domingo, 17 de abril de 2016

O Juiz - Secret Garden - Capítulo 17

Capítulo Dezessete

Noah

Sinto um corpo macio encaixado ao meu, seus cabelos com cheiro de morangos espalhado pelo travesseiro e emoldurando o rosto da minha pequena desbocada. Oh mulher para me dar dor de cabeça, ontem uma das suas “amigas” desesperadas precisou encontra-la com urgência, Madison deixou a boate correndo, um carro cortou sua frente batendo na moto e ela caiu e se machucou. Por mais que eu tente empurrar um carro para ela, porque é mais seguro, a teimosa quer a moto e não é qualquer moto, escolheu a minha BMW S1000RR.
Fiquei desesperado quando ela ligou dizendo que caiu de moto e precisava de uma carona. Os caras foram comigo e encontramos a roupa da Madison rasgada, os joelhos sujos de sangue e ela gritando com o motorista que cruzou o seu caminho. A polícia já estava a levando para a delegacia por causa da sua língua afiada. Eu estava tão nervoso que acabei falando mais do que deveria, lógico, esqueço que estou falando de Madison, ela simplesmente mostrou o dedo do meio para mim, na frente de todos. Sorrio com a lembrança. Ela é teimosa, chata, desbocada, irritante, só que eu não mudaria nada nela, talvez a agressividade das suas palavras.

No domingo que estávamos na casa de campo, isso há mais ou menos dez dias atrás, Rebecka e Madison chegaram à conclusão que os horários deveriam mudar. Becka disse que agora que Madison tem uma vida social, não precisava ficar enfurnada no Secret Garden. A ruiva trabalhará no comando do clube parte da tarde e noite, saindo por volta das nove da noite e Rebecka assume a partir desse horário.
Também ficou acertado que as dançarinas só se apresentarão de quinta à domingo. O clube ficará fechado segunda e terça-feira. E na ausência de Becka, Ramon ficará responsável por fechar. Como a clientela é vasta e exigente, muitas vezes tendo que abrir exceções, o trabalho acaba triplicando, deixando todo mundo exausto. Fui o primeiro a concordar.
Gosto da Madison aqui na minha casa, na minha cama, onde posso tê-la a qualquer momento, cuidada e protegida. Ela vira-se gemendo, provavelmente de dor, joga seus braços e pernas em cima de mim. Acaricio sua pele sedosa e como é branquinha, os hematomas do acidente de ontem estão expostos ao longo do seu corpo. Fazendo minha raiva dominar-me e querer ir atrás do imbecil que dirigiu sem cuidado.
Beijo sua testa e desvencilho-me dela, sem que a acorde. Levanto-me, é hora de trabalhar. Com os medicamentos que foi passado a ela, é capaz de dormir o dia todo e minha vontade é ficar aqui, cuidando para que essa cabeça dura faça o que lhe foi receitado.
 Depois de pronto, desço para tomar café e encontro Alyssa e Martha na cozinha. Tenho que orientá-las sobre a Madison, se eu conheço a peça, ela irá acordar e querer ir trabalhar ou atender alguma desesperada.  Sento-me em uma das cadeiras e Martha já coloca meu café a minha frente.
— Bom dia, Noah. Como está a Mad? – pergunta Martha.
— Está bem. Gemeu um pouco durante o sono, mas não acordou em momento algum.
— Ela nos deu um susto, aquela maluca – Aly fala.
— Nem me diga... – falo balançando a cabeça — Madison acaba com a paz de qualquer um.
Martha coloca um prato de panquecas a minha frente e fala:
— Madison é uma daquelas pessoas especiais, que vieram ao mundo para cumprir uma missão. Apesar daquela aparência de durona, ela tem um coração puro. Por onde passa, deixa sua marca...
— Por onde passa deixa sua marca e um rastro de destruição – falo rindo.
— A gente vê a destruição que ela deixa – Alyssa fala rindo — Principalmente em você.
— Antes você não sorria, vivia de mal humor, pouco o víamos em casa – Esse “antes” que a Martha fala é Carly — Agora, não. Está sempre sorrindo, a casa com outro astral.
— Antes que eu esqueça-me, Martha, certifique-se de que Madison se alimente bem. Os medicamentos que foram passados são fortes e com certeza ela sentirá fome – levanto-me e vou em direção a porta — Meninas, tenham um bom dia.
Entro no meu carro e vou em direção a Corte. No caminho sorrio com a conversa das duas, que eu sabia exatamente para onde estava indo, iam dizer que eu estava apaixonado. Não, não estou. Pelo menos não ainda. O que eu e Madison temos é química, mas não somos compatíveis em nada. Gosto de estar com ela, sua presença alegra qualquer lugar. Não sei se poderia ama-la um dia, somos muito diferentes.
Não luto contra a ideia de me apaixonar, até porque em algum momento isso acontecerá. Estamos expostos a isso e por que não vivê-lo, caso venha acontecer? Sou daquele tipo que vivo o momento, se estou com alguém, quero aproveitar todo momento possível. Esse negócio de afastar as pessoas por medo de sentimentos, realmente não faz parte da minha natureza. Até porque vai acontecer independente da gente querer ou não.
Gosto daquela ruiva desbocada, vou aproveitar cada momento que temos juntos. Ela é amiga dos amigos, eles a idolatram. Minha irmã a ama, meus empregados a adoram e eu também! Madison é um refresco no deserto.
Começo o meu dia de trabalho, que não será fácil. Agenda cheia, reuniões exaustivas com advogados que não chegam a um acordo, um promotor chato que insiste em uma coisa que já foi provado desfavorável ao Estado. Harriet leva meu gabinete muito bem, mas acredito que sente falta da Madison, talvez, tenha que contratar alguém para ajudá-la.
Antes de entrar na audiência, mando uma mensagem para ela:
“Assim que acordar, me dê notícias. Quero saber como está. Beijos.”


