domingo, 13 de dezembro de 2015

A Vitrine - Capítulo 06

Capítulo Seis


Letícia

A viagem foi rápida, mas eu não suportava mais ficar dentro daquele avião, já estava surtando, andando de um lado para o outro. Escolheu a dedo o local, um resort do tipo “All inclusive” um pouco distante da cidade, de frente para a praia.
Levaram-nos para o apartamento que foi reservado para Lorena e eu, há uma sala separando as duas suítes e todos os cômodos são voltados para o mar. Kevin se redimiu com a escolha da minha suíte, a vista é absolutamente linda e o banheiro digno de uma princesa. Adorei!
— Lê, não quero ser chata, mas seu jantar com o sheik é daqui há uma hora e pouco. — Lolo entra em meu quarto dizendo.
— Ah não.
— Zachary está fazendo isso para te obrigar a se encontrar com ele.
Quem me dera que fosse verdade.
— Acho que é vingança por ter falado com ele daquela maneira, quando nos conhecemos.
— Vá tomar um banho e descansar um pouquinho, também farei o mesmo. O secretário do sheik virá te buscar aqui às nove.

Lorena beija minha cabeça e sai. Tiro a roupa, encho a banheira, deito-me e fecho os olhos. A porta do banheiro abre e Zachary entra somente de calça jeans desgastada, o botão aberto e o cabelo preso. Seus olhos percorrem meu corpo.
— Está pronta para mim, Letícia?
Ele senta na beirada da banheira e corre suas mãos pela minha nudez, por onde suas mãos passam sinto minha pele queimar, bastou seu olhar intenso para que eu esteja pronta para ele. Ele toma minha boca em um beijo apaixonado e...
— LETÍCIA! — Lorena está quase arrebentando a porta. — Por favor, abra essa porta. Ai meu Deus!
Desesperada, saio da banheira e mal enrolo a toalha no corpo, antes de abrir a porta.
— O que foi Lolo?
Ela tira as mãos do rosto pálido, me olha de cima a baixo e as coloca no quadril.
— Letícia Sophie Barros, o que você estava fazendo naquele banheiro?
— Tomando banho, ué.


— Por uma hora e meia?
— Não foi mais que dez minutos...
— Então porque o secretário do sheik está na nossa porta te esperando? — Ela me entrega o celular com o relógio iluminado.
Minha boca está tão aberta que meu maxilar dói.
Xesus! Estarei pronta em cinco minutos.
— Na próxima encarnação vou conversar de perto com quem distribui a beleza, porque nessa não foi justa comigo. Eu demoro meia hora para ficar apresentável e a mulher que dorme na banheira precisa só de cinco minutos. Tsc tsc tsc.
Logo que cheguei guardei as poucas roupas que trouxe, escolhi um vestido longo rosa bebê, na frente decote canoa e atrás o decote é um pouco mais ousado, nada demais, para os pés uma rasteirinha no estilo gladiadora dourada. Não vou ficar mais alta que o homem, seria injusto. Solto o cabelo e dou uma penteada rápida, um pouco de perfume e estou pronta.
Seu secretário acompanha-me até o restaurante que tem um espaço ao ar livre, logo que entro o vejo naquele vestido de mangas compridas. Respiro aliviada quando o bendito secretário senta conosco.
— Boa noite, Sheik Bashir.
— Boa noite, menina Letícia. — ele pega minha mão e a beija.
Logo que o garçom se apresenta pedimos bebidas e os ajudei a escolher seus pratos. Eu não sou muito de bebidas alcoólicas, só que hoje é questão de necessidade. Eu preciso! Trazem uma taça de vinho suave para mim e o árabe a minha frente sorri, provavelmente achando que depois disso serei fácil. Deixa achando!
— Gostei muito dos projetos, mas Bashir tem um investimento em mente e gostaria da sua ajuda. — Ótimo o ego é tão grande que tem que ser tratado na terceira pessoa.
— Se eu puder, farei com prazer. — Péssima escolha de palavras Letícia. Esse negócio de terceira pessoa contagia.
— Bashir quer investir em jogadores brasileiros de futebol. — Ele sorri não muito agradavelmente.  — Não em times, apenas em jogadores, talvez construir um lugar onde eles possam estudar e desenvolverem seus talentos.
— Eu não trabalho no segmento dos esportes, mas conheço quem o faz, posso apresentá-lo caso queira.
— Bashir gostaria que a menina Letícia dirigisse esse projeto.



