domingo, 17 de maio de 2015

Sr. G - Capítulo 24 - 1ª Parte


Patrícia Alencar Rochetty


Nossa Senhora das Mulheres Extenuadas por Sexo!! Esse homem tem elevado a palavra sexo a uma categoria totalmente incrível, a qual nem sei como nomear! Acho que tudo o que não gozei até os meus 28 anos, ele conseguiu compensar, nas poucas semanas em que estamos saindo juntos! Já tive tantos orgasmos que, se não transar nunca mais na vida, já me darei por satisfeita deste breve período que vivi com ele! O que vivemos ontem à noite, no flat dele, então, está muito além de qualquer classificação. E, de manhã, foi engraçado vê-lo preocupado com a roupa que eu vestiria para virmos até a minha casa, uma vez que as minhas estavam arruinadas pela nossa fúria sexual... Ele saiu para comprar outra roupa para eu vestir, pois rechaçou, veementemente, minha sugestão de vir com uma de suas camisas e uma boxer dele! Disse que só ele poderia ver-me vestida assim, o possessivo!

Para ele, como não desmenti o que falei quando me convidou para ir com ele para Cabreúva, eu teria uma reunião com um cliente, na hora do almoço. Então, tive que vir para casa e sair, enquanto ele ficou aqui, esperando que eu voltasse. Tão logo cheguei, mal acabei de entrar no apartamento e este deus da perdição já me atacou... u lá lá...

Mas, na verdade, estou arrependida por falar que tinha esse almoço fictício só para não ir para a casa dele. E, agora, estou mais ainda, porque procurei não mentir em nada para ele e acho que não deveria ter feito isso naquele momento! Bastava dizer que não achava que era conveniente ir e pronto! Também não lhe disse, ainda, que, depois de amanhã, viajarei de férias para a casa dos meus pais.

Este último pensamento faz com que uma profunda tristeza invada-me. Sim, tristeza... olho para ele, ressonando ao meu lado, sua presença tomando conta do meu quarto, o qual nunca mais será o mesmo após ele ter estado aqui. Sei que está chegando a hora de afastar-me dele, mesmo sentindo que isso será a coisa mais difícil e dolorosa que farei na minha vida! Ele está tornando-se muito importante para mim e meus sentimentos por ele estão cada vez mais fortes e difíceis de controlar. Parece que estou cada vez mais envolvida por ele, deixando de ser eu para me tornar, junto com ele, um “nós”. E isso é perigoso! Não quero, não posso e não tenho a menor condição de administrar um “nós” em minha vida. Só de pensar nisso, sinto que suo frio, minhas mãos ficam trêmulas e uma sensação de pânico parece quer invadir-me.

Como se ele pudesse sentir o que está acontecendo comigo, acorda, procura-me e, ao me perceber ao seu lado, sorri da maneira mais linda que já vi. Minha reação é bem típica daqueles que amam! Epa!! Eu falei isso mesmo?!?!? Sinais e alarmes pipocam e berram em minha cabeça, enquanto ele inclina-se sobre mim, abraça-me e começa a salpicar meu rosto com beijinhos, intercalando-os com palavras carinhosas e... aterrorizantes.

− Minha... (beijinho) menina... (beijinho)... quente! Acho que... (beijinho) definitivamente... (beijinho) você tem que... (beijinho)... admitir (beijinho) que é minha... (beijinho) mais querida... (beijinho) namorada... (beijão na boca).

Ele beija-me como se fosse nosso último beijo, tanta é a intensidade que coloca no gesto. E eu correspondo como uma desesperada, que sabe que vai perder a pessoa que abala seu mundo... sim... está na hora de acabar com isso. Deixei a situação chegar longe demais e estou profundamente envolvida com meu garanhão mandão! Se deixar isso continuar, sei que a situação escapará das minhas mãos e posso ser completamente destruída. Não tenho condições de administrar mais o nosso relacionamento. Como se a sentir que algo está acontecendo comigo, ele fala:

− Menina da pinta foda-me, o que passa por essa cabecinha que a está levando para longe de mim? Você não gostou que a chamasse de minha namorada?

