domingo, 27 de dezembro de 2015

A Vitrine - Capítulo 08

Capítulo Oito

Zachary

Acordei indisposto e com dor de cabeça. Depois de nadar, resolvi tomar um remédio para dormir. Agora que acordei tenho que tomar um para dor de cabeça. Esse é o problema dos medicamentos, eles se tornam um ciclo vicioso. Fizeram a gentileza de trazer meu café aqui, ainda bem.
Vou para o banheiro e tomo um banho demorado, assim que me sento só de toalha para tomar o café, Mag entra sem bater. Desde quando meus funcionários estão tendo essa liberdade? Até parece que não mando mais em nada...
— Bater na porta antes de entrar virou artigo de luxo entre os meus funcionários.
Ela me olha de cima a baixo e se concentra no volume da minha toalha.
— Desculpe-me, senhor. Já é costume ir entrando e resolvendo as coisas...
Minha enxaqueca não permite muita conversa.
— O que tenho para resolver antes da reunião?
— Nada, até porque a reunião começa em quinze minutos. Foi por isso que entrei a toda, tinha que acordá-lo.
— Ok. Pode sair.
Reuniões de negócios requer roupa condizente. Pego um terno e calça azul marinho, camisa azul clara. Um pouco quente para o clima do Rio. Saio com cara de poucos amigos, meus assistentes olham e já me conhecem o suficiente para saberem que a coisa está feia. Meu humor normal já não é simpático, meu mau humor é muito pior.
Chego ao salão da reunião exatamente na hora que a Letícia está acompanhando o Larkin até seu assento. Hoje não é um bom dia para brincar, só que não vou deixar qualquer oportunidade passar em branco.
— Espero que eu também tenha o direito da senhorita Letícia me acompanhar até minha cadeira.

Ela pareceu um tanto chocada, mas logo se recupera.
— Desculpe-me essa é uma reunião particular, só para convidados...
Sua amiga empalidece e tenta consertar a situação.
— Senhor Zachary Thorton O´Brian, essa é a executiva que será a oradora dessa edição, Le...



— Letícia, eu sei.
Letícia continua a me olhar, seus olhos se mudam para minha boca. Engraçado, ela não sabia quem eu sou? Bom, agora sabe e darei a oportunidade para que corrija a situação.
 — Então Letícia, me acompanha?
Ela me dá um lindo sorriso.
— Lorena o fará, com licença.
Mulherzinha difícil, ainda ofendida por ontem. Enquanto ela vai para frente da sala, eu fico olhando-a, a mulher é sexy pra caramba e está muito gostosa naquela roupa. A calça que ela veste parece uma segunda pele.
A baixinha fica me olhando apreensiva, estendo meu braço para ela em sinal de paz, até porque a menina não tem nada haver com a situação.
— Me acompanhe senhorita... — Ela cora e baixa os olhos, muito linda mesmo. Não é à toa que o Ethan a quer.
— Lorena. O senhor pode escolher qualquer uma das cadeiras restantes.
— Vou ficar nessa, no campo de visão da senhorita Letícia. — Pisco para ela.
— Que merda é essa, Zach? — Ethan aparece puxando a menina para longe de mim.
— Calma, só estava falando para ela que quero ficar de frente para a amiga dela.
Ele beija sua têmpora. Um gesto que não combina em nada com ele, deve estar fazendo o impossível para pegar a boneca. Essas coisas nunca dão certo, depois ele vai embora e deixa um coração partido para trás. E essa menina é tão delicada, é até pecado fazer isso.
Letícia começa seu discurso, quando tiro o terno, ganho sua atenção e me aproveito disso. Lentamente, tiro o paletó, Mag atenciosamente pega das minhas mãos. Dobro cada manga da camisa até o cotovelo, com ela assistindo minha pequena apresentação.
— Gostou senhorita Letícia?
Ela se recompõe e volta para a apresentação. A reunião se estende por quatro horas e nesse tempo pude prestar atenção nela. Seu perfil de executiva é clássico, inteligente, coerente, firme em suas ideias. Cada projeto foi não só estudado, mas trabalhado por ela, para mim esse tipo de coisa fala pelo profissional. Seria uma aquisição de peso para minha equipe.
O sheik infernizou o tempo todo. Puta que pariu, que homem chato. Uma hora Letícia perdeu a paciência e acabou falando.



