Zachary
Subo
pelo elevador de serviço, assim que entro pela porta da cozinha, ouço gritos
vindos da sala. Vou andando devagar para saber que caralho estava acontecendo
na minha casa. Nos últimos dias, as pessoas estão enlouquecidas, começando
pelos meus funcionários, um fica contra mim por causa de uma mulher e a outra
invade a minha cama nua. Reconheço a voz da Mag.
— Claro que eu vou. Sou a assistente pessoal dele, minha obrigação é
acompanha-lo em todos os lugares...
— Sua obrigação é manter a agenda dele organizada e não sair por aí
agindo como esposa traída. Não há necessidade de você ir nessa viagem. — King
fala.
Ela ri.
— Está brincando, não é? Há coisas daquele projeto que só eu sei.
— Como as coisas da Letícia, que você vem negligenciando por despeito? —
Com a menção do nome da Letícia, Mag surta.
— Para de pensar com a cabeça do seu pau, cretino e deixa aquela vadia
fora disso. A vida não gira em torno dela. Sou mais indispensável que você,
aliás, nos últimos dias tem sido o céu com a sua ausência. Eu vou acordá-lo...
— Não vai. — King a interrompe. — Ele deixou bem claro que você não tem
mais livre acesso a esse apartamento. Entro na sala e vejo King barrando a
passagem para as escadas que dá acesso ao segundo andar, onde fica meu quarto.
Mag parada a frente dele pronta para passar por cima.
— Saia da minha frente, King. — Ele cruza os braços.
— Para você tirar a roupa e pular em cima dele novamente? Esquece Mag.
Ele ainda está traumatizado com a última vez. E como você soube que adiantamos
a partida?
— É minha obrigação saber tudo o que acontece na vida dele e como, não
te interessa. — É a vez dela cruzar os braços. — Zach precisa rever o quadro de
funcionários urgentemente. Você é uma pedra no nosso caminho, Kingston. — Ele
sorri.
— Nisso concordamos, senhorita Carlson. O senhor O´Brian precisa rever
os assistentes dele, talvez contratar uma que não tente estuprá-lo enquanto
dorme. E sim, sou uma pedra no seu caminho, até porque você é uma
desequilibrada do caralho!
Ruth não tinha me visto e quando se dá conta, grita de susto, fazendo
com que todos se voltem na nossa direção.
— Não o vi, desculpa. Aqui está sua mala.
— Ruth há quanto tempo eles estão nessa gritaria?
— Uns dez minutos, mais ou menos. — Ela olha para Mag com clara
reprovação.
— Enlouqueceram? — Pergunto. — Bater boca na minha casa como duas
lavadeiras à uma hora dessas? Eu deveria demitir os dois agora mesmo.
— Está chegando de onde, Zach? — Mag coloca as mãos na cintura e
pergunta.
— Perdeu a noção do perigo, senhorita Carlson? — Falo com voz baixa,
naquele tom que as pessoas dizem que me torno ameaçador. Ela dá um passo para
trás. — Desde quando alguém tem permissão para me questionar? Essa é sua última
chance para continuar a trabalhar comigo, não a desperdice. E lembre-se, você é
importante, mas não é insubstituível. Ninguém é. — Olho para King. — Minha casa
não é suas festas de Hip Hop, controle-se. Se não consegue mais ter controle
sobre as situações que permeiam sua rotina, então está na hora de se aposentar.
— Aponto para ambos. — Conhecem-me o suficiente para saberem que posso fazer
com que nenhum consiga outro emprego nesse e em mais setenta países. Tenho
certeza que não vão querer me desafiar. Embarcaremos daqui a quanto tempo?
— Na hora do almoço. — King responde.
Aceno e subo as escadas, troco de roupa, volto para nadar. Com a Letícia
na minha cabeça, não sobra espaço para outras coisas. Meus funcionários sempre
se deram bem, não sei o que está acontecendo. É só falar o nome da Letícia e
todo mundo ao redor surta. Estou cansando disso e tenho que dar um basta. Essa
mulher será a causa da minha ruína. Minha razão diz que estou no caminho certo,
quem sabe quando desmascara-la, o resto de mim se convença de que ela não é
quem gostaríamos que ela fosse.
Decolamos no horário e a viagem foi tranquila. Preferi tomar um remédio
e passei mais tempo no quarto dormindo, do que dividindo um ambiente com as
duas lavadeiras. Adquiri essa aeronave recentemente, é um jato de luxo Boeing Jet2, com capacidade de levar até
dezoito pessoas e comporta cinco ambientes. Uma suíte no fundo, uma sala de
estar e outro ambiente para jantar, um escritório e um banheiro social. Tudo
foi decorado por uma das designers mais famosas do mundo, que por acaso
frequentou minha cama também.
