sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sr. G - Capítulo 26 - 2ª Parte


Carlos Tavarez Junior...


Idiota!!! É assim que estou sentindo-me! Quatro dias longe dela pareceu uma eternidade! E não foram as horas afastado do seu corpo que abriram um vazio dentro de mim, mas, sim, a falta que sinto de sua petulância, da forma desafiadora com que me atinge e que me leva a querer ser melhor. Seu sorriso não saiu da minha memória...
senti falta de ouvir o som da sua voz, de estar perto dela e de ver o mais lindo brilho dos seus olhos. E, agora, aqui, diante dessa cena romântica que sou obrigado a assistir, tenho sentimentos conflitantes, pois, ao mesmo tempo em que tenho vontade de puxa-la pelo cabelo e dar-lhe uma lição por ser tão fingida, quero também mostrar a ela que eu sou o melhor homem para ela ficar. 

Cansado, depois de decidir, num impulso de última hora, viajar para o encontro dela, cheguei à pequena cidade e tive a maior dificuldade de encontrar uma vaga em um hotel. Está acontecendo algum evento na região e a capacidade dos hotéis está no limite. Depois de visitar acho que todos os hotéis do lugar, encontrei este, com uma churrascaria. Da recepção do hotel, pude ver quando eles chegaram, numa moto antiga. Na verdade, uma bela Harley bem conservada e com um trabalho de restauração brilhante. E foi justamente a moto, em princípio, que me chamou a atenção! Mas, quando a linda mulher que estava na garupa desceu, reconheci cada curva do seu corpo, o que foi confirmado quando a minha menina quimera tirou o capacete. Sua forma despretensiosa de arrumar o cabelo fez-me sorrir, porque me lembrei do quanto ela não dispensa uma diversão só por causa de não desarrumar sua boa aparência. E ela é tão espontânea que, apesar de excessivamente encantadora, não tem noção do poder que tem nas mãos! 

Quando ela entrega o capacete para o bastardo, penso que pode tratar-se de seu irmão, mas, quando é a vez de ele tirar a jaqueta e o capacete, tenho a certeza de que não é, pois como ela mesma mencionou, ele é um usuário de drogas, portanto, não teria tal porte físico bombado. Além disso, pela alegria que olham um para o outro, todos sorrisos, parecem mais amantes do que irmãos. Fico cego ao ver isso! Peço para o recepcionista do hotel levar minha bagagem para o quarto e caminho para o bar da churrascaria. 

Entre uma coluna e uma passagem, tenho total visão da mesa. Ela está mexendo no celular e eu confiro a tela do meu, esperando uma mensagem dela que nunca chega. Olho, novamente, e, desta vez, vejo que o clima ficou tenso. Eles parecem discutir por alguma coisa, mas, logo a seguir, vejo-a sorrir com aquela boca matadora. Conforme os minutos vão passando, meus nervos contraem-se mais e mais. Ele olha para ela com carinho e admiração e ela, por sua vez, olha para ele animada. Não posso suportar ver isso e decido ir embora, já que vi o suficiente do que tinha que ver! A minha cota de masoquismo encerra-se por aqui. Viro todo o conteúdo do copo, com a esperança de que a última gota de chopp que descer pela minha garganta desfaça o nó que ali se formou. Mas, por infelicidade e desgraça minhas, meus olhos captam o cabeludo beijando suas mãos. Nem solto o copo vazio e apenas começo a caminhar, desgovernado, em direção à mesa deles, para mostrar a ela que merece o Oscar por ser uma atriz tão boa, a ponto de me convencer de que vinha para sua cidade somente para ver sua família! A cada passo que dou, meu punho vai fechando-se e o animal selvagem dentro de mim ruge, ainda mais violentamente, quando a vejo levar a mão dele até sua face, beijando-a. Eu até tento respirar fundo para não abalar os alicerces do lugar ao liberar toda a minha ira. Assim que chego à ponta da mesa, com meus lábios tremendo, consigo apenas dizer, duramente, mostrando a que vim: 

− Boa noite!!! − quase parto os dentes de tanto que estou rangendo. 