— O senhor acha que os aplicativos são desnecessários. Tudo bem viver na Idade da Pedra, mas garanto que um aplicativo desses iria facilitar sua vida, organizando data, hora e o tempo da visita das suas oito esposas.
Todo mundo da sala riu. Gostei, são de pessoas assim que estamos precisando, não abaixa a cabeça para qualquer tubarão. Depois disso a reunião segue sem interrupções.
Passaram-se quatro horas, estávamos cansados e a Letícia aparentava desgaste, fui o primeiro a levantar para fazermos uma pausa e os outros me seguiram. Joe se aproxima e passa um relatório rápido sobre suas impressões, todos estavam impressionados com os projetos apresentados.
Procuro por Letícia e a encontro com o Larkin na sacada. Vi que o garçom trouxe seu copo e o encheu novamente. Peguei da sua mão e fui para sacada, chegando justamente quando Larkin a convida para jantar.
Infelizmente ela não vai irlandês.
— Não, ela não gostaria, Larkin. Seu suco. A agenda da nossa executiva prodígio está lotada, não é mesmo Letícia?
Eu torci para que ela concordasse comigo, como sabemos, isso não aconteceu...
 — Não, não está cheia e será um prazer jantar com você Liam.
Kevin aparece para avisar que continuaremos amanhã e a parabenizou. Seus olhos brilharam de gratidão, mas o sorriso não o alcançou. Eu queria fazê-la sorrir só para ver seus olhos brilharem de alegria.
O caralho que quero!
Quero ver a raiva fervilhando, isso sim. Vou até a minha equipe e os convido para jantar comigo no principal restaurante do hotel. Eu não sei o que essa mulher desperta em mim, a única certeza que tenho é que vou ter essa queda de braço com ela.
Ethan me convida para tomar alguma coisa no bar do hotel. Chamo King.
— Quando a hostess chegar com o imbecil do Larkin, me avise e nós iremos jantar.
Ele acena e se junta com os outros. Eu vou até o bar com meu amigo, tomar alguma coisa para relaxar. Sento-me ao lado dele.
— Onde está sua boneca? — Pergunto.
— Letícia passará a noite no hotel, Lorena foi buscar roupas enquanto ela janta com alguém. Quando ela voltar, iremos passear. — Isso está começando a ficar estranho.
— Passear? Ethan Scott passear com uma conquista?
— Eu passeio com a língua pelo corpo dela e ela passeia com a boca pelo meu.



— Explicado. — Falo sem sorrir.
Larkin está me irritando, por que não continua se guardando para a falecida? Não, claro que não...  Ele tinha que atravessar o caminho da Letícia e eu quero a mesma na minha cama, só na minha cama, na de mais ninguém. Depois se ele quiser, pode entrar na fila, antes não.
— Por que diabos você está bufando como um touro que viu vermelho? — Tinha esquecido que Ethan estava aqui.
— Aquela mulher está me irritando.
— Que mulher?
— A Letícia. — Ethan arqueia a sobrancelha.
— Terá que ser mais específico, Zach. Por que ela está te irritando? Até onde sei vocês nem se conhecem. A Lorena me falou que a Letícia tem uma queda por você. Falei que vocês não se conheciam, ela disse, ele não a conhecia, mas ela o conhecia dos seus sonhos. O que isso quer dizer, já não sei.
Eu sou o homem dos sonhos de muitas e de alguns muitos, isso não é novidade. Só não entendi, ela deu a entender que não sabia quem eu era a própria Lorena estava apresentando. Por que ela falaria ao Ethan que Letícia me conhecia dos seus sonhos? E mais, pelo que vi dela até agora, ela já sabia quem era cada um antes mesmo de chegarmos aqui.
 — Cara, está difícil falar com você hoje. — Mais uma vez não presto atenção ao que Ethan fala.
— Desculpa.
— Tudo ok, senhor. Podemos ir.
— Quer jantar conosco, Ethan? — Convido.
 — Não, obrigado. Estou esperando a minha boneca no quarto. Preparei algo especial.
Começo a rir.
— Especial como? Se cobrir de chocolate para ela lamber diretamente da fonte?
Ethan levanta o copo.
— Lamber, chupar, por aí. Sobre a Letícia, vai com calma. Ela é boa pessoa, merece o melhor.
Encontro minha equipe na porta. Abro mais dois botões da minha camisa e Mag me encara como seu fosse o último biscoito. Da porta, vejo a proximidade de Letícia e o babaca do Larkin. Ofereço meu braço para Mag, que aceita com muito prazer.


