domingo, 28 de setembro de 2014

MEU DESTINO É VOCÊ - Capítulo 08

Capítulo 8 - O Reencontro do Paisagista com a Dama de Olhos cor de Whisky!
Do alto do coreto, boquiaberta, Eva mirava o homem que frequentava seus sonhos. 
O homem que sua mente evocou no concerto do Municipal e para quem secretamente tocou aquela noite.
O desconhecido do metrô.
Assim como aconteceu naquela manhã na plataforma, já não ouvia os sons a sua volta. Não enxergava a beleza do parque, ou escutava a música da natureza que tanto a fascinava.  Uma emoção completamente nova e ao mesmo tempo, estranhamente familiar, instalava-se em seu coração.  A sensação similar a uma melodia de sonoridade única percorreu seu sangue.
Entre surpresa e aturdida, não conseguia acreditar nas coincidências que os colocavam no mesmo lugar, mais uma vez.
“Coincidência é o modo secreto de Deus agir”. A voz de sua mãe ressoou em sua mente. Sentiu a presença dela de uma maneira tão forte, que olhou para o espaço ao seu lado, certa de que ela estaria ali, sorrindo de sua expressão abobalhada.
Os olhos buscaram mais uma vez o desconhecido. Mesmo a distância, conseguia enxergar em seu rosto, o mesmo espanto com o qual, seguramente, olhava para ele.
Sem deixar de olhar para ela, o homem sem nome retirou as pesadas luvas e colocou no bolso detrás da calça. Apontou a mão direita em sua direção e disse em uma voz alta o suficiente para se fazer ouvir através da distância que os separava.
- Você! Não se mova! – Gritou em um tom exigente.
E literalmente correu ao seu encontro.
Entre atordoado e enfeitiçado, Theo contemplava a mulher no alto coreto.
Sua dama de olhos cor de whisky e pele cor de chocolate derretido. A musicista que tocava com o coração e alma. A moça despretensiosa e divertida com quem trocou mensagens de texto. A personificação de suas fantasias e frustrações.
Olhava para Eva Martins.
A mesma e intensa sensação de reconhecimento ancestral varreu seu corpo e brandiu em seu peito. Era como se cada centímetro de sua carne e ossos gritasse conhecer a mulher que olhava para ele com assombro.
Por alguns instantes, ele apenas a contemplou.
Parada com as mãos apoiadas a base de ferro, que circundava a estrutura arredondada, era a imagem de uma deusa pagã. Uma divindade de beleza etérea e intocada, protegida pela segurança de seu santuário.
Recordou os desencontros, que até poucos instantes atrás, pareciam não ter fim.
- Isso acaba aqui - Declarou determinado enquanto retirava as pesadas luvas de trabalho.
Sem se preocupar com o que seus empregados, ou o que os visitantes do parque pensariam, gritou pedindo para ela ficar onde estava. E como um homem fora de si, seguiu para o correto o mais rápido que conseguiu.
Theo subiu a escadaria de acesso à parte superior do coreto, pulando os degraus, de dois em dois, ou três em três. Ao alcançar o topo, a visão roubou seu ofegante fôlego. Rodeada pelas caixas de mudas que tomavam quase toda extensão do piso, Eva olhava para ele com um misto de incredulidade e curiosidade. Os cabelos cacheados estavam soltos. Usava uma saia ampla e longa, uma camisa branca e um blazer feminino, curto, que marcava a cintura. A alça do violoncelo cruzava os seios cheios, realçando ainda mais a curva da cintura feminina.
Uma poderosa energia, tão antiga quanto o tempo, parecia envolver seus corpos, atraindo, envolvendo, seduzindo...
Com passos decididos Theo cortou a distância que os separava.
Finalmente, após tantos desencontros, estavam frente a frente.  
Os olhos castanhos claros miravam os seus com intensidade.  Eva parecia não acreditar que enfim, se reencontravam.
Ele realmente acreditou que poderia desistir dessa mulher?  – Se perguntou confuso.
Eva sabia que tinha uma expressão abestalhada em sua face, mas não havia nada que pudesse fazer para mudar, ou controlar, sua reação à presença daquele homem.
Os vívidos olhos azuis percorriam seu corpo sem pudor ou hesitação, como se o desconhecido desejasse gravar cada detalhe de sua imagem na memória.  Permitiu a si mesma o mesmo passeio explorador. 
