domingo, 21 de fevereiro de 2016

A Vitrine - Capítulo 16

Capítulo Dezesseis

Letícia

Desembarcamos em Abu Dhabi, em um clima muito quente e seco, havia um Rolls Royce nos aguardando. Fomos para o hotel e a paisagem com que fomos presenteadas não tem preço. Uma alegria imensa invadiu meu peito, jamais pensei em chegar aqui. Já era final de tarde quando nos aproximamos do hotel Emirates Palace e fiquei impressionada com a grandiosidade do lugar.
A entrada era ladeada por palmeiras com o majestoso hotel ao fundo, mais iluminado do que uma cidade inteira.
— É muita luz para minha ressaca. — Lorena tirou seus óculos escuros da bolsa.
— Sejam bem-vindas a Abu Dabhi, senhoritas. — Fomos recepcionadas pelo secretário do sheik, Hamdan. — É um prazer tê-las em nossa terra, faremos tudo para que vossa estadia seja confortável.
— Obrigada, Hamdan — Lorena somente acena e dá um sorriso torto. — Desculpe-a. ela não está passando muito bem. — Ele acena em entendimento.
— Os carregadores levarão suas coisas ao apartamento em que ficarão instaladas. Acompanhem-me, por favor.

Fomos escoltadas até o apartamento em que vamos ficar. Quando Hamdan abriu as portas duplas, fiquei maravilhada, o apartamento era um apartamento mesmo! Na sala de estar há dois sofás marfim com detalhes dourados, uma mesa centro, as cortinas eram cinza pálido deixando todo o lugar delicado. O próximo cômodo é a sala de jantar com uma mesa de mármore marfim e quatro cadeiras que mais pareciam poltronas, de tão fofas, o tecido do estofado era o mesmo dos sofás. Tudo impecável.
Minha suíte é linda!
Uma cama enorme, sua cabeceira ocupa meia parede toda em detalhes dourados. Há pilares revestidos de mármore rosado dos dois lados da cama. Um grande sofá, marfim com dourado, uma escrivaninha e uma mesa compõem os móveis do quarto. O teto é alto, tipo uma abóboda, pintado de cinza pálido com detalhes em marfim, as cortinas seguem o mesmo padrão. Há um closet com sofá e cadeiras. Ainda no quarto, abre-se uma porta de vidro para a varanda que dá para um dos jardins e ao fundo o golfo, um lindo lugar para se tomar café. O banheiro é digno de um sheik, a banheira fica de canto, de onde caem águas como uma cascata, todo em marfim. Estou maravilhada com a imponência do lugar.
A suíte da Lorena é uma cópia da minha. Não tínhamos percebido que do outro lado da sala, há um barzinho com mesa de bilhar, tudo com muita elegância.



— Lê, tem certeza que esse luxo todo é de graça? Estou perguntando por que nada na vida é de graça, vai que o sheik nos tranca como escravas para pagar?
Cada ideia que essa garota tem...
— Dá um tempo, Lorena...
— Nossa alternativa é dar um rim. O seu é mais forte, poderemos pedir um bom dinheiro nele.
— Senhoritas, vocês serão assistidas por Zharan. — Fomos interrompidas por Hamdan. Um rapaz em torno de vinte e poucos anos dá um passo à frente. — Qualquer coisa que queiram, ele as atenderá. O sheik almoçará com a senhorita Letícia amanhã, acredito que hoje esteja muito cansada para enfrentar mais um compromisso. Lembrando-as que, amanhã à noite terá uma grande festa para a concretização do contrato. Será no salão principal do hotel. Qualquer serviço estético que queiram no térreo ou aqui, basta falar para Zharan que ele providenciará. O mesmo vale para os trajes que devem ser de gala, caso vocês não tenham um vestido para a noite, o hotel conta com as lojas das principais grifes mundiais.
Após várias tentativas mal sucedidas em assimilar tudo que Hamdan falou, tomei um relaxante muscular, tomei um delicioso banho naquela banheira, dei um beijo em Lolo e fui deitar. Eu estava cansada e para piorar, a noite foi permeada com imagens do Zachary em meus sonhos. Realmente não sei se estou me apaixonando ou ficando louca, apesar de que tudo dará no mesmo, se apaixonar por ele é loucura!
— Alô. — Acordo com o telefone do quarto tocando. Procuro o bendito telefone e acabo derrubando tudo.
— Letícia, cadê a Lorena? — A única coisa que passa na minha cabeça é... Aff!
— A Letícia não está, deixe seu recado após o bip. — Estou tão grogue que não reconheço a voz. Desligo o telefone porque o meu sono é mais importante do que tudo nesse momento.
Quem quer que fosse, estava disposto a me acordar.
— Letícia, cadê a Lolo?
— Quanta delicadeza, nem sequer me dá bom dia. — A pessoa ri.
— É o Ethan. Cadê a Lorena?
— Eu não sei, estava dormindo. — Tento me sentar, mas o colchão é fofo demais me atrapalhando e acabo de sentir um corpo. Tiro a coberta de cima e vejo Lolo. — Acabei de achar...
— Estou subindo e já pedi um café para a gente. Sebastian está subindo comigo. Vocês têm cinco minutos para se arrumarem. — E desliga o telefone. Povo sem educação!
— Seu namorido está subindo e disse que você tem cinco minutos para se arrumar. — Chacoalho Lorena.



