domingo, 15 de novembro de 2015

A Vitrine - Capítulo 02


Capítulo Dois

Segunda-feira tensa nessa empresa, um dos clientes achou que esconder o fato de ter tido um caixa dois não era muito importante, para piorar a amante tinha acesso a conta e renovou o guarda roupa com a metade, em Miami. Um dos piores tipos para lidar, velhos babões amantes de ninfetinhas com a empresa da família beirando a falência.


O contrato não é da minha responsabilidade, mas fiquei com dó do Camargo, um senhor de sessenta e cindo anos que aparenta ter dez anos a mais por causa de clientes assim. Ele é muito bom no que faz, só que também é tolerante demais, as pessoas com o rei na barriga acham que podem tratar os outros de que qualquer maneira, não pode!

Kevin tentou intervir na discussão, mas não conseguiu acalmar o “tiozin” ali, minha paciência estava por um fio. O cara conseguiu atrapalhar o serviço de todo mundo, até que eu entrei na sala.

Kevin estava de pé virado para janela, o Camargo estava olhando uma papelada, o advogado do senhor exaltado e uma mulher, que pelo seu jeito de que não está nem aí, deve ser a responsável por esvaziar o caixa dois.

— Qual o problema, Kevin? – Dirijo-me direto para o presidente da Global.

— O senhor Monteiro está insatisfeito com nosso trabalho, quer que troquemos o consultor, porque segundo ele, o Camargo não serve nem para limpar banheiros.

Fui até o Camargo, pedi licença e perguntei onde o problema estava pegando – Lê, ele não mencionou que a secretária também tinha um cartão corporativo de outro banco. Com os boatos de falência foi o suficiente para o credor não querer renegociar, até porque não são o banco principal. Mas, com a auditoria, veio à tona uma conta com saldo suficiente para quitar essa dívida, só que ele não quer. Segundo o senhor Monteiro, se usarmos para quitar esse rombo, ele não terá como sobreviver.

Nós temos alguns códigos como, segunda ou terceiras são amantes, sobrevivência é a família, quando usamos a palavra rombo é porque o estrago é tão grande quanto um buraco negro e por aí vai. Peguei a pasta, folheei por alguns minutos.

— Quem é ela? – O “tiozin” pergunta.

Antes que Kevin pudesse responder, falei – Sou sua nova consultora.

— Era só o que me faltava, tirar um velho e colocar uma mulher, é trocar seis por meia dúzia.

Toda minha educação – O que me faltava senhor Monteiro, é você estar à beira da falência e achar que ainda pode exigir alguma coisa. Aqui na Global aquele ditado que o “cliente sempre tem razão” não funciona, se nos procuraram é porque estão com a corda no pescoço. Então, o senhor deve ficar bem tranquilo e nos deixar fazer o que estamos sendo pagos para fazer. E comigo, educação não vai no pacote. Pelo que vi aqui, sua amante gastou mais do que deveria e o senhor não quer que sua família saiba desse pequeno detalhe. Eu compreendo, contar para eles que estão prestes a ficarem pobres por causa da péssima administração e ainda que a amante tem mais gastos que eles, não será bem recebido.

Ele se levanta e fala ainda mais alto – Você não pode falar assim comigo, quem você pensa que é?

— Eu sou aquela que vou salvar sua empresa da falência, bom, depende, o senhor quer sair do buraco?

Visivelmente irritado ele responde – Por qual outro motivo estaria aqui ainda?

— Ótimo, então estamos de acordo pelo menos em uma coisa. Camargo, concordo com você, vamos usar o dinheiro do desvio para quitarmos a dívida, confiscar o cartão e encerrar a conta da secretária...

A “secretanha”, mistura de secretária com piranha, fala – Epa, meu cartão? Por que?

— Porque você é secretária, não precisa...

A morena resolve me questionar — Eu faço compras para o Monteiro, sabia?

Olho uma das cópias da fatura – Não sabia que o seu patrão andava de saltos Louboutin, senhorita. Camargo também acho interessante fazer algumas mudanças no quadro de funcionários, começando pela a secretária do dono. Se como amante ela não sabe economizar, como secretária será pior ainda.

Monteiro senta ajeitando sua gravata e fala – Se vocês não se incomodam, pretendo continuar com o consultor.

