Senhoras do Santuário!
Com o coração explodindo de expectativa, trago o primeiro
capítulo do conto Prefácio de Um Amor, que traz como protagonistas: Kiron
Christodoulopoulos, o soldado grego, membro da equipe 3, que após a morte de
Humberto e a missão de resgate da Ângela é escolhido por Conrado Montessori
como líder de sua equipe. E Isadora Baptista, bailarina com formação clássica e
contemporânea, a única artista em uma família de militares.
Como mencionei antes, a história foi escrita para um
concurso e tinha apenas 07 páginas. Estou trabalhando para transformá-la em um
livro pequeno, mas com uma impactante história de amor.
Para ambientá-los na história, devo esclarecer um fato
importante:
A história do conto Prefácio de um amor se passa em um
espaço de tempo dentro do final do livro Em Teus Braços.
Os fatos narrados no capítulo 1, que lerão a seguir, estão
situados no espaço de tempo entre o resgate da Ângela (o final do casal) e a
reunião entre o Conrado e o Stefan (Epílogo).
Ou seja, em Prefácio de um Amor, os soldados, ou mesmo o
Conrado, ainda não sabem a verdade sobre o homem sem rosto. Fato que será
explorado no livro 4.
Com muito carinho,
Desejo uma excelente leitura a todas!
Grande Beijo,
Nina Reis
*****************
"Sob a direção de um forte general, não haverá jamais
soldados fracos".
Sócrates
O
cheiro da morte impregnava o ar...
O odor
ocre de pólvora mesclada ao sangue, que se derramava sobre a neve, invadia seus
olfatos. Adrenalina percorria suas veias, potencializando os sentidos em
alerta.
O céu,
em um tom intenso de azul, sem nuvens, parecia zombar da humanidade que,
ignorante, seguia sua rotina apressada, sem desconfiar do quão perto do caos e
do perigo estivera àquela manhã.
Ocultos
em suas posições, os cinco soldados mantinham-se em completo silêncio enquanto
esquadrinhavam o perímetro, em busca de sinais da presença do inimigo. O ar
gelado produzia pequenas nuvens de respiração diante de suas faces.
-Rousseau
na escuta - Kiron, o líder da missão, anunciou no canal de comunicação
seguro.
-Wütrich*,
feito - a voz de Érico, que usava o nome Wütrich, anunciou no canal de voz.
-Anker*,
feito - Hayden informou de sua posição.
-Hodler*,
feito - Javier anunciou, em um tom de voz mal-humorado.
-
Jung*, feito e limpo - a voz profunda de Kashim, que fazia o duplo papel de
spotter e sniper naquela operação, soou séria e profunda no canal de voz,
informando que a área coberta por eles estava segura.
-
Primeira fase da operação Guilherme Tell, concluída - Kiron anunciou.- A área é
toda sua, Le Corbusier* - disse á Henrique que, "da caverna do dragão, na
segurança e solidão do Santuário", acompanhava a missão.
-
Começando o escaneamento via satélite do perímetro - a voz do geek soou no
canal de voz. - Não se movam, cidadãos de Davos - alertou.
Os
homens obedeceram à recomendação do soldado mais jovem do esquadrão. A brisa
gélida tocava-os em uma carícia indesejada, e mesmo sob o pesado uniforme,
botas, luvas, máscaras e óculos protetores a sensação térmica, causada pela
temperatura abaixo de zero, era cortante como uma lâmina.
- Limpo
- a voz do geek anunciou, poucos minutos depois.
Protegido
dos olhos dos demais membros da missão, Kiron fechou os olhos em reverente
agradecimento.
"Redenção."
A
palavra ecoou em sua mente. Um sentimento feroz explodiu em seu peito e ressoou
por todo seu corpo, curando, aliviando, libertando.
Ainda
com os olhos cerrados, pressionou a tecla do comunicador em seu ouvido, que
abria o canal de comunicação ao líder do esquadrão e as outras duas equipes.
- Hans
Wilsdorf*, está na escuta? - convocou a identidade escolhida na missão para o
líder do esquadrão. O homem também participava como convidado do Fórum
Internacional.