Sua resposta chega em seguida:
“Estou muito bem e acordada. Querendo você aqui para checar esses roxos... com a língua”.

Sorrio e respondo:
“Não posso entrar em uma audiência com o pau duro, ruiva”.

“Vem aqui que resolvo isso, excelência”.

“Não faz assim...”

“Bom trabalho, gostoso”.

Desligo meu telefone antes de ir para audiência. Assim que entro, todos ficam de pé e eu, sinto-me poderoso.
Passei o resto da manhã e parte da tarde com o julgamento, que foi exaustivo. Lá pelas tantas, Benjamin liga-me:
— Boa tarde, excelência.
— Boa tarde, Benjamin. Em que posso ajudá-lo?
— Como está a Mad? – ele pergunta preocupado.
— Está bem. Alguns roxos, provavelmente acordou um pouco dolorida.
— Noah, lembra daquela casa que te falei?
— Sim...
— Então, o cara voltou a me procurar. Ele está desesperado para vender e quer um valor bem abaixo do mercado. Aquela casa é um espetáculo da arquitetura moderna e está uma barganha.
— Quando poderei visitar o imóvel? – ouço ele falar com alguém ao fundo.
— O dia que quiser.
— Chamaremos o Chris e vamos sábado. Pode ser?
— Combinado. Até mais. Manda um beijo para Madison.
— Até.
Logo que desligo o telefone, o aviso de que um e-mail chegou, alerta-me. Ben me mandou algo, abro e vejo as fotos da casa. Só tenho uma coisa a dizer, se a casa for como é nessas fotos, fecho negócio na hora!
Final de expediente, indo para casa. No meio do caminho, me dou conta de que estou cantando. Há quanto tempo não faço isso? Por algum motivo, sinto-me leve e em paz. Sei que chegarei em casa e não terei cobranças, insatisfações. Terei minha linda ruiva a quem quero beijar todinha. A voz do Rod Stewart e Amy Belle preenche meu carro cantando I Don't Want To Talk About It“Posso dizer, pelos seus olhos que você provavelmente esteve sempre chorando. E as estrelas no céu não significam nada. Para você, elas são um espelho. Eu não quero conversar sobre isso, de como você partiu meu coração. Se eu ficar aqui mais um pouco, se eu ficar aqui você irá ouvir o meu coração? Meu coração...”.
Por algum motivo, meu coração aperta. A história da Madison ser traída, ser expulsa da própria família, estar sempre sozinha, passa pela minha cabeça. Tento imaginar os sentimentos que ladeiam seu coração. Não deve ter sido fácil, não é fácil. Então, dou-me conta que, quero protege-la desse mundo cruel, cuidar para que nada volte a acontecer, seu coração já se machucou o suficiente por uma vida inteira.
Entro em casa e encontro as meninas sentadas no sofá rindo. Vou até elas, dou um beijo na cabeça de Alyssa e um na boca de Madison.
— Achei que te encontraria dormindo, ruiva.
Ela faz uma careta.
— Já dormi o suficiente por uma semana.
— Noah, Madison estava falando que vai embora – Alyssa fala.
Olho para Madison que está sem graça.
— Ela não irá. Pelo menos não enquanto estiver machucada – falo indo em direção as escadas — Vou tomar um banho e desço para jantarmos. Estou faminto!
Assim faço. Tomo um longo banho, coloco uma roupa confortável e desço para comer. Junto-me a elas, que já estavam sentadas à mesa para jantar. Admiro ao ver Martha sentada também. Na cobertura ela sempre fazia as refeições comigo na cozinha. Tínhamos uma cozinheira e uma arrumadeira, Martha administrava minha vida doméstica. Mas, desde que mudei para essa casa, ela se negou a sentar conosco, nunca entendi o porquê. Fico feliz de tê-la aqui compartilhando conosco.
