domingo, 28 de junho de 2015

Sr. G - Capítulo 28 - 1ª Parte



Patrícia Alencar Rochetty...


Muito doce e fofo... O que uma mulher pode esperar mais de um homem?
Quando este se preocupa com ela e a trata com todo carinho e preocupação. E tudo isto... Graças ao Chico e meus sintomas da menstruação, que no lugar de cólicas como toda mulher comum tem, eu tenho sintomas como enjoos, dor de cabeça e tonturas. Hoje quando acordei meu relógio biológico, sinalizou que o dia do meu fluxo chegou... Não tive coragem de dizer ao meu garanhão os verdadeiros motivos. Imagina a cena... 

Garanhão estou muito feliz que você está indo embora, pois o Chico me fará companhia estes dias na sua ausência, ou imagina eu dizendo a ele... Garanhão estou tendo estes sintomas, porque hoje vou menstruar! Tudo isto parece muito simples não é mesmo? Mas vamos combinar... Existem intimidades que não precisamos sair com um mega-fone divulgando. Claro que eventualmente um dia ele fatalmente saberá os dias dos meus períodos, mas até lá, não preciso ficar mencionando a ele. Assim como nem imagino ele me flagrando um dia soltando fogos de São João debaixo das cobertas. Definitivamente não... Tudo isto está descartado. 

As minhas intimidades pessoais, são só minhas, não vou dividir com ninguém e agora vivendo ao lado do homem mais charmoso que conheci, não vou deixar ele ter más impressões minhas, quanto a essência do meu charme, são meus segredos pessoais que privo. Dou graças a Deus por ter vivido alguns anos ao lado da minha eterna amiga elegante Agnelo, quando ela me repreendia e me ensinava que ser simples, não é ser explicita das suas necessidades e que dividir a rotina do dia a dia com alguém vai além das delícias de assistir a um DVD juntinho no sofá, ou uma sessão de sexo quente. Quem convive com a gente não precisa ser conhecedor dos nossos odores, sons e visões pouco atraentes. 

Tudo bem que na hora do aperto, mil pensamentos invadem nossa mente. Perguntamos enquanto os gases nos consomem. Se até a Angelina Jolie, solta pum, qual o problema de eu soltar um, quando tenho vontade? Nenhum... O problema é justamente este, quando conhecemos uma pessoa e nos envolvemos, o amor cresce, a intimidade aumente e o nosso melhor amigo o bom-senso, invariavelmente diminui e na minha humilde opinião, definitivamente prefiro gravar na memória do meu garanhão meu perfume do que os odores desagradáveis. 

Não quero e nunca dividirei com o Carlos o meu momento de rainha, pois quando estou sentada no meu trono, gosto de governar sem interferências e plateia. As minhas missões inglórias como unhas do pé comprida, depilação vencida, serão privadas a ele eternamente. Nestes anos solitária, o que não me faltou foi tempo para ler sobre problemas que estragam e esfriam os relacionamentos e um dos maiores causadores são o excesso de intimidade entre os casais. Se vou tentar ser feliz ao lado dele, que eu aproveite os ensinamentos e faça a diferença. 

Sei que a intimidade é importante e inevitável, pois isto aproxima mais as pessoas. Conhecer bem quem você ama, e saber dos seus segredos e hábitos pessoais, faz parte de qualquer relacionamento. Porém, certos costumes íntimos não devem ser parte da rotina do casal, pois podem acabar prejudicando a relação. Precisamos tomar o dobro do cuidado com as atitudes que envolvem a outra pessoa. 

Ai... ai... Este negócio, chamado relacionamento é algo muito complicado, mas ao mesmo tempo, delicioso de se viver. Não quero ter um relacionamento de mentira ou omissão, fingindo que a fisiologia não existe, porém ter um bom-senso pode ser um bom ingrediente. 

Pensando friamente, com uma cólica danada, nunca sentida antes, lembro-me da última ligação dele. 

− Oi minha menina! Melhorou? 

− Oi meu garanhão! Estou gostando deste paparico de me ligar toda hora. Estou melhor, sua voz me acalma. 

− Estamos juntos a pouco tempo, mas quero que saiba, que não existe tempo para determinar o quanto uma pessoa é especial — que papo estranho, no mesmo momento em que é romântico, sinto sua voz estranha — você precisa saber, que o que depender de mim, estaremos sempre juntos. 

− Como assim? Até que a morte nos separe? — brinco, achando o papo sinistro. 

− Acho que o que estou sentindo por você e os vínculos que podemos vir a ter — ele diz sério, acho que não gostou da minha brincadeira − podem ser que nem a morte nos separe. 

− Que carma o seu? — estou tão feliz com nós dois, que não ligo de continuar com o meu bom humor. 

