segunda-feira, 2 de junho de 2014

O LADO BOM DE SER TRAÍDA - Capítulo 19


Marco

Acordar com Sr. Anaconda de plantão depois do sonho delicioso que tive com a Bárbara é uma missão nada fácil. Vou para meu banho e alivio meu amigo, que ultimamente tem tido vida própria, estou como um adolescente que só de ver uma garota, já fico todo excitado.

Chego à cozinha e meu café já está na mesa, mais uma vez Maria cuidando da minha alimentação.

- Levantou cedo, achei que ficaria mais uns vinte minutos na cama, seu bolo de fubá preferido, vai demorar uns 10 minutos ainda.

Dou um beijo em sua testa, antes de dizer que estou sem tempo, melhor amansa-la do que levar bronca.

- Maria, sei que fez esse bolo com todo amor e carinho, mas estou atrasado. Antes de ir para o Tribunal, vou ver a minha princesa, estou confiante que logo ela estará aqui conosco.

- Oooh que notícia maravilhosa. Conheço bem a sua angústia, e tenho certeza que as minhas preces serão ouvidas. Pelo menos 4 vezes por semana eu passo para vê-la.

- Eu sei disso Maria, sei do seu carinho pela minha menina.

Olho no relógio, e de fato, se não me adiantar vou chegar atrasado, pois o trânsito de São Paulo fica cada vez mais caótico.

- Nana, estou indo.

- Espera filho, o bolo está quente, mas leve para comer no trabalho.

Sempre cuidando de mim!

- E sua mãe esteve reclamando de sua falta, entre em contato com eles.

Quanto a isso eu não tenho como negar ou contestar, me distanciei dos meus pais após o casamento com a Paula, pois ela soube bem tecer a sua teia de aranha para me amarrar a ela, deixando os meus pais totalmente fora de minha vida. Estou me reaproximando aos poucos, com vergonha por ter dado mais valor para aquela mulher, do que para a minha própria família, mas isso irá mudar, e logo.

Após enfrentar um trânsito infernal, consigo passar um tempinho com a minha princesa, foi mágico, parece que ela está querendo me dá sinais.

Cada vez que nossos olhos se encontram, tenho a nítida certeza que estamos nos declarando amor eterno um ao outro. Ela é a minha vida, e por ela passo por cima de qualquer um, até mesmo do meu coração.

E como sempre, o meu dia foi de muitas audiências e correria, não vou mentir que criei uma expectativa, imaginando que a qualquer momento Bárbara poderia entrar na sala de audiência a fim de acompanhar algum de seus clientes, e a cada pregão, meu coração ficava agitado, e torcendo para que ela me surpreendesse entrando pela porta, só que o meu desejo não se realizou, infelizmente!

Com o intuito de superar a barreira criada por mim com os meus pais, resolvo ligar para a minha mãe.

- Alô

- Mãe?

- Ooh meu Deus, filho! Quanto tempo, que saudades! Sinto a sua voz falhar. Apesar da minha separação, a nossa aproximação tem sido lenta, por minha parte, não sei por que, ainda estou constrangido.

- Desculpa mãe, pela minha ausência, mas quero muito recuperar o tempo perdido!

- Claro, meu filho! Sabe que estamos de braços abertos para você. Seu Pai está morrendo de saudades, de conversar contigo, por favor, apareça sempre quando quiser.

- Eu sei mãe. E para encurtar essa distância, quero muito chamar a Senhora e o Pai para jantarem comigo hoje, lá no Restaurante D.O.M.

- Aceito, ou melhor, aceitamos, já vou responder pelo seu pai. Sinto a excitação em sua voz, minha mãe sempre foi a melhor, animada, extrovertida, não sei como pude deixar tudo isso para trás.

- Então, aguardo vocês às 21:00hrs.

- Ok, não vejo à hora.

Depois de desligar, sinto um alívio no meu coração, e farei de tudo para recuperar todos os anos perdidos longe dos meus pais, dizer que o quanto amo a minha família, e que estou de volta para ficar, e nada vai me distanciar deles novamente.

Corro com a papelada que está a minha frente, chamo o Marcelo para me ajudar, pois se continuar aqui parado não chegarei a tempo, e preciso ir em casa, tomar um banho, quero estar apresentável no jantar.

