Capítulo 19
Patrícia Alencar Rochetty...
Conversamos e brincamos, de uma forma descontraída − o que, admito, nunca fiz com nenhum peguete antes −, enquanto nos dirigimos ao local em que o café é servido. E que café! Digno de hotel cinco estrelas! Os olhares do casal Doriana para mim são de curiosidade.
Como estou de bom humor e traquina, faço carinho nas mãos do garanhão que está ao meu lado para provocar os dois e, ao perceber que estão prestando atenção, dou uma piscada para atiçar ainda mais a curiosidade deles.
Como estou de bom humor e traquina, faço carinho nas mãos do garanhão que está ao meu lado para provocar os dois e, ao perceber que estão prestando atenção, dou uma piscada para atiçar ainda mais a curiosidade deles.
O Marco faz um sinal disfarçado imaginário, como se estivesse jogando uma vara, com carretilha e isca e fisgado um peixão. Vejo que o Carlos está entretido está olhando para uma pessoa que se aproxima e aproveito para retribuir a brincadeira, passando a mão na barriga, como se a dizer que me fartei do peixão... A Babby, dá um tapa no braço dele e nós três, divertidos com as brincadeiras de mímicas, rimos disfarçadamente.
Já estamos quase terminando o café e vejo que a pessoa que se aproxima é o Nandão Chega até nós dois, todo simpático e imponente. Olha, vou te falar, o cara transpira sensualidade e se não fosse o meu garanhão, neste final de semana, jogar-me-ia, facinho, nos grandes braços deste homenzarrão. Hum, até falei bonito... jogar-me-ia... há quantos anos estudei isso... Bem, não vou negar que também um pensamento safadinho insinua-se em minha cabeça, imaginando-me papando os dois... Pai do céu!! De onde veio isso?!? Para mim, em termos de sexo, vale a máxima: um é pouco, dois é bom e três é demais... A coisa pode até ser boa, mas, não dá para mim, não cheguei a esse nível de liberação sexual ainda. Nem se for com esses dois monumentos da gostosura. Além do que, tampouco sei se o Carlos curte esse tipo de coisa. Então, xô tentação!
− Bom dia! Preparados para torcer pelo melhor, no campeonato de velas?
− Bom dia!!!
Respondemos juntos. O engraçado é que, ao ver o Nandão rir, o Carlos, num gesto que me parece possessivo, segura a minha mão.
− E aí? Detesto interromper esse romance Sissy, mas, temos um compromisso para agora, às 10:00hs, na abertura da final do campeonato, e estamos, no mínimo, cinco minutos atrasados.
Olho, espantada com a insinuação de um suposto romance Sissy, e a resposta do Carlos surpreende-me.
− Vejo que a frutinha, por estar desejando as pessoas alheias, pensa que vai projetar seus desejos mais perversos em nós. Sinto decepcioná-lo, mas, não é o nosso caso, amigão! Sem preconceitos, viu, Nandão? Vou admirar ainda mais você se assumir quem quer ser perante a sociedade, de boa. Tenho certeza de que a minha Patrícia não te olharia diferente. Mesmo um homem tão vistoso, pode adorar a inversão de papéis – pelo que o Carlos fala, deduzo que esse tal romance Sissy tem a ver com a pessoa assumir seu lado sexual, eu acho... Bem, a fim de não fazer um papelão, rio, feliz, para disfarçar minha cara de interrogação e aguardar outro momento para que o Carlos esclareça melhor tudo o que está falando, de forma divertida.
− Sem preconceito algum de minha parte – levanto meus braços, em sinal de rendição, rindo, sem sentido − Também acho que não é o nosso caso, se você curte, entregue-se – entro na brincadeira.