− Carlos!?! – ela olha fascinada para mim, receptiva. Encaramos um ao outro por algum tempo, até que ela, dando-se conta de que sou eu quem está rosnando ali, levanta-se feliz e... joga-se em meus braços!!! Quando digo que essa mulher sempre consegue reagir de forma totalmente diferente do que seria esperado, ninguém acredita! – Eu ia falar, exatamente agora, para o Dado, que tinha que mandar uma mensagem para você. 

Meu ódio cega-me e cravo meus dedos em sua cintura, apertando forte.

– Imagino que seu amigo não iria importar-se, não é mesmo? − ironizo.

− Que falta de educação a minha! – e de vergonha na cara, penso comigo! – Carlos Tavares Júnior, este é o Eduardo Alencar – ele estende a mão e eu demoro alguns segundos para retribuir o cumprimento, ligando os fatos e nomes. 

− Seu irmão? – pergunto, em dúvida, porque ela não menciona o sobrenome Rochetty. 

− Aparentemente, sim – apertando a minha mão, que nem percebi que estendi, ele responde por ela, que está linda como sempre, mas, surpreendentemente de boca aberta, olhando para mim. Não consigo desviar meus olhos dos dela, mesmo que eu pareça, aos olhos do irmão, até antipático por isto, mas, a sua linguagem corporal mostra exatamente que sentiu tantas saudades de mim quanto eu dela. Seus olhos brilham como nunca, a ponto de eu conseguir ver os traços marcantes da cor mel como uma janela aberta mostrando sua alma. Sacudo, disfarçadamente, minha cabeça, volto-me para ele. 

− É um prazer conhecê-lo, finalmente, Eduardo! 

− Bah, se tu és amigo da minha bonequinha, sente-se para jantar conosco! Chegamos há pouco. 

Balanço a minha cabeça, porque, percebendo-a olhando para mim, esperando uma reação, a única vontade que tenho é a de puxá-la para meus braços e não a largar mais. Mesmo que inconscientemente, ela provoca fortes emoções em mim! É incrível como estive próximo de fazer besteira apenas porque sou tão louco por ela que, só de vê-la com outro homem, quase perdi a sanidade completamente! Deus, se tivesse cedido ao meu ciúme, teria feito exatamente o que ela teme que alguém faça, isto é, ser violento e sem controle com relação a ela ou com quem está à sua volta! Fico desnorteado comigo e com minhas reações, meio arrasado por quase ter estragado tudo com ela.

Dou graças aos céus por ela não ter percebido o que se passou comigo. Acho que o fato de não esperar ver-me aqui embotou todas suas outras percepções. Sei que, embora seja eu o errado, ela não sabe disso, porque seus olhos gritam para eu tocá-la e, mesmo ela não tendo culpa por eu ser tão possessivo com relação a ela, é tão forte a sensação ainda que, incoerentemente, resolvo castigá-la e deixá-la sedenta por mim, como se ela realmente estivesse com outro homem! Bem no fundo de minha consciência, sei que isso é muito louco, mas, só a mera hipótese de ela estar com outro já me compele a ser muito mal! Aliado a isso, não serei capaz de ficar mais uma noite longe dela e, se quero garantir que ela ficará comigo hoje, terei que agir como um pescador, isto é, sendo paciente e esperar que ela fisgue a minha isca, deixá-la tão sedenta por mim a ponto de, quando eu fizer a sugestão de ela dormir aqui, aceite prontamente, sem qualquer objeção! 

Aproximo-me ainda mais dela, o suficiente para encostar meus lábios em sua face e aspirar profundamente o seu cheiro, que me embriaga. Posso ver os pelos dos seus braços arrepiarem-se. 

− Não quero atrapalhar o jantar de vocês. Presumo que tenham muito assunto para conversar. Eu acabei de chegar e tudo o que preciso, agora, é de um bom banho e descansar. Tive que dar um giro de cento e oitenta graus no meu dia para vir conhecer Ajuricaba – friso o que tive que fazer para estar aqui, para deixá-la com peso na consciência e não ir embora, deixando-me aqui, sozinho. 

− Espero-a no meu quarto – sussurro em seu ouvido. 

− Fica – ela diz, baixinho, olhando-me de uma maneira diferente, desta vez, com um novo apreço.

- Se eu ficar, você fica comigo esta noite? – ela finge pensar, torcendo a boca de lado, divertindo-se. 

− Vamos ver como se comporta... 

