Capítulo Dez
Zachary
Acordei
bem-disposto, o sol lá em cima indicando que o dia será tão pleno quanto ele.
King aparece na varanda.
— Bati na sua porta várias vezes e você não atendeu, fui obrigado a
entrar.
— Acabei dormindo aqui.
— O helicóptero partirá dentro de trinta minutos. O voo durará em média
duas horas, pelos meus cálculos, vocês pousarão perto do meio dia. Lennon estará
a sua disposição para levá-los até o lugar do almoço.
— Perfeito.
— Já que você exige privacidade, tomei a liberdade de dispensar Mag,
então, eu serei seu garçom e Lennon o motorista.
Levanto e vou para o banheiro, tomo um banho e faço minha higiene. Vejo
o meu reflexo, sou um homem bonito e segundo dizem, a cor dos meus olhos
representa meu coração que é de gelo. Considero-me uma boa pessoa, só não sou
idiota, sei exatamente como o mundo funciona.
Sento na sala para tomar café, faço um lanche leve e King me escolta até
o lugar da decolagem. Todos já estavam em seus assentos. O piloto estava
afivelando o cinto da Letícia, muito próximo a ela. O único assento disponível
é ao lado dela e vou de muito bom grado.
— Bom dia, senhorita Letícia.
— Bom dia, senhor O´Bri... — Arqueio a sobrancelha e ela corrige-se. —
Bom dia, Zach. Como foi sua noite?
— Foi boa. — Aproximo-me dela. — Dormi com você em meus pensamentos.
Senti seu corpo se agitar, seguro sua mão e aperto-a. Os motores são
ligados e começamos nossa viagem de reconhecimento de campo. Depois de algum
tempo, ela nos aponta onde começam as terras que vamos comprar, também aponta
outras que devemos negociar para ampliar o resort. Há uma encosta muito bonita.
— Se algum de vocês quiser uma casa dentro do resort, poderiam construir
uma vila com as seis casas, terão sua privacidade longe dos hóspedes. A nossa
direita; observem as fundações da construção, são novas, acredito que é
possível o reaproveitamento.
O voo durou menos de duas horas e em todo tempo sua mão estava na minha.
Ficamos mais interessados depois de vermos o lugar, é simplesmente fantástico!
Desembarcamos e fomos direto ao apartamento do sheik, prontos para acertar os
detalhes e contar a ela da formação do consórcio.
— Então senhores, o que acharam do lugar?
— Belíssimo; cara mia. — Martino
responde.
— Letícia. Ontem nos reunimos e acertamos algumas coisas. — Começo. — Como
todos ficaram interessados no projeto; resolvemos formar uma organização, um
grupo construtor, encabeçado por mim que serei responsável por tudo. Larkin é
responsável pelos projetos e você, que será nossa porta voz e claro, tão responsável
pela execução do que qualquer outro. — Ela balança a cabeça. — Antes que você
pense em negar é bom que saiba, só faremos se você estiver à frente. Cooper já
foi informado e concordou com tudo.
— Aceito com algumas condições: Primeiro, que o grupo seja responsável
pela manutenção da escola. Segundo, que os restaurantes sejam dos nativos
daquele lugar e que tenham a liberdade de venderem seus artesanatos. Terceiro,
que grande parte da mão de obra seja deles também. Nem que para isso teremos
que abrir turmas de formação e especialização. Não quero que simplesmente
cheguem lá, tomem conta de tudo e pronto, temos que trabalhar em unidade. É
isso ou nada feito!
— Você não vai negociar sua parte nisso? Afinal, você trabalhará mais do
que qualquer um. — Ethan pergunta.
Letícia olha para o Cooper.
— Sou funcionária da Global, vocês contratarão a empresa para
consultoria e o senhor Kevin me escalará para trabalhar. Então, qualquer valor
deve ser tratado com ele e consequentemente, ele tratará comigo.
— Não esperaria menos de você, mademoiselle.
— Larkin a elogia. — Todos estão de acordo com seus termos.
