Capítulo Dois
Madison
— Eu te
acompanho, querida – esse “querida” já fez meus cabelos da nuca arrepiarem —
Então, você trouxe a irresponsável da Alyssa para casa, ela estava com você?
Essa garota só dá problema.
Se eu
conheço as pessoas, sei que a menina é uma graça e não incomodaria ninguém, ao
contrário dessa aí. Essa mulher tem cara de cadela do mal. Dou dois passos para
trás para que ela desça as escadas na minha frente, vai que ela me empurra? Não
vamos correr o risco, não é? Vou em silêncio até a porta.
— Então não
fez mais que a sua obrigação – uma bruxa para um ogro, perfeito!
— Boa
noite para você também, Elvira – “Elvira,
a Rainha das Trevas”. Assim que um dos seguranças abre a porta, eu saio
rapidinho.
— Quem? –
ela grita.
Finjo-me
de surda, entro no carro e vou para o meu encontro. No caminho vou resmungando
o fato dele me chamar de charlatã, quem aquele cretino pensa que é? Tudo bem,
ele é juiz... Que homem mais lindo! Eu sempre o vi de longe no clube, quem
serve o grupo dele é o Ramon, o barman
chefe e todo os outros funcionários não tem acesso a realeza.
Terapeuta
de mulheres desesperadas. idiota... Não faz a menor ideia do que faço. A minha
formação é pedagogia, mas meu sonho de ensinar as crianças foi substituído pela
ocupação de ensinar mulheres a serem menos desesperadas por seus homens, sejam
eles seus companheiros, pretendentes ou ainda o homem dos seus sonhos.
Nasci em
uma pequena cidade do interior, fui criada para ser a típica dona de casa que
espera o marido na porta, com a sua torta preferida e com as crianças
impecáveis. Estudei pedagogia somente para ter um bom grau de instrução, porque
o meu sonho mesmo, era encontrar um marido e fazer da sua casa um lar feliz.
Então encontrei Frederick Warren, ele era perfeito...
Um homem
com emprego estável, honesto, gentil e charmoso. A beleza não era o seu forte,
afinal, o que contava era a beleza interior. Namoramos durante oito meses,
noivamos, construímos nossa casa, a mobiliamos como queríamos e cada dia que
passava, estávamos mais felizes. Eu estava encantada com Frederick, ele era o
homem dos sonhos de qualquer mulher, tínhamos planos tão mágicos para o nosso
futuro...
Então,
dez dias antes do casamento, eu viajei para um encontro de mulheres da igreja
que frequentamos, mas tivemos que voltar antes do tempo, porque houve um
acidente com a irmã Violet, coitada... na época pensei assim, “se ela tivesse
orado mais, não estariam se divorciando agora...”. Resolvi dar um pulo em nosso
futuro ninho de amor, para ver como o meu amado estava. Chegando lá,
encontrei-o com a prima dele em um sexo selvagem. Fiquei chocada com a cena, eu
sabia que o diabo tinha inúmeros artifícios para acabar com um casamento, só
não sabia que ele tinha longos cabelos loiros. Eu me lembro de gritar, chorar,
quebrar coisas, puxar o cabelo da piranha, mas o que mais me marcou foram as
palavras dele...
Madison, homens não gostam de passar a vida fazendo
sexo “papai e mamãe”, gostamos de coisas loucas na cama. E nosso relacionamento
só vingou, por causa do prazer que ela me dá. Homens preferem deixar a luxuria
fora do sagrado matrimônio, mas não fora das suas vidas.
Aquilo
foi um choque para mim. Fiquei dias a fio chorando e me lamentando, pior, me
culpando por não ser boa o suficiente para ele. Um dia entrei no meu banheiro
com uma lâmina na mão, iria acabar com essa dor de ser inferior. Assim que
encostei o instrumento no pulso, um pensamento veio... Que porra eu vou fazer? Eu não devo morrer porque um canalha me traiu.
Quem tem que levar uma lição é o filho da puta!
E com
esse pensamento, tive uma boa noite de sono. Acordei e a primeira coisa que fiz
foi jogar minhas roupas de “Amélia”
fora, ali renascia Madison, a perigosa, como sou carinhosamente conhecida hoje.
Não é meigo? Voltando a minha trajetória, fui ao único salão da cidade e cortei
meu cabelo com um corte da moda, todo repicado, tipo Gisele Bünchen, voltei para casa com roupas pretas de couro muito
justas, maquiagem pesada e sapatos altos.
Lembro-me
de ter chegado em casa e da minha mãe ter desmaiado, meu pai esbravejado e
minhas duas irmãs repreendendo-me, fui taxada como a ovelha negra da família.