Nos acomodamos em um lugar estratégico, à esquerda deles. Cada vez que ela for olhar para o lado, dará de cara comigo. Fizemos nossos pedidos, Lennon conta uma piada que todos riem, eu não escuto, mas ri por educação. Os olhos de Letícia encontram com os meus, ela fala com Larkin olhando para mim. Ela fala alguma coisa que faz o cara rir. Imbecil!
Em certo momento do jantar, senti uma mão na minha virilha, muito perto do meu parque de diversão, acompanho a mão para ver a dona, Mag. Tiro com delicadeza, a menina bebeu uma pouco mais do que é acostumada, não é sensato chamar sua atenção na frente de todos.
Passei o resto do jantar me esquivando das bolinadas dela. Mulher quando resolve ser atrevida, nem o diabo pode!
— Pessoal, estou indo.
A ideia é subir, descansar um pouco e descer para nadar. King apressa o passo e segura o elevador, tive a grata surpresa de a Letícia estar com o sem graça. Apertamos-nos para caber todos e me coloquei atrás dela, tão encostado que não passaria um fio de cabelo entre nós.
— Espero que o casal tenha tido um bom jantar.
Aquele pão com molho está muito concentrado nela. Pergunto algo para quebrar isso. De propósito sim, ele não tem que ficar admirando o que vai ser meu.
— Nosso jantar foi excelente, Zach e pelo visto o seu também.
Minha vontade é tirar esse sorriso besta dele.
 — O meu foi prazeroso, Larkin — O elevador abre as portas e ela sai sem olhar para trás, deixando um clima estranho. — Você tanto babou que a garota fugiu.
— Se é nisso que quer acreditar. Eu apostaria que você a assustou.
— Duvido muito. Só assusto as mulheres quando tiro a calça, antes disso sem chance.
Fomos obrigados a rir. Somos infantil, nós sabemos, mas foi engraçado.
— Parece que você está interessado nela. Acertei Zachary? Só me deixe avisar-lhe, eu a quero. Então é melhor não alimentar esperanças quanto a isso.
Não me contenho e dou risada.
— Ah, Larkin. Essa sua confiança o deixa mais interessante, mas se eu a quiser, não há homem na face da Terra que me impedirá de tê-la.
Despedimos-nos como cavalheiros que somos e cada um vai para sua suíte. Corajoso da parte dele me enfrentar por causa de uma mulher. Quem diria que o casto irlandês se interessaria por alguém a ponto de entrar em uma disputa? O único problema é que não haverá disputas, eu a quero e ele não terá a menor chance.

Essa noite não quis tomar remédio para dormir, a ressaca que senti essa manhã foi pior que as das festas do Ethan. Desço para a piscina com Lennon no meu encalço. Entro na água e faço minhas voltas até a exaustão. Saio e me dirijo para o quarto, tomo um banho e caio na cama morto de cansado.

——ooOoo——

Na madrugada, sinto alguém se esgueirando ao meu lado. A pele macia que passa por mim é de mulher, Letícia... Busco-a com prazer, a quero tanto, meu corpo acorda com a possibilidade de saboreá-la. Ela beija meu pescoço, baixa para o meu peito e está me deixando louco. Viro-a rápido para ficar embaixo de mim e...
— Maggie? — Pulo da cama como se estivesse pegando fogo. Acendo a luz e vejo que ela está nua. — O que... O que... Caralho, Mag. Eu quase... Eu achei... — Viro o rosto para não vê-la daquela maneira — Vista sua roupa antes de tudo, eu vou esperá-la na sala. — como durmo só de boxer, pego o roupão e saio.
O que essa maluca fez? Merda. Eu quase transei com a minha assistente achando que era a porra da Letícia, que agora não sai da minha cabeça. Sirvo-me de uma dose tripla de whisky. Mag sai do quarto e vai em direção à porta.
— Onde a senhorita pensa que vai? Senta agora nesse sofá para conversarmos.     — Ela senta e continuo. — Enlouqueceu, Maggie Olive Carlson? Onde estava sua cabeça quando fez essa proeza? Meu Deus, você é minha assistente, te considero minha irmã mais nova, mulher.
Ela balança a cabeça em negativa.
— Não quero ser sua...
— CALADA! Não quero ouvir mais uma palavra. Porque se continuar a falar, terei que te demitir e realmente, não quero. Você é importante para mim. — Respiro fundo, ando de um lado para outro, me sirvo mais uma dose e conto até dez. Vou até a janela e contemplo o mar. — Não faça mais isso, na próxima vez não serei complacente. Você mais do que ninguém sabe que não costumo ser bonzinho e muito menos dar segunda chance para quem quer que seja. Inferno! — Respiro fundo mais uma vez para me acalmar.         — Vamos esquecer que isso aconteceu...
King apareceu do nada armado.
— Todo mundo parado!
Pronto, o mundo enlouqueceu!
Maggie dá um pulo e coloca a mão no peito com o susto e eu fico parado olhando a cena. Surreais esses meus funcionários. Uma tenta me atacar sexualmente enquanto o outro aparece de cueca com arma em punho.


