Capítulo Treze
Madison
Começar a semana olhando para o Noah de terno com toda pompa e
circunstância, meu sangue ferve de raiva e de tesão. As lembranças da tarde de
sábado não saem da minha cabeça, o homem tem um poder avassalador sobre o meu
corpo. Ainda sinto seu gosto na minha boca e seu cheiro na minha pele.
Tamanha foi minha surpresa quando o vi na minha porta, eu estava
brincando nas mensagens. Depois fiquei pensando, o que Alyssa disse a ele?
Porque saímos de lá sozinhas e achei melhor ela dormir na minha casa, do que ir
para casa de táxi aquela hora. Jamais imaginei que seu irmão fosse cumprir a
ameaça, só de lembrar do olhar dele assim que abri a porta, minha pele arrepia.
Ainda posso sentir sua boca em mim, sua barba por fazer na minha pele,
suas mãos apertando os meus seios. E cada vez que penso nisso, fico excitada.
Mas a minha excitação acaba quando relembro suas palavras, agradecendo-me, “Obrigado pelos seus serviços,
conselheira...”. Isso desperta o Chuck,
boneco assassino, que há em mim.
Essa é a última semana que trabalho aqui, uma parte de mim está dando
graças a Deus que estou me afastando, resistir a ele está se tornando cada vez
mais difícil. Mas sentirei falta de todos que conheci aqui e o pouco que fiquei
com Harriet, foi o suficiente para ama-la como uma tia protetora. É bonito de
ver como ela cuida do Noah, o carinho que ela tem ao falar dele.
Quando ele chegou, eu estava ajudando Harriet a organizar sua mesa. Ela
ainda sente dores, não pode se movimentar, então fui auxilia-la. Da mesma
maneira que entrou, sentou e começou a trabalhar, ignorando quem estava a sua
volta, ou seja, eu. Isso me incomodou, não sei porque, mas incomodou. Sai da
sala irritada, quem ele pensa que é para me ignorar assim? Nem parece que me
comeu há dois dias atrás. Sorrio ao lembrar... e em seguida, o Chuck se manifesta. Balanço a cabeça e
volto para minhas funções.
Depois de algum tempo, o telefone toca e Harriet pede que eu vá até a
sala do juiz. Respiro fundo algumas vezes e vou. Mal entro na sala e ouço Noah falar meu nome.
— Madison.
— Você é um homem inteligente, senhor juiz – fala Harriet — Essa é a
última semana da Madison aqui na Corte, assim poderemos fechar sua estadia com
chave de ouro.
— Ela estava cumprindo pena, Harriet.
A senhora olha para ele com um sorriso irônico. E eu ali, sem entender
absolutamente nada.
— Sei... Seja como for – ela volta-se para mim — Madison, Noah será
homenageado em Boston no sábado à noite e terá dois compromissos na quinta e sexta-feira.
Você viajará como assistente para ajudá-lo com a agenda e acompanha-lo no
jantar, que é de gala. Então, arrume um vestido.
Isso não vai dar certo. A última vez que nos encontramos quebrei dois
vasos tentando acertá-lo e se ele ousar a falar besteira novamente, uso o que
tiver a mão. Olho-o com sangue nos olhos.
— A ideia não foi minha – ele volta sua atenção para o computador e
continua a falar com sarcasmo — Eu não seria idiota a ponto de leva-la por
minha vontade própria, senhorita Harver.
Que idiota!
— Eu sei disso, senhor juiz. Coragem é um acessório que não usas com
frequência. Carly não vai gostar e...
Noah aponta a mão para mim e fala com Harriet:
— Entendeu porque não é uma boa ideia? Isso não vai dar certo. E Carly é
notícia velha.
Respondo na mesma hora:
— Concordo com o todo poderoso, isso não dará certo.
Harriet dá de ombros:
— Só não se matem em Boston, estou impossibilitada de viajar e não
poderei ir ao enterro.
— Sim, senhora.
