Carlos Tavares Junior
Após uma hora e meia, preso
em um trânsito infernal, para só então conseguir pegar a rodovia, chego
atrasado 40 minutos para a reunião com toda a diretoria de logística,
operacional e mestres cervejeiros. Entro na sala de conferência e os membros
ali presentes acenam, alguns com cara de deboche por meu atraso, outros
espantados. O Nandão ligou para mim durante a viagem e contei a ele, sem entrar
em muitos detalhes, que estava preso no trânsito que ele tanto ama de São Paulo.
A pauta da reunião já havia
sido entregue a todos. Respiro fundo e, sem delongas, vou direto ao ponto
crucial da reunião.
− Senhores, peço desculpas
pelo meu atraso. Tive um imprevisto, hoje, pela manhã, e acabei atrasando-me,
coisa que todos sabem que não gosto que aconteça. Portanto, sou o primeiro a
admitir meu erro de cálculo para estar aqui em tempo e a dizer que tentarei
evitar que isso aconteça novamente! – desde que assumi a presidência, venho
mantendo minha regra de honrar com meus horários e exigir de todos o mesmo −
Sugiro que comecemos. Solicitei a todos, por e-mail, o planejamento diário a
respeito da exportação dos nossos produtos, mais especificamente da cerveja
bock. Como os senhores puderam ler, na pauta, estive visitando diversos clientes
pela Europa e pude identificar uma alteração no sabor da nossa cerveja.
Encaro cada membro da
reunião, todos seguros de si quanto aos seus deveres e procedimentos, porém,
existe uma falha que temos que resolver. Saber fazer um bom produto é muito importante,
mas, só isso não garante o sucesso de uma organização. Administrar uma
companhia bem sucedida envolve, também, gerenciar relacionamentos. Não depende
de simplesmente acertar uma fórmula, mas, sim, de administrar, continuamente, as
expectativas de quem se relaciona com a empresa, no nosso caso, os degustadores
consumidores. Além de um produto de qualidade, boa gestão e pessoas
comprometidas devem estar na mesma sintonia.
No nosso caso, temos quatro
tipos de stakeholder[1] que têm que caminhar juntos.
Em primeiro lugar, estão nossos clientes, razão de ser da nossa empresa e pelos
quais vou ao limite no sentido de conseguir satisfazê-los. Em segundo lugar,
estão as pessoas que trabalham na empresa, sendo que faço questão de conhecer,
motivo este que faz com que alguns me chamem de louco, acusando-me de ser muito
controlador... eu diria que sou proativo com relação ao time que trabalha e
torce pela minha empresa. Time que joga junto tem mais força para matar um leão
a cada dia. Em terceiro lugar, outro elemento, não menos importante que os
anteriores e ao qual não abro mão de que as informações cheguem, continuamente
atualizadas, são os acionistas da empresa que, com o crescimento desta, foram
necessários para sua saúde financeira. O quarto e último elemento é a imagem da
minha empresa e sua aceitação, no mercado, pelos clientes. Nenhum desses elementos
pode estar fora do compasso com os outros.
− Talvez o armazenamento do
produto não esteja sendo adequado – o primeiro a falar é o Sr. Sérgio Gaspar,
um dos nossos mestres cervejeiros mais antigos. Ele vem trabalhando conosco
desde quando meu pai começou a empresa, tendo se formado na Alemanha. A
profissão de mestre cervejeiro é cercada de tradição e por certa dose de
mistério. Podemos afirmar que a cerveja é tão boa quanto às pessoas que a
produzem. A profissão de mestre cervejeiro exige mão-de-obra com formação
versátil. Eles dirigem e supervisionam todo o processo de produção da cerveja,
desde a aquisição da matéria prima até que esteja no devido recipiente,
incluindo-se, ainda, seu acompanhamento ao longo de sua vida útil.
−Sérgio, este é o ponto? O
armazenamento, aparentemente, está dentro dos padrões requeridos, então, foi
justamente por isso que convoquei esta reunião com todos, isto é, para sanarmos
o problema da alteração do sabor do produto.
−Pode ser o problema do
transporte, o chacoalhar dos navios ou até dos caminhões, o tempo de
armazenamento inapropriado no porto...
− O que isto, agora? – o
Nandão questiona – Fica mais fácil atribuir o problema à logística do que
procurar sua verdadeira causa?
− Não podemos trabalhar com
suposições no que diz respeito às causas que alteram o sabor do produto – chamo
a atenção para mim, para evitar discussões desnecessárias − Vamos verificar o
que podemos fazer. Nandão, quero que você e o Sérgio acompanhem desde a
fabricação até o armazenamento do produto e, daqui a 15 dias, faremos outra
reunião.