− Bah, vocês vão ficar a noite inteira negociando a respeito de quem fica ou vai? Alivia, aí, cara... Se não vai jantar, apenas nos faça companhia, porque gaúcho não aceita desfeita, tchê! 

Ele tem razão. Desta vez, não estamos medindo forças, apenas estamos lutando cada um por sua vontade: ela querendo que eu fique no restaurante com eles e eu querendo que ela passe a noite comigo. Por estarmos começando um relacionamento, ambos temos que ceder. Não pode existir orgulho. Na verdade, é uma questão de se deixar ir, pegar e não largar, honrar e respeitar a opinião um do outro, porque ambos temos urgência de sermos felizes juntos. 

− É isto aí, Eduardo, você está certo. Vou fazer companhia a vocês, assim, posso conhecer um pouco mais a família da... – faço uma pausa, ainda incerto quanto ao que ela quer, e ela completa. 

− Namorada – a voz dela sai baixa e sedutora, fazendo com que meu pau acabe de endurecer de vez, o que tinha iniciado quando a vi, mesmo com toda a raiva e ciúme que senti. 

Chuto-me, mentalmente, feliz por ela assumir um namoro comigo na frente do seu irmão. 

− Namorada – repito, piscando e sorrindo para ela. 

Eu quase toco o seu cóccix quando a ajudo a se acomodar na cadeira. A fúria que tomou conta dos meus nervos dá lugar ao calor e à sensação de aconchego por estar perto dela. Meu coração está acelerado demais para ser ignorado. Esta mulher bagunça meus sentidos só com um olhar! 

Sentados e acomodados, antes que eu inicie um bate-papo com eles, uma garçonete vem à mesa para que eu faça o pedido da bebida. Eu olho para os copos de ambos e, para não pedir nada diferente, peço o mesmo que eles. Ela ri assim que a garçonete afasta-se. 

− Acho que esta noite vocês farão com que eu desça do salto, pois eu nunca vi tanta garçonete concentrada em passar por uma mesa em toda a minha vida! 

Estou tão perdido em seus olhos e gestos, que mal entendo o que ela fala. 

− Bah, guria!!! Deixe que elas façam o serviço completo, então! Por mim, elas podem colocar o alimento em minha boca, pondo nela qualquer coisa a mais que queiram... Sabes, não costumo rejeitar uma bela refeição completa! 

Ela olha para o irmão e joga-lhe o guardanapo, atingindo seu rosto e falando brava: 

– Você é livre e desimpedido e pode alimentar-se do que e de quanto quiser, mas, o garanhão aqui, não! – ela puxa-me pela gravata e deposita seus lábios sobre os meus, marcando território. Fico surpreso e feliz com sua atitude – Se vocês querem ter um jantar feliz e tranquilo, certifiquem-se de que elas não olhem com cobiça na direção do meu homem aqui, senão, vocês conhecerão a besta que mora dentro de mim quando mexem com o que é meu... 

Seu irmão empalidece e sinto-a ficar tensa ao meu lado. De fato, diante da situação que viveram, ela não escolheu bem as palavras... Querendo ajudá-la, porque aquilo pode levá-los a algo que não estejam ainda preparados, tento consertar. 

− Eduardo, você não tem ideia do quão manhosa e dengosa essa tal besta é! Fica choramingando e aconchegando-se como se fosse um cachorrinho sem dono pedindo atenção... uma verdadeira gracinha que ninguém consegue resistir! 

Ela aperta minha mão, em sinal de agradecimento, e a tensão de ambos dissipa-se. Ele aceita bem o que falo, porque diz: 

− Sei bem o que quer dizer, Carlos, porque essa aí, quando quer algo, fica toda cheia de nhinhinhi... nhã nhãnhã... fazendo biquinho e com os olhos pidões... 

Rimos os três com o que ele fala, enquanto ela joga outro guardanapo nele. O Eduardo fita meus olhos e é direto ao perguntar: 

− E o que te trouxe até Ajuricaba, surpreendendo até a tua namorada? – como se ele não soubesse o motivo óbvio! Mas, sei o que a pergunta encerra, na verdade. 

−Cheguei há pouco, estava numa filial, em Porto Alegre, e decidi esticar até aqui para conhecer a cidade... 

