sábado, 11 de julho de 2015

Série Santuário 3.5 - Prefácio de um amor - Capítulo 07


Senhoras do Santuário,

Minhas calorosas saudações (para todas ficarem quentinhas!!!!)

No capítulo 7, Isadora e Kiron vivem momentos decisivos e intensos.


Com carinho, lembro a vocês que Meu Destino é Você, a história de amor de Eva Martins e Theodoro Santini, está a venda no site da Amazon: http://www.amazon.com.br/dp/B00YK70NOM

Não perca tempo e leve essa linda história de amor para o sua casa!

Beijos

Nina Reis

********************

"Dançar é sentir, sentir é sofrer, sofrer é amar... Tu amas, sofres e sentes. Dança!" (Isadora Ducan – Bailarina).

“O luar prateado parecia acariciar a mata nativa” – Isadora pensava ao mirar a paisagem noturna através do vidro blindado da janela do quarto designado para passar a noite.

Apesar dos protestos de Ângela, que insistia em examiná-la, Dora optara por tomar um longo banho e trocar o vestido sujo e rasgado por algo limpo e confortável. Grata e aliviada, identificara sobre a cama, duas de suas bolsas de viagem. Uma com as coisas e roupas que levara para se preparar para o espetáculo no Teatro Municipal e outra, que deixara preparada, pois seu voo para Florianópolis, o destino que planejara para suas férias, estava marcado para dali a poucas horas.

Ela fechou os olhos, inspirou profundamente e voltou a contemplar a vista de sua janela. A dor em seu peito tornou-se quase insuportável, assim como o latejar em sua cabeça, que mesmo após o forte analgésico que Angie ministrara, não aliviara.

Dora recordou o momento que entrara no banheiro e fechara a porta atrás de si.

Fora a primeira vez que ficara sozinha aquela noite.

O modesto banheiro, que transformava o quarto, que contava apenas com uma confortável cama de casal, uma mesinha de cabeceira e um guarda roupas, em uma suíte, era igualmente simples e limpo. Um par de toalhas limpas estava dobrada sobre o balcão, assim como a escova e a pasta de dentes, novas, ainda em suas embalagens.

Arrancara as roupas de seu corpo e se colocara sob o jato quente do chuveiro. A sensação de frio parecia consumi-la. Mordeu os lábios para abafar os gemidos de dor quando a água tocara sua pele e músculos machucados. A dor mais intensa, aquela vinha de dentro para fora, tornava-se mais forte a cada segundo.

Permanecera um longo tempo parada sob a água aquecida. A alma desejava gritar, mas nenhum som saía de sua garganta...

Abraçou a si mesma e tentou chorar, extravasar as emoções que a sufocavam, mas não conseguira. Os gritos, o choro e as lágrimas pareciam represados em algum lugar dentro dela. Após vários minutos, abrira os olhos e se deparara com seus itens de banho em um nicho na parede dentro do boxe. Um sorriso triste, de gratidão, surgira em seus lábios ao perceber que Angie cuidara de suas necessidades.

Lavara o corpo e o cabelo, lutando contra as dores e a ardência dos ferimentos. A dor física não a assustava. O ballet a ajudara a lidar com dores atrozes em seus pés, membros e músculos. As dores emocionais, por outro lado, tentavam derrubá-la.  

Ao deixar o banheiro, sentia-se um pouco mais humana.

Ângela a examinara, a medicara e a ajudara a se vestir, apesar de seus protestos. Durante todo o tempo, a enfermeira resmungara sobre não perdoar os agentes da Abaré por terem mentido para ela sobre o que ocorria àquela noite.  

Dora a ouvira narrar que entendera o que estava acontecendo quando a vira caminhar em direção à saída, acompanhada do Dante e mais dois homens. A enfermeira contara que mantinha os olhos sobre o grupo, quando um dos agentes da Abaré entrara em seu campo de visão e bastara olhar para o sujeito para compreender o que acontecia.

A amiga e enfermeira ainda resmungava, enquanto aplicava o anti-inflamatório sobre o ferimento de seus braços, quando uma discreta batida soou junto a porta e, em  seguida, Davi entrara em seu quarto.

O irmão não disfarçou as linhas de preocupação em seu semblante.   

– Como você está? – Davi perguntara ao fechar a porta atrás de si.

– Viva – respondera.

Um incômodo silêncio tomou conta do ambiente.

– Estou terminando – Ângela dissera, concentrada em aplicar o medicamento.

Eles não fizeram nenhum comentário.

Ângela terminou, ajeitou o material que usara em uma maleta, parecia com as usadas para guardar maquiagem, mas a dela, com muitos compartimentos, guardava material para curativos e medicamentos. Era a primeira vez que Dora se deparava com a eficiente e concentrada enfermeira Ângela Garlipe, e reconheceu que a amiga era muito boa no que fazia.

Ângela colocou em um saquinho as embalagens das gazes, algodão e dos medicamentos que usara, assim como o material que usara para desinfetar e tratar seus machucados.

“A mulher era meticulosa” – pensara orgulhosa da competência e segurança da enfermeira.

– Se precisar de mim, é só usar aquele aparelho – dissera apontando para o rádio sobre mesinha de cabeceira. – Aperte o botão do meio, e falará comigo – comunicara.

– Obrigada – respondera cada vez mais intrigada com o trabalho da amiga.

Com um discreto aceno de cabeça para Davi, a enfermeira deixara o quarto.

Quase um minuto, do mais completo silêncio, se passara antes que Davi se movesse em direção à cama e sentasse ao seu lado.

Permaneceram mais algum tempo em silêncio.

Dora sentia o peito esmagado e o coração dividido.

Sentia-se culpada por colocar sua família sob a mira de um marginal perigoso. Porém, por mais absurdo que pudesse parecer, cada célula de seu corpo se revoltava contra a decisão de sair do país. Ser obrigada a fugir e a se esconder ia contra tudo o que acreditava, e isso rasgava sua alma.

– Desculpe – ela rompera o intenso e tenso silêncio.

Davi olhara para ela, sorrira e acariciou seus cabelos com uma das suas grandes e surpreendentemente leves mãos, da mesma maneira que fazia desde que podia se lembrar.

– Estamos orgulhosos de você, Dora – o irmão respondera e sorrira divertido ao ouvi-la bufar contrariada.
Ficaram mais alguns minutos em silêncio.

– Descobrir, por terceiros, que sua irmã mais nova tem um coração ainda mais bonito e generoso do que você pensava, foi uma experiência complicada – o irmão dissera ao romper o silêncio. – Nos sentimos orgulhosos, magoados e apavorados, Dora – confessou.

Dora mirou o irmão mais velho. Os olhos negros idênticos aos seus desnudavam as emoções que ele raramente permitia demonstrar.

– Descobrimos em um pen drive as gravações de algumas das suas aulas. A mamãe chorou ao assistir a maneira doce com que você trata àquelas meninas.

Dora fechou os olhos ao pensar em como sua mãe deveria estar magoada. Ainda não tentara falar com ela, não sabia ao certo o que dizer, além do frio e impessoal: lamento por toda essa confusão.

– Tratava – ela corrigira o irmão e sentiu o peito doer um pouco mais forte.

Pensar no quanto as meninas e funcionários ficaram apavorados, quando os bandidos invadiram e destruíram o abrigo, torturava-a.   