— Fiquei cego! Onde estão suas roupas, King?
— Não deu tempo de vestir. O que aconteceu aqui? Ouvi seu grito, Zach.
— Mag entrou no meu quarto sem bater. — Rezei para ele entender sem precisar explicar em detalhes.
Ele vira para ela.
— Mag, Mag...
— Bom... Ambos estão dispensados. Podem voltar para os seus quartos e me deixarem em paz. Uma coisa antes de irem, de hoje em diante, batam antes de entrar, por favor.
Ouço a porta bater atrás de mim e me acalmo. Abro as portas que dão para a varanda e me sento lá, para ouvir o som do mar. Eu deveria fazer isso mais vezes. Tenho casas em quase todas as partes do mundo, mas não tenho uma à beira mar. Comprar uma no Brasil pode ser um bom negócio, vou pedir para o Joe ver alguma coisa na internet.
Letícia...
Agora a ideia de senti-la não sai da minha cabeça, eu preciso, eu quero! Ter aquele corpo quente embaixo do meu, aquelas mãos com unhas afiadas correndo pelas minhas costas, arranhando minha pele, gemendo em meu ouvido, gritando o meu nome enquanto estou dentro dela.
Letícia...
Letícia...
Repito o nome dela mentalmente várias vezes, como se em um passe de mágica, ela se materializasse aqui, para mim.
Abro as cortinas da suíte para assistir o nascer do sol, há muito tempo não faço isso e ainda consigo me surpreender com tal beleza. A melancolia toma conta e nesse momento, somente nesse momento, desejo ter alguém aqui para dividir esse espetáculo da natureza comigo. Raras vezes a solidão aperta, mas geralmente logo passa.
Tomo meu café tranquilamente lendo as notícias pelo o computador. Um sentimento inesperado surge, o de vigiar Letícia. Da onde isso saiu não faço ideia, mas só de pensar que terá uma pessoa para informar cada passo dela, me faz sentir melhor.
Assim que termino, vou até a porta e chamo King para conversar. Ele entra.
 — Diga chefe.
— King, eu quero te pedir um favor, só que eu não quero que ninguém saiba. Converse com algum desses seguranças, selecione o melhor e coloque-o para acompanhar Letícia, de longe. E peça que me informe tudo o que ela faz, aonde vai, com quem...