− Patrícia — o negócio é sério, ele diz meu nome e fica mudo. 

− Carlos? 

− Você confia em mim, para dividir qualquer surpresa que a vida possa te oferecer? — que papo de doido. 

Bom eu disse que sim, na verdade confesso que realmente confio nele, ele não se estendeu na ligação, foi como uma entrevista breve, com perguntas românticas, mas ainda assim sem objetividade. Senti-me como respondendo a ele o cargo de futura esposa e mãe dos seus filhos... 

Ponho a mão na cabeça e não acredito... 

− Meleca... Tudo faz sentido. Claro que faz. Um dia eu acordo com enjoos, no outro dia passo mal... Ele só pode estar achando que estou grávida. Sorrio e fico séria ao mesmo tempo. Sei que não estou grávida, meu fluxo me prova isto, mas pensar na possibilidade dele estar todo preocupado, imaginando que estou grávida, me faz insegura. 

− Pela sua expressão, essa ligação que você acabou de receber foi contraditória — a D. Agnelo fica me olhando, enquanto seguro o celular na mão, sem saber o que fazer. 

− Acho que sim — respondo ciente, que ela me conhece muito mais do que talvez eu me conheça. 

− Quer falar sobre isto? 

− Acho que a senhora, não entenderia. Nossos anos convivendo juntas, me mostraram que a senhora tem verdadeira aversão sobre relacionamentos. 

Ela me olha divertida. 

− Sério mesmo? E quais são seus julgamentos, quanto ao que considero. 

Suspiro... O que vou dizer a ela? Que acho que ela não acredita nos homens e que a vida toda disse para eu tomar cuidado. No meu caso com o Carlos, não existe um problema, o que existe é um início de relacionamento que eu não sei como agir. Quero muito que tudo dê certo, mas não sei como fazer isto acontecer. Respiro fundo e conto tudo a ela, que me ouve sem dizer uma só palavra, de forma simplificada é claro, como conheci ele, o que ele fez para estar comigo e concluo o que aconteceu hoje pela manhã e no que eu acho que resultou. 

− Vamos lá pequena eterna aprendiz voraz. Quando dizia a você que a sua carreira estava em primeiro lugar, que homens eram distrações que você não precisava, era porque queria que você chegasse onde chegou — ela caminha pelo quarto, onde estou descansando, desde a hora que cheguei — Tenho orgulho de saber que você venceu e acima de tudo... Sozinha e com muita raça. 

− Desculpa se fui muito dura com a senhora. 

− Não me interrompa Patrícia. Não conclui tudo ainda — aff, vejo que estar ao lado dela é um eterno aprendizado e por mais que me esforce, sempre tenho algo a mais, para aprender — Hoje você é independente financeiramente, ajuda seus pais, realizou um sonho que sempre enxerguei em suas lutas e em seus olhos e tudo isto porque você foi determinada. Isto não significa que precisará ficar solitária para o resto da vida, estou feliz que encontrou uma pessoa que está te fazendo bem, seus olhos dizem muito mais do que você imagina. Mas não se engane, não existe receita e nem fórmula para um relacionamento dar certo.

Quero falar, mas não deixa. 

− O que determinei para minha vida, diz respeito somente a mim. Nunca quis que você fosse adepta a nada do que planejei para mim, apenas te orientei a ser uma vencedora. 

− Sou eternamente grata a senhora. 

− Sei disto — ela fecha os olhos acenando positivamente, me arrumo na cama, me sentando mais confortavelmente e ela senta ao meu lado e pega na minha mão. 

− Quando você se apaixona por alguém, você se apaixona de verdade e não por uma pessoa de sua imaginação que você sempre sonhou. O somos feitos um para o outro, é conturbado por momentos tortuosos, não podemos projetar no outro uma expectativa de ser como você pensa ou acredita. Entende? 

− É tudo tão novo. Sinto coisas que nunca senti, já errei tanto com ele. Julguei, fugi e agora quero que ele me aceite como sou e no fundo, não sei, mostrar a ele quem eu sou. As vezes desejo que ele seja um adivinhador dos meus sentimentos. 

− Um relacionamento funciona assim. Você cria uma expectativa em torno dele e ele cria uma certa expectativa em torno de você — ela levanta os ombros e me encara sabiamente − Tudo parece ser lindo e pode ser... Basta existir a sinceridade e transparência. Não queira fazer parecer tudo lindo, evitando a realidade e o seu querer. E ambos ficarem sonhando tentando de todas as formas possíveis não perturbar a imaginação do outro. Vivemos num livre-arbítrio, mas para o outro saber o que um espera, precisam conviver com as diferenças e saber que não pensam da mesma forma e apenas aceitar, mas nunca deixar de argumentar o seu ponto de vista. 