— Senhor Bashir, minha participação nisso pode ser esquematizando toda a organização. Local, o que vão precisar selecionar os colaboradores, isso para mim é fácil. Mas o senhor precisará de olheiros especialistas, e nisso não posso ajudar, mas conheço quem o faça.
O jantar seguiu como planejado até o sheik ficar confiante demais e ultrapassar todos os limites.
— Bashir quer saber se menina Letícia quer passar a noite com ele. — começo a rir e balanço a cabeça em negativa. Ele continua a falar. — Posso dar o que você quiser jóias, mordomias...
— Senhor Bashir, agradeço-lhe pelo jantar. — tomo minha água, levanto-me.
Saio o mais rápido que posso, penso em ir para o meu quarto, mas desisto e vou caminhar a beira mar. Estou me sentindo um lixo, eu sabia que isso não daria certo.
Que tipo de impressão eu estou passando a eles?
— Posso te fazer companhia?
— Que susto Liam! — Coloco a mão no peito. — Eu não sou uma boa companhia nesse momento, mas se quiser arriscar, será um prazer.
— O que se passa Letícia?
Sentamos-nos na areia. E eu olho o mar tranquilo que arrebenta devagar.
— Só acho que esses almoços e jantares não estão me fazendo bem. Tudo vai bem, até que acham que podem me levar para a cama. Isso tem me deixado para baixo, me feito mal.
— Não é legal, eu sei. Você é linda, tem senso de humor e é inteligente. Qualquer um se encanta por você.
Estamos nos encarando próximos demais, ele está a meio caminho de me beijar...
O ar gela, um calafrio percorre meu corpo e eu afasto-me de Liam.
— Desculpe-me.
Ele coloca seu dedo embaixo do meu queixo, obrigando-me a olhá-lo.
— Não há porque se desculpar. Não vou mentir que queria...
— Espero não estar atrapalhando.
Liam solta meu rosto e olhamos para Zachary, que está na areia de bermuda jeans, camiseta preta e braços cruzados. Seu olhar é tão poderoso sobre mim, que me sinto na obrigação de afastar-me de Liam e dar satisfação a ele.
— Não está atrapalhando, senhor O´Brian. Se me derem licença, vou para o meu quarto, preciso descansar.


Fujo sem olhar para trás e corro para minha suíte, bato a porta e escoro, desejando que fosse Zachary.
— Boa noite Letícia.
Viro-me para dar de cara com Ethan, nu na antessala.
— Sério Ethan? Pelo amor de Deus, vá colocar pelo menos uma cueca.
— Vai dizer que não gostou? — Ele levanta uma sobrancelha.
— Já vi maiores. — Deixo ele para trás falando um “ah” revoltado. O que esperar dele, não é?
Coloco minha camisola curta, deito, mas tenho medo de fechar os olhos. Essa coisa de ficar sonhando até dentro da banheira, não é normal. Só que quando estou perto dele, tudo se transforma.
——ooOoo——

Minha noite foi tranquila, sem sonhos, dormi feito um anjo. Eu realmente precisava descansar, a correria foi grande e estou toda dolorida. Alguém bate na porta e logo Lolo coloca sua carinha de anjo.
— Bom dia, flor. Quer ir tomar café e depois ir à praia comigo?
— Claro, me dá uns minutos. — Levanto-me para colocar meu biquíni e converso com ela. — Ontem vi seu príncipe nú, você tem que incentivá-lo a colocar pelo menos uma peça de roupa enquanto estiver aqui.
— Ele me falou, revoltado porque você disse que já viu maiores.
Graças a Deus, não encontramos ninguém da vitrine no salão principal, onde tomamos nosso café. Adorei o fato de a praia ser privativa. Há tendas com tecidos brancos na areia, espreguiçadeiras e uns lugarzinhos bem legais que são as cadeiras dentro do mar, como essas não tinham sombreiros, escolhemos a tenda.
Adoro sol, praia e esse lugar é lindo!
— E aí meninas, o que vão fazer por aqui?  — Jônatas aparece e senta conosco.
— Eu tenho encontros, depois vou me lamentar por cada um deles e descansar.    — Respondo. Lolo ri.
— Eu não sei quando essa mulher começou a ser dramática. Eu vou olhar a vida sobre as ondas e foder Ethan. E você secretário, o boss te deu folga?
— Que nada, essa hora é minha única folga, depois tenho que estar as voltas com os senhores feudais açoitando meu lombo.



