terça-feira, 30 de setembro de 2014

O LADO BOM DE SER TRAÍDA - Capítulo 41


Caio

Estou sentado, sozinho em meu apartamento, e totalmente perdido em meus pensamentos, pensando no nada e no tudo, como minha vida mudou em tão pouco tempo, mas o que está feito está feito e não posso me lamentar, e desejar não ter agido dessa forma. Às vezes me surpreendo no que o impulso pode causar em nossas vidas.

Travo uma guerra interior, desejando apenas a paz que deixei correr entre os meus dedos. Mas como ter paz? Se o que fiz, magoou a pessoa que mais admiro na vida. Meu celular está tocando e não consigo me mover, como se o meu mundo tivesse parado, enquanto eu analiso todos os atos tomados nos últimos tempos. 

A insistência nas ligações, me fazem sair do meu devaneio. Provavelmente deve ser a Nicole, para torrar o último resquício de sanidade que me resta. 

- Polícia Militar, com quem falo? E não sei porque, meu coração acelera descompassadamente, mas deve ser engano. Não tem o porque receber esta ligação. 

- Deve ser algum engano!

- Esse telefone é do Sr. Caio? Só pode ser esses trotes de quem não tem o que fazer.

- Amigo não sei onde conseguiu meu telefone, mas não estou com tempo para ouvir piadinhas uma hora dessa. 

Antes de desligar, ouço o que não queria ouvir nunca na minha vida.

- Sou o Sargento Pereira o Sr. conhece Bárbara Nucci? Nesse momento me sento, porque não sinto minhas pernas.

- O que tem ela? Não brinque com o que tenho de mais precioso.

- Calma Sr., ela acaba de se envolver em um acidente, e pelos seus documentos, constatamos que ela tem convênio, e o contato que encontramos para emergência e do Sr, então presumo que a conhece. 

- Como assim acidente? Como ela está? Me diga onde ela está? Começo a me alterar no telefone, tudo isso está confuso.

- Sr. Caio, se acalme, e escute com atenção! Estamos levando-a para a emergência, tem ciência se ela tem algum tipo de alergia a qualquer medicamento?

- Espere, leve-a para melhor hospital, o convênio dela é ótimo, mas fique aquém, serei responsável por qualquer débito. E ela não tem nenhuma alergia. 

- Ok, estamos próximos do Sírio Libanês, procure informações da paciente na emergência. 

Desligo o telefone rapidamente, e sigo para o hospital. Tudo aconteceu tão rápido, que a hora que vejo já estou no estacionamento do Hospital Sírio libanês, invadindo a emergência atrás de noticias do grande amor da minha vida. Os sentimentos de culpa me tomam a todo o momento.

Vejo pessoas caminhando de um lado a outro, tento me informar na recepção do pronto atendimento onde posso ter notícias dela. A lerda da recepção demora uma eternidade pesquisando em seu sistema, minha vontade é de pular o balcão e eu mesmo pesquisar as informações que necessito.

A recepcionista me questiona sobre o meu grau de parentesco com a Babby.

- O que o Sr. é da paciente Bárbara Nucci? - Fico mudo por uns instantes, foda-se, vou responder o que de fato fui e serei novamente.

- Sou o noivo dela.

Ela autoriza a minha entrada e eu agradeço aos céus a oportunidade que está me dando de me aproximar sozinho dela e cuidar neste momento de fragilidade. 

Não sei se estou mais nervoso pelo que vou encontrar pela frente ou por estar em um hospital, detesto esse cheiro mórbido e a frieza de seus corredores.

Em busca por informações, me deparo com uma delícia de branco (mas por que porra estou pensando assim? É inevitável), ela com as curvas de ressuscitar qualquer morto, e ainda por cima, dá um sorriso de que "está facinha". 

Balanço a cabeça, para tirar estes pensamentos lascivos, e focar na Bárbara. 

- Enfermeira, por favor, preciso de informações sobre uma paciente que deu entrada por causa de um acidente de moto, pode ajudar?

- Ela está passando por alguns exames, basta esperar. Mas se precisar de algo, me chama. E dá uma piscadinha. 

