domingo, 1 de maio de 2016

A Vitrine - Capítulo 22

Zachary

Não preguei os olhos essa noite. Estou cansado e meu humor voltou ao nível zero. Dispenso o café da manhã e fui direto ao escritório do King, abro a porta e o encontro de frente para as telas. Assim que percebe minha presença, ele se levanta.
— Bom dia, chefe.
— Bom dia. Podemos conversar como amigos? — Ele acena que sim e eu continuo a falar. — Ontem na minha conversa com a Letícia, fiquei sabendo que ela tem um horário na Holding amanhã para assinar alguma coisa. Mais tarde eu soube que a Letícia vem cobrindo os salários dos funcionários da casa do Rio. King, eu trabalho dia e noite, conheço cada detalhe das minhas empresas, sei até a fração de variação por dia de cada ação, por que eu não sabia dessas coisas?
Ele não toma café pela manhã, somente leite. É engraçado a gente ver um grandalhão desse, com uma caneca do Batman, tomando leite.
— Quem cuida desses assuntos? Por que até onde eu sei, a Letícia ficou responsável pela casa do Rio e Mag que lidava diretamente com ela. Quando cheguei na casa para fazer as entrevistas, nenhum funcionário tinha conhecimento da minha chegada. Tive que ligar para a Letícia, que estava na Itália, para resolver isso e eu entrar na casa.
— Será que a Mag está tendo problemas e não quer nos contar nada?
— Maggie trabalha para você há mais ou menos seis anos, não é? Não tem notado nada de diferente em seu comportamento?

— Não notei nada. Ela é uma excelente assistente, sempre foi muito competente e é leal a mim, isso é o que importa. — Quando se é quem eu sou e tem o que eu tenho, temos dificuldades de encontrar bons funcionários que não querem tirar proveito da nossa intimidade. Mag nunca errou comigo. — Ela está com problemas... — Ele começa a rir.
— Cego de tudo. Mag é negligente quando se trata somente da Letícia. Não é problema, é ciúme! Não é de hoje que falo que ela anda estranha. Chama o Ted e manda ele abrir o e-mail dela para ver se ela tomou conhecimento ou não sobre as informações que a Letícia lhe passou.
— Eu farei isso agora de manhã. Obrigado por me ouvir. — Estendo a mão para ele. — King a aperta.
— Sempre ao seu dispor, chefe.




Sigo para o escritório e já passo instruções ao Ted e Joe, quero tudo pronto quando chegar lá. Ligo para Ruth e peço para ela fazer um lanche da tarde especial para duas pessoas e servir no terraço. Ligo e peço ao King que não permita ninguém em casa depois do almoço e para ele dizer a Letícia me encontrar na cobertura às dezesseis horas. Hoje tenho que dar mais um passo do meu plano em relação a Letícia.
Quando chego a minha sala, Ted já está a postos me esperando e Mag reclamando.
— Mag, o que diabos você já está reclamando à uma hora dessas? — Coloco minha pasta em cima da mesa.
— Ele não pode entrar aqui e ficar sem permissão. — Ela fala irritada. Minha cabeça está doendo demais para ficar ouvindo reclamações.
— Foram ordens minhas Mag. Agora nos dê licença. Assim que Joe chegar, mande-o entrar direto. Não quero ser interrompido em hipótese alguma. Entendeu?
— Sim, senhor — Ela arruma seus óculos e se retira.
— Agora você, garoto dos computadores. Conseguiu o que pedi?
— Isso é como tirar um doce de um bebê para mim. Então, todos os e-mails enviados do Brasil foram lidos, todos, sem exceção. — Ele estica o braço e me entrega alguns papéis. — São as cópias dos e-mails. Entrei na conta da senhorita Barros e identifiquei que ela transferiu para a Holding, sessenta e cinco por cento do valor que a Holding repassou a ela. O que restou ela transferiu para uma empresa de serviços...
Joe entra me trazendo os papéis que a Letícia virá assinar amanhã. Tudo está a cargo da Mag, por que essa garota está negligenciando isso? Não pode ser ciúmes, ela nunca correu risco de ser substituída. Repasso alguns documentos com Joe e Ted, passamos do almoço revisando números, até eu me sentir no controle novamente.
— Venha a minha sala. — Chamo Mag. Ela entra e aponto a cadeira para ela. — Mag, você sabe que é importante para minha equipe, não sabe?
— Sim senhor... — Mexo em alguns papéis.
— Por que eu não tomei conhecimento sobre a negociação da propriedade no Brasil? — Ela me olha com espanto.
— O senhor tomou, assim que assinou os documentos eles foram reenviados à Letícia.
— Você sabia que a casa já tinha um quadro de funcionários contratado? — Pergunto analisando-a. Ela ajusta os óculos no rosto.
— Sim, sabia. Mas tomei a liberdade de investigar a empresa e cada um dos funcionários. Não vou repassar um dólar para a Letícia sem saber quem está lá. — Ela tem um ponto. Levanto, pego meu terno e vou em direção a porta.
— Mais uma coisa, por que eu não soube que ela viria a empresa assinar documentos da Paradise? — Ela também se levanta.