O Carlos volta-se para mim e ainda tenta, mais uma vez, convencer-me a ir com ele, na cerimônia de abertura, até que, mesmo contrariado, ele aceita que não quero ir, pois prometi ao Marco e a Babby que ficaria com as crianças enquanto eles assistissem ao evento. E, para ser sincera, com certeza, não abrirei mão da minha palavra e, ainda por cima, deixar de me divertir com meus príncipes! Outra coisa a respeito da qual não falei nada, na hora, para não ficar chato, mas, que notei e não gostei, foi quando o Carlos referiu-se a mim como “minha” Patrícia... Ora, se ele pensa que duas noites de sexo, mesmo que da melhor qualidade, faz de mim SUA “menina”, “pequena” ou o que o valha, como se eu fosse mais uma de suas posses, minha recusa é uma das formas pelas quais mostrarei que absolutamente ninguém me domina ou resolve as coisas para mim. Posso até ter-me deixado levar na hora em que “o pau comeu”, mas, isso foi entre quatro paredes e só no rala e rola. Fora do quarto, esse espaçoso tem que entender que nem mesmo ele poderá dar-me ordens ou tratar-me como uma propriedade.
− Escute o que vou dizer a você, mocinha! Concordo que é justo você ficar com os pequenos se é isso que deseja, mas, se, de longe, eu avistar qualquer pirralho, com mais de 18 anos, ao seu lado, vou castigá-la a noite toda, mantendo-a amarrada ao pé da cama – sentimentos contraditórios invadem-me e eu não consigo entender-me muito bem. Ao mesmo tempo que meu lado independente grita contra qualquer sentimento de possessividade que ele possa ter com relação a mim, o lado sexual da mulher que sou, excita-se com sua voz rouca e cheia de promessas. Para sair desse caos mental, recorro ao meu sempre bom humor.
− Vejo que você tem a mim em alta conta e sinto-me honrada por você acreditar que sou atraente a ponto de um garotão sarado, com 18 aninhos, querer brincar com a tia Patty aqui...
− Está avisada! Sem contar que esse tal rapaz teria que visitar seu dentista para fazer implante, após eu mostrar-lhe que não deve mexer com as pessoas das quais eu cuido – ele pisca, divertido.
O que aconteceu com este homem, hoje?!?! Será que acordou com vontade de surpreender a todos? Só pode ser, considerando-se sua atitude de, antes de sair, demarcar seu território no meu corpo, com um beijo avassalador, com gostinho de quero... vem aqui... e não sai dos meus lábios nunca mais... Surpreendente é, também, eu estar deixando essa coisa, seja ela o que for, continuar!
Balanço a cabeça para afastar tais pensamentos e vou ao encontro dos meus amigos.
− Bom dia, família Doriana!
− Bom dia! Ainda bem que faz parte desta família, né, amiga? Assim, tenho a liberdade de te dizer que, pelo sorrisão estampado nessa sua cara safada, devemos concluir que a noite passada lambuzou-se da nata da margarina. E esta não era da marca Doriana...
− Bom dia, Patty! Babby, que indiscrição! – o Marco repreende-a, mas, ela não deixa passar barato.
– A indiscrição é minha, né, bonitão? Fui eu que joguei uma vara imaginária, no meio da mesa do café da manhã, dizendo que ela fisgou um peixão?
Todo galã, ele joga seu charme para ela.
− Tinha que ser uma vara mesmo, pois ele é apenas um peixe... Agora, eu, que sou mais sortudo, joguei uma rede e conheci a mais linda sereia de todos os mares – ele puxa-a para seus braços e ambos se entregam a um beijo apaixonado. É claro que eu brinco.
– Ok, vou mudar o slogan do casal. Agora, vou chamá-los de “kinojo”.
Todos rimos e, ao ouvirmos barulho de passinhos ligeiros, vemos as crianças chegando. Quando me veem, os pequenos correm para os meus braços.
− Patty, não precisa ficar com eles. Pode juntar-se ao seu peixão, pois já combinamos com a babá que o Carlos, gentilmente, colocou à nossa disposição, de ela ficar com a gente, durante o evento.
