Capítulo 3
- Passem a grana para o papai!
Javier cobrou satisfeito, ao ver Bourregard sair à varada.
Henrique foi o primeiro a colocar o dinheiro
nas mãos o espanhol, seguido pelos colegas, que demonstravam estar tão mal
humorados, quanto o mais jovem da equipe.
- Os caras apostaram quanto tempo você
aguentaria ficar lá dentro, com a casa cheirando a mulher. Nosso Mick - disse
se referindo ao nome usado por Javier para a missão – apostou que o perfume
seria insuportável durante a noite, mesmo para você.
Caetano esclareceu ao se aproximar de Bo, que olhava a cena com uma
expressão fria e interrogativa.
- Renato Russo apostou alto em você. Disse que só deixaria a casa após a
moça e a família deixarem o santuário.
Complementou sem disfarçar o quanto a brincadeira o divertira, mesmo
perdendo dinheiro.
Antes que Bo pudesse tecer algum
comentário, como por exemplo, onde eles podiam enfiar a tal aposta, Mick (Javier)
estava diante deles.
- Não pense que vai escapar líder
Optimus, passa a grana.
Cobrou com uma expressão de prazer.
- Apostei que ficaria até o amanhecer.
Caetano esclareceu diante da expressão incrédula de Bo, enquanto entregava
a quantia combinada.
- Tire essa sua cara infeliz do meu caminho - Resmungou ao espanhol que retornou
a seu posto.
- Fico feliz que estejam se divertindo as
minhas custas - Bo comentou sarcástico.
- O prazer é todo nosso.
Caetano respondeu irônico, não se intimidando com a cara feia do outro
homem.
- Como está a moça? - Perguntou sério.
- Dormindo. – Bo respondeu secamente.
- Deu um jeito naquela porta?
- É óbvio.
Bo não percebia em nenhum deles, o menor conhecimento sobre o que tinha
ocorrido no interior da casa e respirou aliviado. Não por ele, apesar de não
ter dúvidas quanto a reação de Conrado Montessori se a história vazasse, mas
por Alicia. No que dependesse dele, ela teria a intimidade e a privacidade
resguardadas.
- Bom, a ultima coisa que precisamos é
que a família da moça acredite que somos selvagens. Caetano falou.
O assunto foi interrompida pela aproximação de Henrique.
- Chefe, já posso reativar o Eduardo e a
Mônica?
O mais jovem da equipe perguntou, referindo-se aos sofisticados
equipamentos de gerenciamento de monitoração da casa, que administravam as
câmeras e microfones instalados nas áreas comuns. O chefe autorizou com um
aceno de cabeça e ele se afastou feliz em cumprir a tarefa.
O menino era um caso perdido, pensou Caetano, tratava as máquinas como se
fossem seres humanos.
Bo não escondia a surpresa. Desde a
criação do santuário a vigilância da casa nunca fora desativada, até aquela
noite.
- Os caras estavam inquietos, não há nada
pior para um bando de homens treinados, em táticas de guerra e áreas de
conflitos, que as lágrimas de uma mulher e antes que eles desertassem, fiz o
que tinha de fazer.
Bo não se deixou enganar.
- Eles ou você? - Não se intimidou com o
olhar “se rir eu te faço engolir os dentes” do chefe.
- O inferno irá congelar antes que eu
deixe uma mulher chorar em meus ombros.
Caetano resmungou claramente incomodado. Preferiria enfrentar dez vezes
os guerrilheiros das Farc do que enfrentar uma mulher chorosa. Ele sabia o que
fazer com os terroristas, mas não tinha ideia de como lidar com as lágrimas
femininas.
- Vamos dar uma volta – o chefe pediu.
Bo entendeu que era uma ordem e não um convite. Observou como, com um
simples olhar, o chefe ordenou que Kashim o substituísse no interior da casa. A
expressão consternada deste realmente o teria divertido se Alicia não estivesse
envolvida. Não se sentia confortável com outro homem perto dela. Olhou para
Caetano para dar uma desculpa qualquer e viu a resposta no semblante do homem:
Nem tente.
- A moça está dormindo e a porta foi
consertada. - Disse por fim a Kashim quando este passou por eles para cumprir a
ordem recebida.
Irritado seguiu o chefe em sua caminhada em direção ao rio.
