Patrícia Alencar Rochetty...
Ele fala como se eu tivesse alguma outra opção... Porque eu não tenho pique para encarar mais dez quilômetros de trilha, mesmo diante do desejo avassalador de abraçar, novamente, um tronco de árvore, para que ele abrigue o seu cipó em minha caverna.
A partir deste dia, Nossa Senhora das Lembranças que me proteja e não me faça parecer uma cadelinha no cio, no meio da rua, e impeça-me de encostar, nos troncos das árvores da cidade, delirando ao me lembrar de nossa transa rápida, porém, malditamente gostosa. Imagine só, euzinha, no meio de uma avenida do centro de São Paulo, ao lembrar ser possuída, contra um tronco, por este homem gostoso, agarrar uma árvore, querendo matar as saudades! Vai ser buzina até eu acordar do meu devaneio ou a ambulância de uma casa de doidos vir buscar-me e amarrar-me numa camisa de forças...
A partir deste dia, Nossa Senhora das Lembranças que me proteja e não me faça parecer uma cadelinha no cio, no meio da rua, e impeça-me de encostar, nos troncos das árvores da cidade, delirando ao me lembrar de nossa transa rápida, porém, malditamente gostosa. Imagine só, euzinha, no meio de uma avenida do centro de São Paulo, ao lembrar ser possuída, contra um tronco, por este homem gostoso, agarrar uma árvore, querendo matar as saudades! Vai ser buzina até eu acordar do meu devaneio ou a ambulância de uma casa de doidos vir buscar-me e amarrar-me numa camisa de forças...
E nem que a vaca tussa, eu volto sozinha! Não que eu tenha medo do bicho papão, porque este, com certeza, estará aqui, chupando o dedo com a minha partida... nem medo do saci, porque se vier com gracinha para o meu lado, passo-lhe uma rasteira tão rápida, que não sobrará nem cachimbo para contar história... A verdade é que, andar, numa trilha escura, sozinha, não é atraente nem para a mais corajosa de todas as mulheres. Acho que nem para muitos marmanjos também...
E, no fundo, ficar com ele, perdida no meio do nada, vai ser uma hecatombe para a minha “perseguida” assanhada! E, vamos combinar, esta opção não é nada ruim...
− Tenho opção? – faço charme.
Ele apenas levanta os ombros.
– Sempre há uma opção, mas, eu iria sentir-me honrado e feliz se você escolhesse a de ficar comigo.
− Você sabe que seus métodos de jogos são sujos e fazem com que eu fique em desvantagem, né? – ah, tá, que eu vou admitir tão facilmente o quanto me afetou com suas palavras e que estou louca para passar as próximas horas sempre prontinha para recebê-lo. Vai ter que suar a camisa, garanhão! Como eu sou má... não, nem vou ficar questionando minha atitude, tenho que tentar manter minha fama de durona, não posso capitular só porque este sedutor está cada vez mais detonando minhas defesas.
− Não sabia que desejar proporcionar algo bom a uma linda menina era considerado, agora, um jogo sujo. Você pensa muito mal de mim, pequena! – ele aperta os braços, em volta da minha cintura, depositando um beijo casto, nos meus cabelos, com um carinho que enterneceria até a velha e boa durona Agnelo.
Ver o pôr-do-sol, de cima do morro que dá acesso à praia, abraçada a ele, é a sensação mais romântica que já me permiti em toda a minha vida! Sinto-me vivendo um daqueles segundos de eternidade, que ficará para sempre em meu coração, que está assustado, diante da inesperada situação, já acostumado com a superficialidade segura dos meus afetos passageiros.
De repente, cai minha ficha de que ele planejou algo para me surpreender e agradar. Não consigo entender o porquê de tudo isto, mas, quem sou eu para reclamar, não é mesmo? Se o ícone da gostosura quer presentear-me com algo bom, que venham todas as surpresas. A paisagem, que parece ser pintada numa tela, deslumbram meus olhos, que contemplam, no horizonte, a imensidão do mar, onde há barcos dispersos. O encontro das águas do rio com o mar faz-me consciente de que este momento é bem assim, como um encontro de águas, a calmaria do rio representando minha razão e o mar minha emoção... Um momento ímpar e emocionante para mim. O cheiro e a umidade do ar depositam faíscas granuladas do sal em minha pele, banhadas pela mistura da maresia com o aconchego do seu toque de carinho, no meu corpo. Os raios do sol vespertino dão-me a certeza, ao olhar para longe, muito além do Sol, de que todo o meu passado vem contradizer o meu presente, fazendo a minha alma clarear enquanto o dia escure.