Esse menino é um fofo, o adoramos, nunca o vimos com menina alguma. Esse cabelo desarrumado e olhos claros fazem as estagiárias do escritório suspirarem por ele.
— Oh escravo Isauro, passa protetor nas minhas costas! — Lolo fala com ele.
Recosto-me na espreguiçadeira e contemplo a oitava maravilha do mundo moderno, Zachary Thorton O´Brian saindo do mar, sua tatuagem que começa no ombro e desce para o braço direito, uma tribal, com uma sunga azul retratando o que com certeza é a nona maravilha do mundo. Se aquilo mole é daquele tamanho, imagina em posição de combate?
Percebo que há alguma agitação em algum lugar, mas quem quer saber de agitação quando se tem um homem alto, brutalmente forte, de cabelos compridos e olhos azuis misteriosos correndo em nossa direção?
Já estava abrindo um sorriso, quando ele passou direto por mim. Olho para trás e vejo Zachary segurando um Ethan raivoso, Lorena na frente do Jônatas que está pálido.
— Por que esse verme estava com as mãos em cima de você, Lorena?
— Estava apenas passando protetor nos meus ombros, porque você, Ethan, se meteu em algum lugar sem me avisar!
— Lolo, por que você e Ethan não vão para o quarto conversar? — Entro no meio da discussão, e olho para Ethan. — Jônatas é um cavalheiro, jamais se aproveitaria dela e mais, eu estava aqui.
Zachary o solta, Lorena arrasta ele para o hotel e Jônatas está tão pálido que parece que vai vomitar. Passo a mão pelos seus ombros em um gesto de carinho.
— Vai dar um mergulho e caminhar, você merece uma folga e eu estou te dando. Depois falo com o Kevin.
Ele acena para mim, mas não tira os olhos de Zachary. O pobre do menino ficou traumatizado. Zachary se senta na espreguiçadeira que eu estava, coloca meus óculos escuros. Puxei o rosto e a atenção do Jô de volta para mim.
— Fica tranquilo, vá aproveitar sua folga.
Ele acena e se vai, estou a um passo da cadeira onde Lolo estava, até que braços fortes abraçam-me.
— Se bem me lembro, essa cadeira é sua, divida-a comigo.
Parte do meu corpo ficou em cima dele, nada desconfortável, a não ser pelos tremiliques que eu estava tendo, meu corpo todo aquecido. Um garçom surgiu do nada e Zachary pede duas águas de coco.
— O que deu em Ethan? — Quebro o silêncio.
— Ciúmes. Se não fosse por isso, ele teria percebido que o menino é gay.


Olho com a boca aberta para ele.
— Jônatas não é gay! — Se for não tem o menor problema e justificaria algumas coisas. Só não acho legal ficar rotulando as pessoas.
Ele levanta a sobrancelha, acho que está me questionando, mas como está de óculos escuros, não tenho certeza. Trouxeram os cocos, ele me alcança um, que tomo com muito gosto.
— Falta muito tempo para o seu próximo compromisso? — ele me pergunta.
— Bem lembrado. Por que você fez isso, senhor O´Brian? — Largo o coco na mesinha e sento na outra cadeira de frente para ele.
— Chame-me por Zach. — Ele toma mais um pouco da sua água. — Fiz o que, Letícia?
— Você me ofereceu para os outros. — Está tirando com a minha cara, só pode  — Foi por vingança?
Zachary se senta, ficando de frente e muito perto de mim. Meu coração acelera mais do que já estava. Ele tira os óculos e me olha.
— Não foi por vingança, apenas... — Ele passa a mão pelo cabelo molhado e eu acompanho cada movimento seu. — Era a única maneira de fazer você se encontrar comigo, para me desculpar pelo nosso primeiro encontro.
Seus olhos travaram nos meus e ficamos ali duelando, sem pressa. Tento ler alguma coisa em seu olhar, só que não consigo, ele é fechado demais e lindo demais.
Rendo-me abaixando minha cabeça, pego meus óculos e levanto.
— Preciso ir, tenho um almoço com Khristophoros. — Zachary se levanta encosta seu corpo ao meu e sinto aquele arrepio familiar. Ele encosta sua boca e fala em meu ouvido.
— Estou ansioso para te encontrar mais tarde, senhorita Letícia. — Ele beija meu rosto e se afasta, deixando-me quente e querendo mais.
Vou para o meu quarto colocar outra roupa. Do jeito que a carruagem anda, é melhor me cobrir para o próximo encontro. Tudo bem que o grego é um gato...
Coloco um vestido azul de alças, acima do joelho. Uma rasteirinha com perolas para combinar com os brincos. Alguém bate na porta, quando abro, vejo um charmoso grego escorado no batente da porta com uma flor na mão.
— Boa tarde, Letícia. Pronta?
— Sim.
Ele estende seu braço em um gesto de gentileza. Quem sabe dessa vez eu possa aproveitar a companhia sem que ele tente me levar para cama.