Desembarcamos no Rio de Janeiro, nove e quarenta e cinco da noite.
Chegamos a casa, um pouco depois das dez, fiquei impressionado com o imóvel. Já
tinha visto por fotos que a Letícia mandou, mas pessoalmente é muito melhor.
King indica meu quarto que ocupa quase todo o terceiro andar, dividindo espaço
com outra suíte menor que essa. Lugar perfeito para hospedar Letícia.
Deito na cama, tiro meu celular do bolso e teclo seu número. Ela atende
com aquela voz doce.
— Olá.
— Olá menina dos olhos dourados. A fim de conhecer a minha casa nova?
— Já conheço sua casa nova, senhor Zachary.
— Comigo aqui as coisas ficam diferentes. A casa fica mais... Atrativa.
— Acredito. Mas você deve estar cansado da viagem...
— Não, está tudo bem. E você descansou da viagem?
— Sim. Desembarcamos eram cinco horas da tarde. Se o movimento estiver
tranquilo chego aí em menos de uma hora.
— Luck está com você? — Ela suspira contrariada.
— Ethan e Liam insistiram que devo ter mais dois ou três, então, tenho
uma equipe comigo.
Alívio toma conta, o que não gosto, é de ouvir o nome daquele irlandês
filho da puta.
— Peça para um deles te trazer aqui. Enquanto jantamos, conversaremos
sobre a sua segurança.
A casa é enorme, desisto de ir procurar King e ligo para o seu telefone.
— Preciso de você aqui.
— Ainda está no seu quarto? — Ele pergunta.
— Sim.
— Ok. Estou indo.
Para que dois banheiros? Se fosse um só era mais fácil. Escolho o maior
que é em tons escuros. Tomo um banho, coloco uma bermuda azul marinho e uma
camisa branca de algodão, perfeita para as noites do Rio.
— Em que posso ajuda-lo, chefe.
— Eu vi que aqui em cima tem um ambiente para cozinhar e tem lugar para
descansar.
— Isso mesmo.
— Providencie que façam um jantar para dois e sirvam aqui em cima,
ficando somente quem for servir. Para mim podem cozinhar...
— Eles têm o seu cardápio, seus gostos e preferências, a Letícia se
encarregou disso logo que comprou a casa. — King me interrompe.
— Certo. Não quero que ninguém passe do segundo andar, esse andar é
estritamente pessoal, não quero nenhum visitante sem autorização circulando por
aqui, só quem faz a limpeza e os seguranças. Você esteve no Brasil para
contratar a equipe de segurança da Letícia pessoalmente, não foi?
— Foi.
— Todos eles foram contratados ou algum da equipe foi exigência do Larkin?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Todos foram contratados e a exigência de conversar com um foi do
Ethan, mas esse um é Luck.
— Estou esperando a Letícia para jantar. Vou pedir para Mag que
providencie alguém para preparar essa suíte ao lado para a Letícia passar a
noite.
King levanta a mão.
— Eu mesmo faço isso, já conheço os funcionários e não quero aquela
maluca zanzando por aqui, ainda mais com a Letícia por perto. O barzinho do
terraço está abastecido caso queira ir sentar lá e contemplar a vista da
cidade. Zach, foi uma das melhores aquisições que você já fez, não faz ideia da
vista que tem.
Os andares são ligados por elevador, mas prefiro subir as escadas. A
casa é diferente de tudo que possuo e tenho a sensação de ter vivido aqui há
muito tempo, ela foi construída para mim, a vista aqui de cima é deslumbrante.
Perto de onde a mesa de jantar está, há um aparador com um dock station. Vou até ele, programo minha playlist preferida e coloco meu celular para reproduzir em todo
ambiente.
Ouço alguém se aproximar e vejo que é o chef e uma das empregadas, eles
acenam para mim.
— Boa noite, senhor — Falam inglês perfeito! — Gostaria de beber alguma
coisa?
— Boa noite. Quero uma dose de whisky sem gelo. — Ele acena e se afasta,
fala com a moça, que vai preparar e logo trás para mim. — Obrigado. — No canto
do deck há um ambiente com sofás que fica de frente para a praia, lugar
silencioso, perfeito para pensar na vida e a música Secret do Maroon 5 que
está tocando, diz exatamente o que penso, “...Eu
sei, eu não conheço você, mas eu te quero tanto. Todos possuem um segredo. Eles
podem mantê-lo? Oh não, não podem...”