- Na
escuta, Jean-Jacques Rousseau* - a voz poderosa de Conrado Montessori soou no
canal seguro do comunicador.
-
Guilherme Tell*, mais uma vez, libertou a Suíça. - Kiron pronunciou a frase
código, indicando o final bem-sucedido da missão.
Um
breve e cúmplice silêncio se fez ouvir.
- Bom
trabalho, Rousseau - Conrado saudou o novo líder da terceira equipe de seu
esquadrão. - Joseph Blatter* está a caminho com os jogadores. Pestalozzi* e
seus meninos estão à espera dos cidadãos de Davos - o líder anunciou, antes de
encerrar a comunicação.
A
equipe dois, ou Joseph Blatter, seria responsável por apagar todo e qualquer
rastro daquela operação. A equipe 1, liderada por Caetano Montessori, ficara
com a extração, ou seja, tirá-los do país de forma rápida e invisível.
Kiron
expirou profundamente e deixou sua posição.
Do alto
de um dos Alpes de Davos, protegido pelo uniforme especial, que refletia o
ambiente em torno deles, fazendo-os "desaparecer" entre os montes
cobertos de neve, contemplou o movimento frenético da pequena cidade abaixo
deles, que por ser referência para prática de esportes de inverno e sediar
conferências internacionais, era considerada um resort.
Os
olhos do soldado grego miraram o sofisticado e moderno Centro de Conferências,
onde acontecia a mais importante conferência sediada pela comunidade suíça: O
Fórum Econômico Mundial.
Por
sete dias, a pequena cidade localizada no Cantão de Grisões, na Suíça, e de
maior altitude da Europa, transformava-se na sede da economia mundial. O encontro
anual reunia líderes da economia do planeta. Os mais importantes empresários,
ministros da Economia, presidentes de Bancos Centrais, diretores do FMI e
organismos internacionais. E naquele ano, o Fórum promovia o encontro histórico
dos líderes das cinco maiores economias do mundo.
Terroristas
e grupos radicais, não deixariam uma oportunidade como essa escapar entre seus
dedos, e esse era o motivo de ele e sua equipe estarem enfrentando o glacial
inverno suíço aquela manhã.
Com uma
expressão impassível em seu rosto, ocultando o emaranhado de emoções que
brigavam em seu interior, Kiron caminhou até o perímetro protegido pelos homens
sob seu comando e contemplou os corpos dos quatro terroristas abatidos e o
armamento de última geração que esses tinham preparado na montanha, para
garantir o sucesso do atentado.
"Não
aquela manhã"- pensou com orgulho feroz, mirando os quatro corpos sem
vida.
O
líquido escarlate se esvaía dos mortos, tingido a neve, profanando a pureza
imaculada das montanhas geladas.
"Redenção."
A
palavra vibrou novamente em seu cérebro ao perceber a aproximação de Wütrich*e
Anker*, esses eram os nomes pelos quais Érico e Hayden, snipers na operação
Guilherme Tell, respondiam nessa missão. Empunhando os sofisticados e precisos
rifles McMillan TAC-50, usados para abater os inimigos, tinham uma aparência
perigosa e letal.
Com a
morte de Humberto e a transferência de Hell para a lendária equipe 1, a equipe
3 do esquadrão contava agora apenas com eles, e coube a Kiron a liderança do
que restara de sua equipe.
Os
outros dois homens escalados para a missão sob seu comando, vinham da equipe 1
do esquadrão: Hodler* (o espanhol), que também atuara como sniper, e
Jean-Jacques Rousseau* (o árabe), o spotter da operação. Coube ao homem de poucas
palavras, a parte mais delicada da missão.
O
spotter detecta, escolhe alvos e confere o resultado dos disparos.
Os
homens da equipe 1 se mantiveram em suas posições.
Érico e
Hayden pararam a dois metros de sua posição e o encararam. Não eram necessárias
palavras para compreender a sensação que inundava o peito de cada um deles.
"Redenção!"
O
significado visceral dessa expressão fluía através de suas veias.