Perco-me no olhar de Noah, lembrando-me do que aconteceu aquele dia e o
quanto gostei de tudo... De como gostei do seu sabor. Pelo seu jeito, tenho
certeza que as lembranças também passeiam em sua cabeça. Ele é muito
cara-de-pau mesmo, não respeita a presença de uma senhora de idade, dando um
sorriso demoníaco e passando a língua sobre os dentes, para lembrar-me das
mordidas que estão roxas e deliciosamente doloridas.
Quer brincar, excelência? Então, vamos brincar direito! Cerro meu olhar
e coloco a caneta na boca movimentando-a, dando a impressão que chupo. Seu
sorriso desaparece. Touché babaca!
Acompanho Harriet até a outra sala, ela senta-se na cadeira que fica de
frente para a mesa. Fico sem graça com o seu olhar analítico em minha direção.
— Algum problema, Harriet?
— Você e Noah acham que eu sou uma velha tapada – ela balança a cabeça —
A tensão sexual entre vocês é tão intensa que até eu senti.
Coloco a mão na boca e meu rosto esquenta novamente.
— Que velha assanhada – falo rindo — Mas não vamos exagerar...
— Fico muito feliz que vocês tenham se encontrado nessa vida.
— Harriet, ele é comprometido e pelo que vi naquela festa, eles são
almas gêmeas.
Ela sorri.
— Jovens! Nem tudo o que parecer ser realmente é. Sabe, muitas pessoas
passam pela vida sem ter oportunidade de usufruírem de seus amores. Aproveitem!
A mulher já está falando de amor. Mudo de assunto rapidamente para
tirarmos o foco de mim, mas minha cabeça continua naquele sorriso descarado. As
mordidas que ele deu na minha bunda, estão roxas e dependendo de como sento,
doem. E por mais que negue, eu as adoro. Adoro Noah. Que merda, não é?
O dia passou em um piscar de olhos. Saio do gabinete e fui direto para o
clube. Rebecka mandou uma mensagem, dizendo que tem algo de importante para
conversar comigo. Só espero que não seja problemas. Bom, partindo da ideia de
que estou envolvida, é confusão na certa!
Troco de roupa e vou a sala dela, a porta está aberta e vejo os meninos
lá dentro. Já me benzo antes, porque a coisa é mais séria do que eu imaginava.
Bato na porta, que já está aberta e todos olham em minha direção.
— Entre, Mad – Rebecka me chama sorridente.
Entro e fico de frente para eles. Aqueles três homens de terno, sentado
um ao lado do outro, faz qualquer mulher pirar. Nem a Madre Tereza escapava de molhar a calcinha. E Rebecka, uma das poucas
mulheres imponentes que conheço.
— Em que posso ajuda-los, senhores? – pergunto com o coração dançando o chá-chá-chá no peito.
Rebecka levanta-se e vem até mim. Isso está muito estranho...
— Agora, você faz parte do conselho do Secret Garden.
Ben aponta para uma cadeira entre ele e Noah.
— Sente-se na sua cadeira de conselheira, ruiva.
— Rebecka comanda o clube sozinha há anos – Chris fala olhando para mim
— E nós só estamos aqui para auxilia-la. Mas você faz muito mais, lida com as
meninas, todos te respeitam e principalmente, pode dividir as responsabilidades
com a Rebecka. Espero que aceite, Madison, porque nós estamos honrados de tê-la
conosco.
Aceno que sim e Noah fala.
— Esperamos que entenda a seriedade disso, senhorita Harver. Jamais cogitamos
colocar mais alguém entre nós, você foi a única exceção.
— Sem palavras... Obrigada!
Chris e Benjamin abraçam-me dando-me as boas-vindas. E quando foi a vez
de Noah, o desgraçado enlaça minha cintura e puxa-me para si. Nessa posição,
ninguém pode ver o que ele está fazendo, passando seus polegares pela lateral
dos meus seios e mordendo meu ombro. Filho da...