Sensível às minhas incertezas, ele vira-me de frente para ele e olha no fundo dos meus olhos.
Perco noção do tempo, ao fitar a íris dos seus olhos azuis.
− Quantas vezes você passou na fila que atribui a beleza a um ser humano? – tento descontrair, numa tentativa de não revelar o quanto estou afetada por ele.
− Aposto que, muitas vezes menos que você, pequena provocadora da pinta charmosa! – ele toca minha pinta e desce o dedo pela minha face. Caraca, ele vai beijar-me, sinto seus lábios próximos aos meus – Linda, nas próximas horas seremos apenas nós dois! Confia em mim, que te mostrarei a beleza do desejo deslizando por todo seu corpo – por que ele não torna as coisas mais fáceis? Tem que me beijar assim, depois de falar baixo e ofegante, fazendo meus hormônios tontos circularem por todo o meu corpo, em zig zag?
Ainda com as pernas bambas e um pouco desorientada, apenas me deixo levar pela descida do morro que dá acesso à linda praia do Bonete.
Ele fala, empolgado, e percebo que está feliz por estar aqui e, mais ainda − nada pretensiosa, eu penso – por ser eu ao seu lado.
− Amo este lugar! Além de ser uma praia isolada, já foi esconderijo de piratas famosos, que frequentavam a ilha, há séculos atrás. Hoje, serve de morada para algumas famílias caiçaras. Tudo é muito simples, mas, para mim, é o paraíso. E, como já disse, apesar de existirem pousadas deliciosas, nós ficaremos num cantinho só nosso. Acho que vai gostar, Patrícia.
− Bem, até mesmo eu tenho que ser honesta e dizer que já estou amando!!!
− Está com fome ou podemos dar um mergulho, antes de seguirmos nosso destino? – bonitão, nem sei mais qual tipo de fome estou sentindo, pois cada minuto ao seu lado deixa-me faminta por mais...
− Acho que um pouquinho...
− Conheço um... – não o espero terminar de falar, arranco o tênis e trapaceando-o, divirto-me com toda da situação, ao gritar para ele, já correndo − quem chegar por último no mar, paga o jantar.
Corro, ao encontro do mar, olhando para trás, divertida ao ver sua cara espantada, enquanto vou arrancando meu vestido, numa fuga bem das safadas... Claro que, às gargalhadas, com minha peripécia.
A orla não é grande, mas, as ondas são imensas! Vejo vários surfistas, no mar. A água cristalina refresca o calor do meu corpo e, quando mergulho, sinto a delícia da liberdade momentânea, até que sou surpreendida pelo mais lindo tubarão tentando abocanhar meu corpo.
− Você é uma bela de uma trapaceira! Sua sorte é que o mar não está muito revolto, porque, aqui, as ondas costumam ser enormes, motivo pelo qual há tantos surfistas. Você tem que ser mais cuidadosa, minha pequena espevitada.
− Aprendo rápido, garanhão! – ele segura meu corpo, divertido, enquanto a água salgada escorre pelo seu corpo − Só o que fez, até agora, foi trapacear comigo, pensa que não percebi, é? Além disso, vi que as ondas não estavam altas, porque não sou tão destemida a ponto de ser burra!
− Vamos ver o que essa pequena trapaça vai causar a você, esta noite. Estou pensando em algo muito mal para te punir.
− Mal? Quanto mal? – ele consegue excitar-me, em segundos.
− O suficiente para você implorar para que eu permita você gozar – boca suja gostosa, penso comigo, sentindo as palpitações do Sr. G, que parece aplaudir cada palavra proferida por ele.
− Vamos fazer uma aposta? – falo, entre uma onda e outra, que quebram sobre nós.
− Hum! Uma aposta sem trapaças?
− Isto! – sacudo a cabeça, sapeca com os pensamentos que tenho.
− O que vamos apostar?
− O primeiro que passar a arrebentação estará no controle dos nossos orgasmos esta noite.
− Fechado – ele mergulha, dizendo alto − Esta você já perdeu, menina desafiadora.
Quase morro de tanta vontade de gargalhar. Quem foi que disse que eu quero ganhar? Adoro quando os homens acham que eles estão no controle.
Vou atrás dele, lenta e despretensiosamente, sem fazer força para ganhar. A cada braçada, mergulho nas ondas e orgulho-me do quão eficiente estou sendo, nesta competição, que irei ganhar de qualquer jeito, só que, neste caso, o prêmio é uma taça recheada de muitos orgasmos deliciosos.