— Vou mandar o meu escritório fazer a documentação, enviarei para que
cada um possa analisar e fazer as alterações desejadas. — Digo. — Depois,
enviem para alguns dos meus assistentes e faremos a documentação final para
aprovação de todos. Bom, acho que por hoje é só. Tenham um bom dia.
Puxo Letícia pela mão até a varanda para termos privacidade.
— Está pronta para passar o resto do dia comigo? — Ela fica me olhando.
Isso não parece bom. — Letícia?
Ela sorri timidamente.
— Desculpe-me, estava distraída. Eu quero passar o dia com você, só não
sei se é uma boa ideia...
— Ei. Olha para mim... — emolduro aquele seu rosto perfeito com minhas mãos
e o levanto. — Estou ansioso por esse encontro, garanto a você que é o certo.
Confia em mim. — ela acena um sim.
——ooOoo——
Lennon nos conduz até um buggy
e leva-nos há um lugar incrível. Todo arborizado, uma tenda montada na areia
branca e uma mesa bem colocada a nossa disposição. Estava tudo impecável.
— Letícia, promete não fugir de mim? Porque eu realmente desejo estar
com você.
— Eu prometo.
Não resisto e dou um beijo no canto da sua boca.
— Venha, vamos almoçar. Espero que goste do que prepararam.
A tenda é coberta por um tecido leve esvoaçante, uma mesa enfeitada com
flores e com duas cadeiras ao centro. À esquerda colocaram tapetes com almofadas,
logo a frente um aparador com a refeição.
Puxo a cadeira para Letícia e me sento a sua frente, King aparece nos
servindo com água e vinho branco. Ela abre um lindo sorriso para ele.
— Obrigada, senhor Kingston.
— King, seu criado. — Faz tempo que não vejo King sorrir, posso ver
daqui todos os seus sessenta dentes. Exagero? Não, nunca vi tantos dentes em
uma boca só.
— Ótimo King. Deixe a garrafa e nos dê licença. — Antes que esse sorriso
desça ao coração dele, dispenso-o.
— Não precisa falar assim com ele. Aff! Você tem que tratar todos
grosseiramente o tempo todo?
— Eu nunca vi o King sorrir daquela maneira para ninguém. Se eu
permitisse, ele puxaria uma cadeira e eu serviria a mesa.
— Ok.
— Queria te pedir desculpas pelo nosso primeiro encontro. É que Ethan já
nos fez passar por momentos constrangedores com as acompanhantes. Pode-se esperar
qualquer coisa, vindo dele, mas a última coisa que quis, foi ofendê-la.
— Imagino.
— Desculpa-me?
— Sim.
— Essa salada de entrada é um mix de folhas verdes, queijo coalho.
Acredito que seja esse o nome. — King e Lennon aproximam-se com um prato cada
um, King explica. — Pepinos,
nozes, sementes de girassol e morangos.
Ela olha com admiração para o King e algo aperta em mim.
— Estou impressionada, King. Está muito bonito.
Comemos e conversamos. Descobri que Letícia tem um senso de humor
incrível. Contou-me sobre sua vida, mas deixou de fora o único relacionamento
que teve.
— Com licença. — Retiraram os pratos de entrada para a colocação do
principal. E lá vem mais uma explicação do chef
King. — O prato principal é uma adaptação de Pad Thai tailandês. Com macarrão de arroz cozido, camarões e substituímos
o tofu pela ricota, broto de feijão, alho, chilli e os ovos foram colocados
somente como decoração. — Ele se retira com um sorriso mais besta do que
chegou.
Ela continuou a falar sobre a sua entrada na Global e da sua amizade e
gratidão para com Lorena e sua mãe, que a acolheram mesmo sem a conhecer.
Fiquei impressionado com sua ascensão profissional e triste por saber que
esteve todo esse tempo sozinha. Seus olhos por vezes refletiam uma tristeza que
não deveria estar ali, não combina com ela. Não entendo que em algumas vezes
ela freava, é como se sentisse mal por estar ali, mas cada vez que toquei sua mão,
ela relaxava.
A sobremesa foi o ponto alto, a hora que ela viu o que era, bateu palmas
e sorria como uma menina.