Pisco para o Kevin, que concorda, saímos da sala conversando – Por que você deixou aquele homem surtar daquela maneira? Nossa obrigação é salvar a empresa e não ser condescendentes com eles.

— Lê, você sabe que não gosto de expor nossos clientes. A amante é uma parte privada da vida dele, não cabe a mim trazer isso à tona. Podemos violar a privacidade.

— Aprenda Kevin, aqui não é como no seu país, onde as crianças de seis anos gritam com os pais porque violaram sua privacidade, aqui, o máximo de privacidade é ir no banheiro com a porta fechada. Bom, mudando de assunto, preciso que você dê uma olhada em um arquivo que fiz para enviar aos empresários que estarão na Vitrine.

— Arquivo?

Entramos na minha sala, viro a tela do computador para ele – Com os principais projetos...

— Estou vendo que você incluiu os meninos do software.

Sento na minha cadeira – Há uns dias atrás os aconselhei a abrir uma empresa para desenvolver os softwares. Esses meninos são muito bons, o aplicativo que fizeram para a Global, se for adaptado pode ser usado em qualquer multinacional. Eles merecem essa chance e empresas de informática estão em alta.

— Gostei, está aprovado.

— Mandarei somente doze horas antes de desembarcarem aqui, ficarão mais ansiosos.

Lorena entra na sala – Lê, o Ricardo está aqui e quer dar uma palavrinha com você.

— Pode mandar entrar, Lolo.

Kevin se levanta e fala – Faço muito gosto na sua relação com o Ricardo, às vezes te acho muito solitária Letícia. Merece alguém que a faça feliz.

— Obrigada, senhor presidente, mas ele e eu não temos nada...

A porta se abre e um belo exemplar masculino entra, Ricardo é diretor do departamento jurídico da Global, um belo homem, olhos castanhos, cabelos curtos e bem penteados para trás, sempre elegante com seus ternos, alto, corpo bonito e desfrutável. Nós temos um casinho, de vez em quando a gente sai para jantar e algo mais, nada de relacionamento, não estou pronta para me envolver com ninguém, ainda.

Ricardo encontra Kevin na porta e apertão as mãos — Boa tarde, não sabia que estava aqui, teria vindo mais tarde.

Kevin responde – Já estou de saída. Até mais tarde, pessoal.

Levanto para recebe-lo, porque educação é tudo. Ele me dá um beijo que educadamente viro para pegar na bochecha, respeitar o local de trabalho também é tudo!

— Bom dia Ricardo, que bons ventos trazem o galã da empresa até minha sala? Sente-se por favor.

— Vim te ver, estava com saudades.

Homens de ternos me atraem, demonstram elegância e às vezes poder, no caso do Ricardo, charme e elegância, ele sabe como usar isso quando quer.

— Cansou da nova secretária? – Falo rindo – As conversas correm.

Ele descruza as pernas e se ajeita na cadeira, sinal de nervosismo – Não sei o que falaram, mas é mentira, eu não...

Abro um sorriso e levanto a mão – Meu querido não se preocupe, não me importo, não temos um relacionamento, apenas gostamos da companhia um do outro, não há porque você deixar de sair com outras pessoas.

— Você está saindo com outra pessoa, Letícia?

— Não – Ele sorri – Mas não por sua causa, tenho trabalhado demais e saído de menos e os que aparecem não valem tanto a pena assim.

— Vamos sair hoje?

— Pode ser quarta-feira? Tenho algumas coisas para colocar em dia.

— Tudo bem, um jantar na quarta. Eu te busco às oito, pode ser?

— Perfeito!

Ele sai e Lorena entra – Você tem uma reunião na sala três daqui a dez minutos, no final da tarde marquei com o gerente de Copacabana Palace, o senhor Kevin disse que irá também. Aqui estão as listas do que cada um pede em seus aposentos e que tipo de comidas querem.

— Quanta frescura, só idiotas viriam ao Brasil e não experimentariam feijoada.

— Tenho um encontro hoje à noite! – Ela fala com um sorriso enorme e pulando – Com o Diego da contabilidade. Estou tão ansiosa, não saio com ninguém desde o Rogério.

— Hoje à noite promete – Levanto e dou um abraço nela – Já estava na hora, Lolo. Quando sairmos para o hotel, você também pode ir.

— Obrigada!

