domingo, 11 de outubro de 2015

Caminhos do Coração - Capítulo 04


Passava das oito da noite quando cheguei em casa. Eu só pensava em ligar para Gabriela e marcar para nos encontrarmos. Eu tinha que ficar livre para minha moça bonita. Mal fechei a porta e liguei para o celular dela, que chamou até cair na caixa postal. Tentei novamente e nada. Isso era muito estranho, pois ela praticamente dormia agarrada ao celular. Liguei para a irmã dela.

– Fabíola, estou tentando falar com a Gabi, mas ela não atende ao telefone. – Nem esperei que ela dissesse alô, de tão ansioso que eu estava.

Um soluço veio do outro lado da linha. E mais nada.

– Fabi, o que aconteceu? Por que está chorando?

– A Gabi sofreu um acidente. Estou no hospital, com minha mãe. Quer vir pra cá?

– Estou indo.

Enfiei o celular no bolso, peguei as chaves do carro, minha carteira e fui o mais rápido que pude ao hospital. Lá chegando, encontrei as duas mulheres aos prantos na sala de espera.

– Um caminhão bateu no carro dela, Beto. Está em cirurgia e segundo os médicos, suas chances são mínimas.

– Vamos rezar para que ela saia dessa, Fabi. – Abracei as duas. Eu não poderia acabar com tudo agora. Meu Deus, que situação...

Minutos se transformaram em horas e nada de notícias. De repente a porta se abriu e um médico veio em nossa direção.

– Parentes de Gabriela Antunes?

Fabíola se levantou.

– Somos nós.

– Tenho boas e más noticias. A má é que Gabriela sofreu uma lesão na coluna e, infelizmente, ela perdeu os movimentos das pernas. Um dano irreversível. – A mãe dela, que havia parado de chorar há apenas alguns minutos, recomeçou a chorar. – A boa notícia é que ela esta grávida e não aconteceu nada ao bebê. Com os cuidados certos, ela poderá levar essa gravidez adiante.

Puta que o pariu! Paraplégica e grávida?

Nesse momento, tomei a decisão mais sofrida da minha vida. Eu me casaria com ela, tornaria seus dias felizes e teríamos nosso filho, ainda que isso custasse a minha felicidade.

Dias depois, Gabriela teve alta e começamos os preparativos para o casamento. Minha moça bonita me mandava mensagens, mas eu não conseguia responder. Eu não seria forte o suficiente para me negar a ela, e Gabriela não merecia uma traição. Sua condição inspirava muitos cuidados e atenção constante.

Hoje fazia três dias que ele tinha voltado e não tive nenhuma notícia dele, apenas uma mensagem naquele mesmo dia, dizendo que estava chegando em casa e que me ligaria mais tarde. Na internet, também nada. Nenhum sinal.

Mandei mensagens que não foram sequer visualizadas.

Fechei o note, suspirando, resignada. Vai ver ele só queria se aproveitar de mim mesmo. Tentei dormir, mas só rolava na cama, de lá para cá.

Abri o note outra vez e mandei outra mensagem, perguntando se estava tudo bem, para ele me ligar ou pelo menos mandar uma mensagem. Deixei o celular e o note conectado e aberto ao meu lado e fiquei recostada em meu travesseiro, olhando para eles, esperando, e acabei adormecendo.


***

Um mês sem notícias dele. Um mês do cão para mim. Estava com olheiras enormes, tinha emagrecido alguns quilos... Sem falar que eu chorava de saudades dele todas as noites, ouvindo nossas músicas e olhando as fotos que tiramos aquele dia, em meu celular... 

Por que eu fui ser tão idiota e me apaixonar por ele? Por que acreditar que seriamos felizes juntos, que ele realmente me queria com ele? Minhas férias haviam terminado e agora eu iria me atirar no trabalho e tentar esquecer...

O casamento chegou e Gabriela estava muito bonita de noiva, em sua cadeira de rodas. Feliz, apesar de tudo, e isso bastava.

Os meses se passaram e descobrimos que teríamos um menino. Minha primeira felicidade em muito tempo. A gravidez havia cobrado seu preço e a saúde de Gabriela foi se deteriorando, lentamente. 

Sete meses após meu encontro com minha moça bonita, meu filho nasceu. 

– Ele é a sua cara, amor. – Gabriela disse com a voz fraca. – Você me fez muito feliz me dando um filho e ainda mais assim, uma miniatura sua. Os dois homens da minha vida. 

Nesse momento, olhando para a felicidade em seu rosto e o rostinho do meu filho, ainda todo sujinho do parto, me dei conta de que eu tinha tomado a atitude correta. Não a melhor para mim, mas a certa.

O pequeninho abriu os olhinhos e os fixou em mim, mexendo as mãozinhas. Coloquei o dedo naquela mãozinha tão pequena e ele apertou forte. A emoção me tomou e chorei. Chorei de felicidade por estar com meu filho em meus braços, e de tristeza por não ser filho da minha moça bonita e por saber que todas as minhas chances com ela estavam perdidas..

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