domingo, 21 de junho de 2015

Sr. G - Capítulo 27 - 2ª Parte


Continuo lembrando-me de ontem à noite e de como ele carregou-me para a cama e cuidou de mim.

Ele foi incrível! Contou-me coisas de seu passado, com transparência, eu podendo sentir a dor em sua voz e olhos quando revelou ter descoberto, quando sofreu um acidente muito grave, que a mulher a quem sempre chamou de mãe não era sua mãe biológica. A quantidade de contradições em que seus pais caíram com a finalidade de esconderem a sua verdadeira origem também parece ainda ser uma coisa que o deixa muito triste e indignado, pois seu pai morreu levando a verdade com ele. Meu estômago deu um nó, em compaixão. A única certeza dele, até hoje, é que seu pai foi o mais próximo parente de sangue com o qual ele conviveu. De acordo com ele, gostaria de poder saber quem é sua verdadeira mãe, pois os motivos que a levaram a abrir mão dele não necessariamente teriam que ser fúteis e egoístas, mas, por amor. E, se fosse esse o caso, ele poderia conhecê-la e saber se tinha irmãos, parentes, pois só ele era o único remanescente da família do lado paterno. 

Com sua cabeça sobre o meu peito, fiz tanto carinho em seus cabelos, com imensa ternura, que acho que o incentivou a se abrir mais. Fiquei calada, ouvindo-o devanear sobre suas lembranças. Conforme ele descrevia sua mãe de criação, eu ia fazendo um desenho mental nada agradável, na verdade. Ela parece que é uma verdadeira megera superficial, unicamente preocupada com a opinião que a nata da sociedade tem a respeito de tudo e em se manter bem vestida, penteada e cuidada... enfim, uma cadela fútil. Diante da carga emocional que essa descoberta impôs a ele, percebo que desvendar esse mistério lhe é muito importante, isto é, saber de onde e de quem veio, a fim de ter respostas para algumas questões existenciais. 

Acho terrível uma criança, sem irmãos, primos ou qualquer outra referência familiar, não ter tido o amor e amparo da mãe, mesmo que de criação! Olho novamente para meu garanhão que, dormindo, parece tão indefeso e inocente! O que me aliviou um pouco foi saber que, apesar disso, ele sente que foi sortudo por ainda ter tido algumas referências maternas, coisa que nem todas as crianças entregues à adoção têm, através dos cuidados, carinhos e amor da caseira de sua fazenda, a qual trabalha para ele até hoje. Ele disse-me que quando pensa em amor de mãe, na hora lembra-se da D. Maria Dolores. Acho linda a expressão de carinho e afeição que toma conta de seu rosto quando me conta quem foi ela e o que representou na vida dele. 

− Quero muito que você conheça a Maria Dolores – ele diz, olhando para mim – Ela é o oposto da minha mãe... – fica quieto por um minuto e minha mão lépida desliza por suas cotas, em sinal de agradecimento pela honra de conhecer uma pessoa que ele considera tanto – Sempre foi ela quem me acompanhou a todas as festas comemorativas da escola, quem fez curativos em todos os meus machucados, ouviu meus desabafos de adolescente e consolou-me quando estava triste. Sem contar os sermões e puxões de orelhas quando fazia algo que não era correto. 

Enfim, para ele, ela sempre foi a figura materna, compensando o deserto emocional a que sua mãe de criação relegou-o. 

− Maria Dolores? Que nome expressivo! 

− Ah! E olha que você nem viu ainda como ela diz seu nome com orgulho! A molecada que frequentava minha casa, só conseguia algo dela quando dizia Maria Dolores. 

Os olhos dele brilhavam ao falar dela e era possível sentir a empolgação em sua voz, muito diferente de quando estava mencionando os pais. Ele diz que sempre que pensa numa figura materna, lembra-se da Maria Dolores, de seus cuidados e amor para com ele e que, se pudesse escolher uma mãe, gostaria que fosse alguém como ela. Inclusive, justamente por ela ser assim, ele nunca entendeu porque uma pessoa carinhosa e solitária não se casou e teve filhos sendo tão linda e amorosa. 