Distraído, não percebi de imediato a presença da Letícia, que senta ao
meu lado, mais linda do que nunca. Um vestido preto acima do joelho, sem mangas
e sandálias altas azuis. Traje muito comportado, em outra mulher não seria
sedutor, só que no corpo dela é de matar qualquer um.
Puxo-a pela mão, aproximando-a de mim. Sem dizermos nada um ao outro
tomo sua boca. Puxo seu cabelo levando-a no meu ritmo e para que ela ceda a
mim. Se eu não me controlar, ela será minha ruína, se já não o é.
— Boa noite, princesa, como diz a Lorena. — Separo minha boca da sua com
dificuldade.
— Bem-vindo ao Brasil, senhor O´Brian. — Ela sussurra no meu ouvido.
Isso me deixa louco, essa mulher me deixa louco, transtornado. Sou capaz
de tomá-la aqui na frente dos funcionários. Tento me contentar com outro beijo.
— Obrigado, senhorita Letícia.
— Como foi a viagem?
— Tranquila.
A menina que está servindo se aproxima e cumprimenta Letícia que de
muito bom humor a abraça e vai até o chefe que a recebe de braços abertos. O
que essa mulher tem que as pessoas simplesmente a amam? Trocam duas palavras e
já se entregam a ela? Que inferno! A desgraçada é linda...
— Você conhece todos que trabalham aqui?
— Entrevistei um por um, contei-lhes como é trabalhar para você, o que
provavelmente você espera deles e com isso conheci cada um deles.
— Esse seu perfeccionismo é um charme. — A voz do Seal enche o lugar cantando Stand
by Me. Levanto e a tiro para dançar, ela vem para os meus braços sorrindo.
Nos mexemos ao compasso da música, a giro e a trago novamente para junto de
mim, sempre sorrindo. Cantarolo em seu ouvido. — “Quando a noite chegar, a terra estiver escura e a lua for a única luz
que veremos, eu não vou ter medo. Não, eu não vou ter medo, contanto que você
fique comigo. Então querida, fique comigo, oh, fique comigo. Se o céu que vemos
lá em cima desabar e cair, ou as montanhas desmoronarem no mar, eu não vou
chorar. Não, eu não vou derramar uma lágrima, contanto que você fique
comigo...”
— Uau. Você canta muito bem...
— Só para moças incrivelmente bonitas. — Mordo o lóbulo da sua orelha,
beijo o seu pescoço, seu queixo e encontro sua boca. Tudo está perfeito, a
mocinha nos braços do mocinho como nos filmes, tendo como fundo, a música do Savage Garden. — Truly, Madly, Deeply. Quando me dou conta a solto rapidamente, a
vida não é justa e muito menos perfeita. A mocinha é uma interesseira e o
mocinho um babaca que está se deixando levar pelo seu pau.
O olhar dela é confuso. Já o vi uma vez, no dia em que me expulsou aos
gritos em Abu Dhabi. Antes que ela pudesse chegar a alguma conclusão, a abraço
e esfrego minha ereção para que ela sinta.
— Se eu continuasse o beijo, acabaria rasgando sua roupa e a possuindo
na frente dos meus novos funcionários. Isso não é muito elegante.
Letícia ri com gosto e o som me enche de alegria.
— Desculpa Zach.
O chef anuncia que o jantar está pronto, estendo meu braço para ela e a
acompanho até a mesa. O chef puxa a cadeira para que Letícia sente e nos serve
o jantar.
— Zachary, a Ruth me falou que você não gosta dos três pratos quando
está em casa, você não é um admirador de saladas, mas ela coloca porque sempre
belisca. Disse que você prefere na maioria das vezes um bom filé e para variar,
prefere o peixe. Então instruí o chef a ter um prato de salada caesar com tomate, sempre a sua
disposição. Também organizamos uma agenda com suas comidas favoritas e algumas
criações dele que são pratos brasileiros e tenho certeza que você vai adorar.
Seu filé está pronto, mas eu gostaria que você experimentasse esse prato que
ele trará.
— Ok. — Fico a observando falar, é como se já fizesse parte da minha
vida.
— Aqui no Brasil chamamos de escondidinho de carne seca. — Ela tira sua
mão da minha e o prato é colocado a minha frente, o conteúdo parece uma torta e
uma porção de salada ao lado. Letícia explica. — É colocado purê de batata, o
chef deu seu toque adicionando um molho branco especial, a carne seca refogada
e mais uma camada de purê, finalizando com queijo.