Com a mistura de tesão e raiva, somado ao jeito bruto e ao perfume desse
homem, fico tonta tendo que firmar com a ajuda do seu braço. Todos voltam a
falar e minha imaginação vai longe. Na verdade, não tão longe assim, vai até
ele jogando-me em cima dessa mesa, levantando minha saia, rasgando minha
camisa, mordendo...
— Madison? Está tudo bem? – olho na direção da voz e vejo que é a
Rebecka quem me chama.
— Está? Está. Eu acho – caio na besteira de olhar para Noah, que está
com aquele sorriso de triunfo nos lábios. Imbecil — Lembrei que na
quinta-feira, viajarei a trabalho com o juiz Lancaster e tenho meu compromisso
aqui.
Os três olham para Noah com expressão curiosa.
— Na verdade, viajaremos na quarta-feira à noite. Terei compromissos em
Boston e serei homenageado, nem Harriet e nem Alyssa podem ir. Eu preciso que
alguém me auxilie, era Madison ou Robbie.
Ben chacoalha-se como se estivesse com frio e faz o sinal da cruz.
— Ninguém merece a Robbie – ele olha para mim — Para mim, ela é a
reencarnação da Anabelle.
— Meu Deus. O que vocês falam de mim? – pergunto.
Christopher é o primeiro a falar:
— Que você é gostosa...
Benjamin o interrompe:
— Que de biquíni, você fica mais gostosa...
— Que é linda... – Chris fala, colocando uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha e continua — Que é igual a Jéssica
Rabbit...
Benjamin também se aproxima, dá um beijo no meu pescoço e fala com
aquele jeito sexy.
— Que você é o sonho de consumo, de qualquer homem.
Noah tira os dois de cima de mim e os joga longe. Se aproxima, colando
seu corpo ao meu.
— Eu falo que fiz a conselheira das mulheres desesperadas, gritar meu
nome enquanto gozava.
Noah, apesar de ser um gentleman a maior parte do tempo, às vezes ele
erra feio ficando pior que um ogro.
— Sou uma ótima atriz, não sou? Ah,
Noah... Oh my God... Ah... Uh... – faço uma mesura e os outros caem na
gargalhada — Bom, senhores. A conversa está ótima, mas tenho que trabalhar. Com
licença! – saio quase correndo do escritório da Rebecka e volto para os meus
afazeres.
Os dois dias que se seguiram, foram puxados. Harriet ainda não está
totalmente bem do procedimento cirúrgico que fez, então prefiro que ela fique
quietinha e eu cuido do resto. Na quarta-feira à tarde, ela me liberou para que
eu pudesse dar um tapa no visual, unhas, cabelos, depilação. Vai que tem uma
piscina, não é? Não vou colocar um biquíni parecendo a Chita irlandesa.
No final da tarde, um carro veio me buscar para levar-me até o
aeroporto. A cara do Noah a hora que me viu andando em sua direção com aquele
vestido e levando a atenção de todos comigo, era impagável. O vestido é verde
escuro e extremamente justo. A parte de cima é de renda, com um decote
extravagante, se não me cuidar, meus seios de atriz pornô aparecem. O forro
parece minha pele, quem me vê de longe, acredita que estou com algo
transparente. A saia do vestido é modelo tipo “lápis”, de um tecido que se ajusta
muito bem ao corpo. A hora que bati os olhos nele, sabia que tinha que ser meu
e comprei.
Para os pés, optei por um Peep Toe
preto e a composição, deixou-me sexy. Eu estava me achando a Angelina Jolie no tapete vermelho,
caminhando pelo aeroporto, até acenei para algumas pessoas que eu não conhecia,
só para causar alvoroço com o juiz a minha frente.
— Boa noite, excelência.
— Boa noite, o cacete – ele fala entre os dentes — Onde você pensa que
vai com esse vestido?
— Vou viajar com o meu chefinho – passo as mãos pelo terno dele e faço
cara de gatinha manhosa.
Ele tira seu terno e coloca pelos meus ombros.
— Já estão anunciando nosso voo.