− Admiro você por ter se tornado um homem tão carinhoso e trabalhador! Poderia ter seguido alguns exemplos nada legais. 

− Acho que segui alguns maus exemplos durante alguns anos da minha vida. Sempre digo que o acidente foi um mal necessário, a fim de me fazer explorar novos caminhos. Deus deu-me uma nova vida, um novo começo e um novo sentido. 

Puxo-o para meus braços, comovida por ele acreditar que precisou passar por algo ruim para se tornar uma pessoa melhor. Sinto-o relaxar quando massageio seus cabelos. Seus olhos azuis como a cor do céu encontram os meus. Mesmo fazendo ideia da megera superficial e vazia que sua mãe parece ser, eu mostrei a ele que os elos familiares foram construídos, de qualquer maneira, bem como ela permitiu que seu pai assumisse-o, portanto, só por isso, ele já deveria tentar uma aproximação com ela. Não sei se a sementinha que plantei germinará, mas, a forma como ele abraçou-me e mostrou-se grato a mim encheu meu coração de esperanças. 

A parte que menos gostei foi saber que um dia ele dividiu o espaço das escovas de dentes com uma mulher... mas, ele foi tão delicado e sensível ao falar disso que, em momento algum, deixou-me desconfortável ou fez com que me sentisse menos especial do que ela! Muito pelo contrário, vi a sinceridade em seus olhos quando disse que sou única e incomparável na vida dele. 

Sem mais nem menos, ele abraçou-me muito forte, comigo até perdendo o fôlego, literalmente falando. 

− Nossa! O que foi isto? 

− Eu chamo de abraço de urso, um abraço enorme e afetuoso! 

Não hesitei em devolver, na hora, o abraço, feliz por ele provar que está comigo e só comigo. Depois disso, perdemo-nos um no outro. Desta vez, não houve espaços para fantasias, apenas para muito amor, com o desejo regido por nossos sentimentos verdadeiros. Havia tentado confortá-lo como ele fez comigo quando precisei. Assim, criamos um elo emocional, uma espécie de pacto de sentimentos entre nós. Fizemos amor como duas pessoas apaixonadas, amantes e cúmplices na construção de uma tônica para nosso relacionamento, isto é, sempre priorizar o momento que estivermos vivendo, com toda a intensidade, aproveitando tudo o que está a nos oferecer, sem passado nem futuro. Não precisamos dizer palavras e nem fazer promessas, pois a sintonia entre nossos olhos e corpos garantiu a conexão que sempre necessitaremos para ser feliz. 

Ele ainda fez questão de abordar suas preferências sexuais, mas, a respeito destas, na verdade, ele nem precisaria ter dito nada, pois eu sei muito bem o quanto é dominante e mandão. Por mais que não me ligo nesse lance de nomenclaturas e rótulos, não sou tola e sei que ele é alguém que já experimentou o suficiente, em termos sexuais, para saber quem é e do que gosta. Mas, também tenho absoluta segurança em dizer que ele está feliz com a parte sexual de nosso relacionamento, embora mantenha sempre um querer diferente e uma pegada especial. Não creio que precisamos aprofundar esse assunto, porque já sei quem ele é e o que ele quer de mim, mas, que sempre respeitará meu tempo e meus limites. De minha parte, fora o fato de ter restrições quanto a práticas que causem dor, amo o que ele tem de mais perverso dentro dele e sei que não há necessidade de me recusar a tentar novas experiências sexuais que ele vier a propor. Olhando para seu rosto angelical, dou uma risadinha por saber que existe, por trás dessa candura, um menino muito mal e gostoso, que me leva do inferno aos céus em segundos, tira meu chão e rompe as minhas barreiras. 

Ouço-o resmungar e mexer-se na cama. 

− Oi – digo a ele assim que abre os olhos. 

− Oi! 

− Já disse o quanto você é lindo dormindo? 