– Saber que você precisou esconder esse trabalho de nós, abriu um buraco bem aqui – Davi apontara para o próprio peito –, mas, Dora, quero que escute com muita atenção – pedira –, não seria uma Baptista se tivesse agido diferente e ignorado o sofrimento dessas crianças. – Ele fizera uma pausa e voltara a encará-la. – Saber o quanto foi corajosa nos enche de orgulho, Dora, mas, porra – xingou e fez uma nova pausa –, você é a nossa princesa que  dança na ponta da sapatilhas, a melhor de todos nós, não suportaríamos perder você – confessou.

Dora respirou profundamente ao recordar como o irmão a arrastara para seus braços e a segurara com carinho enquanto afagava seus cabelos. Momentos depois, sem dizer nem mais uma palavra, ele beijara o topo de sua cabeça e a deixara.

A presença de Davi em seu quarto a surpreendera.

Geralmente, as conversas reconciliadoras aconteciam com o Luiz, o mais ponderado e equilibrado dos irmãos.

Dora fitou a lua cheia altiva e solitária, mesmo cercada de uma constelação, sempre imaginara, desde menina, que a lua possuía uma alma solitária.

 As lembranças dos beijos e carícias trocadas com Dante, no banco de trás do carro, invadiram sua mente.

Em meio ao caos, desespero e perdas que a envolveram aquela noite, aqueles breves momentos foram como um sopro em seu espírito. Sentir as mãos deles em sua pele, o corpo dele colado ao seu, a boca dele na sua.

“Cristo! Sua cabeça estava uma bagunça!” – disse para si mesma, confusa.

Seus planos e sonhos acabavam de ser destruídos por um traficante sádico, e tudo o que conseguia pensar era como se sentira feminina e protegida nos breves momentos em que estivera nos braços do agente de segurança.

Dora se sentia angustiada, inquieta, perdida... Sabia que precisava descansar, mas não conseguia sequer olhar para a direção da cama.

As dores, físicas e emocionais, estavam ainda mais intensas. Sentia como se tivesse um forte e poderoso grito preso dentro dela, mas era como se algo ou alguém pressionasse sua garganta, silenciando-a.

Pelo reflexo do vidro da janela enxergou as bolsas de viagens sobre a cama e soube o que precisava fazer. Foi até a cama e vasculhou a sacola que levara para o Teatro Municipal, retirou as sapatilhas, o Ipod e o acessório que comprara para facilitar os ensaios, a charmosa e pequena caixa de som. Ligou o acessório bivolt em uma das tomadas do quarto e escolheu uma das seleções de músicas no Ipod.

Dora amava música clássica, mas àquela madrugada, depois de tudo o que passava, seu estado espírito clamava pelo bom e velho rock in roll. Optou pela banda Within Temptation, que unia as duas vertentes, e ajustou o volume do aparelho e do acessório para o volume máximo.

“Precisava daquela conexão para conseguir respirar novamente” – pensou.

Os primeiros acordes de Frozen ecoaram pelo quarto... Através da voz da vocalista da banda, a personagem da música revelava que sentia frio, muito frio e, assim como ela, lamentava a perda das cores e da alegria em sua vida.

Com o coração ressoando em uníssono com a canção, Dora colocou uma sapatilha e depois a outra. As mãos tremiam ao passar a fita em torno de seu tornozelo e amarrá-la com firmeza. Ela se levantou e se posicionou no meio do quarto, entre a cama e a parede na qual estava a porta de entrada.

“Não teria muito espaço, mas seria o suficiente” – pensou.

Ainda sob o som de Frozen, deu início a um breve aquecimento. O corpo protestou ao ser alongado. Ao abaixar o corpo, em um movimento, a cabeça latejou com uma intensidade que roubou seu ar.

Isadora não se intimidou. Voltou à postura ereta, respirou fundo, uma, duas, três vezes e se colocou sob as pontas das sapatilhas.

Um gemido de dor escapou por seus lábios ao sentir a perna ferida protestar contra os movimentos. Não interrompeu o aquecimento.

“Nunca precisara tanto de sua conexão com a dança, como naquele momento” – admitiu para si mesma.

Alguns movimentos depois, estava satisfeita com o aquecimento. Mais uma vez fechou os olhos e deixou a musica falar com seu corpo, revelar os movimentos, o ritmo e a velocidade. Ouviu a introdução de What Have You Done, a intensidade, cadência e a letra da canção calaram fundo em seu coração.

A voz masculina perguntou na canção: o que você fez agora?

Dora sentiu como se a pergunta fosse dirigida a ela. E respondeu com sua dança. Ignorou todos os protestos de seu corpo e se entregou por completo aos movimentos que acompanhavam a intensidade da melodia.

Era somente ela, o ballet e o rock in roll.

***********

Ele tentara permanecer longe...

Kiron entrara silenciosamente no quarto enquanto Isadora fitava a mata através da janela do quarto. Oculto nas sombras, a observara debater-se com seu destino. Por várias vezes, ela esfregara os braços como se sentisse frio e precisasse se aquecer, mas não procurara por um casaco entre as roupas que ocupava as duas sacolas de viagem sobre a cama.

Isadora vestia um short jeans confortável e uma camiseta larga. Percebera que ela machucara o lado esquerdo do corpo, um pouco acima da cintura. Conseguia ver a alça larga do sutiã branco que ela usava sob a blusa. Os pés estavam descalços sob o piso de madeira. Nas pernas e nos braços conseguia enxergar os ferimentos, agora tratados. O braço que o capanga do traficante quase esmagara, estava inchado e com marcas escuras.

Dora esfregou os braços mais uma vez.

A temperatura no quarto era agradável e o fato de que ela sentia frio, no ambiente aquecido, o preocupava. Dora respirou fundo e continuou fitando a vista do exterior da propriedade banhada pela luz prata do luar. Compreendia o encanto da bailarina com a vista de tirar o fôlego.

“Ele sentia a mesma coisa” – pensou.

Após entrar na casa, seguira em direção à caverna do dragão. Os lábios se ergueram em um sorriso divertido ao recordar sua reação ao se deparar com a obra inacabada de Rick, no teto da caverna. Ele representara o céu noturno com todas as constelações, o que seria idílico se não tivesse identificado os contornos da nave Millenium Falcon conduzida por Hans Solo no filme Stars Wars.

“O garoto era um caso perdido” – pensou divertido.

Henrique auxiliava todo o esquadrão, e seu passado também era um mistério. O único fato concreto sobre o geek era que entrara para o grupo ainda menor de idade e tornara-se o apoio tecnológico de todas as operações.

Era ao mesmo tempo um gênio da tecnologia, um soldado mortalmente perigoso e um artista.

“Uma mistura incomum e perigosa” – pensou.  

O rapaz esclarecera algumas de suas dúvidas sobre Isadora.

Lembrou-se do alívio que sentira ao descobrir que a bailarina tinha vinte e cinco anos. Apesar de ter consciência de que a forte atração que sentia por ela seria a mesma, caso ela tivesse os dezoito anos que aparentava. Rick revelara que ela morava sozinha e que há alguns meses rompera um relacionamento de dois anos.   

Kiron foi arrancado de suas divagações ao vê-la deixar a janela e seguir em direção à cama. Ele recuou mais dois passos para dentro das sombras, por precaução.

A bailarina vasculhou uma das sacolas e retirou o Ipod, uma minúscula caixa de som e um par de sapatilhas.

Seguia, com os olhos, cada movimento de Isadora, que montou o minúsculo aparelho de som e, com os acordes da canção da banda de metal sinfônico ressoando pelo cômodo, colocou as sapatilhas.

Kiron sentiu seu estômago se contorcer ao notar o quão trêmulas as mãos de Isadora estavam. Todo o corpo da bailarina parecia prestes a romper-se, tamanha a tensão que conseguia notar.

