domingo, 8 de novembro de 2015

O Juiz - Série Secret Garden - Capítulo 02

Capítulo Dois

Madison

— Eu te acompanho, querida – esse “querida” já fez meus cabelos da nuca arrepiarem — Então, você trouxe a irresponsável da Alyssa para casa, ela estava com você? Essa garota só dá problema.

— Ela estava comigo sim e agora está em casa – tento parecer neutra.


Se eu conheço as pessoas, sei que a menina é uma graça e não incomodaria ninguém, ao contrário dessa aí. Essa mulher tem cara de cadela do mal. Dou dois passos para trás para que ela desça as escadas na minha frente, vai que ela me empurra? Não vamos correr o risco, não é? Vou em silêncio até a porta.

— Então não fez mais que a sua obrigação – uma bruxa para um ogro, perfeito!

— Boa noite para você também, Elvira – “Elvira, a Rainha das Trevas”. Assim que um dos seguranças abre a porta, eu saio rapidinho.

— Quem? – ela grita.

Finjo-me de surda, entro no carro e vou para o meu encontro. No caminho vou resmungando o fato dele me chamar de charlatã, quem aquele cretino pensa que é? Tudo bem, ele é juiz... Que homem mais lindo! Eu sempre o vi de longe no clube, quem serve o grupo dele é o Ramon, o barman chefe e todo os outros funcionários não tem acesso a realeza.

Terapeuta de mulheres desesperadas. idiota... Não faz a menor ideia do que faço. A minha formação é pedagogia, mas meu sonho de ensinar as crianças foi substituído pela ocupação de ensinar mulheres a serem menos desesperadas por seus homens, sejam eles seus companheiros, pretendentes ou ainda o homem dos seus sonhos.

Nasci em uma pequena cidade do interior, fui criada para ser a típica dona de casa que espera o marido na porta, com a sua torta preferida e com as crianças impecáveis. Estudei pedagogia somente para ter um bom grau de instrução, porque o meu sonho mesmo, era encontrar um marido e fazer da sua casa um lar feliz. Então encontrei Frederick Warren, ele era perfeito...

Um homem com emprego estável, honesto, gentil e charmoso. A beleza não era o seu forte, afinal, o que contava era a beleza interior. Namoramos durante oito meses, noivamos, construímos nossa casa, a mobiliamos como queríamos e cada dia que passava, estávamos mais felizes. Eu estava encantada com Frederick, ele era o homem dos sonhos de qualquer mulher, tínhamos planos tão mágicos para o nosso futuro...

Então, dez dias antes do casamento, eu viajei para um encontro de mulheres da igreja que frequentamos, mas tivemos que voltar antes do tempo, porque houve um acidente com a irmã Violet, coitada... na época pensei assim, “se ela tivesse orado mais, não estariam se divorciando agora...”. Resolvi dar um pulo em nosso futuro ninho de amor, para ver como o meu amado estava. Chegando lá, encontrei-o com a prima dele em um sexo selvagem. Fiquei chocada com a cena, eu sabia que o diabo tinha inúmeros artifícios para acabar com um casamento, só não sabia que ele tinha longos cabelos loiros. Eu me lembro de gritar, chorar, quebrar coisas, puxar o cabelo da piranha, mas o que mais me marcou foram as palavras dele...

Madison, homens não gostam de passar a vida fazendo sexo “papai e mamãe”, gostamos de coisas loucas na cama. E nosso relacionamento só vingou, por causa do prazer que ela me dá. Homens preferem deixar a luxuria fora do sagrado matrimônio, mas não fora das suas vidas.

Aquilo foi um choque para mim. Fiquei dias a fio chorando e me lamentando, pior, me culpando por não ser boa o suficiente para ele. Um dia entrei no meu banheiro com uma lâmina na mão, iria acabar com essa dor de ser inferior. Assim que encostei o instrumento no pulso, um pensamento veio... Que porra eu vou fazer? Eu não devo morrer porque um canalha me traiu. Quem tem que levar uma lição é o filho da puta!

E com esse pensamento, tive uma boa noite de sono. Acordei e a primeira coisa que fiz foi jogar minhas roupas de “Amélia” fora, ali renascia Madison, a perigosa, como sou carinhosamente conhecida hoje. Não é meigo? Voltando a minha trajetória, fui ao único salão da cidade e cortei meu cabelo com um corte da moda, todo repicado, tipo Gisele Bünchen, voltei para casa com roupas pretas de couro muito justas, maquiagem pesada e sapatos altos.

