sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sr. G - Capítulo 27 - 3ª Parte


Carlos Tavares Junior...


O dia foi divertidíssimo, a família da Patrícia é como ela, sem papas na língua, seus pais são simples, mas com uma sabedoria ímpar.
Foram acolhedores e cuidadosos, não me admiro por ela mencionar que já foi gordinha, não paramos de comer um só minuto. O Eduardo é de poucas palavras, seus pais por outro lado, falam por ele, é excepcional a forma como eles lidam com a sua personalidade, minha pequena passou o dia com o sorriso no rosto, ela estava leve, de bem com a vida, pouco nos tocamos, mas muito nos olhamos, quer dizer, ela praticamente me torturou o dia todo, se insinuando para mim. O final do dia foi chegando e meu peito se apertando, pois não poderei continuar aqui ao lado dela, fugir um dia do meu trabalho, longe de tudo e todos foi muito bom, mas não posso ficar fora muitos dias, no meio de uma investigação para descobrir o que vem alterando o paladar de uma das nossas cervejas. Por mim, ficaria aqui com ela o resto dos dias de suas férias, mas infelizmente para isto tenho que me programar. Espero em breve, fugir alguns dias com ela. 

− O dia foi muito agradável, adorei aprender um pouco de como se prepara um bom churrasco. 

− Bah, então fica o convite, da próxima vez que vieste para cá, será tu que preparará o churrasco – acho que alguns dias ao lado deles, sairei daqui falando cantado e com um Bah a cada frase. É delicioso ouvir o sotaque deles e a minha pequena por mais que more anos em São Paulo, tem um leve cantar na fala e parece que voltar as suas origens, vem ajudando ela falar com o mesmo sotaque. 

− Se depender de mim, estamos combinados, venho buscar a Patrícia, daqui alguns dias e faremos um novo churrasco – ela pisca para mim − Mas da próxima vez – paro por um instante, eu ia mencionar que traria um barril de chopp, mas mediante aos fatos, contorno a situação – eu trago a carne, já que serei o churrasqueiro da vez, que eu faça o serviço completo. 

− Bah! Estou vendo que vamos comer linguiça e carne com tempero, não sei se é uma ideia tri legal... pai! – ele brinca pela primeira vez. 

− Aprendo rápido Eduardo, já vi que seu pai só usa sal. Aproveitando não esqueça que temos um encontro em Porto Alegre, dia 16 de outubro – ele acena para mim concordando com o que marquei com o RH no período da tarde. Enquanto estávamos no churrasco, um vizinho veio chamá-lo, para ver o que estava acontecendo com uma moto velha, CG 125, ele me convidou para acompanhar e não recusei, queria estar mais próximo dele e estabelecer um contato e fiquei surpreso, por ver ele botar aquela lata velha em funcionamento, com apenas alguns ajustes. Trocamos nossas frotas de motos todos os anos, temos uma equipe de vendedores que trabalham com elas e o desgaste é muito grande pelo que rodam, muitas vezes, não vale a pena ficar mandando para o conserto, ele me deu uma ideia e com a atual economia do país, acho que ter um mecânico somado a equipe, será um bom investimento e caso esta ficha que estou apostando nele der certo, pretendo implantar isto em todas as nossas filiais e quem sabe, ele pode ser o cara a fazer a diferença. 

Tudo são oportunidades na vida, temos a opção de agarrá-las, ou desistir, seu destino está lançado, vamos esperar para ver onde vai dar. 

Pequena provocadora, é isto, que é a minha menina, resisti em não tocá-la o dia todo, mas agora vestida para matar, não tenho mais autocontrole. Quando ela disse que iria tomar um banho, não imaginei que apareceria vestida assim. Como uma adolescente de 15 anos, apenas um pedacinho de jeans desfiado, cobre sua bunda, uma regata branca marcando sua silueta e seus seios fartos, de boné na cabeça prendendo um rabo de cavalo, calçando um All Star dourado e uma mochila nas costas. 

− Será que agora vou poder ter um pouco de atenção do meu namorado? 

− Sou todo seu. 

Despedimos de todos, ela combina com o irmão para ir buscá-la pela manhã na cidade. 