Uma emoção desconhecida vibrou dentro dele ao vê-la caminhar para o meio do quarto e iniciar os exercícios de aquecimento. A canção falava de uma alma perdida no frio, na dor, em um mundo sem cor, sem esperança.

Isadora se concentrara por alguns segundos, após o aquecimento, e na ponta das sapatilhas iniciou a coreografia que acompanhava o ritmo frenético da segunda canção. Kiron experimentou as mesmas emoções que sentira ao assistir o espetáculo horas antes.

O corpo despertou faminto e sedento por ela.

Estavam lá todos os sentimentos e emoções que se digladiavam dentro de bailarina. Dor, fúria, medo, indignação, revolta, amor, paixão e a dolorosa e inaceitável resignação.

Kiron desconhecia o futuro de Isadora.

Álvaro Nascimento fora claro ao informar que a missão da equipe 1 terminaria assim que chegassem no aeroporto de Curitiba, em algumas horas. Os Baptistas, de acordo com o líder do esquadrão, assumiriam o controle de tudo a partir de então.

“E eles tinham os meios necessários para fazê-lo” – Kiron reconheceu.

Mas, para ele, ficava claro que a nova realidade a feria ainda mais do que parecia machucá-la ao chegaram à casa Santuário.

Contemplou os passos e movimentos impregnados de emoções. A viu vacilar um momento. Isadora parecia sentir dor, e ele quase deixara seu “esconderijo nas sombras”, para ampará-la. Porém, no instante seguinte, a bailarina parecia recuperada.

As informações sobre a formação em ballet clássico e contemporâneo o surpreendera. Isadora Baptista estudara nas melhores escolas de dança do mundo. Depois de assistir seu desempenho sobre o palco do Municipal, ele se perguntava o porquê de ela ainda estar no Brasil. Por que não era solista em uma das grandes companhias de dança da Europa, ou mesmo dos Estados Unidos?

Os movimentos de Isadora se intensificaram ainda mais. Ela estava completamente entregue à dança, porém, não de uma forma boa.

Era como se ela desejasse expurgar a dor, entretanto, essa aumentava em vez de diminuir.

Atento, seguia as sequências de movimentos e giros. Ouvia a respiração ofegante que demonstrava que a bailarina perdera, há muito, o controle. Os olhos captaram o leve falhar da perna esquerda e, sem parar para pensar, em um movimento de puro reflexo, abandonou as sombras no exato momento em que a bailarina perdia o equilíbrio e mais uma vez amparava-a em seus braços, e o perfume de orquídeas selvagens misturado ao cheiro do antisséptico e anti-inflamatório, cercava-o.

Dora perdia-se em vórtice de dor e frustração. Deixar sua família, planos e sonhos para trás, destroçava sua alma. A canção ressoava alta entre as paredes do quarto e falava de erros, decepções, em parar de acreditar, de encontrar alguém no pior momento de sua vida e assisti-lo ir embora...

O sorriso arrogante do agente de segurança surgiu em sua mente, e a dança vibrou ainda mais intensa dentro dela. A lembrança do corpo dele sobre o seu, da boca dele sobre a sua e das mãos dele sobre sua pele emergiu com força em seus pensamentos.

Entregou-se ainda mais aos movimentos, sentiu uma dor aguda na perna esquerda, a mente preparou-se para queda que não veio. No momento seguinte, mãos familiares abraçavam seu corpo e um par de olhos verde-acinzentados mirava os seus.

Ofegante e atordoada, Dora fitava o homem que dominava seus pensamentos segundos antes. Não perguntou como ou quando ele entrara no quarto. Não o desejava saber. O que importava é que, por algum motivo, ele estava ali com ela.

Dante cheirava a sabonete e xampu. Não vestia o terno com o qual chegara à propriedade, vestia uma camisa preta, os cabelos negros ainda estavam úmidos do banho e um pouco bagunçados.  

– Parece que minha missão na vida é impedir suas quedas – gracejou com uma voz rouca e suave, quase uma carícia.

Com o coração retumbando em suas têmporas, Dora sorriu. Um sorriso comedido, mas ainda assim um sorriso.

– Prefiro quando as impede, a quando me pede para que me jogue no chão – ela gracejou, e ele também sorrira.

Dora não fez menção de se afastar, e Kiron não tentou soltá-la.

O breve momento de descontração fora substituído pela tensão que machucava a alma da bailarina. Isadora o fitava com olhos atormentados, a respiração ofega e o corpo extremamente tenso.

Sem desviar os olhos dos dela, levou uma das mãos a face cor de café e acariciou a pele delicada, de traços delicados e extremamente jovens.

– Deixe sua alma se romper, pequena – pediu com o rosto muito próximo ao dela. – Ela precisa – ponderou.

Dora fechou os olhos, inspirou profundamente e voltou a abri-los.

Os olhos verdes miravam-na de uma maneira nova. Existia tanto carinho, respeito e cumplicidade naquele olhar...

Sentiu o nó em sua garganta se apertar ainda mais, assim como a dor em seu peito, e a sensação de frio se tornou quase insuportável. E de repente, as lágrimas e o choro, até então represados, explodiram sem prévio aviso.

Kiron sentia a peito esmagado ao ouvir o choro baixo e sofrido da mulher que se agarrava a sua camisa, como se a peça de algodão fosse sua tábua de salvação.

Com a cabeça apoiada em seu peito, Isadora chorava e murmurava algo sobre estar com muito frio. Todas as emoções, que ela inconsciente represara, fluíam livres através das lagrimas que molhavam sua camisa.

O corpo pequeno e tonificado tremia em seus braços.

Kiron fechou os olhos e apoiou o queixo sobre a cabeça da bailarina.

Seu peito rugia em fúria.

Sua vontade era inquirir o pai e os irmãos, para saber o que disseram para destroçar a alma guerreira de sua pequena bailarina. E exigir a localização dos bandidos que ficaram sob a custódia dos militares que acompanharam o resgate. Ou mesmo, entrar no carro, caçar e matar os homens que a ameaçavam.

Kiron afagava as costas protegidas pela camiseta e murmurava palavras de consolo. Percebeu que mesmo em meio ao choro, Isadora trocara o peso do corpo para a perna direita, e xingou-se por haver esquecido que ela estava machucada.

Com cuidado, para não assustá-la nem afastá-la, baixou o corpo de ambos para o piso de madeira e a colocou sobre seu colo. Não tentou fazê-la parar de chorar, ela precisava colocar toda aquela dor para fora, para sair fortalecida daquela experiência.

“Isadora tinha uma alma de guerreira” – disse para si mesmo em silêncio.  

Ele não tinha dúvidas que depois de chorar todas as lágrimas que sua alma necessitava e dormir por algumas horas, ela acordaria pronta para enfrentar o mundo, se fosse necessário.

Ficaram sentados sobre o chão de madeira durante um longo tempo, até que o choro descontrolado começasse a diminuir aos poucos, se transformando em um discreto fungar sem lágrimas. Alguns minutos se passaram até que Isadora afastasse a cabeça de seu peito e o encarasse com os olhos inchados e o nariz avermelhado.

Kiron acariciou a face ainda úmida das lágrimas derramadas, e ela sorriu constrangida.

Ele sentiu o peito se confranger ao enxergar os traços delicados maculados pelo inchaço, que o choro convulsivo causara.

– Obrigada – Isadora disse com a voz rouca.

Sentia a garganta dolorida, além das dores que a acompanhava nas últimas horas.

– Sente-se melhor, pequena? – Kiron perguntou sem a liberar de seu abraço.

– Sim, muito melhor – ela respondeu sincera ao passar as mãos pelo rosto na tentativa de enxugar as últimas lágrimas.