Os cabelos loiros estavam uma bagunça. A pele bronzeada, a barba sombreada de um dia e as roupas de trabalho, surradas, conferiam ao homem a sua frente um ar selvagem e perigoso.  Ele exalava uma masculinidade crua, diferente do homem bem vestido e sofisticado do metrô. E em sua opinião, estava ainda mais tentador.
Sentia que deixava escapar algum detalhe, porém, a proximidade roubava sua capacidade de pensar. O cérebro enfim, registrou um fato importante.
- Você não é professor de literatura – murmurou quebrando o silêncio.
Existia mais alguma coisa que deveria ter percebido, pensou.
Theo sentiu o peito afundar ao ouvir a frase que não era exatamente uma pergunta.
- Não sou um professor, sou um simples jardineiro – revelou.
Incomodado percebeu o mal disfarçado escrutínio dos olhos cor de âmbar, ao mesmo tempo em que, internamente, praguejava contra sua triste sorte.
Usava uma roupa que já vira dias melhores e passara as últimas oito horas trabalhando sob o forte calor do início do outono. Seus cabelos deveriam estar emaranhados e desconfiava que seu cheiro, bem... Era melhor não pensar sobre isso. 
- Decepcionada?
Não era a primeira e nem seria a última vez, que uma mulher se afastava ao descobrir que sua vida não era pautada pelo sobrenome tradicional, nem pelo dinheiro de sua família. Esperava que sua dama fosse diferente, mas parecia que o desejo fora em vão.
Como ele poderia achar que ela estava decepcionada? – Se perguntou intrigada por ele esperar algo tão indigno de sua parte.
Surpreendendo-o, os lábios cheios se abriram em um iluminado sorriso que chegava aos embriagadores olhos cor de mel espesso e saboroso. 
Eva sorriu ao perceber o tom de desagrado na pergunta. Ele se esforçou para disfarçar a expressão contrariada em seu rosto, mas ela enxergara cada centímetro da frustração do homem orgulhoso diante dela. Desejou poder arrancar os cabelos da mulher que certamente o havia ferido no passado.
- Encantada, na verdade – Respondeu sincera.
As duas sobrancelhas dele se ergueram em uma pergunta silenciosa.
Ele não acreditara em suas palavras, percebeu frustrada.
Theo varreu o rosto de traços exóticos. Precisava da verdade.
Estava farto de toda a falsidade e interesse que seu sobrenome parecia provocar.
- Realiza um trabalho incrível –  Eva recomeçou - Seu trabalho exige uma comunhão perfeita de força e sensibilidade –  comentou ao recordar o comovente respeito com o qual ele e outros dois homens trataram o velho tronco de árvore.  
Ele cruzou os braços sobre o peito. O olhar a desafiava a convencê-lo de seu discurso.
Eva sentiu o rosto queimar ao perceber a maneira como olhava para os braços esculpidos pelo trabalho pesado com a terra.
Graças a Deus pelo tom da minha pele – Agradeceu em silêncio.
- Comunhão perfeita? –  Theo perguntou em um misto de provocação e ironia.
Apesar de Eva tentar, quase que desesperadamente distraí-lo, enxergava o tom levemente avermelhado nas maçãs do rosto feminino, assim como o brilho de interesse nos olhos de emoções transparentes.
– Nada mais fascinante aos olhos de uma mulher, do que um homem que tem a força necessária para extrair uma árvore e a delicadeza suave para tocar uma flor – Eva gracejou.
A maneira como o ainda desconhecido a encarou, a fez perceber que sua brincadeira, aos ouvidos dele, soara como um descarado flerte. 
Constrangida, pigarreou e disse a primeira coisa que veio em sua mente.
- Se você não é professor, porque estava com aquela montanha de trabalhos de literatura? Perguntou.
- Os trabalhos eram dos alunos da minha irmã. Ela é a professora de Literatura – esclareceu cauteloso, estudando a reação dela.
- Espero que eu não tenha comprometido um dos alunos dela – Disse em um tom divertido.  Ao ver a expressão confusa no rosto dele esclareceu –  O batom.
Dessa vez foi ele quem sorriu ao recordar do momento em que um dos trabalhos voou em direção ao rosto dela.
- Ela teve certa dificuldade em convencer o aluno que a marca de batom não era uma declaração de amor da parte dela.