Volto a me concentrar no arquivo que enviarei aos investidores, acabo perdendo a hora da reunião. Logo após fomos ao hotel acertar os detalhes das suítes e da sala de conferência, tivemos que reservar um andar inteiro para conforto deles e de seus assessores. Ainda bem que disponibilizaram um chefe para somente atendê-los.

Interessante que, o tal do Zachary Thorton não pediu nada extravagante, apenas a suíte presidencial, como todos pediram a mesma, o hotel se propôs montar algumas para nos ajudar. Ainda tento entender o que houve aquele dia que abri a pasta dele e vi outra imagem, só de lembrar fico toda arrepiada novamente. A foto que está naquela pasta é de um homem jovem e sorridente e não parece ter trinta e nove anos, estranho. Mesmo assim, estou cuidando de cada detalhe pessoalmente para não termos surpresas.

Não quero dar o braço a torcer, mas estou ansiosa, não vejo a hora de chegar o dia em que ficarei de frente com os seis dos maiores empresários do mundo. Meu receio, é não conseguir alcançar a meta que o Kevin quer, pelo menos dois investidores e desses dois, um tem que investir na restauração de um prédio tombado pelo patrimônio histórico, que hoje é um hotel ou era. Deus dá uma forcinha aí, “tô precisada!”

Lorena entra em minha sala — Bom dia, minha Deusa de Ébano!

— De manhã cedinho, com essa empolgação toda, significa que a noite rendeu. Como foi seu encontro, Lolo?

— Foi ó!

— Fico fe...

— Horrível! – Ela faz uma careta e se joga na cadeira à minha frente – Tarado, nem queria me levar para jantar, já queria ir direto ao motel. Entrei no carro, me deu oi e a mão boba criou vida, teve uma hora que até desconfiei que tinha mais gente dentro daquele carro, era muita mão pelo meu corpo.

Tentei me segurar, mas não foi possível, ri demais – Um polvo?

— O Lula Molusca do desenho do Bob Esponja, não tem tanta habilidade com seis tentáculos, como aquele protótipo de nerd tem com as duas mãos.

Ri ainda mais – Garota, só você para me fazer rir uma hora dessas.

— Quando você vai sair com o Ricardão?

— Hoje à noite – Ela se levanta e vai indo para a porta – Onde você vai, Lorena? Nem passou meus recados ainda.

— Vou procurar seu ânimo, deve ter deixado cair em algum lugar. O deus do sexo está atrás de você para te dar um “créu” e você aí com essa empolgação. Só por Deus mesmo.

— Desde quando o Ricardo é deus do sexo?

— Informações das “peguetes” dele pelos corredores.

Enquanto ela conta de onde ouviu esses absurdos, abro as pastas novamente para fazer anotações – Desculpa te interromper, Lolo, só quero saber se estas pastas estão todas organizadas como te pedi.

Ela folheia cada uma e retira alguma coisa, deve ser algum rascunho – Isso não é daqui.

O dia passou rápido demais para o meu gosto, assim que saí da minha última reunião, fui para casa me arrumar para o encontro. Já de banho tomado, vou para o closet escolher uma roupa. Não sou muito ligada em moda, prefiro algo elegante e confortável, opto por um vestido de frente única floral, scarpin e clucht verde, brincos e pulseira de ouro e o look está pronto. Eu adorava meus cachos, até descobrir a praticidade dos cabelos lisos, então alisei e fiquei ainda mais apaixonada pelos meus cabelos, que vão até o meio das costas.

Eu não lembro da última vez que tive prazer com um homem, entre abraços e beijos, “mão naquilo e aquilo na mão”, nada acontece, é como se desligassem o interruptor do desejo. Sozinha, tocando-me, tenho orgasmos, só que nada se compara sentir uma pessoa dentro de mim. Já fui em médicos e todos me disseram a mesma coisa, é psicológico, mas nem os psicólogos conseguiram me ajudar.

Já sai com o Ricardo algumas vezes e com outros homens também, na hora H tenho que fingir um orgasmo, não é justo ferir o orgulho do cara porque me tornei frígida, ou quase. Mas a verdade é que ninguém me desperta, por mais que eu tente.

Encontro Ricardo à minha espera no hall de entrada do condomínio, ele me cumprimenta com dois leves beijos no rosto – Boa noite, Lê, você está linda como sempre.