— Desculpa Zach. Você é meu amigo e me sinto no dever de falar, isso é exagero, está se deixando levar por uma disputa com o Larkin. Você não conhece a garota, ele chegou primeiro, por que não esquece isso?
Olho para o mar.
— Por que alguma coisa nela me faz querer... Estar com ela. Pode ser que seja uma disputa de ego, ou apenas para provar quem mija mais longe, seja o que for, eu quero que alguém olhe por ela e me diga cada passo.
— Tudo bem, será feito.
— Obrigado, King. — Como de costume, batemos nossos antebraços.
Termino de me arrumar e desço para a reunião. Encontro Lorena aflita e Kevin ansioso
— O que se passa pessoal?
— Só estamos ansiosos. — Lorena responde.
Aceno e entro, sei que há algo de errado, mas se não querem compartilhar, fazer o que? Cumprimento os outros e tomo meu lugar. Ia falar com Ethan quando a Letícia entrou com pressa e já iniciou a reunião.
Antes que ela pudesse prosseguir, Ethan se engraça.
— Eu tive uma noite maravilhosa, mas pelo jeito você não Letícia.
Ela dá um meio sorriso e continua sua apresentação. Sinto que está tensa ou talvez esteja só cansada. Hoje, são apenas dois projetos, o primeiro foi discutido em duas horas. Ela está muito bem preparada para as dúvidas que surgem. Um importante debate foi feito em torno disso, foi interessante ver que os projetos apresentados, não é apenas para um investidor. Todos nós podemos investir no mesmo, então não há disputas, mas sairá boas parcerias.
O segundo projeto foi ainda melhor, talvez tenha sido o melhor. Um resort em um paraíso tropical, um condomínio de luxo para férias, sem mídia por perto. Acredito que todos nos empolgamos com a ideia, o fato de ser no Nordeste do Brasil, onde a temperatura é propícia para férias o ano inteiro. O projeto foi incrementado com um resort de um lado, um condomínio no outro, restaurantes com comidas típicas, um heliporto, uma pista de pouso para pequenas aeronaves, sensacional. Muito bem esquematizado.
— O projeto é muito bom, a ideia é excelente, mas paraíso como esse, temos em várias partes do mundo, alguns são famosos. Por que investiríamos nesse? — Sebastian Khristophoros pergunta.
— Porque o Brasil pode oferecer uma coisa que os outros não, o clima e a baixa probabilidade de catástrofes naturais. — Letícia responde com categoria.



Todos se calaram porque não tinham pensado nisso. Todos os convidados que estavam ali, voltaram aos seus assistentes para discutir detalhes. Pelo menos foi o que eu fiz.
No meio da apresentação tive uma ideia, ela vai ficar furiosa, só que é a única maneira dela não fugir de mim. Levanto para pegar um copo com água e aproveito para falar.
— Eu tenho duas perguntas, a primeira é, se eu embarcar nesse projeto, que não é pequeno. — aponto para ela. — Você será responsável por ele? — Antes que ela fale, a paro. — Só mais uma pergunta, senhorita Letícia. Todos nós teremos uma hora com você ou isso é um privilégio de poucos? Porque Larkin teve duas horas com você no jantar de ontem, Ethan teve mais tempo na noite anterior.
A cara dela era hilária. Escoro-me na mesa e a ouço.
— Sobre a primeira pergunta, se caso contratarem a Global para intermediar, pode ser que o senhor Cooper me coloque nisso. Sobre a segunda pergunta, podemos resolver esse impasse indo almoçar todos juntos agora...
Rossi atropela dizendo que não dividiria seu horário com ninguém, os outros começam em uma discussão acalorada, Letícia olha para o Cooper pedindo socorro. E o salão virou um circo todos falando ao mesmo tempo. Vou até o centro da sala e mando calarem a boca.
— Silêncio agora! Algum assistente anota, ficará assim: Rossi almoça com ela mais tarde. O Sheik ficará com o jantar dessa noite. O almoço de amanhã será com o Sebastian e o jantar comigo.
— Vocês embarcarão para o Ceará hoje no final da tarde. Eu não irei. Não está nos planos a minha ida com vocês nessa viagem.
— Então refaça seus planos Cooper, porque ela vai!
O sheik se levanta e já de saída fala que se a Letícia for responsável pelo projeto, ele participa. Ela ainda está de boca, olhando para o Kevin, que neste momento passa o horário da viagem.
— Letícia! — O olhar dela para mim é mortal. — Se eu fosse você doçura, não perdia tempo conversando. Tem um almoço daqui a pouco e mala para arrumar.
— Ela vai querer sua cabeça.
— Tenho uma coisa melhor para ela.
— Ela vai te matar. Agora me diz, por que fez isso?
— Porque quero transar com ela. Vamos para o bar beber alguma coisa, só me deixa dar um toque no King.
— Conseguiu o que pedi?