Fala sério! Eu tento andar na linha, mas o destino não deixa. Sempre colocando mulheres no meu colo, é tentação do tinhoso. Mas a realidade não demoram em bater, e a consciência pesa instantaneamente. Não consigo imaginar em perdê-la, perder para a morte, não é isso que planejei. 

Marco

Estou agoniado, cada dia mais eu tenho a certeza que a Bárbara é a mulher que veio para me resgatar, que veio para me mostrar que amar é possível. Quero preparar algo maravilhoso para ela, mostrar que o nosso amor é bem maior, apesar do curto tempo que estamos juntos, o nosso destino está entrelaçado.

E é por este amor maior, que estou angustiado por ter deixado ela ir sozinha de moto para casa. Sei que ela é uma exímia piloto, mas sou protetor, e não quero que nada aconteça com ela. Por outro lado, não posso deixar a minha filha, ela é minha luz, por isso, quero o quanto antes, ter as duas bem próximas a mim, para amar e proteger com todas as minhas forças.

Chego em casa e está tudo quieto, depois da vinda da Vitória, sempre é bom chegar e ouvir os seus gritinhos, quando está brincando coma D. Estela ou a Rafaela. Provavelmente está dormindo.

Quando entro no quarto, a Rafaela está diferente, com os cabelos soltos, salto alto, nunca a vi assim, provavelmente vai sair, e só estava me esperando chegar.

- Rafaela, como está a Vitória?

- Marco, ela está muito bem, totalmente sem febre. Agora dorme feito um anjo. Ah, antes que me esqueça, a Estela ligou, e informou que não vai poder vir, por motivos pessoais, mas eu assegurei que posso ficar em seu turno, e amanhã ela cobre o meu.

- Perfeito. Não quero nenhuma das duas, infringindo as regras trabalhistas. Mas se você quiser sair, pode ir. Vejo que já está arrumada, não quero estragar a sua noite.

E com isso, ela vem caminhando lentamente ao meu encontro, não estou entendo mais nada!

- O Dr. veio sozinho? - Ela me encara com cara de predadora, chego achar até a cena patética.

- Sim, o que há com você Rafaela? - Do nada ela começa a se despir, mas que porra é essa? O que essa moça tem na cabeça.

- Rafaela, que atitude é essa. Vista a sua roupa, não quero ser grosso com você. - Era só que me faltava, a menina quer me seduzir.

- Dr. Marco, fique calmo. Não percebeu que eu quero você? Estou pronta para me entregar. Guardei por todos os anos da minha, vida o que uma mulher tem de mais precioso para um homem. 

Viro-me em direção oposta, não quero dá nenhuma esperança, se ficar para assistir este showzinho barato. 

- Marco quero que me tome, porque meu coração já é seu há muito tempo. Agora quero que você me torne mulher.

Até que fica apenas com uma fina e pequena lingerie. Essa mulher ficou louca, só pode!

- Só vou dizer uma única vez, vista a sua roupa, e pode sair da minha casa, e amanhã venha acertar as contas, isso que está fazendo é inadmissível.

Ela avança, tentando me agarrar, mas sou mais rápido e seguro o seu pulso. Por Deus, o que deu nesta mulher?

- Não vou desistir de você, meu amor! Eu te amo, quero tê-lo aqui e agora. Não aguento mais resistir.

Não dou tempo dela falar mais nada, apenas pego-a, juntamente com as suas roupas, e levo em direção à sala.

- Agora se vista, e te dou um minuto para sair da minha casa, nada mais do que isso. E não volte mais.

Com isso, deixo-a plantada na minha sala, com cara de espanto. E a minha preocupação é explicar toda esta peripécia para a Bárbara, que já tinha "cantado a pedra" desde sempre.

Vou em direção ao meu quarto, para dá tempo a Rafaela se recompor, e repensar no papelão que se prestou, e o mais importante, saber cadê a minha deusa.

Ligo para o seu celular, chama, chama, chama até cair na Caixa Postal. Mulheres. Provavelmente deve estar tomando um longo banho, usando centenas de cremes, óleos e perfumes, mal sabe ela, que o seu cheiro natural, é o melhor.

Volto para a sala para saber do paradeiro da Rafaela, e de fato ela já sei foi. Menos um problema para atribular a noite, vou ligar para o Pediatra da Vitória, para saber melhor sobre esta febre, já que a enfermeira resolver pirar.