— Quando chegamos de Abu Dhabi, o senhor pediu que não o incomodasse com assuntos pequenos. São documentos de rotina, todos os sócios devem assinar.
Não sei por que duvidei da Mag, ela é muito competente e leal.
— Obrigado.
Lennon é minha sombra agora, mas admito que está difícil de me acostumar, esse era o lugar do King. Mike me aguarda na frente da empresa com a porta aberta, entro e vamos para o meu apartamento. Estou ansioso para encontrar a Letícia, quero saber as histórias mirabolantes que ela irá me contar. Esse plano só tem uma falha, eu não resisto a aquela mulher, é como se ela tivesse poder sobre o meu pau.
O trânsito estava um caos, demoramos mais do que de costume e acabei me atrasando para o encontro. Entro no apartamento e pergunto para Ruth se está tudo em ordem.
— O lanche será servido assim que o senhor mandar. Estarei na cozinha esperando suas ordens. O King recebeu sua visita e a levou para o jardim de inverno enquanto o senhor não chegava.
— Obrigado, Ruth. Já sirva o lanche, por favor. — Com King fazendo sala, corro para tomar um banho e tirar essas roupas pesadas. Faço tudo em tempo recorde e vou de encontro a princesa. Esbarro em King, que está saindo do jardim. — Há mais alguém aqui além de você e Ruth? — Pergunto.
— Há os seguranças no hall, devidamente instruídos para que ninguém passe. — Ele me para com sua grande mão, porque é grande pra cacete e diz: — Pensa bem o que você vai fazer a ela e lembre-se, você é meu chefe, mas isso não significa que não farei o mesmo que você fizer a ela. — King arruma seu terno e se vai.
Quando decidi unir os dois apartamentos que compõe a cobertura, fui contra a ideia do arquiteto em fazer esse jardim de inverno que fica do lado oposto ao escritório. Para que eu queria um jardim de inverno? Hoje, vendo Letícia sentada no banco, não tive dúvidas que tê-lo feito, foi a decisão certa.
— Desculpe-me. O trânsito estava parado e acabei me atrasando. — Aproximo-me e a beijo no rosto.
— King me fez companhia e ficar aqui, nesse jardim, é um presente. — Sento ao seu lado e ela se afasta como não a quero longe, passo meu braço por trás de seus ombros.
— Então, podemos comemorar a casa nova?
— Sim. — Essa resposta monossilábica diz que ela não está à vontade comigo e eu preciso que ela fique, assim facilita a volta dela para minha cama.
— Quero te pedir desculpas pelo que aconteceu em Abu Dhabi... — Ela baixa a cabeça e eu levanto seu rosto com um dedo sob seu queixo. — Olha para mim, anj... Letícia. Eu fiquei atordoado com o que você me falou e acabei me expressando de maneira errônea. Eu não me arrependi de ter transa... feito amor com você, em nenhum momento se quer. Mas depois, me toquei que você estava machucada e te obriguei a fazer esforço, isso foi o motivo de eu ter ficado mal humorado, esse foi meu único arrependimento.


