idiota. _ Sean o censura. _ o Stone vai cortar suas bolas quando levantar daquela cama.

Collin ri mais amplo, me oferecendo sua piscada travessa.

_ Você sabe o que isso significa, querida? _ Elijah pergunta, um riso brincando em sua boca. Liam deve estar mesmo bem, pois, eles parecem mais relaxados.

_ O quê? _ pergunto ainda tentando me acostumar à notícia e ao fato de que serei uma manteiga derretida pelos próximos nove, ou oito meses. Se puderam detectar uma gravidez pelo exame de sangue, devo estar com três ou quatro semanas. Caramba! Isso foi muito rápido.

_ Que vamos ser tios, doce Mel. _ Paul fala, sorrindo também.

_ E que vamos, certamente corromper esse pequeno príncipe ou princesa do rock. _ Elijah torna a falar. Eles todos riem e entoam um year.

Eu me permito rir também. Meu peito muito mais leve.

_ E vamos cuidar de você também, enquanto nosso parceiro está impossibilitado. _ Paul retoma.

_ Até porque, se não o fizermos o Stone vai chutar nossas bundas. _ Collin resmunga. Eles riem, concordando.

_ Isso mesmo, porque não tenha nenhuma dúvida, querida. _ Sean diz. _ Liam vai se levantar rapidamente. Ele é muito ciumento para deixar sua mulher por nossa conta muito tempo.

Todos nós rimos. Nossos corações mais leves, mas, ainda receosos. Dá para sentir a tensão e o medo ainda pairando no ar. Isso só irá embora quando o meu lindo superstar voltar definitivamente para nós.

_ Rapazes. _ chamo, minha voz embargando. _ eu amo a forma como cuidaram e estão cuidando de mim. Amo que vocês amem o meu marido. _ eles estão todos sem jeito com toda a emoção na minha voz. _ eu amo vocês, queridos. É isso. Eu amo cada um de vocês.

Silêncio. Eles se entreolham, pigarreiam.

_ Jesus, mulher! Você é definitivamente uma ameaça para roqueiros fodões. _ Elijah, resmunga. Os outros o seguem.

_ O Stone nunca teve a menor chance. _ Collin ri e logo todos nós estamos rindo, inclusive Sara, que estava introspectiva desde nosso ataque.

Eles se aproximam e me abraçam. Eu beijo cada um no rosto.

_ Os avós do Liam chegarão daqui a pouco. _ Elijah informa. _ eu arranjei tudo para pegarem o primeiro voo disponível para cá. _ eu sinto uma pontada de tristeza por conhecê-los assim. Liam havia planejado passarmos o primeiro feriado com seus avós em Seattle.

_ Eles podem ficar na minha casa se quiserem, Elijah. _ ofereço. Ele acena com a cabeça. Viro-me para Sara. _ maninha, me leve até ele, por favor? _ ela limpa seus olhos e funga, me ajudando a descer.

_ Eu vou dar uma passada na sua casa para ver meu neto, querida. _ meu pai avisa e me beija na testa. _ volto mais tarde. Fique bem. Eu te amo, minha menina. _ sussurra só para mim.

_ Também te amo, pai. _ murmuro, beijando-o no rosto. Ele dá um beijo em Sara e sai em seguida.

_ Você está bem, Sara? _ Elijah pergunta às nossas costas quando já estamos na porta.

_ Sim, estou. _ ela responde, seu tom surpreendentemente brando. Ela tem escoriações nos joelhos e mãos, mas, graças a Deus está bem. _ hum, obrigada por perguntar. Obrigada a todos vocês, caras, pelo carinho e cuidado com a minha irmã.

Os outros acenam e Elijah também antes de andar até estar em nossa frente. Os olhos verdes cravam em minha irmã.

_ Seu voo é hoje?

_ Sim, seria hoje. _ ela responde ainda com voz suave. _ mas, vou ter que adiar. _ ele parece gostar da notícia. Seus olhos brilham satisfeitos. _ não posso deixar a Mel sozinha agora.

_ Você está certa, querida. _ ele assente, seu tom livre de provocação também.