Assim que a reunião termina, reviso alguns documentos. Resolvo fazer uma
pausa para um café e permito que algumas lembranças vividas com minha pequena surjam
em minha mente... mais especificamente recordações de um passado próximo, em
que ela segurou tão avidamente as fitas, e que desejo reviver, no futuro... mas,
dessa vez, com outro tipo de restrição que, digamos, posso dizer que, apesar de
parecer um item comum, pode assumir novas finalidades para alguém que, como eu,
adora colecioná-los... as admiráveis e belas gravatas com suas infinitas
funcionalidades... Vejo que começo a ficar excitado, mas, dou-me conta que já é
quase horário de almoço e a fome que, neste instante, posso permitir-me sentir
é outra! Mas, ainda tomo uns minutos para imaginar que nada me faria mais feliz
do que sentir sua respiração ofegante e seu pulso acelerado, sem saber qual vai
ser meu próximo passo...
Levanto-me para tomar um café e volto à minha mesa. Vejo uma mensagem
dela no celular, enquanto encosto o café quente, em meus lábios, que salivam
com a lembrança do sabor de creme de caramelo que ela tem, o qual, como a
doçura do mel em relação ao amargor do café, contrasta com a dureza de meu
corpo, mas, que se constituem na combinação perfeita para despertar os meus
desejos mais profundos.
Começo a trocar mensagens com ela e, confesso, o teor dessa conversa
está deixando-me apreensivo.
Patrícia Alencar Rochetty:> Olá!
Dom Leon:> Olá, pequena! Como você está?
Patrícia Alencar Rochetty:> De verdade ou de faz de conta?
Dom Leon>: Desde quando você precisou fazer de conta comigo? O que está havendo? Parece-me que algo sério está acontecendo...
Patrícia Alencar Rochetty:> Estou um tanto quanto confusa! Penso que as coisas não funcionam de um jeito comum para mim!
Dom Leon:> Já disse para você não pensar muito! Será que posso perguntar do que você tem tanto medo?
Patrícia Alencar Rochetty:> Não, não pode. E, para seu conhecimento, não tenho medo de nada, só acho que não vai funcionar essa coisa de relacionamento permanente para mim. Eu já vi o amor de perto e sei o quanto ele é perigoso. E, por este motivo, nem tenho como sentir medo de algo que nem pretendo dar chance de acontecer...
Como assim? Nem depois de eu
dar todo o espaço de que ela precisa, respeitar seus limites e ser o mais
compreensivo possível com suas repostas esquivas, ela ainda não pensa, em dar
uma mínima chance que seja, para nós dois? E que história é essa de o amor ser
perigoso? Pelo que entendi, ela não amou nenhum homem! Ou será que isso foi o
que eu quis entender, mas, que, na verdade, não passa de uma pretensão ridícula
de minha parte? Tenho que saber mais.
Dom Leon:> Isto significa que você não ama nem seus amigos e parentes? Porque, se isto for verdade, quem ficará com medo de você serei eu!
Patrícia Alencar Rochetty:> Claro que amo minha família e meus amigos, seu bobo! Eu só estou dizendo que não quero próximo de mim o amor homem/mulher, este, sim, é uma bomba que, certamente, explode com consequências catastróficas...
Dom Leon:> Quer falar a respeito do que a levou a pensar assim? Alguém te magoou?
Sua resposta está demorando
um tempo mais longo do que as outras para vir, o que me leva a pensar que dei
uma mancada, fazendo a pergunta errada! Mas, o que quero é tentar fazer com que
ela fale a respeito do amor para eu descobrir o que vai no coração dessa minha
quimera tão arredia! Se ela está tentando escapar de mim, tenho que descobrir
todos os elementos possíveis para não permitir que isso aconteça, nem que tenha
que jogar baixo como estou fazendo, usando o D. Leon para obter informações...
Finalmente, ela responde.
Patrícia Alencar Rochetty:> Dom Leon, vou entrar numa reunião, agora. Falo com você depois. Um beijo no coração!
Dom Leon:> Cuide-se, pequena! Só saiba que sempre estarei aqui por você, torcendo para que você permita-se entregar-se, de corpo e alma, a um sentimento que pode fazer-lhe muito mais feliz e plena. Beijo para você também.