Eva apertou os lábios para não rir.
- E além do mais, tenho é que agradecer a você por aquela marca. Nunca mais ela esqueceu a papelada dela lá em casa. Se eu soubesse que uma marca de batom faria esse milagre, eu mesmo teria passado o bendito cosmético e beijado os malditos papéis.
Eva riu com vontade ao visualizar a cena em sua mente.
O som do riso leve e descontraído fez estragos em seu corpo.
Estou encrencado – reconheceu em silêncio ao assumir que estava irremediavelmente atraído por aquela mulher.
Eva controlou o riso ao notar que o homem a sua frente não compartilhava da sua diversão. Muito pelo contrário, observava-a com traços sérios em seu rosto. Parecia compenetrado em algum dilema particular.
Com dois passos, ele se aproximou ainda mais.
Menos de vinte centímetros separavam seus corpos.
Eva estava fascinada.
Tudo naquele homem parecia familiar.  A voz, o olhar, a postura segura com um leve e disfarçado toque de arrogância.
O perfume de morangos silvestres invadiu suas narinas. Ele teve de usar todo o seu autocontrole para não colocar o rosto na curva delicada do pescoço feminino e inspirar profundamente aquele aroma que o deixava maluco.  
- Está indo ou vindo de um compromisso profissional? – Theo perguntou apontando para a alça da capa do instrumento, antes que fizesse algo idiota, como beijar aquela mulher sob um coreto de um parque e tendo seus empregados como expectadores.
O corpo de Eva respondia com uma força, até então desconhecida, a quase íntima proximidade daquele homem. Ele não a tocava, poderia dar um passo para trás e se colocar a uma distância segura, mas não conseguia, sendo extremamente sincera, deseja mesmo, era dar um passo para frente. Distraída olhou para o local indicado por ele e não conseguiu conter a exclamação de surpresa. Esquecera-se do Sarau Literário, completamente.
- Sou convidada para um Sarau aqui na Pinacoteca – respondeu consultando o relógio – E estou em cima da hora – lamentou.
- Quanto tempo dura essa apresentação? – Theo perguntou sem rodeios, os olhos fixos no dela.
- Não é exatamente uma apresentação.  É um Sarau Literário, eu e um violinista fomos convidados para participar, mas acho que ao todo o evento terá umas duas horas.
- Em duas horas estarei em frente à Pinacoteca. A levarei para jantar - comunicou.
Não era uma pergunta muito menos um convite. Ele comunicava um fato.
Eva sorriu entre encantada e divertida pelo tom de voz exigente.
- Não costumo jantar com desconhecidos – Retrucou charmosa.
Somente então Theo se deu conta de que eles ainda não haviam se apresentado.
- Prezo que zele por sua segurança senhorita Eva Martins.
Eva não conseguiu disfarçar o espanto ao ouvir seu nome.
- Nos conhecemos? Eu conheço você? – Perguntou chocada.
- Sim, nos conhecemos – Theo respondeu sério.
- Por que não consigo me lembrar? Quer dizer... Eu sinto como se eu já o conhecesse, mas sei que não conheço... Pelo menos não me recordo e eu sei que me recordaria... Por que não me recordo de você? – perguntou por fim.
Theo segurou o riso, divertido por constatar que quando estava constrangida, sua dama de olhos cor de whisky, falava sem parar.
- Em nossas conversas, depois que revelei qual era o meu trabalho, você passou a me chamar de empreiteiro das flores.
A boca e os olhos dela se abriram em uma expressão de choque.
Finalmente descobriu o que sua mente entorpecida pelos hormônios, deixara passar. O desconhecido do metrô era o mesmo homem que encontrara a carta da sinfônica. O mesmo homem que a segurou nos braços por um breve momento. O anjo da guarda paciente, gentil e atencioso com quem trocou mensagens de texto.
- Theo? – perguntou chocada - Theo Santini?  - repetiu a pergunta - O meu Theo Santini? – questionou mais vez.
Um sorriso largo e arrogante surgiu na face do paisagista.
- Seu Theo Santini – Ele respondeu bem humorado.
A boca se abriu mais uma vez.
Estarrecida, Eva percebeu o que acabara de escapar por seus lábios.
