Madison
Vejo Noah sair da sala privada e fico ali parada, olhando na direção da
porta. Ele disse que me ama, duas vezes. As pessoas não podem sair por aí
falando que amam as outras sem sentir exatamente isso. Não é justo com quem
ouve e se ilude.
Vou para o escritório da Rebecka e tranco-me lá. Encosto-me na porta e
deslizo por ela, até chegar ao chão, da mesma maneira que minhas lágrimas
deslizam pelo meu rosto. Por que você me traiu, Noah? Por que? Venho
perguntando isso há dias. Onde foi que eu falhei dessa vez? Porque não há
explicação ser traída duas vezes, o problema só pode estar em mim.
Não lembro da última vez que chorei, já tinha esquecido como as lágrimas
de dor pesam. Passo a mão pelo meu peito, na expectativa de tirar essa faca que
está cravada no meu coração. “Eu te amo,
Madison...”, por que você fez isso, Noah? Como pôde trair se me amava? E
aquele adeus doeu como se tivessem me abrindo sem anestesia.
Não sei quanto tempo fiquei ali no chão lamentando minha desgraça de
vida amorosa. Levanto-me, vou até o banheiro a me arrumo novamente. Circulo
pelo clube, cumpro com as minhas obrigações e atendo todos no automático. Tudo
o que eu queria era ir para casa e não sair de lá nunca mais!
Passei a noite trabalhando no Secret
Garden, quando minhas obrigações de gerente acabaram, fui para o bar ficar
como barmaid. Às vezes Ramon merece
uma folga para circular também. Não vi Rebecka, Christopher ou Benjamin pelo
resto da noite. Fui cumprimentada por todos por causa do número que apresentei,
recebi flores e inúmeros convites dos clientes. Dispenso tudo...
Quando saí do clube o dia já estava claro. Fui caminhando até em casa,
entrei, fechei a porta e morri para o mundo. Preciso digerir tudo o que se
passa na minha vida e desfazer-me de sentimentos que não tiveram a oportunidade
de virem à tona.
Por quatro dias, não saí de casa. Fiquei mofando no sofá, porque nem
coragem de ir para cama eu tive. Vi filmes horrorosos, chorei incontáveis
vezes, tomei litros de sorvete e vi que estava no fundo do poço quando colocava
o chantilly direto na boca.
Desliguei todos os meus telefones, apenas mandei uma mensagem para a
Rebecka dizendo que não estava bem, também não esperei para ver a resposta.
Minha casa estava um lixo, há dias não faço nada, apenas tomo banho e vegeto.
Ah sim, e me masturbo pensando em Noah.
A mulher é doente.
Levanto do sofá e a primeira coisa que faço é abrir a casa para que o ar
puro circule e leve embora a derrota que é a minha vida amorosa. Limpo a casa e
tomo um banho para lavar a alma, porque ela estava precisando. E quando tudo estava
pronto, sento-me a frente do computador e abro meu e-mail. Tinha esquecido que
programei um alerta para as notícias do Noah. Tudo o que sai nas mídias sobre
ele, é enviado na minha caixa de entrada.
O título da primeira era, “O
excelentíssimo juiz Lancaster, volta a desfilar com belíssimas acompanhantes.
Dessa vez, sua amiga era nada mais, nada menos que uma das coelhinhas de Hugh
Hefner”. Noah estava com um braço na cintura de uma loira com peitos
enormes. Seu sorriso para ela era iluminado.
— Quatro dias, Noah? Você conseguiu afogar esse amor que você diz que
sente, em quatro medíocres dias?
Abro o segundo e-mail que tinha fotos dele com os meninos em um jantar
do prefeito. Mas ele não estava sozinho, dessa vez, era uma morena muito
bonita. Os outros e-mails eram basicamente os comentários de seu
profissionalismo. Ele é um dos melhores juízes do país, destaca-se em trabalhos
sociais e é responsável por tirar muitas famílias da situação de
vulnerabilidade.