— Tudo conforme o combinado.
Aceno e vou para o bar do hotel, Ethan está sentado com sua boneca no colo. Logo que me avista, ela fica sem jeito, tenta sair e ele a prende em seus braços.
— Por favor, Ethan, deixe-me ir. Se alguém nos vir assim, posso ser demitida.
Beijo sua face, em sinal de amizade. Ethan e eu somos amigos há muitos anos, se ele está assim com ela, nada mais normal que ela ser minha amiga também. E um dia ela poderá ser útil para que eu possa chegar à amiga.
— Como está, Lorena? Fica tranquila, ninguém falará nada.
— Muito bem, senhor O´Brian...
— Zach, por favor. E aí, Ethan tem se comportado com você? Caso não esteja, é só me chamar e mando King dar um jeito.
— Se o King me der um tapa na cara com aquela mão, gamo e fico sem nenhum dente na boca. — Ele acaricia a perna dela. — Estou cuidando muito bem dela, ontem até passeamos na praia.
Agora é minha vez de ficar com a boca aberta. Quem diria, Ethan Scott, um dos maiores playboys da América fazendo tudo para conquistar uma mulher.
— Muito bem.
— Vou procurar a Lê que essa altura deve estar querendo socar alguém. — Ela olha veemente para mim.
— Por falar nisso, quando chegarmos a nosso destino, precisamos conversar sobre o que ela gosta. Quero surpreendê-la.
— Responda-me, você não vai se encontrar com ela só para irritá-la, vai? Porque se for Zach, peço que não o faça. Ela já passou por muitos momentos difíceis na vida, não piore.
— Fica tranquila, serei um cavalheiro.
— Acho que estou apaixonado por essa mulher. — Ethan desabafa.
— Você já tinha me chocado com o passeio sob a luz do luar, agora estou ficando preocupado. Acho que o sol desse lugar fritou seu cérebro.
— Estou bem. Ela me faz rir, é meio doidinha e muito carinhosa. Não pede nada em troca, apenas prazer.
— Tudo bem. Só lembre-se que, você partirá em breve e ela vai ficar não faça promessas levianas para depois deixá-la.
— Estou pensando em esticar minha estadia, quem sabe alugar um imóvel. Por falar em imóvel, gostei desse último projeto se alguém mais entrar embarco nessa.


— Pois é, gostei também, estou pensando seriamente em entrar nisso. — ainda mais se a adorável mulata tocar o projeto. A ideia de estender a estadia no Brasil não é uma má ideia. Eu poderia comprar uma casa aqui e vir de vez em quando para recarregar as baterias. Quem sabe ver ela...
— Zach?
—Sim.
— Pelo jeito não ouviu o que falei.
— Estava me lembrando de que iria mandar alguém procurar imóveis, seria uma boa ter uma casa aqui para descansar.
— Verdade.
Despedimos-nos e fui em direção aos elevadores. Passei pelo restaurante e o segurança estava lá atento. Estava passando direto, mas em um impulso fui até a porta e olhei Letícia e o Rossi conversando. Minha vontade é ir lá e acabar com o sorriso dele, mas a ideia foi minha e por um momento, arrependo-me dessa bendita ideia. Minha cabeça está estourando, preciso descansar um pouco para viajar.
Tiro a roupa e vou para o banho, a água fria alivia a enxaqueca. Enquanto me ensaboo, Letícia vem em meus pensamentos, fecho os olhos e vejo aquele corpo moreno nu, seios fartos em minhas mãos e sem perder tempo, toco-me. Eu preciso experimentá-la, saber qual é o seu gosto, ouvir seus gemidos. Saio do banheiro direto para a cama e com Letícia nos meus pensamentos, adormeço, como há muito tempo não havia feito.
Acordo com Mag passando a mão no meu peito e por algum motivo estou descoberto, o que só complica as coisas, porque dormi nu. Já que estava sem roupa, de pau duro e ela provavelmente me molestou, levanto e vou para o banheiro.
— Mag, por que caralho dos infernos você não bate na porta?
— Faltam menos de vinte minutos para sairmos do hotel para o aeroporto e bati várias vezes, mas não atendeu. Fiquei preocupada.
— Já acordei, está dispensada.
— Preciso arrumar suas coisas, senhor.
— Enquanto me visto, procure o King e mande-o vir aqui.
As coisas foram tumultuadas, acordei atrasado, outros também desceram atrasados e o sheik estava dando chilique como uma mulherzinha. Por fim, cada um foi em um carro para o aeroporto. Procurei Letícia para oferecer-lhe carona, mas não a encontrei.
Como de costume, dividi o carro com Ethan.
— Poderíamos ter falado para o Liam vir conosco, já que os assistentes foram em outro carro.


