Noah
Meus dias nessa Terra têm sido um verdadeiro inferno. Olho-me no espelho
novamente e vejo que está ficando cada vez mais escuro em torno dos olhos.
Algumas noites não dormidas, mais um soco no nariz que me rendeu dois olhos
roxos. Madison deixou a sua marca, no meu rosto!
Desde aquela maldita noite não tenho pregado os olhos. Porque cada vez
que os fecho, lembro-me do olhar de dor da Madison. Depois que ela saiu da
minha casa, eu corri atrás dela, mas foi inútil. Ela saiu em disparada com a
moto, deixando todos nós desesperados. Chris, Ben e eu conseguimos colocar
muita gente atrás dela, o problema é que a mulher é perita em sumir.
Começo a repassar aquela noite pela milésima vez. Liguei para a Madison
pedindo que viesse embora, já tinha dado seu horário e todos estavam aqui para
jantar, em comemoração ao seu aniversário. Alyssa e eu achamos uma boa ideia
fazer algo assim. Fui ligar do escritório e quando saí de lá, Carly estava em
pé na frente dos meus amigos.
— Não é uma boa hora para conversar, Carly.
— Temos que conversar agora, Noah – ela fala com arrogância.
Viro as costas e vou em direção a cozinha.
— Não é uma boa hora...
Então ela fala as palavras que fizeram meu mundo parar.
— Estou grávida de um filho seu, Noah.
— Não pode ser...
Ela entrega-me um papel com o logotipo de um laboratório bem quisto na
cidade e lá, a palavra “positivo”, está em letras enormes. Rebecka fala
tirando-me do pesadelo.
— Isso é possível, Noah?
— É...
Alyssa surta.
— A Madison vai me odiar para o resto da vida.
— Cunhadinha, não é hora de pensarmos em Madison. Estou esperando seu
sobrinho, está na hora de pensar em nós.
Respiro fundo e falo:
— Não existe nós. Existe meu filho e eu...
Rebecka aproxima-se de mim.
— Você se deitou com ela estando com a Madison? – aceno que sim e ela
continua, falando mais alto que nunca — Como você pôde? Logo você...
— Se serve de consolo, eu nem lembro o que aconteceu aquela noite. A
única coisa de que me lembro e tenho certeza foi de acordar com Carly.
Benjamin a segura enquanto ela desconta sua raiva em mim. Vejo Alyssa
chorando de raiva e nesse momento, Madison entrou. Ela veio até onde estamos,
olhou para o rosto de cada um e perguntou o que estava acontecendo. Eu ia
responder, mas Carly se adiantou e falou.
Vi seu olhar confuso. Ela não fez perguntas, apenas acenou e começou a
subir as escadas. Respirei aliviado, porque teria a chance de contar minha
versão e quem sabe ela poderia me perdoar. Mas o destino não colaborou, Madison
para no segundo degrau e pergunta de quanto tempo Carly está. Ela responde que
de sete semanas e então, meu mundo realmente veio abaixo.
Enquanto eu tentava fazer com que ela me ouvisse, Madison repetia que eu
a traí. Eu queria explicar que não lembrava, mas não tive a chance, ela me deu
um soco do nariz e deixou-me tonto. Teve a frieza de se despedir, subiu na moto
e saiu. Fui atrás dela, mas já era tarde.
Voltei para dentro e Rebecka veio até mim:
— Eu sempre me orgulhei de tê-lo como amigo porque eras uma das pessoas
mais retas que já conheci na vida. Estou decepcionada. Se alguma coisa
acontecer com a Madison, não tenha dúvidas que te culparei pelo resto da vida –
ela volta-se para Carly — E você conseguiu me mostrar o quanto uma mulher pode
descer para conseguir o que quer.
Ela sai, Alyssa sobe as escadas e olho para os meus amigos, que estão
tão perdidos quanto eu.
— Temos que encontrar a Madison.
Rapidamente cada um liga para os seus contatos e conseguimos colocar
alguns investigadores e seguranças nas ruas a procura dela. Já era tarde da
noite e nada. Onde você está, Madison?
Às cinco horas da manhã, os investigadores da Corte descobriram que ela
deu entrada aquela madrugada na emergência e no registro constava uma crise
nervosa e luxação na mão direita. Quando cheguei lá, ela já havia saído, soube
que Cole assinou sua internação e fui atrás dele na mesma hora.
— Bom dia, Aidan.
— Bom dia, Noah. Em que posso ajudá-lo? – ele pergunta sério.
— Quero falar com o Cole.
— Ele está dormindo. Bom, estávamos. Cole ficou no hospital até Madison
sumir. Depois que se cansou de procurá-la, veio dormir.