Ela dá um pulo se enrola nas cobertas e acaba caindo fazendo minha alegria. Ela corre para sua suíte e eu viro para dormir novamente. Mal fecho os olhos, ouço o barulho da campainha, que não para e está me irritando. Levanto mal-humorada e vou atender da maneira que estou, assim que coloco o pé na sala, Zharan está abrindo a porta. Ethan e Sebastian entram e param ao olhar para mim.
— Você dorme vestida de Bob Esponja?
Mostro a língua e vou para o quarto pelo menos para escovar os dentes e os cabelos. Vou ficar assim mesmo, estou cansada, se eles estiverem incomodados, a porta da rua é serventia da casa. Volto para a sala, e não encontro ninguém.
— Senhorita, eles estão aqui. — Zharan vai até uma das cortinas e a puxa se abrindo a visão para uma varanda enorme com piscina e uma linda mesa posta para tomar comer.
Coloquei meus óculos escuros e fui para a varanda vestida de Bob Esponja mesmo. Lorena está impecável como uma princesa ao lado do seu príncipe. Sebastian se adianta me cumprimenta com dois beijos no rosto, Ethan me dá um beijo na testa e sentamos para comer. Zharan me serve com um café muito forte, tem tanta coisa gostosa nessa mesa que não sei o que comer, sendo assim, eu experimento um pouquinho de cada.
— Letícia está tudo bem? — Sebastian pergunta.
— Tudo ótimo!
Durante todo o café fico quieta, um mau humor baixou em mim e quando estou assim, qualquer coisa que sair da minha boca pode ser considerado como um coice. Fico ouvindo os planos da Lorena e Ethan que vai de andar de camelo no deserto, conhecer um mercado de pulgas a passear por Dubai e comprar lembrancinhas para a mãe dela e tudo isso me inclui. Eu só concordo com a cabeça e pronto, discutir com gente doida é só para passar raiva. Imagina aquela pele branquinha no deserto árabe, só a Lorena mesmo.
— Senhorita Letícia, Hamdan quer falar-lhe. — Zharan vem até mim com um telefone dourado.
— Oi Hamdan.
— Bom dia senhorita. Estou ligando para lembrá-la do almoço com o sheik daqui a meia hora.
Meia hora?
Engasgo-me com o que estou comendo, Sebastian gentilmente dá batidinhas nas minhas costas e consigo responder.
— Sim...
— Alguém irá buscá-la. Até mais.
— Obrigada. O almoço com o sheik é dentro de meia hora e eu com essa cara de panda. — Entrego o telefone para o Zharan.
— Vai de Bob Esponja, ele vai adorar. — Sebastian fala. — Eu gostei.