O fato de este procurar um lugar afastado para a tal conversa acendeu
todos os alertas internos dele.
- Temos um problema e dos grandes, cara.
Caetano disse evitando seu olhar e mirando ao rio.
Bo já estava preparando o discurso meta-se
com a sua vida, quando se deu conta que o problema não era com ele.
Em silêncio aguardou as noticias, que certamente não eram nada boas.
- As Farc mantêm vários acampamentos,
agem assim para despistar o exército colombiano, o que atacamos para resgatar
Alicia Mendes Bittencourt não era sequer o principal. Recorda que enquanto nós
e a equipe 2 nos ocupávamos das jaulas, Conrado e a equipe 3 derrubaram o
comando do acampamento?
Bourregard soube naquele momento, que
tinham problemas titânicos, pois uma introdução desnecessária como aquela,
somente era usada para preparar o ouvinte, para algo muito ruim.
Sentiu o sangue gelar nas veias.
- Cospe de uma vez. - Resmungou
impaciente.
- O nome Boris Stankowich te diz alguma
coisa? – Caetano perguntou o encarando.
- O chefão do tráfico de armas na Rússia?
O homem sem rosto? O que ele tem a ver com o resgate da Alicia?
- Descobrimos que ele foi um dos homens
mortos durante a ação. Estava visitando o acampamento.
- Como? - Estamos realmente fodidos,
pensou.
- Informantes do Conrado ouviram rumores
entre os russos, os italianos e os chineses e que foi confirmado há poucos
dias. Boris Stankowich foi morto em uma emboscada na Colômbia, efetuada na
mesma janela de tempo em que resgatamos Alicia e os outros, e sabe que não
havia nenhum outro resgate, ou ação, contra os guerrilheiros neste período, nos
asseguramos disso antes de agir.
- O que um homem poderoso como esse fazia
na Colômbia? Bo perguntou.
O homem estava na lista dos dez criminosos mais procurados do planeta.
- Não sabemos ao certo, mas de uma coisa
temos certeza, ao resgatarmos a moça, interferimos em algo grande entre as Farc
e o clã Stankowich.
- Os desarticulamos? - A esperança
era a última que morria, não era?
Caetano respirou fundo, em um misto de
frustração, ira e indisfarçável preocupação.
- Pelo que Conrado conseguiu investigar,
o Junior, ou melhor, Dimitri Stankowich, assumiu o comando dos negócios da
família, e o homem está com sede de vingança.
- Sabíamos que ele tinha um filho?
- Tanto quanto sabemos qual é sua
aparência. - Comentou irônico.
Aqueles homens eram como fantasmas.
Quase ninguém conhecia a aparência do pai e muito menos do filho, da qual
até poucos dias, eles desconheciam a existência.
- Merda! - Praguejou Bourregard. –
Estamos mortos e pensando nos métodos russos, será de uma forma bem lenta e
dolorosa.
- Não se pudermos evitar.
Caetano declarou com determinação
- Se hoje somos bons no que fazemos, nos tornaremos os melhores. Não
conhecemos o rosto dele, então ele também não conhecerá os nossos. A partir de
agora, ou nos tornamos os melhores em esconder nossos rastros, ou morremos
tentando.
Bom, Bo pensou, ali estava o motivo, de
apesar de não ser o mais velho entre eles, Caetano se tornara o líder
incontestável da principal equipe do esquadrão, comandado por Conrado
Montesssori.
Um pesado silêncio se estabeleceu entre
eles por longos minutos.
- Porque estou sabendo disso antes dos
outros?
Bo perguntou já desconfiando que a resposta tivesse algo a haver com
Alicia.
- Nossos rostos estavam cobertos durante
o resgate e nos comunicamos em idiomas diversos, isso quer dizer que os demais civis
resgatados nem desconfiam quem somos. Amanhã teremos esse mesmo cuidado. A
família dela conhecerá apenas o rosto do Conrado, não há remédio quanto a isso.
Alicia será a única que conhece relativamente a aparência de cada um de nós.
Cada um deles havia camuflado a real aparência de alguma forma, já que
este era um procedimento de segurança primário.
- O que exatamente está me pedindo? - Bo
perguntou.
- Você precisa prepará-la para nos ver
novamente com as máscaras, ela ainda está frágil, não sabemos como pode reagir.
