Capítulo Seis
Madison
Chego dez minutos antes do horário combinado e vou até o seu gabinete.
Assim que entro, a secretária me recebe com um sorriso afetuoso:
— Bom dia! Em que posso ajuda-la?
— Bom dia! – arrumo meu tailleur — Eu sou Madison A...
— Oh, sim. A moça que irá substituir Harriet – Ela se levanta em um
pulo. Oi? Substituir quem? Outra condenada pelo maluco das sentenças?
— Bom dia, senhorita Harver – uma senhora de meia idade, cabelos grisalhos,
aproxima-se — Eu sou Harriet, acompanhe-me por favor – passamos pela sala do
juiz e entramos na sala ao lado.
— Ontem o juiz Lancaster e eu conversamos sobre sua função aqui pelos
próximos quarenta dias. Chegamos a seguinte conclusão, como eu preciso de duas
semanas de folga, porque farei um pequeno procedimento cirúrgico, você ficará
aqui na minha sala me substituindo. Nos próximos dois dias, te deixarei a par
de tudo o que precisas saber sobre o funcionamento do gabinete, depois disso
será por sua conta. Está me acompanhando até aqui?
— Sim.
— Ótimo. Então, o juiz Lancaster é uma pessoa muito doce – não aquele
que conheço. Ela continua — Qualquer dúvida que tiver, não hesite em perguntar
a ele. Nada vai diretamente a ele e absolutamente tudo chega em você. Até para
atender alguém que está aqui, a Robbie vai vir perguntar se é permitido. Você
ficará aqui grande parte do dia e aquela porta, é o elo de ligação entre você e
ele.
As próximas horas que se seguiram foram de longos ensinamentos de tudo o
que realeza gosta e de como gosta. Harriet facilitou o trabalho porque
organizou tudo em listas, como tudo o que pode e o que não pode. Pessoas que
ele atende e as que ele não atende em hipótese alguma. Ela é muito organizada e
está trabalhando há um bom tempo para tirar folga e não deixar a substituta
perdida.
A manhã passou e nada do juiz vir, segundo Harriet, ele teve um
compromisso com o governador. Quando voltei do almoço, fui direto para sala que
será meu território nos próximos dias. A porta que dá para sala dele estava
entre aberta, aproximei-me e me deparei com uma cena deliciosa. Noah estava
trocando de camisa enquanto Harriet passava alguns assuntos com ele.
Seu corpo é digno de um lutador, definido, braços fortes, um tanquinho
que deixa qualquer dona de casa ansiosa e várias tatuagens. Sinceramente, eu
lamberia cada uma delas. Ele abre o cinto e o botão da calça. E eu desse lado,
torcendo para que ele tire a bendita peça para ver a obra completa. Mas, ele
não fará minha alegria, coloca a camisa por dentro e logo se recompõe.
— Vou repassar... – nesse momento, Harriet me enxerga — Madison, entre,
por favor.
— Com licença. Boa tarde, juiz Lancaster – olho para qualquer lugar,
menos em seus olhos.
— Boa tarde, Madison. Espero que esteja se adaptando ao ambiente – sua
voz ao falar comigo, é carinhosa e isso me encoraja a olha-lo. Seu olhar é
penetrante e tenho certeza que fiquei vermelha.
— Estou sim, Harriet e Robbie são muito atenciosas – Harriet sai nos
deixando a sós e mantenho-me em pé frente a ele.
— Você está muito bonita – ele me olha com sincera aprovação. Nada
sexual, apenas um elogio de quem se surpreendeu em me ver com outro traje, que
não meus couros. Escolhi um conjunto de tailleur e calça pretos e uma camisa
branca.
— Obrigada. Alyssa como está?
— Está muito bem – ele abre um grande sorriso — Poderia providenciar um
café para mim, por favor? Eu não almocei muito bem e preciso de cafeína para
estudar um caso.
— Sim, senhor.
Harriet já tinha me explicado que ele toma café puro, doce e deve estar
fumegando. Preparo seu café e sirvo-o. Ele agradece-me e me retiro de lá. Acho
que não será tão difícil assim e se ele quiser trocar de roupa na minha frente,
eu juro que não me importo.
O resto da semana passa rápido e tudo foi tranquilo, até a excelência
chegar no gabinete soltando fogo pelas ventas. Até Robbie, que está aqui há um
tempão, estranhou. Noah passou por nós, acenou e se fechou em sua sala, dez
minutos depois ele grita:
— Senhorita Harver! – misericórdia! Olho para Robbie que estava com os
olhos arregalados e me encaminho para minha provável sentença de morte.