No meio do jantar o celular da Madison toca, ela pede licença e retira-se para a sala ao lado. Podemos ouvir sua conversa, que era com a Rebecka. Estranho. Será que aconteceu alguma coisa? Hoje é terça-feira, o clube está fechado. Madison volta séria e fala:
— Rebecka teve uma das suas recaídas, vou lá dar uma força – ela olha para mim, como se precisasse da minha permissão — Tudo bem?
— Claro. Mas, só sairá daqui com motorista – falo sério.
Ela acena que sim.
— Vou trocar de roupa e tomar meus remédios antes de ir.
Mais tarde, sento-me na sala para ler um processo que requer minha atenção. Olho o celular para ver a hora, já é tarde e nada da Madison. Rebecka ainda nos preocupa com essas crises nervosas. Já aconselhamos a procurar um profissional, outro dia ouvi a Madison aconselha-la a procurar um homem para transar. Balanço a cabeça com a lembrança, só aquela mulher para dar um conselho desses.
A campainha toca. Uma das empregadas aparece para atender, mas digo que eu mesmo faço. Abro a porta e encontro Carly. Essa noite está cada vez melhor. Olhando ela mais de perto, percebo que está triste, não se vê brilho em seus olhos.
— Aconteceu alguma coisa, Carly? – pergunto preocupado. Dou um passo para trás para que ela entre — Entre.
— Obrigada, Noah. Sempre um cavalheiro. Desculpa vir aqui e ainda mais uma hora dessas, mas precisava conversar com alguém.
Aponto o sofá para ela.
— O que acontece?
— As coisas não estão muito bem. Não consigo trabalho, tive que vender o carro e ficar com um de menor valor.
— Já falou com o Senador Richard?
— Sim – ela dá um pequeno sorriso — Ele disse que não tem vagas. Posso me servir de uma dose de whisky? Vim da casa dos meus pais agora, preciso digerir algumas coisas.
— Quer que eu te sirva? – falo levantando-me.
— Não, obrigada. Se você não se importar, prefiro preparar minha bebida. Me acompanha?
— Claro. Enquanto você se serve, vou pegar uma cerveja para mim.
Ter Carly aqui, mostrou-me como deslocada ela ficou nesse cenário. Claramente, ela não pertence mais a esse lugar. Interessante. Volto para sala e ela está em pé, olhando os jardins pela janela. Ela volta-se para mim.
— Eu não tive a oportunidade de te agradecer pelo que fez por mim. Deu-me aquele apartamento e o carro, ambos estão mantendo-me viva no momento. Obrigada! – ela fala levantando seu copo como em um brinde.
Nesse momento o meu celular toca e vejo que é Madison, atendo-a.
— Oi.
— Oi – sua voz é suave e me transmite paz. Saio para outro ambiente para que ela não ouça que Carly está aqui. Madison é capaz de iniciar a Terceira Guerra Mundial.
— Como a Becka está, Madison?
— Melhor. Está dormindo. Liguei para avisar que passarei a noite aqui, para ter certeza que ficará bem. Assim que tudo estiver calmo, irei para casa.
— Espero que sua casa seja aqui. E você como está? Sente muitas dores ainda?
— Um pouco dolorida. Amanhã estarei melhor.
— Sentirei sua falta, Madison.
— Eu também, Noah. Boa noite.
— Boa noite, menina dos cabelos de fogo – desligo o telefone decepcionado. Eu sei que é egoísmo, mas queria Madison aqui comigo.