Caminhamos lado a lado até o avião e como ele é um juiz importante,
fomos escoltados todo o tempo. Meu caminhar era tão rebolado, que parecia
aquelas mulatas brasileiras gostosonas desfilando no carnaval. A cada dois
passos Noah afrouxava a gravata e eu ria.
Passamos o voo inteiro em silêncio. Enquanto ele trabalhava em seu
notebook, eu fazia anotações das melhorias que devemos fazer no Secret Garden. Uma hora ou outra olhava
seu perfil, não sei como pode ser tão bonito, não, é mais que isso, Noah tem
esse jeito “homão”. É um bálsamo encontrar um tipo desses em tempo do
metrossexualismo, onde os homens demoram mais para se arrumar do que as
mulheres.
Quando desembarcamos, já havia carros a nossa espera na pista. Fomos
levados até um hotel maravilhoso e ficamos em suítes de frente uma para outra.
Assim que fecho a porta, corro para tirar o vestido. Ninguém falou que dá trabalho
ficar gostosa, chegou a me faltar ar enquanto estávamos no avião. Teve uma hora
que vi estrelas, levantei-me e fui ao banheiro para o sangue poder circular.
Depois de tomar um banho e ficar à vontade, peço o jantar no quarto e
abro meu computador para responder meus e-mails. Tinha dado uma acalmada sobre
o aconselhamento, não estava mais aceitando ajudar ninguém, mas preciso
preencher meu tempo ocioso e dar minha contribuição para o mundo. Ajudar essas
meninas a se encontrarem, não tem preço.
Aquele dia na boate, fiquei tão feliz por Tracy e a odiei na mesma
intensidade. Se fosse em outra época, ela nunca teria abordado ele e quando
conversassem, Tracy já teria fantasiado todo seu futuro. Estou orgulhosa dela,
por se abrir para o mundo e ter novas experiências. Também a odiei, por
escolher logo aquele inútil para colocar suas garras. Vou até o espelho do
banheiro e vejo as suas marcas em mim. Sorrio ao lembrar do tesão que essas
picadas de dor fizeram-me sentir.
De volta ao quarto, deito na cama e respondo meu primeiro e-mail, que
dizia:
“Madison,
Quero te pedir
desculpa pelo nosso último encontro. Na hora, fiquei indignada por você ter
falado daquela maneira do meu namorado. Na minha cabeça, ele só precisava de um
empurrão para assumir nosso compromisso. Desde então, venho pensando em tudo
que falou e acho que estás certa. Agora mais do que nunca, preciso da sua
ajuda. Por favor!
Becky.”
Uma das meninas do clube me apresentou a Becky, dizendo que ela
precisava de alguns conselhos. Segundo a amiga, ela estava tão iludida que
deixou de estudar, ter uma vida social, só para esperar por aquele namorado que
aparecia quando queria. Saímos para tomar um café e ela me contou que preferia
ficar em casa a disposição dele, porque ele era sua vida e a todo momento olhava
o celular para ver se ele tinha ligado ou mandado mensagem. Então eu disse a
ela que isso não estava certo, que ela não poderia ficar à espera de alguém que
não se importa o suficiente para estar com ela. A mulher surtou.
Olá Becky,
Nunca foi minha intenção
atrapalhar o seu relacionamento. O que eu queria, era mostrar-lhe que, enquanto
você espera, sua vida está passando diante dos seus olhos. Você é uma mulher
muito interessante e inteligente, não desperdice isso, descubra algo que te dá
prazer e dedique-se a ela. Não espere os anos passarem, no futuro irá se
arrepender das oportunidades perdidas.
Se você quer esperar
que ele tome sua decisão, espere. Não compete a mim dizer-lhe o que tens que
fazer referente a isso. Como sua amiga, meu papel é fazer com que você
movimente sua vida, enquanto esperas. Se lá na frente não der certo com ele,
pelo menos sua vida rodou, você fez algo para se orgulhar.
Mais uma coisa, quando
amamos, não precisamos de empurrões, pelo contrário, somos precipitados até
demais.
Fique bem,
Madison.