— Em que posso ajuda-lo, meritíssimo? – ele me fuzila com o olhar. Ah
baby, aqui é assim, olho por olho e dente por dente.
— O que tenho de importante... – nesse momento seu celular toca e ele
atende sem olhar o identificador. E pela sua careta, deve ter se arrependido —
Fala, Carly. Não. Se me ligou para repetir essa asneira, perdeu seu tempo – ele
altera sua voz — Por favor, vai achar o que fazer e esqueça isso! – ele desliga
e joga o celular dentro da gaveta.
— A dona não larga do pé. Difícil, hein? – me arrependi no minuto que
saiu — Desculpa.
— Se acha muito engraçadinha, não é senhorita Madison? – seu olhar era
assustador — Vamos ver o que suas colegas de cela irão achar de uma
espertalhona que não tem filtros e nem freios na língua – ele levanta-se, pega
suas coisas e vai embora sem se despedir. Dessa vez exagerei. Oh Madison,
quando vai aprender que com ele o buraco é mais embaixo?
Trabalhei concentrada na minha sala até o final do expediente. Decidi ir
direto ao clube, trouxe até minha mala para o final de semana. Graças à Deus
que Becka me convidou, dar um tempo de tudo isso e dele será um alívio. Chego
ao clube e por algum motivo fico ansiosa em ver o juiz Lancaster, o que
obviamente não ocorre. Se ele está por aqui, Ramon o servirá e com certeza ele
quer distância do público, de mim.
A noite foi agitada devido a uma despedida de solteiro de um grande
empresário. Muitos convidados, muitas garotas, muitas bebidas e várias
confusões. Christopher e Ben passaram pela comemoração e logo se enfiaram na
sala privada com alguns seletos amigos. E nada de Noah Lancaster. As sete da
manhã, estávamos fechando o clube, quando avisto uma menina que aparenta uns
dezessete anos sentada de cabeça baixa, na calçada. Aponto para Becka, que vai
até ela.
— Oi.
Grandes olhos azuis, vermelhos e inchados de chorar, olham para nós. Meu
coração apertou, a vulnerabilidade que líamos em seus olhos, era chocante.
— O-oi.
— Espera... – Rebecka fala — Eu a conheço. Você não mora ali, na casa
sete-zero-quatro? – a menina acena que sim e abaixo-me ao seu lado.
— O que houve, anjo? – porque a menina realmente lembra um anjo.
— Minha mãe morreu – uma lágrima solitária rola pelo seu rosto.
— Ivy! – nisso um senhor já de certa idade, com uma cara de poucos
amigos grita — Para dentro – rapidamente ela se levanta e vai. Becka e eu
ficamos olhando-a ir.
— Lembra daquela vez que precisávamos da assinatura dos vizinhos para
trocar o transformador do poste?
— Sim.
— Ben e eu estivemos na casa deles. A menina atendeu, mas logo, sua mãe
que parecia bem debilitada, apareceu e mandou-a para o quarto. Ela nos disse
que a filha ainda não estava preparada para o mundo. Acredito que o mundo que
ela falou, seja os homens.
O motorista dela encosta o carro, coloca nossas coisas no porta-malas,
enquanto nos ajeitamos no assento traseiro. No caminho vou pensando na semana
agitada que tive e Rebecka me tira do balancete da minha vida:
— Como foi sua primeira semana na companhia de Noah?
— Foi fácil até ontem – olho a paisagem passando — Ele surtou com a
mulher dele e acabei respondendo a altura. Não deu muito certo – seu sorriso
era malicioso — Por que esse sorriso?
— Acho que você e Noah juntos, são inflamáveis. Encostou, explodiu – ela
faz um gesto com a mão e fala — Bum! Deixando a piada de lado, Noah é um
excelente amigo, merece toda a felicidade do mundo, só não sei se aquela mulher
o fará feliz.
— Por falar nisso – ajeito-me no assento — Por que os meninos não gostam
dela? Tudo bem que ela é um pouco difícil...
— O problema é que na frente do Noah ela é uma e longe dele é outra. Eu
soube que assim que começaram a sair, ela encontrou Ben em um evento e falou
que não fazia questão dos amigos do namorado, que Noah estava muito melhor
longe deles. E ela conseguiu afasta-los, só se encontravam no clube, Noah
aparecia poucas vezes, a mudança de Alyssa para cá, é que fez eles voltarem a
se falar e desde então, não se largam novamente, como era na adolescência.