— Desculpa pelo meu chilique, eu também passei dos limites. — Minha vontade é de beijá-la, rasgar peça por peça da sua roupa, jogar na minha cama e fodê-la em cinquenta posições diferentes.
— O lanche está servido... — Ruth aparece.
— Oi, Ruth — Letícia se levanta sem equilíbrio e eu a seguro. Quando se recupera vai cumprimentar minha governanta.
— Você não tem comido direito, Lê. Tem que se cuidar. — Isso me deixa com a pulga atrás da orelha, como ambas sabem quem são?
— Está doente, Letícia? E de onde se conhecem?
— Eu tive uma intoxicação alimentar alguns dias atrás, desde então, meu estômago não aceita muita coisa. No dia que cheguei a Ruth teve o desprazer de ficar trancada comigo no elevador. Depois ela ajudou com as bagagens, eu estava muito fraca e ela teve compaixão de mim. — Ruth é uma senhora de quarenta e sete anos, trabalha comigo há mais de dez. Ela e King são meus pilares.
— Então você sabia que eu morava aqui?
— Soube que você morava aqui no dia seguinte, quando a Ruth mandou King me levar uma canja. — Essa mulher é muito ardilosa. Ela abraça Ruth. — Mais uma vez obrigada, Ruth.
— Quer que eu chame um médico? Você está pálida. — Puxo a cadeira para ela, que balança um não com a cabeça. Ninguém no mundo pode simular estar mal dessa maneira, eu acredito que ela não esteja mesmo bem. Talvez, esteja começando a pagar pelos seus pecados. A mesa está farta, tem tudo o que eu gosto. Minha barriga roncou. — Estou faminto. Passei o dia apenas com café e água.
Durante a refeição falamos sobre o início das obras, a casa do Rio e outras amenidades. Não deixei de tocá-la em momento nenhum, no começo ela se incomodou, depois acabou acostumando. Eu havia esquecido como é divertido conversar com ela, mulheres com bom humor são excelentes companhias. Quando a noite caiu, fomos para a sala, ela estava com ar de cansaço, a sua fragilidade era evidente.
— Eu ainda sinto seu gosto na minha boca. — Ela me encara e foco na sua boca. Ela recostou sua cabeça no sofá e eu, em um impulso, acaricio seu rosto. Passo meu nariz pelo seu pescoço, seu perfume é suave, mas não menos marcante. — Estar dentro de você foi a melhor sensação que já tive na vida.
Tomo sua boca sem pedir licença ou permissão. Meu autocontrole vai pelo ralo quando estou com ela. Sua pele, seu cheiro, seu gosto, tudo o que é referente ao seu corpo me deixa louco! Ela geme na minha boca, o que me atiça ainda mais. Letícia se afasta, ficando de pé e fica tonta novamente, apresso-me para segurá-la.
— Sente-se aqui, anjo. — Ela insiste em ficar de pé e sai do meu braço.
— N-não, obrigada. Vou para casa. — Letícia sai apressada e vai para o lado errado.