Lembro-me de ter chegado em casa e da minha mãe ter desmaiado, meu pai esbravejado e minhas duas irmãs repreendendo-me, fui taxada como a ovelha negra da família. Poderia ser a ovelha ruiva, já que é assim que sou. Meus cabelos são longos, indo até o final das costas. Meus olhos são verdes, bem marcados com lápis preto e com essa maquiagem pesada, descobri que tenho cílios longos e o carrego no rímel.

Tenho muitas sardas, maior parte da minha vida sentia-me estranha por causa disso, as pessoas diziam que se não fosse por causa delas, eu poderia ser perfeita. Como se ter sardas fizesse de alguém pior ou melhor. Povo besta! Por causa disso, cedo aprendi a manusear a maquiagem, eu queria ser aceita, mal sabia que se rebeliar seria muito mais divertido.

Ah sim, a cidade também não me aceitou muito bem. Por onde eu passava as pessoas se chocavam com a nova Madison. Começaram a falar que me tornei uma profissional do sexo, quem me dera! As minhas amigas se distanciaram, suas mães diziam que eu não era uma boa influência. Sei... Como se eu não soubesse que as garotas adoram bater punhetas para os namorados, a filha da beata é especialista em boquetes e por aí vai.

Certo dia, chegando em casa, ouço minha mãe se lamentando para uma de suas amigas, que as outras a estão ignorando por minha causa. Ela está se sentindo mal por não poder participar mais das reuniões do clube da fofoca. Mas o que me doeu, foi o fato dela falar que preferia que eu tivesse morrido. Seria melhor uma filha morta, do que uma que envergonhe a família. Fúteis!

Cansada desse mundinho hipócrita, resolvi me mudar para a terra das oportunidades, mais conhecida como Big Apple, mas não antes de dar uma lição no infeliz e contar a algumas pessoas o que elas deveriam saber há muito tempo. Primeiro fui até a casa da beata, onde ela estava fazendo a novena com as fofoqueiras de plantão. Isso vai ser divertido. Entrei sem pedir licença e escandalizei geral:

— Boa noite, senhoras. Como vão? – passo entre elas e sento na poltrona que está vazia.

— Você não foi convidada a estar aqui. Retire-se, volte para o lugar de onde saiu, messalina – Leonor, a beata, dona da casa fala.

— Deixa eu te dizer uma coisa, aliás, estou aqui para contar várias coisas para todas vocês – dou risada — Vamos começar pela chefe da quadrilha, Dona Leonor. Sabia que sua filha faz o melhor boquete da cidade? Andei sabendo que ela anda beijando perereca por aí também – o sangue do rosto da mulher evaporou, deixando-a verde.

— Dona Deena – continuo — Sabia que o seu marido tem um caso há anos com essa senhora aí do seu lado? Pois é, lembra quando a senhora fez aquela cirurgia? Ela não só cuidou de você, mas também cuidou do seu devoto esposo – aponto para a tiazinha do canto — Achou que iria escapar, Dona Mary? Essa senhora toda simpática de cabelos brancos, foi uma das maiores prostitutas de Nova York e não era por necessidade, pois sua família era rica. Dizem que ela é uma lenda por lá – e para finalizar a discórdia, levanto-me, vou até a mãe do meu ex noivo e falo — Eu peguei seu filho na cama com outra...

— Eu sei e acho que ele fez muito bem. Mulheres como você não merecem respeito – ela responde com deboche.

— Sabe com quem ele estava na cama? Com a filha da sua irmã, a mesma que teve um caso com seu marido. O rolo é tão grande, tiazinha, que pode estar rolando um incesto e ninguém está sabendo de nada! – volto para o centro da sala — Ah, acabou o show. Desejo a todas uma boa noite e vão para suas casas com segurança.

Saí rindo. Quem diria que ser uma cadela, seria tão divertido? Agora vou para o meu penúltimo encontro. Dirijo-me para onde deveria ser o nosso lar, encontrei-o sozinho e segundo ele muito arrependido. Mas eu não tinha mais tempo e nem boa vontade para ele, o joguei na parede, tirei suas roupas, fiz um boquete daqueles e o fodi em cinquenta tons de cinza. Depois da cena grotesca que contracenei, vou até o banheiro, tomo um banho para tirar qualquer resquício desse infeliz do meu corpo e volto para o quarto.

— Só para lembra-lo, essa casa também é minha e meu advogado entrará em contato com você.

— Achei que tínhamos reatado? – Frederick fala com aquela cara de tonto. Como eu pude amar um homem desse? Pensando bem, será que o amei?