Quando passo a arrebentação, depois de tomar um caldo digno de filme, um surfista, ao meu lado, diz, em alto e bom som:
− Perdida no mar, sereia? – quase digo a ele, instintivamente, que sereia é a minha amiga Babby. Aliás, vamos combinar, só ela para gostar desse apelido... aff... mal termino o pensamento para falar algo, quando sou impedida por uma voz forte e dura.
− Ai Beach Boyz, aproveita para dropar as ondas, as quais você vai perder senão a acompanhar, porque esta bela menina aqui já tem prancha em que se apoiar. Boa batida!
Ele mergulha até chegar a mim e, confesso, minha menina Tássia interna (tá se achando) dá gritinhos de alegria.
− Cadê? – coloco a mão em seu membro – Nossa, isto não é uma prancha, é um Longboard!
− Um Longboard que vai fundo, esta noite, quando deslizar nos tubos das suas paredes e preencher todo seu canal – ele solta uma risada suave e descontraída. Sua expressão arrebatadora nocauteia-me, mais que belo surfista provocador.
− Promessas? – encaro-o, atrevida.
− Desejos! – ele responde e, como dois imãs que se atraem, nossos lábios aproximam-se, criando uma espécie de campo magnético natural, com direito a mãozinha daqui, beijinho dali e quase uma transa na água deliciosa...nem sei como conseguimos não fazer isso mesmo!
Voltamos para a orla, recolhemos meu vestido e tênis, enquanto ele apanha a camiseta e a mochila. O mais engraçado é constatar que ele foi rápido o suficiente para juntar tudo, antes de me alcançar na água! Nunquinha mesmo vou ganhar dele no quesito preparo físico.
− Já se imaginou no Éden, Patrícia? Longe de tudo e todos, longe das reuniões de planejamento estratégico, do rodízio de carros, da academia, da loucura do dia a dia?
Ele faz a pergunta assim que começamos a caminhar pelo simples e charmoso vilarejo. Tudo nele exala sensualidade! Não consigo desviar o olhar das suas pernas, observando cada passo que dá. Sinto um ardor na pele, o coração disparar e o Sr. G comemorar o fato de que, em poucos minutos, ele e o garanhão vão encontrar-se novamente. O provocador, por causa do biquíni molhado, consegue deixar-me mais incomodada, ainda, e este provocador irresistível vem com essas mensagens subliminares do Éden, fazendo com eu que já me imagine pelada, ao seu lado, igualmente nu.
− Não me diga que teremos que andar apenas com uma folha escondendo as genitálias? – sorrimos juntos – É lindo aqui − respondo.
− É tão bom estar num lugar como este, onde não se vê a imponência dos condomínios de alto padrão, nem as cinematográficas casas de veraneio – fico encantada em perceber como ele lida bem com a humildade das casas simples por quais passamos – Aqui, o abastecimento de energia é feito por geradores e todos os habitantes conhecem uns aos outros. Estes pequenos detalhes mostram o quanto a nossa qualidade de vida é ruim.
Conforme o conheço, tenho mais a certeza de que ele não é o playboy metido que sempre pensei que fosse, muito pelo contrário, é um homem sensível e um ser humano humilde. Uma vez mais, minha razão grita para eu correr enquanto é tempo, mas, seu grito é sufocado pela traidora da emoção, que solta um suspiro de admiração, misturado com um desejo insano de continuar a ouvir a voz desse conquistador.
− Cansada, pequena?
Ele pega minha mão, a fim de me auxiliar a subir a rampa. Um leve brilho de suor cobre sua testa morena.
− Você é um gentleman – agradeço sua gentileza.
Ele aproxima mais o corpo do meu, perto o suficiente para olhar, fixamente, em meus olhos. É o homem mais lindo que já conheci! O seu corpo é lindo como as esculturas gregas, seus lábios são a minha perdição.
Com um papel, na mão, e um pequeno mapa rascunhado, paramos em frente de uma casinha branca, de janelas e portas azuis, iguais aos pilares de madeira, pintados também da mesma cor. Há uma varanda cheia de vasos e plantas.
− Chegamos! – ele põe a mão num vaso de samambaia, pendurado ao lado da porta, e pega a chave da casa. Pequenos flashs de angústia vêm à minha mente! Sinto como se um filme quisesse ser rebobinado, na minha mente, e ouço um choro, um grito e um frio na espinha paralisa-me – A casa é simples, mas, daqui, temos uma vista linda! E tudo é muito organizado e limpo. Se o lugar não te agradou, podemos procurar um quarto em alguma pousada.
− Está tudo bem! – consigo falar, devagar, com os olhos esbugalhados, sem eu, não saber controlar minha reação e entender o que se passa comigo! A casa é muito charmosa, não poderia causar tal reação! Acho que é a fome chegando. E sei que posso ser uma péssima companhia quando estou com fome.
