domingo, 27 de março de 2016

A Vitrine - Capítulo 19

Capítulo Dezenove

Zachary

Que caralho aconteceu naquele quarto? Estou até agora tentando entender como uma deliciosa transa virou um inferno. Martino não perde por esperar, aquele italiano filho da puta tirando a Letícia daqui antes de terminar o prazo do sheik.
— Nossa aquela mulher é grosseira, não sei como vocês a aturam. Os outros mesmo babam em cima dela. Credo!
— A Letícia está tendo dias difíceis. Outra coisa, você não pode falar assim dela, entendeu? Educação cabe em todo lugar.
— Sim, senhor.
— Cadê o King e o outro segurança? Eles não deveriam estar guardando aquele apartamento?
— Não sei. Quando cheguei a porta estava livre.
Vou matar o King! Onde inferno ele se meteu? Vou para o meu apartamento com uma enxaqueca de cão. Entro e encontro Valery fazendo ioga no meio da sala, passo direto e vou para o quarto pensar. Toda essa viagem foi um desastre, não... Desde que conheci Letícia, o desastre está a um passo. O que era certo passou a ser incerto. O que estava no lugar, não está mais e eu não sei o que fazer nesse caso, porque nunca passei por isso antes.

Desde que voltei para casa da viagem ao Brasil, minha vida está nesse caos. Venho dia após dia tentando tirar a desgraça daquela mulher dos meus pensamentos. Nunca uma foda se tornou obsessiva, até Letícia. Acreditei que estando a mais de dez mil quilômetros de distância, as coisas esfriariam, não foi o que aconteceu. O dia em que Ethan surtou e sumiu, fui o primeiro a localiza-lo no apartamento da Letícia. Aquele dia, falei com ela por alguns minutos e bastou para querer embarcar de volta ao Brasil também.
Inferno!
Essa coisa com ela estava indo longe demais. Eu sei o que me espera no final da linha, Letícia com os bolsos cheios de dinheiro e eu enganado pelo meu próprio tesão, achando que era amor. Tento manter em mente que meu objetivo com ela é a minha cama, nada mais. Assim que eu conseguir isso, bye bye baby!
Os dias do Ethan no Brasil foi um calvário. Não fazia ideia do por que ele batia fotos dela e me enviava e também não faço ideia do por que tenho cada uma delas guardada no meu telefone. Não satisfeito, também me enviava parte das conversas deles, principalmente aquelas em que ela ria.


Com o passar dos dias, descobri que o som da sua risada me fazia dormir profundamente, de lá para cá, não tenho tomado medicamento para pegar no sono, o seu riso me conforta. Não sei qual a ligação, mas é assim que funciona.
Isso tudo tem me incomodado profundamente. Nunca permiti que mulher nenhuma estivesse tão perto de mim. Mas, mesmo de longe, Letícia conseguia estar perto demais e isso não está certo, tinha que fazer alguma coisa. Então, comecei a sair com todas as mulheres que chegavam até mim, no começo foi bom, mas com o passar dos dias perdeu a graça e voltei à estaca Letícia.
Por diversas vezes eu pensei em ligar, mas desisti de todas elas, porque a partir do momento que eu tomar a iniciativa de procura-la, eu sei que estarei abrindo uma porta que não se fechará facilmente. Sou um homem realista e coerente, conheço limites apesar de não respeita-los e manter essa porta fechada é o certo a se fazer.
Dois dias antes de embarcar para Abu Dhabi, King chamou minha atenção.
— Zach, está difícil de te suportar, cara. Uma das suas assistentes está chorando há dez minutos. O que está acontecendo? Nos últimos dias você está mais nervoso do que de costume. — Eu não tinha percebido que meu estresse tinha sido tão perturbador.
— Não sei o que está acontecendo comigo. Deve ser o cansaço.
— Então tira férias, porque ninguém mais quer ficar a sua volta.
Eu sabia o que me incomodava, só não quero admitir. Eu já vi essa novela com outras pessoas e em nenhuma das vezes deu certo. Os caras encontram a foda da sua vida, viram uns tapados incapazes de ver a realidade a um palmo de seus narizes. As mulheres por sua vez, enrolam os “paus nervosos” em volta dos seus dedinhos pintados de esmalte vermelho e os fazem de palhaços. No meu caso não é amor, é uma competição para ver quem a leva para a cama primeiro. Estou obcecado com a ideia de ganhar, só isso. Sou um jogador nato, desafios me revigoram.
Fui a um coquetel e Valery estava lá. Já saímos algumas vezes e se eu não estou enganado, já viajou uma ou duas vezes em minha companhia e isso me deu a brilhante ideia de traze-la para o Oriente. Era a companhia perfeita, uma linda modelo de lingeries, alta, loira, que não faz muito meu tipo, só que manda muito bem na cama. Quando a convidei, tinha tudo muito bem planejado, ela não sairia do meu lado por nada e enquanto estivéssemos no quarto, eu não sairia de dentro dela, com isso, a Letícia se manteria longe. O que eu não contava é que eu não conseguiria manter distância dela.
E tem mais aquela aposta, ainda não me decidi se estou arrependido ou não. Entrei nessa putaria porque tinha certeza que iria ganhar, meu único rival é Larkin, ele é o único que pode tira-la de mim. É sabido que a partir do momento que ela deitar na cama de alguém, eu não vou mais atrás dela. Se for Larkin, pior ainda, porque ele a quer para casar, está apaixonado. Eu falei para ele, “case-se com ela depois da minha noite”. Só que o cara é teimoso e está disposto a acabar com a festa de todo mundo. Mas ele está tão enrolado nisso quanto nós, é tarde demais para voltar atrás e fazer papel de bom moço. Ela jamais o perdoaria.