— Claro que vai gostar, com essas coxas descobertas. — Ethan balança a cabeça. Ele olha para mim. — Há pessoas que matariam se soubessem que você está na nossa frente com esse pijama.
Todo mundo se olha, eu imagino quem, mas não toco no assunto.
— Nos vemos mais tarde? — Eles acenam que sim. — Vou me arrumar e preciso de você, Lorena.
— Volta logo, boneca Lolo. — Ethan a beija na boca. Procuro minhas malas e Lolo já vai direto ao closet.
 Assim que saímos do quarto, veio uma equipe de limpeza que arrumou as coisas. Vida difícil essa que a gente tem aqui em Abu Dhabi... Escolhi um vestido longo azul e sandálias altas da mesma cor. Fui para o banheiro, escovei meu cabelo e dei um jeito na olheira.
Mermã, tu tá de sacanagi! — Lolo fala. Assusto-me e olho para ela que está com as mãos na cintura. — Filha, você está em Abu Dhabi, podendo se vestir como a Carrie Bradshaw de Sexy in the City e escolhe esse vestidinho de praia. Ow baixa-renda, minha avó já dizia, Podemos sair da breguice, mas a breguice nunca sai da gente!
— Pobreza... — Corrijo.
— Que seja. Volta lá e escolha outra roupa!
Volto para o closet e olho... Olho... Por fim decido por um macacão de seda estampada em tons de rosa e azul bebê. De gola alta, mas sem mangas, cintura bem marcada e a calça da peça é em estilo palazzo pants, são aquelas pantalonas que parecem saias. Uma sandália alta dourada para entrar no clima do deserto com uma bolsa de mão da mesma cor. Prendo meu cabelo em um alto rabo de cavalo, brincos discretos, maquiagem somente para cobrir as olheiras.
— Arrasou! Lê preciso ir com você? Sei que estou aqui a trabalho, mas você até agora não me disse nada. — Vou até ela, passo meu braço pelos seus ombros e vamos caminhando de volta a varanda.
— Esse almoço é somente de boas-vindas, eu me viro e você, vá se divertir com Ethan. Só preciso de você mais tarde, para nos arrumarmos para a tal festa. — Assim que Sebastian me vê, se coloca de pé.
— Quando você sorri, o mundo se ilumina. Eu estou com inveja do Bashir.
— Obrigada, Sebastian. — Faço uma mesura como se estivesse de vestido.
Ethan puxa-me de canto e chama Kaleb também, que se aproxima e entrega um celular para ele.
— Letícia, eu quero que leve esse telefone com você...
— Já tenho um, Ethan.




— Letícia, por favor, não discuta comigo. — Ele fala em um tom sério. — Você não está no seu país e eu me preocupo com a sua segurança. Na discagem rápida há o meu número e o do Kaleb, se acontecer qualquer coisa, ligue para um de nós, entendeu? —Levanto uma sobrancelha, na intenção de pedir explicações e ele continua. — Mulher difícil! Sabe aquele sentimento que você tem em proteger a boneca Lolo? Eu tenho por proteger você.
— Eu não entendi nada, senhor Scott. Mas se assim você ficar mais tranquilo, eu farei.
— Obrigado. — Ele suspira em alívio.
Logo outro rapaz veio me buscar em nome do secretário do sheik. Ele me levou até o restaurante e na porta já encontramos Hamdan. Atravessamos o salão e acabamos em um salão menor e privativo, lá estava o Sheik Bashir e mais dois homens que por dedução devem ser seguranças.
— Menina Letícia. — O sheik se levanta e me cumprimenta com um beijo na mão — É um prazer recebê-la em meu país. Providenciei para que tudo seja perfeito em sua estadia.
— O prazer é meu, Sheik Bashir. — Hamdan puxa a cadeira para mim. — E até aqui, tudo está em perfeita ordem, obrigada pelas acomodações, são lindas.
— Mulheres como você, merecem o mundo de luxo que o dinheiro pode dar. Quais são os seus desejos para que eu possa realizá-lo, menina Letícia?
Que olhar é esse? Uma mistura de “olhar 43” do Paulo Ricardo com o estrabismo daquele cantor sertanejo. Desejos?  Dou meu melhor sorriso.
— Não se preocupe com os meus desejos, senhor. Zharan foi designado para que eles se realizem.
O banquete que colocaram a nossa frente cheirava muito bem. A mesa era enorme e forraram de pratos típicos, a maioria deles com carne de cordeiro como base. Esses eu dispensei, mas houve um em especial que achei muito bom, o shawarma, feito com pão sírio recheado com legumes, molhos e carne grelhada, que me garantiram ser carne bovina.
Durante o almoço não falamos de negócios, mas estou tendo a ligeira impressão de que ele está dando em cima de mim. Começaram um desfile de sobremesas, escolho o umm ali, muito parecido com o pudim de pão, com nozes, pistaches e amêndoas. Bashir é um homem austero, seus traços o tornam ainda mais sério, seus olhos pretos demonstram sagacidade e sua boca ligeiramente torta, o deixa meio sexy. Ele até pode ficar bonito em algum momento do dia...
Em pouco tempo a ligeira impressão se tornou fato, ele realmente estava dando em cima de mim. Eu não sei lidar com esse tipo de situação, fico constrangida, sei que no fundo todos querem sexo e eu não sou a mulher que gosta de apenas sexo, eu quero mais. Fora que o cara já tem oito esposas, como elas conseguem? No Brasil, um homem mal da conta de uma.