O corpo ainda reclamava, mas sua alma estava sensivelmente mais leve.

Isadora mirou os olhos verdes, que a fitavam sérios.

Estava curiosa sobre as palavras que ele murmurava enquanto a consolava e consciente de que estava sentada sobre o colo do agente. Em meio à crise incontrolável de choro, ouvira as palavras e frases que eram pronunciadas em uma língua que ela não conseguia identificar.

Entre as várias palavras, entendera a pronúncia de algumas, moro mou, kardula mou e mikrúla mú, mas não conseguia ligá-las a um idioma específico, a única coisa que tinha certeza é que não eram italianas, como o nome e sobrenome do agente de segurança.

– Desculpe-me pelo descontrole, normalmente não sou assim – disse sem jeito.

Kiron sorriu diante da expressão de total constrangimento da bailarina.

– Às vezes, nossa alma precisa transbordar para se fortalecer – ele respondeu em tom carinhoso. – Se precisar repousar a cabeça sobre um ombro amigo, ainda estou aqui, Isadora.

Isadora leu nos olhos dele, que Dante Tommazelli sabia exatamente do que falava. Desejou conhecer o que causara suas dores, mas sabia não ter esse direito.

– Obrigada por compreender – respondeu e deitou a cabeça sobre o ombro esquerdo do agente de segurança. – Molhei sua camisa – comentou ao levar a mão ao peito no qual sua cabeça se apoiara enquanto deixava sua alma transbordar.

– Ela vai secar – ele responder despreocupado, acariciando as costas delgadas. – Me conte como se tornou uma bailarina – ele pediu.

A intenção de Kiron era fazê-la pensar em coisas boas. Lembranças que a ajudariam nessa nova fase de sua vida. Sentira em sua própria carne o quanto se agarrar a boas lembranças impedia um ser humano de enlouquecer ou se entregar e desistir.

Passaram-se alguns segundos antes que a voz de Dora soasse repleta de carinho e nostalgia.

– Sou dez anos mais nova que Davi, meu irmão mais velho, e sete anos mais nova que Luiz, meu irmão do meio. Minha mãe costumava dizer que sou o presente ardentemente desejado, mas que ela já não esperava receber. – Dora sorriu com a lembrança. – Ela dizia que depois de tanta roupa azul e camuflada, foi uma benção fazer um enxoval em tons de rosa e violeta.

Kiron riu baixinho ao imaginar o Major cercado por roupas e acessórios femininos de bebê. Após a breve interrupção, ela continuou.

– Estava determinada a fazer de mim uma dama, apesar dos meus irmãos me ensinarem a brincar de carrinho e adorar os bonecos do G.I Joe e Comandos e Ação.

Kiron riu com gosto.

– Eu também adorava a Barbie – ela ponderou –, mas confesso que achava os bonecos deles mais divertidos. Afinal, eles salvavam o mundo. E a Barbie, apesar de suas muitas profissões, roupas lindas e namorado perfeito, não conseguia competir com isso.

– É óbvio que não – ele concordou divertido.

– Ela me levou ao meu primeiro concerto de música clássica aos três anos. Aos cinco, assisti meu primeiro espetáculo de ballet e fiquei completamente encantada. Na semana seguinte, minha mãe me matriculava em uma escola de ballet. Nos mudávamos com frequência, mas isso nunca intimidou minha mãe. Tive diferentes professores de piano, frequentei as mais variadas escolas de ballet, jazz e dança contemporânea.

– Você toca piano? – Kiron perguntou surpreso.

– Muito pobremente, para o desespero dos meus ex-professores – ela respondeu divertida.

Ele riu da sinceridade dela.

– Continue – pediu.

Estava realmente interessado em saber mais sobre ela. E vê-la sorrir despertava algo novo dentro dele.

– Apesar de encantada pelo ballet, até os dez anos nunca acreditei que pudesse ser uma bailarina de verdade. – confessou.

– Por quê? – perguntou ainda mais curioso. 

“Desde quando crianças podavam seus sonhos?” – Kiron se perguntava.

– Eu já havia frequentado diferentes escolas e assistido a diversos espetáculos de ballet – ela comentara com voz distante ao mesmo tempo em que, distraidamente, acariciava peito dele – sempre fui a única aluna negra e, até então, não assistira uma única bailarina negra dançar.

Kiron fechou os olhos e cobriu a mão que acariciava seu peito com a sua.

Sentia como se ferissem seu peito. Ouvir a realidade do racismo sob a perspectiva inocente de uma criança era devastador.

– O que a fez mudar de ideia? – ele perguntou.

Sentiu Isadora sorrir, e sentiu o peito aliviado.

– Meu aniversário de dez anos coincidiu com a data em que minha escola de ballet, da época, marcara a apresentação anual dos alunos menores. A apresentação dos adolescentes e adultos seria na semana seguinte. Meu pai e meus irmãos estavam presentes. Depois da apresentação, que ocorrera no final da tarde, fomos tomar lanche e passear. Entramos em loja de brinquedos e meu pai enxergou uma prateleira com diversas caixinhas de músicas, dessas com bailarinas – explicou –, ele me levou até lá e me disse que como eu já tinha idade e responsabilidade para cuidar de algo tão especial como uma caixinha de música, poderia escolher. Seria seu presente para mim.

Isadora fez uma breve pausa e continuou.

– Fiz o vendedor me mostrar todas as caixinhas, mas não escolhia nenhuma. Minha mãe perguntou o porquê eu não gostara das caixinhas de músicas, uma vez que vivia pedindo para ganhar uma. Pedi para ela se abaixar e sussurrei em seu ouvido que nenhuma das bailarinas era igual a mim.

– Isadora – Kiron disse em um tom de lamento.

O peito dolorido pela pequena e sagaz Isabela Baptista.

– Quando minha mãe revelou o que acontecia comigo, meu pai e meus irmãos não sabiam como agir. O vendedor queria que um buraco se abrisse para que ele fosse sugado e fugisse daquele constrangimento. Por fim, meu pai pigarreou e perguntou ao vendedor se as caixinhas com bonequinhas marrons tinham acabado – a emoção embargou sua voz –, amei meu pai ainda mais naquele momento. O vendedor entendeu o olhar que ele lhe dirigia e contou que as boquinhas marrons vendiam muito rápido. Meu pai disse que voltaria no mês seguinte para comprar.

Ela sorriu uma vez.

– Eu sabia que não existiam bonequinhas negras em caixinhas de música, mas, mesmo assim, admirei o que minha família tentava fazer. – Ela fez uma nova pausa. – Um mês depois, eu estava no meu quarto, fazendo meu dever de casa, quando meu pai entrou e colocou uma embalagem de presente sobre a minha escrivaninha. Fiquei surpresa e perguntei se era para mim. Ele me respondeu que sempre cumpria suas promessas.

Isadora respirou fundo para controlar as lágrimas que marejavam seus olhos. Essas, todavia, eram frutos de uma emoção boa.

– Para a mortificação da minha mãe, abri o presente com a delicadeza de um elefante e o entusiasmo de uma criança de dez anos – comentou com bom humor.

Kiron riu ao imaginá-la rasgando os papéis e as fitas do presente.

– Quando vi a caixinha de música, fiquei confusa e olhei para o meu pai, que me pediu para abri-la. Quando o fiz, meus olhos não acreditavam no que eu contemplava. Uma linda e delicada bailarina de pele cor de café, cabelos e olhos negros olhava para mim. Esse foi o dia mais feliz de toda a minha vida.

Kiron voltou a apertar a mão que mantinha presa a sua, em seu peito. O fato de Isadora descrever a bailarina, como ele a descrevia em sua mente, fez com que uma deliciosa sensação de calor, aquecesse seu peito.