Lá vem ele com suas ideias mirabolantes.
— Nada de Larkin. Ele está me irritando...
Ethan ri.
— Olha o bullying. E até onde sei, você é chegado em uma ruiva. Por que isso? Sempre foram bons amigos.
— Ele está na minha lista negra. Mudando de assunto, onde está a Lorena?
— Letícia queria ir com os assistentes e a levou junto.
Logo que chegamos ao aeroporto, fomos levados direto a aeronave. Toda a primeira classe foi reservada para os convidados e os assistentes foram na classe executiva. O serviço de bordo é muito bom e as aeromoças são lindas, com certeza escolheram a dedo para esse voo. Achei que a Letícia viria para cá, até parece que está fugindo. Um sorriso se abre no meu rosto, se ela está incomodada, é sinal que mexo com ela.
Muito bom!
Trouxe alguns relatórios para analisar, depois daquele descanso, minha enxaqueca desapareceu. Uma das assistentes do Ethan me passou uma lista de imóveis para dar uma olhada, ele realmente está levando isso a sério.
Levanto-me para ir ao banheiro e na entrada um segurança, que se não estou enganado é do Ethan, me barra, era só o que me faltava.
— Algum problema sério para o seu chefe interditar todos os banheiros?
— Nada grave, só não estão disponíveis.
O cara está se superando com essa história. Tenho certeza que ele está comendo a Lorena aí dentro. Encaminho-me para o banheiro da classe executiva. Na saída vejo Letícia parada, ela pode não admitir, mas cada vez que me vê algo acontece com ela. É possível perceber porque sua respiração muda.
— O que houve com o banheiro da realeza, interditou? Deixe-me adivinhar, o ego de alguém caiu e acabou entupindo tudo.
Não me contenho e dou risada.
            — Ethan monopolizou tudo por lá.
Ela entra e eu a aguardo, encostado na parede, serei a primeira coisa que verá quando sair. Assim que sai, ela olha cada detalhe do meu corpo com desejo estampado nos seus olhos. Como já falei, sei o efeito que tenho sobre as mulheres. Passo a língua pelos meus lábios e uma sombra de sorriso sombrio aparece.
Ela está ofegante. Aproximo-me e passo a mão pelos seus cabelos.
 — Fico feliz que tenha gostado.
Letícia me olha ainda atordoada.

 — Gostado do que?
Ela fica ainda mais bonita assim. Viro-me para voltar ao meu assento rindo e antes de sair do seu campo de visão.
— Espero que tenha gostado da parte de trás, também.
Sento-me novamente e pego meus papéis. Tento me concentrar, mas a imagem daquele rosto não sai da minha cabeça. Gostei de saber que ela me acha atraente, isso vai tornar sua ida para minha cama mais fácil.
O resto da viagem foi tranquilo, rimos com algumas lógicas do sheik, o homem é um ogro, chega a ser piada. Martino Rossi também não fica atrás com suas tiradas, se um dia me contarem que a casa do italiano foi alvo de um homem-bomba, logo saberei quem fez e por que.

——ooOoo——

Desembarcamos e fomos para o hotel, um belo lugar por sinal e o clima está ameno. Penso em ir direto ao mar, mas Mag fala que temos algumas coisas da empresa para resolver. Ted também já está a postos para trabalhar enquanto King se responsabiliza pelo resto.
— Os balanços da fábrica em Kentucky não estão batendo. — Entrego os papéis para o Ted. — Descubra onde erraram e envie de volta com uma nota dizendo que não tolero esse tipo de erro.
— Sim, senhor. — Ele pega e logo já faz anotações.
— Senhor, quer que eu reserve uma mesa para nós no restaurante ou quer que mande servir aqui? Poderia pedir para todos nós e comemos aqui.
— Nenhuma coisa, nem outra. Assim que eu tiver fome, resolvo o que faço. — Gosto de passar um tempo com eles, mas depois dos últimos acontecimentos, prefiro evitar.
— Sim, senhor.
— Mag tenho um serviço para você. Ethan me passou essa relação de imóveis e quero que você faça uma pesquisa na internet sobre os imóveis. Veja se alguma delas já teve acontecimentos que me impeçam de fazer uma oferta.
— Ok!
Depois de trabalhar e tomar banho, vou para a sala e vejo que os assistentes ainda estão lá. O telefone de King toca. Ele fala um português enrolado e indecifrável. Assim que desliga, fala:
— Areia, praia, Larkin.

