domingo, 8 de maio de 2016

A Vitrine - Capítulo 23

Zachary

Podemos conversar Zach? — Estava tomando café, quando Ruth se aproxima.
— Sempre. — Aponto a cadeira para ela. Ruth é importante para mim, em alguns momentos difíceis, foi ela quem segurou minha mão.
— Eu trabalho com você há algum tempo e lhe tenho como um filho. Sempre que precisou e mesmo quando achava que não precisava, estive perto de você. Eu te amo como se tivesse saído de mim...
— Eu sei e sou eternamente grato por isso. Por mim, você já teria se aposentado e ido morar na casa que te dei em Long Island. Mas você é teimosa. — Ela sorri.
— Ontem eu ouvi sua conversa com o King sobre a Letícia e fiquei muito chateada em saber que você pensa aquilo dela. — Solto a sua mão.
— Ruth...

— Não, Zach. Deixa-me falar, serei rápida. — Eu aceno e ela continua. — Aquela menina não é o que você falou, pode ser um pouco intransigente às vezes, eu conheço mulher de negócios à distância. Mas não é por mal, foi assim que a vida as ensinou ser. Você disse para o grandão que, talvez ela não seja quem ele pensa e repito a mesma coisa a você, ela não é quem você pensa. Você é um homem poderoso, pode fazer o que quiser, por que você mesmo não tira a vida dela a limpo? Era só o que eu tinha para te dizer. Com licença. Tenha um bom dia.
— Bom dia, senhor empata-sono.
Alguma cosia me impulsiona a descer e bater na porta do apartamento dela. É cedo, provavelmente está dormindo. Estou prestes a virar as costas, quando a Lorena abre a porta de pijama. Sorrio e lhe dou um beijo na testa.
— Bom dia, boneca Lolo. A Letícia está acordada?
— Graças a Deus não. — Franzo a testa.
— Algum problema? — Lorena responde bocejando.
— Ela passou a noite vomitando e está muito fraca. Dormiu faz pouco tempo.
— Chamaram um médico? — Tiro o celular do bolso para ligar se for necessário.
— Consultamos um médico antes de embarcarmos para cá. Ele disse que era uma intoxicação alimentar e ela teria alguns dias ruins. O problema é que esses dias estão demorando a passar.



— Ontem lá em casa, ela teve tonturas. É normal? — Ela escora na porta.
— Por causa da fraqueza. Mas ela já está melhor, Zach, consegue comer uma refeição inteira antes de colocar para fora. — Tiro um cartão com meus contatos e entrego para ela.
— Se precisar de alguma coisa, me chama. A Letícia tem que assinar alguma coisa na empresa, eu vou mandar trazerem para que ela não precise sair de casa.
— Serei grata.
Vou para empresa enfrentar o dia que está por vir. Tomei todas as providências necessárias para que as obras iniciem na segunda-feira sem imprevistos e isso tomou quase meu dia inteiro. Mandei Joe levar a documentação para que Letícia assinasse em casa. Quando estava prestes a ir embora, Ethan é anunciado e peço que ele entre. Ele está com cara de cansado, barba por fazer, com a roupa amassada, dando a impressão de que está com ela há muito tempo.
— Bom dia, E. Por que você está assim?
— Passei a noite bebendo no escritório. — Inquieto, responde.
— Por que, E? Qual é o problema?
— Vou pedir Lorena em casamento. — Ele tira uma caixinha de veludo azul escrito Tiffany & Co.
— Não acha cedo demais?
— Eu sou um homem de trinta e poucos anos que nunca encontrou quem o fizesse se sentir em casa cada vez que sorri. Eu comecei a acreditar em felizes para sempre, desde o primeiro beijo.
— Acho loucura, mas se isso é o que você quer, vá em frente.
— Só tem um problema.
— Qual?
— Eu preciso sair da aposta. Não! Melhor. Eu preciso que essa aposta seja desfeita.
— Nem pensar!
— A Lorena e a Letícia nunca me perdoarão se souberem que participei disso. Eu vou pedir a Lolo em casamento quando estivermos no Brasil, não quero ser atormentado mais por essa merda de aposta.
— Lorena nunca saberá. Ninguém nunca saberá. — Vou até o barzinho do escritório e encho dois copos com whisky. Entrego um a ele
— Eu vou saber. Como você consegue olhar para ela e não sentir remorso? A Letícia não é qualquer uma Zach.