No segundo toque, o médico atende:

- Dr. Roberto, boa noite! Aqui é o Marco, pai da Vitória, desculpa o horário, mas precisava falar.

- Oi Marco, pode falar. Estou de plantão hoje. Em que posso ajudar?

- Bom, hoje a enfermeira da Vitória informou que o Dr. veio até aqui para verificar a febre da minha filha, só quero saber se o Sr. desconfia do que levou esta febre.

- Febre? Marco, deve ter algum engano, hoje eu não fui ver a Vitória, não soube de nenhuma febre.

- Como não? A Rafaela foi categórica, quando avisou que o Sr. esteve aqui.

- Ela deve ter chamado outra pessoa, e se confundiu.

- Realmente, deve ter sido isso. - Vou encerrar por aqui, pois isso está muito estranho. - Muito obrigado pela atenção.

- Por nada, disponha.

Desligo o telefone, totalmente surpreso com tudo isso. Será que a Rafaela arquitetou tudo isso? Não vou pensar nisso agora, só vou garantir que a minha bebê esteja bem, e saber que ela não estava com febre de uma certa forma é um alívio, apesar de toda a mentira que ronda a estória.

Olho para o relógio e já se passou 01 hora desde o momento que me despedi da Bárbara, ela me garantiu que viria aqui pra casa, será que desistiu? Ligo novamente para o seu celular, e nada! Resolvo tentar o telefone fixo de sua casa, e nada! Já estou ficando preocupado. Não sei mais o que pensar.

Enquanto espero-a, vou ler um livro, chegou a nova coleção de Direito do Trabalho do Prof. Cairo, e estou louco para ler. Fico sentado na poltrona no quarto da Vitória, quero estar perto caso ela acorda. Em meio à leitura e com bons ensinamentos, não deixo de pensar na minha sereia. Novamente, ligo para o seu celular. Mando uma SMS, apenas para me certificar. A leitura está muito interessante, mas não o suficiente para não me deixar ansioso e preocupado pela falta de retorno da Bá.

Ando de um lado para outro, passo as mãos no cabelo, vou fazer um buraco neste quarto. Não tem como ficar assim sem notícias. Com a Vitória, agora já acordada, resolvo ligar a meus pais e a Nana pedindo que venham para cá, e me ajudem, ficando com a minha princesa, o melhor a fazer é ir ao apartamento da Bárbara, não é possível, ela não é assim, sumir sem dá explicações e se chegou em casa cansada e não conseguiu vir pra cá, tudo bem, mas tenho certeza que avisaria.

Ligo para a Estela pra me certificar, se não houve mais nenhum engano da Rafaela e não deu outra, descubro que foi mais uma armação dela. Explico rapidamente para a Estela que preciso de seu apoio com a Vitória e ela se prontifica imediatamente ir para minha casa. Mesmo com o cuidado e amor de minha mãe e da Nana, ambas não são enfermeiras. 

A minha mãe, esperta que é, já trouxe a Nana de carona. 

- Filho, que surpresa foi esta?

- Mãe, surpresa mesmo. Eu tenho que ir ao apartamento da Bárbara, ela não dá notícias, e estou muito preocupado.

- Mas vocês brigaram?

- Não, estamos super bem. Mas depois explico para todos, agora tenho que ir. Chamei também a Estela, ela não deve demorar de chegar. 

- Pode deixar, e juízo!

E assim, vou direto para o apartamento da Bárbara. Quando chego à portaria, o porteiro já me conhece, ele deve saber se ela chegou bem.

- Sr. Antônio, boa noite! Sabe me dizer se a Bárbara já chegou?

- Dr. Marco, boa noite! A D. Bárbara não chegou não.

- Como não? Meu coração já está acelerado, parece que vai sair do peito, estou com um pressentimento ruim.

- Eu cheguei aqui às 19:00 hrs, e até agora ela não chegou, e eu não sai desta portaria por nada.

Oh meu Deus, o que foi que aconteceu com a minha sereia? Tremo tanto que mal consigo discar os números em meu celular. Me dou conta que não tenho o telefone da Patrícia e nem da Márcia, muito menos sei o telefone de qualquer parente da Bárbara. Estamos juntos já algum tempo e não tenho nenhum contato para me certificar o que posso ter acontecido com a minha sereia. Incompetência de minha parte, preciso corrigir este erro, assim que nos encontrarmos. 