Eu soube que senti saudades no momento em que coloquei meus olhos nela. Letícia estava linda com aquele vestido branco, dava a impressão que tinha sido costurado no corpo de tão perfeito que era o seu ajuste e seus olhos se destacaram com a maquiagem, fazendo-a ainda mais impressionante. Naquela noite decidi que me afastaria dela, Letícia pode ser minha ruína.
Meu telefone toca tirando-me do devaneio, olho o visor e vejo que é Ethan.
— Oi, E...
— E, o cacete! Que porra você fez com a Letícia, seu filho da puta? — Ele estava gritando ao telefone. — Fico em alerta quando ouço o nome dela.
— Do que você está falando?
— Quando voltamos ao apartamento, a Letícia estava no chão chorando, Zachary, ela não tinha forças nem para se levantar e foram dois calmantes para acalmá-la. — Caralho!
— Estou indo vê-la.
— Não, não vai e se for não passará da segurança. Eles têm ordens expressas para ninguém passar, principalmente você. Então, traga esse traseiro arrogante até o meu apartamento, agora ou, eu mesmo irei quebrar sua cara aí na sua suíte.
Ele desliga e eu fico olhando o telefone na mão. Eu deveria ter mais cuidado, ela não está em condições de briga. Deus, não queria prejudica-la, ela é preciosa demais para ser ferida. Saio do quarto e encontro King sentado no meu sofá.
— Onde você estava Kingston? — Ele me olha com deboche.
— Estou aqui.
— Enquanto eu estava na suíte da Letícia você estava aonde, idiota? — Ele fecha a cara.
— Um dos assistentes me telefonou dizendo que estava com problemas, deixei instruções claras para o Luck e fui ver o que era. O que aconteceu? Onde está indo?
— Estou indo ao apartamento do Ethan, diga ao Lennon para ir até o apartamento da Letícia e conseguir informações sobre o estado dela. O Luck não estava lá também quando saí. — King fica pensativo por um momento.
— Ok.
Enquanto King falava com Lennon, íamos em direção ao apartamento do Ethan. Chegando lá, ele abre a porta com um copo de whisky na mão. Aponta o sofá para mim.
— O que caralho você fez com ela, Zach? — Ele aponta para o Kaleb. — Ele viu o estado que a encontramos, conte para esse babaca. — Kaleb olha para mim.
— A senhorita Letícia estava chorando encolhida no chão. Corta o coração só de relembrar. Uma mulher tão forte naquele estado... é triste.
King, Kaleb e Ethan olham para mim esperando uma resposta,