A casa de campo era espetacular e parte dela ficava em cima do lago. O
lugar é rodeado por árvores nativas, o verde é espetacular. O imóvel era uma
mistura de madeira e vidros, uma verdadeira obra de arte da arquitetura. Havia
duas mulheres e um homem para nos receber, todos muito simpáticos e vi saudades
nos olhos de Rebecka. Entramos e logo nos instalamos, fui para o banheiro da
minha suíte que dá de frente para o lago, é um brinde abrir a porta da varanda
e ser brindada com um espetáculo da natureza.
Cansada, deito só de toalha e adormeço. Acordo meio perdida e depois de
um tempo lembro que estou na casa de campo. Coloco um vestido simples e
chinelos, dou uma ajeitada no cabelo e desço para encontrar algo para comer.
Chegando ao final da escada, deparo-me com Ben, Christopher, Alyssa, Noah e
Carly, todos sentados no sofá conversando com a Becka.
— Madison – Alyssa é a primeira a me ver e corre para me abraçar — Nem
acredito que está aqui – e fala no meu ouvido — Graças à Deus, eu já estava
voltando para a cidade a pé.
— Oi – respondo seu abraço — Eu não sabia que vinham todos, se eu
tivesse conhecimento, não teria vindo.
— Madison, acredito que você conheça todos, menos Carly, a namorada do
Noah – aproximo-me de onde eles estão e Rebecka fala.
— Já tivemos o prazer de nos conhecer – olho para todos, menos para o
juiz — Boa noite. Fico feliz em vê-los.
Uma das mulheres que trabalham na casa anuncia que o jantar está
servido. Eu ando depois de todo mundo, pensando onde me meti. Por que a Rebecka
não me contou que eles vinham? Eu teria negado na hora. Ela vê que estou
pensativa demais e vem até mim.
— Eu precisava que você viesse.
Falei para o Noah que tentaríamos nos aproximar da mulher dele, mas sabemos que
não é fácil e eu precisava de apoio moral, Alyssa também.
Sentamos em uma mesa linda, fiquei entre Christopher e Alyssa, que por
um momento está perdida em Ben. Fico olhando entre um e outro, ele não percebe
que ela o encara. Será que ela gosta dele? Interessante.
— Esses dias atrás, o senador Richard queria um convite para entrar em
uma casa noturna para Vips em Nova
York – todos da mesa pararam de comer para prestar atenção na conversa
constrangedora da criatura. Os meninos estavam pálidos e Rebecka apenas atenta.
Carly continua — Tive que procurar vários contatos nossos para poder descobrir
onde descolar uma entrada para esse antro. Porque segundo informações, só entra
se for indicado por um membro com muito tempo de casa e há uma comissão que
aprova a permanência.
Eu continuo a comer na minha, até porque estou morrendo de fome. Mas
pelo olhar deles, muitos perderam a fome. A filha do mal continua com a
historinha:
— Acredita que o Roger Lamarque era o dono daquele lugar? – ela fala
olhando para Becka — Você sabia que o seu marido era dono de um bordel?
Francamente, Rebecka, eu esperava mais de vocês.
— Meça suas palavras, Carly – Noah solta os talheres mais forte do que
deveria e já ia abrindo a boca, eu tomo a frente.
— Ela não sabia que era uma casa noturna.
— Como ela não sabia? Era do marido dela – Carly me questiona.
— Sou eu quem tomo conta de alguns negócios do Roger e ela não precisava
saber desse detalhe, senhora Lancaster – respondo.
Ela sorri e Noah intervém:
— A única senhorita Lancaster que há aqui, é a minha irmã.
— Foi lá que você levou Alyssa? Para um bordel? – o sorriso dela era
mais brilhante do que o balão de ano novo da Times Square — Está tentando transformar a irmã de um dos juízes
mais respeitados do país em prostituta? Sacanagem, ruivinha.
— Não! – ai meu Deus! Sinto meu rosto esquentar e um nó se forma na
minha garganta — Não foi para um bordel que a levei, jamais faria isso com ela.
— Chega com essa conversa – Noah interrompe — Carly, peça desculpas a
Madison.
— Fala sério! – ela ri — Você quer eu peça desculpas, a responsável por
um prostíbulo, que levou sua irmã para beber em algum lugar desconhecido. É
isso? Rebecka querida, você deveria rever suas amizades, afinal, és uma dama da
sociedade e em sua mesa está sentado um respeitado juiz, um futuro senador e um
dos advogados mais famosos da América.
— Chega, Carly! – Noah fala alto.