− Sei!!! Não foi a minha bonequinha que te trouxe aqui, então? 

Nós três caímos na gargalhada, plenamente conscientes do único motivo que eu teria para ter vindo até aqui. Fico feliz por ele tratá-la com respeito, carinho e ser tão direto. Começamos bem, porque minhas intenções não precisam ser camufladas, podendo ser claro e objetivo. 

− Claro que este foi o principal motivo... só não me pergunte os outros porque ainda não tive tempo para pensar em quais poderiam ser! 

Todos rimos, novamente. Para iniciar uma conversa, acho melhor fingir que não sei nada a respeito dele e pergunto, despretensiosamente: 

− No que você trabalha, Eduardo? Porque não parece haver muitas opções aqui, pelo fato de a cidade ser tão pequena – esta não é uma entrevista de emprego, mas, já é um bom começo para saber como o abordar futuramente. 

Ele olha para a sua irmã e, depois, volta o olhar para mim. 

− Sou meio que um faz tudo, digamos assim... Sabe, pego o emprego que aparece. Então, só posso dizer que é nisso que tenho trabalhado a vida toda. 

− Ele adora mecânica, né, Dado? Ele não pode ver uma “rebimboca da parafuseta”, que já está botando a mão – ela ri e eu fico fascinado ao ver como é diplomática em ajudar o irmão a não se sentir mal e tão vulnerável. A Patrícia é genuína, tranquila e, neste momento, ao contrário do que quero, está completamente relaxada entre nós... e isto me faz ter uma ideia, porque não a quero assim, mas, contorcendo-se na cadeira, desejando o meu toque. 

− Sempre fui fascinado por motores – digo a ele. A partir daí, ele solta-se e fica mais à vontade. 

Ela não para de me cobiçar e minha mente trabalha, perversamente, pensando nela comigo, nua entre os lençóis. 

− Um brinde aos amantes de belos motores – ela levanta o copo e nós três brindamos. Ela é totalmente diferente de tudo e todos. 

Conto a ele, superficialmente, a respeito do meu passado nas pistas, enquanto ela olha para mim, o tempo todo, inquieta, deixando-me feliz por saber o quanto a atinjo. Ela não é muito boa em disfarçar seus desejos e eu começo o jogo, fingindo-me indiferente, quando, na verdade, estou louco para que ela queira ficar ao meu lado até se fartar de ter orgasmos. 

Decido não acompanhar o rodízio. Não quero estar com estômago pesado para o que tenho em mente. Vendo os garçons passarem, a todo momento, para encher o prato do faminto Eduardo, e ela, sem apetite, rejeitando todas opções de carnes que passam, fico animado, pois sei que ela está em seu limite de desejo por mim. 

Faço um sinal para uma garçonete que passa e ela levanta a sobrancelha, atenta. Acho graça do seu gesto e minha vontade de leva-la para a cama aumenta a cada segundo. 

Peço apenas petiscos, com intenção de iniciar o jogo de sedução com a minha pequena por aí. 

O Eduardo é simples, mas, bem objetivo. Não é de muitas palavras, marcando bem as diferenças entre ele e a minha pequena, como o vocabulário que cada um usa ao falar, o sotaque, a forma de se comportarem e até mesmo nas defesas de opiniões. Meu pedido chega e o feitiço volta-se, mais uma vez, contra o feiticeiro, quando a vejo lamber as pontas do dedo, depois de pegar uma polenta frita e levá-la à boca. Meu pau endurece, no mesmo momento, pois ela provoca-me deliberadamente, olhando dentro dos meus olhos. Dou graças a Deus pelo Eduardo estar entretido com as garçonetes que não param de servir a mesa, não me vendo contorcer-me e acomodar melhor meu pau, tão estirado dentro da minha calça que está quase rasgando um pedaço do tecido.

Resolvo jogar pesado, levando à boca um espetinho de medalhão e mordendo a carne, deixando claro a ela que morder será o que farei com ela mais tarde. Mantenho os dentes cravados na carne e puxo, levemente, o pedaço para dentro da minha boca. Ela movimenta-se na cadeira e, pela forma como cruza as pernas, sei que deve estar molhada e preparada para mim. 

− Acho que o ar condicionado desta churrascaria poderia ser ajustado para diminuir a temperatura! Vocês não acham? – ela diz, abanando-se. Seu irmão nem responde e eu apenas sorrio, diabolicamente. 