Eu adorei vê-la assim, sem barreiras, sem mistérios, apenas uma menina
que ama doce. Eu a levo pela mão e a ajudo a sentar-se no chão, recostada nas
almofadas. Peguei um morango recheado com creme de avelã e coberto com
chantilly, levo até seus lábios que fecham em meus dedos e meu amigo lá embaixo
reage.
Deveria ser pecado comer daquela maneira. Quando uma gota de chocolate
cai entre seus seios, minha língua coçou para limpá-la, foi difícil controlar,
mas como sou um gentleman, pego um
guardanapo e a limpo.
— Posso fazer uma pergunta, Letícia?
— Quanta quiser...
— Por que você sempre foge de mim?
Ela se senta e olha para o mar por alguns minutos.
— Parece que o campo gravitacional ao seu redor me absorve e isso é
assustador. Não te conheço, nunca te vi antes, mas há algo em você que poderia
dizer que já conheço há muito tempo. Parece loucura...
. — Olha para mim, Letícia...
Puxo-a para deitar em meu braço. Mal sabe ela que, por algum motivo
também sinto necessidade de tê-la.
O cenário é perfeito. Nós deitados em uma praia deserta, onde mini
tochas foram acesas, tornando o ambiente digno de filmes. Minha mão acariciando
seu rosto e a outra alisando sua pele quente.
Sob aquele céu estrelado, tudo parecia certo.
Sentia sua respiração acelerada, em seus olhos pude ver que ela queria
isso tanto quanto eu. Estou tão focado nela, que todo o resto desaparece. Eu a
quero aqui e agora, que se foda a aposta. Em um impulso tomo sua boca em um beijo
desesperado. E ela responde gemendo em minha boca.
Há muito tempo uma mulher não despertava essa fome em mim. Quanto mais a
beijava, mais queria dela. Por um nano segundo, desejei tudo, seu corpo, seu
coração e sua alma. Mas sou um cara muito racional para esse tipo de sentimentalismo,
preferindo seu corpo e seus desejos.
— Temos um problema, senhor! —
Mag...
Eu queria matar, não, eu vou matar Mag. Caralho, ela é minha assistente,
ela sabe que esses momentos eu não estou para nada, todos são proibidos de me
atrapalhar. Tem que me ajudar nesse negócio, merda. Viro atirando punhais com
meu olhar. — Espero que o motivo que a trouxe aqui seja caso de vida ou morte,
porque não pretendo sair daqui por nada.
Letícia tenta sair dos meus braços, eu a seguro, mas seu olhar implora e
a solto. Ela levanta-se e vai até a mesa onde há água e se serve. Volto minha
atenção a minha assistente.
— Estou esperando, senhorita
Carlson.
Ela está visivelmente nervosa.
— Uma ligação da matriz, houve uma explosão na Script´s Holding...
Ah infernos! Levanto-me rápido, pego Letícia pela mão, Mag e King vem no
meu encalço e nos conduzem até o hotel.
— Desculpa, anjo. Eu não esperava um problema desse tamanho. — Assim que
descemos do automóvel, falo para a Letícia. — Provavelmente embarcarei a
qualquer momento para os Estados Unidos, para ver os estragos de perto. Se não
nos virmos mais, saiba que adorei o nosso encontro e tentarei entrar em contato
em breve. — Beijo sua boca e me vou. Por motivos desconhecidos, odiei o fato de
deixá-la para trás.
Entro rapidamente no quarto, não tinha ninguém.
— Mag localize Ted e Joe, rápido.
Ligo o notebook e faço um vídeo-chamada para a fábrica. Noah Austin,
diretor-chefe me atende.
— Boa noite, senhor Thorton...
— Noah, vamos resumir, qual foi a proporção da explosão? Quantos
feridos? Houve mortos?
Ele faz uma careta.
— Acredito que as informações não chegaram corretamente até o senhor.