− Hummm!!! Está flertando comigo, minha menina namorada? 

− Acho que sim – digo, baixinho, mais para dentro do que para fora. Acabei de acordar e não quero que ele sinta o meu bafão. 

Ele põe a mão em minha face, carinhosamente, e vejo, em seus braços, suas veias delineadas. Aff... é incrível o quanto isso é suficiente para me deixar molhada, uma vez que sou tarada por um belo braço, mas, pelo que posso perceber pelo relógio Rolex no pulso dele, sua marca registrada, não vamos ter tempo para brincadeirinhas matinais, pois os ponteiros mostram que são quase 11h! Ontem, prometi à minha mãe que chegaria a tempo de ajudá-la com o preparo do almoço porque, quando estava contando-lhe as novidades, percebi o quanto ela ficou feliz e nervosa, ao mesmo tempo, por receber o Carlos. Com pressa, dou um pulo na cama e ele assusta-se. 

− Bonitão, sinto informar, mas o momento flerte terá que continuar depois. Meus pais estão aguardando-nos e eu quero honrar a promessa que fiz de chegar cedo. Então, levanta esse bumbum gostoso e vem tomar um banho rápido comigo. 

Levanto e saio bem rápido da cama, mas, tudo some e sinto uma leve tontura. 

− Está tudo bem? – ele pergunta, juntando-se a mim, que sento novamente na cama. 

− Está tudo bem, acho que fiquei assim porque estou de estômago vazio. Estou aqui somente há seis dias e meu organismo já se acostumou a comer a toda hora... 

− Então, vá tomando banho enquanto eu peço o café da manhã. 

Entro no banheiro e encosto a porta para fazer minhas necessidades matinais, porque, vamos combinar, não é nada erótico nosso homem ver-nos num momento tão constrangedor. E o Carlos sabe que não gosto de, digamos, compartilhar esses momentos, por isso, vive tirando sarro do que ele chama de minha zona de timidez. Então, claro, não perde a oportunidade de fazer troça. 

− Adoro o som dessa cascata. Estou até ficando de pau duro, Patrícia! 

Nua, dentro do box minúsculo, entro debaixo d’água, mesmo ainda não estando suficientemente aquecida. E, para ganhar tempo, já vou escovando os dentes com a escova que o hotel fornece enquanto tomo banho. Percebo dois pares de olhos a me observarem e, bem mais abaixo deles, um mastro viril e imponente. Passo os dedos pelos cabelos e, com a mão livre, começo a me ensaboar rapidinho, numa tentativa inútil de não mostrar a ele o quanto estou afetada pela cena sensual diante dos meus olhos. Meu senso de responsabilidade e respeito aos meus pais diz para minha periquita aquietar-se, mas, o Sr.G, dono das minhas vontades, faz o contrário ao mandar calafrios por todo o meu corpo. 

− Muito fria a água, pequena? Tenho algo aqui que pode esquentar esse banho para você... – ele olha para os bicos de meus seios, enrugados e duros, tocando seu membro com a própria mão, com ela envolvendo-o e, preguiçosamente, bombeando-o de cima para baixo e de baixo para cima, excitando-me ainda mais. Fecho os olhos na tentativa de conter meus desejos, porque ele sabe o quanto acho sensual vê-lo masturbando-se. 

− Sei o quanto pode ser quente este banho, mas, você não imagina o quanto minha mãe pode também deixar-me quente, mas, de vergonha caso eu chegue somente quando os pratos estiverem na mesa. 

− Aguento qualquer calor a que você seja submetida, desde que você apague esta chama que despertou em mim ao me deixar vê-la olhando para mim quando acordei – ele dá um pequeno passo em direção ao box e abre a porta, aproximando-se de mim. Acho que o espaço é menor do que um metro quadrado, pois ele mal entra e seu corpo já está praticamente colado ao meu. 

− Nem vem, namorado – falo, com a boca cheia de espuma. Ele pega a escova da minha mão e leva-a para sua boca – Nossa! Isto é nojento, Carlos!