Conrado chegará uma hora antes dos pais e conversará com ela, não sei o que
dirá, nem como a convencerá a manter a informação em segredo, mas ele o fará.
- Estarei presente nessa conversa.
Não pediu autorização e Caetano não ousou contestar.
Já tinham problemas demais para criar mais um, pensou.
***********************
A energia com que Ágata Mendes
Bittencourt caminhava pela suíte principal do santuário, rivalizava com a
alegria com que falava, sem parar, sobre os planos para o futuro que tinha para
a filha.
Alicia desistira de acompanhar o que sua mãe dizia, há alguns minutos
atrás. Maravilhada a observava arrumar suas malas. As mesmas que a mãe desarrumara
para escolher a roupa que ela agora vestia. Como ela havia conseguido lhe
comprar, um guarda roupa completo, em menos de vinte quatro horas era um
mistério para ela!
O som do matraquear constante, do qual não conseguia acompanhar as
palavras, soava com a mais bela das melodias em seus ouvidos.
Recordou o momento do reencontro com os
pais e não conseguiu segurar as lágrimas, que fujonas, escorriam pelo rosto. Os
três se abraçaram e choraram juntos. Foi abraçada e beijada e abraçada de novo...
Longos minutos depois, já com as emoções sob controle, oconversaram sobre
o que ela havia passado e os planos para o futuro. Durante a conversa descobriu
que ainda naquela manhã partiriam para a Europa, de onde não tinham data para
voltar.
Nessa altura, escutava sem ouvir, os planos
de seus pais para a viajem.
Compreendia que eles estavam fazendo o que acreditavam ser o melhor para
ela, mas naquele momento só queria ir para casa...
O fato deles não a terem consultado a decepcionou. Estava sendo injusta e
provavelmente egoísta, mas não sabia identificar que sentimento era esse em seu
peito e ainda tentava analisar o que acontecia em seu interior, quando Álvaro
Nascimento os interrompeu, para tratarem do aspecto prático de sua partida.
Sem perder de vista os movimentos da mãe, se pegou pensando em Hendrix.
Suspirou involuntariamente.
- Tudo bem querida? - A mãe perguntou com
semblante preocupado.
- Tudo bem. Não quer realmente minha
ajuda com as malas? - Perguntou já adivinhando a resposta.
- Não, fique aí quietinha e descanse,
deixe tudo comigo. - A mãe disse colocando mais uma peça de roupa metodicamente
dobrada na mala perfeitamente arrumada. – Posso tentar conseguir um chá, você
quer um chá meu bem? É sempre um santo remédio.
- Não mãe. Estou bem.
A mãe a escrutinou com aquele olhar, “eu
sei tudo sobre você” e dando-se por convencida, retornou entusiasmada a tarefa
de arrumar as malas.
Alicia caminhou até as janelas e observou
a linda vista do rio e da mata.
O sol brilhava lá fora, perguntou-se por que, apesar de estar feliz, sentia
aquela melancolia.
Hendrix invadiu sua mente novamente.
Quando acordou ele estava de pé junto à porta do quarto com os braços
cruzados e pernas afastadas.
Havia pensado em como um homem só podia ser tão perfeito!
Deveria ter uma lei que proibisse tal coisa!
Por um instante imaginara ter visto seu olhar brilhar com a mesma
intensidade da noite anterior, para no instante seguinte ter suas esperanças
frustradas, quando ele se dirigiu a ela no melhor estilo militar educado.
Com uma voz firme, porém gentil a informou que Álvaro Nascimento a
aguardava para uma conversa, antes da chegada de seus pais e que os homens
estariam com os rostos cobertos, um procedimento rotineiro de segurança,
segundo ele, que deixou o quarto sem dizer mais nada, nem olhar para trás.
A conversa com Álvaro foi menos tensa,
apesar de importante.
Fora informada que há alguns dias, as Farc tornou pública a fuga dos
reféns e estava relacionando a mesma, como efeito colateral à emboscada
realizada a um traficante de armas. Ela não entendeu muito bem essa parte, mas compreendeu
perfeitamente que para sua segurança, e da família tinha de repetir com, a versão que ele lhe dava naquele momento para
o resgate: Os reféns foram resgatados por homem vestidos de preto dos pés a
cabeça e que falavam em diversos idiomas, o que era verdade. Logo após a saída
do acampamento foram dopados e acordaram dias depois, uma meia verdade. Que ela
acordara em um hospital na Bolívia, mentira.