− Desfaça o que combinou, então, porque não abro mão de passar o dia com os pequenos – pego as mãozinhas gordinhas dos dois e vou andando, sem olhar para trás. Será que a Babby acha que uma noite de mil e uma, maravilhas, é capaz de mudar quem eu sou ou o que acredito? Não é mesmo! Não entendo o motivo pelo qual as pessoas acham que estar junto de alguém significa anular-se... as pessoas têm que ser completas sozinhas, oras bolas! Quem fica junto de outra pessoa vem apenas somar, mas, não completar nada! Acreditar nisso, é jogar uma imensa responsabilidade nas costas do outro, deixando de ir atrás da própria felicidade, querendo que alguém o faça em seu lugar.
Saímos todos e, como a casa é muito próxima ao evento, andamos e brincamos de corrida com as crianças. Assim que chegamos ao cenário deslumbrante, meus braços de arrepiam com a magnitude do evento. Por toda a orla da praia há bandeiras sinalizadoras, patrocinadas pela Germânica. Mais de 100 barcos já estão posicionados para o início do Sailing Week.
Uma coisa interessante que noto é que, para todos os lados que olho, vejo somente mulheres lindas desfilando, umas com alguns velhos caquéticos e outras com verdadeiros deuses. Fico imaginado o Sr. Garanhão, rodeado por um par delas e, logo, que meus pensamentos trazem uma pontinha de insegurança... levo um susto ao ouvir o som que sai das caixas autofalantes, passando a prestar atenção no que está sendo falado.
Bem-vindos, Bienvenidos, Welcome ao Yacht Club de Ilhabela!
O YACHT CLUB ILHABELA (YCI) cumprimenta todos os esportistas, convidados, patrocinadores e apoiadores do mais tradicional evento de vela da América Latina, em sua 40ª Edição: a ILHABELA SAILING WEEK!
Este ano completamos mais um ano, ao lado do Grupo Germânica, empresa tradicionalmente ligada ao nosso evento maior, assim como passamos a contar com mais um importante parceiro, o Banco do Brasil.
Enquanto olho para ele, lindo, no palco, vestido com uma bermuda cargo branca e uma camisa polo azul turquesa, levo, uma vez mais, outro susto ao sentir uma cotovelada na costela.
− Uau!!! Como se sente a primeira dama do evento? – olho para a Babby assustada. O Carlos insinuou, pela manhã, o que eu achava de ficar com ele, durante a cerimônia de abertura, e eu não entendi, na hora! Xingo-me, mentalmente. Por que tenho que ser tão tartaruga ao invés de ser o mestre Splinter[1].
− Engraçadinha! − respondo a ela, tentando ganhar tempo e desconversar por causa da cara de interrogação que ela faz quando por me ver espantada quando mencionou a palavra primeira dama − Ele disse isto esta manhã.
− Certamente você deu uma resposta nada agradável ao convite.
− Pensei ser uma brincadeira com o jogo de damas e não liguei os fatos.
− Peixão encantador! – ela pisca – Claro que tenho meu tubarão, mas, não posso deixar de dizer que o cara é sedutor até no fio de cabelo! − continuou – Jogue-se, menina! Vocês dois juntos formam um lindo casal explosivo.
− Casal? Passo a noite com um mero amigo com benefícios e você já quer levar-me para o altar? Ele é um eterno garanhão, Barabarela, como eu, vive tendo relacionamentos casuais. O cara curte a vida como um marinheiro, tem uma mulher em cada porto.
− Não vi isto, amiga! Ele parecia bem animado com a sua chegada, ontem – não bastando falar o que pensa, ela ainda acrescenta suas suposições – E você parecia que estava gostando de todo o charme que ele estava jogando em você... sem falar na sua expressão de felizes para sempre, com a qual você apareceu no café da manhã.