— A Letícia não é o anjo que todo mundo quer que ela seja. Letícia é como qualquer outra mulher, safada e interesseira.
— Nunca mais fala assim dela, seu bastardo. — Ele solta o copo no chão e me dá um soco no rosto. — Você acima de todos deveria protegê-la da merda que está por vir e não desrespeitá-la dessa maneira.
— Você é outro iludido por ela, Ethan. — Lennon e Kaleb entram na minha sala e se colocam entre nós dois. Sinto algo escorrer do canto da minha boca, passo a mão e vejo que é sangue. — Você não sabe o que eu sei, não sabe nada da vida dela. Eu não vou desfazer nada, essa aposta vai até o final e acabou. Você mesmo idiota, amarrou de uma forma que ninguém pode fazer nada.
— Se a Lorena souber disso, eu mesmo te matarei. — Ele vira as costas e sai do meu escritório. Mag entra correndo com gelo.
— O senhor Scott está louco.
— Lennon, avise ao motorista que estou pronto para ir.
Pego minhas coisas, entrego a bolsa de gelo para Mag e vou para casa. Tenho que pensar rapidamente, Ethan pode colocar tudo a perder. Inferno! Isso é hora para ter crise de consciência? Tenho que me apressar se quero desmascara-la na frente de todos. Não acredita em mim, então verão com os próprios olhos.
Vou para casa, troco de roupa e vou para a piscina nadar. Não sei quanto tempo fiquei dando voltas naquela piscina. Minha esperança era ficar exausto e me desligar do mundo. Mas não foi o que aconteceu. Tomo uma ducha quente, coloco uma roupa leve e vou para o escritório. Pensei seriamente no que Ethan falou, seria um desastre se a Lorena tomasse conhecimento da aposta e o cara é o meu melhor amigo além do Kingston.
Tenho que confirmar a viagem para o Brasil. Ligo para King que prontamente vem ao meu escritório.
— Fala chefe.
— Odeio quando me chama de chefe. A viagem para o Brasil está confirmada?
— Tudo em ordem. Embarcaremos no final da tarde e desembarcaremos no Ceará nove horas depois. Assim teremos tempo para descansar em um hotel na capital.
— Não. Quero ir ao Rio de Janeiro primeiro...
— Claro que ele vai complicar. O dia que Zachary Thorton O´Brian facilitar a vida de alguém, será o Armagedon. — Sou obrigado a rir. Ele tira o celular do bolso e liga para meu piloto. Conversam durante um tempo e volta a falar comigo. — O Bob disse que o voo entre o Rio e o Ceará é de mais ou menos duas horas. Assim que ele retornar à ligação, faço o planejamento. Tenho que falar com a Letícia sobre o helicóptero que sairá da capital para ir até o resort. Indo.
— King?
— Sim.
— Você viajará comigo?

— Não vou deixar você ir ao Brasil sozinho. Por mais que eu deseje te matar ultimamente, não posso permitir que outra pessoa faça isso por mim e tenho muitas contas a pagar, o que garante sua vida intacta por mais alguns anos.
King acena e se retira. Sei que ele não está do meu lado, acredita que a Letícia seja um anjo e acha que eu posso destruí-la. O que ele não sabe é que esse demônio de mulher pode me destruir e eu tenho que lutar contra isso. Decido ligar para os outros apostadores, para ver a que pé anda as coisas com eles. Disco para o Sebastian.
— Sebastian falando.
— É o Zachary. Como estão as coisas por aí?
— Tudo indo. Estou me sentindo privilegiado por receber uma ligação do gostosão.
— Eu queria conversar sobre a aposta.
— Vamos fazer o seguinte, vou chamar os outros dois e conversaremos em conferência.
Em menos de cinco minutos estávamos todos rindo em uma única ligação. Volto a focar no motivo que me fez ligar.
— Ethan vai se casar e teme que a menina descubra a aposta. Acredito que ele procurará cada um de vocês para desfazer a aposta.
— Sinceramente, depois que passei uns dias com ela, pensei seriamente em sair dessa aposta. A Letícia me ajudou com a minha esposa, ela salvou o meu casamento. Mas quando recebi o dossiê, voltei atrás. Quero mais é que ela se foda!
Será que é o mesmo que me deram? Então não estou sozinho nessa.
— Bashir, Sebastian e vocês?
— Também não gostei do que li. Se ela realmente é uma golpista, por que não ficou com um de nós? — Bashir responde.
— Não está claro? — Martino começa. — Entre nós quatro está um dos três homens mais ricos do mundo. Porque ela ficaria conosco sendo que pode conquistar a cama do cara mais rico? Ela quer Zachary, se não fosse por isso, ela teria cedido a qualquer um de nós antes ou até mesmo para o Larkin.
— Tudo continua como está. Mulheres como ela não são dignas de compaixão.    — Sebastian fala.
— Responda-me uma coisa, todos vocês receberam um dossiê sobre ela?              — Fiquei curioso sobre o dossiê.
— Sim! — Eles responderam junto.
Conversamos por mais alguns minutos e desliguei o telefone convencido de que não estou sozinho. Recosto-me na minha cadeira para pensar mais. Por mais que eu não queira admitir, sou obrigado, estou decepcionado comigo mesmo por não perceber quem ela era antes de me deixar envolver demais. Eu queria que eles me convencessem a fazer o que Ethan quer, porque acreditam que ela seja o anjo que King acha que ela é.
——ooOoo——