— Espero que tenha apreciado nossa culinária. — Entre a sobremesa e o café, o sheik pega minha mão.
— Gostei muito e estou satisfeita. Fiquei honrada com o convite para almoço, senhor. — Solto-a com delicadeza.
— A honra toda minha, menina.
Fiquei impressionada com a visão de negócios que ele tem isso fez com que o sheik subisse no meu conceito. Contou-me que é tradição a família ter chefes, os tornando clãs e que ele era chefe da sua. Todos devem obediência a ele, desde os irmãos, que são mais novos, até os primos mais distantes. Ele sabe exatamente o que cada filho ou filha faz. Outra coisa que me impressionou, Bashir conhece os filhos e convive com eles em harmonia. O encanto durou até ele dizer que a mulher foi feita para servir seu marido e não para trabalhar fora. Sendo assim, suas filhas são educadas para serem excelentes esposas.
— Está na minha hora. Obrigada pelo almoço, estava delicioso. — Depois de uma tarde de conversa e comida, levanto-me da mesa.
— Está cedo, eu quero mais tempo com você... — Ele levanta e se coloca ao meu lado.
— Tenho que rever algum trabalho e não quero me atrasar para o jantar de logo mais. — Dou um passo para a esquerda.
— Tudo bem. Contento-me em vê-la no jantar.
Despeço-me e vou ao encontro de Zharan, que estava me esperando na entrada do salão privado, ele me acompanhou até o apartamento. Não tinha me dado conta de que estava tarde assim, Lolo estava me esperando para começarmos nos arrumar. Fui para o banheiro, enchi a banheira e me afundei.

——ooOoo——

Os questionamentos começaram. Acredito que outras mulheres ficariam encantadas por ter um príncipe das Arábias interessados por elas, eu não! A maneira como o sheik me olhava, teve momentos que fiquei constrangida com suas investidas. E mais, não é bom misturar negócios com prazer e tem as viagens. Sei lá, isso pode não dar certo. Se um deles sentir rancor pelo fato de eu não querê-los, levará todas as negociações, por água a baixo.
— Onde a cabeça da minha flor está passeando? No corpo do homem dos olhos azuis? Porque nele até eu já me peguei passeando, Ethan que não me ouça. — Lorena senta na beirada da banheira e passa a mão no meu cabelo.
— Não, só um pouco desanimada, talvez cansaço. Não sei se foi boa ideia ter vindo para Abu Dhabi, estou começando a me questionar, se fazer parte desse projeto também seja uma boa ideia...
— Por que isso Lê?


