Capítulo Seis
Letícia
A viagem
foi rápida, mas eu não suportava mais ficar dentro daquele avião, já estava
surtando, andando de um lado para o outro. Escolheu a dedo o local, um resort
do tipo “All inclusive” um pouco distante da cidade, de frente para a praia.
Levaram-nos para o apartamento
que foi reservado para Lorena e eu, há uma sala separando as duas suítes e
todos os cômodos são voltados para o mar. Kevin se redimiu com a escolha da
minha suíte, a vista é absolutamente linda e o banheiro digno de uma princesa.
Adorei!
— Lê, não quero ser chata, mas
seu jantar com o sheik é daqui há uma hora e pouco. — Lolo entra em meu quarto
dizendo.
— Ah não.
— Zachary está fazendo isso para
te obrigar a se encontrar com ele.
Quem
me dera que fosse verdade.
— Acho que é vingança por ter falado
com ele daquela maneira, quando nos conhecemos.
— Vá tomar um banho e descansar
um pouquinho, também farei o mesmo. O secretário do sheik virá te buscar aqui
às nove.
Lorena beija minha cabeça e sai.
Tiro a roupa, encho a banheira, deito-me e fecho os olhos. A porta do banheiro
abre e Zachary entra somente de calça jeans desgastada, o botão aberto e o
cabelo preso. Seus olhos percorrem meu corpo.
— Está pronta para mim, Letícia?
Ele senta na beirada da banheira
e corre suas mãos pela minha nudez, por onde suas mãos passam sinto minha pele
queimar, bastou seu olhar intenso para que eu esteja pronta para ele. Ele toma
minha boca em um beijo apaixonado e...
— LETÍCIA! — Lorena está quase
arrebentando a porta. — Por favor, abra essa porta. Ai meu Deus!
Desesperada, saio da banheira e
mal enrolo a toalha no corpo, antes de abrir a porta.
— O que foi Lolo?
Ela tira as mãos do rosto
pálido, me olha de cima a baixo e as coloca no quadril.
— Letícia Sophie Barros, o que
você estava fazendo naquele banheiro?
— Tomando banho, ué.
— Por uma hora e meia?
— Não foi mais que dez
minutos...
— Então porque o secretário do
sheik está na nossa porta te esperando? — Ela me entrega o celular com o
relógio iluminado.
Minha boca está tão aberta que
meu maxilar dói.
— Xesus! Estarei pronta em cinco minutos.
— Na próxima encarnação vou
conversar de perto com quem distribui a beleza, porque nessa não foi justa
comigo. Eu demoro meia hora para ficar apresentável e a mulher que dorme na
banheira precisa só de cinco minutos. Tsc tsc tsc.
Logo que cheguei guardei as
poucas roupas que trouxe, escolhi um vestido longo rosa bebê, na frente decote
canoa e atrás o decote é um pouco mais ousado, nada demais, para os pés uma
rasteirinha no estilo gladiadora dourada. Não vou ficar mais alta que o homem,
seria injusto. Solto o cabelo e dou uma penteada rápida, um pouco de perfume e
estou pronta.
Seu secretário acompanha-me até
o restaurante que tem um espaço ao ar livre, logo que entro o vejo naquele
vestido de mangas compridas. Respiro aliviada quando o bendito secretário senta
conosco.
— Boa noite, Sheik Bashir.
— Boa noite, menina Letícia. — ele
pega minha mão e a beija.
Logo que o garçom se apresenta
pedimos bebidas e os ajudei a escolher seus pratos. Eu não sou muito de bebidas
alcoólicas, só que hoje é questão de necessidade. Eu preciso! Trazem uma taça de vinho suave para mim e o árabe a
minha frente sorri, provavelmente achando que depois disso serei fácil. Deixa
achando!
— Gostei muito dos projetos, mas
Bashir tem um investimento em mente e gostaria da sua ajuda. — Ótimo o ego é
tão grande que tem que ser tratado na terceira pessoa.
— Se eu puder, farei com prazer.
— Péssima escolha de palavras Letícia. Esse negócio de terceira pessoa
contagia.
— Bashir quer investir em
jogadores brasileiros de futebol. — Ele sorri não muito agradavelmente. — Não em times, apenas em jogadores, talvez
construir um lugar onde eles possam estudar e desenvolverem seus talentos.
— Eu não trabalho no segmento
dos esportes, mas conheço quem o faz, posso apresentá-lo caso queira.
— Bashir gostaria que a menina
Letícia dirigisse esse projeto.
— Senhor Bashir, minha
participação nisso pode ser esquematizando toda a organização. Local, o que vão
precisar selecionar os colaboradores, isso para mim é fácil. Mas o senhor
precisará de olheiros especialistas, e nisso não posso ajudar, mas conheço quem
o faça.