— De você quero apenas distância – sorrio.

Saí de lá e fui para a casa onde moro com meus pais. Chego na hora em que todos estão em volta da mesma jantando. Eles olham para mim e enquanto os nojentos dos meus cunhados me despem com os olhos, os outros membros da família fazem cara de nojo.

— Boa noite, família. Fica calma, mamãe, eu vim aqui apenas para pegar minhas coisas e fazer minha consideração final.

Fui até o quarto, peguei minhas malas, que já estavam prontas e voltei para a sala.

— Estou indo embora. Não que isso seja da conta de vocês, mas, depois que eu sair por aquela porta, por favor, não me procurem nunca mais! – aponto para minhas irmãs — Senhoras esposas perfeitas, conhecem as gêmeas que regem o coro da igreja?

— Sim... – ambas respondem.

— Então, esses tempos atrás vazou um vídeo delas na internet e adivinha quem estava na orgia em que elas participaram? Um milhão de dólares para quem acertar... Vamos lá meu povo, ninguém vai chutar? Eu mesma digo. Seus maridos estavam na orgia, fiquei sabendo que comeram mais mulheres naquela noite do que em todas as suas medíocres vidas. Lembra da virose que o Paul pegou? – aponto para o meu cunhado que estava mais branco que papel — Era herpes, que segundo informações, ele pegou da prima do Frederick, aquela que estava na cama dele quando eu o peguei – volto-me para o meu pai — Sua esposa adora se esfregar no cabo da enxada do jardineiro. Abre o olho, papai.

— Ai, ai... Agora posso ir em paz. Beijos família. Até a próxima encarnação – passo a mão pelo meu corselet de couro preto. Assim que a porta bateu atrás de mim, respirei. Enfim, a minha nova vida começou...

Eu não tinha nada planejado, a única coisa que eu sabia era meu destino, Nova York. Eu tinha um bom dinheiro guardado, daria para me sustentar por uns tempos se caso não encontrasse um trabalho. Instalei-me em um pequeno apartamento na West Village. Nos primeiros dias eu passeei muito! Andei, corri, fiz amizades e minha primeira transa sem compromisso. O bonitão estava lá dando sopa de terno chiquérrimo em frente ao café que eu passei a frequentar. Ele olhou para mim, olhei para ele, nos olhamos, pintou um clima. Eu sorri, ele sorriu e só lembro de ter dado para o cara dentro do carro e saí sem ao menos dizer o meu nome ou perguntar o seu.

Sexo é liberdade, minha gente! Libertem-se das opressões e tabus do “não pode”, pode sim! Foder é necessário para conquistar a tão sonhada felicidade. O tempo que eu tinha para pensar no que aconteceu, eu ocupava vendo putaria na internet, aprendi a me dar prazer e acabei descobrindo que, quando a mulher sabe exatamente onde são seus pontos erógenos, a probabilidade de ter orgasmos em uma relação sexual é de 98%. Sério, estão esperando o que para testarem seus prazeres?

Em uma manhã, vi um anúncio que uma exclusiva casa noturna publicou no jornal. Arrumei-me para parar o trânsito, coloquei uma calça de couro justa, uma regata preta transparente com sutiã da mesma cor e minha jaqueta de couro, velha companheira de guerra. Eu acho que a beleza tem mais haver com atitude do que com estética. As mulheres mais sexys nem sempre são as mais bonitas e as interessantes nem sempre são magras.

— O que houve para que uma mulher como você, viesse se candidatar para uma vaga de bartender no meu estabelecimento? Nitidamente, não pertences a esse lugar – apresentei-me na Secret Garden, onde só os VIP´s frequentam. Rebecka Lamarque, a proprietária, foi quem me entrevistou.

— Estou me redescobrindo, quero algo diferente, ter novas experiências, coisas assim – encaro seus incríveis olhos de jade — Pertenço aonde estou no momento, o mundo é minha casa, por enquanto.

— Decidida e direta – ela sorri — Muito bom. Você sabe o que fazemos aqui?

— Uma casa de entretenimento. Julgo que realizam a maioria dos desejos de seus clientes. A mim realmente não importa, senhora Lamarque.

— Conheces-me? – ela arqueia sua sobrancelha esquerda.

— E quem não a reconheceria? Foi uma das Top Model´s mais conhecidas do mundo, padrão de beleza que todas as meninas da minha geração seguiam.

— Tempos de glória aqueles... – seu sorriso é triste.

— Acha mesmo? Olha para esse lugar? É magnífico! E mais, hoje, você é conhecida pela influência junto aos poderosos e sua beleza é intocável.