– Não sabia como ele havia conseguido, mas quando a vi bailando ao som da canção da caixinha, disse a mim mesma que se meu pai havia conseguido encontrar uma caixinha de música com uma bailarina negra, era sinal de que elas existiam. E se elas existiam, eu poderia ser uma bailarina. Foi nesse dia que escolhi o que queria da minha vida. Eu queria ser aquela bailarina da minha caixinha de música.

Antes que Kiron se desse conta do que fazia, sua boca devorava a de Isadora em um beijo repleto de reverência e admiração.

O sabor de mel e vinho invadiu sua boca e incendiou seu corpo. Isadora correspondeu sem reservas ou hesitação. O corpo dela moldado ao dele, sobre seu colo. Fora impossível controlar a furiosa ereção de seu membro.

Quando Dora suspirou deliciada, ele interrompeu o beijo.

– Você é uma mulher incrível, Isadora Baptista – murmurou com a testa colada a dela.

Dora não queria parar... Desejava que ele a beijasse até que ficasse sem ar...

– Quer saber por que chorei daquele jeito? – perguntou perdida nos olhos verdes.

– Somente se você quiser me contar – Kiron respondeu.

Mantinha a mão dele sobre a dela, pelo simples motivo de não estar certo de que conseguira controlar seu desejo, caso se atrevesse a tocar outra parte do corpo da bailarina. 

Isadora respirou fundo.

Sentia a excitação dele sob suas nádegas. Os olhos dele ficavam ainda mais claros quando estava excitado, ela percebeu.

– Poucas coisas me amedrontam, Dante – disse, e sentiu o corpo dele se retesar. Não compreendeu o motivo, porém, continuou –, mas perder o controle da minha vida é uma delas – confessou. – Não ser capaz de fazer minhas escolhas, não poder seguir meus sonhos, isso me apavora e é isso que está acontecendo agora. Aquele homem não conseguiu colocar as mãos sobre mim, mas por causa dele terei de desistir de meus sonhos, dos meus planos e minhas escolhas, e isso é um tipo diferente de morte.

Não mentiria à Isadora dizendo que tudo ficaria bem. Suspeitava de que o Major tinha um plano de ação para neutralizar o inimigo, mas não conhecia os fatos. Daria um tempo aos Baptistas para resolver o problema. Caso contrário, ele mesmo o faria. Mas Isadora nunca saberia sobre sua interferência. 

– Do que exatamente está desistindo, Isadora? – ele perguntou.

Ela sorriu. Um sorriso triste e distante.

– Estávamos prontos para transformar parte do espetáculo em uma companhia de ballet. Um sonho antigo, compartilhado por mim e mais seis amigos. Mostrar que o ballet clássico não tem cor. Que Gisele pode ser branca, oriental ou negra e não perder a identidade da história, nem sua intensidade – disse e suspirou desanimada.

– Isso é muito importante para você, não é? – Kiron perguntou.

– Sabe, aquela menininha de dez anos, cheia de atitude e determinação, descobriu que o sonho de interpretar uma das apaixonantes protagonistas dos repertórios do ballet clássico era mais complicado e bem mais difícil do que imaginara – confessou.

– Você tem um talento excepcional, Isadora, não é possível que nenhum diretor de uma companhia de ballet não tenha enxergado isso.

Ela sorriu da perspicácia dele.

– Uma vez passei em uma audição – revelou. – Consegui o papel de princesa em O corsário. Na época, eu morava na Europa, e impuseram uma única condição: que usasse maquiagem especial para parecer branca.

Kiron praguejou contra o filho da puta.

– Não quero passar por isso novamente. Posso não ter uma vida financeira tranquila, mas quero uma companhia de ballet onde o talento e a técnica sejam as únicas formas de selecionar os solistas. Onde todos os bailarinos sintam que tem oportunidades iguais. Pode parecer utopia, mas essa era a minha escolha. – Ela voltou a suspirar, frustrada. – Até essa noite, pelo menos.    

Kiron escolheu o silêncio. Sentia que Isadora compreenderia seu silêncio melhor que suas palavras.

– Você conseguirá realizar todos os seus sonhos – ele disse por fim.

Era um compromisso que ele assumia aquela noite, uma promessa.

Isadora sorriu ante o tom feroz na voz do agente.

“Era tão fácil acreditar nele” – pensou ao mirar os olhos verdes.

Contemplou cada traço do rosto másculo.

Os olhos pararam sobre os lábios que beijavam como pecado e toda a espontaneidade que compartilhavam, foi substituída pelo desejo que explodiu, vivo e exigente, em seu corpo.

Seus olhos voltaram a procurar os dele, e o que enxergou roubou sua respiração.

Pressentia que Kiron amaria seu corpo como nenhum outro homem o fizera. E a tentação era maior que a prudência, que alertava que ela corria o risco de perder seu coração.

Isadora sabia estar brincando com fogo... Mas nunca temera se queimar...

– Isadora – Kiron disse em um tom de alerta –, isso não é uma boa ideia – ele ponderou.

Isadora mirou novamente os lábios másculos que exploraram sua pele fazendo-a queimar por ele, horas antes.

“Deseja experimentar novamente aquele desejo avassalador” – admitiu.

– Por quê? – ela perguntou sem tirar os olhos da boca que queria que devorasse a sua, com o mesmo desespero que sentia.

 – Está muito mexida com tudo o que aconteceu e isso sobrecarrega as emoções – Kiron tentou ser racional e equilibrado. Acima de tudo, tentou ser um homem decente.

Os lábios da bailarina se abriram em um sorriso essencialmente feminino.

– E? – perguntou ao acariciar o rosto másculo com a mão livre.

Merda! o grego praguejou ao sentir o membro reagir à carícia em sua face. Ao sentir o movimento sob seu traseiro, o sorriso feminino se ampliou.

Foi a vez de Kiron respirar fundo.

– Quando acordar, eu não estarei aqui, e você irá se arrepender – Grunhiu ao sentir Isadora se mover sobre seu membro dolorido por ela.

Sem tirar os olhos dos seus, a bailarina se ajeitou sobre seu colo, colocando uma perna de cada lado e ficando de frente para ele.

Kiron engoliu um gemido torturado quando o sexo doce de Isadora posou sobre seu membro. Mesmo protegido pelas roupas, o contato fora quente e bom para cacete.

– Dante – ela o fez voltar a mirar seus olhos –, roubaram quase todas as minhas escolhas, exceto essa. Não sei o que irá acontecer amanhã. Nem mesmo sei se estarei viva daqui a vinte e quatro horas.

– Você está segura, Isadora – ele protestou, segurando a nuca dela com uma das mãos. Mantinha o rosto da bailarina quase colado ao seu.

Ambas as respirações estavam entrecortadas.

– Ninguém pode garantir nada, acredite, eu sei – ela retrucou e respirou fundo.

Queria estar com ele, desejava sentir as mãos do agente acariciando seu corpo, experimentar todas aquelas intensas emoções que sentira desde que caíra em seus braços no Café do Municipal.

– Eu escolho estar com você esta noite, senhor agente – disse ao erguer a bainha da camiseta e tirar a peça lentamente.  

Fascinado, Kiron soltou a nuca de Isadora somente por tempo suficiente para que a peça de roupa fosse tirada pela cabeça, para em seguida ser jogada sobre o piso de madeira.

Luxúria quente e poderosa explodiu dentro dele ao contemplar o delicado sutiã branco com fecho dianteiro. Os mamilos rijos marcavam o tecido delicado.