Ele nem liga para o que falo e continua passando a escova pelos dentes... fico sem chão com mais essa prova do quanto me quer, de qualquer maneira, não considerando repulsivo nada que diga respeito a mim. Claro que isso me comove, ao mesmo tempo em que fico constrangida ao saber que preciso fazer bochecho e cuspir para enxaguar a boca. Não quero fazer nenhuma das duas coisas na frente dele. Então, encho a boca de água, viro-me no exíguo espaço e curvo-me um pouco para ficar o mais próxima possível do ralo. 

− Ainda tem coragem de dizer que estamos com pressa?!?!? – seu dedo desliza pela minha espinha até chegar ao meio do meu bumbum, onde fica acariciando-me. Fico ciente do quanto fui inocentemente provocadora – Como posso querer sair deste banho antes de estar completamente dentro de você, com esta bunda gostosa oferecendo-se toda para mim? – ele fala com uma voz grossa e rouca, ao mesmo tempo em que me dá um tapa que eleva meu nível de excitação ao máximo. 

− Não, Carlos, estamos atrasados – minha voz sai falhada de tanto tesão que sinto. 

− Adoro ouvir você dizer não quando o seu corpo diz sim – ele enfia dois dedos de uma vez dentro de mim – porque eu sei que não é a água do chuveiro que está deixando-a tão malditamente molhada assim. 

Sim, mil vezes sim!! É claro que não resisto e ele tampouco consegue conter-se e nós chegamos atrasados, para nossa alegria e prazer. Minha sorte é que não tive que perder tempo solicitando um táxi, porque meu garanhão tinha alugado um carro no aeroporto, o que faz com que, uma vez mais, eu perceba que ele fez muito mais que eu imaginaria que alguém fizesse por mim. Depois de um dia de trabalho, pegou um avião, dirigiu por mais de 300km e ainda fez com que eu sentisse-me a mulher mais desejada por toda a noite! 

Chegamos ao sítio, a porteira simples está aberta. Ele observa tudo.

− Linda paisagem. − Sim, um lindo lugar.

O cheiro de churrasco prova que minha mãe, se saiu muito bem na escolha, pois na casa de gaúcho, um bom espeto, agrada a qualquer visita. E vamos combinar, que nesta primeira refeição, não seria uma boa opção, o Carlos presenciar um agradecimento a qualquer Mimi, Nini, Zaza ou Lalá por estar nos servindo. Fico imaginando a cara dele, quando minha mãe fizesse a oração. 

Bonitinho, de longe vejo meu pai vestido a caráter, com o espeto na mão, espetando a carne. Tenho certeza que ele acordou com o galo e foi até o centrinho escolher as melhores peças de carne. Faço uma nota mental, para acertar com eles, este gasto extra. 

− Barbaridade... Tchê! Achamos que não chegariam mais – meu pai diz da varanda com sua voz forte e rouca, quem o escuta, pensa ser um homem bruto. 

A mão do Carlos está fria, ouço prender a respiração, minha diabinha interna, dá risadinhas por ver ele aflito, pois, sei que em segundos a simplicidade dos meus pais o cativará. 

− Já não era sem tempo! Tu me disseste que estaria cedo aqui guria – a cena é engraçada, pois do outro lado da varanda aparece minha mãe toda desajeitada, tirando o avental que ela veste para alimentar as galinhas. 

− Eu te disse que ficariam uma fera se demorasse – falo baixinho, enquanto caminhamos, não posso perder a oportunidade de puni-lo por ser tão malditamente gostoso. 

− Estou perdido, disse a você que deveríamos parar para comprar flores para sua mãe, mas você preferiu, vir tirando minha sanidade enquanto me chupava, agora nem sei como me portar na frente deles – ele parece um adolescente amedrontado conhecendo os pais da namoradinha, eu não poderia deixar de me aproveitar dele naquela estradinha de acesso ao sítio, me fartei do meu garanhão. 

− Ainda bem que engoli até a última gota do seu prazer, pois acredite em mim, minha mãe é muito observadora e se caso tivesse deixado uma gota sequer arruinar suas roupas, ela notaria de imediato.

