sábado, 22 de março de 2014

SÉRIE SANTUÁRIO 01 - A HISTÓRIA DE NÓS DOIS - Capítulo 01


A História de Nós Dois
Caetano e Marina

Série Santuário

Conto 1

Capítulo 1

       Caetano desceu do veículo 4x4, tirou os óculos escuros e satisfeito, por esta ultima missão, estar chegando ao fim, contemplou a casa que ele e sua equipe chamavam de “santuário”.
A casa térrea e ampla estava localizada no interior da Mata Atlântica, em algum lugar entre os estados de São Paulo e Paraná.

A construção aparentemente simples e acolhedora, na verdade era uma fortaleza, construída para enganar os olhos e ser impenetrável. No subsolo, abrigava tecnologia que o exército brasileiro sequer ousava sonhar em adquirir de tão sofisticada e cara. No térreo, blindagem especial, alarmes e travas, somados aos homens especificamente treinados, tornavam o “santuário” no lugar ideal para garantir o “desaparecimento” e segurança daqueles a quem eles protegiam.

A vista era um bônus adicional, muita mata nativa e a beleza tranqüila e intocada do rio que cortava toda aquela região, em conjunto formavam uma visão exuberante que  enchiam os olhos e esse era o único motivo que para ele, tornava essa missão, apenas tolerável.

          Ele e o irmão Conrado eram donos de uma das maiores empresas de segurança corporativa da América Latina a Abaré. Esse era o negócio “legal”, por assim dizer. Para o mundo, o nome de Conrado Montessori era Álvaro Nascimento, um executivo que dirigia uma empresa de sucesso. A verdade era conhecida apenas por um pequeno e privilegiado grupo. A empresa possuía também um esquadrão treinado por ex – soldados das forças especiais de vários países, especialistas em missões de alto risco. Homens e mulheres, “sem identidades”, enviados a diversas partes do mundo, para missões que nunca “existiram”.

        Álvaro era o homem que ficava atrás da mesa, dando cobertura e que raramente saía a campo. O grupo de elite dessa “secreta organização” era formado por cinco homens altamente treinados na arte da guerra e dos disfarces e há um mês esse esquadrão estava sitiado no santuário bancando de babá para uma freira.

          -  Cara... ele está me devendo a alma. – resmungou consigo mesmo referindo-se ao irmão que o obrigara aceitar essa missão, que até agora não lhe havia descido pela garganta.

Respirou fundo e  recolocou os óculos escuros e inconscientemente olhou para o caminho de acesso a propriedade. Aliviado, pelo fim, a seu ver, da nefasta missão, entrou na casa. De guarda logo na entrada encontrou João, esse era o nome pelo qual o homem respondia nesse trabalho.

Trocaram um breve cumprimento e enquanto depositava a mochila e os óculos numa das poltronas sentiu um arrepio na nuca, seu radar natural para problemas. Ele praguejou em pensamento.

         - Qual é o problema? Onde ela está? – perguntou sem rodeios e no mesmo instante notou o que o alertara: o silêncio incomum desde que eles trouxeram a freira para o santuário.

            - Na varanda norte. – João respondeu assinalando a direção com a cabeça. – E antes que pergunte, todos os protocolos de segurança foram seguidos antes de a deixarmos sair e “André” está fazendo a segurança externa. - Caetano se dirigiu a janela, quase que inconscientemente, não deixou de notar, porém o mau humor no tom de voz do sempre bem humorado “João”. Lá estava ela, sentada num banco da varanda, com um livro na mão e com o hábito impecavelmente branco, a personificação da razão do seu mau humor nos últimos trinta dias: Irmã Maria da Anunciação.

        - O livro está na mesma página há dois dias. – “João” comentou ao se aproximar. 

        - Vou perguntar de novo, qual é o problema? –  perguntou num tom ainda mais irritado.

          - Você quer realmente que eu responda essa pergunta? –  “João” respondeu.

        Os dois homens, de estaturas e musculaturas similares, se encararam durante alguns instantes. Caetano já acreditava que não conseguiria evitar a troca de socos, o que o aborreceria profundamente, pois apesar de saber que o venceria, o homem a sua frente, era também seu amigo e poderia deixá-lo machucado o bastante para lamentar o motivo pelo qual tudo isso começara, seja lá qual fosse.

         - Olhe para ela e me diga o que vê? – João disse, no ultimo instante, o fazendo respirar aliviado.  

         A contragosto olhou em direção a irmã Maria da Anunciação. Na verdade, em um  primeiro momento olhou além dela e enxergou a André de prontidão, e apesar da postura estática, sabia que ele esquadrinhava o perímetro com olhos e ouvidos, como havia sido treinado.

Olhou em direção da religiosa e foi quando se deu conta do que acontecia.

Apatia era a palavra que lhe veio à mente ao observar o perfil dela. O livro aberto, porém esquecido. O olhar, protegido pelos óculos de grau que escureciam na claridade, voltado para o rio e suas margens que serpenteavam a sua frente. A viu suspirar, e o gesto tão feminino, porém alheio a imagem que tinha dela, sempre tão ativa, despertou um silencioso alerta dentro dele.