— Me deem licença – levanto-me da mesa constrangida, pego o meu prato e
vou em direção a cozinha. Antes de sair, volto-me para eles e falo para Carly —
Cuidado para não morder a língua e morrer envenenada – assim que saio, ouço a
discussão que iniciou lá dentro. Deixo meu prato na pia, aceno para as mulheres
da cozinha e vou para fora respirar. Caminho pelo jardim e sento em uma das
cadeiras da beirada da piscina.
— Madison? – a doce voz de Alyssa interrompe o balde de lágrimas que
estavam para cair.
— Oi...
— Por favor, não leve aquela louca a sério. Tanto eu como os outros te
adoramos e ficamos muito felizes de tê-la aqui – ela se abaixa a minha frente.
— Eu sabia que essa coisa de feriado não iria dar certo – Ben aparece
furioso — Quem aquela cadela pensa que é? Juro por Deus, termino a minha
amizade com Noah se ele não colocar uma focinheira nela.
— Isso foi demais – Chris também não está com a cara boa — Ela passou de
todos os limites, não entendo porque Noah insiste nessa relação.
— Vocês o conhecem melhor que ninguém, sabem que ele não é do tipo de
entregar os pontos fácil. Mas pela sua reação na mesa, acredito que essa
relação esteja com os dias contados – Alyssa fala.
Ficamos um tempo em silêncio e o Ben fica do meu lado, me pega no colo e
fala:
— Vamos nos refrescar – e se joga na piscina, comigo em seus braços.
— Seu idiota! – xingo assim que emerjo e tento afoga-lo de raiva.
Christopher pega Alyssa no colo e se joga também. São completamente
insanos. Começamos a jogar água uns nos outros e a rir. Logo, uma das senhoras
traz algumas toalhas e saímos correndo para nos secar. Alyssa e eu corremos
para os nossos quartos para fugirmos daqueles malucos. Tomo um banho quente, seco
meus cabelos e deito. Ouço alguém bater à porta e atendo.
— Oi, Alyssa. Entre.
— Oi – com seu jeito tímido, ela passa por mim — Chame-me de Aly. Não
quero incomoda-la, mas não estou com sono e vim ver se não poderíamos conversar
um pouquinho.
— Claro – sento na cama e chamo-a para sentar ao meu lado — Por falar em
conversar, hoje, na hora do jantar, eu vi um olhar perdido para Ben ou foi
impressão minha?
— Então... hum... – seu rosto fica corado e ela baixa os olhos — Eu o
idolatro desde que me entendo por gente – ela faz um gesto de nada com a mão —
Coisa de criança, achar o amigo do irmão mais velho bonito.
— E por que você não conversa com ele? Já parou para pensar que ele pode
gostar da ideia?
— Não! Por favor não conte a ninguém. Noah me mataria se soubesse e ele
nunca permitiria que acontecesse alguma coisa entre eu e o Ben.
— Noah. Noah. Noah. Você já é adulta, linda, não depende dele para nada.
Está na hora de começar a viver sua vida. Já teve um namorado, pelo menos?
— Eu saio com um cara de vez em quando, mas não é nada demais – ela
sorri timidamente — Só sexo mesmo.
— Nossa – coloco a mão no peito e respiro aliviada — Por um minuto,
achei que iria me contar que é virgem.
Rimos juntas e conversamos durante horas. Adorei saber sobre sua vida,
fiquei triste pela morte dos seus pais, cheguei a ficar com pena do juiz por um
momento. Soube que ela é uma neurocientista com estudos publicados em revistas
importantes do país. Acho que tenho uma nova amiga e fico muito feliz, porque
Aly é um anjo em pessoa.
Acordo com o canto dos passarinhos. Saio da cama, abro a cortina e vejo
um céu limpo e um sol convidativo. Vou para o banheiro, faço minha higiene,
coloco um biquíni e um vestido por cima. Desço e não vejo ninguém na sala, sigo
meu caminho para a cozinha dando graças à Deus, até passar pela sala de jantar
e ver todos reunidos tomando café, em silêncio. Milagre!
— Bom dia, Mad. Sente-se aqui – Becka fala e aponta uma cadeira ao seu
lado.
— Bom dia – olho para todos e cumprimento-os — Achei que estavam dormindo,
não ouvi barulho e nem conversas.
Enquanto me sirvo com as delícias que estão na mesa, Christopher puxa
conversa:
— Conta para nós como foram seus
primeiros dias de estágio, Madison?
— Então... – fico olhando arregalada para ele — Foram... hum... foram...
tranquilos. Adaptei-me muito bem ao ambiente.