Seu olhar é tão carinhoso, tão cheio de doçura e gentileza, que meu coração aperta-se e sinto como se não pudesse respirar. Levanto-me, bruscamente, quase derrubando-o, pois não esperava tal reação de mim.

Olha para mim, com firmeza, e pergunta:

− Patrícia, o que aconteceu para você ficar assim, com essa expressão aterrorizada e toda trêmula? Foi algo que eu disse? 

Sinto como se garras apertassem meu pescoço, tirando meu ar e impedindo-me de falar. Consigo apenas balançar a cabeça, em sinal afirmativo.

− Foi o fato de falar que você é minha namorada?

Novamente, consigo apenas anuir com a cabeça.

− E qual é o problema nisso, minha menina?

Olho-o e sei que, caso conseguisse falar alguma coisa, neste momento, com certeza, cairia num choro desvairado. Ele fica olhando para mim, como se tentando decifrar o que está acontecendo comigo. Com a voz rouca e incerta, ele pergunta:

− Você não quer ser minha namorada, Patrícia? É isto?

Desta vez, o sinal que faço é o de negação. Não conseguirei falar que não quero! Não mesmo! Isso está doendo muito! O terror que sinto é tão grande, que mal percebo o choque em sua expressão.

− E o que é isso que nós estamos tendo, Patrícia? Apenas sexo? – vejo a tensão estampada em seu rosto.

Com uma profunda dor, aceno em afirmativa, uma vez mais. Ele segura firme em meus dois braços e faz com que eu olhe firme para seus olhos, chacoalhando-me.

− Isso tudo que vivemos até hoje é apenas sexo, Patrícia? – ele é bruto e exigente − Você tem coragem de dizer que não há muito mais do que isso? Que o que há entre nós não é um sentimento tão forte e tão intenso, que é impossível imaginar vivermos um sem o outro? Você tem coragem de dizer que não temos isso? − ele precisa de resposta e eu não consigo responder.

Mais um aceno afirmativo de minha parte e vejo que ele fica branco e sua expressão mostra dor, como se ele tivesse sido atingido por algo que o machuca muito. Ele parece não acreditar no que está acontecendo. Na verdade, nem eu, mas, acredito piamente que é a hora de acabar com isso, antes que a situação fuja totalmente do controle e eu não posso mais sair, de tanto amor que sinto por ele!

− Então, eu sirvo para ser seu parceiro sexual, mas, não seu namorado? Que é só sexo o que você espera do nosso relacionamento? – ele, novamente, chacoalha-me e grita – Responda, agora!

Só consigo balançar a cabeça, nada além disso! Nem que fosse para salvar minha vida, conseguiria falar neste momento. A dor é muito grande, mal posso respirar diante do que sei que sinto por ele, mas, mesmo assim, terei que acabar com tudo.

Vejo uma barreira começar a se formar entre a gente e, no fundo, odeio-me por isto.

− Eu não consigo fazer isso...

Sua expressão choca-me, seus olhos estão escuros, parece que a sua pupila dilatou tanto, a ponto de cobrir o mais belo brilho de sua íris. 

− Não me diga que não pode fazer algo sem me falar o motivo, porra!!! O que aconteceu no seu passado? – ele segura-me pelos braços, com toda a frieza do mundo. Meu peito aperta, sentindo medo dele e a única resposta que posso dar, é olhar para ele, com os olhos arregalados de medo. Sim, estou apavorada com o que ele possa fazer comigo!

− Você está com medo de mim, Patrícia!

Eu, uma vez mais, aceno afirmativamente.

− É incrível que, depois de tudo o que vivemos, de mostrar que você pode confiar em mim, você ainda achar que eu sou capaz de fazer algo que possa machucá-la! – consigo sentir a mágoa em sua voz e isso faz com que meu coração fique ainda mais apertado − Defina bem o que eu sou para você, Patrícia! Mas, eu quero ouvir em alto e bom som, para não me enganar. Diga!