Volto para a sala onde deixei Carly. Ela está sentada no sofá olhando para o copo que está a sua mão. Sua respiração está irregular, será que já bebeu demais? Tomo o resto da minha cerveja.
— Vou falar com o Chris, Carly. Quem sabe ele sabe de uma vaga. Você é uma profissional de alto nível, não deve ser difícil conseguir uma nova colocação.
— O Christopher me detesta, Noah...
Fico tonto de repente.
— Não é para tanto, Carly.
Tento continuar uma conversa coerente, mas minha língua está pesada e o sono aperta — Desculpe-me, mas tenho que deitar. Não estou bem. Outro dia nos falamos, Carly.
Que sono! Está tudo ficando... nebuloso. Subo as escadas com alguma dificuldade, tento virar a cabeça para o lado, mas até isso está difícil. Sinto que há alguém aqui, só não posso ver quem, tenho que chegar na minha cama de uma vez. A última coisa de que me lembro é...
Acordo com uma dor de cabeça infernal, como se tivesse bebido todas ontem. Por falar em ontem, o que aconteceu? Sento-me com dificuldade e sinto alguém ao meu lado, viro-me e vejo Carly. Ah não, não, não! Baixo um pouco o lençol e vejo que estamos nus. Ah merda, não! O que foi que eu fiz? Como caralho vim parar aqui com ela?
Madison...
Meu peito aperta a ponto de faltar ar. Vou para o banheiro, ligo a ducha de água fria e deixo a água cair sobre mim, para lavar a angustia que sinto. Faço minha higiene, volto para o quarto e vejo Carly terminando de colocar sua roupa.
— Bom dia, amor – ela vem em minha direção com os braços abertos.
Levanto minha mão a parando.
— O que aconteceu entre nós dois?
Ela coloca a mão no peito, fazendo-se de ofendida.
— Nossa, Noah. Feriu meus sentimentos. Você disse que sentia minha falta, me beijou e pediu para relembrarmos os velhos tempos. A-achei, que iriamos reatar...
— Menos drama, Carly. Eu nem lembro do que houve, o que é muito estranho. De qualquer maneira, isso não pode sair daqui, em hipótese nenhuma. Não reatamos, não relembramos nada, até porque nem lembro, imagina se vou relembrar alguma coisa.
Preciso urgente de água e um remédio para essa dor de cabeça que não passa. Desço as escadas, Carly vem logo atrás de mim. Para piorar toda a situação, dou de cara com Alyssa e Martha na sala. As duas se voltam com olhar de interrogação para mim, que dou de ombros. Porque não sei o que dizer.
Achei que a mulher tinha ido embora, mas ela senta na cadeira ao meu lado direito para tomar café. Minha cabeça piora. Alyssa senta-se do outro lado encarando-me com tristeza em seus olhos e eu sei o que ela está pensando, Madison. Esfrego minha mão no peito, onde uma ponta de dor começa a me incomodar.
— Bom dia, Aly – fala Carly de bom humor. Mas minha irmã se mantém em silencio — Acho que não sou bem-vinda no clã dos Lancaster, não é? Vou indo – ela sai dando-me um beijo no rosto — Obrigada pela noite, querido.
Fecho meus olhos e coloco dois dedos na fronte, para tentar aplacar a dor. Por que eu não lembro do que aconteceu? Será que bebi demais? Lembro-me de ter bebido somente uma cerveja...
— Eu deveria perguntar o que aconteceu antes de tirar qualquer conclusão. Mas pela cena que acabei de ver, minhas conclusões estavam certas. Eu não esperava isso de você, Noah. Se fosse qualquer outro, não me admiraria. Mas você... Você era meu exemplo de honestidade.