— E qual foi a sua impressão do chefe? – Ben passando manteiga de
amendoim no pão pergunta.
— Tsc tsc tsc – balanço a cabeça e falo fingindo pesar — Um frustrado,
coitado.
Todos à mesa caem na risada, nem Rebecka se controla. Chris de todos, é
o que mais ri e pergunta:
— Por que frustrado?
— Não sei se é a vida, se é o trabalho ou o... – faço um gesto de mínimo
com o dedo polegar e indicador — Ou se é pequeno.
— O que o tamanho do pau tem haver? – Noah pergunta e as gargalhadas em
torno da mesa pioram.
— Segundo alguns estudos recentes de alguma universidade desocupada,
quando o ego do cara é grande demais, os documentos, aquele – aponto para baixo
— É pequeno demais.
— Não vejo graça nisso – Carly cruza a conversa — Mas onde é o seu
estágio, Madison?
— Na área do Direito – respondo.
Depois de tomarmos café, fomos todos para a piscina. Quando chego lá
fora, lembro-me que trouxe um livro e volto para busca-lo. Pego-o na minha mala
e assim que saio do quarto, encontro Noah de bermuda e sem camisa. Uma visão do
paraíso com todas aquelas tatuagens. Ele tem uma, logo acima do umbigo em
letras japonesas, uma cruz que mais parece uma adaga no braço direito e um
símbolo japonês no ombro esquerdo.
— Senhorita Harver – ele aproxima-se de mim — Então o seu chefe é
frustrado?
— Oi? – dou um passo para trás — Às vezes. Eu acho...
— Ele poderia te surpreender – ele pressiona-me na parede e fala no meu
ouvido.
— Eu seria eternamente grata com a surpresa.
— Ah! – Noah morde o lóbulo da minha orelha — Você está brincando com
fogo, menina.
— Não tenho medo de me queimar, senhor juiz.
Ele afasta-se e encara-me — Você é lin...
— Noah, cadê você? – sua mulher, namorada, esposa, arranjo, não sei qual
a classificação dela, o chama.
Ele aproxima-se como se fosse me beijar, eu já me preparo e ele fala —
Quer brincar, senhorita Harver? Então, vamos brincar.
Noah se vira e sai, deixando-me chocada e desejosa. Mais uma vez, que
homem é esse? Vou para piscina e sento em uma das espreguiçadeiras que está
debaixo do guarda-sol. Com essa pele branca, qualquer solzinho vira queimadura
de terceiro grau. Olho os corpos de Alyssa e Carly, perfeitos, o de Aly é ainda
mais bonito, cheio de curvas. Não entendo porque essa menina se esconde embaixo
de tantos panos. Teremos que trabalhar isso. Agora, o corpo de Carly, é magro
demais. As pernas da mulher parecem dois cabos de vassouras, seios pequenos,
costelas aparecendo, sou obesa perto dela. Nem pensar que tiro esse vestido.
Rebecka tira o camisão que a cobre e mostra seu corpo impecável, que
nada lembra as modelos esqueléticas, seu corpo é exuberante. Definitivamente,
vou ficar vestida. Os meninos, que estavam em algum lugar, vem para piscina e
vou falar para vocês, é a visão do paraíso. Arrumo meus óculos escuros e uso
meu livro para disfarçar enquanto analiso cada um. Dos três, Noah é o mais
forte, seus músculos são mais destacados, mas todos têm corpos definidos, do
tipo que nunca faltam na academia.
Christopher tem em torno de uns quarenta anos, é um gato. Ele é o mais
quieto, admiro sua coerência mesmo nas brincadeiras. Fiquei encantada quando
ele me contou dos seus ideais políticos, porque queria ser senador e tudo
aponta para um país mais justo com pessoas como ele na liderança. Ele é loiro,
olhos verdes, cabelo bem cortado, deve ter em torno de um oitenta de altura e
pasmem, todo tatuado. Jamais imaginei que o senhor engomadinho tivesse tantas
tatuagens assim. A mais bonita, é o dragão colorido, passa a impressão de
soberania. Com essa sunga preta... sem palavras.
Ben é o mais safado, o mais alegre também. Risada fácil, mão boba e um
lindo par de olhos azuis destruidores. Sua pele é branca, mas seus cabelos são
castanho escuros, barba por fazer contornando sua boca, o deixa ainda mais
sexy. Percebi isso nos três, eles não fazem a barba nos finais de semana,
fazendo-os ainda mais desejáveis. Ele é da mesma altura que o Chris, mas seu
porte é mais descontraído. Olho para Alyssa que está o observando, pois é,
escolheu mal a menina.
