Capítulo Vinte
Zachary
Eu
não fui maduro o suficiente para esperar ela partir com Rossi para a Itália,
tinha que sair de lá antes deles. Depois da conversa com o Ethan, milhões de
imagens povoaram minha cabeça e em nenhuma delas eu estava. Em algumas era
Sebastian sobre Letícia a tomando, outras eram Martino a beijando, mas as que
mais mexeram comigo, foram as de Larkin de braços dados com ela. Odiei cada
uma, odiei a Letícia por estar em todas, odiei por não estar em nenhuma e odiei
estar agindo como um obsessivo.
Durante o voo de volta para casa, tive que ouvir a playlist horrível da Valery, enquanto ela lia um desses romances
que fazem sucesso. Não conseguia me concentrar em nada, fiquei durante um tempo
olhando para a tela do meu computador desligado, comecei a prestar atenção na
letra da música que estava tocando no momento.
“...Lembra daquelas
paredes que construí, bem elas estão desmoronando. Elas nem tentaram ficar em
pé, nem fizeram um som e eu achei um jeito de deixá-lo entrar. Mas eu nunca
tive dúvida, sob a luz de sua auréola, eu tenho meu anjo agora. É como se eu
estivesse despertando, todas as regras que eu tinha, você está quebrando. É o
risco que eu estou correndo...”.
Reconheço a voz da interprete, Beyoncé,
mas não sei o nome da música.
— Valery, que música é essa?
— Halo da Beyoncé. Gostou? — Ela vem desfilando e senta no meu colo. — Que
tal irmos para o quarto no fundo do avião para podermos discutir melhor sobre
as suas paredes. — Aproxima-se do meu ouvido. — Que tal a gente derrubar essa
parede de roupas e fodermos até desmaiar? Você está me devendo, Zach. Nessa
viagem, você está distante.
Em outro tempo, ela não teria terminado a frase e já estaria nua no meio
do meu avião e eu a fodendo na frente de todo mundo. Em outros tempos, quando
Letícia ainda não existia. Tiro-a do meu colo, ligo o computador e volto ao
trabalho. A viagem é longa, estou revoltado comigo mesmo por não conseguir
tirar aquela mulher da minha cabeça. E como se não faltasse mais nada, até as
músicas da Beyoncé estão mexendo
comigo, daqui a pouco posso colocar um vestido e ficar de quatro, porque já
virei mulherzinha.
Desde que pousamos não saio de casa, mais especificamente, do escritório
de casa, tudo o que tenho que fazer é feito por aqui. Não tenho dormido porque
cada vez que fecho os olhos, o olhar dourado daquela mulher aparece. Apaguei
todas as imagens que tinha dela, todos os áudios, preciso de distância. Eu não
serei dominado por um sentimento medíocre de ilusão, porque tudo o que se trata
de coração é ilusão. Preciso de uma mulher, urgente. Uma não. Quem sabe duas. Talvez
Ethan esteja organizando uma festinha?
— Então, o senhor O´Brian resolveu aparecer, ninguém tem notícias suas
há quase dez dias. Como está e onde está? — ligo para ele.
— Estou trabalhando em casa. Preciso ir a uma daquelas suas festas.
— A coisa é séria. Primeiro; não faço mais esse tipo de festa. Estou com
a Lorena e não quero que nada dê errado. Segundo; você nunca esteve desesperado
assim a ponto de me ligar. Agora desembucha o que está acontecendo?
— Preciso me divertir, tenho trabalhado demais. Esquece! Deixa que eu
mesmo arrumo as garotas.
Desligo o telefone para que ele não fale nada que vá botar meus planos a
perder. Repasso todos os nomes dos meus contatos e acho as meninas perfeitas.
Duas morenas de origem latina, cabelos cumpridos, com bocas que fazem um
estrago. Ligo para ambas e mando um carro busca-las. Enquanto isso, tomo meu
whisky, sentado na varanda do meu apartamento em Manhattan, onde posso ver parte da cidade iluminada.
Quando as garotas chegaram, eu já estava alto. As levei para o quarto de
hóspedes, porque o meu é sagrado, não há motivos para levar fodas esporádicas
lá. Liguei o som e deitei. Logo elas vieram por cima de mim, cada uma tomando
em suas bocas a parte do meu corpo que lhes convinham.