— Eu transei com a Letícia. — Os três chiam. — Aconteceu, não tinha como controlar, quando vi já estava dentro dela. Então me lembrei da aposta, meu humor mudou e ela achou que eu tinha me arrependido de estar com ela. Na verdade, ela acha que a detesto e me expulsou aos gritos de lá. — Os três balançavam a cabeça. — Se eu soubesse que ela ficaria mal, não teria saído de lá. — Ethan se joga em um dos sofás.
— Filho da puta! Pelo que a Lorena me falou a Letícia é encantada com você. Sonhava com os seus olhos mesmo sem nunca ter te visto. Eu não sei se é destino ou não, mas ele já tratou de fodê-la quando te jogou no caminho dela, mas você poderia não piorar a situação. — Ele vai até o barzinho, enche o seu copo e outro, depois volta para o seu discurso. — Você não pode contar para os outros por causa do acordo. A ideia das viagens foi sua, animal, para que cada um tivesse seu tempo sem correr o risco de interromper o tempo do outro. Eu só não abrirei o bico para os outros, porque eu sabia que você ganharia essa porra de aposta. — Estou me sentindo mal com essa situação.
— Eu não quero machucar a Letícia, mas tem a aposta e eu não sou homem de voltar atrás com minha palavra. Não me arrependi de tê-la, não sei de onde aquela mulher tirou essa ideia absurda. Não há como explicar isso a ela, Ethan.
— Seja como for, amanhã ela embarca com o Rossi para a Itália. Ele alugou uma casa em... Esqueci o nome. Só sei que é uma das ilhas mais bonitas de lá. — Ethan termina sua bebida. — Rossi é a menor das minhas preocupações agora.
— Ela não ficará com o Rossi, assim como foi com o Bashir, é casado e isso a impede de levar adiante. — Ethan coloca o copo na mesa de centro.
— Eu acho que você não se deu conta das coisas, vou fazer o favor de te esclarecer. A Letícia não é tão frágil assim e mulher quando quer se vingar meu amigo, o capeta é nada perto delas. Então, ela pensa que o cara dos seus sonhos a usou, no consenso geral das mulheres, ela não tem nada a perder e Rossi é um puta de um encantador de calcinhas. Então de agora em diante, tudo pode acontecer. Até mesmo Bashir voltou a ter chances.
Isso me fez beber todo o conteúdo do copo em um gole só. Eu não suporto a imagem de outro homem a tocando, possuindo-a como eu fiz. Dessa vez sou eu quem vai até o bar encher o copo. King olhava com reprovação para mim, ele também é protetor com ela. Isso é uma das coisas que me incomoda, ela desperta esse carinho nas pessoas e com a minha experiência, sei que pessoas assim sempre têm segundas intenções, elas não conquistam ninguém à toa.
— Ela está bem. — Lennon entra e fala.
— Um segurança para ela é pouco. Vocês devem aumentar o contingente antes do mundo tomar conhecimento da nova companhia, a partir daí ela será alvo fácil.
— Nós já tínhamos pensado nisso. Durante o restante da viagem ela estará protegida e Luck estará com ela. Depois disso King, já tenha mais dois seguranças contratados para protegê-la. — Respondo.
— Terei que ir ao Brasil fazer as entrevistas, não há lógica de mandarmos três estrangeiros com ela. Manterei Luck e contratarei mais dois pessoalmente. — Ele fala já pegando o celular.


