domingo, 10 de agosto de 2014

PRÍNCIPE DA VINGANÇA - Capítulo 03



CAPÍTULO TRÊS

Júlia
Leon Vincenzo Di Castellani, o príncipe herdeiro de Ardócia venceu. Ele é implacável e um príncipe playboy com uma lista interminável de amantes. Acostumado a ter todos a seus pés. Pela visão periférica o observei saborear seu champanhe caro. Senti os olhos negros intensos em mim. Deus! Aquele bastardo continuava tão devastadoramente lindo como há um ano quando ele me seduziu e enganou calculadamente. Continuei a olhar o oceano pela janela a bordo do moderno jato da família real de Ardócia. Minha taça estava intocada na minha mão, num sinal claro de protesto.
Quem aquele cretino pensava que era para brincar de Deus com a minha vida?  Em breve seria princesa de Ardócia! Arg! Como isso tudo aconteceu? Como perdi o controle da minha vida tão rápido? Ele me olhava como se tivesse me fazendo um favor, deixando claro que eu deveria ser grata pela aparente trégua. Ele disse em alto e bom tom que não costumava dar honras a seus inimigos e que para uma mulher do meu nível, ser sua esposa era uma honra incomensurável. Bastardo! Bufei e ele riu com seu cinismo característico dizendo que em breve em aprenderia a agradecer-lhe por sua generosidade. A julgar pelo brilho perverso que surgiu nos olhos escuros, o idiota arrogante tinha muitas ideias em mente... Ele usaria descaradamente a minha óbvia atração por ele. Meu estúpido corpo traidor cantava cada vez que aqueles olhos escuros hipnóticos cravavam em mim. Eu sou tão patética!
_ Onde está Damien? _ ele quis saber.
Voltei-me da paisagem que observava da janela e fuzilei-o. O imbecil anunciou logo que entramos no jato que trocaria o nome do meu filho!
_ Está dormindo. Já disse que o nome dele é Ricardo. Já foi registrado.
_Sei disso. Você também teve a ousadia de colocar “pai desconhecido” no local reservado a mim. Ele é um príncipe de Ardócia. Ele tem um pai e um país inteiro que o amará. _ disse entre dentes. _ a certidão será anulada.
_ Quero que você, seu país e esse seu maldito título vão para o inferno! _ berrei levantando-me e correndo direto para o quarto nos fundos da aeronave, mas antes que fechasse completamente a porta Leon enfiou o pé pela abertura e entrou batendo-a com força, trancando-a.
Eu acompanhei o gesto entrando em pânico. Ele avançou rapidamente na minha direção encurralando-me contra as portas do armário embutido.
_ O que pensa que está fazendo? Se afaste de mim! _ berrei novamente.
Ele puxou meus punhos com força e os prendeu acima da minha cabeça com uma única mão. Os olhos escuros tinham uma expressão letal.
_ Seu cretino! Solte-me! _ tentei acertá-lo entre as pernas, mas ele foi mais ágil. Rosnou em seguida.
_ Nunca mais fale comigo daquela forma na frente de meus funcionários, entendeu? _ ele esbravejou erguendo o meu queixo com força quase tocando meus lábios. A expressão nos olhos dele era perigosamente predadora. Ficamos nos encarando por alguns instantes. Nossas bocas quase se tocando e a atmosfera entre nós foi se alterando. Os olhos escuros queimaram nos meus com algo que eu conhecia bem: desejo.
_ Solte-me. _ pedi com desespero.
_ Por quê? _ ele riu perversamente, a voz perigosamente suave agora. _ tem medo que eu faça isto? _ seus dentes morderam meu lábio inferior e sua língua o lambeu acalmando-o em seguida. Então, sua boca apossou-se da minha deixando-me sem fôlego, tomando tudo num beijo rude. _ E isto? _ ele encheu a mão livre em um dos meus seios volumosos, massageando o mamilo. _ ou isto? _ sussurrou na minha orelha, lambendo um ponto sensível, enquanto introduzia uma perna musculosa entre minhas coxas friccionando minha pélvis. Puta merda! Eu estava sem sexo há um ano! Ele era um bastardo maldito, mas o sexo com ele sempre foi enlouquecedor.
_ Pare... _ eu disse baixinho segurando um gemido a muito custo.
_ Isso foi um protesto? _ ele riu soltando meus punhos e enfiando as mãos pela minha nuca, puxando meus cabelos grosseiramente invadindo-me com aquele olhar provocante e zombeteiro. _ vai ter que se esforçar mais se quiser realmente que eu pare cara mia._ disse continuando a massagear-me com a coxa musculosa e mordeu duramente meu ombro, sacudindo a língua no local, lambendo a pele sensível como um leão com sua fêmea. Minhas pernas quase cederam, mas ele me manteve montada na coxa poderosa.
_ Pare Leon... _ pedi esforçando-me para não ceder a ele.
_ Esse cheiro... _ele inalou profundamente meu pescoço alvo causando-me arrepios. _ Essa pele de pérola... Esses olhos... Essa boca. _ ele passou o indicador pelos meus lábios dormentes de seu beijo duro. _ Me perseguiram por longos dozes meses. Veja o que faz comigo. _ ele levou a minha mão até a coluna grande e grossa da sua ereção latente.
_ Oh... _exclamei odiando-me por sentir as minhas partes íntimas se incendiando... Desejando-o com desespero. Como um viciado diante da droga...
_ Si, oh! _ ele zombou. _ Mas agora a espera acabou! _ disse abruptamente e sem me dar a chance de protestar, segurou meus seios. Com um riso diabólico rasgou o vestido de tecido fino, fazendo-me emitir um misto de grito e gemido. Seu sorriso se ampliou enchendo as mãos nos meus seios de novo. _ Dio! Tão macios. _ Gemeu alto e terminou de rasgar o vestido expondo meu ventre liso e a calcinha branca de algodão._ Bella... Belissima! _ sussurrou comendo-me com os olhos, percorrendo meu ventre até chegar à minha pélvis, enchendo a mão, constatando minha excitação. A calcinha teve o mesmo destino do vestido. Gemi ao senti um dedo grosso entrando na minha vulva latejante. Ele movimentou o dedo indo fundo dentro de mim e se apossou da minha boca de novo com ânsia louca. _ Sempre tão pronta para mim. _ gemeu levantando-me pelas nádegas. Eu automaticamente o enlacei pelo pescoço, entregando-me de vez. Suas palavras, seu cheiro me enlouqueciam. Ele abriu o zíper da calça num gesto desesperado e no segundo seguinte estava se alinhando na minha entrada e sem aviso mergulhou seu pênis em minha vulva numa estocada brutal, me esticando até o fundo.
Eu gritei com a invasão, arfando, procurando por ar. Ele ficou imóvel permitindo que me acostumasse com seu volume novamente. Parecia extasiado olhando-me nos olhos, nossas bocas abertas respirando com dificuldade uma na outra, então seus lábios e língua desceram numa trilha me lambendo, beijando, mordendo pelo queixo, pescoço, clavícula e passou a sugar um seio e depois o outro. Gritei de novo, insana, meus olhos revirando de prazer. _ deliziosa... Pooorra! Que saudade de comer essa bocetinha apertada. _ Rosnou quase uivando entrando em mim profundamente. Bateu dentro de mim num ritmo frenético cada vez mais fundo. Comeu-me como se tivesse privado de sexo por um longo tempo. _ Dio! Minha putinha gostosa... _ gemeu puxando-me os cabelos da nuca enquanto o outro braço me sustentava pela cintura me olhando dentro dos olhos, me levantando e descendo bruscamente em seu pau enorme.  _ Foda! Gostosa! _ meteu me esticando sem dó entrando até as bolas.  
_ Ohhhhh... Meu Deus! Leon... _ eu quebrei estremecendo, o orgasmo me rasgou tão forte que fiquei sem respirar por vários segundos.
_ Isso putinha, goze no meu pau... Toma tudo nessa bucetinha gulosa. _ Ele riu perverso e entrou em mim com mais brutalidade. Mordeu meu ombro do outro lado com força e lambeu depois. Ele conhece meu corpo melhor do que eu mesma. Meu orgasmo se intensificou apertando-o em meu interior. _ Pooooooorra!! _ gritou, senti seu pênis engrossar e pouco depois ele estava rosnando metendo enlouquecido em mim, me inundando com jatos quentes de sêmen. _ Oh! Delizia!  Gostosa... _ Grunhiu nos últimos espasmos ainda estocando e derramando em meu ventre.
Fechei os olhos e abandonei a cabeça no peito largo. Agarramo-nos tentando recobrar nossos sentidos. Sua respiração ruidosa no meu pescoço. Estava ainda zonza e tremendo quando Leon soltou-me bruscamente. Tive que me esforçar para permanecer de pé. Minhas pernas ainda estavam bambas.
_ Creio que agora entendeu quem está no comando aqui, caríssima. Menos de duas horas depois de nos reencontrarmos e olhe só pra você...
Eu abri meus olhos lentamente ao ouvir seu tom frio. Ele estava totalmente vestido. Ele nem ao menos se despiu! Não sei por que aquilo me incomodou tanto. Era o menor dos meus problemas.  O deixei me foder como um animal enfurecido! Alguém me mate agora! Fui invadida pela vergonha, enquanto ele me olhava de cima a baixo com uma expressão de desprezo nos olhos negros. Ele me odiava! Não havia mais o menor sinal do homem apaixonado que me tomou com desespero contra o armário como se tivesse sentido minha falta. Se não fosse pela ardência que sentia entre as pernas e o fato de estar nua, juraria que aquilo tudo fora fruto da minha imaginação. Mas não foi. Aquilo foi uma punição. Uma forma de me humilhar pelo modo como havia desrespeitado o “príncipe” diante de sua tripulação e eu, estúpida que sou facilitei as coisas entregando-me como uma adolescente fascinada pelo galã da escola. Burra! Chutei-me mentalmente, enquanto juntava o que sobrou de minha roupa e da minha dignidade.
_ Você não usou camisinha... _ voltei-me para ele, tentando desesperadamente parar de tremer. Os olhos escuros alargaram como se só agora se desse conta do lapso.
_ Eu estou limpo. Você está? _ indagou com evidente desprezo na voz.
_ Como ousa me perguntar isso? Você foi o único com quem... Com quem...
_ Fez sexo quente, duro, suado como uma cadela no cio? _ ele completou jocoso. _ talvez eu acredite em você. Estava muito apertada. Quase virgem de novo... _ ele me prendeu com o olhar intenso e eu soube que estava ficando excitado de novo. Bastardo! _ você ainda toma pílula para regular seu ciclo? _ perguntou enfiando as mãos nos bolsos e se afastando. Ele se lembrava desse detalhe? Eu afirmei com um leve gesto de cabeça. Sua expressão relaxou visivelmente. _ ótimo! Não quero mais imprevistos. Isto entre nós é temporário. É bom que não se esqueça disso. Vou foder você até extinguir essa atração inconveniente do meu sistema, mas não pense nem por um momento que terá o título de princesa por muito tempo. _ seus olhos deslizaram pelo meu corpo com uma expressão gelada. _ Recomponha-se. _ Disse como se minha nudez agora fosse ofensiva a ele. _ O jantar será servido em dez minutos. A tripulação espera ver uma princesa do meu lado, não uma puta que se deixa ser fodida contra um armário, gritando a plenos pulmões. _ disse entre dentes.
_ Odeio você! _ Berrei descontrolada. _ Cretino! Maldito! _ Acrescentei em Português e avançando sobre ele desferi um tapa com toda a força do meu braço na face morena.
Ele segurou-me os punhos com uma expressão de deboche no rosto. Entretanto, o lado que eu acertei estava marcado pelos meus dedos.
_Sério? Mas ainda há pouco estava implorando para eu enterrar meu pau em você cada vez mais rápido e mais fundo... Todos ouviram você, cara mia._ Ele riu, mas os olhos estavam turvos de raiva. _ E pare de me ofender em Português. Isso é rude.
Eu gargalhei histérica. Meus olhos fulminando-o.
_ Ouça bem o que vou lhe dizer seu idiota patético. Porque só vou dizer uma vez. _ disse em voz baixa, fazendo-o me encarar novamente. _ Chegará o dia em que você descobrirá a verdade sobre mim. Então me pedirá perdão de joelhos, mas presumo que não serei capaz de perdoá-lo porque já estarei ferida demais para isso.
Entrei no banheiro e bati a porta furiosa. Só então deixei as lágrimas caírem. Deus! Até quando poderia aguentar ser tratada como uma prostituta por ele? Meu futuro parecia sombrio, mas eu não desistiria. Meu filho era a única coisa que me faria seguir em frente.
Chegamos cerca de duas horas depois na Ilha de Ardócia. Havia uma limusine preta enorme aguardando perto do jato. Leon desceu com Ricardo adormecido nos braços. O ar da noite quente me assaltou e senti um choque térmico em comparação com o ar condicionado do jato. Parei no topo da escada e não pude deixar de admirar o porte majestoso do cretino enquanto descia as escadas da aeronave. Emir, seu assessor, me ajudou a descer. Era um pequeno homem moreno de olhos astutos e amigáveis. Tive uma pequena vertigem e ele me amparou antes que caísse da escada. Meu corpo todo doía. Era só o que me faltava, pegar uma gripe ou virose. Leon me deixaria morrer sem cuidados? Aposto que meu futuro marido adoraria que caísse e quebrasse o pescoço logo na chegada. Segui atrás de Leon como uma serviçal, enquanto ele andava a passos largos para o automóvel sem se importar se eu o seguia ou não. Um homem jovem uniformizado fez uma reverência ridiculamente longa para ele. Deus! Por isso era tão arrogante. Percebi que a tripulação do vôo só faltava lamber seus sapatos. O tratava com a mesma adoração ridícula.  O motorista abriu a porta traseira e minha respiração travou com a visão inesperada. Uma morena linda saiu de dentro do carro e praticamente pulou em Leon. Ela me parecia... Familiar.
_ Helena, cara. _ Leon disse com voz suave enquanto a beijava na face perfeitamente maquiada. O termo cara parecia genuíno pela forma como a encarava. Nada do sarcasmo com que ele o usava comigo. Ele gostava daquela garota. Então lembrei! Havia inúmeras fotos dele com ela na internet. Eu a odiei de imediato. Esperei por um tempo humilhantemente longo até ele se lembrar da minha existência. _ esta é...
_ Júlia Smith. _ ela cuspiu meu nome como se fosse uma praga. Os olhos exóticos cor de âmbar me atiravam punhais. _ Dio! O que ela faz aqui?
Leon acomodou Ricardo melhor em seu peito e os olhos dela fixaram no bebê como se só agora o tivesse visto.
_ É uma longa história, cara. Basta saber que ela ficará conosco... Por um tempo. _ ele disse fitando-a com carinho. Eu a odiava cada vez mais. Quem era ela? E por que Leon falava tão manso e suave com ela? Imbecil!
Helena me olhou de novo e desviou os olhos para meu filho nos braços de Leon. Então a compreensão a atingiu e uma máscara de ódio transformou seu rosto bonito.
_ Dio santo! Essa criança... Você transou com ela quando foi ao Brasil no ano passado? Como você pôde Leon? _ seus olhos se encheram de lágrimas. Bem vinda ao clube querida! Mais uma que ele faz chorar.
Leon teve a decência de parece envergonhado, mas se recuperou no segundo seguinte.
_ Não me orgulho disso, mas está feito. Tenho um filho e não vou abandoná-lo por causa da moral duvidosa de sua mãe. _ disse com firmeza dirigindo-se ao carro.
Como eles ousavam falar de mim como se eu não tivesse ali, na frente deles? Forcei-me a mover minhas pernas para segui-lo, mas Helena me impediu de avançar pondo-se na minha frente. O olhar me atirando adagas.
_ Não pense que Leon ficará com você. _ ela riu, mas sem o menor sinal de humor. _ ele vai usar você, devorá-la e depois cuspir para fora num curto espaço de tempo. Ele jamais teria um relacionamento com você, cara. _ olhou-me como se fosse um inseto. _ admito que é muito bonita, mas não conseguirá prendê-lo, nenhuma consegue entendeu?
Uau! Aquela garota era apaixonada por ele. Não que eu, de todas as pessoas pudesse culpa-la. Leon era uma força da natureza. Era impossível ignorá-lo. Ela parecia uma ex-namorada ciumenta. Seria isso?
_ Helena, não é? _ eu coloquei a quantidade certa de desprezo na voz. _ você deveria convencer seu querido Leon a me deixar em paz. Ele me arrastou até aqui. Ele foi o único a ir atrás de mim como um maníaco perseguidor. _ disse entre dentes.
_ Ele não quer você. Ele só quer puni-la. _ ela murmurou com um riso cínico. _ e isso inclui usar o seu corpo até se cansar dele. Você só tem uma utilidade para Leon e já deve saber bem qual é. _ me analisou dos pés à cabeça e seus lábios se torceram num riso de escárnio. _ pela sua aparência desgrenhada, imagino que já tenha abrido as pernas para ele em pleno vôo. Uma puta. É só o que é para ele. É bom que nunca se esqueça disso.
Ela passou por mim deixando-me com a resposta na ponta da língua e juntou-se a Leon no mesmo banco traseiro da limusine. Oh! Sim, é oficial! Eu a odeio! Respirei fundo e entrei me acomodando no banco em frente à eles. Leon me olhou por alguns instantes, algo brilhando no fundo dos olhos escuros.
_ Você está bem? _ quis saber com voz neutra. _ parece um pouco pálida.
_ Estou bem. _ foi tudo que consegui dizer e desviei a atenção para a janela do lado. Já havia anoitecido e eu fechei os olhos por um instante sentindo minha cabeça latejar. Minha vida ali não seria nenhum conto de fadas. Irônico, não?
Acordei sobressaltada pouco depois. Leon estava me tirando da limusine nos braços fortes.
_ O que está fazendo? Eu posso andar. _ protestei fraca, minha cabeça estava pior.
Ele me pôs no chão imediatamente e eu cambaleei. Teria caído se não tivesse me levantado de novo praguejando em italiano e com uma expressão nada feliz na face bonita.
_ Sua tola! Está queimando de febre. Por que me disse que estava bem? _ seu maxilar cerrou. _ o que quer provar com essa atitude estúpida?
_ Apenas me coloque em uma cama, meu corpo dói e minha cabeça parece que vai explodir. _ eu pedi baixinho muito cansada para brigar, apoiando minha cabeça no peito largo. Mesmo no meu estado lamentável, não pude deixar de me embriagar com seu cheiro único. Sim, Sou tão patética!
Cerca de meia hora depois eu estava sendo examinada pelo simpático Dr. Piazzoni, um homem que provavelmente estava na casa dos cinquenta. Deve ter sido muito bonito quando jovem, pois possuía olhos azuis escuros e cabelos que eram agora cinza, mas pelo tom de pele devem ter sido negros algum dia. Leon havia me trazido nos braços até o quarto e me depositou numa enorme cama dossel. Quando abri os olhos e observei o ambiente eu engasguei literalmente. Eu pensei que quartos assim só existiam como cenários de filmes. O aposento era enorme. Á minha esquerda parecia ser uma sala de estar, pois era ricamente decorada com estofados vermelho e bordas douradas. Do lado direito, paredes de vidro davam a vista para uma varanda ampla. Parece que estamos perto do mar, pois podia senti o cheiro da maresia e o barulho fraco de ondas quebrando.
_ Possivelmente trata-se de uma virose, alteza. De qualquer forma, coletarei sangue e levarei pessoalmente ao laboratório agora. Faremos exames mais detalhados amanhã. _ a voz mansa do médico se dirigindo a Leon me trouxe da inspeção. _ ministrarei remédio para a dor de cabeça e faça com que ela se alimente bem e beba muito líquido.
_ Farei isso, obrigado, doutor. _ Leon levou o médico até a porta após os últimos cuidados e eu permaneci onde estava.
_ Onde está Ricardo? _ o encarei assim que entrou no meu campo de visão junto à cama. Os olhos negros me fulminaram pronto para discutir a questão do nome, então sua expressão suavizou um pouco. Eu devia estar mesmo horrível.
_ Está com Helena, minha prima. Além disso, contratei duas babás para cuidarem dele. _ informou com a costumeira arrogância de eu sou o príncipe! Sou dono do mundo!
_ Eu posso cuidar do meu filho. Não preciso de ninguém, ouviu? _ tentei levantar, mas minha cabeça rodou e fui obrigada e deitar de volta gemendo. Leon resmungou uma série de palavrões em italiano e aproximou-se ajeitando melhor os travesseiros sob a minha cabeça. Seu cheiro me invadiu de novo. Eu quase gemi de desgosto pela minha reação à proximidade dele. Nossos olhos se encontraram por um momento, seu rosto bem próximo ao meu. Sua mão veio suave na minha testa tirando a franja dos meus olhos. Ficamos assim alguns poucos instantes então ele piscou e sua expressão endureceu.
_ Não duvido que consiga cuidar dele, mas agora precisa se alimentar e descansar. _ endireitou-se e franziu o cenho. _ você não comeu nada a bordo do avião, pelo menos já havia almoçado quando cheguei a sua casa? _ Neguei incapaz de falar. Novos palavrões e ele pegou o aparelho de telefone no criado mudo, discando quatro números furiosamente. No segundo seguinte, deu uma porrada de ordens num italiano rápido que não consegui acompanhar. _ seu jantar estará aqui dentro de meia hora. Quer minha ajuda para mais alguma coisa?
Eu precisava urgentemente de um banho, mas estava fora de cogitação pedir a ele que me ajudasse nisso. Ele pareceu entender o que se passava na minha cabeça, pois os cantos da boca sensual subiram um pouco num arremedo de sorriso e ele se afastou da cama.
_ Enviarei uma das criadas para ajuda-la se precisar se refrescar antes do jantar. _ ele já estava quase na porta quando perguntei:
_ Este é seu quarto?
Os olhos negros se fixaram em mim por alguns segundos como se analisasse a resposta.
_ Não. Este é o seu quarto. Esta ala foi reformada recentemente e possui três aposentos: o meu, o seu e o de Damien no meio. Todos são interligados. Mais alguma coisa?
_ Não. Vou seguir os conselhos do médico._ ele virou-se abrindo a porta. _ Leon? _ chamei. Olhou-me por cima do ombro. _ eu, hum... Obrigada. _ balbuciei. Pareceu surpreso pelo meu agradecimento.
_ Pensou que eu a deixaria morrer?
_ Confesso que sim. _ disse sincera.
Sua boca se curvou num sorriso cínico e os olhos escuros brilharam perversamente quando disse:
_ Oh! Não cara. Eu preciso de você bem viva e saudável para aguentar tudo que vou fazer com você na minha cama. _ então saiu. Babaca! E eu agradecendo-o como uma idiota. As palavras de Helena vieram à minha cabeça, não consegui evitar.
No dia seguinte fui diagnosticada com uma virose. Passei três dias dentro do quarto, praticamente abandonada, já que quando estava acordada não vi mais sinal de Leon, apenas Luíza, minha “serviçal”, palavras de Leon, estava a maior parte do tempo lá me ajudando a tomar banho e tomar os remédios. Encostei a cabeça na borda da enorme banheira e desfrutei da água morna e os sais de banho que Luíza tão prontamente preparou para mim. Meu corpo já não doía e as tonturas haviam passado. A música de Titãs[1] Porque eu sei que é amor começou a tocar no meu ipod sobre a bancada de mármore junto à pia. Fechei os olhos e suspirei cantando baixinho.
Porque eu sei que é amor, eu não peço nada em troca,
Porque eu sei que é amor, Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui, O amor está aqui, Agora
Mesmo que você tenha que partir, O amor não há de ir, Embora
Eu sei que é pra sempre, Enquanto durar
E eu peço somente, O que eu puder dar...
http://www.vagalume.com.br/titas/porque-eu-sei-que-e-amor.html

Eu adoro essa banda. Aprendi a ouvir com a minha mãe. Continuei a sussurrar a letra quando senti a presença de mais alguém no banheiro.
_ Eu estou ótima Luíza. Obrigada por tudo, você já pode ir. _ disse sem abrir os olhos. Não houve resposta e eu abri finalmente os olhos e quase engasguei com a visão diante de mim. Leon parecia ter acabado de sair do banho, pois os cabelos estavam ainda molhados caindo pelos ombros largos. Vestia uma camiseta de lã azul escuro com gola “v”, com as mangas arregaçadas até os antebraços, mostrando os pelos negros que os cobria quase discretos. Uma calça jeans escura completava o conjunto. Ele estava lindo, casual e perigosamente sexy, pensei presa na visão dele. Leon também me dissecou com aqueles olhos escuros intensos. Arrependi-me de não pedi espumas, pois isso deixou meu corpo nu totalmente à mostra sob a água. O olhar dele me deixou desconfortável analisando demoradamente cada parte de mim antes de finalmente me encarar nos olhos. Havia a sugestão de um sorriso perverso na sua boca.
_ Eu vim perguntar como estava se sentindo, mas estou vendo que está bem... Muito bem, na verdade. _ sussurrou rouco, seus olhos indo para o sul de novo.
Bastardo! Bufei.