Sara acena e saímos pelo corredor. Ela me ampara para entrarmos em um elevador. Paramos no andar do Centro de Terapia Intensiva. Eu aperto a mão de Sara, o medo me invadindo outra vez.

_ Ele está na unidade semi-intensiva, Mel. _ me diz, quando paramos diante de um quarto. _ Liam vai ficar bem, maninha. _ aceno, reunindo minhas forças. _ mas, ele ainda precisa de cuidados especiais pelos próximos dias. Perdeu muito sangue e foi preciso uma transfusão. Elijah ajudou com isso. Eles têm o mesmo tipo sanguíneo. _ lágrimas me vêm aos olhos. Eles têm mesmo uma forte ligação. _ a bala se alojou muito próximo ao coração. _ ela acaricia meu rosto. _ foi um cirurgia muito delicada, mas, ele resistiu, querida. _ sorri suavemente. _ esse homem queria muito voltar para você.

Eu assinto, meu peito tomado de angústia por tudo que ele passou por mim. Por tudo que ainda está passando. Um movimento atrás de Sara chama a minha atenção. Greg e outro dois seguranças estão andando pelo corredor, fazendo algum tipo de ronda, seus rostos muito sérios. Jess está encostada à parede. Ela ainda está na mesma roupa do show, mas seu rosto está uma droga. Sua maquiagem escorreu e seus olhos estão inchados e vermelhos.

_ Mel... _ ela chama fracamente, se aproximando. _ eu, eu quero pedir desculpas. _ eu continuo a olhando fixamente. _ eu não devia ter falado todas aquelas coisas para você ontem. Espero que possa me desculpar. Eu...

_ Não, você não devia ter falado nada para mim. _ eu digo baixo, meus olhos analisando-a atentamente. _ não é da sua conta a minha relação com o meu marido. _ ela se encolhe um pouco com meu tom. É isso aí. Essa é a nova Mel. Não vou mais engolir merda de ninguém, caralho. _ agora se me der licença, eu preciso vê-lo.

_ Certo. _ ela acena sem graça. _ eu soltei comunicados nas páginas da banda nas redes sociais e enviei também para os principais jornais. _ sua voz está trêmula. _ ele vai sair dessa você vai ver. _ eu aceno apenas. Essa garota ainda é uma incógnita para mim. _ se você quiser falar com a imprensa brasileira, eu estarei aqui para orientá-la. _ ouço Sara bufando levemente. Jess sorri fracamente e acrescenta: _ e, parabéns pelo bebê.

_ Obrigada. _ respondo já lhe virando as costas.

Eu entro no quarto e meus olhos o buscam imediatamente. Desinfeto minhas mãos com o álcool gel que está sobre uma mesinha. Olho seu corpo grande inerte sobre o leito. Me aproximo, minha visão já turva. Ele está entubado. Dói muito vê-lo aqui, preso à uma cama. Ele é tão cheio de energia. As imagens lindas do show ainda estão frescas na minha mente. Tão injusto, baby. Um soluço me escapa, enquanto o olho ainda sem acreditar no que está à minha frente. A princípio nem parece que está respirando, mas, me forço a perceber o leve subir do seu peito. Seu rosto lindo está tão pálido. Corta meu coração saber que está assim por minha causa. Eu não pensei que alguém faria o que Liam fez na vida real. Eu só tinha visto isso em filmes ou romances...

_ Baby... _ chamo baixinho, tocando seu rosto. Sua pele está tão fria. _ eu estou aqui, meu amor. _ me inclino para sussurrar em seu ouvido. _ eu só saio daqui com você do meu lado, está me ouvindo, superstar? _ eu tento sorrir, lágrimas banhando minhas faces. _ seus fãs estão lá fora também, baby. Estão todos rezando, pedindo seu rock star de volta. _ acaricio sua face. _ você precisa voltar logo, amor. Nós precisamos de você. _ eu engasgo, puxando uma respiração profunda. _ eu não posso ficar sem você. Não posso. _ gemo. _ nossos filhos precisam do pai junto deles. _ eu sorrio, levando minha mão livre para meu ventre. _ sim, nossos filhos, querido. Nosso primeiro Stone está aqui no meu ventre, baby. Sim, você com toda a sua intensidade... Toda pressa... Toda paixão... _ soluço baixinho, meus olhos presos no rosto pacificamente adormecido. _ tão bonito, baby. Você é tão lindo, superstar. Você me mostrou que o seu amor por mim é muito maior do que eu sequer supunha. _ continuo deslizando os dedos em sua face fria. _ você precisa sair dessa cama logo, está me ouvindo? Eu preciso te mostrar todos os dias como o meu amor por você é imenso também.  Você vai fazer isso para mim, meu amor? Hum? Você vai fazer para mim, baby?