Não tenho coragem de olhar para minha irmã. Enfrentar sua desaprovação agora, só faz com que o aperto no meu peito piore.
— Alyssa, eu não sei o que aconteceu. Ontem à noite, ela chegou e disse que precisava conversar. Você me conhece, sabe que não costumo voltar atrás das decisões que tomo, muito menos tratando-se de Carly. Eu realmente não sei o que houve. Bebemos alguma coisa e não lembro de mais nada, somente acordando ao lado...
— Como você pode fazer isso com a Madison?
— Alyssa, eu adoro a Madison, nunca tive a intenção de fazê-la sofrer. Mas somos adultos e bem resolvidos. Ela mesma disse que não tinha nada comigo, que estávamos apenas nos conhecendo. Então, seja o que for que tenha acontecido, não tem nada haver com ela. Vamos com calma.
Minha irmã levanta-se furiosa e joga o guardanapo na mesa.
— Que você era um idiota, eu já sabia. Mas um safado, para mim é novidade. Tenha um bom dia, excelência.
— Alyssa! Eu proíbo você e qualquer outra pessoa daqui contar para Madison, o que acham que viram.
Olho para Martha, que corresponde minha cara feia.
— Fica tranquilo, Noah. Ninguém vai atravessar o caminho do todo poderoso Lancaster – minha irmã fala saindo da sala.
Volto-me para Martha.
— Troque os lençóis da minha cama. Eu não faço ideia do que aconteceu e não quero correr riscos.
Vou para o escritório de casa até melhorar, depois vou para a Corte. Distraio-me olhando meus e-mails e ouço um barulho na porta. Levanto os olhos e vejo Madison vindo em minha direção, linda como sempre e um pouco abatida. Ela beija-me e senta no meu colo, passa seus braços pelo meu pescoço e puxa-me para si. Recebo sua língua na minha boca com o maior prazer. A imagem da Carly na minha cama essa manhã, corta todo o clima.
Tiro Madison do meu colo com delicadeza, beijo sua testa, cada lado do seu rosto e olho em seus lindos olhos verdes. Eles são tão límpidos, que posso ver sinceridade estampado neles. Meu peito aperta e minha cabeça dói. Não mereço Madison, ela irá me deixar.
Não suporto a ideia, dou mais um beijo em sua testa, pego minha pasta e vou para o gabinete. Admito, sou um covarde. Eu deveria ter contado, mas eu não podia, não agora, não olhando em seus olhos.
Afundo-me no trabalho e cada momento de distração, passo e repasso o que aconteceu ontem, mas não lembro. Carly não colocaria droga na minha bebida. Colocaria? Não. A conheço bem, jamais se rebaixaria a tal nível. Está difícil de entender como fui transar com ela. Não a desejo mais há muito tempo, ficou claro que não temos mais química e que a compatibilidade também é questionável. Simplesmente não sei...
Saio do gabinete às nove e meia da noite e vou para o clube. Sei que a essa hora, Madison já foi para casa. Eu não tenho coragem de olha-la, de contar o que houve. Estou sentindo-me sujo, indigno de tê-la por perto.
Entro no Secret Garden e vou direto para a sala privada. Ramon serve-me com uma dose generosa de whisky, trazendo outra logo em seguida. Christopher aparece, mas logo se vai e eu fico aqui, parado, olhando para o nada. Achando um jeito de voltar no tempo e evitar o que aconteceu. Desisto no momento em que percebi que é impossível.