“Porra!” – praguejou completamente encantado.

– Tenho alguns arrependimentos na vida – confessou ao levar as mãos ao fecho dianteiro do sutiã –, mas eu tenho certeza que dormir com você nunca fará parte dessa lista – disse ao tentar abrir a peça, porém a mão de Dante pousou sobre a dela impedindo-a.

“Estava condenado a perder sua alma para essa mulher” – disse para si mesmo, olhando para sua mão pousada sobre o fecho que ele mesmo desejava abrir.

Voltou a mirar os olhos negros que o fitavam em uma sensual expectativa. Seus lábios se abriram em um sorriso repleto de más intenções, e sentiu o corpo de Isadora estremecer em resposta.

– Acredite, pequena – disse ao aproximar ainda mais o rosto do dela –, dormir é a única coisa que não faremos nas próximas horas – prometeu.

A voz rouca, pesada, sombria...

– Parece ótimo para mim – Isadora sussurrou em um tom rouco pela paixão.

A mão quente e grande sobre o fecho do sutiã tocava sua pele e sensibilizava seus sentidos. Os seios estavam pesados e doloridos. Um delicioso formigar percorria seu ventre, sentia a boca seca, sedenta por ele.

“Estava perdida” – pensou entregue à atmosfera sensual que os cercava naquele momento.   

Kiron surpreendeu a ambos ao retirar a mão que mantinha sobre o fecho do sutiã e fitar os olhos negros que o miravam pesados e repletos de paixão.

Queria que ela se desnudasse para ele... Não somente da peça de lingerie, mas desnudasse também a alma e coração.
Ele queria tudo... 

Isadora leu nos olhos de Dante o pedido silencioso, não recuou ou hesitou. Com o olhar preso ao dele, abriu o fecho do sutiã e se expôs em uma entrega e oferta inédita para ela.

A maneira ardente com que o agente de segurança contemplou seus seios, a fez ofegar. Se antes sentira frio, naquele momento ela queimava de desejo e ansiedade.

Kiron prendeu a respiração ao contemplar os seios cheios, com os mamilos escuros e enrijecidos. Fascinado, levou ambas as mãos àquelas obras da natureza e os acariciou. Sentiu-os macios, quentes e ainda mais pesados sobre as palmas de suas mãos. Pressionou os bicos túrgidos que imploravam por sua boca e a viu inclinar o corpo em uma entrega silenciosa.

Uma corrente de eletricidade percorreu o corpo de Isadora que jogou a cabeça para trás e mordeu os lábios para abafar um gemido de prazer. Cada centímetro de sua pele formigava em deliciosa agonia.

As dores e mal-estar esquecidos, relegados ao segundo plano.

Kiron mirou o tronco curvado e tenso de Isadora, beijou o vale entre os seios e inspirou o perfume que roubava seu controle. A pele dela estava quente e macia.

Sem pressa, saboreando-a com a boca e com a língua, deixou um rastro úmido sob a parte superior dos seios, colo, e do pescoço até ter o rosto, mais uma vez, quase colado ao dela.

– Mikrúla mú – ele sussurrou mirando a boca entreaberta que implorava por seus cuidados. Tomou posse dos lábios quentes e doces com a mesma fome e luxúria com qual desejava possuir o corpo moreno.

O sabor doce e inebriante de Isadora invadiu sua boca, destruindo o que restava de seu controle. O perfume de flores há muito, o embriagara.

Experimentou o sabor dos lábios e da língua da bailarina que buscava a sua com o mesmo desespero e fome.

Sentiam-se famintos um do outro.

Mantendo a nuca delgada presa em um agarre, atento para não feri-la, explorou a boca quente e macia com a qual tivera as mais malvadas e deliciosas fantasia.

Beijou, lambeu, chupou e mordeu a deliciosa boca da bailarina. Os gemidos, suspiros e sussurros roucos de Isadora o deixavam ainda mais louco para estar dentro dela. Sob o tecido de sua calça sentia o membro rígido e dolorido em um nível nunca experimentado antes em sua vida.

Com a mão livre, ele acariciava os seios cheios e intumescidos. A bailarina gemeu mais uma vez em sua boca ao mesmo tempo em as mãos delicadas emaranham-se em seus cabelos.  

Kiron grunhiu ao sentir Isadora se esfregar contra seu membro. A boca abandonou a dela e explorou o pescoço elegante, os ombros moldados pelos exercícios. Voltou beijar e morder o pescoço delicado, até que, novamente, a beijava como um homem desesperado.

Isadora resmungou em sua boca ao se atrapalhar enquanto tentava livrá-lo da camisa negra do uniforme do esquadrão, e ele a ajudou na tarefa. Ao sentir os seios delicados esmagados contra o seu peito, a pele dela contra a sua pele, algo se rompeu dentro dele.

Sem deixar de beijar e acariciar o corpo tonificado pela dança, moveu seus corpos até que as costas da bailarina estavam contra o piso de madeira. Apoiava o peso do corpo em suas pernas e em um dos braços, para não machuca-la com seu peso, preocupado em não causar mais dor ao corpo ferido.

Com a respiração rareada, interrompeu o beijo e mirou a face morena em busca de algum sinal de desconforto ou dor.

Com os olhos semicerrados pela paixão, Isadora sorriu para ele.

– Não sou de cristal, senhor agente, não vou me quebrar – disse em um tom descontraído ao perceber a preocupação de Dante com seu bem-estar.

– Não, não é – Kiron respondeu com a voz grossa e rouca, – É feita do mais nobre metal, e isso me fascina ainda mais – murmurava ao mesmo em tempo que beijava o pescoço, os ombros e o colo cor de café. – Mesmo tendo sido forjada nas fornalhas de Hefestos, tem a beleza, o encanto e feminilidade de Afrodite – disse mirando os seios de mamilos escuros e rígidos.

Antes que Isadora tivesse a chance de fazer alguma pergunta, ou comentário, tomou um dos mamilos em sua boca. A bailarina voltou a morder os lábios e arquear o corpo em direção do seu.

Sugou e lambeu o bico entumecido e sentiu o membro ainda mais enrijecido.

“Porra!” – praguejou.

 “O sabor doce da pele da Isadora era viciante...” – pensou ao dar atenção ao outro seio. A bailarina não parava de se contorcer sob ele.

Em meio à névoa invisível de paixão e luxúria, os ouvidos captaram o som do Ipod. A música, que ainda tocava, abafava os sons de respirações ofegas e gemidos sussurrados.
As mãos de Isadora ora estavam sem seus cabelos, ora em seus ombros e ora em suas costas. Não havia hesitação ou toques leves entre eles. A bailarina o tocava com posse e paixão.

Isadora se sentia consumida pelo desejo. O corpo queimava de uma maneira intensa e nunca antes experimentada.

O rastro de beijos, lambidas e mordidas abandonaram seus seios e continuaram a descer por seu corpo.  A pele sensibilizada mantinha-se em um arrepio constante. Sentiu o ventre estremecer quando ele explorou a área em torno de seu umbigo e quando Dante mergulhou a língua e sugou essa parte delicada, uma onda de prazer varreu seu corpo quase fazendo com que alcançar o orgasmo.

Ao mesmo tempo em que beijava e mordia a pele de sua barriga, as mãos levemente ásperas alcançaram o botão e o zíper de seu short.

Estava úmida e preparada para ele como nunca estivera por homem algum. Seu sexo vibrou em expectativa quando notou que ao arrastar os shorts por suas pernas, ele levava também a calcinha branca.

No momento seguinte, as sapatilhas eram as únicas peças que usava.

Os olhos verdes varreram seu corpo em uma inspeção quente, lenta e torturante.