Mal sabia ele que para garantir sua segurança e de sua família, seria
capaz de dizer que fora voluntariamente se alistar nas Farc!
Álvaro também a informou que ela fora a
única pessoa que vira seus homens sem as máscaras, nem mesmo seus pais,
conheciam ou conheceriam a aparência deles. Pediu sigilo absoluto sobre o
assunto, mesmo com a família. Alicia intuiu que havia muito mais do que o homem
responsável por seu resgate revelava, mas o mesmo sentido a fazia perceber que
quanto menos soubesse sobre o assunto, mais segura estaria.
- Alicia!
A voz da mãe a trouxe a realidade e surpresa, percebeu que ela estava parada
ao seu lado.
- Não me ouviu dizer que já podemos ir?
Antes mesmo que a filha pudesse dizer alguma coisa, continuou.
- Também pobrezinha, com esse bando de homens mal encarados lá fora, não
é de estranhar que se sinta perdida. Eles não podiam sequer tirar aquelas máscaras
horrorosas? - Perguntou ao mesmo tempo em que fingia ajeitar a roupa da filha,
um gesto arraigado desde sua infância pelo que podia recordar.
Ela sorriu do descontentamento da mãe e
da contradição em sua fala, afinal se estavam mascarados como os homens
poderiam ser mal encarados? Mas preferiu não discordar.
- A senhora pode ir à frente, eu preciso
de mais alguns minutinhos.
A expressão da mãe demonstrou que não gostou daquele pedido.
- Não vou ficar mais de dois metros longe
de você! Não enquanto não estivermos em segurança em Londres.
Decretou e Alicia sentiu o coração aquecer.
-
Mãe, esse lugar é mais seguro que a residência oficial do presidente da
república! Ficarei bem! Preciso de uns minutinhos sozinha antes de irmos.
A mãe hesitou por alguns instantes, mas, por fim cedeu a seu pedido.
Depositou um beijo maternal em sua testa e deixou o quarto.
Ela respirou fundo ao ver a mãe fechar a
porta atrás de si e se perguntou se estaria perdendo o juízo, pois, pedira os
minutos de privacidade com a louca esperança de que Hendrix entrasse em seguida
para dizer adeus.
Queria descobrir se sua mente fragilizada tinha criado memórias falsas da
paixão que viveram naquele quarto. O homem gentil, carinhoso e que beijava como
pecado não tinha nada em comum com o homem frio e formal que ela encontrou ao
acordar.
Será que fazer amor com ela fora tão ruim assim?
Ela sabia que não tinha experiência, na verdade tinha feito sexo somente
uma vez e fora uma experiência frustrante, para dizer o mínimo...
Olhou em direção da janela contemplando pela ultima vez, a vista que a
consolara tantas vezes nas ultimas semanas.
********************
Bo entrou no quarto, ainda quando a mãe
estava com ela.
Oculto observou a conversa entre mãe e filha.
A mulher loira e esguia, de roupas elegantes, caminhar determinado e que
falava sem parar, tinha pouco em comum com a filha de cabelos castanhos, gestos
delicados e natureza contemplativa. Ele se perguntou quanto o cativeiro a tinha
mudado? O quanto da alegria e energia o sofrimento havia roubado? Desejou que
os guerrilheiros mortos pudessem ressuscitar, somente para matá-los novamente.
Ao vê-la sozinha no quarto, soube que
deveria deixar o cômodo tão silenciosamente quanto entrara, mas não conseguiu. Era
um homem condenado a morte, os russos não deixariam por menos. Isso era motivo
suficiente para correr na direção contrária, mas não era forte o
bastante...
Jogando para o alto todo o bom senso e treinamento, se embebedou da
imagem dela perto da janela, com o olhar perdido, sua visão evocava o suave e o
etéreo, tudo tão distante de seu mundo...
Apesar de ter ganhado peso nas ultimas
semanas, ainda estava muito magra, usava uma das muitas roupas caras trazidas
pela família e sua imagem refletia quem ela realmente era. A garota rica filha
mais nova do rei da soja no Brasil.
Uma mulher que merecia mais que um homem marcado para morrer poderia
oferecer.