Ele abre a porta e faz um gesto, convidando-me para entrar, parecendo perceber que algo estranho está acontecendo. Trincando meus dentes, num sinal de recusa a me permitir lembrar-me do que quer que seja do passado, o qual não vou permitir que venha à tona após ter ficado esquecido e enterrado durante tantos anos. Minhas pernas fraquejam a cada passo que dou, como se eu estivesse caminhando para o sacrifício. Não entendo, pois tudo é muito simples e colorido, totalmente diferente da lembrança de uma outra casa que, apesar de não saber onde é, aparece em minha mente e onde tudo é branco e sem cor alguma.
− Patrícia! – ele chama meu nome, firme e forte, olhando-me fixamente, com uma expressão preocupada – Não precisamos ficar aqui, minha pequena – sério, chega tão próximo de mim, tanto que chego a sentir seu joelho quente tocar a minha perna – Essa sua expressão apavorada, a palidez que tomou conta de seu rosto e esses seus maravilhosos olhos tão arregalados estão assustando-me, principalmente porque você parece estar sofrendo por algo. Fale comigo, minha menininha da pinta charmosa. Prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para espantar para longe tudo o que te faz mal.
Sua voz macia e carinhos, o afago que faz em meu rosto e sua comovente preocupação, fazem com que eu consiga sair do transe involuntário a que me entreguei e acariciam meu coração amedrontado. Olho, perdida, para ele e falo:
− Adorei a casa, fique tranquilo! Sinceramente, não poderia falar a respeito de algo que nem eu sei o que é! Não entendo o que me causou esta reação, mas, não deve ser o lugar, mas, talvez apenas a fome que estou sentindo, que confundiu minhas ideias – tento convencê-lo tanto quanto a mim mesma, porque não quero conhecer qualquer outra resposta para esta sensação horrível, nem vou permitir que absolutamente nada venha atrapalhar o que quero viver, com ele, agora.
− Pensei que, nesta casa, por ser um lugar simples, poderíamos conhecer um pouco um ao outro, falar sobre coisas banais, fazer orgias constituída apenas por nós dois... – ele ri, colocando os dedos no meu queixo, levantando minha cabeça, de modo a fazer com que meu olhar encontre o seu –Aqui, Patrícia, falaremos sempre olhando um nos olhos do outro. Aqui não há a ostentação de restaurantes chiques, então, prepare-se porque será minha serva e terá que fritar um ovo, sem quebrar a gema... – caímos na risada, juntos, pois ele lembra-se de que lhe contei que simplesmente nunca consegui fritar um ovo sem espatifá-lo todo. Como ele consegue, de firme e forte, tornar-se doce e brincalhão, em segundos?
− Ovo é? Você está brincando comigo, porque eu adoro ovo, principalmente quando vêm servidos com uma linguiça no meio de dois deles...
− Então, teremos ovos no jantar, ovos a noite toda e ovos no café da manhã! Sinta como meus ovos já estão doendo para serem servidos a você – ele aperta-me em seus braços.
− Posso fazer ovos mexidos deliciosos – falo, divertida – Tendo muito cuidado e atenção para não quebrá-los em minhas mãos. É uma receita antiga, cujo preparo é bastante minucioso, pois envolve não apenas o uso das mãos, mas, da boca e da língua, que podem produzir o líquido adequado ao preparo.
− Para falar a verdade, minha linda, descobri essa sua especialidade culinária, desde a primeira vez em que te vi – soltando meu queixo, ele desliza as mãos pelo meu corpo e, relutante, solta-me e afasta-se − Vá tomar um banho, enquanto preparo o jantar. Quando sair do banho, se quiser falar a respeito do que está causando esta ruguinha que estou vendo aqui na sua testa, estarei pronto, além de me sentir lisonjeado com a confiança que depositará em mim.
− Além de lindo, ainda sabe cozinhar? Pena que é um ogro no quesito relativo a elogiar uma mulher, visto que, além de me chamar de velha ao dizer que tenho rugas, chamou-me de fedida ao me mandar tomar banho! – disfarço, brincando e fingindo que estou ofendida. Como é que ele sabe que algo me incomodou? Ele dá um beijo casto em meus lábios e, de novo, afasta-se.
− Vamos ver o que vai falar depois da omelete que farei para você. Meus dotes culinários podem ser capazes de hipnotizar uma menina – a expressão dele é zombeteira e seus olhos sensuais seguem meus movimentos, com fome, quando me dirijo ao banheiro. Estou completamente PER-DI-DA...
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