domingo, 28 de fevereiro de 2016

A Vitrine - Capítulo 17

Capítulo Dezessete

Letícia


Fiquei trancada no quarto o dia inteiro, só mandei mensagens para todos. Graças à Deus a Lorena entendeu que eu não queria ver ninguém. Eu sei que tinha uma reunião da nova companhia, mandei uma mensagem a Ethan dizendo que não estava passando bem. Quando criei coragem para levantar, já era noite. Pedi comida a Zharan e tomei um banho, quando saí do banheiro, Lorena estava sentada na minha cama.
— Seu jantar está ali. Letícia, eu não vou sair daqui até me dizer o que está acontecendo com você. Ontem você sumiu da festa, hoje nem foi à reunião, isso não combina com você.
— Andei incomodada com algumas atitudes do sheik e ontem quando vi Zachary com a namorada, fiquei mal. — Sento na escrivaninha onde foi colocado o meu jantar.
— Está gostando dele.
— Estava atraída, mas tive uma conversa com o meu coração e decidimos em comum acordo que, estamos fechados para balanço. — Como um pedaço de pão.
— E por que não tentar? Já pensou que ele pode gostar de você também? Lê, você é minha irmã e me sinto na obrigação de falar, para de arranjar motivos para ser solitária. Abra o seu coração e permita-se amar e ser amada.

— Amar é tão fácil quanto fazer café, o complicado é ser amada.
— Não é fácil, dói, machuca, tem dias que a gente quer se matar, mas tudo é compensado quando vemos o brilho no olhar da pessoa quando está com a gente. Muitas vezes, não dá certo, nós duas passamos por isso e demos a volta por cima, continuamos vivas. Isso prova que amor não mata, ensina a viver.
— Viu a acompanhante dele?
— Vi e para sua informação, ela não é nada dele, apenas acompanhante.
— Você não entende Lorena. Zachary é aquele tipo de homem que não ama ninguém a não ser a si mesmo. Não tem bom coração, se é que tem um. Ele passa por cima de qualquer um para ter o que quer.
— Ele pode ser melhor do que você imagina flor. Mesmo assim, Letícia. Há outras pessoas que podem surpreendê-la.
— Chega de falar de coisas ruins, cadê o príncipe, boneca Lolo?
— Foi jantar com os meninos. Por falar neles, também estão preocupados com você. Zachary deu uma surtada legal quando o Martino fez um comentário sobre você, Ethan e Liam tiveram que intervir.
— Senhorita Letícia, preciso falar-lhe. — Zharan bate na porta.
— Entre Zharan.
— O senhor Sheik Bashir mandou avisar-lhe que amanhã pela manhã vocês sairão em excursão. Servirei seu café por volta das sete da manhã. — Ele acena, pega a bandeja do meu jantar e sai.
— Desde quando chegamos, algumas coisas no sheik têm me incomodado, seus olhares, suas insinuações... — Falo para a Lolo.
— Normal. Você é bonita, te desejar faz parte do processo. Você sempre se sai bem dessas situações. Estou com sono, vou dormir aqui.
— Lolo... — Falo depois de fazer minha higiene e deitar na cama.
— Diga princesa.
— Ele disse que sentiu saudades de mim...
— Isso é bom, não é?
— Se sentiu, por que não me procurou?
— Não sei, Lê e vou te dar um conselho de irmã, não fica questionando os porquês da vida, não nos leva a nada. Só saberá o porquê, quando perguntar.
Acordei com uma cara horrorosa depois de uma péssima noite de sono. Dormia e acordava, dormia e acordava. Tive oportunidade de colocar maus pensamentos em dia e chegar a uma conclusão, vou viver! Estou em um lugar lindo, tenho que aproveitar, o resto deixo para quando tiver que me preocupar, até lá, viverei cada dia como se fosse único.
Tomo um banho para ver se melhoro a aparência e para amenizar as olheiras, mas pouco adiantou. Vou para o closet em silêncio para não acordar Lorena, olho todas as peças de roupa que trouxe muitas por insistência da dorminhoca ali. Pego uma calça tipo pantalona estampada com cores vibrantes, um top de alças na cor branca para usar por baixo da camisa da mesma cor, um cinto largo vermelho e uma sandália rasteira também vermelha. Amarro meus cabelos em um rabo de cavalo, pego um chapéu, coloco protetor solar na bolsa e vou para sala.
— Bom dia, senhorita Letícia. — Levo um susto quando ouço Zachary.
— O que você está fazendo no meu apartamento uma hora dessas, senhor o´Brian? — Vejo King ao lado da porta e vou até ele para cumprimentá-lo. Desde o dia que secou minhas lágrimas, ele virou meu BFF (Best Friend Forever). Vamos e convenhamos, para suportar Zachary e ainda adorá-lo como King o adora só um santo com um nobre coração. — Bom dia. Como está, príncipe negro?
— Estou bem... — Ele abre um sorriso tão grande como ele
— Então a nossa executiva está boa para abraçar todo mundo e para sair a passeio com o sheik, mas para ir a uma reunião da nova companhia está mal? — Ele se levanta e vai até a janela que dá para a varanda e continua a falar. — Eu esperava mais de você, Letícia.
— Ontem eu realmente não estava bem, só que hoje acordei disposta.