Por fim, o excelentíssimo meritíssimo senhor juiz Lancaster em toda a
sua Majestade. Ele tem um estilo de bad
boy, fora da lei, quieto, sério e muito mandão. Ele é muito forte, músculos
de quem é adepto a musculação pesada. Muito alto, acredito que chega perto ou
passa de um noventa. Dos três, não é o mais sério e sim o mais recatado e
elegante. Seu olhar é intenso e penetrante, acredito que ele pode desnudar a
alma de alguém através dos seus olhos. O jeito com que ele olha para sua irmã,
mexe com qualquer um, carinho, proteção, coisa de irmãos mais velho, coisa que
nunca tive.
Continuo a fingir interesse na literatura inglesa, quando Noah tira sua
bermuda e fica só de sunga branca. Ele está de costas para mim e a visão da sua
bunda me faz suspirar. Rebecka me olha e ri:
— Eu sabia que você não estava lendo.
— Quem consegue ler com isso tudo aí na frente? – falo com ela sem me
movimentar, porque não quero perder o foco. Noah mergulha na piscina juntamente
com os outros, dando uma trégua para mim — Deus abençoe a América – Rebecka ri
ainda mais alto.
— Eles são bonitos agora, mas as fotos de adolescência estão aí para
provar que para algumas pessoas, o tempo é benéfico. Eles eram muito feios.
Noah e Chris eram dois palitos, Noah ainda era alto para idade, o deixando
ainda mais estranho. Ben era mirradinho, nunca ninguém imaginava que iria se
tornar um homem desse tamanho e Roger... – ela faz uma pausa. Seguro sua mão e
incentivando a falar — Roger era aquele que usava jaqueta de couro e cabelo
lambido, sabe? Desde muito cedo conquistando as garotinhas, de todos, o mais
bonito – seu sorriso era saudoso — Eu me encantei por ele por causa da sua cara
de pau.
— Gostaria de ter conhecido o Roger, Becka.
— Ele ia adorar ter você por perto. Tenho certeza disso – ela tira seus
óculos escuros, olha para mim e vejo seus lindos olhos brilharem.
— Como pode ter tanta certeza? – sorrio para ela — Algumas pessoas me
odeiam.
— É o que você pensa – ela coloca seus óculos novamente e recosta-se
para trás — Basta medir o tanto que esses homens gostam de você. Nenhuma mulher
é tão próxima a eles quanto eu ou Alyssa, só você.
Alerta vermelho! Homem
bonito saindo da piscina. Volto a colocar meu livro na
posição que estava antes e assisto ao espetáculo do Noah sair da piscina a
nossa frente, se secando há quase um palmo de mim. Olho para o seu pau, que,
por favor. Aquilo está dormindo? Sério? Olho para os seus pés, porque dizem que
há relação com o tamanho de ambos e fico ainda mais... desejosa.
— Como você é sem vergonha, Madison – Rebecka aos risos fala e ele dá a
volta para ir até a namorada.
— Que desperdício – ouço risadas altas e vejo Benjamin brincando com
Alyssa — Eles formam um lindo casal.
— Sim – Rebecka responde — Formam sim, mas Noah jamais aceitaria.
— Por que? – a curiosidade toma conta.
— Acho que eles já aprontaram muito juntos e não quer um sem vergonha
para a irmã. Só sei que, logo que comecei a sair com o Roger, Noah os obrigou a
fazer um pacto, nenhum poderia ficar com a irmã do outro. O negócio é, só Noah
tem uma irmã, todos os outros tem irmãos.
— Ben, vem aqui – Chris na minha frente chama seu amigo — Por que você
não tirou o vestido ainda, Madison? Tire-o e vamos mergulhar. Queremos jogar e
falta um.
— Não – balanço a cabeça — Negativo. Rebecka vai.
— Eu vou lá ver como anda o almoço. Não esquece de passar protetor, Mad
– a sacana fala rindo. Ben se junta a conversa.
— Vamos, Madison.
— Não – mantenho-me firme.
— Ou você vai por bem, ou por mal – Chris ameaça — Nós te pegaremos e
jogaremos na piscina com roupa e tudo.
— Ok – uma coisa eu sei, jamais duvide desses homens. Solto meu livro.
Eles se jogam na piscina e com muita vergonha tiro o vestido, ficando com meu
biquíni muito comportado preto. O problema é que os meus seios são grandes
demais e meus quadris largos demais.