A alternativa que tenho, é ir para o escritório dela, quem sabe alguém por lá pode me ajudar, um porteiro, um vigia, sei lá, qualquer pessoa. Enquanto me dirijo ao seu escritório, vou ligando para todos os contatos que tenho, ligo para grandes amigos e explico por cima o que aconteceu, dou características da sua moto e o possível trajeto que tenha feito. 

Bato no volante diversas vezes, parece que a cada rua que entro o caminho vai ficando mais longo, chego ao prédio da Bárbara e logo na portaria encontro um senhor de idade, que me olha desconfiado.

- Boa noite, meu nome é Marco, sou namorado da Bárbara Nucci, que tem um escritório de contabilidade aqui no prédio. - Falo rápido, atropelando as palavras, mas o desespero é notório. 

- Boa noite, sei sim quem é a dona Bárbara.

Explico a ele o acontecido, mas percebo certa relutância em me dá qualquer informação, minha paciência vai se esgotando, mas não posso me alterar agora, ele é somente a opção que tenho para chegar o mais próximo da minha mulher.

- Olha eu tenho o telefone da casa do sócio dela, serve?

- Claro que serve. E não perco tempo, já vou ligando. Chama, chama, chama e nada! Meu Deus, ninguém atende. 

- Ele não atende, será que o senhor não tem o telefone da Márcia ou da Patrícia? 

Ele mexe em alguns cadernos, futuca aqui e acolá, até que acha o telefone da Márcia, enquanto isso estou quase enfartando! 

Ando de um lado para o outro, novamente na angústia de ser atendido. E finalmente alguém me atendeu hoje. 

-Alô!

-Márcia, boa noite é o Marco, namorado da Bárbara. Você tem notícias dela?

- Boa noite Marco, eu não falo com a Bárbara desde a 18:00, quando ela saiu dizendo que jantaria com o senhor. Aconteceu algo?

E mais uma vez explico todo o acontecido, me justificando pela preocupação. 

Ela já começa a ficar desesperada, mas parece ter eficiência e enquanto fala comigo no celular, vai ligando para a Patrícia pelo telefone fixo e explicando a situação. Pelos argumentos e tom de sua voz, acredito que a Patrícia deve estar surtando do outro lado da linha. Ela me dá instruções de como chegar na casa da Patty, e ela vai nos encontrar lá. 

Um passo dado, a Patrícia tem as chaves da casa da Bárbara, quem sabe lá encontramos alguma pista, meu coração dói muito, nunca senti nada parecido, tenho vontade de sair gritando pelo mundo em busca de notícias dela.

Impotência esse sentimento me persegue, primeiro senti pela minha pequena e agora em ajudar a minha mulher. Mil coisas estão passando pela minha cabeça: sequestro, acidente, passou mal.. não sei, mas só imagens ruins vem na mente. Faço mais algumas ligações e meus amigos me certificam que estão esperando retorno.

Pego a Patrícia e a Márcia e caminho direto ao apartamento da Bárbara, as meninas estão tagarelando sem parar, pensando em várias possibilidades, até cogitaram em ligar para o tal do Caio, mas logo desistiram. Até ligar para os pais dela, a Patrícia cogitou. 

- Patrícia, não vamos nos precipitar antes de saber o que está acontecendo. Eles moram longe e estão impotentes como nós nesse momento. Vamos apenas descobrir como podemos encontrá-la.

Ela apenas assenti, já que não pára de chorar. 

Chegamos no apartamento da Bárbara e passa um filme na minha cabeça. Me sento no sofá e coloco as mãos na cabeça. Onde está meu amor? 

Meu telefone toca, não espero o segundo toque.

- Marco falando.

-Marco sou eu Luiz Galvão. Você me disse que ela dirigia uma moto preta modelo GSX 750 nas imediações da Luiz Carlos Berrini?

- Isso Luiz, me fale logo o que aconteceu por favor. Ele começa a falar, mas depois da palavra acidente, as minhas pernas fraquejam, e as lágrimas começam a rolar. 


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