— Parece delicioso. Obrigado.
— Espero que goste.
A comida não era boa, era simplesmente espetacular. Minha comida
preferida era a italiana até vir ao Brasil e conhecer a variedade de delícias.
Quando estive no Nordeste a primeira vez, Letícia providenciou que fossemos
servidos com tapioca, baião de dois, carne de sol e a minha preferência, bolo
de macaxeira. A sobremesa servida foi petit
gateau de doce de leite com sorvete de creme. Fantástico!
— No telefone você pareceu incomodada quando perguntei sobre os
seguranças.
— Não gosto das mudanças que estão acontecendo. Liam insiste que eu vá
morar em um apartamento maior, porque agora tenho que abrigar uma equipe com
quatro seguranças... Três porque dispensei um.
— Você conversou com o Larkin sobre isso?
— Sim. Ele esteve no Brasil para resolver isso comigo. Estava cansada de
discutir com Ethan. Então Liam veio me convencer que, de agora em diante, minha
vida seria essa.
Minha taça de vinho estava cheia, bebi de uma vez só para continuar a
conversa.
— Larkin ficou muito tempo?
— O suficiente para me convencer a não despedir os outros dois. Por mim
teria ficado somente com o Luck, agora tenho ele, mais um pitbull e um
motorista.
Letícia não é um tipo fácil de convencer, ele deve ter sido o motivo
dela ficar doze dias aqui antes de ir aos Estados Unidos. Ela está jogando
conosco, se não conseguir um, terá o outro para se satisfazer. É mais esperta
do que imaginei, acha que tem dois idiotas comendo na sua mão. Ela não perde
por esperar.
— Sinceramente, Zachary, eu detestei. Não quero isso para mim, é
desnecessário...
— Não, não é desnecessário. Você agora faz parte de uma companhia junto
com empresários que tem destaque mundial. Assim que a notícia se espalhou,
tenho certeza que as coisas mudaram na sua rotina.
— Não. Quando a notícia ganhou destaque nas manchetes, meu nome não
apareceu em nenhum lugar, graças a Deus!
— Princesa, você será alvo como nós somos, isso é jogo de gente grande. —Estranho
que uma mulher interessada em dinheiro, não esteja frustrada porque não saiu
nas manchetes. — Todos nós pensamos iguais quando se trata da sua segurança.
Acostume-se!
— Liam falou a mesma coisa.
Para mim a conversa acabou, nada mais vai descer. Estou com nojo de mim,
com nojo dela e de toda essa situação, está na hora de finalizar a porra dessa
aposta. Logo que me despedir dela, irei providenciar o local e avisar os outros
três, Ethan e Larkin serão avisados em cima da hora para evitarmos
aborrecimentos.
— Desculpa Letícia, estou quebrado da viagem e vou deitar. Vou pedir que
a levem para casa.
— Não é necessário, tenho quem me leve. Desculpa minha inconveniência,
eu deveria ter ido assim que o jantar acabou.
Eu não sei que merda de nojo é esse que sinto, que a minha vontade é
levá-la para minha cama e comê-la. Beijo-a com força.
— Durma aqui, tem um quarto preparado para você.
— Não...
— Fique. Amanhã à noite embarco para o Ceará e quero ficar até o último
minuto com você.
Vamos em direção às escadas, descemos três degraus e saímos da vista dos
funcionários. Jogo Letícia na parede e a beijo, seus braços passam pelo meu
pescoço, puxo uma de suas pernas para cima e esfrego minha ereção em sua
excitação. Ela puxa meus cabelos me deixando frenético e coloco sua calcinha de
lado, sem perda de tempo enfio dois dedos nela e seu gemido se torna um grito
de prazer. Viro-a de frente para a parede, suas costas em meu peito, fecho sua
boca com uma das mãos, enquanto a penetro com a outra.
— Você é como droga, vicia...
Seu corpo contrai, ela fecha os olhos e quando seu orgasmo explode, ela
grita na minha mão e suas pernas cedem, seguro-a ainda de costas e encosto
minha cabeça na sua. No que eu fui me meter, Senhor? Não tenho coragem de olhá-la
mais, não tenho controle sobre o meu corpo em sua presença. Preciso me afastar
imediatamente.
Caminhamos em silêncio até a porta da suíte em que ela vai passar a
noite. Beijo sua testa.
— Boa noite, princesa.
— Boa noite, Zachary...

Nenhum comentário:
Postar um comentário