O jantar seguiu como planejado
até o sheik ficar confiante demais e ultrapassar todos os limites.
— Bashir quer saber se menina
Letícia quer passar a noite com ele. — começo a rir e balanço a cabeça em
negativa. Ele continua a falar. — Posso dar o que você quiser jóias,
mordomias...
— Senhor Bashir, agradeço-lhe
pelo jantar. — tomo minha água, levanto-me.
Saio o mais rápido que posso,
penso em ir para o meu quarto, mas desisto e vou caminhar a beira mar. Estou me
sentindo um lixo, eu sabia que isso não daria certo.
Que
tipo de impressão eu estou passando a eles?
— Posso te fazer companhia?
— Que susto Liam! — Coloco a mão
no peito. — Eu não sou uma boa companhia nesse momento, mas se quiser arriscar,
será um prazer.
— O que se passa Letícia?
Sentamos-nos na areia. E eu olho
o mar tranquilo que arrebenta devagar.
— Só acho que esses almoços e
jantares não estão me fazendo bem. Tudo vai bem, até que acham que podem me
levar para a cama. Isso tem me deixado para baixo, me feito mal.
— Não é legal, eu sei. Você é
linda, tem senso de humor e é inteligente. Qualquer um se encanta por você.
Estamos nos encarando próximos
demais, ele está a meio caminho de me beijar...
O ar gela, um calafrio percorre
meu corpo e eu afasto-me de Liam.
— Desculpe-me.
Ele coloca seu dedo embaixo do
meu queixo, obrigando-me a olhá-lo.
— Não há porque se desculpar.
Não vou mentir que queria...
— Espero não estar atrapalhando.
Liam solta meu rosto e olhamos
para Zachary, que está na areia de bermuda jeans, camiseta preta e braços
cruzados. Seu olhar é tão poderoso sobre mim, que me sinto na obrigação de
afastar-me de Liam e dar satisfação a ele.
— Não está atrapalhando, senhor
O´Brian. Se me derem licença, vou para o meu quarto, preciso descansar.
Fujo sem olhar para trás e corro
para minha suíte, bato a porta e escoro, desejando que fosse Zachary.
— Boa noite Letícia.
Viro-me para dar de cara com
Ethan, nu na antessala.
— Sério Ethan? Pelo amor de
Deus, vá colocar pelo menos uma cueca.
— Vai dizer que não gostou? — Ele
levanta uma sobrancelha.
— Já vi maiores. — Deixo ele
para trás falando um “ah” revoltado. O que esperar dele, não é?
Coloco minha camisola curta,
deito, mas tenho medo de fechar os olhos. Essa coisa de ficar sonhando até
dentro da banheira, não é normal. Só que quando estou perto dele, tudo se
transforma.
——ooOoo——
Minha noite foi tranquila, sem
sonhos, dormi feito um anjo. Eu realmente precisava descansar, a correria foi
grande e estou toda dolorida. Alguém bate na porta e logo Lolo coloca sua
carinha de anjo.
— Bom dia, flor. Quer ir tomar
café e depois ir à praia comigo?
— Claro, me dá uns minutos. —
Levanto-me para colocar meu biquíni e converso com ela. — Ontem vi seu príncipe
nú, você tem que incentivá-lo a colocar pelo menos uma peça de roupa enquanto
estiver aqui.
— Ele me falou, revoltado porque
você disse que já viu maiores.
Graças a Deus, não encontramos
ninguém da vitrine no salão principal, onde tomamos nosso café. Adorei o fato de
a praia ser privativa. Há tendas com tecidos brancos na areia, espreguiçadeiras
e uns lugarzinhos bem legais que são as cadeiras dentro do mar, como essas não
tinham sombreiros, escolhemos a tenda.
Adoro sol, praia e esse lugar é
lindo!
— E aí meninas, o que vão fazer
por aqui? — Jônatas aparece e senta
conosco.
— Eu tenho encontros, depois vou
me lamentar por cada um deles e descansar.
— Respondo. Lolo ri.
— Eu não sei quando essa mulher
começou a ser dramática. Eu vou olhar a vida sobre as ondas e foder Ethan. E
você secretário, o boss te deu folga?
— Que nada, essa hora é minha
única folga, depois tenho que estar as voltas com os senhores feudais açoitando
meu lombo.
Esse menino é um fofo, o
adoramos, nunca o vimos com menina alguma. Esse cabelo desarrumado e olhos
claros fazem as estagiárias do escritório suspirarem por ele.
— Oh escravo Isauro, passa
protetor nas minhas costas! — Lolo fala com ele.