Poderia ser a ovelha ruiva, já que é assim que sou. Meus cabelos são longos,
indo até o final das costas. Meus olhos são verdes, bem marcados com lápis
preto e com essa maquiagem pesada, descobri que tenho cílios longos e o carrego
no rímel.
Tenho
muitas sardas, maior parte da minha vida sentia-me estranha por causa disso, as
pessoas diziam que se não fosse por causa delas, eu poderia ser perfeita. Como
se ter sardas fizesse de alguém pior ou melhor. Povo besta! Por causa disso,
cedo aprendi a manusear a maquiagem, eu queria ser aceita, mal sabia que se
rebeliar seria muito mais divertido.
Ah sim, a
cidade também não me aceitou muito bem. Por onde eu passava as pessoas se
chocavam com a nova Madison. Começaram a falar que me tornei uma profissional
do sexo, quem me dera! As minhas amigas se distanciaram, suas mães diziam que
eu não era uma boa influência. Sei... Como se eu não soubesse que as garotas
adoram bater punhetas para os namorados, a filha da beata é especialista em
boquetes e por aí vai.
Certo
dia, chegando em casa, ouço minha mãe se lamentando para uma de suas amigas,
que as outras a estão ignorando por minha causa. Ela está se sentindo mal por
não poder participar mais das reuniões do clube da fofoca. Mas o que me doeu,
foi o fato dela falar que preferia que eu tivesse morrido. Seria melhor uma
filha morta, do que uma que envergonhe a família. Fúteis!
Cansada
desse mundinho hipócrita, resolvi me mudar para a terra das oportunidades, mais
conhecida como Big Apple, mas não
antes de dar uma lição no infeliz e contar a algumas pessoas o que elas
deveriam saber há muito tempo. Primeiro fui até a casa da beata, onde ela
estava fazendo a novena com as fofoqueiras de plantão. Isso vai ser divertido.
Entrei sem pedir licença e escandalizei geral:
— Boa
noite, senhoras. Como vão? – passo entre elas e sento na poltrona que está
vazia.
— Você
não foi convidada a estar aqui. Retire-se, volte para o lugar de onde saiu,
messalina – Leonor, a beata, dona da casa fala.
— Deixa
eu te dizer uma coisa, aliás, estou aqui para contar várias coisas para todas
vocês – dou risada — Vamos começar pela chefe da quadrilha, Dona Leonor. Sabia
que sua filha faz o melhor boquete da cidade? Andei sabendo que ela anda
beijando perereca por aí também – o sangue do rosto da mulher evaporou,
deixando-a verde.
— Dona
Deena – continuo — Sabia que o seu marido tem um caso há anos com essa senhora
aí do seu lado? Pois é, lembra quando a senhora fez aquela cirurgia? Ela não só
cuidou de você, mas também cuidou do seu devoto esposo – aponto para a tiazinha
do canto — Achou que iria escapar, Dona Mary? Essa senhora toda simpática de
cabelos brancos, foi uma das maiores prostitutas de Nova York e não era por
necessidade, pois sua família era rica. Dizem que ela é uma lenda por lá – e
para finalizar a discórdia, levanto-me, vou até a mãe do meu ex noivo e falo —
Eu peguei seu filho na cama com outra...
— Eu sei
e acho que ele fez muito bem. Mulheres como você não merecem respeito – ela
responde com deboche.
— Sabe
com quem ele estava na cama? Com a filha da sua irmã, a mesma que teve um caso
com seu marido. O rolo é tão grande, tiazinha, que pode estar rolando um
incesto e ninguém está sabendo de nada! – volto para o centro da sala — Ah,
acabou o show. Desejo a todas uma boa noite e vão para suas casas com
segurança.
Saí
rindo. Quem diria que ser uma cadela, seria tão divertido? Agora vou para o meu
penúltimo encontro. Dirijo-me para onde deveria ser o nosso lar, encontrei-o
sozinho e segundo ele muito arrependido. Mas eu não tinha mais tempo e nem boa
vontade para ele, o joguei na parede, tirei suas roupas, fiz um boquete
daqueles e o fodi em cinquenta tons de
cinza. Depois da cena grotesca que contracenei, vou até o banheiro, tomo um
banho para tirar qualquer resquício desse infeliz do meu corpo e volto para o
quarto.
— Só para
lembra-lo, essa casa também é minha e meu advogado entrará em contato com você.
— Achei
que tínhamos reatado? – Frederick fala com aquela cara de tonto. Como eu pude
amar um homem desse? Pensando bem, será que o amei?
— De você
quero apenas distância – sorrio.