Chega de ficar aqui me lastimando, o negócio entre eu e a Letícia, agora é pessoal. Levanto da cadeira para ir ao apartamento em que as meninas estão hospedadas. Isso me faz lembrar que tenho que mandar investigar onde é o imóvel que a Letícia adquiriu e o dinheiro de quem ela usou para comprar.
Letícia atende a porta com pijama dos Minions. A blusa justa, retratando aqueles seios fartos, o short curto, deixando as pernas grossas à mostra, fazendo a minha imaginação viajar.
— Você atende a porta vestida dessa maneira? — Saiu mais grosseiro do que eu queria.
— Eu sabia que era você e meu pijama não é escandaloso. Já vi coisas piores andando pelas ruas de Nova York. — Letícia leva sua mão até o inchaço no canto da minha boca. — Quem teve coragem de estragar essa obra de arte que é o seu rosto? Entre.
— Alguém que está surtando. Está sozinha? — Deus, faça com que ela esteja sozinha...
— Sim, estou. — E a visão da bunda dela há um palmo de distância me faz gemer. Ela virá para trás. — Algum problema, Zach? — Apenas balanço a cabeça. Se eu abrir a boca não sei o que sairá.
— Cadê a Lorena? — Sentamos no sofá que é bem confortável, na televisão passa a Liga da Justiça. Um dos meus desenhos favoritos. Ela senta no canto do sofá e coloca as pernas embaixo de si.
— Ethan não está muito bem e ela foi cuidar dele.
Assistimos alguns desenhos e descobrimos que somos ótimos críticos de animação. A fome bateu e pedi a Ruth que nos trouxesse sopa e suco de limão a pedido de Letícia, que não está muito legal do estômago. Voltamos a assistir, dessa vez a trouxe para perto de mim, passei meus braços por ela e a coloquei no meu colo, foi a pior besteira que fiz.
O cheiro dela tomou conta de mim, não resisti e a deitei enquanto a beijava. Fiquei por cima, em meio as suas pernas, baixei sua blusa e seus fartos seios pularam para fora fazendo minha felicidade. Os massageio com vigor e a beijo sem parar, seus gemidos me deixam louco e bloqueiam qualquer pensamento coerente que poderia ter.
— Zachary, por favor... — Ela me empurra e sai correndo com a mão na boca.
Vou atrás dela e a encontro no banheiro, prostrada no vaso vomitando pálida e suando frio. Pego uma toalha, molho e coloco em sua testa, não sei se resolve, mas assisti em alguns filmes e lá dava certo. Sem graça, Letícia escova os dentes e voltamos para a sala.
— Letícia, isso não é normal para uma intoxicação alimentar.
— Eu fiz os exames que o médico pediu, falou que foi uma intoxicação e que iria ficar mais uns dias mal. Vamos esquecer. Olha, desculpa você não precisa ver aquilo...




