Patrícia Alencar Rochetty...
Acho que o garanhão ainda não percebeu que, comigo, a fila anda e a catraca gira. Essa crise de ciúmes, misturada com a minha indecisão, faz com que esteja por um triz eu mandá-lo para o final da fila...
Tudo bem que, antes do infeliz episódio, ele fez com que eu sentisse-me uma linda mulher... só faltou eu sair na rua e os passarinhos pararem de cantar e começarem a me aplaudir... Mas, isto não faz com que eu tenha a ilusão de ser a mais linda mulher e, iludida, aceite qualquer tipo de comportamento dele, como se porque, ao chegar ao shopping, o fato de a porta abrir-se, instantaneamente, para mim, fizesse com que eu acreditasse que estão tratando-me como uma pessoa importante e, por isso, como agradecimento, devo concordar com qualquer coisa que aconteça lá! Nenhum elogio ou cortesia pode cegar-me para essa lamentável demonstração de macho alpha, que não me ilude, porque ele foi, na verdade, um ogro! E um ogro que está despertando em mim uma sucessão de emoções, que me levam a quedas livres e sensações perigosas.
Com tudo isso, percebo que estou, pela primeira vez, experimentando o deslumbramento inicial comum a um relacionamento novo e sei que o próximo nível é a etapa da intimidade madura, com os sabores bem variados que dela podem resultar, entretanto, para mim, é, também, a mais perigosa, sempre evitada por mim. O Carlos está conseguindo manter-me distraída e com as defesas tão baixas, a ponto de eu, até agora, ter ignorado todos os sinais de perigo, coisa nada comum a mim.
Claro que houve um tempo que não fui assim, mas, uma criança inocente. Nessa época, quando alguém perguntava sobre meus sentimentos, eu abria meus bracinhos para mostrar o quanto eu amava alguém... hoje, meus braços não conseguem abrir-se mais, impedindo que eu seja capaz de ver o quanto podem ou não ser profundos meus sentimentos por alguém. Salvo meus amigos e minha família, com os quais, se eu tiver vontade, abro e estico tanto meus braços, a ponto de virar a mulher elástico de tanto contorcionismo que farei para lhes mostrar o quanto eles são especiais para mim! Mas, isto se resume apenas a eles, não há nada para ninguém mais. Cada um de nós sabe o quanto o próprio coração pode aguentar e, no que diz respeito ao meu, foi cicatrizado com doses homeopáticas de acontecimentos que não estou preparada para viver novamente! Claro que tenho algo de bom para oferecer a alguém, mas, provavelmente, não é o que, talvez, esse alguém precise e necessite.
− Chegamos.
Sinto sua mão quente deslizar por minha perna, que está fria por causa do ar condicionado. Dou um sorriso cúmplice para ele, que me olha com pontos de interrogação.
− Então, vamos conferir os dotes culinários do Doutor Delícia. Ele costuma dar um show na cozinha. Quero ver se você estará à altura de todo o seu ritual.
− Duvidando da minha competência, pequena? – ele debruça-se sobre meu banco e solta meu cinto de segurança, passando a mão em todos os locais do meu corpo por onde o cinto passa.
A pele de minhas pernas fica arrepiada, meu ventre contrai-se e o Sr. G, claro, faz-se presente, dando fisgadas maliciosas. Ele está tão próximo de mim, que minha boca saliva por causa do desejo de beijá-lo. Este homem suscita, em mim, emoções perigosas, que vão, em segundos, de um extremo ao outro, pois, num momento, quero afastar-me dele, o mais rápido possível, pouco tempo depois, quero-o dentro de mim para sempre.
− Quero poder, um dia, tirar esta ruguinha que tenho visto no meio das suas sobrancelhas – ele aproxima seu rosto do meu e meus lábios abrem-se, desejosos, mas, ele não beija a minha boca, que implora por ele... vai além, beija a linha de expressão da minha testa, carinhosamente – Esta semana tem sido muito especial. Mas, nunca a palavra “muito” foi tão insuficiente para representar a vontade de estar com uma pessoa especial como você. Permita-me entrar apenas um pouquinho, aqui – ele desce sua mão até meu peito, sinalizando que é onde ele quer estar.
Tenho vontade de gritar que ele já está aqui dentro e que é exatamente por isto que esta ruguinha anda marcando a minha expressão. Mas, em vez disso, brinco com a situação.
− Pensei que preferia estar aqui dentro – ponho a minha mão em cima da sua e desço ambas até a parte abaixo de meu ventre, numa clara indicação de que, para mim, nossa relação é apenas sexual.