Esse pensamento lhe deu forças para fazer o que era preciso. Não se
permitindo hesitar foi para o centro do quarto e aguardou que ela notasse sua
presença.
- É hora de voltar a viver.
Alicia disse em voz alta, tentando se convencer a ser forte, mas seu
coração e sua mente ainda estavam agarrados aos medos e temores vividos no
cativeiro.
Respirou fundo, mais uma vez, pegou a bolsa e ao se dirigir a porta,
estacou.
Hendrix estava parado no meio do quarto, olhando para ela.
- Por onde entrou? - Perguntou confusa.
O coração disparado pelo susto e pela presença dele.
- Pela porta.
- Se tivesse entrado pela porta eu teria
ouvido.
Questionou, mas não entendendo o porquê fazia.
- Estava concentrada na vista por isso
não me ouviu entrar - Mentiu convincentemente.
- Se tivesse entrado pela porta eu teria
ouvido - Ela insistiu.
Boa menina, ele pensou, orgulhoso por ela
não se deixar enganar facilmente.
- Ossos do ofício - Disse por fim e ela
compreendeu.
Um constrangedor silêncio tomou conta do aposento.
- Eu estou indo embora.
Agora ele tem certeza que sou idiota, ela pensou.
- Eu sei - Ele respondeu sem tirar os
olhos dos dela.
- Sobre ontem a noite.
Disseram ao mesmo tempo.
Bo não queria ouvi-la.
Sabia que se a deixasse falar estaria perdido.
Aproximou-se
com os braços cruzados, para evitar se render ao desejo de tocá-la.
- Ninguém sabe o que aconteceu ontem à
noite – Declarou.
O delicado rosto se tingiu de vermelho e ele engoliu em seco, antes de
continuar.
- A escolta irá acompanhá-los até um aeroporto, quero que ao deixar esse
quarto não olhe pra mim e em momento algum, me procure com o olhar.
- Entendi. Não olhar para você.
Alicia sentiu como se seu coração parasse diante da frieza dele.
- Estou falando sério Alicia. Somos
treinados para ler pessoas e se olhar para mim, os homens da equipe saberão o
que aconteceu entre nós.
Diante do olhar gelado, ela sentiu o rosto queimar ainda mais.
- Eles podem ler você - Argumentou.
- Não podem - Respondeu.
Bo sentia como se uma mão invisível tivesse aberto seu peito e esmagado
seu coração.
O olhar dela vacilou, a decepção que enxergou naqueles olhos, fez a dor
piorar...
Ele quase levou a mão ao peito para massagear o local.
- Adeus Hendrix.
Alicia fez o melhor que pode para parecer madura e indiferente.
Sabia, para sua desgraça, que falhava pateticamente.
Recolheu o que restava de seu orgulho, que sequer havia imaginado ainda
existir, e seguiu em direção da porta.
O ouviu resmungar.
No instante seguinte, foi puxada para o interior de seus braços e beijada
de uma forma que nunca esqueceria.
Não era um beijo terno, doce e sedutor
como haviam sidos os da noite anterior.
Ele a beijava com uma fúria incontida, com desespero e ela correspondeu
com o mesmo ardor, a mesma volúpia. Sentia como se ele a estivesse possuindo,
marcando sua presença em seu corpo de forma irrevogável.
- Moça.
Ele murmurou quase sem fôlego.
Ela adorava quando a chamava assim.
- Me prometa que fará o que eu pedi.
- Prometo.
Esfregou o nariz no pescoço dele, inspirou tentando capturar o aroma
masculino.
O gesto provocou um gemido e outro beijo arrasador.
- Me prometa que será feliz moça, que se
casará com um sujeito legal e que terá filhos.
Se tinha que abrir mão dela, queria que valesse a pena, pensou.
- E darei a um deles o nome de Hendrix.
Gracejou pela primeira vez em onze meses.
- Cristo, não! Não faça isso a pobre
criança.
Bo disse quase sorrindo.
Durantes alguns segundo ficaram apenas se olhando.
- Agora vá, sua vida a espera.
- Adeus Hendrix.
E como havia prometido, deixou o quarto e a casa sem olhar para trás.
Horas mais tarde, Bourregard, ao lado dos
demais homens da equipe, observou o avião particular decolar, levando a bordo a
mulher que seria dona de sua alma para toda eternidade.
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