Isca lançada, ela não tira seus olhos dos meus. Levo o copo à minha boca e lambo meus lábios com a ponta da língua, aguardando sua reação. Ela, por sua vez, espeta o garfo na linguiça que lhe foi servida há pouco e leva-a, também, à boca, colocando apenas a ponta dentro dela. A cena é muito sensual, remetendo o pensamento a outra coisa que ela sabe colocar tão bem em sua boca. Contraio a mandíbula, pressionado meus dentes. Se demorar muito aqui embaixo, sou capaz de puxá-la até o banheiro mais próximo e possuí-la lá mesmo e que se foda todo o resto... 

− Bah!!! Mas, sou um azarado mesmo! – o irmão diz – Acabo de receber o número de telefone da mais gostosa picanha da noite e nem posso usufruir porque tenho que levar a minha bonequinha para casa. 

Esta é a minha deixa. 

− Nem tudo está perdido, Eduardo. Considere-se um homem de sorte, pois a sua irmã vai passar a noite aqui comigo. 

− Bah!!! – ele fala, espantado, olhando para ela – Quando foi que combinaram isso? 

− Acabamos de combinar – ela diz, cúmplice. 

Esta menina só me dá orgulho, porque não poderia dar melhor resposta. Além do que, até dar qualquer resposta ou estender muito a conversa está tornando-se cada vez mais difícil para mim, por causa do estado de excitação em que me encontro. Sinto-me como um adolescente, em pleno auge hormonal! 

− O que direi aos nossos pais, tchê? Olha, não trouxe nossa bonequinha de volta para casa porque ela encontrou o Falcon[1], na churrascaria, e resolveram brincar por lá? 

Rimos do que ele fala. 

−Acho que brincar com o Falcon é a melhor opção, Eduardo, porque esse personagem já é tão antigo que nem os assustará, diferente do caso de você dizer que um vampiro sequestrou-a, porque são eles que levam as mulheres de hoje à perdição! – brinco com ele. 

− Acho que eles realmente ficariam preocupados com o fato de ser sequestrada por um vampiro, mas, eu, particularmente, adoraria uma mordidinha aqui e outra ali. 

Eu adoro morder, “bonequinha”, penso comigo. 

− Ainda não sei... se a trouxe, tenho que a levar de volta. É isso que nossos pais esperam. 

− Não se preocupe, estou ligando para eles – diz, totalmente decidida, mordendo o lábio enquanto me olha e já pegando o celular. Isso, pequena, provoca mesmo! Porque este jogo eu também sei jogar. 

Já pensando no que vai poder fazer, o Eduardo chama a tal moça que lhe deu o telefone e engata um papo rápido com ela. Eu aproveito para afrouxar a gravata, olhando nos olhos dela que, safada, estende os pulsos colados um ao outro sobre a mesa, sinalizando que espera que eu amarre-a. Aceno para mostrar que entendi sua insinuação, embora o que quisesse era dar uma de troglodita, agarrando-a pelos cabelos para levá-la até a minha suíte. 

Peço para a garçonete fechar a conta, enquanto uma outra se aproxima com um carrinho de doces, insinuando-se toda para o Eduardo. Pelo andar da carruagem, acho que meu cunhado vai matar “dois coelhos com uma só cajadada” esta noite, pelo jeito que as duas garçonetes sorriem com algo que ele diz para elas sobre as sobremesas. Eu, de minha parte, quero a minha sobremesa no quarto, doce com um leve sabor picante... 

− Pronto! – ela diz, assim que desliga o telefone, e olha para mim – Tudo resolvido. E você, Ana Beatriz, terá que ir, amanhã, conhecer meus pais, pois eu disse a eles que dormiria na cidade com uma amiga e eles querem conhecê-la. 

Nem dá para refletir a respeito do fato de ela ter mentido para os pais, pois ela solta uma gargalhada assim que vê minha cara. 