− Bah! Está levando um jeans... né bonequinha. Pois não vou desfilar com a minha irmã, pela cidade com este trapinho na garupa – seu irmão faz a mesma pergunta que ficou na ponta da minha língua. 

− Dado, sou uma mulher preparada para guerra – ela aponta a mochila e pisca para ele. 

− Obrigada garanhão, este dia, ficará guardado para sempre na minha memória. 

− Isto significa que vou receber outra chupetinha no caminho de volta ao hotel? 

− Pervertido! Mal saímos do lado dos meus pais, onde você se comportou como um celibato e já está botando as asinhas de fora? 

− Sozinho com você nesta estrada em meio ao blecaute, onde apenas o farol do carro ilumina... A única vontade que tenho é de botar minha ereção para fora da minha calça e sentir você sobre ela. 

− Então presta atenção bonitão, daqui a 500 metros, você encontrará um atalho na estrada, entra nele e apaga o farol, que vou te mostrar como é bom morar aqui no meio do nada. Ela me mostrou como nunca que o nada nunca existirá ao seu lado. 

Há 5.000 pés de altitude, estou com o coração partido por ter deixado ela doente para trás, na casa da sua amiga. Não tive tempo nem de acompanhar ela entrar, meu horário estourou, quis ficar cuidando dela até o último segundo. Hoje pela manhã, ela acordou ruim, com o estômago revirando, insisti em ficar com ela, mas me garantiu que são as comidas que vem exagerando, pois vem se alimentando com tudo que vê pela frente e eu não posso culpá-la por isto, a Dona Amparito, é uma deusa na cozinha. As últimas horas ao seu lado foram maravilhosas, quando penso naquela estrada no meio do breu noturno, vendo ela se movimentar sobre meu corpo apenas pela penumbra da noite, fico instantaneamente ereto e meu corpo sente saudades do seu. Ela é a mulher que todo homem idealiza ter na sua vida, inteligente, única, surpreendente, bem-humorada, linda e um furacão sexual, nada ao seu lado é encenado ou ensaiado, tudo acontece sem um script, nossas conversas estão voltadas para nós, nossos olhares miram um ao outro, num flerte de paixão, nos deciframos na melhor atmosfera, às vezes penso até que ela não existe e que possa ser apenas um fruto da minha imaginação. 

O que estou sentindo por ela é indescritível, um sentimento invasor maravilhoso, impossível de ser barrado e impedido, ele me absorve com uma fusão imprevisível da melhor energia, de querer que tudo aconteça de melhor ao seu lado sem nenhuma barreira dentro do meu coração. 

Enquanto as poucas horas de voo se estendem, deixo gravado na caixa do meu Outlook, o encaminhamento do meu novo projeto recuperação. Nestes documentos, designado a cada departamento competente, descrimino a ideia e objetividade do projeto experimental. Minha mente trabalha em todos os detalhes e se tudo der certo e o Eduardo abraçar esta oportunidade que estou planejando a ele, a companhia terá uma considerável economia. Sei que alguns diretores vão contestar alegando diversas objeções e como presidente não deixarei de analisar cada uma delas, que vão surgir. Eu vi de perto que o cara entende bem de recuperação e mecânica, quando vi apenas uma foto do que era o ferro velho daquela Harley e como ela se transformou, minhas dúvidas se dissiparam.

Conversar com a minha menina foi confortante, me fez bem, porém algumas coisas se reacenderam dentro de mim, não sei se foi pelo fato de falar abertamente do meu passado com ela ou por ver como a família dela me acolheu. Acho que nunca na minha vida, passei ao lado de pessoas que me fizessem querer tanto ter uma família. Sorrio quando lembro daquela bruxinha, dizendo: 

− Carlos Tavares Junior, na qualidade de sua namorada, necessito conhecer a sua mãe, não poderei comparar o seu olhar com o dela, pois sei que seus Genesis, não são os mesmos, mas vou poder olhar bem para ela e dizer... Ele pisca como ela, mas não é insensível igual. 

− Não sei, se será uma boa opção, minha mãe deixou de ter expressões a muito tempo, já perdi as contas de quantas plásticas ela já vez. E ela geralmente não é muito simpática com as mulheres. 