Abraço ela emocionada, como senti falta de seus conselhos. 

− A senhora é tão sábia, porque sempre esteve tão sozinha. 

− Como acabei de mencionar a você, eu fui feliz ao lado de uma pessoa um dia, só que as minhas projeções e expectativas, fizeram eu fazer tudo errado e quando aprendi, já não podia mais ter a pessoa que tanto amei ao meu lado, porque ela se foi, para um mundo que talvez um dia eu a reencontre e esqueça que não precisamos das projeções quando a essência de ser feliz é basicamente aceitar a felicidade — Agora vamos fazer companhia ao seu irmão e a Flavia que estão lá na varanda, numa prosa bem estranha. 

Desde a hora que cheguei à casa da D. Agnelo, ela não me deixou sozinha, um só segundo, ela sabe o quanto sofro no meu período. Fez questão de eu passar o dia com ela. O que estranhei, foi eu ter ligado para minha mãe para avisar para o Dado, vir me buscar no final do dia e mencionar que estava ruim do estômago e ele aparecer do nada no meio do dia com folhas de boldo - chile, alegando ter sido motivado a trazer pela minha mãe. Eu nem tomei o chá, meu problema não é estomacal e sim menstrual, mas fiquei comovida com a sua preocupação. 

Para quem não queria vir à casa da Agnelo, ele está bem a vontade, sentado nos fundos da casa, conversando com a nossa antiga professorinha. Fico de longe observando eles, não precisa ser uma pessoa sabia como a Agnelo para ver que com aqueles dois, existe muito química. 

Enquanto a Agnelo diz que vai preparar um lanche para nós, caminho até eles, faço uma pausa e observo, eles estão se encarando. Senhor, ali existe muito mais do que apenas amizade, nunca vi os olhos do Dado brilhar tanto. Ando mais um pouquinho e eles nem notam a minha presença, perdidos no olhar. Quero ver de perto o que meus olhos estão deduzindo e pela proximidade dos dois, acho que vou atrapalhar um suposto romance. 

Chego perto deles e ouço o Dado sussurrar algo para ela, faço minha aparição de penetra e dou uma tossidinha discreta. 

− Melhorou Patrícia? — a Flavia pergunta vermelha como um tomate. Pelo que brevemente ouvi, meu irmão acabou de flertar com ela. 

− Melhorei — digo agradecida − Flavia você não muda nunca, sempre está linda. Não é verdade Dado? — provoco ele. 

− Tri linda! — sorrio por dentro, o Dado é muito sincero e nunca foi tímido. Ele não tira os olhos dela e ela por sua vez não tira os olhos dele. 

− Obrigada, assim vocês vão me deixam vermelha — mais? Você quer dizer, penso comigo. 

− O que tanto vocês estão conversando? — tento me entrosar na conversa. 

− Estava dizendo ao Eduardo que estou indo para São Paulo depois de amanhã, fazer um curso por 6 meses. 

Vejo nos olhos dele, sinal de derrota. Ainda não sei o que acontece entre eles, mas a forma como ela frisou que está indo para São Paulo e como ele reagiu, me dá uma esperança de poder fazer alguma coisa pelo meu irmão. 

− Já tem onde ficar em São Paulo? 

− Ficarei hospedada por alguns dias em um hotel, próximo ao Mackenzie. Depois disto alugo um espaço temporário — de jeito nenhum vou permitir isto, fui acolhida por sua tia por anos, ela a vida inteira me ajudou, agora é minha vez de retribuir. 

− Flavia é muita coincidência! — exclamo espantando até a mim mesma — Eu e o Dado estamos indo para São Paulo, daqui 3 dias, ele vai ver um emprego — pisco para ele, que me olha com as sobrancelhas suspensas sem entender nada — e não aceitamos um não como resposta. Você ficará hospedada em minha casa pelo tempo que precisar. Vai ser muito bom, né Dado, ter ela com a gente em São Paulo. 

Impulsiva... É isto que sou... Como é que vou me ajeitar com dois hóspedes num apartamento de dois dormitórios e um escritório, não sei... Mas esta oportunidade de fazer algo por meu irmão, não vou deixar passar. 

Fico olhando para ele com a testa franzida, esperando uma resposta. 

− Bah! — ele fala passando a mão no cabelo e o desarrumando todo. Nossa senhora das irmãs orgulhosas, ele consegue ficar mais lindo, quando é pego desprevenido − Vai ser excelente. 

− Acho melhor não — ela tenta consertar percebendo minha cara — Na verdade não quero dar trabalho. 

− Você não me dará trabalho algum. Está decidido. 

− O que está decidido? — Ouço a Agnelo falar, assim que se aproxima com uma bandeja de suco na mão. 