O restaurante é no hotel, mas um pouco afastado, as mesas são dentro da água, uma delícia. Sentamos um de frente ao outro, seus olhos são verde escuros, com manchas douradas, ele é muito charmoso.
— Fico muito feliz que eu possa ter um tempo para te conhecer melhor. Seu namorado não quis vir nessa viagem? Ele não deveria deixar uma mulher como você viajar sozinha.
— Uma mulher como eu...
— Uma linda mulher.
Concentro-me no cardápio e faço meu pedido. Sebastian não para de me olhar a ponto de me deixar constrangida.
— Então senhor Khristophoros, está gostando do passeio?
— O Brasil me lembra à Grécia. — Pois é. Ambos beirando a falência. Ele continua a falar. — O calor do povo, essa hospitalidade generosa, tudo é motivo para festejar. País que mesmo em crise, consegue ser feliz. Os americanos e europeus são frios, tudo deles gira em torno do umbigo do capitalismo. Já foi a Grécia, princesa?
— Ainda não, mas com certeza um dia irei. É o item número três da minha lista de desejos.
— Na sua lista de desejos há beijo de um grego?
Wow, esse foi direto ao ponto.
— Não senhor, inclui apenas conhecer a Grécia.
 Esquivei-me do homem o almoço todo, pelo menos ele foi mais delicado nas suas abordagens. Se não fosse casado, com certeza pensaria melhor. Só que isso é uma viagem de negócios. A esposa e filhos dele, o estão esperando em casa com saudades. Sei exatamente o quanto pesa a dor da traição.
Após o jantar, fui novamente caminhar na praia, ver a paisagem, relaxar. Depois de algum tempo andando, sentei para pensar em Lolo e Ethan, eu oro todos os dias para que ela encontre o amor verdadeiro, alguém que cuide dela como uma boneca de porcelana.
Será que um dia encontrarei alguém que cuidará de mim também?
Meu coração aperta e uma lágrima escorre. Eu quero amar e principalmente, ser amada, cuidada. Alguém que queira estar por mim, protegendo-me, porque cansa ser forte o tempo todo. Um abraço, um colo, um cafuné enquanto assistimos TV. Ouvir: Eu te amo ou Você é minha! Para me deixar feliz.

——ooOoo——

— Oi minha boneca, o que está fazendo aqui? Cadê seu príncipe possessivo?

Ela sorri. Já é final de tarde quando eu encontro Lolo.
— Aquele príncipe está mais para sapo... Boi, sapo boi. Aff! Eles foram chamados para uma reunião.
— Reunião? Que estranho, não estou sabendo de nada.
— Eu estava com ele quando um assistente do sheik foi à suíte convidá-lo para uma reunião com a vossa alteza real das arábias. Ethan disse que estão empolgados com aquele projeto, provavelmente vão conversar sobre isso.
— Deve ser...
Assim que entramos, o serviço de quarto entregou um buquê enorme de rosas brancas e lilás, absurdamente lindo. Em cima figurava um pequeno cartão,
Infelizmente terei que adiar nosso encontro anjo.
Amanhã nosso dia será especial, eu prometo.
Beijos Zach.
— Ele deve estar na reunião também. Ethan contou que ele estava ansioso para esse encontro. Parece que o belo dono dos olhos azuis quer te perseguir fora dos sonhos. Ah, sabe o que lembrei?
— Tenho medo de perguntar...
— O que minha mãe mandou dizer sobre isso, alguma coisa de selar o destino...
— Pode ir parando. — Corro para o banheiro e ligo as torneiras para encher a banheira. — Já que a senhorita está livre essa noite, que tal jantarmos no centro da cidade? Chamamos um táxi e vamos bater pernas por lá.
Ela levanta os braços em sinal de rendição.
— Ótima ideia! Fico pronta em meia hora.
Mais de uma hora depois descemos em frente ao restaurante de comida japonesa, indicado como um dos melhores da cidade. Nossa conversa foi basicamente sobre Ethan, o que é, como se alimenta, como vive e como se reproduz. Adoro esse senso de humor dela, o brilho no olhar e o grande sorriso, se ele faz tudo isso com ela, eu só posso apoiar.
 — É meia noite e dez. — respondo quando Lorena pergunta a hora.
— O que foi, Lê? Sua mão está gelada.
— Não sei... Só um aperto no peito.
— Pode ser aqueles olhos azuis.
Olho para fora da janela.

            — Ou o meu destino sendo selado...

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