Estava para fechar o programa de correio eletrônico, quando uma nova
mensagem chegou e era em nome de uma das minhas irmãs. Fico na dúvida se leio
ou não, afinal, o que querem depois de tanto tempo? No assunto está apenas,
“importante”. Abro e leio:
Madison,
Eu
não sei se você receberá essa mensagem. Lembro que usavas esse endereço
eletrônico antigamente e resolvi arriscar. Papai teve um novo infarto e está
hospitalizado há dois dias. Ele chama por você a todo momento. Mamãe disse que
se entrássemos em contato, nos deserdaria também, mas não acho justo, ele quer
te ver, ele precisa te ver.
Por
favor não o ignore, temo que ele não suportará.
Att.
Marla.
Só me dou conta das minhas lágrimas, quando elas começam a pingar sobre
a minha mão. Meu Deus, meu pai não está bem novamente. Ele se lembra de mim e
quer me ver.
Levanto e corro até meu quarto, arrumo uma pequena mala, ligo para o
estacionamento aqui perto e peço para trazerem meu carro. Ligo meu celular e
digito uma mensagem rapidamente para Rebecka:
“Becka,
meu pai está hospitalizado novamente e estou indo para lá. Não sei se a minha
mãe permitirá que o veja, mas preciso tentar. Eu não quero que ele parta sem
saber que o amo. Não tenho data para voltar, peço que me dê as férias vencidas.
Obrigada.
Beijos.
Madison”.
Desligo o telefone e o jogo na bolsa. Eu sei que ela me ligará
exaustivamente e vai querer ir comigo. Mas tenho que fazer isso sozinha. A
campainha toca e desço as escadas com a pequena mala.
Entro no carro e vou em direção a cidade que deixei para trás há tanto
tempo, Leesburg na Virgínia. Onde minhas boas lembranças, foram substituídas
por momentos ruins. A viagem é longa, tem muita estrada pela frente. Ligo o som
para me distrair, mas o universo é um cachorro louco e eu sou o pé de mesa que
ele insiste em foder. Cisma em me fazer lembrar daquilo que quero esquecer. A
letra da música entra pelos meus ouvidos, vai direto ao meu coração que tem uma
ligação direta com os meus olhos. E lá vem mais lágrimas.
Dirijo cantando alto Stay With Me
do Sam Smith e chorando como uma
maluca — “Por que estou tão emotivo? Não,
não dá para ficar assim, preciso de autocontrole e lá no fundo eu sei que isso
nunca funciona. Mas você pode deitar aqui comigo para que não doa. Oh, por que
você não fica comigo? Pois você é tudo o que eu preciso. Isso não é amor, está
bem claro. Mas amor, fique comigo...”.
Depois de cinco horas de viagem, cheguei ao meu destino, que não mudou
nada. Vou para um hotel na entrada da cidade, entro e faço meu check-in. A
recepcionista olha para mim com um sorriso estranho, olho para os lados para
ter certeza que é comigo mesmo. Alcanço a ficha que assinei e espero a minha
chave.
— Você não é a Madison Harver? – ela me pergunta assim que entrega-me as
chaves.
— Sim, sou.
— Você é uma lenda por aqui – ela fala com um sorriso estranho e já está
me dando medo.
Sorrio e aceno. Vou em direção ao elevador e depois para o quarto. Penso
se devo tomar banho e descansar ou ir direto lá. Abro minha mala e tiro o que
preciso, corro para o banheiro, tomo uma ducha rápida e vou para o hospital.
Já é noite, entro e pergunto em qual quarto Harry Harver está, ela me
indica que está no final do corredor, primeira a direita, último quarto a
esquerda. Ok, eu consigo chegar lá, se minhas pernas contribuírem com os
comandos do cérebro. Caminho rezando para que Deus cuide do meu pai e para que
minha mãe permita que eu o veja.