— Ah merda – ouço um assobio e Ben fala — Agora não poderei sair daqui
de dentro tão cedo – Noah dá um tapa em sua nuca. Alyssa estava sentada na
beirada e peço a ela:
— Poderia passar protetor nas minhas costas, Aly? Se não virarei um
camarão.
Enquanto ela passa o protetor nas minhas costas, passo uma camada
generosa na frente. Ela fala só para que eu ouça:
— Eles estão vidrados em você. São muito sem noção mesmo. Posso provocá-los
um pouquinho, Mad?
— Como?
— Posso passar protetor no seu bumbum? – ela responde e dá uma risadinha
de menina arteira.
— Pode. Mas cuidado para não se apaixonar.
— Não jogo nesse time – ela ri e responde.
Ela se abaixa e passa o protetor na minha bunda, superficialmente. A
coitada nem toca direito a minha pele e os marmanjos chiando. Ben estava quase
babando, só não sei se era para mim ou para Aly. Chris estava tão concentrado
na cena, que o mundo poderia acabar e ele continuaria ali, paralisado. O olhar
de Noah era para mim, ele percorreu meu corpo e voltou aos meus olhos.
— Vamos jogar, garota – Alyssa me dá um tapa na bunda, trazendo-me para
a realidade.
— Noah fica no gol, Chris com Madison e Aly comigo – Ben fala.
Vejo o desapontamento da doce Aly. Se ele é do time dela, não há porque
marca-la homem-a-homem. Danadinha. Então falo:
— Não. Meninas contra meninos.
— Chris no gol – Noah complementa.
— Vão! – Chris grita e joga a bola do outro lado da piscina.
Noah e eu saímos disputando braçada a braçada. Lógico que ele chegou
primeiro que eu. Tento pegar a bola dele, mesma coisa que Davi tentando roubar
uma bola do Golias, hilário. Ele vai em direção a Chris até Alyssa pular em
cima dele e gritar:
— Pega a bola, Mad.
Pulo em cima do gostoso, pego a bola, no mesmo momento que Ben a agarra
por trás. Vou em direção ao Chris e alguém me segura.
— Onde você vai, mocinha? – Noah pergunta com aquela voz grave.
Jogo a bola para Alyssa que é interrompida por Benjamin, que acaba
fazendo o gol. Isso não vai dar em nada. Christopher tem a bondade de jogar a
bola para mim, que estou no canto da piscina. Noah encurrala-me, seu tamanho
não permite que eu passe por lugar algum.
— É melhor se afastar, excelência – digo.
— Por que eu me afastaria? – ele sorri de canto.
— Porque todos estão nos olhando, inclusive sua esposa.
— Ela é minha namorada. Somente, namorada – mergulho na tentativa de
encontrar uma saída. Mas, mal imerjo e ele me traz à tona novamente segurando
meus braços — Faça minha alegria, senhorita Harver e joga a bola por cima de
mim.
Não entendi e fiz o que falou. Então entendi. Quando dei impulso para
jogar por cima dele, acabei pulando e roçando na criatura. E na descida, bom,
eu desci me esfregando e acabei sentindo o que não deveria querer sentir. Mas
eu senti, e adorei. Ouvimos o grito de Aly e vimos Ben a agarrando. Dei um
perdido no gostoso, Alyssa jogou a bola para mim e Chris mais que distraído,
deixa a bola passar.
Jogamos mais tempo, não quis dar mais bandeira do que já dei. Mantive
distância do juiz e marquei Ben, enquanto ele marcava sua irmã. Perdemos,
lógico e estamos mortas de cansadas. Anunciaram o almoço, só que eu não estava
com fome. Não gostei do modo com que aquela situação mexeu comigo, o brilho no
olhar dele. Ele é comprometido.
Fui para o quarto, tomei um banho e depois de me sentir confortável,
abri meu notebook para responder alguns e-mails de meninas que estou
aconselhando. Hoje, ajudo apenas duas ou três, quando vi que estavam buscando
em mim a solução para um casamento rico, diminui os aconselhamentos. Minha
ideia sempre foi ajudar as mulheres a se conhecerem e se redescobrirem, não ser
uma charlatã.
O primeiro e-mail é da Beverlly, dizendo que só queria um, “felizes para
sempre”. Tenho raiva de quem inventou essa expressão, porque somos felizes constantemente,
então pela lógica seremos felizes para sempre. Mesmo com todas as frustrações e
dores, temos momentos felizes. Minha resposta:
Beverlly, por que
pensar no “para sempre” agora? Você tem apenas vinte e seis anos, está na hora
de pensar no “para agora”. Está na hora de você se descobrir como profissional
e como mulher. Saia, divirta-se, conheça novos homens e novos horizontes. Está
cansada de curtir? Então, viaje, desenvolva novas habilidades, transe, beije na
boca e deixe o “para sempre”, para depois.