− Senhor! – ela junta as mãos – agradeço a ti, por não permitir o convívio entre mãe e filho. O senhor já imaginou ele piscando há todo momento igual a Hebe Camargo fazia depois de todas as suas plásticas? − sorrio com a comparação, ela matou na mosca, minha mãe é uma destas socialites que não querem deixar o tempo chegar. 

− Pelo que vejo já desistiu até do encontro – disparo piscadas brincando. 

− Isto nunca! Quero conhecer sua mãe, conhecer sua casa, participar da sua vida e dar muitos beijinhos nas suas piscadelas. Além do mais, tenho certeza que você nunca usou do seu charme galanteador a sua mãe, pois vi muito bem como tratou a minha mãe e quer saber, acho que vocês dois merecem um momento juntos. 

Ela foi dócil, sei que percebeu a minha amargura quanto a este assunto e não me deixou abalar, foi tranquilo falar sobre meus fantasmas e isto me motivou a falar para ela toda a verdade, mas ela mais uma vez me impediu, trocou de assunto, na verdade ela fugiu do outro assunto. Senti que as palavras não eram necessárias. Mas não descansarei enquanto não falar abertamente com ela sobre este assunto. Existem coisas que não precisam ser ditas, elas necessitam apenas ser sentidas, assim venho conduzindo tudo aquilo que acredito, mas não quero que uma palavra não dita, seja um problema amanhã. 

Hoje sei que sou suscetível as suas vontades, também sei que ela é suscetível as minhas, o que vem me fascinando a cada dia mais, é que não preciso impor nada a ela, pois ela aceita tudo, se entregando como tem que acontecer, tudo tem sido intenso, quando estamos juntos, não simbolizamos uma caixinha de sentimento diferenciando nossa relação de entrega e dominação, tudo acontece naturalmente. Durante muitos anos conheci amigos dominadores que defendem a causa que uma relação D/S não pode se misturar paixão, pois acaba interferindo e deixando ele mais suscetível as vontades de sua submissa. Eu nunca compactuei sobre estes sentimentos e nem vontades, o que eu quero é poder ouvir e sentir sua alma e coração. Independente de um querer, existe um sentir e viver com emoções, prazer, entrega e muito amor. Não são os rótulos que definem a perfeição, o que se aproxima da perfeição é apenas a maturidade de uma relação, onde os dois juntos compactuam na mesma sintonia. 

Chego ao aeroporto de Guarulhos e de longe no desembarque, vejo um homem 2 X 2 me aguardando. O Nandão faz jus ao apelido e se destaca no meio a multidão. Depois de responder uma mensagem a ele sobre um relatório das investigações em andamento, informei que estaria voltando e ele fez questão de vir me buscar. 

− Olá Nandão, faz tempo que chegou? A conexão em Curitiba atrasou um pouco. 

Ele abre os braços, como se fosse meu amante, chamando a atenção de todos a nossa volta. Divirto-me com a situação, é como um ritual, ele sempre faz isto. Como se não bastasse ser um gigante, ainda por cima se requebra chamando a atenção. Se eu não o conhecesse desde sempre e soubesse suas preferências sexuais, muitas vezes poderia ter duvidado por ele ser tão convincente. 

− Acabei de chegar, fez boa viagem? Amor. 

Jogo a mala para ele e retribuo a brincadeira – Carrega ela para mim bonequinha, tenho uma ligação urgente que preciso fazer e não pode esperar. 

Pego o celular e disco na memória o número 1, sim ela é minha primeira opção e única, caminhando em direção ao seu Camaro amarelo, onde se destaca por todos que estão estacionados. 

− Oi garanhão – sua voz esta baixa e dengosa, fico preocupado, acho que ela não melhorou. 

− Oi minha linda, pelo jeito não melhorou, não é? 

− Não melhorei, tive que ligar para o meu irmão me deixar ficar mais um pouco aqui com a Agnelo, pois não consigo segurar nada no estômago. 

− Evita tomar a água do poço do sítio, pode ser a água que não está te fazendo bem – ela ri. 

− O Sr. está enganado Doutor, se fosse a água, estaria no trono, sentada como uma rainha com cólicas, que não é o caso. O que tenho é olho de gorda, aquele que come tudo o que vê pela frente e o esôfago rejeita. 

− Não é melhor procurar um médico? 