Passou a chama-lo de “meu Theo Santini” nas conversas com Laura, quando a amiga revelou conhecer um Theodoro Santini, herdeiro de uma tradicional e abastada família paulistana. Como era óbvio, para ela, que falavam de homens diferentes, passou a se referir ao homem com quem trocava mensagens, como “meu Theo Santini”.
- Quero dizer, não meu... - corrigiu constrangida - Eu não...  – Eva sentia o rosto queimar - Não quis dizer... Que era meu... De fato...  – se enrolou um pouco mais - Não nesse sentido – ela gaguejava sem parar - Me des...- não conseguiu terminar a frase.
Em um momento ela se afogava em um mar de palavras desconexas e constrangimento. No outro, os lábios dele cobriam os seus...
O beijo lento e sedutor não encontrou qualquer resistência.
 Theo explorava seus lábios sem pressa, provocando e torturando com a perícia de um homem que sabia exatamente o que desejava. Ambas as mãos seguraram seu rosto.  Ele sussurrou algo, mas ela não conseguiu entender. No instante seguinte, ele aprofundou o beijo e quando as línguas se encontraram,  grunhiu em sua boca. Um som genuinamente masculino de aprovação que roubou seu controle e seu raciocínio. 
A boca dele agora devorava a sua em um beijo voraz e faminto. Eva correspondia com a mesma urgência. Sem deixar de beijá-la, as mãos desceram por seus ombros e mesmo sobre o tecido leve do blazer de verão, acariciaram a extensão de seus braços.
Ouvi-o grunhir novamente em sua boca e em seguida, mãos firmes agarraram sua cintura e puxaram seu corpo de encontro ao dele. O contato provocou um gemido sexy e necessitado que ela não sabia ser capaz de produzir.
Novas emoções e sensações percorriam cada centímetro de sua pele, despertando, aquecendo, sensibilizando.  Notas de uma composição etérea soaram em sua mente. A música parecia envolver em seus corpos em um encontro através dos tempos.  E mais uma vez, sentia com uma assustadora certeza que reencontrara seu lugar no mundo. Experimentava o entusiasmo do regresso ardentemente desejado, a embriagadora sensação de que enfim extinguiam a saudade de algo que, de fato, nunca viveram.
Ele tentou resistir...
Lutou com todas as forças... Usou todo o autocontrole.
Mas ao enxergar o tom levemente rosado, na face de sua dama e ouvi-la gaguejar graciosamente, enquanto tentava explicar o porquê o chamara de “meu Théo Santini”, foi sua perdição.
Mandando o bom senso ao inferno a beijou.
Quando sua boca cobriu os lábios cheios e suaves, esqueceu-se de todos os motivos e razões para não se permitir desvendar qual era o sabor daquela mulher.
Cativado, descobriu que Eva tinha o sabor doce, suave e inebriante da primavera.  Beijá-la o fazia experimentar a inquietante expectativa que a estação das flores trazia. Mais vida, mais cor e música. Em sua mente ouvia uma melodia suave e única.
Necessitando experimentar mais, aprofundou o beijo.
O sabor de primavera se intensificou e incendiou seu corpo. O desejo explodiu poderoso e ele não foi capaz de controlar o feroz grunhido, que nasceu em seu peito, escalou sua garganta e escapou entre seus lábios enquanto a beijava.
Beijar já não era o suficiente.
As mãos tocaram o pescoço de pele suave, seguiram para os ombros protegidos pelo tecido do casaco que ela vestia. Desceram pelos braços que se apoiavam nos seus.
Ele queria mais. Precisava de mais.
Abraçou a cintura feminina com ambas as mãos e puxou o corpo curvilíneo de encontro ao dele. Quando corpo macio e cheiroso de Eva chocou-se contra o seu, orgulho e posse gritaram vitoriosos. Ouvir o delicioso gemido feminino de prazer e necessidade, roubou o que restava de sua sanidade.  Um das mãos deixou a cintura e infiltrando-se sob o casaco, percorreu lentamente a longitude das costas da mulher que seu corpo reconhecia com uma intimidade ancestral. Sobre o fino tecido da blusa, sentia na palma da mão, a temperatura morna e convidativa da pele cor de chocolate derretido.
Sons de assovios e ovações animadas chegaram aos seus ouvidos.
Ofegantes e atordoados interromperam o beijo.