- Marcelo, por favor, arrume estes processos que já sentenciei e lance no sistema, infelizmente não tive tempo. E aproveite para ler e aprender ainda mais.

- Claro, Dr. Marco. Por isso gosto do meu estágio. -O Sr. dá oportunidade de aprender.

- Isso aí rapaz, não esqueça que já fui estagiário, lembre-se nenhum juiz nasceu concursado, todos tiveram que ralar, igual você está fazendo. Agora tenho que ir, amanhã nos falamos.

-Boa sorte aí!

Adianto os passos para não correr o risco de atraso. Visto que, conseguir uma reserva no D.O.M e de última hora é quase um milagre, a minha sorte é que conheço o Chef.

Ao chegar em casa, corro para o banho, não quero vestir terno, já basta no trabalho, e opto pelo estilo esporte fino. Na hora exata, chego ao restaurante, e vejo que os meus pais já estão à mesa. Conhecendo o meu pai, sei que ele não tolera atrasos, e para isso sempre chega alguns minutos antes.

Quando a minha mãe me vê, já levanta e me abraça de forma calorosa, me sinto bem em seus braços, fazendo lembrar o quão doce ela é.

Meu pai, também me recebe da sua maneira, me dá um abraço com tapinhas nas costas, ele é um bom homem, e me ensinou tudo que sei hoje, sobre ser justo.

- Meu filho, como você está lindo!

- Obrigada mãe, a Senhora também, a idade não bateu em sua porta.

- Claro Victória, o Marco teve a quem puxar, olha aqui pra mim, a minha beleza é reluzente. Disse meu pai, do seu jeito brincalhão. 

E todos rimos. Definitivamente o jantar será maravilhoso!

Antes de sentar, tenho que ir cumprimentar o Chef e agradecer por conseguir a reserva em tão pouco tempo.

- Pessoal, só tenho que ir cumprimentar o Chef que é um grande amigo, já volto para o nosso jantar.

E assim, saio em direção a cozinha, mas quando passo por uma mesa, no canto, afastada de todos, meu coração congela com a cena que vejo. A Bárbara sentada e conversando tranquilamente com o seu ex-noivo e para completar a merda, ele está segurando a mão dela, não acredito, eles voltaram!


Bárbara

Do momento que liguei para ele, pensei em um milhão de palavras que poderia despejar de canalha, vagabundo, descarado, filho da puta, dentre outros, estavam no roteiro. Tirei tantos vestidos do meu closet, que nem sabia que tinham essa quantidade desnecessária. Eu queria estar gostosa, mas não gostosa que se arrumou para conquistá-lo, e sim, a gostosa que deu a volta por cima.

E depois de muito pensar, me decidi por um vestido preto, colado ao corpo e um palmo acima do joelho, completamente fechado na frente, mas um decote escandaloso nas costas, coberto por uma telinha de renda, e para completar o visual, um sapato louboutin. Bonita, sexy e gostosa. Assim iria enfrentar a fera.

Chego ao Restaurante combinado, e surpreendo em só lembrar agora, que é o mesmo restaurante onde o Caio me pediu em casamento. Descarado, ele acha que já me tem de volta. Não vou cair na dele, não posso! Posso?

Respiro fundo, passo a mão pelo vestido, tirando as rugas imaginárias, e continuo direto para o Restaurante, com a cabeça erguida, não posso me abater agora.

O hostess veio ao meu encontro, informei o que estava procurando e ele me encaminha, até a mesa onde ele já estava me aguardando.

Sustentei uma expressão impassível no rosto, para não admitir o quão ele estava lindo. Vestido com um terno preto, uma camisa marfim e uma gravata lisa um pouco mais escura que a camisa, ele sempre teve bom gosto para manter o porte de um homem confiante, algo que sempre me deixou de pernas bambas, o seu olhar era hipnotizante. Aí minha senhora das mulheres traídas, não me deixe na mão, não posso demonstrar fraqueza.

- Caio. Disse ao chegar à mesa.

O hostess fez menção em puxar a minha cadeira, mas o Caio fez questão de mostrar o seu cavalheirismo, tomando o seu papel. Eu me sentei, e não agradeci o seu gesto. Afinal, não pedi nada, sabemos para que estamos aqui, não precisa encenar.