− A Agnelo, me fez um chá. Minha mãe pediu para o Eduardo vir me trazer boldo. Logo melhoro bonitão – sua voz manhosa, aperta meu coração − Já sinto saudades. 

Sua confissão deixa-me feliz, pois, hoje, nossa relação não está mais baseada em provocações e sim em carinho. 

− Também minha menina. 

− Uhm! Minha menina – o descarado do Nandão, debocha ao abrir a porta do carro. 

− O Nandão esta desejando melhoras. 

− Diga a ele, que assim que melhorar, darei um chute no seu traseiro, por ser um invejoso e te imitar. 

Sorrio com a sua resposta, ela é mais esperta do que nós dois juntos. 

− Falarei sim. Não deixa de mandar notícias. Descansa e antes de ir para o sítio, me liga. 

− Ligo. Até mais tarde. 

− Beijos e se cuida. 

Desligo o telefone preocupado, fico pensativo e até mesmo mais preocupado do que de costume, não tenho tempo de ficar doente, nem sei quando foi a última vez que tive apenas um mal-estar e por este motivo sinto-me um pouco doente junto dela, por tanto tempo vivi só, que a possibilidade de ter alguém ao meu lado que tira meu chão, doente, me faz querer poder dar meia volta e ir de encontro a ela e cuidar, até ficar boa. 

− Quer comer algo antes de ir para reunião? Faz tempo que você não me paga um almoço e para falar a verdade, meu estômago esta te xingando muito. 

Olho no relógio e vejo que são 14:00 horas e dou graças a Deus que com o atraso da conexão, acabei me adiantando e pedindo para minha secretária, adiar a reunião para às 17:00hs. 

− Não sei porque, mas no fundo sempre soube que você era putinha cara e a cada dia que passa convivendo ao seu lado, vou tendo a certeza que isto é verdade.

Seguimos viagem para cervejaria, sabendo que na Rodovia Castelo Branco tem um restaurante bem charmoso, onde muitas vezes paramos para almoçar. 

− Um brinde ao ex-solteirão mais cobiçado – ele me provoca e finjo nem perceber. A cerveja gelada desliza fria e limpa a minha garganta. 

− Não preciso nem perguntar como anda o romance, seus olhos te entregam Carlão. 

− Estamos nos conhecendo. A propósito, quero te devolver o perfil do face. Aquilo não é para mim. 

− Ele não é para você, mas foi bom enquanto durou, né? − diz irônico − Pelo que vejo ser um Dom Leon te transformou num Dom Miau apaixonado e meloso, você foi até atrás da mulher do face. 

− Ela não é mulher do face – me irrito com ele, por se referir a ela desta forma – ela é a mulher que conheci um dia e por coincidência nos encontramos no seu perfil e tenho mais um pedido para fazer a você. Quero que apague tudo que se refere a nós dois, no bate-papo. Se caso ela procurar o Dom Leon, me avise no mesmo momento. 

− Se está me pedindo tudo isto, porque não mantém o perfil? Eu já disse a você o porque criei aquele perfil e eu também não tenho interesse nenhum em manter ele. 

Expliquei minhas razões a ele, que concordou comigo, por mais, que o perfil no face tenha me ajudado a me aproximar dela, não consigo mais, manter ele e continuar a enganando. Ele se comprometeu a não interagir com ela no face e nosso trato foi se acontecer dela procurar o Dom Leon por algum motivo, ele transmite o recado para mim. 

Trocamos de assunto, ele sempre foi como um irmão e acabei mencionando o projeto de restauração da frota. Ele ficou animado, me advertiu sobre seus receios e me apoiou. Esta conexão entre nós sempre foi o ponto alto da nossa grande amizade e cumplicidade. 

Enquanto aguardamos nossos pedidos o Nandão faz algumas ligações e eu claro, aproveito para ligar para minha menina, mais uma vez para saber notícias, já que a reunião se estenderá por horas, vou conversando com ela e fico preocupado, pois além das náuseas, ela voltou a ter outra vertigem e assim que desligo, percebo o Nandão olhando para mim, ciente de tudo que conversamos. 

− Deu para ouvir o que as pessoas falam no telefone? 

− O que a Patrícia tem? 