Mais uma vez, ela escorrega por entre meus dedos, deixando-me com uma
sensação de perda. Minha estratégia tem sido viver um dia de cada vez, lidando
com ela a partir do aprendizado dos dias anteriores, tanto que, hoje
cedo, quando ela, mais uma vez, fechou-se para mim, dizendo ter que encontrar
um suposto cliente só para não vir à minha casa, seus olhos mostraram que era
mais uma desculpa do que uma situação verdadeira. Resolvi não forçar a situação
e agir como se estivesse de acordo com o que disse, mesmo que, por dentro,
estivesse com vontade de colocá-la em meu colo e dar-lhe umas palmadas até
convencê-la de que esse pretexto não me faria desistir fácil! Porém, quando
percebi a reação dela à minha resposta, vi que minha postura de bom moço ao
respeitar sua decisão não era, na verdade, a que ela queria, mas, sim, a de eu
forçar a barra. As coisas funcionam, para ela, no sentido contrário do que
sinaliza. Uma coisa é certa com relação
a essa mulher, ao mesmo tempo em que ela precisa de carinho, necessita de um
tratamento de choque para despertar. E eu tenho que ter cuidado para perceber
quando devo dar-lhe um ou outro.
Durante
toda esta semana, desde que voltamos de Ilhabela, não ficamos separados um dia
sequer! Percebi sua alegria todo o tempo que passamos juntos, ela sendo sempre
receptiva e aberta, porém, confesso que tenho a sensação de que tenho agido
como uma espécie de Henry Roth, personagem do filme Como se Fosse a Primeira Vez[2]! Ao som da música
tema, que parece tocar em minha mente (https://www.youtube.com/watch?v=wdUEMJGDA50), reflito que é exatamente assim que
me sinto ao lado dela, como se, a cada dia, eu tenha que conquistar um
pedacinho do seu coração todas as vezes em que percebo o medo que ela demonstra
ao tentar rotular o que estamos começando a viver juntos. Não sei o que
o destino reserva para esta relação, pois ela ainda não tem ideia de que sou um
dominador, porém, independentemente disso, o mais importante é o que eu estou
sentindo e que sei que ela retribui. Entre nós, existe química, assunto e
emoção!
Para retirar esse frio que
tomou conta de meu peito, resolvo ligar para ela, apenas para que sua voz
quente e gostosa aqueça-o novamente, com seu humor inteligente. Meu celular
chama várias vezes, sendo que chego à conclusão de que a tal reunião é
verdadeira. Mas, finalmente, ela atende.
− Oi, Carlos! Tudo bem? Sou
obrigada a lhe apresentar a Patrícia séria e que fala baixo e elegantemente por
estar rodeada de gente...
Na mesma hora, como
imaginei, meu coração já me aquece, embora tenha a impressão de que sua voz não
está diferente não porque está falando baixo e de maneira elegante, mas, por
estar abafada pelo choro. Mas, como não quero ficar dando asas a pensamentos
sinistros e sem propósitos, entro no clima que ela dita.
−Olá, pequena! Não canso de
lhe dizer que você vive surpreendendo-me e, até o momento, gostei de todas suas
facetas que me mostrou até agora! Espero que sua reunião não seja uma daquelas
tediosas em que as pessoas falam e não resolvem nada...
−Carlos, tenho que desligar
mesmo, sinto muito! Só posso dizer-lhe que, sempre que participo de reuniões
assim, para espantar o tédio, imagino todo mundo nu e as peculiaridades de seus
corpos, o que faz com que fique divertido rapidinho, pois nem sempre as pessoas
que comparecem são um monumento de beleza... Isso possibilita um farto material
para a imaginação que, muitas vezes, deixa-me numa situação constrangedora ao
me esforçar para conter a vontade de rir... Beijos molhados, garanhão!
Ela desliga, sem nem mesmo
esperar que eu diga algo e fico gargalhando sozinho, feito um bobo!
Ela é impulsiva,
desafiadora, tem um humor sagaz que, quase sempre, usa de maneira sarcástica,
não sendo necessário nem que eu acrescente nada ao que diz, dado o clima
engraçado que ela cria e que me proporciona boas gargalhadas. Não existe um
minuto de rotina ao seu lado! Por este motivo, não quero desperdiçar nosso
tempo com pequenos fantasmas. Nunca tive problema em sair com alguém por mais
de uma vez. Para mim, enquanto rola diversão e se estamos bem em estar um com o
outro está tudo bem. Mas, da parte dela, confesso que não entendo o motivo de
ela olhar-me com tanto receio quando faço menção a qualquer planejamento futuro
que envolva a nós dois. É por ainda não ter decifrado esse enigma que tenho
esperado tanto tempo para dizer a ela quem eu sou. Como disse o Cazuza, “as coisas boas chegam com o tempo e as
melhores chegam de repente”.
− Tem cola na xícara?