— Não sei... Insegurança... Mudando de assunto, estou gostando de ver esse relacionamento, o senhor Scott está apaixonado pela boneca Lolo. Fico muito, muito feliz com isso, minha amiga.
— Estou tão feliz, Lê. Agora sai daí e vamos nos arrumar. Ameixas secas não são bonitas. — Ela abre um grande sorriso.
Sou uma pessoa muito discreta, roupas extravagantes não são para mim. Às vezes Lorena fala que sou invisível, pois sempre opto por roupas claras, tons pastéis, preto ou branco. Para essa noite em especial, escolhi um vestido tomara que caia longo, todo em renda branca com fundo de seda rosa, uma faixa marcando a cintura e terminando em um laço. A parte de cima é todo bordado em pedras, uma verdadeira obra de arte. O vestido se ajustou tão bem ao meu corpo, que dava a impressão de que foi feito especialmente para mim, um scarpin rosa bebê completa o traje.
Como estamos no Oriente e aqui é a terra das extravagâncias, escolhi um par de maxi-brincos dourados com pedras marrons, como os brincos já são exagerados, optei por ir sem colar, compondo apenas com um anel em cada mão e um bracelete dourado, todo trabalhado com as mesmas pedras do brinco.
Fiz grandes cachos nas pontas dos cabelos e os prendi somente de um lado. Do outro, os grandes cachos caiam sobre o ombro. Uma maquiagem mais forte do que de costume, os olhos com sombras roseadas e douradas, um delineador para marcar o olhar e um batom nude.
— LETÍCIA!
Saio correndo em direção a seu quarto. Chego lá e vejo a cena, Lorena de roupão, com os dedos, indicador e polegar grudados no olho que estava fechado.
— O que houve com seu olho? — Fui em sua direção para ajudar.
— Essa bosta de cílios postiços, grudaram!
— Desde quando você precisa disso, Maria? — Lolo e eu éramos viciadas em novelas mexicanas, as famosas Maria do Bairro, Maria Mercedes, Marimar, nos fascinavam e os protagonistas como o Luís Fernando, também! Quando uma de nós faz drama, nos chamamos de Maria.
— Desde quando eu não tenho cílios longos, corpo longo, pernas longas como certa pessoa. Para de rir, preciso de ajuda, estou muito atrasada. Nossa mas você está boa, hein? Até eu te comeria. — Ela disse assim que conseguiu abrir o olho.
Ajudei-a tirar aquelas coisas dos olhos, voltei para terminar de me arrumar. De frente para o espelho que ocupava quase uma parede do closet, fiquei olhando-me, estou bem na foto. Será que Zachary vem? Estou ansiosa para vê-lo. Muito, muito ansiosa. Formaríamos um belo par nessa festa.
Zharan bate na minha porta dizendo que Ethan já está nos esperando. No caminho passo pela suíte de Lorena e ela está linda. Um vestido longo vermelho, estilo tomara que caia com decote coração e do meio desse decote, sai uma faixa bordada com pérolas e pedras prateadas. Uma sandália preta com solado vermelho, que mesmo aparecendo pouco, faz toda diferença.


O conjunto de brincos e pulseira era de strass, mas a tiara que passava por seus cabelos não tinha cara de strass e sim de diamantes. A maquiagem de olhos esfumaçados e bem marcados. Sua boca estava com um batom tão vermelho quanto seu vestido, contrastando com a pele branca e a fez ficar deslumbrante.
— Você está linda, boneca Lolo. Vamos? Ethan já está aí.
Vamos para a sala e mal se olham e já estão nos braços um do outro. Dá gosto de vê-los juntos. Meu coração apertadinho fazendo par com a minha cabeça nos questionamentos. Será que é pecado desejar alguém que sinta por mim, o mesmo que Ethan sente por Lorena?
— Kaleb sou um homem de sorte ou não? — Ethan oferece um braço para mim e outro para a boneca.
— Muito! — O segurança sorri com gentileza.
O salão principal estava lindo. Mesas longas bem-postas em formato de “U”. A louça era divina, branca com beiradas douradas, talheres dourados. A decoração era basicamente vermelha, tecidos que caiam do teto também eram vermelhos, alguns trabalhados em outras cores.
— Meu Deus! Estou me sentindo parte da decoração. Me pendura ali que posso ser um lustre, branca desse jeito ilumino maravilhosamente bem. — Lolo brinca e nós rimos.
Uma banda tocando músicas belíssimas de fundo parecia que estávamos em um filme.
— Ela até pode sentar ao lado do sheik, mas na outra cadeira estarei eu ou Liam. —Ethan diz a Hamdan quando fomos levados até uma ponta, e eu estava prestes a me sentar. Entendi que o sheik queria que eu sentasse ao seu lado durante o jantar. Hamdan acena e sai para nos assentar perto do sheik, que me recebeu alegrinho demais.
— Conseguiu ficar ainda mais bonita, menina. — E beija minha mão. Essa cortesia toda tem me incomodado, dou um meio sorriso e me sento. Lorena troca de lugar com Ethan para ficar ao meu lado. Assim que senta, ela pega minha mão.
— O que foi, Lê? Você já voltou estranha do almoço, agora essa mão gelada. Estou preocupada. — Tento disfarçar com um sorriso.
— Não é nada, vamos aproveitar a festa. — Como poderia explicar sem nem eu mesma sei o que está acontecendo comigo? Talvez seja o jeito do sheik me olhar, talvez seja o fato de que Zachary não sai da minha cabeça, talvez porque tenho me sentido cada vez mais solitária. Não sei...
Procuro-o entre todos os convidados e não o vejo. Martino e Sebastian vem até mim para cumprimentar. Eles são muito queridos, Martino me faz rir com suas caretas e Sebastian com suas histórias. Quando avistei Liam, não pude me conter e fui de encontro a ele, que me recebeu de braços abertos.
— Liam... — Ele me solta e coloca a mão no coração.
— Você está ainda mais linda. Como está mon petit? — Ele está com barba por fazer e isso o deixou mais apetitoso.