— Você até pode não ser uma bartender profissional – vejo brilho em seus olhos — Mas o modo com que encara a vida pode ser muito mais benéfico do que a experiência – ela estende-me a mão — Contratada! Terei alguém para ensina-la a preparar drinques.

E lá se foram dois belos anos trabalhando nesse lugar luxuosíssimo, seus clientes em sua grande maioria são políticos, autoridades, celebridades, que vem atrás de acompanhantes ou para assistir shows de lindas stripers. Como é um clube privado, poucos tinham os requisitos para frequentar o lugar e o principal item é Money. Para ser um membro, deve ser indicado por outro membro e a permissão só é dada, quando o conselho aprova. Aqui também acontece despedidas de solteiros, festinhas particulares, entre outras coisas.

O ambiente tinha tudo para ser “cheguei”, preto com azul, mas Rebecca, a proprietária, usou todo seu bom gosto que adquiriu nas passarelas da vida e colocou aqui. Um palco amplo, mas baixo, com três degraus para o salão, que tinham mesas de mármore negro e base de ferro. Três postes de pole-dance pelo meio, onde shows sincronizados nos remete ao Moulin Rouge. O bar onde eu trabalho, as prateleiras são de vidro escuro, com um grande espelho que começava no teto e terminava onde as benditas prateleiras começam. O balcão também era de mármore negro e todas as bebidas alcóolicas que existem no mundo, eles disponibilizam aqui, até mesmo algumas artesanais.

Voltando a minha humilde vida, depois que cheguei em Nova York, comecei a maltratar os corações masculinos. Transo com quem quiser e na hora que quiser, muitos nem sabem meu nome, não há porque criar laços se vou dispensa-los logo em seguida. Você deve estar pensando, ela está se vingando de todos os homens. Ledo engano, estou aproveitando tudo o que a vida me oferece. Meu maior prazer, o sexo. Minha satisfação, é deixa-los querendo mais sem ao menos saberem meu nome.

Sou bem resolvida, sei exatamente o que quero e para onde vou, que é para lugar nenhum. Ficar atrás desse balcão preparando e servindo drinques, me ensinou mais da vida, do que os dias que passei antes de entrar aqui. Sou ruiva natural, olhos verdes, mascaro minhas sardas com maquiagem, que uso para ficar com cara de mal. Isso é sexy! Ah sim, toda mulher deveria saber que é sexy, e usar isso a seu favor. Você, minha querida, você mesma que está lendo, é sexy demais, só tem que descobrir como desabrochar esse seu lado felino.

Minha ocupação como conselheira, começou na minha terceira noite de trabalho, um dia bem movimentado aqui na boate. Vi uma das minhas novas amigas garçonetes sendo humilhada pelo homem que ela amava, aquilo acabou com meu dia, porque eu conhecia a dor. Como uma boa amiga, fui ajuda-la, aconselha-la para que não sofresse mais por alguém que não a merecia, “Nicki, você é melhor que isso. Não permita que homem nenhum te humilhar. Você é linda, sexy, pode ter todos que quiser. Dê a volta por cima e mostre para o babaca o que ele perdeu. De uma coisa tenho certeza, ele virá correndo atrás de você. Mas por favor, valorize-se. Só volte quando ele estiver comendo na sua mão, caso ceda antes disso, voltarão à estaca zero e passará o resto da sua vida sendo humilhada”.

E ela fez, depois de cinco meses o cara a pediu em casamento. Hoje eles têm uma casa linda, um filho e a espera do segundo. Uma relação sólida e casamento harmonioso. Ah sim, também dei um curso intensivo de como deixar um homem louco na cama, um bom boquete, fetiches com cordas e vendas, como cavalgar em grande estilo, etc, etc... E isso fez toda a diferença! Quem disse que as garotas que dançam em boates sabem tudo de erotismo? Pois é, não sabem.

Depois disso, as amigas foram vendo em mim uma saída ou uma solução. Logo após as amigas, as amigas das amigas também vieram e hoje, sou uma profissional consultora em educação de relacionamentos. Mulheres desesperadas sem saber o que fazer para recuperar seus relacionamentos desgastados, namoradas que querem casar-se com os idiotas que as enrolam há anos, outras que querem apenas conquistar seus amores, há aquelas que não conseguem ser felizes sozinhas, aconselho todas. Não ensino a conquistarem homens, apenas ajudo-as a encontrarem a si mesmas antes de tudo.


Charlatã... Que juiz idiota!

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