Assim que viro no corredor, avisto minha família ao fundo, todos juntos
ao lado de uma porta. Na medida que me aproximo, mais fico nervosa. Não sei o
que esperar desse encontro com eles. Marla é a primeira a me ver e vem em minha
direção com os braços abertos.
— Mad, que saudades – ela aperta-me em seus braços. Não lembrava como
éramos tão parecidas. Marla é a mais velha.
— Como ele está? – pergunto.
— Está instável, poucos momentos de lucidez e a maior parte do tempo
dormindo.
— O que ela está fazendo aqui? – ouço minha mãe de longe — Foi você que
chamou ela, Marla? É assim que você deseja a melhora do seu pai? – ela volta-se
para mim — Você não é bem-vinda.
— Deixe-me vê-lo, por favor, mãe? – imploro.
— Eu não sou sua mãe, desde o dia em que você fez toda aquela desgraça.
Não, não verá. Saia daqui ou chamarei um segurança.
Meu Deus, como essa mulher pode ser tão fria? Nem com o seu marido a
beira da morte ela amolece aquele coração. Eu sou filha, sangue do seu sangue,
como não se compadece? Meus olhos umedecem e mais uma vez peço.
— Por favor, deixe-me vê-lo por um minuto.
— Não. Não há mais lugar para você aqui, Madison.
Andei até o final do corredor de cabeça baixa, sentei na última cadeira
e chorei, até que não restasse mais nenhuma lágrima. Fiquei ali olhando a
movimentação, pessoas iam, pessoas vinham e nada da minha mãe permitir que meus
próprios parentes se aproximassem de mim. Pedi informações sobre a situação do
meu pai e as enfermeiras disseram que minha mãe as proibiu de divulgarem
qualquer coisa.
Voltei a sentar e uma senhora em seus quarenta anos, baixa, morena e de
cabelos curtos, roupa de enfermeira, chega e fala para mim:
— Madison?
— Sim...
Ela abre um sorriso afetuoso e me entrega um café.
— Você foi professora da minha filha, a ensinou ler e escrever. Até
hoje, quando ela desenha, você é a princesa que ela pinta. Jamais esqueceu da
“Tia Mad” – ela coloca a mão no meu ombro — Não é justo o que estão fazendo com
você e eu como filha, sei o quanto isso dói. Bom, o quadro do seu pai está
estável no momento, ele anda sob forte estresse e o fato de ser um homem forte,
contribuiu para esse diagnóstico, senão, ele poderia ter morrido. Ele ficará
bem, não duvide disso.
Pego a sua mão e aperto entre as minhas.
— Obrigada. De coração, muito obrigada.
Ela me dá um pequeno sorriso e se vai. Procuro meu celular nos bolsos e
não encontro, acho que deixei no hotel. Vou para a capela do hospital e lá
ajoelho-me, choro e peço a Deus um milagre, qualquer um.
Perco a noção do tempo orando e olhando para o nada. Saio e vejo que o
dia já amanheceu. Vou ao banheiro lavar o rosto, ajeito o cabelo e volto a
sentar na cadeira, que será minha casa pelos próximos dias. Só sairei daqui
quando meu pai tiver alta.
O dia passa lentamente, tenho a oportunidade de repensar toda a minha
vida e o que fazer dela. A enfermeira que falou comigo ontem, trouxe-me um
livro que conta a história de um casal que mesmo ele sendo um babaca, o que era
mesmo, superaram suas diferenças e tiveram seus “felizes para sempre”. Já falei que odeio quem inventou essa
expressão?
Quando eu já não suportava mais, corpo e mente cansados, estando prestes
a desistir de tudo, sinto alguém tocar meu joelho. Levanto a cabeça e encontro
um par de olhos verdes, um velho conhecido dos meus sonhos. Não sei se é um
sonho ou uma miragem, só pulo em seu pescoço e o abraço forte com medo que ele
se vá.
— Noah...
Não consigo conter as lágrimas, não sei se é de alegria ou tristeza. Eu
já não sei mais nada.
— Calma. Estou aqui – ele fala comigo em um tom doce, passando suas mãos
pelas minhas costas para confortar-me.