— Estou feliz por estar aqui e te ajudar. Olha para mim. — Ela levanta seu olhar. Eu preciso saber o que ela quer, qual é o seu jogo. Ela seria tão boa atriz a ponto de demonstrar sentimentos que não existem em seu olhar? — Ontem você não falou que me perdoava pelo que aconteceu no Oriente e mesmo assim, hoje, estou com você no meu colo. Achei que nunca mais olharia na minha cara. Diga-me, Letícia, foi fácil me perdoar?
— Eu não tenho porque perdoá-lo por nada, você foi sincero e isso me basta. Na hora fiquei mais chateada com a entrada surpresa da sua assistente do que propriamente com a discussão. Por dias fiquei magoada, admito. Mas tive tempo para amadurecer e cheguei à conclusão que de agora em diante só viverei o momento, o resto deixarei para depois.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas eu queria acreditar. Daria minha vida para que essa mulher maravilhosa que está no meu colo existisse, verdadeira, sem máscaras, sem interesses. Colo minha testa na sua e fecho os olhos.
— Eu trocaria toda minha fortuna pela verdade que fantasio Letícia.
— Não entendi Zachary...
— Não é nada. Só estou cansado.
O sofá era grande e cabíamos nós dois deitados. Letícia ficou no canto e abraçados pegamos no sono enquanto assistíamos a um filme. Fazia tempo que não tinha um sono tranquilo, sem acordar várias vezes durante a noite, sem sonhos ou pesadelos. Não tenho dúvidas de que é por causa da Letícia, ela me faz sentir como Ethan se sente em relação a Lorena, tê-la em meus braços me faz sentir em casa. A diferença entre nós dois é que a mulher por quem sinto isso não é um anjo como a dele.
— Desgraçado filho da puta! — Aperto Letícia junto a mim para protegê-la, não sei quem xingou, nem sei onde estou.
Abro os olhos e vejo Lorena nos olhando com um pequeno sorriso no rosto.
— Desculpa Zachary. Não queria acordar vocês, mas Ethan está estressado e acabou falando alto demais.
Letícia abre os olhos encontrando os meus e naquele momento, eu sabia que estava mais fodido do que antes.
— Bom dia, menina dos olhos dourados. Como se sente?
— Estou bem. Obrigada por cuidar de mim. — Lorena ainda nos olhando com aquele sorriso de boneca.
— Vocês são tão lindos juntos, parecem àqueles casais de revistas...
— Menos, Lolo. Bem menos...
Levanto para ajudá-la a sair do sofá e ela vai para o banheiro. Viro-me para a Lolo.
— Esse negócio da Letícia é sério. Tem certeza que foi somente uma intoxicação?



— Eu fui ao médico com ela, Zachary, esse foi o diagnóstico. Só que eu acho que ela pegou uma virose que acabou por piorar a situação. De qualquer maneira, está medicada. — Ela faz uma pausa antes de continuar. — Zachary? — Olho para Lorena que está com os olhos cheios de lágrimas.
— Você é o melhor amigo do meu namorado, então me responda o que está acontecendo com o Ethan? Essa noite ele só dormiu porque dei um dos remédios da Letícia, todos a sua volta estão estranhando seu comportamento é autodestrutivo. Eu não sei o que fazer... — Faço-a sentar no sofá e me abaixo na frente dela.
— Ethan está muito apaixonado por você e isso é novo para ele, assustador. Às vezes ele acha que está te tirando da Letícia e a soma de tudo deixa-o inseguro, nervoso, estressado. Você o ama, boneca Lolo?
— Mais do que tudo... — Essa menina é uma graça.
— Então, somente ame-o, isso será o suficiente. — Ela me abraça.
— Obrigada, Zach. E obrigada por cuidar da Lê para mim.

——ooOoo——

— Bom dia, Zachary. Não queria te acordar, mas nosso voo parte daqui duas horas e elas irão comigo — A entonação forte de elas irão comigo, não passou despercebida.
— Bom dia, E. Sem problema. — Aponto para a direção dos quartos. — Só vou me despedir da Letícia. — Ethan entra na minha frente.
— Eu não acho que seja necessário.
— E eu não acho que seja da sua conta. — Dou um passo em sua direção e o encaro.
— Qual o problema de vocês? Tenho que colocá-los no cantinho da disciplina? — Lorena chama nossa atenção, ela aponta para mim. — Você vai falar com ela e você, mocinho. — Ela aponta para Ethan. — Vem comigo.
Vou olhando de porta em porta para encontrar onde Letícia está. Encontro-a no último quarto, fechando uma mala.
— Te deixei sozinho na sala, que grosseria a minha. Mas vamos viajar daqui a pouco e não queria me atrasar mais...
Aproximo-me, emolduro seu rosto com minhas mãos e a beijo de leve.
— Embarco para o Brasil hoje. Daria-me a honra de ficar comigo? — Ela sorri lindamente.
— Sim. Telefone-me assim que chegar.



Abraço Letícia com toda minha força, a beijo como se dependesse disso para viver. Eu a quero tanto, que chega a doer, mas a vida não é justa. Foi a primeira lição que recebi do meu pai, “Aprenda enquanto eu estiver vivo, a vida não é e nunca será justa. Conforme-se, Zachary”.

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