— Falta de profissionalismo da sua parte, senhorita.
— Olha caro senhor, até onde sei, não lhe devo satisfações, pois não fui contratada pela Paradise ainda, até assinarem os documentos, sou livre. Então, Zachary, dá um tempo! Você não tem outra pessoa para atormentar? Quem sabe a loira oxigenada que veio com você, por exemplo.
— Verdade. Tenho uma linda modelo nua à minha espera na cama. Onde a deixei depois de uma noite de intensa atividade.
— Senhor O´Brian, vai querer me convencer que com sua idade, ainda suporta uma noite de intensas atividades? Faça-me rir.
— Eu poderia te surpreender...
— Já surpreendeu e não foi nada bom. — Estúpido! A campainha toca e Zharan prontamente atende a porta, estou ficando mal-acostumada com isso. Liam e um de seus seguranças entram, ele vem em minha direção e beija minha testa.
— Bom dia, Letícia. Como se sente? — Ele olha interrogativamente para Zachary — Bom dia, Zach. Já de pé?
— Bom dia, Liam. Estou muito bem... — Respondo.
— Tão bem que vai se encontrar com Bashir — Zachary fala para Liam, que olha para mim com cara de poucos amigos.
— Me diz uma coisa, o que vocês vieram fazer aqui uma hora dessas? Desde quando dei liberdade para ambos cobrarem ou não alguma coisa? — Aponto para os dois. — Quer saber? Vão se catar!
Pego minhas coisas e saio sem olhar para trás. Ah, faça-me o favor, primeiro Ethan me obrigando a levar o celular para todos os lados, agora as gracinhas achando que devo alguma satisfação. Idiotas!
— Bom dia, senhorita Letícia. Estava indo buscá-la. — As portas do elevador se abrem e dou de cara com Hamdan.
— Hamdan eu preciso tomar café. Meu apartamento foi invadido por abutres...
— Abutres? Aqui?
— Modo de falar. Estou com fome.
— Zharan não está lhe servindo direito? Podemos trocá-lo...
— Não! Gosto muito dele. Hoje tive visitas inesperadas e acabei saindo sem comer e estou com muita fome.
Ele me levou a um dos restaurantes do hotel e mandou me servirem um serviço de café completo. Depois fomos para a entrada onde quatro caminhonetes nos esperavam, ele abriu a porta da terceira e o sheik estava lá, no banco de trás.
— Bom dia, menina Letícia. Preparada para o nosso passeio?



Apenas sorrio e aceno. O carro andou durante alguns minutos e pude vislumbrar parte da cidade com construções contemporâneas contrastando com a história. Enquanto percorríamos a cidade, o sheik Bashir ia me falando o significado das coisas, a história de cada lugar, como as coisas funcionavam. Eu conhecia Abu Dhabi pela televisão, onde mostraram que até as paradas de ônibus são climatizadas e realmente é verdade. É tudo muito bonito!
Os prédios modernos e a civilização foram ficando para trás e eu não tinha a menor ideia de onde íamos, só curti o passeio e fiquei me perguntando, o que foi aquele chilique do Zachary logo cedo. Às vezes tenho a impressão de que ele me detesta, nas outras que me adora a ponto de me querer, me manda sinais confusos ou não me manda sinal nenhum e eu que sou a louca. A certeza de tudo é: Eu estou muito interessada nele, eu queria estar no lugar daquela loira. Durante a noite me peguei imaginando como seríamos nós dois juntos. Droga!