Passo a mão pelo cabelo e respiro fundo, exausto.
— Aidan por favor, se caso ver Madison, dê-me notícias. Eu estou
desesperado.
Despedimos e ele fecha a porta. Escoro-me na parede para pensar onde
Madison pode estar. Voltei para o carro e fui para casa, ainda tinha a parte
mais difícil, acertar minhas contas com a Carly. No caminho, ligo e pergunto se
Carly ainda estava lá, Martha responde que sim, que ela se negou a sair de lá
até eu chegar. Minha dor de cabeça piora.
Entro em casa e grito para a Martha trazer Carly até o meu escritório,
vamos acertar isso de uma vez. Ela entra.
— Satisfeita, Carly? Satisfeita com o carnaval que rolou na minha casa?
– pergunto irônico.
— Precisávamos resolver isso, Noah. Estou carregando um filho seu, você
tem que arcar com sua obrigação.
— E irei. Te darei uma boa pensão e serei um pai muito presente...
Ela grita:
— Não! Você tem que se casar comigo.
Rio amargamente.
— Nem se você fosse a última mulher da face da Terra. Benjamin se
encarregará das legalidades, da pensão enquanto a criança não nascer e quando
nascer, faremos o DNA. A partir daí conversaremos sobre um novo valor. Qualquer
coisa que precisar, é com Benjamin que deve falar.
— É assim que você me tratará? Como uma barriga de aluguel? Ficamos
juntos por dois anos, Noah Lancaster. Eu fiz coisas por você, que jamais teria
feito por outra pessoa.
Aceno para ela.
— Provou seu ponto engravidando. Agora dê-me licença, por favor. Tenho
que encontrar minha namorada.
Depois que ela saiu chamei Alyssa para conversar. Eu preciso fazer com
que minha irmã entenda que adoro Madison, que estou angustiado com o seu
sumiço. Ela entra e senta-se.
— Você tem alguma notícia da Madison, Noah? – ela perguntam-me com sua
doce voz.
— Não e estou ficando desesperado – dou a volta na mesa e abaixo-me em
frente a ela — Alyssa, eu não traí Madison conscientemente, jamais faria isso.
Realmente não sei o que se passou aquela noite. Sou louco por aquela ruiva, eu
daria qualquer coisa para voltar no tempo e mudar tudo. Saber que estou fazendo
ela sofrer está acabando comigo...
Alyssa sorri.
— Ela acabou com você mesmo. Já se viu no espelho?
— Não. Mas sinto uma dor desgraçada. Já tomei analgésicos e nada. Sem o
seu apoio, eu não sei até onde posso ir.
Ela me abraça.
— Você é um cretino filho da puta do caralho, mas é meu irmão. Eu te
amo, Noah e estarei sempre aqui para você. Só me faça um favor, não engravide
mais ninguém.
— Vou tentar – falo rindo — Desde quando seu vocabulário de palavrões é
tão extenso?
Ela apenas ri.
No outro dia, dois seguranças do clube trouxeram minha moto destruída
para casa. Quando vi aquilo, quase enfartei. Se a moto está assim, Madison
deveria ter se machucado muito. Mas um dos homens contou que foi a própria
Madison que fez isso. Onde provavelmente machucou sua mão.
Pedi que a colocassem ao lado da moto que comprei de presente de
aniversário para ela. Aquela ruiva dos infernos é viciada em velocidade, pensei
em dar um carro esportivo, quem sabe um igual ao do Ben, mas conhecendo-a como
a conheço, sei que não aceitaria. Mas a moto eu faria questão que ela ficasse.
Madison gosta da cor preta, diz que é mais imponente, então comprei uma BMW S1000RR, igual a minha, só que
mandei personalizá-la. No tanque tem as iniciais da moto entrelaçadas com as
dela, como se seu nome fizesse parte da marca. Nas laterais tinha o nome
“Madison”. A moto é exclusiva, saindo da linha de montagem direto para minha
garagem para presenteá-la.
De lá para cá foram dias sem notícias da Madison e isso está acabando
comigo. Coloco meus óculos, que agora fazem parte do visual, pelo menos
enquanto estiver com olhos roxos. Vou em direção ao Secret Garden, preciso conversar com a Rebecka esclarecer tudo. Ela
é uma das minhas melhores amigas, tem que me ajudar...
Entro no clube e vou direto para o escritório dela e encontro
Christopher e Benjamin sentados diante da Becka, que faz uma careta quando me
vê. Sento na minha cadeira de sempre e percebo que a da Madison ainda está ali.
Deve ser bom sinal. Christopher e Benjamin me cumprimentam, vou até Rebecka e
dou um beijo em sua cabeça, ela aceita de bom grado, porque no fundo nos
amamos.