Mais uma vez tenho que agir por impulso, não posso deixar a Agnelo perceber minhas intenções. Só peço a Deus, que me mande luz para eu estar certa. Benzo-me internamente e jogo a notícia. 

− Convidei a Flávia para ficar hospedada em minha casa, enquanto faz o curso em São Paulo, moro próximo ao Mackenzie e ela é bem-vinda — emendo a minha deixa — acho seguro ela ficar comigo, as coisas por lá, não andam muito boas. A cidade virou quase um caos, depender de transporte público é uma loucura e fora que os aluguéis estão a hora da morte. 

Elas se olham, o fanfarrão do Dado fingi indiferença, mas as pontinhas de suor na sua testa, mostram o quanto ele está apreensivo com a resposta. 

− Acho que vai ser bom Flávia. Você nunca esteve em São Paulo e a Patrícia pode te ajudar, até você decidir o que é melhor.

Isso, isso, isso... É isto aí Agnelo. 

A Flávia ainda não aceitou, mas vejo os seus olhos procurarem os olhos do Dado, enquanto ele faz cara de paisagem como se a decisão não o afetasse. 

Lanchamos todos praticamente em silêncio, rezo para a Agnelo não perceber o clima entre os dois, se bem que nem o mais inocente dos seres humanos, seria incapaz de detectar que ali entre os dois tem um algo a mais. 

− Patrícia e como seria a Flavia hospedada em sua casa, pelo que percebi e ouvi vocês dizendo, o Eduardo estará te acompanhando para São Paulo. Sei que mencionou que comprou um apartamento maior alguns meses atrás, mas não ficará apertado? 

− De jeito nenhum, morei com mais 5 amigas em um quarto por anos, enquanto estava na faculdade e hoje tenho 2 quartos bons em casa e um escritório com uma cama de solteiro, que decorei, para as eventuais visitas dos meus pais com o Dado. E se caso o emprego que ele tem em vista der certo, ele praticamente ficará o dia todo fora, temos espaço suficiente para hospedar até a senhora se necessitar — mulher do céu! Como você tem esta cara de pau de omitir os fatos... Você nem se quer tem um colchão para a cama que comprou para o escritório... O emprego que o Carlos está propondo ao Eduardo é em Porto Alegre, então por isto, ele não tem proposta de trabalho em São Paulo, mas quanto a isto, tento convencer ele a dar uma oportunidade na matriz, caso não dê certo, penso em algo depois. O que tenho em mente agora é apenas tentar contornar as supostas objeções. Acho que a Baby vai ter que entrar em ação, caso tudo dê certo. 

O telefone toca e a Agnelo vai atender, fico com os meus cálculos e possibilidades mentais, pego meu celular para tentar resolver um dos problemas que em apenas um convite, causei. 

Afasto-me da mesa com um olho no peixe o outro no gato. 

− Alô! Que estranho, pensei que este número de telefone estivesse com problemas. Já que faz uma semana que ele envia somente mensagens dizendo... Estou bem, manda beijos para os meus príncipes. 

− Que recepção calorosa. Também estou morrendo de saudades. 

− Esta parte não conta. Como você está? — ela ralha comigo e no fundo sei que ela está preocupada, pois toda vez que venho para cá, volto sempre chateada. 

− Estou bem, Ajuricaba nunca foi tão hospitaleira e querida. 

− Que bom, amiga. Pelo que vejo tem muitas novidades. 

− Sim e desta vez, somente novidades maravilhosas. 

− Como estão todos por aí? Creio que já foi visitar seus pais? 

− Não só fui visitar, como estou hospedada na casa deles. 

− Isto é perfeito amiga. Seu irmão está bem? 

Como estou muito próxima a ele, digo apenas que está bem, falamos brevemente sobre o escritório e digo que talvez precisarei que ela providencie um colchão para mim. Digo que depois conto as novidades, até porque, nem sei se o Eduardo vai querer compactuar com o que eu propus a ele, sem consultá-lo. 

Enquanto falo no telefone, vejo eles falarem entre si, baixinho, ele balança a cabeça e ela também, os dois, são negativos em tudo que falam. Tento enrolar um pouco mais no celular, para ver se eles entram em acordo, até que vejo um sorriso de lado dele como aprovação. 

A Flávia conta a novidade para nós, que vai ficar na minha casa. Mas deixa claro que somente por algum tempo, até ajeitar as coisas e se adaptar a cidade. O Dado dá um sorriso cúmplice e dou pulinhos internos, feliz, pois isto significa que ele também vai concordar em ir para São Paulo comigo, antes de sair para o sítio peço um minuto ao meu irmão, me despeço da minha eterna amiga que me ensinou mais um pouco hoje sobre a vida e ligo para o meu garanhão. 

Como será a conversa...


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