O segundo e-mail é ainda mais preocupante, a Mandy está triste porque as
amigas são contra o namoro, dizem a ela que o cara não ama. Mas em seguida ela
diz que, ele ama sim, só que a vida dele é complicada. E mesmo assim, o amor
dela é suficiente para ambos. As pessoas exigem demais da bondade dele e ela
entende isso. De vez em quando ele some, não dá notícias, mas ela sabe que
família pode ser sufocante, querendo ele só para eles. Meus Deus, quanta ilusão
em uma pessoa só.
Boa noite, Mandy
Já parou para pensar
por que a opinião das suas amigas é tão importante para você? Bom, a opinião
delas mexeu com você, porque no fundo sabemos que há algo que não se encaixa
nessa história, não é? Lembre-se que, só podemos fazer o outro feliz, quando estamos
felizes. E não sermos felizes só quando o outro está por perto.
Relacionamento é algo
delicado e requer dedicação de ambas as partes. Pense e repense, não basta que
um ame, que apenas um se dedique. Não basta! Mas, enquanto ele está resolvendo
os problemas dele, porque você não se dedica a si mesma. Vá a um salão de
beleza, arrume o cabelo, faça as unhas. Saia com suas amigas, viva! Assim você
mostra a elas que mesmo em relacionamento, você não deixou de ser quem é.
Talvez, a chave para
um bom relacionamento, está em quanto nos dedicamos a nós mesmas. Isso não é
egoísmo, de maneira alguma. É que só podemos viver plenamente, quando estamos
bem por dentro. E lá dentro, somente nós temos o poder de muda-las.
Atenciosamente,
Madison.
Li e respondi mais três ou quatro e-mails. Mexo o pescoço, mudo de
posição e chega mais um e-mail. Penso em não abrir, mas a hora que vejo o
remetente, sorrio. É da Cheryl.
“Olá Madison,
Como está? Espero que
esteja bem. Hoje, eu estou aqui por uma coisa diferente, vim para te agradecer.
Há muitos meses atrás,
eu me encontrava no fundo do poço e não via saída. Estava há dias sem sair de
casa, somente para ir ao terapeuta, que me obrigaram a ir. Minha melhor amiga
tinha se mudado para Nova York, fazendo esses dias ainda mais dolorosos. Eu
realmente tinha entregado o jogo.
Então, um dia ela me
ligou muito preocupada e disse que tinha alguém que gostaria que eu conhecesse.
Uma amiga que tinha um modo diferente de ver a vida e que talvez isso me faria
bem. E obrigou-me a mandar um e-mail para essa desconhecida. Mandei. Lembro que
eu disse que era gorda, feia e desprezível. Sua resposta foi um choque, “Minha
filha, se pensa assim de si mesma, passa seu endereço que mando a navalha”.
Primeiro, você fez com
que eu reagisse à alguma coisa. Depois foi trabalhando minha autoestima. Fez
coisas por mim em oito dias com seus conselhos nada ortodoxos, o que terapeuta
nenhum fez em cinco meses. Como ver filmes pornôs de gordinhas, entrar em
grupos de redes sociais de pessoas que gostam de tamanhos grandes. E nessas
aventuras, conheci mulheres que se orgulham de quem são e são plenas como são.
Elas não se importam com seus tamanhos e sim, em zelar o seu caráter.
Lembro quando você
disse, “Você prefere se relacionar com pessoas que classifica outras pela
estética? Eu prefiro as que classificam pelo caráter”. Eu adotei isso para mim,
desde aquele dia. E as fotos? Imagina minha surpresa, quando recebi uma ligação
de uma agência de modelos Plus Size, para fazer uma sessão de fotos. Você fez
isso acontecer, Madison. E hoje estou aqui para agradecê-la. Agradecer por tudo
o que fez por mim, mesmo sem conhecer-me e ganhar nada em troca.
Hoje, quero seu
endereço para enviar o convite do meu casamento. Faço questão de tê-la aqui e
te abraçar fortemente, olhar em seus olhos e agradecer por tudo. Você devolveu
minha vontade de viver, me fez enxergar que sou bonita, me ajudou a entender
que sou forte. Oro à Deus todos os dias e peço que te proteja, porque anjos
como você são raros. O mundo precisa de mais, Madison´s.
