domingo, 18 de outubro de 2015

Caminhos do Coração - Capítulo 05



Passei definitivamente meu escritório para casa. 

Com Gabriela desse jeito, e meu pequeno exigindo atenção constante, eu não poderia me dar ao luxo de ir para o escritório e ficar o dia todo longe deles. Eu cuidaria de meu filho, não o deixaria nas mãos de alguém que eu não conhecia.

Eu preparava suas mamadeiras e o alimentava quando ele acordava de madrugada, o ninava para ele dormir, trocava suas fraldas e eu amava isso. Eu o amava de um jeito que só havia amado uma pessoa em minha vida. Uma pessoa que, toda vez que olhava para o rostinho do meu filho, me lembrava dela.

Chorava de saudade, olhava suas mensagens, lia e relia várias vezes. Mesmo longe, eu ficava de olho nela e via seu sofrimento. Minha irmã era minha confidente e eu chorava minhas mágoas para ela. Era bom ter alguém com quem falar, eu precisava disso.

Quando meu filho disse sua primeira palavra, eu estava presente. Em seu primeiro dentinho, eu estava presente. Seu primeiro passo foi para cair em meus braços. Gabriela observava a tudo e participava como podia. Por estar sempre doente, tinha pouco contato com o pequeno, por medo de passar qualquer coisa para ele.

Sempre que eu tinha uma oportunidade, tirava fotos dele com Gabriela ou de nós três juntos. 

O primeiro aniversário dele foi inesquecível. Ele era o xodó da família, pois era o único homem e o mais novo. Gabriela estava superfeliz e eu estava conseguindo cumprir meu objetivo.

Quatro meses depois, a saúde de Gabriela começou a piorar quando ela pegou uma pneumonia. A partir daí foi um sofrimento só, e ela não saiu mais do hospital.

Certo dia, ela me chamou no quarto, queria que eu entrasse sozinho, então deixei o pequeno com a mãe dela e entrei, fechando a porta atrás de mim.

–Beto, você foi muito bom pra mim, todo esse tempo. Não é qualquer um que aceitaria ficar com uma aleijada como eu. – Abri a boca para retrucar, mas ela me interrompeu. – Não diga nada, eu sei que sou e que não foi fácil para você. Escuto você chorar a noite e sei que não é feliz. Sou muito agradecida por tudo o que fez para mim e para nosso filho. – Ela respirou fundo e com um fiapo de voz, continuou. – Estou morrendo, Beto. O médico disse que minhas chances são mínimas. Quero que seja feliz, que pelo menos tente. Me prometa isso.

Com os olhos cheios de lágrimas, eu prometi, e naquela mesma noite, ela morreu.

Meu filho era muito pequeno para entender a morte de sua mãe. Eu havia prometido a ela tentar ser feliz. Chorei sua morte; mesmo não a amando, ela era uma boa companheira e sempre foi uma grande amiga. 

Meses se passaram e eu resolvi que faria o que havia prometido. Voltei à cidade da minha moça bonita e fiquei de longe, olhando-a. Ela parecia estar feliz e estar se recuperando do que fiz a ela. Sei que fui um grande filho da puta, sumindo e não dando notícias. Ela me perdoaria? Não sei se o que eu havia feito teria perdão. Então, pensando agora na felicidade e bem-estar dela, engoli meu coração novamente e voltei para casa.

O tempo passou e, como tudo na vida, eu o superei. 

Não esqueci, nunca esqueceria. 

Ele ainda estava no meu coração e em meu pescoço. De início, eu olhava aquela foto nossa, toda hora... Hoje, eu sabia que ela estava lá e isso me bastava. Bastava como aviso para que eu nunca mais cometesse a mesma besteira de me envolver com alguém que só queria me usar. 

Suspirei e olhei o calendário sobre minha mesa.