— Você está péssimo, Noah – ela fala — E nem estou falando dos roxos,
sua aparência está cansada.
— Estou há dias sem dormir preocupado com a Madison – olho para Rebecka
abrindo meu coração, para que ela veja pelos meus olhos — Becka, eu não transei
com a Carly conscientemente. Eu nem sei que inferno se passou aquele dia.
— Estou sabendo – ela fala com carinho — O problema, meu amigo, é que
você machucou a Madison, você a traiu. Para piorar, Carly agora tem um filho
seu e dessa mulher, não se livrará tão cedo.
— Vamos esquece-la, ok? Vamos nos concentrar em Madison. Eu preciso
saber notícias dela...
— Dela quem? – Madison entra no escritório com uma prancheta na mão —
Boa noite, senhores.
Levanto-me e vou até ela, olho-a de cima a baixo e vejo que está
inteira. Apesar da mão enfaixada, parece que todo resto está bem. Muito bem,
por sinal. Ainda mais dentro dessas calças de couro.
— Eu estou te procurando como um louco há dias, Madison. Como você está?
– pergunto.
Ela sorri, mas a tristeza em seus olhos não passou em branco.
— Estou muito bem, juiz Lancaster. Coisa que não posso dizer do senhor.
O que houve com seu lindo rosto? Até parece que alguém o socou.
Os outros começam a rir e quando viro-me na direção deles, todos param
de sorrir imediatamente e saem, deixando apenas Madison e eu.
— Precisamos conversar, ruiva.
Ela senta-se na cadeira que Rebecka acabou de desocupar e mantem sua
atenção no computador.
— Sobre sua moto? – ela faz cara de assustada — Desculpe-me, excelência.
Um carro desgovernado passou por cima – coloca a mão na boca —Ops!
— Madison, eu não sei o que se passou naquela noite com Carly, é tudo
muito nebuloso. Eu não lembro como as coisas aconteceram. Me dá um crédito, por
favor.
— O crédito que você precisa, está na barriga daquela mulher – ela
levanta-se e vai em direção a porta. Mas antes de sair, volta-se para mim — Só
sinto pela sua escolha, Carly não é uma boa pessoa. Você já deveria saber
disso.
Vou atrás dela e a encurralo no canto da parede do corredor.
— Eu preciso de você na minha vida, Madison. Me perdoa, pelo amor de
Deus.
— Perdeu a oportunidade, excelência. Agora deixe-me ir porque preciso
trabalhar.
E lá se foi a ex quase futura mulher da minha vida.
— Está lindo como sempre, Noah – diz Harriet — Os hematomas se curaram
completamente.
— Graças à Deus. Cheguei a usar a maquiagem da Aly.
Ela ri e sai da sala balançando a cabeça. Final de expediente, não sei
se vou para casa ou para o clube. Ultimamente tenho ido aquele lugar somente
para vigiar Madison e passar raiva. Aquela ruiva dos infernos tem feito os meus
dias um tormento.
Decido ir para o clube e tentar relaxar, pois faz mais de quinze dias
que só perco a paciência. Ela desfila pelo clube com aquelas roupas cada vez
mais curtas e mais justas, os homens só faltam cair nos peitos dela. Semana
passada tirei do clube a socos um infeliz bêbado que estava cercando ela. Olho
para o processo em cima da minha mesa e resolvo terminar de lê-lo antes de ir.
Chego no clube por volta das dez, vejo a casa cheia para a estreia de
uma nova dançarina. Rebecka e Madison começaram a fazer isso há algum tempo,
enviam convites para um grande show ou estreias, como será hoje. Cumprimento os
conhecidos e dirijo-me até o bar onde Christopher e Ben estão sentados para ver
o show.
Procuro por Madison mas não a encontro em lugar algum. Peço para o Ramon
minha cerveja e fico mexendo no celular. O ambiente já estava a meia luz, mas
com o toque da música, elas se apagam totalmente. Uma música de batida forte do
The Weeknd – The Hill, a conheço
porque Madison escutava insistentemente, enquanto a menina nova aprendia a
coreografia.
— Puta que pariu! – Ben fala pulando da banqueta do bar.
— Fodeu! – Christopher faz a mesma coisa.
Viro-me para ver o que estava acontecendo e arrependo-me na mesma hora.
A luz central está no centro do palco iluminando Madison vestida com uma
espécie de colete na cor branca fechado apenas por um botão, tão justo que fez
seus seios quase pularem para fora. Daqui vejo parte do sutiã preto de renda que
torna tudo ainda mais explícito. A saia é muito curta, se ela abaixa, dá para
ver seu útero. As meias-finas pretas sete oitavos contornam suas pernas e
aquela cinta-liga fode com o psicológico de qualquer um.