Você é linda e
inteligente, não precisa de alguém para esquentar seus pés ainda, porque sua
vida está apenas começando. Procure alguém que esquente a sua cama, espere
esfriar e esquente novamente. Viva, respire, troque a cor do cabelo, compre
roupas coloridas, liberte-se! E quando você olhar para trás e se sentir
satisfeita consigo mesma, então o seu “felizes para sempre” aparecerá.
Beijos. Cuide-se e
viva!
Madison.
O próximo e-mail é da Charlotte, ela diz que não aguenta a solidão, que
precisa de alguém para ser feliz. Senhor, quando vão aprender que não se deve
terceirizar a felicidade? Minha resposta:
Querida Charlotte,
Entendo que a solidão não é a nossa
melhor companhia. Sei que às vezes sentimos a necessidade de compartilhar com
alguém, de coração, entendo tudo isso. Mas permita-me dizer-lhe algo, não
transfira a responsabilidade da sua felicidade para outra pessoa. Não permita
que sua vida seja escrita por mais ninguém. Somos responsáveis pela nossa
caminhada, as pessoas não têm obrigação de nos fazer felizes, a única obrigação
delas, é não nos decepcionar.
Você só encontrará
alguém quando se encontrar a si própria. Saber o que te faz bem e o que te faz
mal. Saber o que te agrada e o que não gosta. E quando souber dizer tudo sobre
você com convicção, espere por aquela pessoa que combine com o que descobriu de
você. Jamais mude para ser boa para alguém, mude somente porque é necessário
mudar, porque te fará bem. Se ele quer estar em sua vida, terá que merecer.
Por favor, não
terceirize sua felicidade. Descubra-se, redescubra-se e depois, viva. O que é
para acontecer, acontecerá quando menos esperar. Fique em paz
Att.
Madison.
— Madison? – fui até a porta atender Alyssa. Abro e aceno para que entre
— Vim ver se estava tudo bem. Não desceu para jantar, todos estavam preocupados.
— Estou bem sim, só estou muito cansada e sem fome.
— Vamos deixar uma coisa clara, ruivinha – nisso, Carly se coloca na
porta — Noah é meu noivo, moramos juntos, temos uma história. Então, não se
meta! Eu vi como você se esfregou nele hoje e isso é coisa de puta. Esfregar-se
em homens comprometidos é coisa de vagabunda. Não é à toa que responsável por
um bordel, além de cafetina, deve fazer programa também.
— Escuta bem, coisinha insignificante – minha paciência com a cadela
esgotou. Saio da cama e vou até ela, pressionando-a entre o batente da porta e
meu corpo — Se sou cafetina, puta, vagabunda, não é da sua conta. Mas não
tolero que me ofendam assim e já é a segunda vez que você o faz. Vou te dar um
conselho, não ouse abrir essa sua boca para falar de mim, porque se eu souber,
encarregarei de fecha-la pessoalmente – afasto-me dela — Não tem vergonha de
encher a boca para declarar que ele é seu? Se um homem morasse comigo e ainda
insistisse em me chamar de namorada, eu já teria cortado os pulsos. Quer foder,
mas não quer casar. Agora saia daqui e esqueça que existo.
Carly estava mais branca que um fantasma. Olho para Alyssa que estava
arregalada também. Para mim, esse final de semana já deu o que tinha que dar.
Abro minha mala e jogo as poucas coisas que tirei.
— Onde você pensa que vai? – Alyssa me interrompe.
— Vou embora. Cansei disso, cansei dessa mulher e nós duas sabemos que
eu não faço parte desse grupo.
— Não. Você não pode ir... – eu a olho.
— Olha Aly, eu não sou muito próxima as pessoas, sabe. Costumo me
preservar desse tipo de situação. Ela é a mulher do seu irmão, vocês são
família e eu sou convidada. Por favor, não conte a ninguém o que houve aqui e
me deixe ir. Ok?
— Espera – Alyssa sai correndo e logo volta com chaves — Vá com esse
carro. Assim que voltarmos para casa, mando alguém buscá-lo.
— Obrigada – nos abraçamos e sorrio com cumplicidade para ela.
Wow!!! Será que finalmente Noah vai dar um pé na bunda magra da Carly???
ResponderExcluirMadison ainda fez pouco pra mala,affff!