— Você também, impecável nesse smocking. Estou bem, com saudades suas.
— Se me ligasse mais vezes...
O silêncio no salão se tornou evidente, as pessoas se viravam para ver algo, um ar frio passa por mim, fazendo meu corpo arrepiar. Liam olha para alguma coisa também, então me viro e vejo Zachary. Lindo ou maravilhoso, são adjetivos que não fazem jus a sua beleza, não é à toa que o lugar parou quando ele com sua bela acompanhante entraram e meu coração parou.
Pela altura e beleza, posso dizer sem dúvida de que é uma modelo e os dois juntos, formam um casal acima da média. Fico mais tensa do que já estava, com o coração mais apertado do que já estava. Liam pergunta no meu ouvido se eu estava bem, aceno que sim e volto para o meu lugar na mesa.
Não, eu não estava bem.
Sentei e as luzes se apagaram, apenas uma ficou acesa no centro do salão. A banda começou a executar uma música típica e uma dançarina entrou. Fui reportada para outro lugar, era surreal...
A dançarina estava completamente coberta por véus e se movimentava conforme a batida da música. O salão ficou todo em meia luz e eu encantada com tudo que se passava na minha frente. O sheik se aproximou e me contou o significado da dança.
— Diz a lenda que a origem da Dança dos Sete Véus, surgiu no antigo Egito e era executada pelas sacerdotisas em homenagem à Deusa Ísis, conhecida como a deusa do amor e da magia. A dança representava um ritual de autoconhecimento. A dançarina envolve-se com os sete véus, seguindo a ordem de cores, vermelho, laranja, verde, azul, lilás, branco. A beleza dessa dança é o mistério e graça que a dançarina passa para o público.
E assim foi. Quando a mulher tirou o último véu, a batida da música mudou, ela pegou um dos lenços que estava no chão e voltou a dançar algo mais sensual, a Dança do Ventre. É incrível a maneira com que ela envolve todo o lugar, as expressões faciais, seu olhar marcante. Divino.
As luzes acenderam, fazendo-me piscar. No meio dos aplausos, encontro com o olhar intenso de Zachary na minha direção, sua acompanhante beija seu rosto, ele vira-se para ela e a beija. Nesse momento o sheik se levanta e começa seu discurso.
— É uma noite de muita alegria, Bashir está feliz por ter família e amigos dividindo esse momento especial comigo e meus convidados, Martino Rossi, Sebastian Khristophoros, Liam Larkin, Ethan Scott e Zachary O´Brian, que além de amigos, agora são meus sócios. O projeto que estamos iniciando, é algo grande, mas queremos o fazer inesquecível para nós e, para quem desfrutar do paraíso no Sul das Américas. Essa é uma festa de agradecimento a Alá e de boas-vindas a prosperidade. E para encerrar meu discurso, quero agradecer a pessoa responsável pela formação dessa nova organização. — Ele vira para mim. — Menina Letícia, que gentilmente nos proporcionou tal privilégio. Obrigado.