Distantes e ainda em torno do tronco de arvore recém-removido, os empegados gritavam frases bem humoradas de incentivo ao casal protegido dos olhares curiosos, no alto do coreto.
- Desculpas por isso – Theo disse com a testa encostada a dela – Eles estão sumariamente demitidos – completou.
O riso estrangulado, constrangido, escapou dos lábios dela.
- Eles não têm culpa se esquecemos de onde estamos – disse ainda agarra a camisa dele.
Theo acariciou a face de pele acetinada e a fez olhar para ele.
O olhar enevoado pela paixão e os lábios inchados pelos beijos compartilhados, a deixavam ainda mais encantadora. 
- Eles não nos veem Eva – revelou  – estamos bem no centro do coreto. Estão fazendo esse barulho todo, porque corri como louco pelo parque para chegar até você. E porque em breve estarão desempregados – disse com falsa irritação e arrancou um riso tímido dela.
Eva ainda sentia em seu corpo todos os efeitos dos devastadores beijos.
- Preciso mesmo ir Theo – sorriu ao pronunciar o nome dele.
Ainda não conseguia acreditar que o desconhecido do metrô e o “seu Theo Santini” eram a mesma pessoa.
- Eu acompanho você até a Pinacoteca – disse liberando, contra sua vontade, a mulher ainda aninhada em seus braços. – Eu levo o seu violoncelo – pediu.
- Eu já estou acostumada com ele -  Respondeu ajeitando a alça da capa do instrumento.
- Sou um homem educado na velha escolha senhorita Martins – retrucou charmoso – Fui educado para nunca permitir que uma dama caminhe sozinha por um bosque, ou carregue um peso desnecessário. Minha mãe se esforçou muito para fazer de mim um cavalheiro, irá mesmo jogar todo esse trabalho fora?
Ele era impossivelmente charmoso, ela admitiu.
- Não desejo carregar tal culpa e remorso em meu coração – retrucou com a mesma dramaticidade.
Eva sentiu o coração aquecer ao ver o cuidado e respeito com que Theo recebeu seu instrumento.
De alguma maneira, ele sabia que era mais que um instrumento para ela.
Deixaram o coreto, em um silêncio cúmplice, a intensidade dos beijos trocados, pairando entre eles, como energia estática.
Assim que pisaram no solo do parque, o braço livre dele abraçou sua cintura.
- Então? Que tal me contar a história de por que me chama de “meu Theo”?– perguntou em tom divertido.
- Chamava – ela o corrigiu.
Eva reconhecia estar brincando com fogo. Apaixonar-se era tudo o que menos precisava, quando em poucos meses, estaria partindo para outro país. Mas, caminhar abraçada a aquele homem, parecia algo tão certo, tão... Familiar.
Theo pressentia que Eva necessitava de espaço.  Porém, não conseguir deixar as mãos longe dela. Ainda sentia como se tivesse acabado de ser atropelado por um dos vagões do metrô. Atordoado, excitado, enfeitiçado. Nunca uma mulher mexeu tão profundamente quanto a talentosa musicista que, de seu jeito bem humorado, contava como passou usar o pronome “meu” para se referir a ele.
Sem conseguir acreditar no que ouvia, seguia a narração de Eva. Atônito, descobriu que Eva não fazia ideia que “o seu Theo Santini” e o Theodoro Santini, que a amiga Laura conhecia, eram a mesma pessoa.
Ao chegarem diante da entrada da Pinacoteca, conseguiu encobrir o emaranhado de sentimentos que trazia em seu peito. Pela primeira vez, para uma mulher, ele era simplesmente o paisagista Theo Santini.
Sem a tradição e o peso do sobrenome e do patrimônio de sua família.
Porra! Como isso era bom! Pensou.
- Esta entregue senhorita – Disse ao devolver o violoncelo.
- Obrigada senhor empreiteiro das flores – Eva gracejou.
Ouvir a saudação despretensiosa o fez sentir uma emoção que não reconheceu ou soube nomear. Quando deu por si, mais uma vez a beijava como um homem sedento diante do último gole de água do deserto.
- Preciso ir – Eva lamentou quando as bocas enfim se separaram.
- Não consigo parar de beijar você – confessou – Duas horas Eva – disse ao tocar os lábios dela com os seus em um último e rápido beijo  – Duas horas – repetiu.

E sem olhar para trás, seguiu novamente para o Parque Jardim da Luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário