O LADO BOM DE SER TRAÍDA - Capítulo 34

Marco

Eu quero saber quem é o fudido que está fazendo tal ameaça. Ninguém brinca com a minha filha. Olhei para minha sereia e vi lágrimas em seus olhos, a puxei para meus braços e senti seus batimentos acelerado. Abracei-a forte. 

- Amor, fica calma! Seja quem for que esteja fazendo isso, não machucará você nem a Vitória, vocês duas são as pessoas mais importantes da minha vida.

- Estou com medo, Marco. Não por mim, mas por sua filha. Quem pode ameaçar um anjinho que não pode se defender sozinha, é muita crueldade.

- Não fique, amanhã mesmo vou mover céu e terra para providenciar os equipamentos para a vinda dela para a nossa casa. Já fiz o pedido há quase um mês, e eles estão atrasados, mas amanhã não tem perdão. Vou resolver isso.

- Se precisar de qualquer coisa, conte comigo. – O que pretende fazer Marco?

- Eu sei que posso contar. Será que você está em condições de ficar sozinha? Preciso ir ao hospital, dormir com a Vitória.

- Claro, faça isso mesmo. Você tem preocupações maiores agora. Eu vou ficar bem, estou um desastre emocional, mas amanhã estarei nova em folha, e ao seu lado, para enfrentar todo este turbilhão de emoções.

Dou um beijo calmo e apaixonado! Amo demais essa mulher! Após a nossa despedida, e me certificar que ela está bem emocionalmente, sigo para o hospital. Estou morto de cansaço, o dia foi cheio, trabalhei muito, mas minha filha é prioridade agora.

Quando chego ao hospital, quase de madrugada, entro no quarto da Vitória na ponta dos pés, vejo que a Sra. Estela está lendo algum livro, enquanto a minha doce menina, dorme feito um anjo.

- Dr. Marco, que surpresa, aconteceu alguma coisa?

- Não Estela, tudo bem. Só estava com muitas saudades. E não consegui dormir, sem ver como está a minha menina. - Minto, não quero alertar ninguém sobre a ameaça.

Ajeito-me na poltrona, ao lado da caminha da minha anjinha, e tento dormir, mas com a cabeça cheia é quase impossível, sou vencido nos 45 minutos do segundo tempo. Estou sonhando com minha sereia e sinto um carinho gostoso no cabelo, um cafuné reconfortante, sem abrir os olhos, já chamo pelo meu amor:

- Babby? É você amor?

- Não, Dr. Marco, sou eu, Rafaela.

Quando ouço aquela voz, dou um pulo da poltrona, totalmente desconsertado, por receber um carinho, que não seja de minha namorada.

- Que intimidade é essa Rafaela? 

- Desculpa, o Sr. estava dormindo, mas com uma expressão preocupada, então tomei a liberdade de fazer um carinho, para relaxar. - Enquanto fala, os olhos estão fitando o chão, como se estivesse envergonhada por sua atitude.

- Ok. Mas que não volte acontecer, o nosso relacionamento é estritamente profissional. - Não é a primeira vez que "corto" a Rafaela, não gosto de grosseria, mas com ela tem sido inevitável ultimamente.

- Tudo bem - Fala quase inaudível. - Mas aconteceu algo com a nossa pequena Vitória, para o Sr. ter dormido aqui?

- Não, nada! Apenas saudades de minha filha. Posso, não é? - Não consigo ser gentil, mil coisas em minha cabeça.

- Claro!

Saio do quarto para deixar este clima totalmente desnecessário. Que mulher intrometida. Estou seriamente desconfiando das suas atitudes, mas depois lido com ela. Vou atrás dos equipamentos médicos da Vitória, os fornecedores vão ter que dá um jeito, seja lá o que for, mas até amanhã quero todos os equipamentos em minha casa. Caminho sentido à Cantina, preciso de um café forte, pois hoje o dia vai ser longo, e ainda tem o Jantar do meu Pai, não posso falhar com ele.

Bárbara

Estou me fazendo de forte, mas estou temerosa. Não sei de quem desconfiar, a única pessoa que tem vínculo com a Vitória, e que eu conheço é a Rafaela, mas independente do meu ciúmes e desconfiança com aquela sonsa, eu vi como ela trata com amor e carinho a Vitória, não iria ameaçá-la.

E por mais uma noite não dormi direito, tentei encaixar as "peças" com os e-mails e a encomenda, mas não consigo chegar a um denominador comum. Vou tomar um bom banho, para ajudar no processo de "descarrego" e seguir o dia. Estou quase procurando uma "benzedeira" pois o processo está nebuloso.

Quando chego ao escritório encontro com a Patty, pelo menos uma notícia boa, se ela veio trabalhar, é sinal de melhora.

- Saudades de você, doidinha!

- Eu também.

- E como está, tudo certo?

- Perfeitamente bem. Vida que segue, e você me conhece muito bem, sabe como preciso ser forte.

- Sei sim, você é a melhor. Deixa-me ir, estou cheia de clientes para atender.

E antes mesmo de meter a mão na massa, preciso saber como anda meu gatinho. Ligo e a chamada encontra-se em espera. Provavelmente, deve estar correndo com os equipamentos da Vitória, vou deixá-lo resolver sem interrupção. Só mando uma SMS.

Querido, bom dia! Tudo bem? Como está a Vitória?

Deixo o celular de lado, e sigo com os atendimentos do dia. A hora do almoço chega que nem ao menos percebi. Só vejo a Patty na porta, me convocando para o "momento salada". Provavelmente, a bonita se entornou de chocolate, e eu tenho que me sacrificar com ela.

Resolvemos ir a um restaurante natural, não muito perto do trabalho, porém vale a pena.

- E aí amiga, mais novidades?

- Nada, tudo na melhor paz e ordem.

- Sei... pode falar, sou toda ouvidos.

- Babby, passado pra mim! Já quero entrar em outra, vamos mudar de assunto, falar sobre o seu Juiz Gostoso?

- Aí nem te conto os últimos acontecimentos.

- Então conta, nos mínimos detalhes, principalmente as sacanagens.

Reviro olhos, ela só pensa "naquilo". Só a Patty para elevar meu dia e astral.

Depois de papear bastante, fofocar, atualizar sobre os últimos acontecimentos, comer uma deliciosa salada, sem sarcasmo. Quando nos levantamos para pagar a conta, não sei porque, mas sinto que estou sendo observada, passo o olho rapidamente pelo ambiente, mas não reconheço ninguém. Estranho. Acho que as caraminholas já começaram a atacar.

Desde que mandei a mensagem para o Marco mais cedo, eu olho o visor do celular para ver se tem alguma novidade, já futuquei o celular, vai que está no silencioso e eu não percebi. E quase 17:00, no final de expediente, recebo o retorno dele.

- Amor, desculpa a demora! Estava com um turbilhão de coisas para resolver.

- Eu imaginei, mas fiquei preocupada. - Me conte, tem novidades?

- Tenho ótimas notícias, os equipamentos da Vitória, todos eles chegarão amanhã.

- Que maravilha, e como conseguiu está proeza. Usou o seu charme?

- Não fico feliz em dizer, mas tive que recorrer às influências e favores de alguns amigos, acredita que as mercadorias estavam embargadas na alfândega? E depois de pagar todos os impostos devidos, consegui a liberação. Mas para que seja rápido, precisei dessa forcinha dos colegas.

- Entendo! Brasil, e o poder dos influentes.

- Estou saindo agora do escritório, acredito que às 20:00 horas não tem como ir buscá-las, mas às 21:00hrs está bom para você. O Jantar está marcado para 21:30hrs.

- Está ótimo, te espero ansiosa! Ah, antes de desligar, me conte da Vitória.

- Está ótima, cheguei ontem de madrugada, e ela estava dormindo feito um anjo. - Tive que contratar um segurança, só para me deixar mais relaxado, pelo menos hoje, que estaremos neste Jantar.

- Que bom, fico mais aliviada! - Então, nos vemos depois, vou correr, pois com o trânsito de sempre, precisamos nos apressar. E você sabe, mulheres precisam de um tempo dilatado.

- Você é linda, amor! Não precisa de tratamentos especiais.

Oooowwwnnn que lindo! Nos despedimos, e parto rumo à minha casa.

Cheguei em tempo, com toda a minha roupa já deixada em cima da cama, só faltava um belo banho, e começar o estica e puxa no cabelo. Meu vestido com todos os requisitos para ser aceita pela sogra: decote discreto, costas fechadas e comprimento até o joelho, cor e estampa suaves, tecido estruturado e caimento que não é justo demais e não marca o corpo. Não que eu esteja criando um outro estereótipo, até porque não sou nenhuma devassa, gosto de vestidos comportados e bem estruturados, cada ocasião deve ser respeitada.

E como um britânico às 21:00 hrs o interfone toca, nem atendo, desço direto.

Quando avisto aquele homem delicioso, de ombros largos, com um terno e blusa preta social, e uma charmosa gravata lilás, meu sorriso quase não cabe no rosto. Ele é muito gostoso, não tem como não admirar.

- Uau, você está perfeita! Uma verdadeira deusa.

- Então, isso te faz um deus grego? - Já que é exatamente o que vejo agora.

Ele me dá um selinho, deve estar com medo de manchar a minha maquiagem, mas não me contenho, e seguro o seu pescoço, e mostro que comigo não tem frescuras.

- Agora sim, um beijo delicioso. - Com isso podemos ir - Falo direta e satisfeita.

E como resposta, só recebo um sorriso de canto. ô perdição!

Chegamos ao local da festa, tinha muito carros, como nunca fui a um evento voltado para um Desembargador, não imaginei o porte da festa. Ao adentrar ao salão, já fomos interpelados por conhecidos do Marco, e a todo momento, ele fez questão de me apresentar, me senti nas nuvens, pois agora é oficial!

Marco

A desenvoltura e o carisma da Bárbara é contagiante, por onde passamos, todos os nossos amigos olham a ela, com admiração pela simpatia que transmite, no fundo sei que esse coraçãozinho está apertado, preocupada com tudo o que está acontecendo. 