Saí de lá
e fui para a casa onde moro com meus pais. Chego na hora em que todos estão em
volta da mesma jantando. Eles olham para mim e enquanto os nojentos dos meus
cunhados me despem com os olhos, os outros membros da família fazem cara de
nojo.
— Boa
noite, família. Fica calma, mamãe, eu vim aqui apenas para pegar minhas coisas
e fazer minha consideração final.
Fui até o
quarto, peguei minhas malas, que já estavam prontas e voltei para a sala.
— Estou
indo embora. Não que isso seja da conta de vocês, mas, depois que eu sair por
aquela porta, por favor, não me procurem nunca mais! – aponto para minhas irmãs
— Senhoras esposas perfeitas, conhecem as gêmeas que regem o coro da igreja?
— Sim...
– ambas respondem.
— Então,
esses tempos atrás vazou um vídeo delas na internet e adivinha quem estava na
orgia em que elas participaram? Um milhão de dólares para quem acertar... Vamos
lá meu povo, ninguém vai chutar? Eu mesma digo. Seus maridos estavam na orgia,
fiquei sabendo que comeram mais mulheres naquela noite do que em todas as suas
medíocres vidas. Lembra da virose que o Paul pegou? – aponto para o meu cunhado
que estava mais branco que papel — Era herpes, que segundo informações, ele
pegou da prima do Frederick, aquela que estava na cama dele quando eu o peguei
– volto-me para o meu pai — Sua esposa adora se esfregar no cabo da enxada do
jardineiro. Abre o olho, papai.
— Ai,
ai... Agora posso ir em paz. Beijos família. Até a próxima encarnação – passo a
mão pelo meu corselet de couro preto.
Assim que a porta bateu atrás de mim, respirei. Enfim, a minha nova vida
começou...
Eu não
tinha nada planejado, a única coisa que eu sabia era meu destino, Nova York. Eu
tinha um bom dinheiro guardado, daria para me sustentar por uns tempos se caso
não encontrasse um trabalho. Instalei-me em um pequeno apartamento na West
Village. Nos primeiros dias eu passeei muito! Andei, corri, fiz amizades e
minha primeira transa sem compromisso. O bonitão estava lá dando sopa de terno
chiquérrimo em frente ao café que eu passei a frequentar. Ele olhou para mim,
olhei para ele, nos olhamos, pintou um clima. Eu sorri, ele sorriu e só lembro
de ter dado para o cara dentro do carro e saí sem ao menos dizer o meu nome ou
perguntar o seu.
Sexo é
liberdade, minha gente! Libertem-se das opressões e tabus do “não pode”, pode
sim! Foder é necessário para conquistar a tão sonhada felicidade. O tempo que
eu tinha para pensar no que aconteceu, eu ocupava vendo putaria na internet,
aprendi a me dar prazer e acabei descobrindo que, quando a mulher sabe
exatamente onde são seus pontos erógenos, a probabilidade de ter orgasmos em
uma relação sexual é de 98%. Sério, estão esperando o que para testarem seus
prazeres?
Em uma
manhã, vi um anúncio que uma exclusiva casa noturna publicou no jornal.
Arrumei-me para parar o trânsito, coloquei uma calça de couro justa, uma regata
preta transparente com sutiã da mesma cor e minha jaqueta de couro, velha
companheira de guerra. Eu acho que a beleza tem mais haver com atitude do que
com estética. As mulheres mais sexys nem sempre são as mais bonitas e as
interessantes nem sempre são magras.
— O que
houve para que uma mulher como você, viesse se candidatar para uma vaga de bartender no meu estabelecimento?
Nitidamente, não pertences a esse lugar – apresentei-me na Secret Garden, onde só os VIP´s
frequentam. Rebecka Lamarque, a proprietária, foi quem me entrevistou.
— Estou
me redescobrindo, quero algo diferente, ter novas experiências, coisas assim –
encaro seus incríveis olhos de jade — Pertenço aonde estou no momento, o mundo
é minha casa, por enquanto.
—
Decidida e direta – ela sorri — Muito bom. Você sabe o que fazemos aqui?
— Uma
casa de entretenimento. Julgo que realizam a maioria dos desejos de seus
clientes. A mim realmente não importa, senhora Lamarque.
—
Conheces-me? – ela arqueia sua sobrancelha esquerda.
— E quem
não a reconheceria? Foi uma das Top Model´s mais conhecidas do mundo, padrão de
beleza que todas as meninas da minha geração seguiam.
— Tempos
de glória aqueles... – seu sorriso é triste.
— Acha
mesmo? Olha para esse lugar? É magnífico! E mais, hoje, você é conhecida pela
influência junto aos poderosos e sua beleza é intocável.