Nas
geladas montanhas da Suíça, os soldados da terceira equipe, integrantes do
esquadrão de elite com base no Brasil, provavam sua lealdade, resgatavam o
orgulho e honra roubados oito meses antes, por um ato irresponsável do ex-líder
da equipe.
As mãos
de Kiron se fecharam em punhos ao lado do corpo ao recordar a desonra e a
humilhação a que foram submetidos pelas atitudes do ex-líder de sua equipe.
"Durante
oito meses, eles caminharam nus e descalços através do Tártaro da
vergonha" - pensou, com ferocidade.
"Redenção."
A
palavra, mais uma vez, reverberou por toda a sua pele.
Há
treze anos, integravam o esquadrão secreto e independente formado por quatorze
homens e uma mulher. Todos especializados em combate armado, rastreamento,
vigilância, tecnologia civil e militar. Estavam divididos em três equipes, sob
o comandado de um importante empresário do ramo de segurança corporativa.
Eram
soldados sem nome, para eles não existia passado ou futuro. Em cada missão
recebiam uma nova identidade. Não seriam recompensados com reconhecimento
público por suas missões, nem o desejavam. Eram fantasmas, dispostos a
arriscarem suas vidas para fazer o trabalho que outros não conseguiram.
Eram
mercenários.
A
operação redimia seus pecados e os colocava novamente no jogo.
-
Honorare ad finem - Kiron pronunciou, em tom de voz baixo e feroz, o lema do
esquadrão.
-
Honorare ad finem - Érico e Hayden responderam em um igualmente feroz uníssono.
Um
esboço de um sorriso curvou seus lábios ao encarar os homens que agora
liderava.
Em
posição de combate, com o rifle McMillan TAC-50 em suas mãos, Kashim novamente
esquadrinhou o perímetro, garantindo que nada escapava à seus olhos, ouvidos e
olfato.
Após se
assegurar de que estavam seguros, os olhos pousaram sobre silenciosa celebração
dos três homens que, agora, formavam a equipe 3 do esquadrão. Testemunhava o
momento sagrado de resgate da identidade, do orgulho e da honra manchados pelas
ações do ex-líder da equipe 3, e que quase custara a vida de todos eles.
"E
essa não era pior parte" - pensou.
Eram
soldados, a morte fazia parte de seu cotidiano. Morrer em missão, para eles,
era o sinônimo de morrer com honra. Mas, agora, existiam as mulheres...
Marina,
Alicia e Ângela representavam a melhor parte deles. Elas trouxeram o riso, a
suavidade, o brilho no olhar, o aconchego, carinho e o sentimento, até então,
impensado para seu estilo de vida: o amor.
"Perder
uma dessas mulheres, significaria desgraça e desonra para todos eles. Não
importava o fato de que nenhuma delas fosse sua, daria sua vida, sem hesitar,
para proteger cada uma delas"- decretou para si mesmo.
A
tentação invadiu sua mente na forma da pequena mulher, de curvas generosas e
olhos brilhantes, que despertara seu corpo adormecido. Desde que ouvira seu
riso e sentira o perfume de amêndoas doces, uma fome feroz e ardente dominava
cada centímetro de sua pele.
"Ele
não era digno de tocar em um único fio dos cabelos escuros e sedosos da doce e
surpreendente Ana" - lembrou a si mesmo.
Não era
digno de tocar mulher alguma! E por isso fizera um voto. Mesmo que morresse
afogado em seu próprio desejo por essa mulher, seria fiel a sua promessa.
Determinado
a não desejar o que não tinha o direito de cobiçar, mirou os terroristas
abatidos.
-
Honorare ad finem - proclamou, em voz baixa, o lema de vida de cada soldado do
esquadrão.
Javier
contemplava a cena em que cada um dos três soldados da equipe 3 se reconciliava
consigo mesmo, com seu orgulho e honra.
Nos
últimos meses, Zorba (o grego)*, apelido pelo qual chamava Kiron, demonstrara
que estava pronto para liderar a equipe 3 e resgatar os homens da lama na qual
o ex-líder os jogara.
"Porra!"-
xingou, em silêncio.
Um
sentimento feroz rasgou seu peito ao recordar os meses que passara sobre uma
cadeira de rodas.