Enquanto a música rola, ela desce no poste, rebola, faz caras e bocas,
deixando-me cada vez mais na borda da minha ira. Os idiotas, aplaudiam e
gritavam, a desejam, querem o que é meu, caralho! Juro por Deus que mato um por
um...
“...Quando eu estou
fodido, esse é o verdadeiro eu... Eu só te fodo quando são cinco e meia, a
única hora em que eu vou te chamar de minha. Eu só gosto quando você me toca,
não me sente. Quando eu estou fodido, esse é o verdadeiro eu. Quando eu estou
fodido, esse é o verdadeiro eu...” – Nesse verso ela
passa a impressão de que está cavalgando, usando a cadeira como apoio. Eu não
suporto e levanto para ir em direção ao palco e tirá-la de lá.
Chris e Ben seguram-me e vejo que dois seguranças também se aproximam.
Volto meu olhar para o palco e vejo Madison de quatro no chão apontando para um
filho da puta. Todos vidrados nela como se fosse uma miragem no deserto. A dor
no meu peito é tão intensa que começo a quebrar tudo o que tinha no balcão do
bar. Tento desvencilhar-me de quem me segura e eles me arrastam para fora dali.
Antes de sair, Madison olha para mim e repete as palavras da música – “Quem é você para julgar, quem é você para
julgar? Esconda suas mentiras, garota, esconda suas mentiras...” – desisto
de lutar e saio dali por conta própria.
Vou para a sala privada e fico andando de um lado para outro, na
intenção da minha ira dissipar-se, mas quanto mais ando, mais aumenta. Que
porra a Madison está fazendo? Como ela pode fazer aquele número? Caralho, ela é
minha!
Rebecka entra e olha-me apreensiva. Dou um passo em sua direção, ela dá
um passo para trás com medo. Benjamin e Christopher entram na minha frente.
— Acham mesmo que eu bateria na Becka ou em qualquer mulher? – pergunto
indignado.
— Não sabemos. Nunca te vimos assim, cara. E isso está nos deixando
preocupados, Noah. Você pode ter um treco.
Volto-me para Rebecka.
— Eu jamais te machucaria, Becka. Eu jamais machucaria um ser, meu Deus.
Ela vem até mim e me abraça.
— Eu sei, meu amigo. Eu sei... Acalme-se, Noah. Por favor.
Assim que ela me solta, alcanço um vaso que está no canto e arremesso na
parede, assustando todos na sala.
— Cada vez que a imagem dela seminua vem a minha cabeça, minha fúria
extrapola...
— O que está acontecendo aqui? – Madison entra na sala privada vestida
com sua habitual roupa, um vestido e o casaco. Graças à Deus está coberta.
Vou para cima dela.
— Como você pôde fazer aquilo? Enlouqueceu?
Ela olha sem muita paciência para os outros e volta seu olhar para mim.
— Antes de qualquer coisa, Ramon está fazendo o levantamento de tudo o
que você destruiu no bar – ela coloca o dedo na minha cara — Não é porque você é
conselheiro desse clube que pode sair por aí destruindo tudo. Amanhã uma fatura
chegará no seu gabinete.
Passo a mão pelos meus cabelos e os puxo para ver se aplaca minha raiva
e a vontade beija-la. Respiro fundo algumas vezes, tento me recompor e volto a
falar com ela.
— Por que, Madison?
— Por que, o que, Noah?
— Por que você foi dançar no palco com aquela roupa?
Ela olha para mim e o que vejo em seus olhos, tem a mesma intensidade de
uma facada no peito, desprezo.
— Porque a menina passou mal. Porque eu quis. Porque eu posso. Porque eu
não devo explicação a ninguém. Porque sou livre para fazer o que bem entendo –
sua voz vai aumentando — Porque tenho que superar uma nova traição. Porque o
cretino engravidou uma cadela. Porque dói cada vez que eu relembro de tudo que
se passou...
Eu a abraço e ela me bate sem parar no peito — Calma, por favor.
— Eu te odeio, Noah... Eu te odeio...
— Eu te amo, Madison...
Ela desvencilha-se de mim e afasta-se.
— Por que você faz isso? Por que insiste em me machucar dessa maneira?
Seu olhar diz tudo o que preciso saber, eu perdi a guerra. Eu poderia
passar a minha vida tentando convencê-la de que a amo, mas de nada adiantaria.
Madison já tem suas convicções bem arraigadas e uma delas é não perdoar quem a
traiu. Vou até ela, beijo sua testa e falo:
— Você pode não acreditar, mas eu te amo. Adeus, Madison.
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