— Você
até pode não ser uma bartender
profissional – vejo brilho em seus olhos — Mas o modo com que encara a vida
pode ser muito mais benéfico do que a experiência – ela estende-me a mão —
Contratada! Terei alguém para ensina-la a preparar drinques.
E lá se
foram dois belos anos trabalhando nesse lugar luxuosíssimo, seus clientes em
sua grande maioria são políticos, autoridades, celebridades, que vem atrás de
acompanhantes ou para assistir shows de lindas stripers. Como é um clube
privado, poucos tinham os requisitos para frequentar o lugar e o principal item
é Money. Para ser um membro, deve ser
indicado por outro membro e a permissão só é dada, quando o conselho aprova.
Aqui também acontece despedidas de solteiros, festinhas particulares, entre
outras coisas.
O
ambiente tinha tudo para ser “cheguei”, preto com azul, mas Rebecca, a
proprietária, usou todo seu bom gosto que adquiriu nas passarelas da vida e
colocou aqui. Um palco amplo, mas baixo, com três degraus para o salão, que
tinham mesas de mármore negro e base de ferro. Três postes de pole-dance pelo
meio, onde shows sincronizados nos remete ao Moulin Rouge. O bar onde eu trabalho, as prateleiras são de vidro
escuro, com um grande espelho que começava no teto e terminava onde as benditas
prateleiras começam. O balcão também era de mármore negro e todas as bebidas
alcóolicas que existem no mundo, eles disponibilizam aqui, até mesmo algumas
artesanais.
Voltando
a minha humilde vida, depois que cheguei em Nova York, comecei a maltratar os
corações masculinos. Transo com quem quiser e na hora que quiser, muitos nem
sabem meu nome, não há porque criar laços se vou dispensa-los logo em seguida.
Você deve estar pensando, ela está se
vingando de todos os homens. Ledo engano, estou aproveitando tudo o que a
vida me oferece. Meu maior prazer, o sexo. Minha satisfação, é deixa-los
querendo mais sem ao menos saberem meu nome.
Sou bem
resolvida, sei exatamente o que quero e para onde vou, que é para lugar nenhum.
Ficar atrás desse balcão preparando e servindo drinques, me ensinou mais da
vida, do que os dias que passei antes de entrar aqui. Sou ruiva natural, olhos
verdes, mascaro minhas sardas com maquiagem, que uso para ficar com cara de
mal. Isso é sexy! Ah sim, toda mulher deveria saber que é sexy, e usar isso a
seu favor. Você, minha querida, você mesma que está lendo, é sexy demais, só
tem que descobrir como desabrochar esse seu lado felino.
Minha
ocupação como conselheira, começou na minha terceira noite de trabalho, um dia
bem movimentado aqui na boate. Vi uma das minhas novas amigas garçonetes sendo
humilhada pelo homem que ela amava, aquilo acabou com meu dia, porque eu
conhecia a dor. Como uma boa amiga, fui ajuda-la, aconselha-la para que não
sofresse mais por alguém que não a merecia, “Nicki, você é melhor que isso. Não permita que homem nenhum te
humilhar. Você é linda, sexy, pode ter todos que quiser. Dê a volta por cima e
mostre para o babaca o que ele perdeu. De uma coisa tenho certeza, ele virá
correndo atrás de você. Mas por favor, valorize-se. Só volte quando ele estiver
comendo na sua mão, caso ceda antes disso, voltarão à estaca zero e passará o
resto da sua vida sendo humilhada”.
E ela
fez, depois de cinco meses o cara a pediu em casamento. Hoje eles têm uma casa
linda, um filho e a espera do segundo. Uma relação sólida e casamento
harmonioso. Ah sim, também dei um curso intensivo de como deixar um homem louco
na cama, um bom boquete, fetiches com cordas e vendas, como cavalgar em grande
estilo, etc, etc... E isso fez toda a diferença! Quem disse que as garotas que
dançam em boates sabem tudo de erotismo? Pois é, não sabem.
Depois disso,
as amigas foram vendo em mim uma saída ou uma solução. Logo após as amigas, as
amigas das amigas também vieram e hoje, sou uma profissional consultora em
educação de relacionamentos. Mulheres desesperadas sem saber o que fazer para
recuperar seus relacionamentos desgastados, namoradas que querem casar-se com
os idiotas que as enrolam há anos, outras que querem apenas conquistar seus
amores, há aquelas que não conseguem ser felizes sozinhas, aconselho todas. Não
ensino a conquistarem homens, apenas ajudo-as a encontrarem a si mesmas antes
de tudo.
Charlatã...
Que juiz idiota!
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