Recosto-me na espreguiçadeira e
contemplo a oitava maravilha do mundo moderno, Zachary Thorton O´Brian saindo
do mar, sua tatuagem que começa no ombro e desce para o braço direito, uma
tribal, com uma sunga azul retratando o que com certeza é a nona maravilha do
mundo. Se aquilo mole é daquele tamanho, imagina em posição de combate?
Percebo que há alguma agitação
em algum lugar, mas quem quer saber de agitação quando se tem um homem alto,
brutalmente forte, de cabelos compridos e olhos azuis misteriosos correndo em
nossa direção?
Já estava abrindo um sorriso,
quando ele passou direto por mim. Olho para trás e vejo Zachary segurando um
Ethan raivoso, Lorena na frente do Jônatas que está pálido.
— Por que esse verme estava com
as mãos em cima de você, Lorena?
— Estava apenas passando
protetor nos meus ombros, porque você, Ethan, se meteu em algum lugar sem me
avisar!
— Lolo, por que você e Ethan não
vão para o quarto conversar? — Entro no meio da discussão, e olho para Ethan. —
Jônatas é um cavalheiro, jamais se aproveitaria dela e mais, eu estava aqui.
Zachary o solta, Lorena arrasta
ele para o hotel e Jônatas está tão pálido que parece que vai vomitar. Passo a
mão pelos seus ombros em um gesto de carinho.
— Vai dar um mergulho e
caminhar, você merece uma folga e eu estou te dando. Depois falo com o Kevin.
Ele acena para mim, mas não tira
os olhos de Zachary. O pobre do menino ficou traumatizado. Zachary se senta na
espreguiçadeira que eu estava, coloca meus óculos escuros. Puxei o rosto e a
atenção do Jô de volta para mim.
— Fica tranquilo, vá aproveitar
sua folga.
Ele acena e se vai, estou a um
passo da cadeira onde Lolo estava, até que braços fortes abraçam-me.
— Se bem me lembro, essa cadeira
é sua, divida-a comigo.
Parte do meu corpo ficou em cima
dele, nada desconfortável, a não ser pelos tremiliques
que eu estava tendo, meu corpo todo aquecido. Um garçom surgiu do nada e
Zachary pede duas águas de coco.
— O que deu em Ethan? — Quebro o
silêncio.
— Ciúmes. Se não fosse por isso,
ele teria percebido que o menino é gay.
Olho com a boca aberta para ele.
— Jônatas não é gay! — Se for
não tem o menor problema e justificaria algumas coisas. Só não acho legal ficar
rotulando as pessoas.
Ele levanta a sobrancelha, acho
que está me questionando, mas como está de óculos escuros, não tenho certeza.
Trouxeram os cocos, ele me alcança um, que tomo com muito gosto.
— Falta muito tempo para o seu
próximo compromisso? — ele me pergunta.
— Bem lembrado. Por que você fez
isso, senhor O´Brian? — Largo o coco na mesinha e sento na outra cadeira de
frente para ele.
— Chame-me por Zach. — Ele toma
mais um pouco da sua água. — Fiz o que, Letícia?
— Você me ofereceu para os
outros. — Está tirando com a minha cara, só pode — Foi por vingança?
Zachary se senta, ficando de
frente e muito perto de mim. Meu coração acelera mais do que já estava. Ele
tira os óculos e me olha.
— Não foi por vingança,
apenas... — Ele passa a mão pelo cabelo molhado e eu acompanho cada movimento
seu. — Era a única maneira de fazer você se encontrar comigo, para me desculpar
pelo nosso primeiro encontro.
Seus olhos travaram nos meus e
ficamos ali duelando, sem pressa. Tento ler alguma coisa em seu olhar, só que
não consigo, ele é fechado demais e lindo demais.
Rendo-me abaixando minha cabeça,
pego meus óculos e levanto.
— Preciso ir, tenho um almoço
com Khristophoros. — Zachary se levanta encosta seu corpo ao meu e sinto aquele
arrepio familiar. Ele encosta sua boca e fala em meu ouvido.
— Estou ansioso para te
encontrar mais tarde, senhorita Letícia. — Ele beija meu rosto e se afasta,
deixando-me quente e querendo mais.
Vou para o meu quarto colocar
outra roupa. Do jeito que a carruagem anda, é melhor me cobrir para o próximo
encontro. Tudo bem que o grego é um gato...
Coloco um vestido azul de alças,
acima do joelho. Uma rasteirinha com perolas para combinar com os brincos.
Alguém bate na porta, quando abro, vejo um charmoso grego escorado no batente
da porta com uma flor na mão.
— Boa tarde, Letícia. Pronta?
— Sim.