            - Pela ultima vez qual é o problema? – perguntou entre os dentes, já prevendo de antemão que a mulher lhe traria mais aborrecimentos.

         - Você. – João respondeu encarando-o e não se amedrontando com o olhar assassino que o chefe lhe dirigiu. – Essa mulher já passou por muita coisa ruim na vida: ela enfrentou sozinha, um homem que domina de tal forma a região norte, que muito pistoleiro treme só de ouvir o nome do sujeito.  Ela levou cinco tiros, ficou entre a vida e a morte, esteve em coma por cinco semanas, para acordar e antes mesmo de pronunciar seu próprio nome, ser levada por seis homens mais altos e fortes que ela, para um lugar que, até onde ela sabe, pode estar localizado do outro lado do planeta. Está há um mês confinada neste espaço e nunca reclamou, ou se queixou de qualquer coisa, então você podia pelo menos ser gentil com ela. Depois da sua cena a três dias, ela vem nos evitando como o diabo foge da cruz. – João esclareceu - Foi um golpe baixo, até mesmo para você, acusá-la de colocar nossas vidas em risco somente por ser gentil.

           Caetano engoliu em seco, ao invés do inusitado sermão, preferiria que tivessem saído no braço, porque nesse momento queria muito bater em algo.

          Recordou como no dia seguinte ao que chegara ao santuário, ela descobrira o tabuleiro de xadrez e numa evidente tentativa de quebrar o gelo, de alguém que estava acostumada com o impacto intimidante da veste religiosa, perguntara a eles se alguém sabia jogar. A tentativa deu certo e sempre quando um de seus homens estava de folga jogava com ela. Ensinaram a ela diversos jogos de cartas e se divertiam a deixando ganhar. Com o passar dos dias, um clima de camaradagem foi se instalando na casa e ele assistiu, contrariado, a freira ganhar o respeito e a admiração de sua equipe. O fato de ela envergar o hábito todos os dias, contribuiu para uma relação fraterna de ambos os lados. Testemunhar a cortesia de seus homens com ela, só servira para aumentar seu mau humor.

         Há três dias, sua paciência por ficar simplesmente esperando que a Igreja resolvesse o destino da freira, se esgotou e ele explodira com todos, inclusive com ela, que conforme João lhe recordava, sempre tivera um comportamento impecável.

          - Merda. – resmungou, e mesmo a contragosto, sabia o tinha que fazer. - Soltou uma longa respiração e seguiu em direção da varanda.

            Irmã Maria da Anunciação foi tirada de sua contemplação, pelo som do carro se aproximando da propriedade e seu significado: o homem que eles chamavam de Pedro havia retornado após três dias de ausência. 

           Sabia que o nome dele não era Pedro, assim como também sabia que os nomes dos outros homens também eram falsos, mas o fato não a contrariava, nem intimidava.

Na realidade encontrara uma ironia divertida nos nomes que eles escolheram para usar diante dela. Eram nomes dos apóstolos e claro, seguindo essa linha,  o nome do chefe não poderia ser outro que não Pedro. Se bem que sendo a única mulher entre seis homens, sentia-se mais como a Branca de Neve e os sete anões, claro que com anões em versão gigante e se divertia secretamente em suas divagações insanas.

            Sabia que estava sendo protegida por mercenários, assim como tinha certeza que quando fosse a hora de voltar ao mundo real, nunca mais veria nenhum deles.

         Por um instante deixou-se distrair do fato de que o chefe da equipe havia retornado e mais uma vez permitiu a seus olhos, inundarem-se diante da vista única que desfrutava naquele lugar. Não sabia qual era sua localização, mas a beleza daquela vista quase a fazia se esquecer da persistente sensação de que algo muito ruim estava para acontecer. Da ultima vez que tivera essa sensação, levara cinco tiros e ficara em coma por cinco semanas.


            O som de passos vindo em sua direção, a fez sentir-se ainda mais apreensiva. Sabia quem era sem precisar olhar. Ele tinha um jeito próprio de caminhar, seus passos soavam como uma mistura de confiança e arrogância e naquele momento tinham um leve traço de hesitação. Ela sentiu um frio percorrer sua espinha, ele nunca dirigira a palavra a ela desde que chegara aquele lugar, a não ser três dias atrás. O fato de estar vindo lhe falar significava que o momento de voltar ao mundo real havia chego.

Os direitos autorais dessa história pertencem a autora.
Criado em: Fevereiro de 2.012
São Paulo, Santos, Brasil
Autora: Nina Reis
Revisão Inicial: Ana Maria Vilhena Coelho
Revisão Final: Rafa Cavalhero
Formatação: Rafa Cavalhero
Arte gráfica: Rafa Cavalhero


2 comentários:

  1. É uma honra e um prazer, partilhar com as leitoras do Blog, a estória de amor desse casal tão especial! Marina e Caetano fizeram escolhas opostas em suas vidas, mas o destino faz om que os caminhos se cruzem e nasce uma estória de amor digna de um livro! Beijos e Boa leitura!

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  2. O melhor de tudo, é: Essa historia tem começo, meio e fim, porém, o fim pode ser só um epilogo das próximas historias, que fazem parte do santuario, nada como uma escritora agil e prolifera como a nossa Nina, amo essa história.

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