- Você não está me ajudando muito. Estou com o coração na boca e ficando de pau duro novamente, lembrando de você com a boca no meu pau. Como é que vou apertar as mãos dos seus pais agora? 

Dou um sorriso malicioso e puxo-o pelas mãos, chega de tortura. 

− Bem-vindo, garanhão. 

Chego perto da minha mãe e dou um beijo estalado nela. O Carlos está ao meu lado, atento a tudo. 

Meu pai se aproxima de nós com o espeto na mão. 

− Mãe, pai, este é o Carlos Tavares Junior. 

− Bah, este guri é mais lindo do que artista de cinema – esta é minha mãe, encantadora – Bem-vindo – ela puxa sua mão e lhe dá um beijo. 

− Prazer em conhecê-los, senhor e senhora Alencar – ele é formal e inibido. 

− Sinta-se em casa rapaz, aqui nossos convidados sempre são bem-vindos e ainda mais, quando eles ajudam um velho gaúcho a cuidar da churrasqueira. 

Ouço-o soltar a respiração presa na garganta. 

− Então vou com o senhor, aprender como se faz um churrasco gaúcho. 

− Bah, guri, tu vai aprender, um das melhores maneiras de se fazer um churrasco – diz minha mãe orgulhosa do meu pai. 

O Carlos segue meu pai, que vai falando sobre a importância de um bom corte de carne e eu entro com a minha mãe pela sala, não tive nem a oportunidade de apresentar a casa para ele. 

− Fia! Que pedaço de homem, tchê! 

− Lindo mesmo mãe, gentil e amável também – e um pouquinho mandão e gostoso, penso comigo. 

− Nunca vi tanto brilho em seus olhos, estou muito feliz – ele fala me encarando e vejo um leve brilho de lágrimas em seus olhos, isto me emociona, pois no fundo sei o porquê ela estar dizendo tudo isto, ela não precisa passar o dia ao nosso lado, para saber o que deve estar estampado em meus olhos a dias. 

− Cadê o Dado – mudo de assunto. 

− Bah, chegou com o cantar do galo. 

− Talvez tenha dormido com as galinhas – dou um sorrisinho ciente que literalmente, ele dormiu com as galinhas – vou tirar esta bota rápido e já venho ajudar a senhora. 

− Capaz... Guria, já tenho tudo pronto. 

Vou ao quarto e abro a porta lentamente, desde que cheguei, fico incomoda de estar invadindo o quarto do Dado. Sento na cama devagar e tiro minhas botas, faço o mínimo de barulho para abrir o zíper da minha mala, pego um tênis e calço, quando vou sair do quarto, ouço fazer um barulho estranho com a boca, me assusto e chego perto da cama, pensando ele estar afogado. Ponho minha mão no seu ombro, para me certificar que está tudo bem e sou puxada por um braço enorme. 

− Tu achou que eu estava dormindo bonequinha? – ele fala enquanto me faz cócegas. 

− Seu sem vergonha, me assustou – digo entre risadas – aff, Dado que cheiro é este? 

− Hoje você não me pega, vai ter que aguentar a sessão de cócegas – pior que hoje não estou mentindo, ele esta com cheiro de álcool, tabaco e perfume barato. 

− Não – dou gargalhas – hoje é verdade, você está fedido – ele me olha sério de repente. 

− O que foi Dado? – ele esta sério. 

− Nada. 

− Aconteceu alguma coisa ontem, que você queira dividir comigo? 

− Não aconteceu nada – ele levanta e eu sou mais rápida do que ele e seguro seu braço. 

− Eduardo Alencar? Sou sua irmã e não precisa ter segredos comigo, sei que passamos muito tempo longe e afastados, mas isto não significa que não possa contar comigo. 

Ele olha para a parede pensativo e meu sangue gela, tenho as piores sensações. 

− Você teve alguma recaída ontem? – sou direta. 