Solto-o e olho para cima e vejo Benjamin, Rebecka e Alyssa. Levanto-me e
abraço todos com a mesma emoção. Depois de acalmar-me, seco minhas lágrimas e
pergunto:
— O que estão fazendo aqui?
Rebecka senta-se ao meu lado e pega minha mão.
— Estamos aqui por você. Jamais te deixaríamos sozinha nesse momento,
Mad. Como está seu pai?
— A enfermeira disse ontem que ele está se recuperando bem.
— E? – Alyssa pergunta.
— Não sei, Aly. Minha mãe não permite que eu o veja, proibiu qualquer um
da minha família se aproximar de mim e as enfermeiras de me darem informações.
Percebo que eles se entreolham e ficam em silêncio. Noah senta-se e me
puxa para a cadeira ao lado, abraçando-me novamente.
— Tudo ficará bem, Madison. Tudo ficará bem... – ele volta-se para Ben —
O que podemos fazer?
Nisso Christopher chega causando um furor no hospital. Ele entra
imponente com seus assessores e seguranças ao redor. Ele vem a frente, abrindo
seu terno, com cara de quem não teve uma boa noite de sono. Sua cara é de mau,
aliás, Chris tem isso a seu favor. Essa cara o deixa extremamente sexy. Ele vem
em nossa direção e assim que me vê, abre um sorriso doce e me abraça.
— Como está a minha ruiva preferida?
— Melhor agora – olho para trás dele — Por que seu exército está aqui?
Ele revira os olhos.
— Não sei, até agora não entendi porque estão aqui. Quando o Benjamin me
ligou contando, pedi que arrumassem minha vinda imediatamente e as malas – ele
aponta para sua equipe — Vieram junto.
Rebecka fala:
— Madison, você comeu alguma coisa? Dormiu pelo menos? – aceno que não —
Você não saiu daqui para nada?
— Não. Só sairei daqui quando ele tiver alta.
— Chris, ela não pode ver o pai. Será que vocês três não podem fazer
nada? – Alyssa fala.
Noah, Ben e Chris conversam entre si e logo Chris sai, Noah volta a
sentar ao meu lado. Rebecka sai em seguida com a Alyssa e o exército do
Christopher diminui, ficando somente dois seguranças. Ficamos em silêncio, não
precisávamos dizer nada, palavras não eram necessárias nesse momento. O afeto
que os trouxe aqui é tão forte, que sinto-me protegida de todo mal.
Depois de algum tempo, Chris volta com um senhor de terno e outro que
parece ser o médico. Ele acena, Benjamin e Noah levantam-se e estende-me a mão.
Noah sorri e fala:
— Vamos ver seu pai, senhorita Harver.
Acompanho esse batalhão até a porta do quarto em que meu pai está
internado. Minha mãe olha-me com raiva, Noah coloca-se a minha frente e fala:
— Senhora Harver, eu sou o juiz Noah Lancaster – ele aponta para os
outros — Esse é o deputado Christopher O´Donnell e o doutor Benjamin Graham,
advogado. Estamos aqui para que a sua filha usufrua o direito de ver o pai...
Minha mãe o corta:
— Não mesmo! Ele é meu marido e não pode responder por si, sendo assim,
eu tomo as decisões. Ela não entra!
Sinto Noah ficar tenso. Ele continua.
— O diretor do hospital está aqui e vai entrar junto com o médico, eles
perguntarão ao seu marido se ele quer ver a filha. Se caso a resposta dele for
sim, Madison entrará. Caso for não, a levaremos de volta para casa, onde é o
lugar dela.
— Vocês não podem fazer isso! – ela fala indignada.
Noah responde:
— Então olhe!
Eles entram juntamente com minha mãe. Chris e Benjamin ficam comigo no
lado de fora. Em menos de cinco minutos, todos eles saem e Noah segura a porta
para que eu entre. Olho com gratidão. Entro e vejo meu pai ligado a vários
aparelhos, oxigênio no nariz, mais magro do que da última vez que o vi.