- Amor fiquei muito feliz em receber a sua ligação.

- Caio, vamos deixar o teatro de lado, e encarar toda a situação sórdida em que você nos colocou.

- Eu sei muito bem, Bárbara, e vou te pedir perdão pelo resto da minha vida. Você não imagina o quanto estou sofrendo.

- Hahahaha, já começou com piadas? Você sofrendo? Eu que levo chifre e você que sofre? Não me seguro, tenho que ser sarcástica com o sofrimento do meu querido ex-noivo!

Ele me olha sério, e diz:

- Acredito que você veio conversar, vamos deixar as armas de lado, apenas me escute, depois disso posso ser o Judas, que tanto quer queimar.

Engoli em seco, ele estava certo, não vale a pena remoer, vou deixá-lo abrir o verbo, e deixando o acaso para o destino.

- Antes de qualquer coisa, podemos pedir um vinho?

- Já quer me embebedar, para eu acreditar em sua lorota? Não resisto, o meu ódio é maior.

- Tudo bem, não irei pedir nada, nem sequer uma água, se é assim que prefere.

- Ok. Não percamos tempo, estou pronta para te ouvir. Adoro ouvir estórias românticas.

E pela primeira vez, vejo o Caio sem reação, como se ele tivesse decorado um texto e agora deu branco. Ele limpa a garganta e começa.

- Sei que fui um canalha, que joguei nosso relacionamento no lixo, mas não foi intencional, juro que foi fraqueza da carne. Nunca premeditei, ou desejei outra mulher, sempre foi você, a minha musa, a mulher que sonhei em ter uma família.

E por um momento senti a verdade em sua fala. De fato, ele sempre se doou ao nosso relacionamento, sempre me quis ao seu lado, nas suas viagens de negócios, praticamente éramos casados, por tão unidos que fomos um dia.

- Naquela viagem que fiz para resolver uma pendência em Florianópolis eu acabei ficando chateado com a sua atitude, em preferir o seu trabalho a ir comigo em lua-de-mel. E lá conheci a Nicole. Ele pára para respirar, como se estivesse lembrando do momento, aí que ódio, só de ouvir o nome da vadia já me dá vontade de matá-lo com a faca de serra que está na mesa.

- Nos conhecemos, e me deixei levar. Eu não mantive um relacionamento com as duas, foi uma foda casual, sem compromisso, mas ela não entendeu desta forma e começou a me ameaçar, e por muitas vezes eu tentei te contar, mas o medo de te perder foi maior. Pára tudo, ele vai falar da foda com a ruiva? Aí não, hein?

O interrompo. – Caio, não quero detalhes de você com a Nicole. Poupe-me dos pormenores sórdidos.

- Me desculpa, mas enfim. Ela infernizou a minha vida, e quando voltei para Floripa para dá um basta, ela vem com história, falando que se apaixonou por mim, e que não iria desistir. Eu fui duro com ela, falei que não iria deixar a MINHA NOIVA, para ficar com ela. Depois de muito choramingar, ela se rendeu, me afirmando que deixaria em paz.

- Ok, entendi! Você iludiu também a garotinha inocente? Mas só me explica uma coisinha, pois não está se encaixando. A foto de onde ela estava abraçada com você, rindo feito uma hiena e declarando que estavam noivos, veio de onde?

Na hora ele empalideceu, e bebeu um pouco de água. Será que estava tomando tempo para a desculpa?

- Então, a foto nós tiramos quando ficamos na primeira e ÚNICA VEZ. No momento, não me lembro do por que me deixei ser fotografado com ela.

Que história para boi dormir. Ainda olho para ele buscando o homem pelo qual me apaixonei.

- Eu quero consertar a burrada que fiz, por favor, me dê mais uma chance, te imploro. Ele fala isso, segurando a minha mão, e posso jurar que os seus olhos estão marejados.

- Acho que é tarde. 

- Eu provo o que quiser, para demonstrar o meu arrependimento. Por favor.

Ele fala isso, encostando-o em mim, sinto o seu hálito em meu rosto, e seus lábios estão muito próximos aos meus, e como um flash ele me beija, inicialmente um beijo casto, ele tenta aprofundar, e eu deixo, preciso tirar a “prova dos 9”.


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