"Caralho!"
- voltou a praguejar.
Naqueles
dias, o inferno parecera um passeio no parque, perto do que experimentara. Por
diversas vezes, sentira como se rasgassem sua pele e expusessem seus órgãos. O
espanhol sabia que essas mesmas sensações, acompanharam aqueles três homens nos
últimos oito meses.
Mas em
seu caso, uma mulher teimosa e obstinada permanecera ao seu lado enquanto
caminhava por todo aquele inferno.
"Angie
fora sua redenção."
A
enfermeira de coração gigante, teimosa, impertinente e de língua afiada
transformara-se em seu mundo. Ela o resgatara das trevas e solidão na qual se
condenara a viver e enchera sua vida de cores, risadas e momentos repletos de
paixão que eram bons para caralho!
Agora
ele era um soldado com um motivo a mais para voltar vivo para casa.
Sua Ana
Néri, sua Florence Nightingale, sua Angie.
"Honorare
ad finem"- Javier repetiu, em silêncio, o lema do esquadrão.
Em
silêncio, Kiron, Érico e Hayden caminharam até os corpos dos terroristas e
miraram os criminososque jaziam sem vida sobre a superfície branca da montanha.
Os
terroristas tinham a missão de matar os chefes de Estado das cinco maiores
potências do mundo. E quase conseguiram, graças à organização do evento que
"sabiamente" programou o encontro entre os líderes mundiais.
Àquela
manhã, todos os cinco se encontravam na mesma sala, e graças ao esquadrão
fantasma ao qual pertenciam, agora estavam seguros.
"Missão
cumprida!" - pensou.
O mundo
dormiria tranquilo, uma noite mais. Homens, mulheres e crianças colocariam suas
cabeças sobre o travesseiro, sem imaginar o quão próximo estiveram do caos.
Mas,
para ele, a sensação do dever cumprido entrelaçava-se ao perturbador pesar
pelas vidas interrompidas.
"Matar
não era fácil, nem indolor."
Não
importava o fato do sangue escorrendo através da neve pertencer a assassinos.
Cada vida que ceifavam, era uma marca a mais em suas almas.
"E,
às vezes, parecia que sua alma carregava marcas demais."
Olhou
mais uma vez para os homens sob sua liderança e, com um gesto de cabeça,
indicou que poderiam começar a preparar os corpos para o transporte.
Imediatamente, os soldados acataram suas ordens.
Por um
instante, a beleza etérea da paisagem coberta pela neve capturou sua visão. A
imagem, digna de ser retratada em pinturas e que estampava cartões postais era de tirar o fôlego.
"Mas
nada no mundo se comparava a beleza de seu país com sua história!" -
pensou orgulhoso.
Ao
pensar na terra natal quase conseguia sentir o delicioso clima quente
característico do país localizado a leste do Mar Mediterrâneo. Santorini,
Miconos, Creta...
"Lugares
que amava e para onde não poderia regressar."
Kiron
afastou o sinal de dor de seu peito. Não
se arrependia do caminho trilhado.
"Fizera
uma escolha e viveria com ela"- pensou.
Mesmo
sob o pesado uniforme, o ar gelado parecia cortar sua pele.
Apesar
de o inverno estar em seu auge na Suíça, enxergou pontos de degelo formando
convidativos regatos. Através das pequenas nuvens de sua respiração, que
dançavam diante de seu rosto, mirou as pequenas porções de água formadas pelo
degelo da neve e caminhou em direção ao regato mais próximo.
"Um
pouco de água gelada faria baixar a adrenalina" - pensou ao se abaixar e,
sem ao menos tirar as luvas, banhar o rosto e o pescoço.
-
Porra! - xingou, em voz baixa.
O
líquido frio tocara sua pele como a lâmina afiada de uma faca. Xingando,
repetiu o gesto.
Praguejava
contra organizações que escolhiam promover encontros mundiais durante o rígido inverno
suíço, quando seus olhos foram atraídos pelo brilho do pequeno e delicado
objeto caído sobre a neve.