Aproximo-me apreensiva e assim que ele me vê, seus olhos umedecem.
— Madison... – sua voz era rouca.
— Oi, pai – por mais que eu tente segurar minhas lágrimas, falho
vergonhosamente — Eu senti tanto a sua falta...
— Meu bebê... – ele tenta sorrir.
Sento-me na cadeira que há ao lado da cama e seguro sua mão.
— Eu te amo tanto, pai – beijo sua mão e a encosto no meu rosto.
— Também te amo, meu bebê – ele tem certa dificuldade em falar — Eu
sempre pensei em você, não a esqueci nem por um minuto se quer.
— Eu não sei quanto tempo poderei ficar aqui dentro, mamãe não está
muito feliz com a minha presença. Só quero que saiba, que somente irei embora
quando saíres daqui. Ficarei ali fora quietinha, orando para que Deus cuide do
senhor – mais lágrimas voltam a cair.
Alguém bate na porta e Rebecka, Alyssa, Noah, Chris e Benjamin, entram.
Sorrio para todos eles. Volto-me para o meu pai e aponto para eles.
— Esses são os responsáveis pela minha entrada nesse quarto.
Christopher é o primeiro a se aproximar e o cumprimenta.
— Prazer, senhor Harver. Eu sou o Christopher. Agora sabemos de quem a
sua filha puxou a força. Fique bom logo e vá nos visitar em Nova York.
— Meu nome é Benjamin. Espero que recupere-se logo. Assim que for a Nova
York, vamos levá-lo em umas boates para comemorar sua recuperação – Ben e suas
ideias.
Rebecka pega a mão dele.
— Desejo do fundo coração que melhore rápido. Amamos sua filha e a
queremos sorrindo novamente. Eu sou a Rebecka, mas pode me chamar de Becka e
ficarei aqui até que o senhor saia.
Alyssa é a próxima e dá um beijo em seu rosto.
— Meu nome é Alyssa, também ficarei aqui para acompanhá-los de perto.
Fique bem, senhor Harver.
Noah aperta sua mão e fala:
— É um prazer conhecer o responsável que nos presenteou com a Madison.
Assim como ela é importante para nós, o senhor também o é. Não se preocupe com
nada, somente em se recuperar e quando isso acontecer, estaremos lhe esperando
para comemorar. Todos os meus contatos estão com sua filha Marla, qualquer
coisa que precisar basta me ligar.
Ele solta a mão do meu pai e beija minha testa. Todos saem do quarto,
deixando-me novamente sozinha com o meu pai que está extremamente emocionado. O
médico entra e diz que já está na hora de sair. Beijo o meu pai e vou.
Saio do quarto e dou de cara com a minha família conversando sobre os
meus amigos. Meus cunhados estavam empolgados por conhecerem os famosos que
vieram com a cunhadinha. Tenho nojo desse tipo de coisa. Balanço a cabeça e vou
em direção daqueles que me querem por perto.
Christopher passa seu braço pelos meus ombros e fala:
— Por mais que eu quisesse ficar, não posso. Tenho que voltar para
Washington, tenho uma reunião na primeira hora da manhã – ele beija minha testa
— Audrey te mandou um beijo. Se cuida, ruiva. Nos vemos em casa.
Ele se despede e vai com seus seguranças no encalço. Benjamin também se
despede:
— Amanhã temos um julgamento difícil e não sei quando terminará, então,
acho que não poderei voltar para ficar com você tão cedo. Se cuida, princesa.
Estamos com você e qualquer coisa que precisar, ligue.
— Eu também não poderei ficar – Noah faz uma careta — O julgamento
difícil é na minha Corte. Promete que vai se cuidar? – aceno que sim. Ele beija
minha testa demoradamente — Eu te amo, Madison.
Afasto-me dele.
— Deveria ter pensado nesse sentimento antes de foder com outra.