— Desculpa pelo beijo... — Alcanço-a e a escolto até a porta, chamo o elevador.
— Não fala nada, por favor... — As portas do elevador se abrem e ela se vai.
— Algum problema, King?
— Só estou tentando entender porque você está fazendo isso. Para você, ela não passa de uma safada interesseira, porque está a cercando, Zach? — Aproximo-me dele e o encaro.
— Eu é que não entendo o porquê dessa superproteção em relação a ela. Por que, King? Diga-me, está apaixonado por ela? Letícia o seduziu? — Ele ri.
— Cada dia que passa Zachary, você consegue ficar mais imbecil. Você tem seus pais vivos, não sabe o que é perder ninguém próximo, nasceu tendo tudo. Ela perdeu todos muito cedo, a vida dela foi complicada. Não precisa estar apaixonado para querer proteger os amigos, você sabe disso. Mesmo sendo um bastardo filho da puta, você é meu melhor amigo, Zach, eu o protegeria com a minha vida, mesmo você sendo o maior cretino da Terra. Eu vi aquela menina chorar e nada vai tirar essa imagem da minha cabeça, ela parecia uma menininha perdida. — King se levanta. — Falar esse tipo de coisa para você é perda de tempo. Você nasceu com um Napoleão na barriga, nunca vai entender.
— Ela pode não ser quem você pensa... — Digo. Ele abotoa seu terno.
— Ela é exatamente o que eu penso. Uma pobre infeliz que teve o desgosto de cruzar o seu caminho. Só isso já é punição o suficiente para qualquer alma.
— O jantar está servido. — Conheço Ruth como ninguém, as suas rugas na testa mostram que ela está descontente com alguma coisa. Deve ter escutado a conversa.
— Boa noite, Zach — Mag entra sem ser anunciada. Ela não olha para King e nem para Ruth, que também a ignoram. — Estou cansada de esperar. Os seguranças não permitiram a minha entrada até segunda ordem. O que estava acontecendo aqui?
— Nada da sua conta, Maggie. — Ela sorri como se não tivesse mais ninguém na sala.
— Pelo cheiro, o jantar está servido. Estou morrendo de fome! — Ruth revira os olhos e King sai da sala. O mundo resolveu enlouquecer? Eu não vou ficar no meio disso.
 — Ruth, sirva meu jantar no quarto.
Dormi pensando naquele beijo, que não sai da minha cabeça e o cheiro dela que não se dissipa do meu nariz. Seja o que aquela mulher fez, ela me tem e guardar esse segredo não é fácil. Estar perto de alguém que você daria a vida e disfarçar com indiferença está ficando insuportável. Tenho necessidade de Letícia.
Tarde da noite, sinto puxarem minha coberta e um corpo macio encostar-se ao meu, mãos passeiam pelo meu corpo e pés quentes alisam minhas pernas.
Letícia...




Sonolento, viro-me e puxo aquele corpo para perto do meu, a abraço forte para ela não escapar. As mãos voltam a tatear meu corpo até encontrar meu pau, que já está duro, pensar em Letícia, o deixa assim.
O desejo é intenso, as mãos macias acariciando meu membro me faz gemer. Ela encosta sua boca no peito e vai descendo, trilhando seu caminho com a língua e meus gemidos ficando cada vez mais alto. Antes que ela me tome em sua boca, quero beija-la, fazê-la minha. Puxo-a para cima, vou me aproximando até sentir sua respiração.
— Cada dia que passa, te desejo mais, Letícia. — Beijo-a com força para sentir seu gosto...
Empurro quem quer que seja que esteja ali ao meu lado, porque não é Letícia. Acendo a luz do abajur e vejo Mag nua. Merda! Merda! Merda!
— Mag, Mag, Mag. Cubra-se pelo amor de Deus.
— Zach, eu sei que você me deseja. — Ela é louca.
— Meu Deus, de onde você tirou isso? — Ela deixa o lençol cair, seus pequenos seios de fora.
— Eu sinto... — Vou ao banheiro, enrolo-me em uma toalha e pego o roupão. Volto para o quarto e jogo para ela.
— Cubra-se e saia da minha cama. — Ela faz o que eu mando.
— Zach, você me quer, eu senti seu pau duro. Você me deseja.
— Eu te chamei pelo nome de outra. Qualquer mulher no mundo teria surtado com isso...
— Zach...
— Cala a boca, Mag!
— Está tudo bem, Zach? — King bate na porta e pergunta. Abro a porta para ele ver com seus próprios olhos.
— Não, não está bem. Mag vem invadindo meu quarto há algum tempo, mas hoje ela passou de qualquer limite. — Ela surta e começa a gritar.
— Você está tão cego por aquela puta que não consegue enxergar que eu sou perfeita para ficar ao seu lado. Eu sou apaixonada por você desde... Sempre!
— Eu avisei. Estranha. — King olha para mim. Tenho que tomar providências.
— A partir de hoje você está proibida de passar a noite aqui nesse apartamento, Mag. Também a proíbo da livre circulação, aqui é minha casa, minhas regras e eu ainda mando nessa porra, só virá aqui quando eu solicitar. Ainda a quero como minha assistente, mas de agora em diante haverá limites. Esquece esse sentimento que acha que sente por mim e eu vou tratar de esquecer o que houve aqui. King vai providenciar sua ida para casa. Até amanhã, senhorita Carlson.

— Eu avisei. — King fala antes de sair. Mostro o dedo do meio e ele sai rindo.

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