Refletindo hoje o dia todo, tive a certeza, que querem afetá-la mais, do que fazer mal a minha princesa, mas não posso bobear, quem está fazendo essas ameaças, não sabe ainda que já sei de tudo.

Ainda não contei a Bárbara que também coloquei um segurança, para ela, depois do jantar, pretendo ter uma conversa séria sobre os últimos acontecimentos. Sei de toda sua independência, mas enquanto não descobrir, quem está por trás de tudo isso, ela vai ter que aceitar.

Vejo a mesa dos meus pais, e começo a sorrir sozinho, minha mãe está já de pé, com um sorriso de orelha a orelha. Ela é empolgada, imagino sua felicidade, com a aposentadoria do meu pai, não duvido, que ela já tem tudo planejado, para após o jantar ir direto ao aeroporto, conhecer mais um lugarzinho do mundo. Se tem um casal que gosta de viajar, este casal são meus pais.

Puxo minha sereia mais perto do meu corpo, quero passar segurança a ela, que está tudo bem e que meus pais vão adorar ela.

As apresentações são feitas, e fico de boca aberta, em menos de minutos, sinto que meus pais, já são amigos da Bárbara por uma vida.

Tudo estava caminhando maravilhosamente até que somos interrompidos por três convidados, que não poderiam faltar, uma vez que sei que são amigos do meu pai a muitos anos.

- Boa noite, meu amigo, que felicidade em reencontrá-lo, num momento especial de sua vida.

- Que bom que puderam vir, essa noite tenho a sensação de dever cumprido.

A mãe da Paula me encara constrangida. Álias o momento é de puro constrangimento, visto que a Paula faz sua entrada triunfal nos cumprimentos.

Bárbara

O momento não poderia ser melhor, encontrar com a ex do meu namorado, no dia em que estou conhecendo os seus pais.

A descarada cumprimenta a todos e literalmente falando, ela se joga nos braços do Marco, como se fossem marido e mulher. O desconforto dele é notório, claro que não vou dar escândalos, mas minha vontade é de cravar as unhas na linda cara dessa descarada.

A mãe do Marco percebendo meu desconforto, e tenta apaziguar um pouco a situação.

- Paula, você já conheceu a Bárbara? Ela é uma das nossas convidadas, não é de bom tom, uma mulher tão sofisticada e educada como você, não cumprimentar todos os convidados da mesa.

- Me desculpe Melissa, é que quando eu e o Marco nos encontramos, parece que só existe nós dois no mundo.

Faço cara de paisagem, a mulher quer uma cena de ciúmes, pois ela que fique esperando, sou orgulhosa demais para sair do salto.

- Melissa, já nos encontramos uma vez. – Estendo a mão. – Boa noite Paula.

- Boa noite, querida como é mesmo seu nome? Acabei esquecendo, a única lembrança que tenho de você é, andar nua pela casa do meu marido.

Olho para o Marco que está vermelho e já querendo dizer algo, quando eu mesma, decido responder: 

- Não sabia que meu corpo estava povoando a sua mente. Mas enfim, acredito que você se lembra bem da minha promessa. Hoje não estou de roupão, estou vestida apropriadamente para o evento, então acredito que serei agraciada com as suas boas maneiras. Chupa essa, sua vaca. 

- Se prefere achar que está vestida apropriadamente para um evento como esse, vejo que não entende nada de vestimenta, minha cara. Mas não sou eu que irei ensiná-la. Todos me dão licença, mas preciso ter uma conversa com meu marido, em particular. Estamos nos desencontrando alguns dias e temos um assunto urgente a tratar.

- Paula, se casou de novo? Falou o Marco, entre dentes. Se fosse em um desenho animado, ele estaria cuspindo fogo. 

Ela começa a se alterar e provocar um escândalo, faço sinal para que o Marco vá logo ouvir o que essa louca tem a dizer. Ele reluta em ir, mas acaba cedendo, em respeito a seu pai. 

Ele se aproxima um pouco mais de mim e sussurra no meu ouvido. 

- Você está bem? – Posso muito bem dizer a essa louca que não vou falar com ela em lugar algum.

- Marco, não complique mais a situação, enfrente a fera de frente, te dou dez minutos, para colocar essa pirada no lugar dela. Porque se você não fizer, faço eu, e acredite meus métodos não serão nada elegantes.

Ele aperta minha perna e sai para ver o que a desequilibrada tanto quer falar. 

Assim que eles saem, os pais da Paula se desculpam por ela, digo que está tudo bem. Melissa e o Sr. Jordan, não sabem o que faz, para me confortar.

Vários amigos e autoridades, vieram cumprimentar o Sr. Jordan, por sua carreira brilhante e honrosa, e em meios aos cumprimentos, e conversas alheias, a minha paciência começa a se esgotar, devido a demora dos dois. 

E quando menos espero, aparece um Marco com um olhar mortal, está com fogo nos olhos, e não é um fogo bom. 

Meu coração dispara. Esse olhar do Marco não conheço.