Saio do meu devaneio e
percebo que o café acabou e eu ainda estou com os lábios na xícara, como se a
borda de porcelana fosse seus lábios. Olho para cima e vejo o Nandão, que
entrou na minha sala sem eu nem mesmo perceber.
− Refletindo tudo o que
tenho para fazer ainda hoje.
Nandão lê minha mente.
− Por acaso, tudo o que você
tem a fazer hoje tem a ver com cordas, pregadores, plugues?
− Você é um puto, né?
− Nasci para ser puto e não
doutor! E acho que é justamente por isto que sei o que fez a cola grudar seu
bocão na xícara. Se fosse um doutor, teria que analisar seus pensamentos e
estes, amigão, com certeza diriam que você está perdido.
− A palavra certa é
desorientado.
− Uma boa definição para o
termo apaixonado...já vi várias palavras serem usadas para expressar o fato de
um homem estar de quatro por uma mulher, porém, desorientado é nova para mim!
E, falando em estar de quatro, se tiver algum problema com esta posição, deixa
ela comigo uma noite, que a doméstico direitinho para você – ele provoca e,
pela primeira vez em todo o tempo que somos amigos, sinto as juntas dos meus
dedos, doloridas pela força com que seguro a haste da xícara, a fim de me
impedir de virar um soco na cara dele por mencionar o que ele poderia fazer com
ela.
−Os dentes vão bem? – rosno,
entredentes − Não acho que esteja querendo comprometer a sua renda com uma
visitinha inesperada ao dentista. Além disso, pelo que imagino, ficaria muito
esquisito para alguém como você, que se diz um dom, aparecer sem os dentes para
suas submissas. E mais, seu trabalho junto com o Sérgio começa amanhã cedo, de
forma que teria que ficar desdentado até que descobrisse o que está
acontecendo.
− O negócio está mais sério
do que eu imaginava – ele levanta os braços, em rendição – Retiro minha
proposta! Não que eu acredite que você teria a menor chance de chegar perto da
minha boca, mas, sei respeitar os sentimentos de um amigo. Quanto à nossa
investigação, eu e o Sérgio seguiremos a rota amanhã. Decidimos começar já,
quando há a saída do produto da fábrica, uma vez que a cerveja bock, produto
pelo qual vem tendo a alteração do paladar, é fabricada da mesma forma para o
mercado nacional e internacional.
O melhor da nossa amizade é
que um sabe até onde pode chegar com o outro, sempre respeitando nossos espaços
e limites. Acabamos almoçando juntos e o assunto Patrícia não é mencionado, novamente,
por nenhum de nós dois. Esse acordo de cavalheiros sempre fortaleceu nossa
amizade.
Passo o resto da tarde em
minha mesa, cheia de trabalho, assinando contratos e, depois, realizando mais
uma reunião, desta vez com o departamento de marketing, que é um dos poucos
departamentos com o qual faço questão de me reunir duas vezes por semana. Sei
que, no mercado cervejeiro, não existem consumidores que possamos chamar de
fiéis, motivo principal de este departamento ter que correr com as pesquisas
mercadológicas diárias. Uso muito as teorias de Philip
Kotler[3],
um dos autores mais renomados da área de marketing, na atualidade. Para ele: "Marketing é um processo social e gerencial
pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação,
oferta e troca de produtos de valor com outros". Aqui,
trabalhamos com os famosos quatro “Ps” e
um Q, que são: Produto, Preço, Praça, Promoção e Qualidade. Exijo que nosso
departamento de marketing trabalhe para entender o consumidor e oferecer o melhor
produto, a um preço certo (e isso gera pesquisa de mercado), no local certo,
com a promoção certa, porque não podemos errar. O mercado existe, os produtos
são ótimos, então, o que resta a esse departamento é a obrigação de conquistar
o consumidor.
Saio do escritório às 17h em
ponto. Sinto-me como um profissional com uma carga horária cumprida. Passo em
minha casa e pego uma pequena muda de roupa, que pedi para Dolores deixar
pronta. Na verdade, minha intenção era não precisar continuar a fazer isso, mas,
em todos os dias da semana, acabei tendo que cumprir o mesmo ritual de passar
apressado em meu canto de paz apenas para pegar uma muda de roupa e deixar a
usada para ser lavada, porque nem a pau que vou arriscar-me aborrecer a
Patrícia sendo folgado, deixando roupa suja para ela lavar. Tenho um monte de
roupas no meu apartamento de São Paulo, porém, acho que seria maior desperdício
de tempo ir até lá, com o trânsito terrível daquela cidade, do que vir buscar
aqui.