— Boa noite, galã. Você também está muito bem.

Ele abre a porta para mim como um verdadeiro cavalheiro que é. No caminho para o restaurante eu tento me concentrar, mas desde que delirei com aqueles olhos azuis, que só existem nos meus sonhos, não consigo prestar atenção em nada.

— Letícia?

Assusto-me – Oi?

— Está distraída, princesa. Algum problema?

Olho para fora – Não, está tudo bem.

— Estou sabendo que você apresentará a próxima Vitrine. Se bem te conheço, está se dedicando totalmente para isso.

— Se não for assim, não teremos êxito.

— Quando fui o apresentador, o sheik Baschir estava presente e já adianto, não é fácil.

— Imagino – Desconverso, sou muito fechada para ficar trocando figurinhas sobre negócios.

O jantar foi muito agradável e Ricardo uma ótima companhia, assim que entramos no carro para irmos embora, ele me beija e o clima esquenta. Dessa vez vai...

No meio do beijo resolvo abrir os olhos e vejo que um par de olhos azuis intensos, não assustei, não senti medo e nem calafrio, eu o desejei. Um calor há tanto tempo desconhecido, volta a queimar dentro de mim. Eu quero mais...

— Nossa, princesa. Eu sabia que você estava com saudades de mim.

E todo encanto se acabou, abri os olhos e encontrei os olhos castanhos do Ricardo. Meu Deus, acho que estou ficando louca.

— Desculpa, eu não sei o que me deu.

— Para sua casa ou para minha?

Olho-o seriamente – Eu para minha e você para sua...

— Mas achei que iríamos passar a noite juntos, o clima estava esquentando.

— Eu não estou me sentindo bem. Se for incômodo, posso pedir um táxi.

— Calma gata, vou levar você até em casa. Quem sabe você não muda de opinião até lá.

Sorrio e viro para fora, não me conhece mesmo, aliás, nem eu me reconheço, o que está acontecendo comigo? De onde esses benditos olhos saíram e não me deixam em paz?

Assim que ele estaciona na frente do prédio, me despeço e subo correndo para o meu refúgio. Preciso colocar a cabeça no lugar, agora, aqui, sozinha, penso naquele olhar e meu corpo volta a dar sinal de vida. Como isso é possível?

Caço meu celular na bolsa, vou ligar para a Lorena – Lolo, acho que estou ficando louca!

— Oi para você também, amore. Por que acha isso?

— Desculpa, oi. Está ocupada?

— Estou vendo filme, então, não, não estou ocupada. Agora me diz, por que a loucura?

— De uns dias para cá ando sonhando com um par de olhos azuis...

— E quem é o dono desses olhos poderosos, a ponto de fazer nossa amazona achar que está louca?

— Não sei...

— Não sabe?

— Não. Eu vi em algum lugar e de lá para cá sonho quase todos os dias com ele.

— Ele quem?

— Eu não sei... Não lembro do rosto, somente dos olhos.

— Você deveria estar com o Ricardão e não sonhando.

— Eu estava com o Ricardo, beijando ele, então abri os olhos e vi aqueles olhos azuis...

— O Ricardão não tem olhos azuis, criatura.

— Mas eu vi e aqueles olhos acenderam uma coisa diferente em mim, molestei o homem com aquele beijo. Daí ele falou alguma coisa, quebrou o clima na hora.

— Que estranho, Lê. Não sei como te ajudar nisso.

— Nem eu... Desculpa por te incomodar, essa Vitrine deve estar acabando com meus neurônios. Volta para o filme e eu vou deitar. Beijos e boa noite, flor.

— Beijos, se cuida!

Troco de roupa e deito para dormir, cada dia que passa estou indo deitar cada vez mais cedo, não quero admitir, mas, quero encontrar aquele olhar, mais uma vez.

Estou correndo entre as árvores, é noite, piso em meu vestido branco que é longo demais e caio, nisso um arrepio corre o meu corpo. Olho para os lados porque sei que ele está por perto e sei que ele está aqui por mim. Olho para o meu pé descalço e um pouco machucado, lágrimas brotam dos meus olhos e as palavras saem da minha boca – Eu preciso tanto de você... por favor...