Ele não fez. Liam não voltou para nós por duas semanas. Ele estava em coma induzido. Sara esqueceu-se de mencionar esse detalhe para mim. No entanto, os médicos garantiram que era apenas por precaução porque seu corpo estava muito fraco e precisava de repouso absoluto para se recuperar. Eu me apego a isso todos os dias. Passo a maior parte do tempo com ele, na esperança de que quando acordar estarei do seu lado. Todos os dias Greg me leva para casa para passar um tempo com meu pequeno. Meu pai e a Sara estão dormindo na minha casa. No período da tarde Chay vem comigo para o hospital e ficamos os dois falando com Liam. Eu ainda não contei ao meu pequeno que estou grávida. Chay é muito ciumento comigo. Quero prepara-lo primeiro. Garantir que esse bebê não é uma ameaça. Há três dias Liam está sem o tubo e não está mais no estado de sono induzido. Seu aspecto debilitado melhorou muito. Sua pele está quente ao toque. Sua respiração mais forte e constante. Ele está voltando para nós. Eu sei que está.

Os avós de Liam também têm sido presença assídua na cabeceira do seu leito. Conhecê-los foi uma montanha russa de emoções. O medo de ser julgada pela nossa diferença de idade. O fato de seu neto ter se jogado na frente de uma bala por mim. Mas, tudo isso caiu por terra quando o casal simpático entrou no quarto com Elijah e os caras. Joshua e Norah Stone me deram um sorriso afetuoso e me abraçaram sem titubear. Choramos abraçados por algum tempo, sem palavras. Depois disso, eles fizeram questão de me deixar saber que aprovam nosso casamento e tudo que importa para eles é a felicidade de Liam. Eles são especiais. Posso ver que Liam teve muito amor da parte deles enquanto crescia. Isso deve tê-lo confortado, uma vez que da parte da família de seu pai, nunca foi tratado com respeito, muito menos amor.

Rodrigo esteve aqui várias vezes. Ele parecia realmente preocupado com o irmão. Mas, o que me chocou profundamente foi Lúcia ter a cara de pau de aparecer por aqui também. Eu não a deixei ver o Liam. Eles nunca foram próximos. Ela o odiou a vida toda. Chega de hipocrisia. Aposto que quer parecer bem para a imprensa. Cadela. O resultado do nosso confronto foi a bruxa velha ir à imprensa no dia seguinte jogando calúnias sobre meu relacionamento com o Liam há dez anos. Lúcia afirmou que sempre tivemos um caso nas costas de Raul e que por isso os irmãos não se davam bem. Ela jogou toda a culpa em mim, dizendo que seduzi o Liam e o afastei de seu adorado irmão. Eu quis vomitar quando Jess me mostrou o artigo publicado em um site de fofoca. Eu tenho buscado forças no meu íntimo para ser a mulher forte que preciso ser.

As redes sociais enlouqueceram com os fãs de Selena destilando seu veneno contra mim. Ela e o estuprador do seu irmão voltaram para LA no dia seguinte ao nosso ataque. Estou sendo achincalhada brutalmente outra vez. Jess entrou em contato com o site que publicou as calúnias de Lúcia e ameaçou processá-los. O texto foi retirado, mas, o veneno já havia sido destilado. Aos olhos de boa parte da imprensa sou uma vadia experiente que seduziu Liam ainda jovem. Isso incomoda, mas, nada tem importância agora. Eu só preciso do meu marido bem. Não me importa se serei perseguida e taxada como uma vagabunda pela mídia pelo resto da vida. Nada disso importa se eu tiver o meu amor vivo. Se eu puder olhar em seu rosto lindo e olhos incríveis a cada manhã, serei feliz. O resto é o resto. Eu tenho prometido a mim a mesma que serei forte de agora em diante. Chega de tanta passividade. Dou-me discursos mentais a cada insulto que vejo e ergo a minha cabeça. Estarei do lado do meu marido e foda-se a opinião pública.