Quanto a isso, nem sei se a
minha quimera deu-se conta, mas, devagar, tenho deixado alguns objetos
pessoais, bem como um blazer na cadeira da sala de jantar e, se percebeu,
tampouco sei se ela está confortável com isso, mas, esse foi um jeito sutil de
lhe mostrar que vim para ficar. Não quis arriscar-me a deixar roupas, com
receio de que ela pense que estou procurando uma lavadeira e passadeira. Por
isso é que escolhi deixar pequenos objetos, como um relógio, um dia, um cinto,
no outro, um shampoo, no seguinte, com a única e exclusiva intenção de marcar
território.
Nas diversas vezes em que
conversamos, mesmo pelo pouco que se abriu, percebi que ela nunca viveu um
relacionamento em que um homem tenha deixado sequer um lenço em sua casa. E, o
melhor de tudo, é que ela nunca deixou nenhum bastardo dormir em sua cama,
aliás, pelo que pude entender, nas vezes em que se referiu a eles como os seus
malditos boys magias, é que ela nunca fodeu com nenhum deles lá. Este
sentimento de exclusividade pode ser pré-histórico, mas, que se foda o que isto
pode representar, porque, no momento, o que mais me importa é mostrar a ela que
conseguiu fisgar cada parte do meu corpo, mesmo que continue usando frases para
me alertar a não pensar no amanhã, aliás, o que acabou virando um mantra em
nossos dias de convívio...
No trajeto para São Paulo,
fico imaginando em como seria ficar em Cabreúva, esperando-a vir até minha casa
para me ver. Tenho certeza de que os minutos de incertezas foderiam meus
nervos. Com ela, nada é certo e essa incerteza, que dita o tom de nosso relacionamento,
deixa-me confuso, pois não sei mais se o que está atraindo-me é este momento do
talvez ou as perguntas sem respostas, dúvidas sem esclarecimentos. Não sei se
isto é suficiente para me fazer esperar para sempre. Mas, uma coisa é certa,
seu bom humor e espontaneidade fazem-me levitar.
Não sei se os meus
pensamentos estão tão enrolados ou se o fluxo do trânsito está tranquilo, mas,
não sinto o tempo passar e, às 18:47h, já estou dentro do meu flat, aqui em São
Paulo, começando a contar os minutos para ir buscá-la para o nosso jantar na
casa dos Ladeias.
Como diz o ditado... Cabeça
vazia, oficina do diabo. Não me contenho e faço o que prometi a mim mesmo que
evitaria fazer durante a semana toda, porém, tenho a desculpa de que foi ela
quem falou primeiro hoje. Enquanto vou arrumando-me, vou falar com ela.
Dom Leon:> Boa noite, pequena!
Sinto o celular vibrar, em segundos.
Patricia Alencar Rochetty:> Boa noite, senhor “aproveite o momento”!!!
Nem tanto, considerando-se que fico cada dia mais preocupado em descobrir como manter você em meu futuro...
Dom Leon:> Muito trabalho hoje? Você melhorou? Como você está exatamente agora? Não quer mesmo se desnudar para mim?
Patricia Alencar Rochetty:> Em que sentido? Ficar nua ou está referindo-se ao meu estado emocional? Kkkkkkkkkkkk
Desaforada... Que história é
essa de fazer referência a ficar nua? Então, sai comigo, mas, pergunta para
outro se ele quer saber se ela quer ficar nua para ele!
Dom Leon:> Perguntei do estado emocional, mas, como você despertou o leão que habita meu ser, que se danem as suas emoções! Agora, o que me interessa é apenas saber a cor da renda que cobre o seu corpo macio ou o que o cobre, mesmo que seja apenas sua pele.
Cruzo os dedos para ela não
ser ousada porque, caso o seja, vai sentir, hoje à noite, o peso das minhas
mãos, sem chance de escapatória.
Patricia Alencar Rochetty:> Bom, querido amigo curioso, só para alimentar a sua imaginação fértil, vou dizer-lhe que estou seminua e a cor da renda é branca. Porém, como sei que você refere-se ao meu estado emocional, estou mesmo me sentindo nua, pois é o efeito que você causa em mim, ao conseguir com que eu seja sincera e desabafe minhas angústias como não faço com ninguém. Respondendo, objetivamente, confesso que estou sentindo-me a pessoa mais confusa deste mundo.
Confuso estou eu! Ao mesmo
tempo em que fico com raiva por ela estar dizendo a outro homem que está
seminua, sinto o meu pau acordar imaginando a cena dela, com sua pele dourada,
apenas de lingerie branca.
Dom Leon:> Adoro uma calcinha branca, ainda mais quando ela contrasta com as marcas vermelhas causadas por meus dedos, na carne macia... queria muito, pequena, debruçá-la em meu colo, agora, e deixar sua pele preparada para mim. Mas, por hora, conte-me por que tanta confusão?