Obrigada. Obrigada.
Obrigada
Beijos,
Cheryl”.
Choro compulsivamente. Esse tipo de coisa, não tem preço. Saber que fiz
a diferença no mundo, que faço bem para alguém, faz-me sentir menos indesejada.
Desde que meus pais me deserdaram, venho convivendo com a sensação de rejeição
e isso não é fácil, dói muito.
Fecho o computador e fico ali no escuro, chorando sozinha. Cada vez que
recebo um agradecimento fico assim, deprimida. Luto para tirar esse sentimento
triste que me persegue, afinal, meu próprio sangue me renegou. E a pergunta, “Por que sou assim?”, ronda minha cabeça
dia e noite. O que Noah falou outro dia, ainda martela, que esse aconselhamento
parece mais uma vingança pessoal. Será que sou tão mesquinha assim?
Fico ali quietinha por um bom tempo e me dou conta de que não repassei a
agenda do Noah de amanhã. Levanto tropeçando em alguma coisa e acendo a luz.
Vou para o banheiro dar um jeito nesse rosto inchado e pálido. Quando volto a
me sentir uma pessoa normal ligo para a suíte do juiz.
— Oi – sua voz é sexy. Isso no ouvido faz um estrago no psicológico da
gente.
— Desculpa incomodar, Noah. Esqueci de passar seus horários de amanhã.
— E você lembrou disso só agora? – lógico que ele vai encrencar.
— Eu estava ocupada.
— Sua única ocupação no momento deveria ser eu, Madison.
Ele cansa minha beleza.
— A uma hora da tarde, um carro virá para leva-lo a Universidade onde
fará a palestra. Logo mais, jantará com os magistrados de Boston aqui mesmo no
hotel. Depois estará livre. Só não esqueça que na sexta-feira sua palestra será
pela manhã, às dez horas para ser exata.
— Nos levará, jantaremos e estaremos...
Falou grego agora. Não entendi bulhufas.
— Não entendi, Noah.
— O carro nos levará, jantaremos com os magistrados e estaremos livres.
Onde eu vou, você também irá. Se eu tenho que jantar, você também terá. Se eu
correr, você também correrá.
— E se você se foder?
— Ninguém me fode, mas posso foder você – ele fala um tom mais baixo que
antes, fazendo-me molhar a calcinha.
— Você não colocará suas mãos em mim, nunca mais – falo.
Ele respira.
— Desde que eu coloque o pau, as mãos podem ficar longe.
Começo a rir e engasgo-me.
— Ah, excelência! Já tinha esquecido como és romântico.
— Posso ser mais romântico, ruiva.
Já estou enrolando o fio do telefone no dedo, desesperada pelo desejo.
Essa conversa no ouvido, com essa voz está me deixando louca.
— Não sei... – vozinha de gatinha manhosa e fazendo doce. Eu sei que é
patético, mas os homens gostam e eu gosto desse hom... Fala que isso não saiu
de mim, por favor. Fecho os olhos e dou um tapa na minha testa. Estou ferrada —
Boa noite, Noah.
— Boa noite, Madison. Durma com os anjos e sonhe comigo.
— Me diz uma coisa, as meninas caem nessa firula barata?
Ele ri e eu sorrio em resposta. Noah é simplesmente adorável.
— Realmente não preciso falar para sonharem comigo, é certo que irão.
Ainda mais, se já passaram pelas minhas mãos. Boa noite, senhorita Harver.
— Boa noite, excelência.
Desligo o telefone e fico pensando. E agora? Como vou dormir? Bom, eu
poderia bater na porta dele e pedir açúcar emprestado. Ele nem vai se dar conta
de que estamos em um hotel. Com toda essa conversa com o Noah, até esqueci da
tristeza que estava me massacrando. É isso que gosto nele, me faz esquecer
daquilo que não é bom. Cubro-me e o cansaço vence.
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