− Vamos, meninos, brincar um pouquinho, que a mãe de vocês tirou o dia para me alugar e não vai deixar a tia Patty curtir vocês − escolho um cantinho com guarda-sol e começo a brincar com as crianças. Construímos um castelo e percebo que, de fato, a pequena princesa parece a coxinha que citei na viagem, mas, que nem mortinha, vou dizer de novo, pois onde vou achar o salgado para comprar para ela... em cada dobrinha dela tem um quilo de areia! Já o pequeno Gabriel é, como sempre, meticuloso e, todo certinho, pega a areia com a pazinha e coloca no baldinho, ditando regras para a irmãzinha como tudo tem que ser.
Enquanto eles estão distraídos com a brincadeira, resolvo mandar uma mensagem ao meu amigo Dom. Sei que ele vai achar-me uma maluca, mas, meus pensamentos e minhas incertezas estão acabando com minhas defesas. Se resolvo falar com a Babby que quero ficar porque prometi ao Carlos que passarei o final de semana com ele, ela, com certeza, vai dizer para eu jogar-me de cabeça e blá, blá, blá´.... Mas, meus medos vão além dessa etapa, porque, na verdade, para o meu jeito de ser, ter ficado com ele mais de uma noite já foi jogar-me muito de cabeça. O problema maior, é que não consigo parar de pensar no Carlos um só segundo. O que faço? Tenho estado só a vida toda, nunca me permiti viver de lembranças, sonhos ou planos. Para mim, nisso se resume a minha felicidade. Posso dizer que estou muito bem, obrigada, a qualquer hora do dia. Mas, a mera possibilidade de ele fazer parte de minha vida por um tempo assusta-me, porque, um dia, ela dirá adeus e eu ficarei só, novamente. Tomo coragem e mando uma mensagem para ele, para ver se consegue entender o balaio de gato que está na minha cabeça.
Patricia Alencar Rochetty:> Olá, preciso de um colo, amigo.
Dom Leon:> Meu colo é todo seu, pequena, sente-se e rebole à vontade...
Mas, brincadeiras e desejos à parte, diga-me o que aconteceu?
Safado! Rio da brincadeira. Não o conheço, porém, sinto-me sempre à vontade para dizer -lhe tudo o que penso e sinto.
Patricia Alencar Rochetty:> O problema não é o que aconteceu, mas o que pode acontecer.
Dom Leon:> Bom... se sentar em meu colo, pode acontecer coisas bem prazerosas, posso te levar a ver estrelas e estralar minhas mãos, na sua carne macia. Mas se não é disto que está com medo de acontecer, seja clara, não aprendi a decifrar entre linhas. Só posso te ajudar ser for bem explicita.
Bem que eu queria Dom Leon, que meu medo fosse sentar no seu colo e galopar, mas é do meu coração que tenho medo, dos meus sentimentos.
Patricia Alencar Rochetty:> Estou com medo, pois prometi uma coisa a uma pessoa e não sei se serei capaz de cumprir.
Dom Leon:> O que você prometeu? E para quem prometeu?
Por que ele tem que ser tão direto sempre?
Patricia Alencar Rochetty:> Prometi que passaria o final de semana com um cara e estou com medo de, ao fazer isso, ele acabar significando algo mais do que uma transa sem sentido... E o pior é que, caso isso aconteça, nós ainda diremos adeus um ao outro. Tenho medo do que vou sentir quando essa hora chegar. Acho que, pela primeira vez na minha vida, não cumprirei minha palavra, e vou desaparecer rapidinho...
Não acredito que fui capaz de admitir para alguém os meus medos e receios, pois não faço isso nem para mim mesma!
Dom Leon:> Por que você acredita que ele pode significar mais do que uma transa?
Patricia Alencar Rochetty:> Porque isso já está acontecendo...
Fico sem resposta da parte dele. E, por mais adoráveis que sejam as crianças, o prazer que sempre sinto em estar com eles não impede que minha cabeça fique dando mil voltas. Por que será que, de fato, sou tão armada contra tudo que envolva sentimentos entre mim e um homem? Por que será que deixei uma glândula assumir o controle da minha vida por tanto tempo?