Tivemos um problema com uma das máquinas, na hora que travou, saiu faíscas e
deu um estrondo muito forte. Esvaziamos a linha de produção por segurança, os
técnicos já estão resolvendo o problema. Mandei um memorando informando a
necessidade de chamarmos os técnicos da empresa que construíram a máquina,
porque eles saberão lidar com eventuais problemas ou troca de peças. Então, resolvi
ligar para a matriz para informar o ocorrido e pedir urgência na aprovação do
serviço, já que os técnicos são do Tennessee e levarão certo tempo para
chegarem aqui.
Respiro fundo porque a raiva está crescendo.
— Alguém se machucou, Noah?
— Não, senhor. Não tinha pessoas próximas, são máquinas operadas
remotamente.
— Já aprovaram a contratação?
— Sim, senhor. Não se preocupe, está tudo em ordem.
Estou tentando manter meu controle.
— Obrigado, Noah. Tenha uma boa noite.
Todos os meus assistentes estão em pé a minha frente. Dirijo-me primeiro
o Ted.
— Você sabia desse problema na Script´s?
— Sim, senhor. Ligaram-me informando sobre o ocorrido e queriam
falar-lhe, expliquei que era impossível. Desculpe senhor Thorton, mas não
julguei necessário tirá-lo de seu compromisso, por algo banal. Eu mesmo aprovei
a contratação.
— Como foi a linha de produção daquele medicamento novo, tomei a
liberdade de providenciar o voo para os técnicos chegarem lá o mais rápido
possível. — Joe toma a palavra.
Ando pela sala, vou até a vidraça e contemplo o mar. O perfume da
Letícia ainda está em mim, o calor do seu corpo ao meu é inigualável. Eu
poderia estar com ela nos meus braços, ou dentro dela. Com esse pensamento, meu
corpo acorda e pede por ela.
Minha irritação cresce ao mesmo tempo em que a vontade de vê-la também
aumenta.
— Vocês podem me dar licença? Mag e King ficam. Ted?
— Sim, boss!
Pego um papel timbrado que estava em cima da mesa, rabisco qualquer
coisa e entrego para ele dobrado.
— Quero que envie muitas dúzias das mais belas flores que encontrar para
a Letícia. Coloque esse papel em um envelope e envie junto com as flores. Não
economize, eu quero tudo perfeito!
— Que flores eu compro?
— Você é um dos melhores hackers que conheço, é impossível que com todas
as suas habilidades, não consiga comprar flores!
Ficamos somente King, Mag e eu, sento-me na poltrona de frente para os
dois que estão em pé.
— Senhorita Carlson, como você tomou conhecimento sobre o que houve na Script´s?
— É... Hum... Então... Hã... Vi a agitação deles, achei melhor chamá-lo
para resolver pessoalmente...
Com os anos, King e eu aperfeiçoamos a tática de conversar apenas com
olhar. Ficamos ali chegando à conclusão que, ela fez o que fez, para atrapalhar
intencionalmente.
— Mag, de uns tempos para cá, você vem dando um fora atrás do outro. Mas
a de agora pouco, você ultrapassou todos os limites. Minha confiança em você
está abalada, sendo assim, te darei a segunda e última advertência, depois
disso, será a demissão.
— Mas se...
— Apenas vá, Mag, e pense no que falei. Se achar que as coisas estão
demais para você, basta me avisar e colocarei outra no seu lugar. Eu vou sentir
muito por isso, você sempre foi uma grande aliada, mas lembre-se de que ninguém
é insubstituível.
— Com licença. — Ela vira as costas e sai.
King me serve com um whisky enche um para ele e senta.
— As mulheres apaixonadas são loucas e as rejeitadas são perigosas. As apaixonadas-rejeitadas são loucas-perigosas...
— Bela teoria.
— Mag se encaixa na última, ela trabalha com você todo o tempo, tem
acessos que outras não têm. Quando os seus casos de uma noite vão embora, ela
fica. Está entendo o quero dizer?
Tomo um gole da bebida.
— Que eu deveria demiti-la?
— Que deve ter cuidado para não acordar castrado! Elas nos acham no inferno,
se quiserem. Mudando de assunto, gostou dela, não foi? Só que se os outros
tomarem conhecimento do que rolou, vão querer sua cabeça.
Letícia...
— Eu a quero para mim!
Ele levanta o copo.
— Parabéns, você a tem!
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