− Será que tudo que sou e quem sou, se resume a drogas? Sei que parte da minha vida, vivi sobre elas, mas... 

Ele para de falar, assim que vê meu rosto assustado, com a agressividade que ele joga as palavras sobre mim. 

− Eu não afirmei Dado, apenas perguntei, queria me sentir útil a você – viro as costas e desta vez é ele que me segura. 

− Ontem eu a encontrei. Ela parecia tão feliz ao lado de um Mané aqui da cidade. 

Ela quem Dio Cristo? – a ficha demora a cair e lembro dele ter mencionado sobre a Flavia ontem a noite, a professora que a Agnello, contratou para nos dar aulas por alguns anos. Mesmo assim ainda não consigo ligar ele a ela, até porque, ela tem uns 8 anos a mais do que ele. 

− Ela tava com o Mané? Aquele Mané? – entendo ele falar que ela estava com um corcunda da cidade, um cara nojento, que vivia oferecendo carona para as meninas da cidade, só porque tinha um carro novo, o cara devia estar hoje com quase 60 anos, era um verdadeiro velho babão que quando falava, acumulava gosminha no canto da boca. 

− Bah! Eu disse que ela estava com um Mané e não com o Mané – ele sorri e eu fico feliz, pelo menos por ver menos dor em seu rosto. 

− Suponho que ela te viu com uma Mané também? – ele levanta o ombro – então vocês estão quites, pois chumbo trocado, afeta os dois lados. Você quer falar sobre isto. 

− Talvez... Mas não agora, estou com a boca azeda e você mesma disse que estou fedido, vou tomar um banho e fazer sala para seu engomadinho. 

− Engomadinho, é? Pois fique sabendo que ele é melhor em engomar do que ser engomado – não sei o que está acontecendo comigo, este homem me deixa querer sexo a todo momento. 

− Bonequinha, vou fechar os olhos e contar até três, se quando eu terminar de contar você estiver por aqui, farei tantas cócegas em você, que fará engolir estas suas insinuações sacanas. 

Saio do quarto num pulo só... Faço uma anotação mental, que amanhã antes de voltar para casa irei fazer uma visita para a Agnelo e matar a saudade e aproveitar para ver de perto quais são os sentimentos que possam existir entre a Flavia e meu irmão. Não que eu vá perguntando na lata algo em relação a eles, mas uma coisa eu ei de captar. 

Durante todo o dia vejo o Dado interagindo pouco, mas por outro lado, isto não intimida o Carlos, que faz de tudo para se aproximar dele. O Carlos é educado e se mostra um verdadeiro brincalhão, ele se sente super a vontade, vejo isto ao decorrer do dia inteiro. Ele vai conhecer o galinheiro com a minha mãe e a oficina de artesanato com meus pais, fica admirado com o capricho deles e pela cara que faz, sei que partilha do mesmo sentimento que o meu. Que o Brasil valoriza muito pouco o artesanato. As pessoas não têm noção de como um simples prendedor de cabelo, por exemplo, é elaborado, antes de ficar pronto. As pessoas simplesmente olham a peça e colocam seus valores, não sabem que para aquela peça ficar pronta, precisou de uma ideia surgir de um sonho, onde ela precisou de matéria prima, precisou ser cortada, colada, bordada por habilidades manuais que muitas vezes depois de pronta, são admiradas por seus artesões como uma obra de arte, enquanto elas olham para a peça como apenas um produto. O Carlos está encantado e os elogia o tempo todo e não só pelo artesanato, mas por tudo que vê pelo sítio, ele até conta ao meu pai, que quando era pequeno, adorava brincar com um kit de marcenaria e todo orgulhoso diz que um dia construiu uma pista de madeira, inclusive com elevador para os carrinhos.

Voltando para a varanda, Carlos e Dado decidem sair juntos e eu aproveito para arrumar minhas coisas no quarto, decido tomar um banho para quando eles voltarem eu dar uma escapada com o meu garanhão, pois a dor de ficar mais alguns dias longe dele novamente, já faz meu coração se apertar.



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