_ Já estou bem melhor, obrigada pela preocupação. _ disse entre dentes _ pode me dar licença agora?
Ele não fez menção de sair, pelo contrário, andou devagar até ficar bem diante de mim, os olhos negros em chamas. Oh! Deus! Ele... Certamente ele não queria... Suas mãos foram para a barra da camiseta e eu prendi a respiração. Ele ia se juntar a mim sem pedir permissão. Simples assim.
_ O que você está fazendo? _ minha voz saiu desesperada até para meus ouvidos.
Ele sorriu. Assim já era covardia. Ele era simplesmente irresistível quando sorria.
_ Não é óbvio? _ sussurrou tirando a camisa. _ Bela música. _ disse enquanto Titãs cantavam o refrão.
­_ Você não pode, ouviu? _ agora eu estava realmente desesperada. _ eu não quero. _ afirmei encolhendo-me num canto mais afastado dele.
_ Oh! Mas nós dois sabemos que você quer. Nós dois queremos... _ sua frase foi interrompida pelo toque de seu celular. Ele o tirou do bolso com irritação, mas seu rosto suavizou quando viu o nome na tela. _ Helena, estarei em seus aposentos dentro de meia hora, caríssima._ disse em italiano, seu cenho franziu ao ouvi-la, suspirou e acrescentou: _ Certo, estou indo. Si, cara. _ Observei entre aliviada e enciumada ele vestir a camiseta de novo, cobrindo o peitoral de dar água na boca. _ Helena e eu temos a noite do cinema desde que ela era uma adolescente. Ela está me esperando na ala norte. Temos um cinema no Palácio, caso queira utilizá-lo em algum outro momento. _ Não me passou despercebido que ele disse outro momento, o que significava que não era bem vinda para a sessão com a preciosa Helena. _Parece que estou um pouco atrasado. _ ele passou as mãos pelos cabelos num gesto nervoso. _ que bom que já está melhor. Amanhã trataremos dos arranjos para o casamento. _ fez uma pausa e sorriu arrogante comendo-me com os olhos de novo. _ e outros arranjos... _ sussurrou e virou-se me deixando trêmula de desejo e sentindo-me ridícula por ele ter preferido a companhia da outra. O que só me deixou mais intrigada com a relação deles.  Será que formavam um daqueles casais típicos da realeza destinados a se casarem? E por que esse pensamento me rasgava por dentro? A resposta era simples: eu nunca consegui superá-lo. Nunca consegui tirá-lo de dentro de mim, apesar de suas atitudes tiranas de merda.
Terminei o banho mais rápido e me dirigi ao quarto de Ricardo. Meu pequeno príncipe. A babá tinha acabado de dar banho. Pedi para terminar de agasalha-lo sob os protestos da moça.
_ Senhora, o príncipe deus ordens para não incomodá-la. Sua alteza está preocupado com sua saúde. Quer se recupere rápido. _ informou suplicante.
Eu bufei. Preocupado, sei. Ele quer é me foder o quanto antes, isso sim!
_ Ele mesmo tem alimentado o bebê pelo tempo que esteve doente. Apenas hoje...
_ Hoje o príncipe arrumou algo mais divertido para fazer do que alimentar seu próprio filho. _ minhas palavras saíram amargas. Deus! O que deu em mim? Eu não posso me importar com ele e sua... Sua cara Helena. _ ouça, ele não precisa saber. Será nosso segredo. Além disso, já estou ótima e quero estar com meu filho. _ a moça assentiu por fim, mas não muito satisfeita. Que se dane o príncipe e suas ordens.
Amamentei meu filho balançando levemente na cadeira de balanço junto ao berço. Os olhinhos negros risonhos e brilhantes para mim. Lembrei-me dos olhos de Leon. Os dois eram tão parecidos. A diferença era que os olhos do meu lindo bebê me olhavam como se eu fosse seu mundo. Ele devia sentir que era o mundo para mim também. Mamou ávido como sempre. Debrucei-o sobre meu ombro para que arrotasse e passei a embalá-lo, não demorou muito a adormecer. Quando voltei para meu quarto estava inquieta, sem sono. A mente vagando e me torturando com cenas de Leon e a bela Helena entrelaçados numa cama. Só consegui dormir duas horas depois e foi um sono conturbado. Maldito Leon!



[1] Banda de rock brasileira.

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