Ela não deveria estar com o sheik? Alcanço uma camiseta e saio na corrida, com Lennon no meu encalço. Esse irlandês dos infernos quer realmente entrar nessa disputa comigo? Se quiser, então, vamos brincar. Não tenho medo de duendes que moram em potes de ouro. Pego o pote e amasso o duende.
Olho para todos os lados para ver onde estão, Lennon me aponta um casal muito próximo um do outro. Não, merda! Apresso o passo e vejo que o corpo dela enrijece. Será que ele falou alguma coisa que ela não gostou? Se for, amasso o duende agora mesmo. Aproximo-me mais, a tempo de vê-lo levantar o rosto dela, pronto para dar o bote.
Vamos acabar com essa palhaçada.
 — Espero não estar atrapalhando. — Espero sim!
Larkin à solta, ela levanta seus lindos olhos para mim.
— Não está atrapalhando, senhor O´Brian. Se me derem licença, vou para o meu quarto, preciso descansar.
Lá vai ela fugindo novamente.
— Satisfeito, Zach? Ela está longe de mim o suficiente? Esse número de mágica de aparecer e desaparecer, não combina com você.
Dou risada.
— Larkin, Larkin, porque não aceita que ela será minha, primeiro?
— Porque será minha. Por muito pouco você não testemunhou um beijo. — Ele fala.
— Vai sonhando. Já jantou?
— Ainda não.
O que há de mal chamar um oponente para jantar? Nenhum.
 — Vamos comer? — Ele se aproxima.
 — Isso não passa de um jogo para você, não é Zachary? — Olho para o mar.
— Talvez. Vamos jantar.
Encontramos Sebastian sentado em uma mesa.
— Sentem comigo, é ruim comer sozinho. Contem-me, o que estão achando sobre a viagem?
— Melhor impossível. — Larkin responde.
— Perseguindo a hostess, só pode estar bom mesmo. — Falo e levanto o copo de whisky.
Enquanto jantávamos, Ethan aparece com Martino.
— Estamos indo conhecer uma boate, estão a fim?


— Estou dentro! — Sebastian se manifesta.
— Eu vou, mas só depois de jantar. — Respondo.
— Eu passo — Larkin responde.
— Deixa de ser velho, Larkin. Bora mexer o esqueleto e ver as mulheres brasileiras se requebrarem.
Aceno para o segurança.
— Lennon, nós vamos sair.
— Minha equipe já esteve no local e disse que é seguro. — Ethan fala.
Dirigimo-nos ao local que já estava lotado, a música rolando. Assim que entramos, fomos escoltados até a ala VIP, bebidas e mulheres já estavam a postos. As garotas eram muito bonitas e excessivamente prestativas, se falássemos para ficar de joelhos naquele momento, não tenho dúvidas que o fariam.
Larkin e eu passamos boa parte do tempo olhando o movimento. Martino dançava com duas, Sebastian estava atracado com uma mulher que mais parecia um homem e Ethan, o responsável que nos arrastou para cá, não sai do celular.
— Ethan, cadê a boneca? — Pergunto.
— Nós brigamos porque ela não quer ir embora. Eu avisei que ela iria morar em Nova York comigo e ela surtou. — Seus olhos já indicam um grau de embriaguez. O cara enlouqueceu.
— Falando assim, eu também não iria. Por que simplesmente não a convidou para passar uns dias com você nas férias ou visitá-lo sempre que quiser?
— Porque a quero comigo todo o tempo.
— Você realmente está gostando dela, não é?
— Estou gostando mais do que deveria. — Ele passa a mão pelo cabelo. — Eu sei que tudo é muito rápido, só que eu a quero, caralho.
Coloco a mão no ombro dele.
 — Então faça ela sentir vontade de estar com você e não imponha suas vontades. Coloque as dela acima da sua, mesmo que você seja um bastardo egoísta. Vamos para casa, estou cansado.
No caminho de volta para o hotel, vou pensando no que Ethan falou. Eu não acho possível gostar tanto de uma pessoa assim em tão pouco tempo. Também acho que, o que move o mundo são os interesses e os interesses sexuais para alguns, vem depois do dinheiro. Só que o fato dela não querer se jogar de cabeça nessa loucura a faz ganhar uns pontos no meu conceito.

Lembro-me das poucas informações que tenho da Letícia, a morte dos seus pais, o fato de estar sempre sozinha e o principal, porque o seu único relacionamento não deu certo. Não costumo me enganar no julgamento das pessoas e os olhos dela são cheios de sinceridade. O problema é que não confio em ninguém quando se trata de amor e dinheiro. Ninguém...

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