A curiosidade ainda me mata!
Ela desperta um misto de sentimentos em mim e fode com os meus sentidos.
Patrícia Alencar Rochetty:> Aiiiii, acabo de sentir a ardência, aqui, nas minhas nádegas. Está querendo deixar-me mais confusa, Dom Leon? Assim não consigo pensar!
Então, com o seu amigo
virtual você mostra-se aberta a palmadas, né? Vamos mudar esta situação, hoje,
minha pequena quimera.
Dom Leon:> Você provoca porque não me conhece. Caso me conhecesse, não ousaria fazer tal provocação. Porém, como disse a você antes, tenho um caderninho onde estou anotando todas as suas impertinências. Posso garantir-lhe que, quando nos encontrarmos, ficará uns bons dias sem poder sentar-se. Ainda não me respondeu o motivo da confusão.
Olho no relógio e, entre
perguntas e respostas, vejo que ficamos por mais de 40 minutos conversando. Fecho
o último botão da camisa e sigo até o elevador, indo ao seu encontro.
Patricia Alencar Rochetty:> Digamos que este dia pode não chegar, ainda mais porque eu já sei que você quer apresentar-me ao clube do chicotinho, só que, vamos combinar, Dom Leon, meu bumbum não é território para pancadaria, sendo assim não tenho a certeza de que suas mãos teriam a chance de fazer meus glúteos mexerem-se. Os motivos de estar sentindo-me confusa conto-lhe outra hora, pois tenho um jantar com o principal motivo desta confusão.
Destravo a porta do carro e
fico olhando sua resposta, mesmo sabendo, sem ser pretensioso, que o motivo sou
eu. Preciso saber mais.
Dom Leon:> Você está gostando dele?
Torço pela resposta
afirmativa, pois sinto que sim, que ela gosta de estar ao meu lado, mas, ela
admitir isso já é uma outra história. Dirijo, pelas ruas, ao seu encontro.
Patricia Alencar Rochetty:> Acho que mais do que eu queria e deveria.
Sinto-me um adolescente ao
ler palavras positivas quanto aos seus sentimentos. Será que ela tem alguma
dúvida sobre o que eu sinto? Encosto o carro para responder a ela.
Dom Leon:> E ele gosta de você?
Engato a marcha, satisfeito!
Como gostaria que, ao menos por um dia, ela pudesse ver as coisas sem tantas
objeções, mas, aberta ao que está sentindo.
Patricia Alencar Rochetty:> Hoje, você está muito curioso. Conto tudo depois, porque você fez com que eu me atrasasse, sabia? Agora tenho que me maquiar, em 2 minutos, pois ele já deve estar chegando...
Então, apresse-se, pequena,
porque meu pé nervoso acelera, impacientemente, indo ao seu encontro.
Estaciono em frente ao seu
prédio e respondo, como Dom Leon, desejando-lhe um bom jantar e, logo depois de
fechar o chat, ligo, já como Carlos, para avisar-lhe que cheguei. Essa confusão
de dois admiradores em um, qualquer dia, vai levar-me à morte.
− Pronta?
− Desço em três minutos.
A pontualidade dela
encanta-me! Quando diz três minutos, é precisamente o tempo que ela usa. Mal
desço do carro e a beleza em pessoa reluz em meio à penumbra da portaria.
− Caralho!!! – rosno
entredentes. Nem fodendo vou sair com ela, depois do jantar, com a roupa que
está vestindo! Ou seria melhor dizer que NÃO está vestindo. No mínimo, ficará
dentro do apartamento dos Ladeias e, depois, presa em seu quarto, somente
comigo. Ela consegue estar mais sexy do que já vi antes, com seu cabelo solto
fazendo as mechas douradas esvoaçarem, uma camisa transparente branca, que
revela o desenho da renda do seu sutiã, uma saia preta que, para ela pode
parecer saia, mas, para mim, é uma minúscula faixa envolta em seu quadril. Cada
centímetro da sua pele à mostra parece que brilha como uma joia rara, pronta
para ser tocada. Quando olho os saltos negros que está calçando, meu pau pulsa,
imaginando-os cravados em minhas costas, enquanto a fodo com vontade.
− Olá, garanhão!
Não tento esconder o quanto
seu visual agrada-me, puxando-a para meus braços.
− Olá! – digo, baixinho
–Você é a mulher mais gostosa e linda que já vi!
Ela encara-me, respirando
fundo. Parece imune aos meus elogios, como se não conseguisse acreditar que
eles são verdadeiros e que ela não fosse digna de os receber.