Os dias passaram lentamente, torturando a cada noite. Tenho trabalhado demais, bebido demais e dormido menos. Tentei me convencer de que não devo satisfação para ninguém, sou solteiro, Madison falou que estamos nos conhecendo, não tínhamos nenhum tipo de compromisso. O problema é que não consigo me convencer disso.
Os caras e eu acordamos cedo para irmos ver a casa de praia que pretendo comprar. Mas nem tive condições de dirigir, estou desde aquela bendita noite sem conseguir pregar os olhos. Madison também percebeu, ontem antes dela ir para o clube, disse-me que iria para casa dela e depois conversaríamos. Eu queria que voltasse para minha casa, para os meus braços, mas não tive coragem de pedir tal coisa.
Chegamos em nosso destino. Saindo da estrada principal, entramos em uma secundária de terra batida, mas em boas condições. O caminho é ladeado por arbustos muito bem cuidados. De longe, vê se um muro alto branco, quanto mais aproximávamos, mais alto ele ficava.
O portão é automático, mas dá para ver as câmeras de segurança e de reconhecimento fácil. Já sei que terei que contratar uma empresa de segurança. Assim que os portões abrem, encontramos um caminho de palmeiras altas até a casa, que é surpreendentemente linda. Por fora, parece ser de dois andares e grande parte dela é toda de vidro, arquitetura moderna. Vista daqui, é como se fossem dois prédios separados, interligados por um ambiente no térreo.
Benjamin estaciona o carro na garagem que também é um ambiente separado, mas ligado a casa principal por um corredor. Entramos na casa pela garagem e o primeiro ambiente é a cozinha, muito bonita e elegante. Passamos por duas salas e fomos direto aos quartos, que chamaram muito a minha atenção. Todos têm varandas voltadas para o oceano, mas a suíte principal, é magnifica. As portas duplas abrem-se brindando o ambiente com a visão da praia. A varanda em forma de deck com uma banheira, sofá, mesa com duas cadeiras e um pequeno jardim.
O banheiro é gigantesco e tão luxuoso quanto o quarto. Ao lado da banheira, há uma janela com vista para a praia. A bancada é de fora a fora, ocupando toda a parede oposta da banheira. Tudo branco, com pequenos detalhes em preto. Na parede da banheira, há repartições abertas, como se fosse um closet. Essa parede é de vidro e madeira, há uma porta ao lado para entrar em outro ambiente, na verdade a parede nada mais é que um box para o chuveiro, que são duas duchas enormes. Realmente um espetáculo.
A casa é composta por seis quartos, oito banheiros, dependência de empregados, que é para um batalhão. Três salas, um jardim interno, um salão de jogos, academia e por aí vai. De uma das salas, abrem-se portas duplas para a piscina e nada me preparou para aquela visão.
Saímos em direção a área externa, que é extensa. Fomos até a piscina, que é de tamanho olímpico, uma cascata em um dos cantos. A lateral final da piscina e de todo o terreno é um penhasco que dá para a estupenda visão do mar, ladeado por pedras e matas. No canto direito, longe da piscina e perto do jardim, há uma escada com corrimão de vidro e cada degrau foi esculpido com maestria nas pedras. Descemos em uma pequena extensão de praia particular, só quem tem visão para cá, é quem está na casa.
A água é cristalina e calma, nada de ondas, até parece um lago. As pedras que rodeiam, torna tudo espetacular. As plantas, as flores, tudo... O silêncio é um bálsamo, o canto das aves é um musical da mais fina qualidade. Aqui é o paraíso. Mais ao lado, construíram um ambiente com espreguiçadeiras e cadeiras, em um lugar coberto, mas pequeno. Se não prestássemos atenção, teria passado em branco.