Cinco anos atrás, a essa hora eu estava chegando ao hotel. Todo ano, nesse dia, eu recebia flores (rosas vermelhas, as minhas preferidas) e uma corujinha. E mais nada. Nem um cartão, nada. Mas eu sabia de quem era e me odiava por ficar toda emotiva.

Esse ano, eu sabia que não iria receber nada, pois havia sido promovida e transferida para outro estado. Ele não tinha como me achar. Apenas meus pais e Carlinha sabiam meu novo endereço e eu havia pedido que não o dessem a ninguém. 

Trabalho.

Eu amava o que fazia. 

Agora, gerenciava os novos contratos da agência em que trabalhava. Aquilo era minha paixão! Novos rostos, descobrir talentos, acompanhar os trabalhos... Era tudo para mim.

– Ei, Luana.

Uma voz chamando me tirou dos pensamentos e levantei os olhos em direção a porta.

– Oi, Jú! – Juliana era o meu braço direito aqui na agência. Meiga e inteligente.

– A galera toda vai sair hoje à noite. Você quer ir também? É só um encontro num barzinho, com música, pista de dança...

– Ah, não sei Jú... – Comecei a pensar em uma desculpa para recusar quando ela me olhou com aqueles olhinhos.

– Vamos, por favor? – Sorriu para mim. Bem, que mal teria, né?

– Está bem, eu vou. Não prometo ficar muito tempo, mas vou.

– Vou contar pra galera. Eles vão adorar! – Saiu toda feliz. Ela era uma espoletinha, mas muito eficiente.

Depois de analisar algumas fotos e selecionar os modelos para a campanha, Jú voltou e disse que sairíamos em dez minutos.

– Já? Não acredito que já estão todos indo embora! Que horas são?

– Já são seis e vinte, mulher! Vamos! Estamos te esperando lá fora.

Guardei minhas coisas e respirando fundo, fui encontrar todos na rua. Fomos andando, pois o bar ficava a apenas algumas quadras, e Juliana ia me apresentando a quem eu ainda não conhecia.

Era uma galerinha divertida e brincalhona, e logo eu estava rindo e brincando com eles. Chegando ao bar, fomos recebidos por Henry, noivo de uma das meninas.

– Hoje trouxemos nossa nova gerente, amor. Acho que merecemos tratamento VIP! – Paula disse ao noivo.

– Amigos da minha amada são meus amigos também. Venham, vou levar vocês para a melhor parte do bar!

Éramos em quinze pessoas e, com Henry, lotamos quatro mesas.

Chegaram aperitivos e Chopp para todos. O que era bom, porque eu não havia almoçado hoje. 

– Uma banda nova vai se apresentar aqui hoje, daqui a pouco. Se vocês puderem dar uma força, eu agradeço. – Henry pediu e foi prontamente atendido com urros e assobios.

– Isso mesmo, galerinha, vocês são demais! Cuidem da minha garota, vou ver como está tudo lá dentro. – Dando um beijinho em Paula, ele completou. –Fiquem à vontade.

Acabei com um prato de iscas de carne, que estavam uma delícia, e meu Chopp. Pedi uma caipirinha. Hoje, eu aproveitaria e comemoraria minha promoção e a casa nova, além dos meus novos amigos.

A banda começou a tocar e eles eram realmente muito bons! Comecei a dançar em minha cadeira, já meio alegre na segunda caipirinha.

– Luana, quer dançar? – Um dos meninos me convidou. Por que não, né? Tô na chuva mesmo...

Me levantei e ele estendeu a mão para mim e fomos para a pista. Nossa, fazia tantos anos que não dançava! Mas isso é como andar de bicicleta e me soltei nos braços dele, entregando-me ao ritmo delicioso da música. Dançamos duas seguidas, conversando e rindo.

Voltamos para a mesa e já ia me sentar quando Juliana me chamou.

– Luana, venha conhecer meu irmão! Ele acabou de chegar.

Virei-me em sua direção e senti todo o sangue sumir de meu rosto. Uma tontura me tomou e me segurei na mesa. 

Ao lado dela estava Roberto.

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