− Obrigada por ser tão
gentil.
Aperto-a, levemente, junto
ao meu corpo.
− Não agradeça meu elogio,
porque eles são insuficientes para mostrar como está fodidamente linda! Vamos?
– selo nossos lábios, podendo apenas sentir o toque macio dos dela. Abro a
porta do carro para ela, porque sou da opinião de que atos de cavalheirismo
cabem em qualquer lugar e situação e ela vira-se para entrar.
− Ei, Patrícia! Deixou cair
isto!
Existem razões que até o
coração desconhece, porque, imediatamente, meu sangue ferve quando vejo o dono
da voz grave que chama seu nome. O cara é um desses bombadinhos, ratos de
academia e, pela forma que vem caminhando em nossa direção, parece zombar de
mim, estampando, na cara, um ar de conhecimento, como se querendo dar a
entender que ela já esteve em seus braços.
Ela, que já está entrando no
carro e acomodando-se, tira a perna de dentro para ficar de frente para ele,
que se aproxima, de mãos abertas, para lhe entregar as chaves.
Meu instinto fala mais alto
e que se fodam os bons modos, pois meu lado macho alpha toma a frente e pega as
chaves da mão dele.
− Obrigado, cara! − não a
deixo falar nem agradecer, ajudando-a a voltar a se acomodar no carro e
fechando sua porta. Ainda, para marcar mais o território, acrescento – Estamos
atrasados. Passar bem.
Respiro fundo e entro no
carro, acomodando-me no banco. Ela está fechando o cinto de segurança e nossos
dedos esbarram-se.
− Para um empresário de
sucesso, que se relaciona com autoridades nos eventos que patrocina, você é
muito mal-educado. O que foi isso?
− Quem é ele? – pergunto,
seco.
− Meu vizinho – ela responde
de maneira mais seca ainda.
Ela não me responde o que
quero saber e o ódio deixa-me cego.
− Você dormiu com ele.
Mal acabo de fazer tal
afirmação, já me arrependo de ser tão direto.
− Não, eu não dormi com ele.
Eu transei com ele!
Estas duas frases atingem-me
como um soco na boca do estômago! Sabia que esse dia poderia chegar, quando
encontrássemos algum ex dela, porém, a semana toda tem sido tão intensa e ela
parecendo estar tão desapegada do passado, que não me preparei para esse tipo
de confronto. Sim, porque, para mim, ficou muito claro seu olhar de desprezo
quando, de maneira ainda mais direta que a minha, ela afirmou já ter passado
pelas mãos dele. Como se ainda não tivesse sido suficientemente grosseiro e
ogro, ainda digo mais.
− Sim, isto é diferente
mesmo... Vizinhos e amigos de foda! Conveniente, não?
− Apesar de não ter nenhuma
obrigação de lhe dar qualquer satisfação, vou deixar bem claro, para que não
fique dúvida nenhuma quanto à minha posição diante de sua atitude de
neandertal. Em primeiro lugar, não tenho amigo de foda, pois, com uma única
exceção que, coincidentemente é você, só transo uma vez com qualquer boy magia
que me apeteça. Em segundo lugar, essa regra valeu para meu vizinho também, uma
vez que ficamos juntos apenas uma vez, logo quando ele mudou-se para o prédio
e, depois disso, limitamo-nos a ser o que somos, ou seja, vizinhos. Em terceiro
lugar, não dou o direito a ninguém, ouça bem, a ninguém de se considerar meu
dono, porque não sou um objeto que pode ser possuído. Portanto, nem meu vizinho
nem você nem meus boys magias podem ser considerados meus amigos de foda!
− Imagino que não,
considerando-se que você segue, magistralmente, sua regra de espantar todos os
que se aproximam de você.
− Bem, como diz o ditado, a
exceção confirma a regra, uma vez que estou com você por mais de uma vez, não
é? E você acaba de me fazer ter a certeza de que sempre estive certa em manter
minha regra... − ela para de falar e vira o rosto para a vidro, como se
estivesse excluindo-me de seu mundo.
Ficamos em silêncio, por
alguns segundos. Ligo o carro e, tão logo como veio a raiva, volto à razão e
minha consciência mostra-me o quanto fui indelicado, bruto e injusto com ela.
E, obviamente, vem a percepção de que, arredia e escorregadia do jeito que é,
vai usar isso como uma justificativa para se afastar de mim. O burro aqui lhe
deu o argumento perfeito! Bem, como sempre, sou persistente e não desisto fácil
do que quero e sei que a melhor estratégia é ser sincero e admitir que não fui
nada racional.
− Patrícia? − ela não me
olha – Por favor, desculpe-me! De fato, fui um idiota.
− Foi – responde, com a voz
magoada.
− A meu favor, a única coisa
que posso dizer é que fui pego de surpresa! Sei que não tenho o direito de
questionar e cobrar qualquer coisa relativa a seu passado, mas, não esperava
deparar-me com alguém que tocou seu corpo, que a teve antes de mim e que ainda
está tão próximo a você! Nem refleti o quanto estava sendo grosseiro, apenas
reagi de acordo com meus instintos de macho bruto e ignorante, tentando afastar
o rival. Você é tão delicada e suave que, em minha cabeça, nem sequer passou um
pensamento de você relacionando-se com um cara que parece só se preocupar com
os espelhos que estão à sua volta, para ver se os músculos estão definidos.
− Talvez eu goste de homens
assim – ralha comigo, mas, com a voz já não tão zangada quanto antes.
− Imagino que deva gostar
mesmo de tipinhos assim – digo, irônico −, porque, para você, fica bem mais
fácil, com a sua língua inteligente, dispensá-los sem maiores reclamações, pois
a falta de cérebro faz com que eles demorem para entender que você está
descartando-os, acho que só percebendo isso anos depois! Estão tão preocupados
com o corpo, que acabam esquecendo-se da mente – e aí, confirmando que essa
mulher é a coisinha mais surpreendente do mundo, ela vira o rosto para mim, com
a expressão divertida e não mais zangada, e pergunta, zombeteira:
− Minha língua é
inteligente, é?
− E gostosa! – acrescento,
querendo amenizar o clima e afastar de sua mente o ocorrido, sabendo que a cena
que acabei de fazer é muito precoce no que quer que estejamos construindo entre
nós.
− Bem, apenas para constar,
fique sabendo que o Rodrigo não é apenas um corpinho malhado e gostoso...ele é
muito inteligente porque, para o seu governo, joga no meu time, pois, desde
sempre, ele soube que a sua preferência é a mesma que a minha... ele adora
chupar a mesma manga que eu aprecio. Saímos, conforme minha regra, apenas uma
vez, sendo que nós dois rimos muito quando tudo acabou.
− Não foi o que pareceu. Ele
parecia desafiar-me ao me encarar daquele jeito.
Os ânimos estão menos
alterados, nossas vozes mais calmas e eu menos agressivo. E, contrariando todas
as expectativas que podia ter quanto à reação dela, ela cai numa gargalhada
estrondosa e fala, com dificuldade, por causa do riso.
− Para um homem tão
inteligente, você acabou de não usar essa característica para lidar com a
situação... – e ri ainda mais, deixando-me não apenas intrigado, mas, confesso,
com raiva por achar que ela está chamando-me de burro − Ele não estava
encarando você, ele estava pa-que-ran-do você, bobinho!
Fico, por um instante,
olhando, pasmo, para ela até que, contagiado por seu bom humor e risos, acabo
rindo também, diante do ridículo de tudo...
[1]Stakeholder (em português, parte interessada ou interveniente),
é um termo usado em diversas áreas como gestão de projetos, administração e arquitetura de softwarereferente
às partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança
corporativa executadas pela empresa.O termo foi usado de forma mais ampla pelo filósofo Robert Edward Freeman.
Segundo ele, os stakeholders são elementos essenciais ao planejamento estratégico de negócios.De maneira
mais ampla, compreende todos os envolvidos em um processo, que pode ser de
caráter temporário (como um projeto) ou duradouro (como o negócio de uma
empresa ou a missão de uma organização ). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Stakeholder .
[2]Henry
Roth (Adam Sandler) é um veterinário paquerador, que vive no Havaí e é famoso
pelo grande número de turistas que conquista. Seu novo alvo é Lucy Whitmore
(Drew Barrymore), que mora no local e por quem Henry se apaixona perdidamente.
Porém há um problema: Lucy sofre de falta de memória de curto prazo, o que faz
com que ela rapidamente se esqueça de fatos que acabaram de acontecer. Com isso
Henry é obrigado a conquistá-la, dia após dia, para ficar ao seu lado.
[3]Philip Kotler é um professor universitário estadunidense, que foi selecionado, em
2005, como o quarto maior guru de negócios pelo Financial Times e considerado pelo
Management Centre Europe "o maior dos especialistas na prática do marketing." Em 2008, o Wall Street Journal listou-o como a sexta
pessoa mais influente no mundo dos negócios.Ele apresenta seminários, em vários
grandes centros, ao redor do mundo, sobre os últimos desenvolvimentos do
marketing. É considerado um dos mercadólogos mais importante da história.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Philip_Kotler.
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