Com a respiração rareada, Kiron contemplou cada centímetro do corpo moreno. A visão dos machucados abria um buraco em seu peito. Porém, mesmo com as marcas temporárias em sua pele, Isadora roubava seu fôlego.

O corpo curvilíneo, com músculos tonificados, seios cheios, quadris arredondados e coxas grossas e musculosas, era o oposto ao idealizado para bailarinas clássicas e isso a tornava ainda mais especial e única.

Continuou sua exploração até mirar as sapatilhas ainda presas aos tornozelos torneados. Buscou os olhos dela que o miravam em expectativa.

Com todo cuidado do mundo, ergueu a perna direita e beijou a área em torno do ferimento. Isadora fechou os olhos, suspirou deliciada e voltou a abri-los.

Kiron acariciou o pé direito coberto pela sapatilha de cetim e explorou com os dedos, da outra mão, o contorno das fitas que prendiam a peça delicada à perna da bailarina.

Imagens de Isadora sobre o palco do Teatro Municipal invadiram sua mente.

“Sagrado” – a palavra ressoou em sua mente.

Com o peito retumbando pela força das emoções que compartilhavam e seguro do que estava prestes a fazer, mirou os olhos negros.

– Posso? – perguntou com a mão sobre o nó da fita de cetim.

Isadora sentiu a respiração presa em sua garganta ao fitar a mão sobre o nó da fita que prendia sua sapatilha. O olhar reverente do agente segurança revelava que ele pressentia o quão sagradas suas sapatilhas eram para ela. Com elas descobrira a dança e a dança a levara a conhecer o mundo, outras culturas e se transformara em sua vida.

Nem mesmo quando namorara um bailarino, o permitira tocar em suas sapatilhas, mas com ele parecia certo, necessário, desejado...

– Por favor – sussurrou ao dar a permissão para que ele desnudasse parte de sua alma. Por alguns instantes apenas fitaram um ao outro, consciente da importância e do significado daquele momento.

Com movimentos suaves, o homem que vestia apenas calças negras com muitos bolsos e calçava um par de botas igualmente negras, desfez o nó e, devagar, soltava o trançado que a prendia em sua perna.

Fascinada observa todo o processo. Mirou o tronco, ombros e braços nus. Era a primeira vez que tinha a oportunidade de admirar o corpo de músculos preparados. Sentiu um aperto no peito ao enxergar as cicatrizes em seus ombros, peito e duas próximas à cintura masculina.

“Aquele homem sobrevivera a muitas batalhas” – pensou desejando conhecer mais sobre o homem que roubara seu juízo e bom senso.

– Tenho pés calejados e marcados de bailarina – Isadora o alertou um instante antes que ele retirasse a sapatilha do seu pé.

Não estava inibida ou constrangida. Não tinha vergonha de seus pés. Eles carregavam as marcas de sua história, de suas lutas e sua determinação.

Kiron sentiu o peito rugir de orgulho.

Isadora não estava envergonhada ou com receio de que ele visse seus pés. Ela simplesmente anunciava um fato, sem receio que ele contemplasse os sinais de que desnudavam sua alma.

Lentamente, retirou a delicada sapatilha e mirou o pé de unhas extremamente curtas, e apesar de muito pequenas, vaidosamente pintadas de vermelho. Enxergou várias cicatrizes, algumas antigas, outras recentes. Sobre dois dedos, havia pequeninos calos.  

“Eram os pés de uma lutadora... Isadora escolhera travar suas batalhas sobre as pontas das sapatilhas, com as quais encantava um teatro inteiro com seu talento, técnica e paixão” – refletiu.

Depositou um beijo repleto de carinho na parte superior do pé da bailarina e a sentiu estremecer. Acariciou a pele suave da sola do pé, e um novo estremecer acompanhado de um suspiro, revelou o que ele deveria ter pressentido.

Beijou cada um dos dedos, que foram seguidos de discretos estremecimentos, quando tomou um dos dedos em sua boca, ela gemeu e suspirou ao mesmo tempo.

“Isadora dançava com o coração nas pontas dos pés, nada mais natural que aquela fosse a parte mais sensível do corpo dela” – pensou encantado com a sensibilidade que ela tinha nessa parte do corpo.

Kiron sugou o dedo com um pouco mais de vontade e o corpo estremeceu com mais intensidade, anunciando a proximidade do orgasmo.

Surpreso e deliciado, repetiu todo do processo com a perna esquerda. Desde os beijos ao longo da panturrilha, a carícia com ela ainda usando a sapatilha, a retirada lenta da peça, e deu ao pé esquerdo a mesma atenção e carinho que dera ao direito.

Isadora respirava com dificuldade e erguia os quadris em uma oferta desavergonhada. Parou somente quando percebeu que, mais uma vez, ela estava à beira de um orgasmo fulminante. 

“O aroma da excitação dela o estava enlouquecendo” – pensou ao colocar a perna dela cuidadosamente de volta ao chão.  

Kiron desejava falar com ela, dizer que, aos seus olhos, ela possuía os pés mais belos do mundo. Porém, suas boas intenções foram roubadas quando ao beijar a coxa, com intenção de fazer caminho inverso ao que levara sua boca aos pés dela, o aroma da excitação que inundava o sexo feminino invadiu suas narinas.

Esqueceu suas intenções e o controle quando a fome por ela rugiu mais forte e poderosa dentro dele. Com um breve olhar, buscou uma vez mais os olhos negros tão torturados quanto os seus, e sem perder tempo ou pedir permissão, afastou as pernas de coxas torneadas abrindo-a para ele e mirou o sexo que brilhava molhado e tentador.

Inspirou o cheiro de Isadora um segundo antes de sua boca descer sobre os grandes lábios e o clitóris inchado e endurecido e grunhiu, sem afastar boca do sexo quente e doce da bailarina. 

Kiron sorriu ao vê-la levar as duas mãos à boca para abafar o grito de prazer.

“Minha!” – o pensamento explodiu em sua mente, forte, poderoso, decisivo.

O sabor único e denso preenchia sua boca e invadia seus sentidos.

“Ela era tão doce...” – pensava ao saborear o banquete digno dos deuses, que era Isadora Baptista.

Sem deixar de lamber e sugar o sexo doce, com um dedo sondou a entrada dela e a invadiu. O sexo sedoso e molhado se contraiu contra seu dedo em um aperto que o fez grunhir de satisfação.

O corpo feminino se arqueou tenso, perigosamente perto da liberação.

            “Ele queria sentir aquele primeiro orgasmo em seu membro, queria senti-la contrai-se em torno dele e abafar os gritos de prazer com sua boca” – admitiu ao retirar o dedo do interior do corpo quente e apaixonado.

Isadora deixou escapar um suspiro frustrado. Kiron sentiu o peito vibrar na mesma cadência que seu membro.

Em seguida, o suspiro se transformou em um gemido abafado quando sua boca abandonou o clitóris inchado e reiniciou a lenta subida de exploração do corpo da bailarina.

Isadora sentia o corpo languido, pesado e dolorido.

Não as dores que a incomodavam e torturavam há horas. Era uma dor nova que ela nunca acreditou existir. Sempre que lia em algum romance que a mocinha estava tão excitada que seu sexo doía, ela revirava os olhos, aborrecida com o exagero da autora.

Mas era exatamente isso que acontecia com ela naquele momento. Os seios, o vento e seu sexo estavam doloridos. A pele formigava com mais intensidade. Experimentava a sensação de que algo dentro dela necessitava explodir, libertar-se.

Dante invadiu seu corpo com um dedo e o prazer foi o mais intenso que já experimentara em sua vida.