Ele estende seu braço em um
gesto de gentileza. Quem sabe dessa vez eu possa aproveitar a companhia sem que
ele tente me levar para cama.
O restaurante é no hotel, mas um
pouco afastado, as mesas são dentro da água, uma delícia. Sentamos um de frente
ao outro, seus olhos são verde escuros, com manchas douradas, ele é muito
charmoso.
— Fico muito feliz que eu possa
ter um tempo para te conhecer melhor. Seu namorado não quis vir nessa viagem?
Ele não deveria deixar uma mulher como você viajar sozinha.
— Uma mulher como eu...
— Uma linda mulher.
Concentro-me no cardápio e faço
meu pedido. Sebastian não para de me olhar a ponto de me deixar constrangida.
— Então senhor Khristophoros,
está gostando do passeio?
— O Brasil me lembra à Grécia. —
Pois é. Ambos beirando a falência.
Ele continua a falar. — O calor do povo, essa hospitalidade generosa, tudo é
motivo para festejar. País que mesmo em crise, consegue ser feliz. Os
americanos e europeus são frios, tudo deles gira em torno do umbigo do
capitalismo. Já foi a Grécia, princesa?
— Ainda não, mas com certeza um
dia irei. É o item número três da minha lista de desejos.
— Na sua lista de desejos há
beijo de um grego?
Wow, esse foi direto ao ponto.
— Não senhor, inclui apenas conhecer
a Grécia.
Esquivei-me do homem o almoço todo, pelo menos
ele foi mais delicado nas suas abordagens. Se não fosse casado, com certeza
pensaria melhor. Só que isso é uma viagem de negócios. A esposa e filhos dele,
o estão esperando em casa com saudades. Sei exatamente o quanto pesa a dor da
traição.
Após o jantar, fui novamente
caminhar na praia, ver a paisagem, relaxar. Depois de algum tempo andando,
sentei para pensar em Lolo e Ethan, eu oro todos os dias para que ela encontre
o amor verdadeiro, alguém que cuide dela como uma boneca de porcelana.
Será
que um dia encontrarei alguém que cuidará de mim também?
Meu coração aperta e uma lágrima
escorre. Eu quero amar e principalmente, ser amada, cuidada. Alguém que queira
estar por mim, protegendo-me, porque cansa ser forte o tempo todo. Um abraço,
um colo, um cafuné enquanto assistimos TV. Ouvir: Eu te amo ou Você é minha! Para me deixar feliz.
——ooOoo——
— Oi minha boneca, o que está
fazendo aqui? Cadê seu príncipe possessivo?
Ela sorri. Já é final de tarde
quando eu encontro Lolo.
— Aquele príncipe está mais para
sapo... Boi, sapo boi. Aff! Eles foram chamados para uma reunião.
— Reunião? Que estranho, não
estou sabendo de nada.
— Eu estava com ele quando um
assistente do sheik foi à suíte convidá-lo para uma reunião com a vossa alteza
real das arábias. Ethan disse que estão empolgados com aquele projeto,
provavelmente vão conversar sobre isso.
— Deve ser...
Assim que entramos, o serviço de
quarto entregou um buquê enorme de rosas brancas e lilás, absurdamente lindo.
Em cima figurava um pequeno cartão,
Infelizmente
terei que adiar nosso encontro anjo.
Amanhã
nosso dia será especial, eu prometo.
Beijos
Zach.
— Ele deve estar na reunião
também. Ethan contou que ele estava ansioso para esse encontro. Parece que o
belo dono dos olhos azuis quer te perseguir fora dos sonhos. Ah, sabe o que
lembrei?
— Tenho medo de perguntar...
— O que minha mãe mandou dizer
sobre isso, alguma coisa de selar o destino...
— Pode ir parando. — Corro para
o banheiro e ligo as torneiras para encher a banheira. — Já que a senhorita
está livre essa noite, que tal jantarmos no centro da cidade? Chamamos um táxi
e vamos bater pernas por lá.
Ela levanta os braços em sinal
de rendição.
— Ótima ideia! Fico pronta em
meia hora.
Mais de uma hora depois descemos
em frente ao restaurante de comida japonesa, indicado como um dos melhores da
cidade. Nossa conversa foi basicamente sobre Ethan, o que é, como se alimenta,
como vive e como se reproduz. Adoro esse senso de humor dela, o brilho no olhar
e o grande sorriso, se ele faz tudo isso com ela, eu só posso apoiar.
— É meia noite e dez. — respondo quando Lorena
pergunta a hora.
— O que foi, Lê? Sua mão está
gelada.
— Não sei... Só um aperto no
peito.
— Pode ser aqueles olhos azuis.
Olho para fora da janela.
— Ou o meu destino sendo selado...
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