Kiron
resgatou a frágil gargantilha em ouro branco com pingente em forma de
bailarina, confeccionado em pedra ônix negra, que, de alguma maneira, caíra de
seu bolso.
Contemplou
a peça delicada e foi como ser atingido por um dos raios do deus do Olimpo.
A joia
representava o que ele não poderia ter. O que não lhe era permitido desejar.
O
polegar enluvado deslizou através da extensão do pingente.
Era
como se tocasse a mulher...
Um
aconchegante calor percorreu suas veias, aquecendo o seu peito.
Kiron
fechou a mão em torno do pequenino objeto, protegendo-o de olhares indesejados.
"Aquele
era seu segredo. Ela era seu segredo."
Sem que
conseguisse ou mesmo desejasse evitar, lembranças dos últimos cinco anos
invadiram sua mente...
Fortes,
intensas, poderosas...
Podia
senti-la em sua pele. O cheiro, o gosto, o riso... Era como se a essência dela
tivesse sido gravada em sua pele pelos metais de Hefestos.
"Isadora."
O nome
soou em sua mente, evocando momentos que ele, por mais que tenha tentado, não
conseguira esquecer.
Recordou,
o momento, quando há três anos, enquanto caminhava sem pressa pelas ruas de uma
movimentada cidade, enxergara a bailarina em pedra ônix exposta na vitrine de
uma joalheria.
A joia
delicada, confeccionada por um talentoso artesão, parecia ter sido feita para
ela...
Não
perguntou o preço. Não importava.
Desde
então, mantinha a peça sempre junto a seu corpo. Uma lembrança da mulher que
balançara seu mundo.
A
mulher de quem jamais poderia se reaproximar.
As
mandíbulas se trancaram em um aperto feroz e a mão fechada em torno do pequeno
objeto e trancou-o com força.
Se os
últimos meses lhe confirmaram alguma coisa, era que para homens com seu estilo
de vida, amar uma mulher significaria o mesmo que sacrificá-la.
A
liberdade, os sonhos, a vida...
A doce
Marina, a tímida Alicia ou a destemida Ângela. Todas elas sacrificaram algo
precioso para fazer parte do perigoso estilo de vida de seus homens.
Relembrou
a fúria de Caetano Montessori ao ficar frente a frente com o russo que atirara
em sua esposa. A reação enlouquecida do espanhol quando Ângela, em pleno cerco
dos homens de Dimitri, tirara três dias de folga e voltara sozinha para São
Paulo. Ou mesmo a reação do homem ao recebê-la viva em seus braços, após a
operação de resgate no norte do país.
Não
tinha o direito de arrastar a pequena mulher, que possuía a alma e coração
belos de uma artista, ao caos de sangue e morte que o cercava.
"Não"-
determinou a si mesmo.
Isadora
merecia alguém melhor do que um homem sem passado, presente ou futuro.
A voz
de Érico anunciando a chegada da equipe dois soou em seus ouvidos, arrancando-o
de suas lembranças.
Kiron
se levantou e seus olhos contemplaram mais uma vez a neve manchada
pelo sangue dos assassinos mortos.
A vida
que escolheu, uma vez mais, chamava-o.
***********
No
local escolhido pelo esquadrão para sede da operação, Conrado observava as
imagens via satélite que Henrique enviava para os monitores à sua frente.
Acompanhara a bem-sucedida operação Guilherme Tell, desde os primeiros passos.
Nunca
duvidara do sucesso da missão que envolvera as três equipes de seu esquadrão e
que fora liderada pela equipe 3. Seus
soldados eram os melhores e mais treinados do planeta. Falhar não era uma
opção.
Em duas
horas, ele discursaria como Álvaro Nascimento para uma assembléia formada pelos
homens e mulheres que comandavam a economia mundial, mas não estava preocupado
com isso. Representar o papel do bem-sucedido executivo do ramo da segurança
corporativa não o intimidava.
"O
que o incomodava, mais uma vez, era a merda da palavra 'porquê'" - admitiu.
Por que
não dera a liderança da equipe 3 a Kiron desde o início? Por que não enxergara
o líder nato que inspirava respeito e admiração nos demais membros daquela
equipe?