——ooOoo——

— Se hidrate sempre e não esqueça o protetor solar. — O sheik fala assim que as portas se abriram depois que a viagem durou uma hora e meia e nós fomos parar no meio do deserto em um acampamento.
Olho ao redor e fico hipnotizada com a beleza do lugar.
Várias barracas coloridas, ligadas uma a outra formam um círculo. Passamos pela única entrada que tinha e fomo direto ao centro do lugar. Havia várias pessoas em uma roda de música, alguns homens e mulheres completamente cobertos no meio dançando e cantando, todos batiam palmas, era uma festa. Aproximamos-nos e o sheik foi recebido com reverência.
Um jovem se levantou e veio até nós. Eles se cumprimentaram em árabe, depois se voltou para mim e falou em um inglês quase perfeito.
— Prazer, sou Heidrun, filho mais velho da casa do meu pai Bashir.
— Letícia Barros.
Ficamos olhando aquela roda durante algum tempo, eu estava deslumbrada com tudo aquilo até sentir minha primeira tontura. Rapidamente providenciaram água e tudo ficou bem. Mais ao canto havia uma bela mesa arrumada elegantemente, havia muitas frutas e pães. O sheik me levou até lá, sentei e logo apareceram duas mulheres para nos servir.
— Assim que a menina se recuperar, vamos fazer um pequeno passeio pelo deserto para você ver a beleza e o poder das nossas terras.
O passeio foi estranho, enjoei muito em cima do camelo e por isso nosso passeio foi encurtado. Voltamos para o acampamento, ele me fez comer novamente e tomar muito suco. No meio da tarde, me levou para fazer um tour pelas barracas e fiquei surpresa ao ver as acomodações de luxo que havia. Os quartos com lindos tapetes e colchas de peles, adornos em ouro e prata espalhados por todos os lugares. Impressionante.


Paramos na última tenda, em uma sala espaçosa, muitos tapetes e grandes almofadas bordadas pelo chão. Ele me assentou em uma que mais parecia um colchão, onde descansei confortavelmente.
— O que está achando do nosso passeio, menina?
— Estou encantada com tudo e com todos.
— Você é boa companhia, seu sorriso faz com que tudo valha a pena. Não sou um homem de rodeios, Letícia, então vou direto ao ponto. Estou interessado em você.
Eu não sabia como responder aquilo. Ele é um homem de personalidade forte, mas não faz meu tipo. Aliás, qualquer um que tenha uma esposa não faz meu tipo, imagine oito. Sento-me e pego sua mão com carinho.
— Fico muito lisonjeada, mas infelizmente não é recíproco.
— Eu sei que não sou um homem bonito, mas sou rico e quero colocar o mundo aos seus pés.
— Não se trata de beleza ou de dinheiro, Bashir. Comigo, as coisas são diferentes. Tenho princípios e um deles é não me envolver com homens casados.
Ele tenta me beijar e viro meu rosto porque aí já é demais. Afastei-me dele rapidamente porque sabia que aquilo não daria certo. Estou no meio do deserto, sem comunicação com ninguém, ele poderia me forçar a fazer qualquer coisa.
— Há alguma chance de mudar de ideia?
— Nenhuma. — Seu olhar baixo me fez chegar perto dele novamente. Coloco uma mão em seu ombro. — Agradeço por tudo que vens me proporcionando, a viagem, os passeios e principalmente o conhecimento. Dessa estadia pude tirar ideias maravilhosas para o projeto, para as casas. Obrigada de coração...
— Fico imensamente feliz com isso e desejo que sejas feliz. Que Alá em sua sabedoria a guie nessa jornada da vida.
A viagem de volta foi mais demorada ou eu que estava cansada demais. O ar muito seco teve efeitos colaterais, como espirros, boca e garganta seca e um cansaço tenebroso. Já era noite quando chegamos ao hotel, Bashir e seus seguranças me acompanharam até o apartamento.
— Antes que eu me esqueça, marcamos a assinatura do contrato às dez da manhã de amanhã. Descanse.
Despedimos-nos e entro no apartamento escuro e em silêncio. Vou até o quarto da Lorena que está vazio, ela deve estar com Ethan. Vou em direção ao meu quarto, fecho a porta e acendo a luz. Sento na beirada da cama e tiro os sapatos e minha roupa, vou para o banheiro tomar uma ducha.

Deito na cama somente de toalha e caio no sono.

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