Para meu consolo, os fãs da banda não cansam de nos defender, me defender nas redes sociais. Eles descobriram qual é a janela do apartamento do Liam e estão acampados lá embaixo. Os caras aparecem na sacada de vez em quando para deixa-los saber que apreciam sua vigília e fidelidade. Ontem foi a primeira vez que ousei mostrar a minha cara na sacada e lágrimas me assaltaram com o que vi. Cartazes, flores. Pôsteres do Liam sozinho. Dele com a banda. Os cartazes tinham quase o mesmo padrão. Força, Stone! Nós te amamos, Liam! Fique bom logo! E havia também aqueles que me fizeram me sentir mais forte: força, Mel! Nós estamos com você! Elijah manteve um braço me apoiando, enquanto eu acenava timidamente para os fãs. Os caras têm estado todo o tempo próximo a mim e ao Chay. Eles querem cuidar de nós para o Liam e isso tem sido importante. O apoio deles está sendo crucial. Eu os amo por isso.

Liam

Eu acordo e me viro na cama, buscando a Mel. Seu lado está vazio. Nós estamos em LA há uma semana. Meus avós estão aqui. Os caras estão aqui. A casa está cheia e barulhenta. Eu rio, me levantando da cama.

_ Mel? Baby? _ chamo, indo para o banheiro. Ela não está aqui. Já deve ter descido para dar o café da manhã do homenzinho. Faço minha higiene e me visto, descendo rapidamente a escada. A sala está vazia. Para onde foi todo mundo? Ouço vozes na área externa. Me encaminho para lá. Os caras estão à beira da piscina. Eles estão estranhamente calados. Cada um toma sua cerveja parecendo mergulhado em seus pensamentos. _ ei, idiotas? _ provoco. Nada. Eles nem mesmo reconhecem a minha presença. Bastardos! _ alguém sabe da minha mulher? _ nenhuma resposta ainda. Ando e paro na frente de Elijah. _ ei, cara, que porra é essa? Por que estão me ignorando, cacete? _ ele vira a cabeça e olha em direção à praia. Dá um suspiro um tanto triste e toma um gole da sua cerveja. Eu sigo seu olhar e avisto uma figura solitária andando na areia. Eu reconheço a silhueta. Mel. _ tudo bem, continuem com essa brincadeira sem graça de vocês. _ bufo e vou em direção aos degraus que dão acesso à praia.

Salto de dois em dois e tiro minhas sandálias antes de pisar na areia fofa. A brisa suave da manhã bate no meu peito. Eu amo isso aqui. Eu amo mais ainda que a minha mulher esteja aqui comigo agora. Meus olhos permanecem na sua figura. Ela para de andar e pega um graveto sobre a areia. Caminha graciosamente em direção ao mar. Usa um vestido leve, o vento o faz tremular. Porra, tão linda. Eu desacelero meus passos para beber da sua figura linda por algum tempo antes que perceba a minha presença. Ela parece... Diferente. Seu corpo ganhou mais curvas. Eu não percebi isso ontem, ou hoje de manhã quando fizemos amor. Ela parece tão absorta. Se inclina na areia molhada próxima às ondas quebrando e desenha algo no chão. Eu rio com a cena. Parece uma adolescente desenhando na areia. Me aproximo mais. Ela toca algo em seu pescoço e fecha os olhos inclinando a cabeça para trás.

_ Mel? _ chamo, meu cenho franzindo porque ela parece triste. Um pequeno soluço estremece seu corpo. Me aproximo mais, intrigado e preocupado. _ amor, você está chorando? Por que, baby? _ eu pergunto angustiado, mas, ela não nota a minha presença. Nem mesmo mexe a cabeça. Só fica lá. Seu rosto bonito sendo banhado de lágrimas.