— Você nunca me perdoará por isso, não é? – a tristeza dos seus olhos
mexe comigo.
— Não. Eu vi fotos suas com outras mulheres. Quatro dias, Noah. Em
quatro dias você desfilou com duas mulheres diferentes em festas e quer que eu
perdoe a primeira traição? Se é que foi a primeira.
Ele passa as mãos pelos cabelos e respira exasperado.
— Tudo bem. Se cuida.
Volto-me para Rebecka e Alyssa que nos olhavam apreensivas. E abro meus
braços para despedir-me delas.
— Obrigada por terem...
Rebecka senta na cadeira ao meu lado.
— Nós ficaremos, meu amor. Querendo você ou não.
As duas sentam-se nas cadeiras e eu começo a rir. Quem tem amigos, tem
tudo!
Alguns dias se passam e meu pai recebe alta, totalmente recuperado e sem
sequelas. Graças à Deus. Os dias em que ficamos no hospital, minha mãe fazia
cara feia quando eu entrava no quarto, mas um dos meus cunhados explicou para
ela que os caras que estavam comigo eram importantes demais para ela ir contra
mim. Gente esperta, é outro nível.
Alyssa ficou comigo todos os dias e Rebecka teve que voltar por causa do
clube. Benjamin e Christopher, ligavam-me todo o santo dia. Ben ainda fazia
questão de falar com meu pai. Noah não entrou em contato, talvez seja melhor
assim.
Quando meu pai recebeu alta, ficou preocupado como pagaria a conta.
Visto que foi internado com urgência e esse hospital é particular, com certeza
o plano de saúde não cobriria tudo. Fui resolver isso, porque tenho um bom
dinheiro guardado, poderia pagar. Chegando ao departamento financeiro do
hospital, tive uma grande surpresa. A moça disse-me que todo o tratamento do
meu pai já estava pago e quem pagou, exigiu que dessem o melhor tratamento a
ele. Não tenho dúvidas que todos os meus amigos que estiveram aqui contribuíram
para isso.
Mas nada me chocou tanto quanto as coisas que meu pai me contou. Ele
disse que estava se divorciando da minha mãe, que já não aguentava mais seus
ataques histéricos e pegou ela se esfregando no jardineiro. Meu coração afunda,
eu sou culpada por isso. Ele continua falando, conta que já não tinham relações
íntimas há mais de dois anos, antes da minha saída da cidade. Minha mãe falava que
sexo da maneira que ele queria era pecado. Pelo jeito, esfregar-se no
jardineiro não é.
Marla foi a única que o apoiou em todo o tempo, ele fala dela com um
lindo sorriso. O problema das minhas irmãs sempre foi minha mãe, com suas
convicções transloucadas e verdades questionáveis. Escondendo-se sempre atrás
da religião. Soube que está aposentado há seis meses e desde então vem se
estressando constantemente com a minha mãe.
— Que tal o senhor vir passar uns dias comigo em Nova York? Ficar longe
de tudo isso aqui?
— Boa ideia. Assim que o médico me liberar, irei ficar alguns dias com
você. Posso te fazer uma pergunta, Mad?
— Sim.
Ele olha para mim, provavelmente deve estar pensando se deve ou não
perguntar.
— Os seus amigos são gente boa, não precisei conhecê-los a fundo para
ver o quanto te amam. As meninas ficaram dias longe de suas casas, somente para
cuidar de você. Mas um deles chamou minha atenção... – seu olhar é analítico —
Não lembro o nome dele, o loiro. Parecido com a menina Alyssa.
— Noah, o irmão dela. O que tem ele, pai?
— Ele gosta de você.
Desvio meu olhar e respiro fundo.
— Não sei.
— Eu sei. Aquele brilho no olhar não é de um amigo, Mad.
Levanto-me e vou até a janela.
— Ele me traiu e agora a mulher está grávida. Não acredito que quem ama,
trai...
— Entendo... A vida às vezes pode ser cruel, bebê.
— Eu sei, pai. Eu sei...
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