Fui pega de surpresa e sorrio sem graça, chutando-me em pensamento. Voltando a festa, a alegria que permeia o lugar é contagiante, muita música, dança, todos rindo e conversando. O povo árabe sabe como receber seus convidados, a hospitalidade com que nos recebem é emocionante. A fartura foi algo que chamou minha atenção, eles não se importam com desperdício, uma pena.
Fugi para a varanda, a música alta estava me incomodando, os sapatos me matando. Não consegui prestar atenção nas conversas, minha cabeça estava em outro lugar, em outra pessoa, que provavelmente estava com outra pessoa em seus pensamentos. Respirei fundo algumas vezes...
— A vista daqui é tão bonita quanto você.
Aquele tom me faz vibrar, é como se a voz de Zachary fosse palpável, percorrendo meu corpo e o despertando. A imagem da loira que chegou com ele, vem e caio na realidade, meu coração aperta. Queria correr e abraçá-lo, mas fiquei parada, olhando a paisagem.
— A palavra certa para descrever esse lugar é extraordinário. — Mesmo sem olhar, eu sei que ele está se aproximando. Meu corpo detecta o calor do seu, de longe.
— Como você está, Letícia?
— Estou bem e você?
— Com saudades de você. — Solto uma risada sarcástica.
— Ok. Vou fingir que acredito.
Zachary me puxa fazendo-me virar para ele, que está com uma cara não muito amigável. Mas o canalha quanto mais bravo, mais bonito.
— Eu não minto...
— Mas também não fala a verdade, senhor O´Brian. Se me der licença... — Ele me segura mais forte.
— Você não vai a lugar nenhum, Letícia. — Tento sair do seu aperto.
— Vamos fazer o seguinte, finjo que acreditei e fica tudo certo. Agora me solta, por favor. — Digo isso da boca para fora, suas mãos em mim, lembra-me do calor do seu toque.
— Não!
— Que merda, Zachary! Como você quer que eu acredite que sentiu minha falta? Você é um dos homens mais poderosos do mundo, conseguir um número de telefone não é nada para você. Temos amigos em comum, negócios em comum e mesmo assim nenhum contato. Eu não sou idiota...
— Olha para mim, Letícia. — Fiz a besteira de olhar e fui hipnotizada. — Eu realmente senti falta de conversar com você. — Nenhuma palavra saiu de nossas bocas, apenas respirávamos e nos aproximávamos até que...



— Zach, o que está acontecendo aqui?
Zachary, ainda olhando para mim, responde rápido demais para o meu desgosto.
 — Nada.
Senti como se tivessem socado meu estômago. Ela é sua namorada ou até mesmo noiva, Zachary não colocaria tudo a perder por causa de um flerte.
— O senhor O´Brian estava me cumprimentando pelo projeto que deu início a tudo isso. — Estendo minha mão para ela. — Letícia Barros. Sou executiva da Building Paradise Company.
— A Letícia é uma das sócias diretoras da companhia. — Zachary me interrompe.
— Valery Fowler. — A mulher sorri e responde. — Que bom ter outra mulher nessa viagem, estava chateada que iria ficar no meio dos homens ouvindo sobre negócios. — Ela o abraça. — Apesar de que as viagens com Zachary são sempre cheias de promessas...
— Imagino. — Eu queria gritar de raiva, bater naquele rosto lindo e deixar um daqueles olhos azuis, roxo. Sem coragem de fazer qualquer uma dessas coisas, digo que eles aproveitem a festa.
Saio dali rapidamente, enquanto vou indo para o apartamento, teclo a mesma mensagem para Ethan e Kaleb.
“Estou indo deitar. Avise a Lorena”.

Chego na suíte, tiro o vestido, jogo-o em um canto, tiro meus sapatos e jogo-os na parede, vou ao banheiro e tiro a maquiagem grosseiramente e deito, cubro minha cabeça para tentar não ouvir nada da festa. Queria ter o poder de tirá-lo da minha cabeça, chega de expectativas, chega de Zachary!

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