Conto a ele por cima, enquanto acesso meu Outlook pelo celular. Ele faz perguntas esquisitas e confesso que respondo em modo automático, até eu perceber seu súbito interesse. 

− Desde quando ela está doente? − olho para ele sem entender. 

− Não estou entendendo tanto interesse? 

− Já vai entender. Ela teve algum mal-estar como tontura estes dias? 

− Ontem pela manhã, ela teve uma breve vertigem – lembro da noite intensa que tivemos e não digo a ele os motivos, até porque ele me conhece muito bem e deve imaginar que tivemos uma noite intensa regada de muito sexo e ele todo engraçadinho, vem com uma bomba. 

− Vou ser padrinho!?! 

− O quê? 

− Perguntei isto mesmo que você ouviu, bonequinha. 

− Você deve estar tendo alucinações ou deve estar desacostumado a ver amigos namorando. 

− Não costumo me enganar e não esqueça que meu pai e minha mãe são ginecologistas e que tenho duas irmãs e tive uma namorada que engravidou na minha adolescência. E sei muito bem que a bonequinha tem um membro que cospe filhinhos pelo mundo e se você e a sua namorada, fizeram algo, algum dia sem proteção, a probabilidade de eu ser padrinho é grande sim. 

− Primeiro a sua pretensão me espanta, segundo – fecho os olhos e lembro da noite que fizemos amor, antes dela ir viajar. Imagina, me repreendo, isto faz apenas uma semana, vasculho minha memória e lembro de mais uma vez onde não fui prudente e tomei ela sem sentido em Ilhabela. 

− Ei, cara. Você está bem? Aposto que se lembrou de algo e agora está se chutando mentalmente, ou está vasculhando suas noites insanas ao lado dela, para descobrir que vacilou? 

Balanço a cabeça, ele não vai perder a mania das suas gírias nunca. 

− Vacilou? Você fala como um adolescente – ralho com ele pensativo. 

− Pode descontar sua fúria em mim! Não ligo... afinal compadre serve para isto. 

− Esta opção de gravidez está totalmente descartada e você está me enchendo com este papo furado, vamos falar o que interessa – troco de assunto bruscamente, pergunto para ele detalhes do que descobriram e ele vai adiantando as possíveis falhas, ele não poupa nem o seu departamento e muito menos as suas responsabilidades. Conforme ele vai relatando tudo, não consigo me concentrar, fecho os olhos e passo a mão pelo cabelo, minha cabeça chega a formigar, a comida chega e até o cheiro dela embrulha meu estômago e talvez tenha dado um longo suspiro, porque ele para de falar e me olha. 

− Cara, porque você não liga para ela e tira esta história a limpo. Pelo pouco que te conheço, sei que não se concentrará em mais nada hoje, o que eu disse pode ser apenas uma suposição, mas seguro morreu de velho. 

− Não vou incomodar ela com essa história sem pé nem cabeça. Vamos fechar a conta e seguir para a reunião. Temos algo mais urgente nos esperando. 

Ele tem razão, não vou me concentrar em mais nada hoje, antes de falar com ela, mil situações passam pela minha cabeça, a primeira de que ela pode não saber lidar com a situação e acreditar ser tudo muito precoce e acabar fugindo mais uma vez e, só de pensar nela longe de mim e carregando um filho meu, deixa minhas pernas bambas. Fico preocupado, ela esteve em desencontros a vida inteira e agora que ela está se reencontrando com a família, um novo integrante aparecer pode desestabilizar tudo, a terceira... Paro, respiro fundo e me pergunto... será que esta bagunça de pensamentos são mesmo preocupações com ela ou são medos meus... A vida inteira não entendi porque minha progenitora, nunca quis saber de mim e me abandonou, para o meu pai de sangue criar e a sua mulher. De repente pareço que vou entrar em erupção, assim como um vulcão adormecido por uma vida toda. Decido esperar para ligar, preciso reorganizar meus pensamentos. Não posso ligar para ela e questioná-la. Tudo são suposições do Nandão e desde que chegamos a empresa, estou andando de um lado ao outro, parecendo um animal enjaulado. Não sou homem de deixar as coisas serem empurradas pela barriga, então pego o telefone nervoso, tremendo como nunca e ligo para ela...



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