Voltamos para a casa e sentamos no sofá. Sim, esse castelo é todo mobiliado. Alyssa e Madison vão adorar esse lugar.
Madison...
Minha dor de cabeça que persiste, agora torna-se, lancinante. As imagens da nossa última transa voltam para e atormentar. Eu não a toco desde aquela noite macabra com Carly. Não achei certo.
— Noah? – olho na direção da voz e vejo meus dois amigos olhando-me sério. Christopher continua — Há dias você não anda bem, só que hoje, sua aparência está pior. O que se passa?
Respiro fundo e respondo:
— Terça-feira à noite, Madison saiu para atender a Becka e eu acordei na quarta-feira na cama com Carly.
— Juro que ouvi Carly... – Ben fala ajeitando-se no sofá.
— Achei que vocês não tinham nada mais, Noah – Chris fala sério.
Passo a mão pelo cabelo e respondo:
— E não temos. Na verdade, eu nem sei o que aconteceu. Carly apareceu tarde da noite querendo conversar, dizendo que a vida não estava fácil. Entrou, tomou uma bebida e no meio da conversa senti sono e fui deitar. Não lembro de mais nada, só de ter acordado na minha cama ao lado dela.
— E a Madison? – Christopher pergunta.
— Rebecka teve uma de suas crises nervosas e ela passou a noite lá.
Benjamin fala pensativo.
— Você bebeu muito?
— Não que eu lembre.
— Há apenas uma justificativa – Christopher fala — Ela pode ter colocado algo na sua bebida.
— Já pensei nisso, mas é impossível. Bebi cerveja em garrafa long neck e não fiquei longe. Também não acho que ela seria tão baixa assim...
— Essa semana foi presa uma quadrilha que adulterava cervejas – Benjamin fala olhando-nos — Eles misturavam componentes químicos ao líquidos...
— Para qual finalidade? Envenenar o mundo? – Christopher pergunta com deboche.
Bem explica:
— Sabe-se que isso começou na periferia, a intenção era uma gangue exterminar a outra. Mas tiveram muitos relatos de pessoas passando mal em bares do Estado, então, descobriu-se que eles estavam vendendo as cervejas contaminadas a preço de banana. Você pode ter sido uma vítima do acaso.
— Contou a Madison? – Christopher pergunta-me.
— Não. E venho a evitando desde então...
Christopher continua com suas perguntas.
— Por que?
— Não sei... – respiro fundo — Não acho certo mancha-la com minha sujeira.
Benjamin levanta-se e tira uma garrafa de vodka de algum lugar. Abre-a e alcança para mim, falando:
— A Madison não vai te perdoar. Ela já foi traída uma vez e olha o que isso trouxe para vida dela. Talvez, se tivesse contado logo de cara, terias o benefício da dúvida. Mas conhecendo a ruiva como conheço, suas chances foram reduzidas a nada.
— O que pretende fazer, Noah? – Chris questiona.
— Não sei...
Ele continua:
— Gosta da Madison?
Assinto.
— Então aproveite enquanto pode ou deixe-a ir. Porque de qualquer maneira, você acabou com o que poderiam ter.
— Todo mundo merece uma segunda chance – falo com esperança.
— Estamos falando da Madison, que já foi traída uma vez e sua revolta a fez ser rejeitada pela família. Acha mesmo que ela te dará algo, além de um pé na bunda? – Benjamin esclarece.
— Eu deveria ter evitado...
Chris corta:
— Você não deveria ter deixado Carly entrar. A partir do momento que você o fez, tudo poderia acontecer. Afinal, vocês ficaram juntos por dois anos.
— Eu gostaria que ninguém tivesse conhecimento sobre isso. Já basta a Alyssa e Martha – eles ficam me olhando, esperando que eu termine de contar — Quando desci na manhã seguinte com a Carly atrás, minha irmã e Martha estavam conversando na sala.
Os dois falam ao mesmo tempo:
— Puta que pariu!
Levanto-me e vou até as portas duplas da sala.

— Mudando de assunto, eu vou ficar com a casa. Preciso de um lugar para fugir quando precisar. Mas antes, tenho uma condição...

Um comentário:

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