− Jura que você acreditou que eu disse que passaria a noite com uma amiga? Vejo que me conhece pouco, garanhão. Falei para eles que passaria a noite com você. Meus pais conhecem-me bem para saberem que assumo tudo o que faço! Eles, por sua vez, só querem ver-me feliz. Agora, o convite para me acompanhar ao sítio é verdadeiro. Eles querem realmente te conhecer e a culpa é sua por ter vindo até aqui, então, nem comece a se sentir pressionado. E eu tomei a liberdade de dizer que almoçaremos com eles, até porque – ela sinaliza para o irmão – acho que ele também só chegará amanhã, na hora do almoço. Quanto a você, tente não surtar quando eles perguntarem quais são suas intenções com relação a mim, já que tomou minha pureza... 

E ela, novamente, cai numa gargalhada estrondosa, contagiando a todos nós. Deus, ela é adorável! Consegue transportar-medo inferno ao céu, em segundos. A conta chega e ela abre a bolsa para pegar a carteira. 

− Eu cuido disto! – pago a conta e levanto-me para puxar a cadeira dela. Conforme ela levanta, sinto o cheiro do seu perfume. Instintivamente, tento aproximar-me dela o máximo que consigo. Ela parece ficar um pouco vacilante com isso e dobra as pernas, novamente, com a intenção de voltar a se sentar para não cair. 

− Bah, bonequinha, e isto é sem tu teres bebido! Imagina se tivesses bebido e ainda insistisses em querer pilotar minha máquina. 

− Opa! Temos uma motociclista aqui? 

− Capaz! Não foi o que eu disse! Tu não vais escutar essa infâmia de minha boca! Eu apenas mencionei que a mocinha gosta de pilotar, mesmo que nunca saiba para onde deve virar o guidão... mas, não posso dizer que ela não tenta mesmo assim! 

Que ela é teimosa eu não duvido, mas, imaginá-la pilotando uma moto, sem saber direito o que fazer, gela meu sangue. Se meu pau estava duro como rocha, agora, está encolhido tamanho o temor que a ideia prejudica meu sistema nervoso! Estou vendo que, com ela, além de nunca vir a ter dias monótonos, também terei que a colocar sob rédea curta para não fazer maluquices. Se ela quer aprender a andar de moto, eu mesmo vou ensiná-la, após lhe comprar toda a espécie de proteção que existe no mercado. É isso ou, então, nada feito. 

Ela levanta-se, de novo, e eu pego sua mão, dando-lhe um leve aperto, mas, não um aperto normal de alguém que segura a mão do outro, e sim um aperto de reprimenda. Com a outra mão, cumprimento o Eduardo, como despedida. 

− Eduardo, foi um prazer conhecê-lo.Tenho uma filial, em Porto Alegre, e estamos fazendo algumas mudanças. Se você tiver interesse, acho que podemos conversar um pouco a respeito de você ser um faz tudo, porque, hoje em dia, um profissional com a capacidade de atuar em diversos setores, sem se limitar a apenas uma função, está difícil de encontrar e é justamente do que precisamos, no momento. Acho que você pode ser um grande aliado e uma peça determinante para ajudar minha equipe – dou a minha deixa, plantando uma sementinha na cabeça dele, que retribui o aperto de mão.

- Tri legal isto! Vai seu um prazer conversar contigo a respeito. Amanhã, a gente encontra-se na casa dos meus pais. 

Ele beija minha pequena e sai conosco da churrascaria. Pela postura de pavão que ele adota ao andar do nosso lado, tenho a certeza de que ele não ficará sozinho por muito tempo. Embora admirar homens bonitos não seja absolutamente a minha praia, sei reconhecer o que é belo. E esse rapaz tem uma aparência que o torna o sonho de onze entre dez mulheres...

O trajeto em direção à recepção do hotel é feito em silêncio. Nossas mãos reconhecem-se e namoram. Eu tenho que admitir que ainda estou sob o impacto e o coração disparado por causa de saber que esta mulher arrisca sua segurança. 

− Obrigada por ser tão especial! – ela diz, baixinho, levando minhas mãos aos seus lábios e beijando uma de cada vez. 

Meu sangue ferve de tesão com esse simples e carinhoso gesto. Como é que posso ficar bravo com uma mulher dessas? 






[1]Falcon foram bonecos lançados pela Estrela, em 1978, inspirados em histórias em quadrinhos, publicadas, em 1977 pela Editora Três. Disponível em: http://www.loucoporbonecos.com.br/falcon80/falcon80.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Falcon_(boneco).



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