Uma mão toca no meu rosto, para secar minhas lágrimas, sinto-me confortada. Levanto a cabeça e vejo aqueles olhos que me prendem, passo a mão por aquele rosto desconhecido e novamente as palavras saem sem permissão – Eu preciso de você...

Mãos fortes rasgam meu vestido, meu corpo fica a mostra dele. Todo o lugar que estava no breu, é iluminado por uma luz vermelha e a luxuria toma conta do meu corpo. Assalto sua boca sem piedade e ele ao meu corpo, toma de mim o que quer, quando eu estava prestes a ter um orgasmo, toda a cena muda.

Tudo voltou a ficar escuro, aquele ser me empurra e acabo caindo no chão, com o rosto no pó. Não entendo o que acontece, por que isso?

Abro os olhos e me dou conta que foi somente um sonho ou um pesadelo, levanto e sento-me na espreguiçadeira que fica na sacada, ouço o barulho mar que me acalma. A brisa resfria meu corpo que estava quente por causa daqueles olhos azuis, novamente.

Preciso encontrar um psiquiatra, isso sim!

Não fui para empresa de manhã, preferi ficar em casa e trabalhar nos e-mails para os empresários de lá. Chequei o conteúdo que cada um irá receber, são iguais na maior parte do arquivo, mas tem algumas peculiaridades em cada mensagem, programei o dia e a hora para serem enviados automaticamente.

Assim que sento na minha cadeira no escritório, Lorena me aparece com um café – Obrigada, estava precisando.

— Está tudo certinho, Lê?

— Tudo na santa paz.

— Ah, antes que eu me esqueça, minha mãe mandou um recado, disse que quando temos esse tipo de encontro, é um sinal do destino. Esses olhos têm dono e provavelmente ele está vindo ao seu encontro também.

— De onde sua mãe tira essas coisas?

Ela dá de ombro – Não sei, mas, ela costuma acertar. Deixa eu terminar o pensamento dela, a missão de ambos é encontrar-se e quando esse encontro acontecer, seu destino será selado.

Um calafrio sacudiu meu corpo e falo me benzendo – Credo! Sua mãe tem que parar de falar essas coisas e você tem que parar de me falar essas coisas.

— Já parei! O senhor Kevin esteve a sua procura, como você não estava, deixou um recado. Os convidados vão começar a chegar na quarta pela manhã, as reuniões continuam como foram programadas, a primeira na quinta-feira às duas horas da tarde.

— Ok, obrigada.

— Que desanimo, qual é o problema, Lê?

— Nenhum, não dormi direito. Lorena, dá uma olhada na minha agenda, tenho quase certeza de que tenho uma reunião importante por esses dias. Se caso tiver, reagende-a, por favor.

— Ok.

— Lolo, minha agenda está muito cheia agora a tarde?

— Não, só algumas ligações.

— Vou faze-las agora e depois nós duas vamos sair, vamos às compras!

Lorena pula como uma menina, ela é tão bonequinha, que dá vontade apertar. De repente me olha séria e pergunta – O que vamos comprar?

— Hoje acordei precisando me sentir sexy, pensei em irmos aquela loja do shopping ver algumas lingeries, ir aquela boutique da sua amiga e depois um lanche, o que acha?

— Se prepare para a primeira ligação,”Xena” – Xena é personagem do seriado, “Xena, a Princesa Guerreira”, onde ela se redime do seu passado violento, ajudando quem precisa. Desde o dia em que começamos a assistir o seriado, Lorena me chama de Xena ou amazona.

Logo me passa as primeiras ligações, entre uma e outra, vou respondendo alguns e-mails. Do nada, veio uma vontade de saber a procedência daqueles olhos azuis, se nossos destinos forem selados, melhor eu tomar conhecimento da peça logo. Assim que digito “Homens com olhos azuis intensos”, se abrem várias imagens e no meio delas, aquele que tem me perseguido. Exatamente a hora que clico em cima da imagem, meu computador desliga.

— Isso só pode ser brincadeira – Levanto-me e vou até a porta saber o que anda acontecendo – Lolo, o que houve?

— O que houve aonde?

— Seu computador está funcionando?

— Normal.


Volto, sento na minha cadeira e fico a olhar o computador reiniciando. Eu não acredito em espíritos e fantasmas, mas estou repensando seriamente minha opinião. Ou eu que sou muito azarada mesmo.

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