A minha ousadia torna-o sedento e ele toma minha boca, com um beijo cheio de promessas. Se não tivéssemos o jantar para comparecer, provavelmente, essa brincadeira rolaria no carro mesmo, mas, na sintonia em que estamos, paramos de nos beijar e, sem falar nada, descemos do carro.
Restabelecidos e cheios de brincadeiras, enquanto o elevador passa pelos andares inferiores ao do casal Doriana, assim que chegamos, mal apertamos a campainha e a porta é aberta.
− Bem-vindos – a Barbarela diz, abrindo a porta com um sorriso de boas-vindas, nos lábios, que aumenta quando vê que o bonitão está com um buquê lindo na mão. Este homem pensa em tudo, pois ele trouxe flores para a minha amiga, uma cerveja especial para o Marco e bombons para as crianças. Ela aceita as flores e agradece por elas.
O Carlos estende a mão para cumprimentá-la, mas, ela ignora-a, preferindo abraçá-lo, calorosamente. Rio ao ver o quanto ele fica sem graça, sendo esta a primeira vez que o vejo sem jeito.
Assim que entramos no apartamento, estranho a calmaria do lugar.
− Onde estão meus pequenos príncipes?
− Meus pais chegaram de viagem hoje e imagine se não passaram por aqui e já sequestraram as crianças! – diz o Marcos, saindo da cozinha, enxugando as mãos no avental – Aí, Carlão, a minha sereia separou um uniforme para você também.
− Fiz a lição de casa, estudando a semana toda a sua receita – ele brinca com o Marcos. Os dois aproximaram-se muito nesta semana. Sei que até criaram um grupo entre eles, no whatsApp, mais o Nandão – Trouxe uma moreninha, que foi como apelidamos nossa cerveja escura, para combinar com seu prato. O sabor dessa cerveja vem de um malte mais tostado e um pouco mais adocicado, portanto, vai combinar muito bem com o grelhado.
Eles seguem para a cozinha e um certo olho de águia observa-me como se eu fosse uma formiguinha sobre um prédio de 10 andares. As águias podem ver até cinco vezes mais do que a média de um ser humano e é justamente esse poder de visão que a Bárbara tem.
− Patty, você está bem?
Olho para baixo, tento alisar a saia e até mesmo limpar uma sujeira imaginária do tecido, antes de olhar para ela. O que aconteceu hoje foi muito intenso, não pela crise dele de ciúmes, ou seja lá o nome que se queira dar ao que houve, mas, porque tenho a certeza de que, caso as posições fossem invertidas e alguma gostosona aparecesse chamando-o, na porta do prédio, eu teria tido a mesma reação. E este tipo de sentimento assusta-me! Não gosto de imaginar que um sentimento tão puro, chamado pelos apaixonados de amor, possa causar reações tão contrárias ao que representa essa palavra.
Levanto os olhos e lá está a carranca de curiosidade marcando sua testa. Eu não posso falar com ela sobre meus fantasmas, agora! Somos amigas, há anos, e não vai ser agora que vou dizer nada. Este assunto é meu e está enterrado. Tento agir com normalidade.
− Estou – levanto a sobrancelha e os ombros, sinalizando que não entendi o teor da pergunta.
− Você está estranha! Não parece a mesma Patty com a qual falei hoje! Cadê o sorriso do Coringa e do bocão de botox.
Definitivamente não sou mesmo! O Carlos está forçando todos os meus limites, durante a semana toda! E, se eu ainda tinha alguma dúvida sobre o que devo fazer, hoje, por diversas coisas, tirei a prova dos nove. Um arrepio corre pela minha espinha, sinto um aperto no coração, a boca amarga e vem uma vontade incontrolável de chorar! De novo! Respiro fundo e mudo de assunto radicalmente.
− Liguei para minha mãe, hoje à tarde, e ela disse que ficou feliz por eu ligar porque já estava querendo falar comigo para me pedir para ir visitá-la o mais rápido possível – conto uma meia verdade – Como ela recusou-se a dizer os motivos, fiquei preocupada e decidi que, segunda-feira, no primeiro horário, embarcarei para lá.
− Pela pressa que você está mostrando, creio que o prefeito construiu um aeroporto, na cidade, só para receber seu voo, né? − entendo o tom da sua brincadeira e não gosto! Que saco... ela já me enjoou com essa história de insistir para namorar todas as vezes que me vê com algum homem! E sei, também, que ela pensa conhecer os motivos, pelos quais, estou indo tão rápido para aquela cidade no meio do nada.
− Você não é Ave Maria, mas, é cheia de graça, né? – ralho, mal-humorada − Fala sempre com esse tom esnobe só porque na sua cidade de origem, além de ter um aeroporto, seu papaizinho tem um jatinho estacionado em um dos hangares.
− Ei, será que a pessoa que tomou conta desse corpo pode ir embora e devolver a minha amiga? − ela olha horrorizada para mim e percebo sua nítida indignação – Quando foi que fui esnobe com você? – ela fala, um pouco alterada.
Passo as mãos pelo cabelo.
– Desculpe-me, Bá! Acho que a TPM pegou-me em cheio e não sei o que ela está fazendo comigo.
− Pois eu sei! Está apaixonada pelo bofe e está borrando-se de medo... Admita, Patrícia! Se não para mim, ao menos para si mesma. Só não se torne uma pessoa amarga para afastar o mundo de você, apenas para sofrer sozinha. E quer saber mais? Você vive nesse mundo de mentiras, no qual acredita que é autossuficiente e finge que acredita nisso.
− Não fale besteira! – será que ela tem razão? Minha cabeça parece que vai explodir, isso reforça ainda mais minha convicção de que tomei a decisão certa de me afastar por alguns dias. Tenho certeza de que isso me fará bem. Para ela, pode parecer fuga, para mim, é trabalhar e conviver com meus fantasmas. E já é tempo de mudar de assunto, pois esta discussão não vai levar a nada – Minha mãe mandou-lhe beijos.
− Mande outros para ela – diz, seca.
− O cheiro está ótimo! Adoro o aroma da mistura dos temperos com alho e cebola fritando – tento reestabelecer a harmonia.
− Eles estão caprichando – ela mexe em cada porta retrato que está no aparador. Percebo que ela está magoada comigo. Aproximo-me dela e digo, baixinho.
− Desculpe-me, amiga! Há muitas coisas que não tenho como lhe falar porque nem eu mesma as entendo muito bem. Mas, posso garantir-lhe que estou, ao menos, tentando passar mais tempo com ele do que apenas uma noite, ok? E, no que diz respeito a mim, você sabe que já é uma grande concessão, hein? Mas, embora nunca tenha tido ilusões quanto ao homem ideal para mim, porque não acredito que exista isso, com certeza, se tivesse pensado, este não seria o Carlos, que é, na verdade, totalmente oposto! Uma mulher como eu, que sempre teve as rédeas de tudo o que se relaciona à própria vida, não tem condições de manter um relacionamento sadio e envolver-se com um homem como ele, que tomou o controle de minhas mãos, sem nem mesmo eu saber em que ponto soltei-o e deixei que ele começasse a conduzir. Ele consegue surpreender-me a cada minuto, enxerga quem eu sou e dá o que preciso, no momento em que necessito. Não estou preparada para tudo isto.
Abraçando-me, ela afaga meus cabelos e diz, com carinho.
– Menina, você é a única pessoa que conheço que não está preparada para ser bem tratada por um homem... Patty, entregue-se ao que está sentindo! Permita-se ser feliz.
Sorrio para ela e, nesse momento, os meninos aparecem com as travessas na mão.
− Lá vamos nós sair da dieta.
− Vamos gastar as calorias depois do jantar – pisco para ela – Vocês vão com a gente ao bar que mencionei na mensagem que te enviei mais cedo?
− Adoramos rock e uma boa cerveja, então, é claro que não perderemos isso por nada! Afinal, é uma de nossas noites de alforria, pois as crianças estão com meus sogros justamente para podermos sair.
Fico feliz por sair com eles esta noite. Faz muito tempo que não saímos para beber e ouvir uma boa música.
Eles mandaram bem na arrumação dos pratos. As entradas estão lindas de se ver! Uma salada verde, com palmitos e tomates cereja, contém tão bela harmonia que dá dó de desarrumar. O tempero especial de mostarda está no centro da salada e o cheiro da farofa está fazendo meu estômago roncar. O prato principal, um grelhado de vitela de carneiro, está disposto em porções individuais, acompanhado de um molho, que ornamenta o prato, junto com um galho verde por cima da carne. O arroz branco parece que foi esculpido no canto do prato, completando, assim, o prato principal. Cada porção individual, portanto, além de parecer apetitosa, é um show à parte! E, esbanjando na fartura, há mais assado de vitela de carneiro em outra travessa.
Tomamos nossos assentos à mesa, que foi toda arrumada com talheres, taças e copos, organizada, numa linda arrumação, pela Baby, que já havia deixado pronta antes de chegarmos.
− Vocês capricharam – digo, admirada.
− Eu só preparei a comida, a boiolagem dos pratos ficou por conta do detalhista do nosso amigo Carlos.
Olho para ele, que sorri da brincadeira.
− Assim você compromete-me, Marcão! Só quis ser útil, uma vez que você já tinha praticamente preparado o jantar completo.
Tagarelamos e jogamos conversa fora, num bate papo agradável.
− Fale mais sobre seus negócios, Carlos! Deve ser fascinante trabalhar com o mistério da receita de uma bebida que é a paixão nacional – a curiosa quer saber de tudo, ela nunca perde o hábito.
− Realmente é fascinante o cuidado e o preparo das bebidas. Acompanhamos nossos produtos, desde a semente até o momento do líquido gaseificado – ele vai contando um pouco do fascínio que é a fabricação de cada bebida.
− Excitante!!! – suspiro, encantada por ouvi-lo falar. O silêncio cai entre nós e, de repente, estrondosas risadas saem dos lábios de todos que estão olhando para mim. Só então percebo a cara de tonta que devo estampar, proporcionando diversão para todos.
O Carlos olha divertido para mim. O convencido sabe o quanto me afeta, afinal, como não afetaria se é um filho de uma mãe malditamente bom em transar?
− Nossa, gente, qual o motivo da graça? Eu disse que é excitante a maneira pela qual as bebidas são fabricadas! – falo, indiferente, passando o guardanapo na boca.
− Sim, é bem excitante! – o Carlos passa o dedo pela borda do copo, encarando-me. Ele está com o olhar matador que mostra sempre que quer devorar-me. A sensação de descer uma montanha russa invade meu estômago ao imaginar aqueles dedos ágeis tocando-me. O Sr. G desperta! Será que esse cara de pau vai fazer-me passar vergonha na frente dos meus amigos? Cruzo as pernas, nervosa, reprimindo o descarado inconveniente. O Carlos está sentado à minha frente e, discretamente, indica seus dedos cruzados que, ao ter a atenção de meu olhar, ele descruza, numa clara mensagem para que eu faça o mesmo com minhas pernas. Aceno, delicadamente, com a cabeça, negando. A expressão contrariada de quem não aceita uma negativa invade seu rosto, num claro aviso de que, se eu não fizer o que ele quer, vai aprontar algo. Com isso, ele deixa-me insegura quanto ao que poderá fazer na frente dos meus amigos, o que me faz aceitar sua sugestão, descruzando as pernas sem que ninguém perceba o que houve.
− Nós, brasileiros, temos o hábito de combinar, geralmente, vinhos com o cardápio que escolhemos – o Marco comenta.
− Verdade! Os vinhos harmonizam-se muito bem com os alimentos – abro um pouco a perna, para provocá-lo − No entanto, a cerveja também proporciona uma excelente combinação com inúmeros ingredientes e receitas culinárias – ele morde os lábios, levemente, e continua falando −,além de propiciar determinadas características que não estão presentes na maior parte dos vinhos – fecho as pernas, sentindo-me úmida por causa da forma que ele explica tudo para nós, enquanto continua dando olhadas obscenas para mim −,como a carbonatação, que limpa e ativa as papilas gustativas e, portanto, como consequência, acentua os sabores dos pratos preparados – provocador de uma figa, tenho certeza de que mencionou isso só porque já me disse o quanto meu sabor agrada suas papilas gustativas – Há, também, o lúpulo que, por seu amargor, torna-se um estimulante de apetite, além de reduzir aquela camada de gordura que fica na boca – enquanto o ouço, minha memória navega pelas lembranças dele degustando a cerveja em meu corpo, na ilha, e cruzo as pernas, novamente, para não dar um vexame e molhar a cadeira.
− Nossa! Não sabia que as cervejas podiam ter suas combinações.
− Pois acredite que as cervejas não são todas iguais. De acordo com a classificação do Beer Judge Certification Program (entidade que certifica juízes avaliadores de cervejas), há, aproximadamente, 100 estilos diferentes de cervejas e, dentro de cada estilo, uma infinidade de marcas. São mais de 400.000 rótulos avaliados pela entidade, quase meio milhão de exemplares diferentes da bebida. Existem várias peculiaridades, como tipo de ingredientes, tipo de fermentação, teor alcoólico, temperatura de serviço, lupulagem, cada um deles fazendo toda a diferença no que diz respeito ao sabor da cerveja, de maneira a que este varie entre os mais diversos estilos. Se ficarmos falando sobre o mundo cervejeiro, passaremos horas aqui e não falaremos de tudo. Imagino que, na contabilidade, os números também exercem seu fascínio... fale um pouco da sua profissão, pequena! Sou curioso para saber como mulheres lindas como vocês suportam a matemática, de maneira tão brilhante.
Todos contam um pouquinho do fascínio de suas profissões, sendo que ele parece aproveitar a situação para saber mais sobre mim, de maneira indireta, quando faz perguntas que vão desde quando eu e a Babby conhecemos uma a outra, como nos conhecemos, chegando até os dias atuais. E por aí vai a investigação. E, claro, a Babby responde tudo diretamente.
− Carlos, você deve ser bem assediado nos camarotes e eventos, não? – a Babby pergunta para me provocar ou, então, meu nível de estresse está tão alto, que me leva a pensar isso.
− Qual é o tipo de assédio que você está perguntando? – ele sorri e complementa – Nem sempre as pessoas sabem quem eu sou, porém, quando elas descobrem, como qualquer ser humano, elas olham para mim de maneira diferente – ele sempre devolve uma pergunta com outra quando não quer ser sincero! Eu fico irritada com isso!
− Ela quer saber se você, nos eventos, degusta todas as mulheres que vê pela frente, já que, por ser o patrocinador, elas devem querer entregar-se ao todo poderoso... – digo, ironicamente, bufando diante da ideia de o imaginar com outras mulheres.
Ele deposita o garfo, que deixou suspenso no ar, com o impacto de minha pergunta direta e grosseira, ergue os olhos e volta a atenção para mim.
– Não, Patrícia, não DEGUSTO nenhuma mulher porque banco um evento. Se e quando as DEGUSTO, é porque elas sentem-se atraída por mim, não pelo patrocinador – percebo a mesma irritação que me invade, em seus olhos, que me queimam, como se ele estivesse penetrando-me, rudemente, com seu pau, para me punir por ser tão indiscreta − Sei diferenciar uma mulher deslumbrada de uma que vale a pena! – a forma dura como ele profere cada palavra faz meu coração clamar pelos seus braços. Sinto uma estranha vontade de sentir a intensidade de sua “braveza”, pulando a mesa e subindo em seu colo para lhe provar que eu valho a pena.
− Que ironia do destino, né, Patty? – o Marco brinca para tirar a tensão do ar – Você está duplamente valendo a pena, pois encontrou o Carlão em dois eventos.
Consigo engolir a comida que estou mastigando há muito tempo, pois o nó que se formou em minha garganta, é desfeito, milagrosamente, com a brincadeira do Marco.
– É, Marco, acho que já estou com dupla vantagem, sim! – tento disfarçar o quanto ele afeta-me e a minha insegurança quanto à afirmação do Marco. Helooo... O que é isto, Patrícia? De onde saiu essa mulher insegura? Questiono a mim mesma.
− Você tem levado vantagem há dois anos, na minha vida! – ele levanta o copo, como que brindando ao que está dizendo-me, olhando-me com um olhar de quem não está brincando e não admitirá contestações de ninguém quanto ao que fala – Apenas não se deu conta disso ainda, pequena! Nada que uma mera questão de tempo não possa resolver... – ele consegue prender meu olhar ao seu, de uma forma que me sinto totalmente incapaz de deixar de fitá-lo, como se tivesse total domínio sobre minha vontade.
Suas palavras, ao mesmo tempo em que me surpreendem, conseguem fazer com que me acalme, mas, não nego, também me deixam nervosa. O assobio da Babby e a resposta de aprovação do Marco apoiando-o fazem com que meu rosto queime e fique vermelho e, confesso, fico sem saber o que responder, algo inédito em se tratando de mim. Este homem deixa-me completamente sem chão e sem reação.
Agradeço aos céus por todos terem terminado a refeição e levanto-me para tirar os pratos da mesa, esquivando-me de acrescentar qualquer coisa.
– Vou retirar e lavar os pratos, pois, se ficarmos aqui, neste bate papo, a noite inteira, não sairemos daqui, hoje, para ouvir uma bela música.
O Carlos e o Marcos ficam conversando entre eles, enquanto eu e a Babby tiramos a mesa, sem dizer nada. Ela conhece-me bem e sabe que estou no meu limite, preferindo não se manifestar.
O que está errado comigo? Porque ele insiste em frisar que faz dois anos que me espera quando, na verdade, sumiu e aceitou, tanto quanto eu, a distância? Justamente por não conseguir entender isso é que esta insegurança repentina invade-me. Mil perguntas que têm apenas uma resposta certa: que o tal do amor, de fato, bagunça a vida e faz mal às pessoas. A ideia de ficar ao seu lado e passar por todos os tipos de sofrimento que andam assombrando-me deixa-me incerta quanto às minhas decisões, porém, a despeito disso, meu corpo anseia por ele...nunca nenhum homem tornou-me tão dependente dos seus toques como ele faz! Bom, o melhor a fazer é o que já decidi, desde que falei com minha mãe, mais cedo, isto é, acabar com este caso o mais rápido possível, antes que eu fique ainda mais envolvida. Essa história de ficar dependente dele é assustadora para mim.
A Babby serve um pudim de leite com calda de damasco, que é sua especialidade. Em seguida, sugiro que sigamos para o barzinho escolhido para nos divertirmos.
– Devemos ir! A banda estava marcada para começar o show às 23h e já perdemos mais de 20 minutos de show.
− Minha sereia, podemos conversar um minutinho? – o Marcos chama a Babby e, juntos, saem da sala de jantar e nós ficamos mudos por uns momentos. Desde que nos conhecemos, nunca ficamos tanto tempo sem trocar palavras ou insinuações. Percebo, nitidamente, que ele ficou desconfortável com o meu comportamento, desde que nos vimos hoje.
− Já voltamos! Comportem-se! – a descarada diz, piscando para nós dois, conforme vai seguindo seu marido.
Convido-o para me seguir até a sala de estar. As almofadas coloridas, que decoram o estofado de couro negro, marcam a linha de decoração, sendo que a mudança da cor foi feita especificamente para que meus pequenos príncipes tenham a liberdade de explorar cada pedacinho da casa. Este foi o tipo de educação que os pais adotaram para as crianças. O calor aquece o ambiente, sinto-me sem jeito e resolvo romper o silêncio.
– Eu não quis ofendê-lo, no jantar – cruzo os braços, inquieta, esperando por sua resposta.
− Patrícia, não estou nem um pouco preocupado com o que você possa pensar do meu passado! – sinto o calor do seu corpo quando se aproxima das minhas costas – O que me deixa realmente preocupado é a forma com que você lida com o nosso presente e rechaça, veemente, qualquer tema relacionado a um possível futuro de nossa relação! – ele sopra as palavras no meu pescoço, colocando meu cabelo de lado, com seu hálito quente. Tento dar um passo à frente para criar um espaço entre nós, mesmo sem conseguir entender porque minha cabeça pede para me afastar, quando meu corpo implora para ficar perto do dele.
− Garanhão, não temos um “nosso” presente... Estamos apenas tendo um bom tempo juntos.
− Resposta errada, pequena, porque eu não vejo desta forma – ele diz, pausadamente − Estive com meu pau dentro de você, a semana toda, e não sou nenhum bastardo que trata as mulheres com as quais estou, como você mesma disse, “tendo um bom tempo”, como se fossem um tanque de esperma – meu coração aperta com a sua declaração. Ele mostra, cada dia mais, o quanto está envolvido nesta breve relação.
Mas, claro que a patética aqui tem que continuar tratando nosso relacionamento de maneira leviana, né?
− Eu teria que ser do tamanho de uma caixa d’água para pensar dessa forma, uma vez que apenas um mero tanque não teria capacidade suficiente para comportar a quantidade de esperma que você liberou esta semana – brinco com a situação.
− Então, pense grande e imagine-se com o tamanho de uma piscina olímpica, pois eu pretendo liberar muito mais disso em você. Uma caixa d´água não será capaz de suportar o que reservo apenas para minha quimera.
Por que ele tem que ser tão malditamente sedutor a todo o momento?
− Vou te contar um segredo, garanhão – viro-me para ele –, eu não sei nadar e posso afogar-me nessa piscina.
− Se depender de mim, estarei por toda a parte com você, afinal, tenho um mergulhador experiente – ele roça sua ereção em mim, que está empurrando o zíper de sua calça jeans justa. Gulosa, enfio as mãos entre os botões da sua camisa turquesa, da cor dos seus olhos – e sou muito bom em respiração boca a boca, fiz os melhores treinamentos de primeiros socorros – em vez de terminar de falar, ele tira meu fôlego ao tomar minha boca, impedindo-me de ter qualquer pensamento.
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