− Dinda! Você bateu e quebrou a ponta do castelo!
Perdida, procurando encontrar respostas e sentindo-me intrigada por não me permitir ser feliz, ouço, de longe, uma voz sensual dizer.
− O tio Carlos ajuda você a consertar o desastre que a tia Patty causou. Onde será que os pensamentos dela estão? Vamos descobrir, Gabriel?
Olho de lado e vejo-o ajoelhando-se ao meu lado.
− Deveria ser proibido ser tão linda, sabia? – ele sussurra, baixinho, olhando-me, intensamente, com seus olhos que combinam com o azul do céu, estudando minha expressão.
Disfarço um suspiro causado pelo arrepio que ele sempre me faz sentir, balanço a cabeça, volto ao planeta Terra e peço desculpas ao meu príncipe.
− Desculpa a tia, Gabriel, vamos refazer a ponta do castelo.
Cúmplices e conscientes dos nossos desejos, juntamo-nos as crianças e a brincadeira inocente parece contar com quatro crianças distraindo-se.
Logo, chega uma mensagem no rádio que o grupo de apoio entregou ao Carlos, dizendo que chegou o momento da entrega dos troféus. Antes de se afastar, ele segura minha mão, bem firme, e disse:
− Volto logo. Quero mostrar-lhe um lugar especial – ele abaixa-se até a minha boca, segurando meu rosto entre as mãos e beija-me como se fosse a coisa mais delicada do mundo... justo eu, truculenta como sou... Depois, olha-me como se estivesse incerto quanto a me deixar e vai até o palco.
Não sei o que está acontecendo aqui, pois ele não acompanhou a competição, nem mesmo voltou para o grupo do evento, preferindo ficar comigo e as crianças, como se isso fosse algo óbvio e natural e aquele pequeno espaço, debaixo do guarda-sol, o melhor lugar onde ele ficou, nos últimos anos de sua vida! Ele brincou, riu, colocou a mão na areia com o Gabriel, sem frescura. Aliás, observei que eles são parecidos, ambos autoritários e zelosos.
Durante todo o tempo em que esteve conosco, tive a impressão de que queria dizer-me algo. Na primeira vez que tentou, respirou fundo e, olhando nos meus olhos, começou a falar:
− Patrícia, às vezes, conhecemos pessoas e, para nos aproximar delas, precisamos usar estratégias para que elas não nos afastem...
Ele não pode continuar, porque o Marco e a Babby chegaram, naquele momento, para trazer agua de coco para todos nós.
Na segunda vez que começou a falar, fiquei intrigada.
− Pequenos momentos podem transformar-se em grandes. Precisamos viver o hoje e não ficar pensando se o amanhã será um dia com novas conquistas e glórias. Temos que viver um dia de cada vez...
– Tio Caios, o Biel pegô a paizinha − as crianças ficaram tão encantadas com ele, que a dinda ficou de lado, literalmente falando.
Se eu tinha alguma dúvida em ficar, seu aconchego e carinho com as crianças acabam libertando-me da agonia da incerteza. Não que o fato de eu resolver ficar signifique que eu iluda a mim mesma, tornando-me, só por isso, agora, a ex encalhada profissional ou faça de mim aquela que resolveu ser feliz, ao lado de um gato, quando sempre priorizou a vida profissional. Nem, tampouco, torna-me uma ex encalhada tipo Bela Adormecida, que dormiu a vida toda e, então, acorda ao lado do príncipe encantado! Porque, sendo sincera comigo mesma, como sempre fui, essa história de príncipe encantado é para as mulheres fortes, que não tem medo de se jogarem e apostarem num relacionamento, sendo felizes enquanto durar, mesmo sabendo que correm o risco de amar demais e, depois, ficarem sem seus príncipes. Admiro esse tipo de mulheres, mas, na verdade, não tenho nem um décimo da coragem delas, assumo totalmente minha covardia.