Sentia as batidas de seu coração em toda a extensão de seu corpo. Era como se o corpo todo pulsasse no mesmo ritmo alucinante de seu coração.

O hálito morno soprou sobre a sua face, ao abrir seus olhos, se deparou com o rosto de Dante que a mirava torturado pelo desejo.

– Mikrúla Mou – ele voltou a murmurar e a beijou.

Isadora se agarrou aos cabelos curtos e correspondeu o beijo com a mesma loucura com que era beijada. Experimentou seu próprio sabor na boca dele e um prazer decadente varreu seu corpo.

Dante abraçou seu corpo e, ao erguer o corpo, a levou com ele. Mais uma vez estavam sentados.

Ela não esperou um convite.

Explorou com os lábios e com a língua o rosto áspero com a barba de um dia, o pescoço forte e os ombros largos, demorando-se um pouco mais sobre as cicatrizes que encontrava pelo caminho.

O agente possuía um corpo rijo e musculoso, forjado por batalhas passadas, presentes e preparado para as guerras futuras.

O sentia respirar com dificuldade, e saber que mexia tanto com ele, despertara a mulher sensual e sensualmente poderosa que ela sempre relegava a um canto escuro e esquecido em seu interior.

As mãos exploravam o peito, as costas, o abdômen marcado e continuaram sua descida até encontrar o cós da calça negra.

– Posso? – perguntou com voz rouca, mirando os olhos verdes.

– Por favor – ele respondeu quase sem voz.

Foi a vez de ela exibir um sorriso cheio de segundas intenções.

Acariciou o membro rígido e vibrante por sobre a roupa, e a resposta do agente fora agarrar sua cintura e sua nuca ao mesmo tempo.

Kiron cerrou os dentes para segurar o grunhido que subia por sua garganta. Agarrou a cintura e a nuca de Isadora e a beijou como um homem desesperado.

– Isadora – murmurou perdido, excitado como nunca estivera antes.

– Nunca foi assim tão forte – ela confessou em uma voz tremente e sensual.

– Estamos apenas começando, pequena – Kiron respondeu ao abrir o cinto, o botão da calça e colocar a mão direita dela sobre o zíper. – Abra, Isadora – pediu.

E ela o fez.

Kiron alcançou a carteira no bolso de trás, tirou o pacote de preservativos e jogou sobre o piso.

Os olhos de Isadora miraram os seus em um pedido mudo, e com um breve aceno de cabeça, ele concordara. Afastou-a provisoriamente de seu colo e ficou de joelhos para ajudá-la a despi-lo até os joelhos.

Isadora inspirou e expirou profundamente e baixou a peça de roupa. A viu engolir em seco ao mirar o membro erguido e pronto para afundar em seu corpo.

Com em expressão encantadora em sua face, Isadora tocou seu pênis. Os dedos exploraram toda sua longitude, curiosos com a textura de sua pele, as veias saltadas e sua anatomia. 

Ao voltar a olhar para ele, não conseguiu disfarçar a doce intimidação.

Aquilo foi sua ruína. Abriu o pacote de camisinhas e a arrastou novamente para o seu colo.

– Preciso entrar em você tanto quanto preciso de ar para respirar – ele murmurou com boca colada a dela.

– Eu quero fazer isso – ela respondeu apontando para a camisinha.

Ele não hesitou e entregou o preservativo nas mãos dela.

A bailarina pegou o preservativo e mais uma vez acariciou seu membro, que a saudou com entusiasmo. Ela repetiu o movimento e seu pênis mais uma vez reagiu animado.

“Ela o mataria” – Kiron resmungou para si mesmo.

– Isadora – ele grunhiu em tom desesperado.

A descarada teve a desfaçatez de deixar escapar um risinho divertido, para enfim colocar o preservativo em seu membro. Quando ela terminou, a respiração parecia ainda mais rareada.

Kiron encarou os olhos negros pesados de desejo, os lábios inchados pelos beijos trocados, os seios ainda mais cheios e pesados. Sem desviar os olhos dos dela, colocou-a posicionada sobre seu membro. O contato provocou gemidos torturados.

As bocas se procuram simultaneamente e se perderam em beijos molhados. Kiron guiou a descida lenta e torturante de Isadora sobre seu membro.  Percebera que seu tamanho a intimidara. Cada centímetro era uma doce agonia. Lutar contra sua urgência o estava matando.

Isadora sentia o corpo se desfragmentar de prazer...

O pênis dele avançava lentamente para dentro dela fazendo-a queimar de um jeito delicioso. Nunca gostara desse momento, mas com ele era completamente diferente.

Era intenso, sensual, luxuriante, inebriante, embriagador e alucinante.

Não se sentia invadida, sentia-se tomada, adorada, excitada.

Dante abafava seus gemidos com beijos que a deixava sem ar.

Um gemido de puro prazer escapou de seus lábios ao senti-lo inteiro dentro dela. Seu sexo se moldara ao dele com perfeição.

“Como se tivessem sido feitos um para completar o outro” – pensou.

– Pronta? – ele perguntou.

– Sim – ela respondeu.

Então o aperto em sua cintura se intensificou um pouco mais e ele guiou seu corpo através dos movimentos que saciariam a ambos.

Isadora se agarrou ainda mais ao corpo rijo e preparado e colou a boca à dele. Não conseguia controlar os gemidos e a vontade de gritar era maior que seu senso de prudência, esquecido em algum lugar daquele quarto.

O sexo quente e aveludado esmagava seu pênis em um agarre que era uma mistura de tormento e agonia.

Kiron guiava a velocidade dos movimentos, atento aos sinais do corpo que desmanchava de prazer em seus braços. Sentia o peito arder com uma emoção que tratou de ignorar. Seus sentidos estavam focados na mulher que o destruía com seu corpo sexy e alma de guerreira.

À medida que a sentia entregue e à vontade, aumentava gradativamente os movimentos de seus corpos, até que o som de pele batendo contra pele era abafado pela voz que cantava uma melodia que ele não se importava em identificar. Os sons que escapavam da boca de Isadora eram os únicos que tinham sua total atenção.

O aroma de pele e sexo permeava o ar, os beijos engoliam os gemidos, grunhidos e sussurros. Os seios sensíveis esmagados contra seu peito, as pernas dela em torno de sua cintura.

Fascinado, Kiron sentiu o corpo moreno se esticar tenso ao mesmo tempo que o sexo dela abraçava seu membro com força e sua boca capturava um grito de completa entrega. E no instante seguinte, Isadora explodia em um orgasmo que roubou a mente e o chão de ambos.

Ele ainda sentia o corpo feminino estremecer em seus braços quando a seguiu em uma liberação fulminante. A mente se desfez em um milhão de pedaços e o corpo convulsionou e foi a vez de Isadora engolir o urro de prazer que escapou por sua garganta.

Ainda sem ar e com mente entorpecida pelo orgasmo, Kiron sentiu Isadora, igualmente sem ar, deitar a cabeça novamente em seu peito. Abraçou-a e acariciou os cabelos negros.

            Soube desde o primeiro momento que ceder à atração avassaladora que sentiam um pelo outro, seria um erro. Pressentira que Isadora o faria desejar o impossível, almejar o que não cabia em seu modo de vida. O que não percebera era que, àquela altura, já era um homem perdido, condenado a sentir o peito sangrar pelo resto de sua vida.

 “Entregara sua alma à Isadora no exato momento em que seus olhos pousaram sobre ela no palco do Municipal” – admitiu.

****************

                Conto com seus comentários e estrelinhas!
                Beijos





Nenhum comentário:

Postar um comentário