"Merda!"-
praguejou, em silêncio, sem tirar os olhos dos três monitores à sua frente.
Por que
não enxergara o que acontecera à Humberto? Como o soldado altamente treinado, o
perfeito agente em ações infiltradas, se transformara no homem que colocara
todo seu esquadrão em risco?
As respostas
a todas as perguntas apontavam para ele.
"Aqueles
homens eram sua responsabilidade e em algum momento, falhara com eles."
O peso
da verdade tencionava suas costas. Mas ele não se curvaria. Suas costas eram
largas e fortes o suficiente para suportar a carga.
Os
olhos se estreitaram ao enxergar Kiron recolher algo sobre a neve.
- Le
Corbusier, quero a imagem do Rousseau, aproxime a imagem, quero ver o que ele
tem nas mãos - ordenou ao geek, que monitorava a ação através da Caverna do
Dragão, através do canal exclusivo que não era compartilhado com o restante do
esquadrão.
-
Imagens enviadas para o monitor três - Rick respondeu.
Segundos
depois, a imagem de Kiron agachado junto a um regato surgiu na tela.
Conrado
observou as imagens quadriculadas, até que o geek conseguiu o ângulo correto e
a imagem em alta resolução de uma mão enluvada acariciando um pingente negro em
forma de bailarina brilhou no monitor.
E todos
os seus sentidos gritaram em alerta.
"Porra!
Porra! Porra!"- xingou, em silêncio.
O
significado daquela joia e, sobretudo, a maneira como o soldado a tocava, era
claro como a neve em torno do grego.
- Quero todas as informações
sobre essa mulher, e o quanto antes - ordenou ao geek.
- Será
feito - Rick respondeu, sem questionar o líder do esquadrão.
Não era
preciso.
*********
Voltamos! o/
Conto com seus comentários!
O que será que vem por aí...
Beijos calorosos!
Nina Reis
********************************************************
Glossário do Capítulo:
Davos: 1 - A Suíça, país da Europa Central, é dividida em 26
cantões. O cantão de Grisões é o maior
da Suíça e o único onde se fala a quarta língua do país, o romanche. Neste
cantão fala-se também o italiano e o alemão, tornando-o assim o único cantão
trilingue.
Davos é a cidade mais alta da Europa com 13.000 habitantes
fixos, podendo chegar a 23.000 na alta temporada de inverno.
Esta extensa cidade, situada no vale Landwasser, é conhecida
sobretudo como um centro de conferências, e também como um importante centro de
esportes de inverno, de sabor internacional, com uma enorme gama de atividades.
Sua obra-mestra é o moderno Centro de Conferências, onde acontece o Fórum
Econômico Mundial WEF (quase) todos os anos.
*Nomes dos mercenários usados na missão:
Wütrich: Suíço ganhador do premio Nobel de Química.
Hans Wilsdorf: Fundador da Rolex. Alemão que fundou, em Londres, a marca Rolex
em 1905, em 1920 mudou-se para genebra.
Albert Anker: O mais popular pintor suíço.
Jean-Jacques Rousseau: filósofo e escritor.
Carl Gustav Jung: Pioneiro da psicologia analítica.
Guilherme Tell: Personagem lendário quer teria cooperado para
libertar a Suiça do julgo da Casa da Áustria.
Le Corbusier: Franco - suíço considerado um dos maiores
arquitetos do século XX.
João Henrique Pestalozzi: Reformador da educação que montou
uma escola para crianças carentes em seu próprio castelo em 1805.
Sniper: Franco atirador. Atirador de elite.
Spotter: em português se chama O observador (também chamado
de spotter) detecta, escolhe alvos e confere o resultado dos disparos.
Hefesto era o deus olimpiano responsável pelas forjas,
armaduras, artesanato, tecnologia, metais, metalurgia, fogo e vulcões. Ele é
filho de Zeus e Hera, em algumas versões do mito, filho apenas de Hera. Sua
forma romana é Vulcano. Hefesto era manco, o que o deixava com aparência
grotesca perante os outros deuses olimpianos, que o baniram, quando criança, do
olimpo.
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