_ Eu sinto a sua falta todos os dias, baby. _ sua voz é grunhido de dor. Ela olha para o desenho na areia e meus olhos seguem os dela. Meu peito aquece. Ela fez um coração com nossos nomes dentro. _ eu amo você, superstar. Sempre vou amar, baby. Sempre.

_ Mel, você está me assustando pra cacete. _ digo, tentando sorrir. Isso também é uma brincadeira? Todos resolveram fazer pegadinha comigo hoje? Então, ouço vozes, gritinhos infantis e meus olhos vão para a areia há poucos passos de nós. Chay está fazendo castelos.

_ Chay? Hei, homenzinho. _ sorrio, chamando-o. Wow! Ele cresceu muito. Como pode em apenas uma semana? Ele não levanta a cabeça, continua concentrado na tarefa. Um enorme cão labrador marrom corre ao redor. Eu não me lembro dele. Cacete, essa manhã está estranha pra caralho. Sou surpreendido outra vez quando percebo perninhas rechonchudas parando do lado do Chay. Eu junto as sobrancelhas em confusão olhando o menino loiro de mais ou menos uns dois anos que se senta em cima do castelo do Chay, desfazendo-o completamente. Chay o repreende:

_ Liam! Você é tão bagunceiro. _ Liam? Por que o bebê tem o meu nome? Me pergunto, e, em seguida Chay o pega pelo braço e os dois ficam de frente para mim. Meu coração salta com força, golpeando violentamente no peito. Cristo! Ele é... Ele é meu filho. Seus olhinhos azuis se fixam em mim e sorri, acenando. Oh, Deus, eu tive um filho? Confusão assume o lugar da alegria. Por que não me lembro de nada disso? Volto minha atenção para a Mel. Ela ainda está perdida em sua própria angústia.

_ Mel, baby, nós tivemos um filho? _ minha voz treme. _ por que você não me falou sobre isso? O que houve? Cristo! Olhe para mim! _ exaspero-me. Ela enfim, se vira na minha direção e a expressão em seu olhar me faz fraco. Me mata ver a dor em seu lindos olhos amendoados. _ o que houve, amor? Por que sinto como se não a visse em um longo tempo? E por que está tão triste? _ ela segura mais firmemente a coisa em seu pescoço e eu vejo que é um colar. Ela aperta o pingente com força, então, o solta e a minha confusão fica completa. É a minha aliança em seu cordão. _ Deus, você quer me explicar o que está acontecendo? Por que a minha aliança está aí em seu pescoço, baby?

_ Você me deixou, Liam. _ ela diz, sua voz quebrada. _ você nos deixou. Você partiu... _ lágrimas escorrem pelas suas faces. Meu peito dói muito.

_ Não, baby. _ encurto a distância entre nós, tentando puxá-la para os meus braços, mas, por alguma razão estranha pra cacete eu não consigo segurá-la. _ eu não deixei você, amor. Nunca, baby. Nunca.

_ Sim, você deixou. _ ela sussurra e se vira, começando a caminhar para longe de mim. Pânico me enche.

_ Não! Mel! Baby! _ grito, a dor se tornando aguda no meu peito. Porra, é uma dor quase física. Eu levo a mão ao peito. _ eu não deixei você, amor! Mel? Baby! _ grito com mais força e tudo escurece.

Eu ouço vozes distantes...

_ Oh, meu Deus! Ele está voltando! Baby... _ é a voz suave e chorosa da Mel.

Eu não deixei você! Eu não deixei você, baby! Repito agoniado e me mexo sobre algo quente. Minhas pernas parecem dormentes. Ainda está tudo escuro e meu peito continua doendo. Eu sinto a carne, queimando, como se tivesse sido rasgada. Merda. Nunca senti essa dor antes. Por que está tão escuro, porra? Tento mexer os olhos e percebo que estão cerrados, as pálpebras pesadas pra caralho. Imagens confusas povoam minha mente. Luta. Terror. O medo de perdê-la. O meu desespero ao me jogar na frente da arma. O tiro... Cacete! Eu levei um maldito tiro! Meu peito dói mais como que para me confirmar isso. Ainda posso sentir a dor absurda e atordoante da bala atravessando minha pele.

