Lua Cigana
Entorpecido espelhava o ardor
Do lume que teimoso e sutil
Por capricho ou destino insistia
Em guia-lo por entre esquinas
Tão desconhecidas quanto esquecidas
Rubro ondular tatuando o brilho
No esverdeado mar de seus olhos e
A maliciosa lua se diverte
A esconder-se com o vento
Por entre sonhos e nevoeiros
Relinchos golpeando em galopes
A terra abençoada pelo riacho
Prelúdio da selvagem canção
O fogo agora ensaia a dança
Labaredas multiplicam-se
Em círculos coloridos
Em passos e palmas
Gritos em festa
Saltos de folia
O que antes era fogo
Agora pernas e trovões
Suores e sorrisos
Cordas em cantoria
Rodeia-me na fúria das paixões
Caça-me com os olhos em flecha
Alcança-me com as pernas
Desliza as mãos no giro dos punhos
Por sobre a volúpia de minha pele
Devora-me no balanço de teu corpo
Corujas se reúnem
O som atrai as águias
Lobos se acasalam
Quem resiste ao convite?
A dança continua
A lua cede... gargalha, permite
E a madrugada enfim orvalha
O sol aos poucos
Quase sem vontade
Dissipa o nevoeiro e
Nas cinzas da fogueira
Nos resquícios da dança
Restou apenas a lembrança
Do momento do instante...
...em que a lua foi cigana.
Correa
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