Em meio a transa, eu não sei que porra aconteceu. A música do The Weeknd começou a tocar e fui
reportado de volta à noite em que transei com a Letícia. Não vi mais nada a não
ser ela, linda como sempre, ao som da mesma música que a possuí.
— Letícia... — Eu não sei quantas vezes transei com ela, mas tive tudo o
que queria. Dormi exausto, quando o sol nascia trazendo brilho para vida que
provavelmente já não me pertencia mais.
Acordo com cabelos no meu rosto que não eram meus, apalpo e sinto um
corpo em cada lado. Que merda eu fiz? Abro os olhos e vejo as duas mulheres
dormindo tranquilamente. Bastou abrir os olhos para a minha enxaqueca ou
ressaca me atravessar, mal conseguia manter os olhos abertos. Saí da cama e fui
para o banheiro tomar banho, coloquei roupa e fui achar um remédio ou uma faca,
o que achar primeiro.
Encontro a Mag com o rosto vermelho e pelo tamanho da tromba está
zangada. King estava falando ao telefone concentrado.
— Mas está tudo bem com ela? Já está na Grécia então... Ok. Até. — Eu
sei que ele estava falando da porra da mulher que está acabando com a minha
vida.
— Ela está bem? — Sento no sofá, peço café e remédio a Ruth. King ficou
olhando sério para a Mag, até ela se tocar e se retirar.
— A Letícia teve uma discussão séria com o Rossi. Luck me falou que
quando chegou, ela já tinha esbofeteado o cretino e embarcou para a Grécia
ontem. — Ruth traz meu café, água e meus remédios.
— Aquele bastardo merece uma surra. — King espera ela se retirar.
— Zach, até quando você vai levar essa autodestruição adiante? Ela pode
ser a sua chance de ser feliz, mulheres como ela, foi criada para que caras
como nós tenhamos uma chance de redenção. Aquela menina é um anjo que caiu na
sua vida, não seja um bastardo egoísta e bote tudo a perder, porque a vida vai
te cobrar caro por machucar um anjo como aquele.
— Não sei do que você está falando... — Desconverso.
— Sabe, você sabe. Ela foi feita para você, qualquer um enxerga isso.
Mas se você preferir ficar assim deixe-a ir. Ela não merece um cretino como
você.
Ouço vozes alteradas vindo do quarto de hóspedes, King e eu corremos
para lá e vimos as duas moças colocando roupas enquanto a Mag fervia de raiva e
gritava com elas, estava completamente descontrolada. King retirou as moças e
as mandou para casa e eu fui com Mag para o escritório, hoje era dia para a
conversa, mesmo com uma ressaca dos infernos.
Recosto-me na minha cadeira.
— Seu descontrole está passando de todos os limites. Que show foi
aquele? — Ela retira seus óculos e secou as lágrimas.
— Elas me insultaram quando pedi para elas se vestirem porque o
motorista estava esperando-as. Zach eu trabalho para você por tanto tempo, eu
não mereço ser tratada assim pelas suas amantes. — Isso cortou meu coração. Dei
a volta na mesa e peguei sua mão.
— Eu sei Mag e peço desculpas. Você não tem que lidar com as minhas
merdas o tempo todo. — Ela sorri.
— Obrigada.
— Localize o Ted para mim e mande-o vir agora.
— Sim, senhor. — E se retira.
Meu escritório foi projetado entre os dois apartamentos da cobertura. A
parede que fica atrás de mim, é toda em vidro escuro, daqui posso ver outra
parte da cidade. Perco-me nos meus pensamentos, o que King falou mexeu em
alguma coisa em mim que eu nem sabia que existia. É inegável que tenho um
interesse obsessivo por Letícia e só piorou depois de ter sentido seu gosto, de
memorizar cada pedacinho do seu corpo.
— Queria falar comigo, senhor? — Ted aparece na porta.
— Fecha a porta e sente-se. Ted é possível recuperar arquivos excluídos
do celular?
— Na maioria das vezes é. Posso ver o aparelho? — Alcanço para ele, que
mexe, mexe, mexe demais. — É possível sim. Alguma coisa específica, senhor?
— Não. Recupere tudo e me entregue o mais rápido possível.
— Posso ficar trabalhando aqui? Em pouco tempo já conseguirei
entregar-lhe os arquivos.
— Logo jantaremos. Então corra.
— Não diga uma palavra sobre isso a ele, Mag... — Passando pela sala
ouço King discutindo com a Mag.