_ Oh, Deus, meu amor... Liam! _ ela fala de novo. Meio sorrindo, meio chorando. Eu gemo, lutando com todas as minhas forças para abrir os meus malditos olhos. Solto um grunhido e por fim consigo mover minhas pálpebras. Uma luz me cega e eu os fecho outra vez. _ abra os olhos, baby. Eu estou aqui. Oh, meu Deus! Enfermeira! _ ela grita. Um instante depois, ouço mais vozes ao meu redor. Os caras. Eles estão todos falando ao mesmo tempo. Bastardos sem educação. Ouço outra voz feminina pedindo para eles deixarem o quarto. Ela quer me examinar. Eu abro os olhos de novo, lutando para mantê-los abertos. Minha visão está embaçada, fora de foco. Uma mão muito suave toca meu rosto e eu gemo de prazer e alívio, reconhecendo o toque da minha mulher. A dor momentaneamente esquecida.

_ Baby... _ não tenho certeza se consegui falar. Acho que foi apenas mais outro gemido. Minha garganta dói também, porra! Parece que alguém esfregou uma maldita lixa por dentro muitas vezes. Que merda é essa? Meus olhos focam um rosto acima do meu. Forço minha visão e o borrão vai cedendo aos poucos. O rosto lindo e banhado de lágrimas da Mel está bem próximo. Eu gemo outra vez. _ eu... Não... Deixei... Você... _ consigo balbuciar apesar da dor e secura na minha garganta.

Ela sorri e cola sua testa na minha, respirando rapidamente.

_ Shh, eu sei, meu amor. _ sussurra, seu hálito doce, seu cheiro gostoso me embriagando, me acalmando. _ eu sei. _ suas mãos trêmulas deslizam reverentemente pelo meu rosto. Seus olhos lindos marejados, presos aos meus. _ graças a Deus. Eu tive tanto medo, baby. _ suas lágrimas pingam no meu rosto. _ você não pode me mostrar o que é ser feliz e em seguida me deixar. Eu o proíbo. Está me ouvindo? _ ela abre o riso trêmulo mais lindo na porra do mundo todo. Meu coração atordoado e dolorido fica todo mole. Lágrimas se reúnem nos meus olhos. Sinto-me fraco e forte ao mesmo tempo. Uma mistura louca de sentimentos. Eu também tive muito medo. Nunca vou esquecer o pavor que tomou conta de mim quando a vi na mira daquele bandido. _ eu amo você, superstar. _ ela diz antes de selar seus lábios quentes e macios nos meus. Eu gemo miseravelmente. Ouço mais vozes no quarto. São os médicos. Mas, eu só posso imaginá-los porque toda a minha atenção está concentrada nela.  _ eu amo você. _ ela repete, murmurando contra meus lábios. É a porra do céu. Eu não morri. Porra, obrigado, Deus! Merda, desculpe o palavrão.

É isso. Eu só preciso ver o rosto lindo da minha mulher, ouvir algumas palavras piegas e a Terra está de volta ao seu eixo... Fodidamente perfeito. Eu sou cercado em instantes. Os profissionais começam a me examinar. Ela sorri docemente, se afastando um pouco, mas, ainda perto, se recusando a me deixar. Eu te amo, baby. Digo-lhe, com o meu olhar, que também se recusa a deixá-la.



[1] Um ponto primordial no âmbito hospitalar é a implantação de um time de resposta rápida. Trata-se de uma equipe de clínicos (enfermeiras, médicos, fisioterapeutas, ascensoristas entre outros) que trazem cuidados críticos aos pacientes à beira leito ou onde for necessário. Essas ocorrências normalmente são classificadas em duas chamadas: Código Amarelo para urgências e Código Azul para emergências – PCR (Parada Cardiorrespiratória).

Nenhum comentário:

Postar um comentário