Nem sei quanto tempo fico matutando isso até que meu celular apita e vejo que o Dom Leon, depois de um século, respondeu a minha última mensagem.
Dom Leon:> Pequena, não tenha medo! Tenha em mente que o casal perfeito não é aquele que aparece nos filmes e livros, com mocinhas que se encaixam perfeitamente aos mocinhos... Talvez, a pessoa que você está com tanto medo de gostar também tenha seus fantasmas... Olhe nos olhos dela e veja o consegue ler. Nem sempre uma pessoa tem a palavra certa, no momento certo, mas, ela pode oferecer um abraço silencioso, quando menos esperar. Uma lágrima temorosa e fugidia jamais salgará o deleite do sabor do fogo e da paixão. Não faça da música da sua vida apenas algo para ouvir, mas, dance-a no ritmo que o destino está orquestrando.
Nossa, eu fui profundo, confessa... Ah, quer saber? Não confessa nada, venha é sentar-se no meu colo para sentir o couro do meu cinto em seu corpo. Beijo.
Reflito a respeito de suas palavras... Juro que penso que esse Dom Leon é um bruxo! Respondo-lhe, animada.
Patricia Alencar Rochetty:> Não acho que me quer mesmo em seu colo, pois vive jogando-me no colo do outro! A propósito, Dom Leon, hoje, fiquei curiosa com uma expressão e, apesar de terem explicado para mim, superficialmente, mas consegui captar o verdadeiro significado. Você pode explicar-me o que é um casal Sissy?
Dom Leon:> kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Quem te falou isto? Não vai me dizer que o fantasma da ópera que você tanto teme é uma Sissy?
Patrícia Alencar Rochetty:> Nada disto... ou melhor... acho que não, por causa da resposta que ele deu ao amigo que brincou com ele, no café da manhã. Pelo que entendi, tem algo a ver com um homem assumir-se... e, bem, sabemos que, quando alguém diz isso, geralmente significa que deve assumir sua homossexualidade, não é? Mas, o que isso teria a ver com um casal? Ambos teriam que assumir-se? Você sabe dizer-me?
Dom Leon> kkkkkkkkkkkkkkk... Patrícia, você é um sopro de alegria na vida de uma pessoa. Uma Sissy é um homem que aprecia vestir-se como mulher, inclusive realizando afazeres domésticos, como lavar roupa, fazer comida, limpar a casa do dono, sempre vestindo roupas ou uniformes femininos.
A Sissy é um serviçal altamente dedicado à dona e o fato de se vestir como mulher não quer dizer que ele seja homossexual, apenas que tem prazer em se vestir dessa forma e, digamos, representar um papel. Ele sente que, mesmo sendo um homem, sente-se bem com as roupas de uma mulher, não interferindo nos demais setores de sua vida. Isso não significa que precise trabalhar vestido de mulher, ainda mais porque muitos não têm a coragem de revelar tais comportamentos. Mas, existem mais casos do que você pode imaginar. Sem preconceitos, pequena, penso que, apesar de não fazer meu gênero, cada um no seu quadrado.
Rio alto e as crianças e o casal Doriana, que estão aproximando-se juntos, ficam olhando para mim, sem entender. Mas, é inevitável imaginar o Carlos Tavares Junior, todo poderoso e mandão, de avental, varrendo a casa e eu dando-lhe ordens: “querido, estende toda a roupa e tira o pó da casa, porque isto está parecendo um chiqueiro”. Bem, logo também me vem o pensamento que, se o Nandão falou casal Sissy e não apenas usou a palavra para o Carlos, então, ele também insinuou que eu gosto de me vestir de homem e ser o “macho” da casa!!! Com esse pensamento, já não rio. Na verdade, fico intrigada por ele ter dito isso, uma vez que não me conhece a ponto de tirar esse tipo de conclusão. Estranho...

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