Conversamos mais um tempo sobre toda a logística da vida da Letícia. King e Kaleb serão responsáveis pela segurança dela também, assim fico mais tranquilo. Enquanto todos falam, perco-me em meus pensamentos. O fato de tê-la machucado está me incomodando, eu não deveria me sentir assim, já passei por situações piores e nenhuma delas me afetou, só ela...
Eu queria matar o sheik quando ela estava pálida de dor na reunião. Até Letícia esclarecer que caio tentando sair da cama, deu trabalho para controlar a vontade de bater naquele bastardo. Todos nós estávamos nitidamente preocupados, mas me contive. Ethan me ligava de hora em hora para dizer como ela estava, sei que a noite o médico teve que dar mais remédio por causa da dor. Ela passou o dia dormindo e eu ansioso para vê-la, não suportava que Valery ficasse tocando em mim, fui para a academia e depois para a piscina, até King me falar que Letícia estava acordada.
— Como ela está? — Liguei para Ethan para saber.
— Está bem, sentada na sala conversando.
Ouço vozes e risadas no fundo, como se estivessem em uma festa.
— Quem está aí?
— Sebastian e Rossi babando em cima dela.
— Ethan eu preciso que você tire eles daí, vou pedir comida e irei jantar com ela.
— Ok.
Em seguida liguei para Mag, mandei-a providenciar na cozinha para que servissem um jantar para duas pessoas na suíte da Letícia. Vou para o quarto com King no meu encalço.
— Você vai ficar guardando aquela porta para que ninguém entre. Quero meu tempo sozinho com ela, King.
— Certo.
Entro no apartamento e encontro Valery de bico no sofá.
— Zachary, onde você estava? Estou te esperando para jantar...
— Pode ir jantar, eu já tenho compromisso.
Não dou tempo para questionamentos. Tomo um banho, coloco uma roupa e vou para o quarto atender ao telefone.
— Zachary, falando.
— O senhor Larkin está na suíte da Letícia, peço comida para três? — Maggie avisa.
— Não. Avise-me quando ele for embora. — Eu tiro o Larkin de lá a socos se for preciso. Desligo e abro meu computador para ler meus e-mails. Quinze minutos se passaram e nada da Mag ligar. Larkin não vai sair de perto dela tão cedo. Vou à procura de King e o encontro no barzinho do apartamento.


— King, liga para o Luck e mande-o ver o que está acontecendo no apartamento da Letícia.
Prontamente ele liga para Luck, franze a testa e desliga o telefone.
— Ele disse que está tudo bem. Depois que o Ethan saiu com os outros, o Larkin esteve com ela, mas saiu poucos minutos depois e desde então ela está com a Lorena na sala.
Mag está a cada dia mais relapsa tenho que ter outra conversa séria com essa garota.
— Enquanto pego uma camiseta, faça um favor para mim, ligue para a Mag e peça para mandarem servir o jantar dentro de dez minutos no apartamento da Letícia.
Quando cheguei lá, nem sinal do Larkin e essa coisa da Mag se esquecer das minhas ordens, está estranho.
Voltando as minhas doces lembranças com a mulher dos olhos dourados, ter aquele momento com ela, foi a melhor coisa que me aconteceu durante dias. A imagem dela nua não sai da minha cabeça, seus gemidos são repetidos como se alguém tivesse apertado a tecla repeat. Seus olhos eram tão claros, que davam para ver sua alma, eu lia cada sentimento que se passavam neles e gostei de cada um, me incomodaria em outros tempos, ou em outras mulheres, mas não em Letícia, nada nela me incomoda. Ainda posso sentir seu gosto na minha boca, é possível uma mulher ser doce assim? O cheiro da sua excitação me deixou como um animal faminto. É impossível ter uma mulher daquelas e não querer mais.
Um sorriso desponta em mim ao lembrar-me do preservativo rasgado. A foda foi tão intensa, que o preservativo não aguentou. Eu deveria entrar em pânico, mas há dois meses no meu check-up de rotina, o médico reafirmou o que vem acontecendo há algum tempo, minha contagem de esperma estava baixa, seria difícil engravidar uma mulher na primeira tentativa e eu teria que fazer um tratamento para ter filhos, também não tenho doença alguma e tenho absoluta certeza que a Letícia também não. Não haveria porque contar a ela e estragar o momento, porque com toda a certeza, ela surtaria.
A hora que ela se levantou para ir ao banheiro, desfilando nua, eu já estava pronto para mais uma rodada. Fui atrás dela e a peguei tirando a faixa do seu corpo. Impulsivamente me abaixei e beijei a marca, um corpo tão bonito daqueles, não deveria ter feridas. A Letícia é magra, cintura fina, mas seus quadris são mais largos que o padrão, suas pernas são mais grossas e seus seios mais fartos. Não é um corpo proporcional e nem dentro de padrões estéticos que estamos acostumados a ver. Só que eu não mudaria nada nela, ela é simplesmente perfeita e gostosa para caralho!
— Zach... — Olho na direção da voz de Ethan.
— O que?
— Aposto toda minha fortuna que você estava pensando na transa com a Letícia. — Ele fala sorrindo.
— Você pode perder. — Seu sorriso fica maior.
— Ninguém se perde em seus pensamentos depois de uma cagada e tem um sorriso desse tamanho. — Mostro o dedo do meio para ele.

— Aposta isso, imbecil.

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