— Ele tem que saber afinal King, ele é quem paga todo mundo para
repassar as informações...
— Mulher, você não sabe o que está falando...
— Não dizer nada a quem? — Pego os dois de surpresa. — Mag sorri
enquanto King faz uma careta.
— Luck passa um relatório para o King todo final de tarde. Estava
dizendo a ele que é nosso dever o deixar informado. Já que é o senhor quem nos
paga.
— Podemos conversar em particular, Zach? — King fala a contragosto.
— Vamos para o meu quarto.
— O que você tem para me contar, King? — Sento na poltrona que fica de
frente para a minha cama.
— Antes de qualquer coisa, eu não acho certo a Mag dormir aqui sempre
que quiser. Não concordo que ela tenha livre acesso em todos os cômodos do
apartamento, incluindo o meu quarto e meu escritório.
— De uns tempos para cá você tem ficado incômodo com ela. Por quê? O que
ela te fez? — Ele me olha.
— Mag tem estado estranha, Zach...
— Prossiga. — Ele senta na beirada da cama.
— Luck me envia um relatório no final de cada dia. Nele contém as
informações do que a Letícia fez quem teve acesso a ela, essas coisas. Nós que
somos chefes de segurança, gostamos de ter esses pequenos detalhes, porque se
houver algum problema, as respostas podem estar nesses detalhes. A Letícia
ficou mais tempo do que o esperado na Itália...
Isso me fez pensar que Martino deve ter conseguido alguma coisa.
— Verdade... — Ele balança seu dedo indicador.
— Negativo, não é o que está pensando. Ela precisou ir para Roma fazer
um tratamento para amenizar a dor na costela, ela não podia ter viajado aquele
dia. Depois o Rossi a levou para a sua casa na Sicília, na verdade é em uma
pequena ilha, onde ela pôde descansar por uns dias. E o Larkin esteve dois dias
com ela sem a presença do anfitrião, o que gerou a ira do italiano, que foi
tirar satisfações com a Letícia, acabou nocauteado e ela com a mão machucada.
Agora está com a costela e a mão enfaixada. — Vou até a vidraça que dá para a
parte leste da cidade. Larkin está trabalhando arduamente para atrapalhar tudo.
Isso não dará certo. King continua o relatório. — Não aconteceu nada entre ela
e o Larkin.
— Como você sabe disso? — Ele se coloca ao meu lado.
— Porque todos os chefes de segurança estão com receio de que passem
seus patrões para trás nessa bendita aposta. Então de comum acordo, passamos
relatórios uns para os outros. Zach, eu sei que você acha que ela é como as
outras, só que não é. Ela não quer o empresário, ela quer você, com suas
grosserias, com seus erros. A Letícia não cederá aos outros porque está
apaixonada por você.
— Chega King! Você está velho demais para bancar o cupido e me conhece
muito bem para saber que não acredito em amor ou paixão. Então esqueça esse
assunto. — Ele se afasta.
— Eu vou parar por aqui, só que vou te dar um aviso, deixe-a ir. Seja
homem e saia dessa aposta, você já experimentou para saber o gosto, agora a
deixe viver a vida dela longe de você.
Ouço a porta bater atrás de mim e solto a respiração que nem tinha
percebido que estava segurando. Eu deveria ser homem o suficiente para deixa-la
ir, mas não sou, nem por ela, nem pela aposta. Se ela realmente estiver sendo
sincera e se apaixonou por mim, só tenho que lastimar por ela, não sou homem de
paixões.
Larkin é um bom homem, gentil, educado, quase um santo. Desde que sua
esposa faleceu, nunca foi visto com outras mulheres. Faz o papel do bom moço
solitário, é o sonho de consumo de qualquer sogra na face da Terra. É o homem
ideal para Letícia, ele poderia dar amor, casamento, filhos, tudo o que ela
deseja. Só tem dois problemas nisso, um, ele não sou eu. Dois, ela não é dele.
Sou egoísta, eu não vou deixa-la ir e vou tê-la novamente quantas vezes forem
necessárias para satisfazer meus desejos.
No jantar, Ted me dá um cartão de memória com os arquivos recuperados.
Já deitado na minha cama, acho o arquivo de áudio com a risada dela. Não me
contenho e sorrio diante daquele som que de alguma maneira me conforta, me faz
sentir... Em casa.
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