Respiro fundo, como se fosse minha última golfada de ar, nesta vida, e só consigo dizer:

− Boy magia...

Na verdade, nem sei o motivo de eu falar isso, pois nunca disse para ele o que eu chamo de boy magia, mas, em minha aflição, misturo o Carlos com o Dom Leon, como se meu garanhão pudesse entender tudo o que eu estou querendo dizer apenas com essas duas palavrinhas. E, o mais incrível, é que ele parece entender, sim, pois me empurra, como se tivesse nojo de mim e estivesse horrorizado por me tocar. Balança a cabeça, como se a clarear as ideias, levanta-se, pega suas roupas, veste-se. 

− Pensei que você fosse diferente... Saiba que me desdobrei para ser especial para você, mas, não se sinta culpada – ele grita – porque o único culpado aqui sou eu, pois você cansou de dizer que não queria nada mais sério comigo! – continua falando, com um tom de voz que nunca usou comigo antes − Nas minhas andanças pela vida, conheci um mundo que pretendia dividir com você, no qual, a conexão entre duas pessoas representa uma entrega, de corpo e alma, tornando-se um sentimento que vai além de qualquer compreensão.

Corto-o, com um tiro de misericórdia, porque não quero mais sofrer, muito menos vê-lo sofrendo! Não suporto isso, estou quase desabando e não posso deixar que ele perceba isso. Preciso fazer com que ele tenha tanto ódio de mim, que nunca mais considere qualquer possibilidade de lutar por nós. 

− Depois de amanhã, entrarei em férias e viajarei para casa dos meus pais.

− Sério mesmo? – cospe as palavras, irônico − E quando imaginou contar-me? Quando estivesse lá? Ligaria para mim e diria: Olha, Carlos, estou aqui, na casa dos meus pais, e quero dizer que foi bom enquanto durou? Ou nem sequer iria contar-me, apenas viajaria e deixaria-me louco sem saber o que havia acontecido com você, jogando a bomba no colo de sua amiga Bárbara a responsabilidade de me dar o tiro de misericórdia? − sem dizer mais uma só palavra, sai do quarto, batendo a porta com tanta força, que até pulo de susto. Momentos depois, ouço uma porta bater, indicando que ele foi embora.

Pronto! Consegui! Parabéns, Patrícia! Você não queria acabar o relacionamento? Vitória! Cadê a alegria por ter cumprido o que se determinou? 

Estou tão entorpecida, que não consigo nem chorar para ver se, ao menos, arranco esta angústia que toma conta do meu peito! Sinto que, se começar, vou chorar por tudo o que reprimi, durante todos estes anos, num cantinho bem escondido da minha mente, fingindo que não podia lembrar-me de todo o horror que vivi. Começo a balançar a cabeça, com força, repetindo, como uma ladainha, para mim mesma.

− Não... não... e não! Não quero lembrar, não quero... por favor, meu Deus, faz com que eu pense em outra coisa, por favor, por favor, por favor...

Não sei como existe céu e terra, dia e noite, tanto quanto não sei dizer como existe o certo e o errado, onde o amor pode causar o ódio. Não sei explicar por que a dor é cravada no meu peito, no momento que estava sendo o mais feliz da minha vida. Há tantas lágrimas querendo sair de dentro de mim, no lugar dos sorrisos que estavam aqui há segundos atrás. Meu coração sangra, sinto uma dor latente queimar meu peito e, em segundos, aquele maldito pesadelo vem aproximando-se cada vez mais, quase me deixando em pânico total.

Num gesto de desespero, pego meu celular e envio uma mensagem para o Dom Leon, para que, quem sabe, ele tirar-me deste túnel de escuridão e dor em que estou mergulhando. Minha mente pede socorro!!!

Socorro!!!



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